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1 @jumorbeck Modelos Assistenciais em Saúde no Brasil ↠ Na visão de Paim (2003), modelo assistencial ou modelo de atenção à saúde é um modo de combinar técnicas e tecnologias ou organizar meios de trabalho (saberes e instrumentos) utilizados nos mais diversos serviços de saúde, com vistas à resolução de problemas individuais e coletivos que expressam necessidades sociais de saúde de determinada população. Trata-se de uma racionalidade ou um modo de intervenção que corresponderia à dimensão técnica das práticas em saúde. ↠ Merhy et al. (1992a) consideram que os modelos assistenciais articulam os saberes e a política em projetos tecno-assistenciais. ↠ A denominação de “modelo tecnoassistencial” é utilizada por Merhy para designar um processo composto por “tecnologias do trabalho em saúde” e a assistência, como uma “tecnologia do cuidado” operada por três tipos de arranjos tecnológicos: tecnologias leves, leve-duras e duras. Neste sentido, é preciso investir nas tecnologias leves do tipo relacionais, centradas nas necessidades dos usuários, invertendo o investimento nas tecnologias duras ou leve-duras, traduzidas nas normas, equipamentos e materiais. ↠ A conformação de um dado modelo assistencial resulta de um processo histórico-social, que é dinâmico e multifatorial e que sofre influências de uma rede de fatores das esferas macro e microssocial, de uma dada sociedade. MODELO SANITÁRIO CAMPANHISTA ↠ No Brasil, durante todo o período colonial e mais precisamente até meados do século XIX, os problemas de saúde e higiene ficavam sob a responsabilidade das localidades com a execução de medidas contra a imundície das ruas e quintais. ↠ A assistência à população pobre e indigente ficava sob os cuidados da iniciativa filantrópica de figuras de importância econômica e social e de instituições beneficentes ligadas à Igreja Católica, como as Santas Casas de Misericórdia. ↠ A parcela restante da população buscava socorro dos médicos existentes, ou então de cirurgiões, barbeiros, sangradores, empíricos, curandeiros, parteiros e curiosos. ↠ Predominavam as chamadas doenças pestilenciais, notadamente varíola, febre amarela, malária e tuberculose, associadas a uma precária organização dos serviços de saúde. Com relação ao saber médico-sanitário, destacaram-se a adoção dos saberes fundamentados pela bacteriologia e pela microbiologia e o questionamento dos saberes tradicionais baseados na teoria dos miasmas. MODELO MÉDICO-ASSISTENCIAL PRIVATISTA ↠ O modelo médico-assistencial fundamenta-se pelo financiamento estatal, por intermédio da Previdência Social, na prestação de serviços pelo setor assistencial privado nacional, principalmente por meio de serviços hospitalares, e pela indústria internacional como grande produtora de insumos, equipamentos e medicamentos. ↠ Segundo Paim (2003), esse modelo não contempla o conjunto de problemas e as necessidades sociais de saúde da população, pois se volta apenas para a “demanda espontânea”, ou seja, para pessoas que tomam a iniciativa de procurar os serviços de saúde. ↠ Nesse caso, predomina uma prática curativa, de atenção individual, centrada no consumo de consultas médicas, exames, medicamentos e equipamentos, realizada prioritariamente pelo profissional médico especializado em ambiente hospitalar. MODELO ORGANIZADOR/REFORMISTA ↠ Nasceu e desenvolveu-se o chamado movimento sanitário, que se consolida em meados da década de 1970 e, progressivamente, politiza a questão da saúde, procurando agrupar a oposição com base numa proposta reformadora para o setor. Esse movimento amplia sua proposta, evoluindo para um projeto de sistema de saúde em que o princípio central é “saúde: direito de todos e dever do Estado”, envolvendo a universalização, integração, equidade e descentralização com efetiva participação da população. ↠ Surge, então, a proposta da Reforma Sanitária. MODELOS ALTERNATIVOS ↠ As diretrizes prescritas na ESF configuram um “novo” modelo assistencial, no qual as práticas de vem estar orientadas pelos determinantes do processo saúde- doença, considerando o indivíduo no seu contexto familiar, como parte de grupos e de comunidades sócio-culturais Modelos Assistenciais em Saúde e Determinantes 2 @jumorbeck e contemplando ações importantes no campo da Vigilância em Saúde (VS) e da Promoção da Saúde (PS). ↠ Prevê o trabalho em equipe multiprofissional que deveatuar na perspectiva interdisciplinar. RESUMO Modelo Sanitarista: Sanitarista Campanhista. • Expansão em 30; • Modelo limitado e temporário; • Modelo verticalizado; • Não contempla a totalidade dos problemas de saúde. • Baseado em ações pontuais e campanhas/ações ambulatoriais; • 2 grandes nomes deste modelo: Carlos Chagas e Oswaldo Cruz. Modelo Assistencial Privatista: biomédico, hegemônico, privatizante, felxneriano. • Excludente; • Hospitalocêntrico; • Clientelista (busca doentes; • Saúde/doença como mercadoria; • Curativista; • Medicalização do problema; • Poucas ações de promoção à saúde e prevenção de doenças; • Estímulo ao crescimento médico; • Demanda espontânea. Modelo Alternativo: Modelo de Vigilância à Saúde • Década de 70; • Pautados em princípios e diretrizes do SUS; • Direcionados para atendimento ao indivíduo na sua singularidade, à família e à comunidade, levando-se em conta seus aspectos socioeconômicos, culturais e políticos; • Assistência integral, humanizada, com responsabilidade e vínculo entre trabalhadores e usuários; • Centrados nas ações programáticas de saúde: ESF, acolhimento, vigilância em saúde, movimento cidades saudáveis e promoção e prevenção da saúde. • Articulação das ações de demanda espontânea e demanda programada. Determinantes Sociais de Saúde (DSS) ↠ Para a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. ↠ Virchow, um dos mais destacados cientistas vinculados a teoria miasmática, entendia que a “ciência médica é intrínseca e essencialmente uma ciência social”, que as condições econômicas e sociais exercem um efeito importante sobre a saúde e a doença e que tais relações devem ser submetidas à pesquisa científica. ↠ A definição de saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doença ou enfermidade, inserida na Constituição da OMS no momento de sua fundação, em 1948, é uma clara expressão de uma concepção bastante ampla da saúde, para além de um enfoque centrado na doença. Entretanto, na década de 50, com o sucesso da erradicação da varíola, há uma ênfase nas campanhas de combate a doenças específicas, com a aplicação de tecnologias de prevenção ou cura. ↠ A Conferência de Alma-Ata, no final dos anos 70, e as atividades inspiradas no lema “Saúde para todos no ano 2000” recolocam em destaque o tema dos determinantes sociais. ↠ Ocorre a distinção entre os determinantes de saúde dos indivíduos e os de grupos e populações, pois alguns fatores que são importantes para explicar as diferenças no estado de saúde dos indivíduos não explicam as diferenças entre grupos de uma sociedade ou entre sociedades diversas. Em outras palavras, não basta somar os determinantes de saúde identificados em estudos com indivíduos para conhecer os determinantes de saúde no nível da sociedade. ↠ Há várias abordagens para o estudo dos mecanismos através dos quais os DSS provocam as injustiças de saúde. • “aspectos físico-materiais” na produção da saúde e da doença, entendendo que as diferenças de renda influenciam a saúde pela escassez de recursos dos indivíduos e pela ausência de investimentosem infraestrutura comunitária (educação, transporte, saneamento, habitação, serviços de saúde etc.), decorrentes de processos econômicos e de decisões políticas. 3 @jumorbeck • “fatores psicosociais”, explorando as relações entre percepções de desigualdades sociais, mecanismos psicobiológicos e situação de saúde, com base no conceito de que as percepções e as experiências de pessoas em sociedades desiguais provocam estresse e prejuízos à saúde. • “ecossociais” e os chamados “enfoques multiníveis” buscam integrar as abordagens individuais e grupais, sociais e biológicas numa perspectiva dinâmica, histórica e ecológica. • “capital social”, ou seja, das relações de solidariedade e confiança entre pessoas e grupos, como um importante mecanismo através do qual as iniqüidades de renda impactam negativamente a situação de saúde. MODELO DE DAHLGREN E WHITEHEAD ↠ Inclui os DSS dispostos em diferentes camadas, desde uma camada mais próxima dos determinantes individuais até uma camada distal, onde se situam os macrodeterminantes. MODLEO DE DIDERICHSEN E HALLQVIST ↠ Esse modelo enfatiza a estratificação social gerada pelo contexto social, que confere aos indivíduos posições sociais distintas, as quais por sua vez provocam diferenciais de saúde. INTERVENÇÕES SOBRE OS DETERMINANTES SOCIAIS ↠ São necessárias políticas de abrangência populacional que promovam mudanças de comportamento, através de programas educativos, comunicação social, acesso facilitado a alimentos saudáveis, criação de espaços públicos para a prática de esportes e exercícios físicos, bem como proibição à propaganda do tabaco e do álcool em todas as suas formas. ↠ Assegurar melhor acesso à água limpa, esgoto, habitação adequada, alimentos saudáveis e nutritivos, emprego seguro e realizador, ambientes de trabalho saudáveis, serviços de saúde e de educação de qualidade e outros. ↠ Através de políticas macroeconômicas e de mercado de trabalho, de proteção ambiental e de promoção de uma cultura de paz e solidariedade que visem a promover um desenvolvimento sustentável, reduzindo as desigualdades sociais e econômicas, as violências, a degradação ambiental e seus efeitos sobre a sociedade. COMISSÃO NACIONAL SOBRE OS DETERMINANTES SOCIAIS DE SAÚDE (CNDSS) ↠ Três compromissos vêm orientando a atuação da Comissão: • Compromisso com a ação: implica apresentar recomendações concretas de políticas, programas e intervenções para o combate às iniquidades de saúde geradas pelos DSS. • Compromisso com a equidade: a promoção da equidade em saúde é fundamentalmente um compromisso ético e uma posição política que orienta as ações da CNDSS para assegurar o direito universal à saúde. • Compromisso com a evidência: as recomendações da Comissão devem estar solidamente fundamentadas em evidências 4 @jumorbeck científicas, que permitam, por um lado, entender como operam os determinantes sociais na geração das iniquidades em saúde e, por outro, como e onde devem incidir as intervenções para combatê-las e que resultados podem ser esperados em termos de efetividade e eficiência. ↠ Os principais objetivos da CNDSS são: • produzir conhecimentos e informações sobre os DSS no Brasil; • apoiar o desenvolvimento de políticas e programas para a promoção da equidade em saúde; • promover atividades de mobilização da sociedade civil para tomada de consciência e atuação sobre os DSS. Referências: BUSS, P. M.; FILHO, A. P. A saúde e seus determinantes sociais. Revista Saúde Coletiva, RJ, v. 17, n. 1, p. 77-93, 2007. FERTONANI, H. P.; PIRES, D. E. P.; BIFF D.; SCHERER, M. D. A. Modelo assistencial em saúde: conceitos e desafios para a atenção básica brasileira. Ciência & Saúde Coletiva, v. 20, n.6, p. 1869-1878, 2015. ANDRADE L.O.M. et al. Modelos Assistenciais em Saúde no Brasil.IN: ROUQUAYROL, Maria Zélia; GURGEL, Marcelo. Epidemiologia e saúde. 8. ed. Rio de Janeiro: MedBook, 2018. p. 443-448 https://afya.instructure.com/courses/26887/modules/items/1066521 https://afya.instructure.com/courses/26887/modules/items/1066521 https://afya.instructure.com/courses/26887/modules/items/1066521 https://afya.instructure.com/courses/26887/modules/items/1066521
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