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OS IMPACTOS DE EMENDA CONSTITUCIONAL 103/19 NAS CONTAS 
PÚBLICAS E NO SEGURADO 
Leovigildo Melgaço Tolentino Neto1 
Marcelle Reis Brito2 
Sarah do Vale Midlej Costa3 
Murilo César Silva Matos4 
Vinícius Silva Teixeira5 
RESUMO 
Esse paper tem como escopo dilucidar os impactos da EC 103/19 nas contas públicas e nos 
segurados. Nessa seara, essa pesquisa se dividiu em dois tópicos. No primeiro, analisou-se o 
impacto da reforma previdenciária para os segurados. Adiante, analisou-se os impactos nas contas 
públicas. Por se tratar de uma publicação breve, o primeiro capítulo se limitou a analisar o impacto 
da PEC 103 no Regime Geral de Previdência Social. A metodologia utilizada mesclou a dedutiva 
com a estático-comparativa. Por fim, esse estudo concluiu que os impactos da PEC foram 
demasiadamente danosos para os contribuintes e, até então, pouco efetivo na promoção de 
economia de gastos nas contas do governo. 
Palavras-chave: Seguridade Social, Previdência, PEC 103, RGPS, Contas Públicas. 
 
1 INTRODUÇÃO 
Viver em sociedade é estar diante de arenas de conflitos. Indivíduos sempre 
disputam por espaços, seja na política, no ambiente empresarial, no ambiente acadêmico 
ou no mercado de trabalho. Em economia, isso pode ser explicado pelo pressuposto 
basilar dessa ciência: nós vivemos num mundo de escassez. Ou seja, não existem recursos 
suficientes na natureza para satisfazer todos os anseios da totalidade de indivíduos do 
mundo. 
Destarte, a vida em sociedade também suscita a noção de cooperação. Políticas 
públicas, instituições e até mesmo o voluntarismo individual são exemplos de como a 
sociedade abre mão de sua renda presente para promover o bem-estar dos menos 
abastados. 
 
1 Mestre em Economia pela UFRN 
Graduado em Economia pela UESC 
Graduando em Direito pela FTC 
 
2 Graduanda em Direito pela FTC 
3 Graduanda em Direito pela FTC 
 
4 Graduando em Direito pela FTC 
 
 
5 Graduando em Direito pela FTC 
 
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Nesse despeito, vem à balha citar o Regime de Previdência Social Brasil como um 
exemplo de voluntarismo. Nesse sentido, o r. doutrinador Federico Amado aduz como 
exemplo o fato de os trabalhadores ativos custearem, com suas contribuições, os 
benefícios dos trabalhadores aposentados, pensionistas e etc. 
Adentrado nas questões alicerçantes do regime previdenciário do Brasil, essa 
pesquisa dedicar-se-á a discutir a Emenda Constitucional 103/19, analisando seu impacto 
para o contribuinte e para as contas públicas. 
De partida, antes das discussões, toca-nos ressaltar que esse não é um jogo de 
soma zero. O contribuinte e o Estado estão em lados antagônicos. Para um ganhar o outro 
terá que perder. É, de antemão, prudente advertir que as mudanças concernentes à matéria 
da EC 103/19 aumentaram o fardo dos contribuintes e aliviaram as contas públicas. 
 
CAPÍTULO 1 – SUBSTRATOS DA MATÉRIA DA EMENDA 
CONSTITUCIONAL 103/19 NO TOCANTE AO CONTRIBUINTE. 
 
De partida, a fim de dilucidar as questões atinentes à PEC 106/19, faz-se vital 
mencionar os diferentes tipos de previdência social, quais sejam: Regime Geral de 
Previdência Social (RGPS); Regime Especial de Previdência Social (REPS), que abarcam 
magistrados, servidores públicos federais, estaduais e municipais, além dos militares; 
Previdência privada complementar; Regime de previdência complementar da União, dos 
Estados e dos Municípios, institutos esses incumbidos do propósito de atenderem seus 
servidores, em conformidade com a legislação brasileira. 
Outrossim, preleções acerca da natureza material da PEC 103/19 preconiza sua 
separação em duas grandes vertentes: a primeira, das pessoas componentes da regra de 
transição, grupo que aglutina indivíduos já vinculados a algum regime previdenciário, 
que, todavia não possuem, ainda, requisitos mínimos necessários para ter a aposentadoria 
concedida; a segunda, são os indivíduos arraigados à regra transitória (não confundir os 
termos), regramento esse detentor de validade até a data de implementação do novo 
regime previdência engendrado pelo governo. 
Conforme lecionam CANELLA; CANELLA (2019, p. 150): 
De certo, a lógica da norma de transição é minimizar os efeitos de novas regras 
mais rígidas para aqueles que já eram filiados ao sistema, mas ainda não 
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haviam adquirido o direito de se aposentar pelas regras antes vigentes mais 
benéficas. Portanto, foram estabelecidas regras transitórias não tão benéficas 
quanto as anteriores, nem tão rígidas quanto as novas. É essa premissa lógica, 
que deve nortear a interpretação da regra estabelecida no art. 3º, da Lei nº 
9.876/99. 
Outrossim, as regras de transição abarcam todas as matérias dispostas no primeiro 
parágrafo desse capítulo 2. Nessa acepção, diante da impossibilidade de esgotar a 
disciplina dessa PEC nessa breve pesquisa, cabe-nos esmiuçar as três formas de transição 
para os trabalhadores inseridos no Regime Geral de Previdência Social. 
1. REGRA 1: A primeira regra se aplica aos segurados mais jovens e com 
tempo de contribuição bastante alto. Nesse método, denominado sistema 
de pontos, o homem que desejar se aposentar deve somar 96 pontos e a 
mulher 86 pontos, além de possuir, pelo menos, 35 anos de contribuição 
(homem) e 30 anos (mulher). Conforme evidencia o gráfico abaixo, a 
necessidade de se aumentar a pontuação vai ocorrendo ano a ano, até 
alcançar o máximo de 105 pontos (homem) e 100 pontos (mulher). 
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2. REGRA 2: A segunda regra se delineia em conformidade com a idade. 
Nesse jaez, a PEC 106/19 estabeleceu, como idade mínima, 56 anos, para 
mulheres, e 61 anos, para homens, sendo o tempo de contribuição de 30 e 
35 anos, respectivamente. Destarte, é salutar ressaltar que a idade mínima 
inicial começou a subir a cada ano, após 2020, e continuará em curva 
ascendente até o ponto em que a idade mínima para as mulheres será de 
62 anos (em 2027) e, para os homens, 65 anos (em 2031). Esse método 
beneficia pessoas detentoras de mais idade e, por conseguinte, pouco 
tempo de contribuição. 
 
6 Todos os gráficos foram produzidos pelo portal CLC.ORG.BR. Acesso em: 02/12/2021. 
<https://www.clp.org.br> 
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3. REGRA 3: o regramento da metodologia três é o mais simples dentre os 
existentes. Consiste em beneficiar contribuintes próximos de alcançar o 
tempo mínimo de contribuição exigida - homens, 33 anos; mulheres 28 
anos) - na data concernente à promulgação da PEC 106/19. Nesse interim, 
esses contribuintes deverão cumprir o que foi denominado como pedágio 
de 50% do tempo faltante para integralizar o novo tempo mínimo imposto: 
35 anos, homens; 30, mulheres. 
 
Ademais, não se pode olvidar as regras de cálculo atinentes ao recebimento dos 
créditos previdenciários aos contribuintes associados à alguma das regras de transição 
supraexpostas. Para os contribuintes inseridos nas regras 1 e 2, o cálculo delinear-se-á da 
seguinte forma: 60% do salário médio de todo período de contribuição para os que 
contribuíram pelo menos 20 anos. Nessa prossecução, são adicionados 2 pontos 
percentuais para cada ano de contribuído além do vigésimo. 
Outrossim, para a regra 3, o pagamento do crédito previdenciário dar-se-á pela 
média de todas as contribuições até o período da solicitação multiplicado pelo fator 
previdenciário7. 
Excetuando os contribuintes possessores de direitos adquiridos, a quase totalidade 
dos indivíduos em atividade laboral será afetada negativamente pelas mudanças 
promovidas pela PEC 106/19. 
CAPÍTULO 2 - SUBSTRATOS DA MATÉRIA DA EMENDA 
CONSTITUCIONAL 103/19 NO TOCANTE ÀS CONTAS PÚBLICAS. 
 
 
7 Fator previdenciário corresponde a um método oriundo da década de 1990 que abarca idade, tempo 
de contribuição e sobrevida, no instante da aposentadoria. 
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Pelo viés econômico, analisando especificamente as contas do governo, a reforma 
da previdência ainda possui poucos dados para serem analisados, uma vez que a mesma 
só foi aprovada em 2019. Todavia,há duas maneiras de se observar resultados 
quantitativos: a primeira delas é observado o que se tem. Será analisado, portanto, o 
impacto da reforma previdenciária nas contas públicas de 2020; a segunda delas é 
traçando projeções. Listaremos, aqui, algumas delas. 
De partida, será analisado o ano 2020 de forma estático-comparativa com os 
demais anos da década passada. Note-se o gráfico: 
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Obviamente, dados não podem ser analisados friamente, ainda mais quando há 
latente dissonância entre números relativos e absolutos. Mas, nesse caso específico, 
referente às contas previdenciárias, pode-se observar que, independente da variação 
 
8 Gráfico produzido por: SANTANA, Jessica. Reforma começa a fazer efeito e rombo da Previdência deve ficar estável em 
2021. 2020. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/rombo-previdencia-estavel-2021-efeito-reforma/. Acesso 
em: 01 jan. 2021. 
 
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absoluta do PIB, houve um aumento de despesa mesmo com a reforma de previdência. 
Entusiastas da PEC 106 argumentam que o período pandêmico tem responsabilidade 
sobre a degradação das contas públicas. É uma verdade para a qual não se pode fingir não 
ver. Todavia, o que se tem, até então, de análise estatística dura, são dados mostrando 
ineficácia das mudanças promovidas pela reforma. 
Ademais, ao longo dos debates que problematizaram o ambiente de votação da 
PEC 106/19, o Ministro da Economia, Paulo Guedes, propagou estimativas de que a 
reforma proporcionaria em torno de R$800bi de economia aos cofres públicos, ao longo 
dos próximos 10 anos. 
Conforme FONTES (2021): 
Quando foi aprovado, o texto pretendia economizar R$ 800 bilhões em uma 
década. Entre outros pontos, a reforma definiu idade mínima de aposentadoria 
pra homens (65 anos) e mulheres (62 anos) e novas regras de acesso aos 
benefícios. Para Felipe Salto, diretor-executivo da Instituição Fiscal 
Independente do Senado Federal, apesar do rombo, sem a reforma da 
Previdência, a situação das contas públicas seria muito pior. Segundo ele, as 
mudanças das reformas, incluindo a administrativa, que pretende reduzir R$ 
400 bilhões até 2034, segundo projeção do estudo do Centro de Liderança 
Pública, só devem ser sentidas em médio prazo. 
Diante do cenário problemático promovido pela pandemia da covid-19, fica 
bastante complicado analisar os impactos da PEC106/19 nas contas públicas, já que 2020, 
por motivos óbvios, foi um ano bastante peculiar. A ciência, portanto, demanda prudência 
na análise dos dados. Ainda está impossível tecer análises razoavelmente definitiva acerca 
do decurso da reforma previdenciária. 
3 - CONCLUSÃO 
Esse paper teve como escopo analisar os impactos da PEC 103/19 na vida 
econômica dos contribuintes e nas contas públicas. Por limitação de tamanho, essa 
pesquisa se limitou a pesquisar o impacto da reforma no RGPS, pois ele é o mais 
abrangente a sociedade brasileira. Todavia, assegura-se que, na quase totalidade dos 
regimes, a vida econômica e financeira do contribuinte piorou com o advento da reforma. 
Argumenta-se, por outro, a necessidade de se economizar e manter a austeridade 
do Regime Geral Previdência. É certo que equilíbrio nas contas públicas é essencial. 
Todavia, é para se pensar no modelo de país que se quer. R$800bi, em 10 anos, 
correspondem a R$80bi de economia média por ano. O Brasil não teria mesmo outra fonte 
para cortar esses recursos e manter os aposentados em paz? 
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REFERÊNCIAS 
CANELLA, Renata S. Brandão; CANELLA, Sergio Eduardo. Direito previdenciário: 
atualidades e tendências. Londrina: Thoth, 2019, p. 150. 
FONTES, Letícia. Custo da Covid supera economia com reforma da Previdência: somando 
perdas com arrecadação, rombo nas contas públicas é de 929 bi 2021. Disponível em: 
https://www.otempo.com.br/economia/custo-da-covid-supera-economia-com-reforma-da-
previdencia-1.2453016. Acesso em: 01 dez. 2021. 
SANTANA, Jessica. Reforma começa a fazer efeito e rombo da Previdência deve ficar 
estável em 2021. 2020. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/rombo-
previdencia-estavel-2021-efeito-reforma/. Acesso em: 01 jan. 2021.

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