Buscar

Teoria do Conhecimento

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 196 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 196 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 196 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

U
N
O
PA
R
TEO
RIA
 D
O
 CO
N
H
EC
IM
EN
TO
Teoria do
Conhecimento
José Adir Lins Machado
Sergio de Goes Barboza
Maria Eliza Corrêa Pacheco
Teoria do Conhecimento
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
 Machado, José Adir Lins 
 
 ISBN 978-85-8482-168-6
 1. Teoria do conhecimento. I. Barboza, Sergio de Goes. 
II. Pacheco, Maria Eliza Correa. III. Título
 CDD 121
M149t Teoria do conhecimento / José Adir Lins Machado, 
Sergio de Goes Barboza, Maria Eliza Correa Pacheco. – 
Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2015.
 192 p. : il.
© 2015 por Editora e Distribuidora Educacional S.A 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida 
ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, 
incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e 
transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e 
Distribuidora Educacional S.A.
Presidente: Rodrigo Galindo
Vice-Presidente Acadêmico de Graduação: Rui Fava
Diretor de Produção e Disponibilização de Material Didático: Mario Jungbeck
Gerente de Produção: Emanuel Santana
Gerente de Revisão: Cristiane Lisandra Danna
Gerente de Disponibilização: Nilton R. dos Santos Machado
Editoração e Diagramação: eGTB Editora
2015
Editora e Distribuidora Educacional S. A. 
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041 -100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br 
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Unidade 1 | Noções gerais acerca do conhecimento
Seção 1 - Noções Elementares e Tipos de Conhecimento
1.1 | Compreensão de conhecimento
Seção 2 - Conhecimento em Platão
2.1 | Platão e o conhecimento
Seção 3 - Conhecimento em Aristóteles
3.1 | Aristóteles
Seção 4 - Conhecimento Medieval e Renascentista
4.1 | Conhecimento medieval e renascentista
Unidade 3 | A contemporaneidade e o neopositivismo
Seção 1 - Contemporaneidade
1.1 | Os caminhos para os acontecimentos contemporâneos
Seção 2 - Metafísica
2.1 | Filosofia primeira ou teologia
Seção 3 - O Positivismo
3.1 | O Positivismo
Unidade 2 | Principais desdobramentos da epistemologia moderna
Seção 1 - O ceticismo moderno
1.1 | O abalo cético
1.2 | Ceticismo antigo
Seção 2 - Descartes e o racionalismo
2.1 | O código cartesiano
Seção 3 - O empirismo e a ciência moderna
3.1 | A modernidade e a guinada científica
3.2 | Francis Bacon: saber é poder
3.3 | John Locke: nascemos tábula rasa
3.4 | Hume – cético e empirista
Seção 4 - O criticismo kantiano
4.1 | Kant e a revolução copernicana
Sumário
7
11
11
19
19
27
27
35
35
57
61
61
62
69
69
83
83
85
88
91
97
97
109
113
113
121
121
125
125
3.2 | A metafísica do Positivismo de Comte
Seção 4 - Neopositivismo
4.1 | Neopositivismo
4.2 | A metafísica para os neopositivistas
4.3 | Atomismo lógico
4.4 | Rudolf Carnap
4.5 | As teorias de Karl Popper e a crítica ao positivismo lógico
Unidade 4 | As contribuições dos grandes pensadores
Seção 1 - René Descartes e o problema da evidência clara e distinta
1.1 | Introdução
Seção 2 - Karl Popper e Thomas Kuhn: a falseabilidade e a
ciência normal
2.1 | Introdução
Seção 3 - A virada linguística em Ludwig Wittgenstein
3.1 | Introdução
3.2 | A virada linguística em Ludwig Wittgenstein
Seção 4 - A virada histórica em Michel Foucault
4.1 | Introdução
149
153
153
161
161
169
169
170
177
177
126
129
129
132
136
138
139
Apresentação
Estudaremos, no transcorrer do nosso curso, alguns temas importantes 
relacionados à Teoria do Conhecimento e as contribuições de grandes pensadores 
que proporcionarão a você uma visão panorâmica dos diversos campos em que se 
desdobra a conduta do ser humano. Assim, na primeira unidade, o que se apresenta 
é a compreensão do conhecimento e suas diversas modalidades. 
Na segunda Unidade perpassaremos pelas questões epistemológicas 
deparando-nos com o desenvolvimento da antiga teoria do conhecimento, 
investigando os limites, as possibilidades, as origens e os tipos de conhecimentos, 
cujo objeto essencial a ser estudado será a ciência. 
As contribuições dos grandes pensadores da História nos faz ter uma nova forma de 
ver o mundo, portanto, a análise desta forma dialética do desenvolvimento do homem 
em sociedade é importante para uma visão ampla da nossa essência intelectual.
Refletir as mudanças ocorridas, as contribuições das ciências e de todas as 
dimensões que permeiam as ações humanas nos faz existir enquanto criadores da 
história, tanto como ser coletivo, quanto ser individual. 
Neste contexto, contemplando a interdisciplinaridade, estudaremos na terceira 
unidade a ação evolutiva do homem em seu momento atual. Neste sentido, 
você vai ser levado a compreender os fatores históricos que contribuíram para os 
acontecimentos contemporâneos. Nesta mesma perspectiva se pretende refletir 
sobre a carência de pensadores como os iluministas do Século XVI ao Século XVIII. 
Ou seja, a busca por uma racionalidade para a boa convivência do corpo social. 
Nesta leitura perpassaremos pelos estudos positivistas e neopositivistas, buscando 
compreender seus pensadores.
Na unidade quatro veremos os instrumentos incontornáveis para a sustentação da 
ciência moderna perpassando pelo pensamento cartesiano e positivista. Diante deste 
contexto, o que pretendemos é sensibilizar o leitor para uma forma de raciocínio lógico 
quanto à realidade com uma linguagem clara e simplificada para a compreensão 
adequada com relação aos objetivos propostos. Nestes aspectos contemplaremos as 
análises sociológicas, que os autores deste livro alvitram, numa condição não somente 
para o conhecimento, mas para a sua aplicabilidade na vida pessoal e profissional. 
Desejamos um excelente estudo aos nossos estudantes e leitores.
Prof. Sergio de Goes Barboza
Unidade 1
NOÇÕES GERAIS ACERCA 
DO CONHECIMENTO
Pretendemos expor o que se compreende por conhecimento e as 
suas diversas modalidades, bem como o valor pertinente a cada tipo de 
conhecimento; diferenciando conhecimento teórico e prático e apresentando 
a compreensão mítica, passando para a elaboração da filosofia nascente e 
resgatando os pressupostos básicos à visão de mundo do homem grego antigo.
Explanaremos as principais contribuições platônicas para a resolução do 
embate suscitado por Heráclito e Parmênides acerca da possibilidade ou não 
de conhecimento, principalmente ao que se refere à questão do ser e do 
devir; e o dualismo platônico com forte ênfase ao mundo inteligível, eterno, 
imutável e verdadeiro; valendo-se de modo significativo da compreensão 
epistemológica presente no Mito da Caverna, entre outros.
Seção 1 | Noções Elementares e Tipos de Conhecimento
Seção 2 | Conhecimento em Platão
Objetivos de aprendizagem: 
Possibilitar aos estudantes refletirem criticamente sobre a questão do 
conhecimento, compreendendo a sua natureza e alcance, a sua gênese e os 
seus desdobramentos, bem como suas diversas modalidades. Inteirar-se da 
contribuição dos gregos antigos (Heráclito, Parmênides, Platão e Aristóteles) 
acerca das possibilidades do conhecimento verdadeiro da realidade e das 
principais contribuições dos filósofos medievais e renascentistas, principalmente 
da contribuição de Galileu Galilei na construção da ciência moderna.
José Adir Lins Machado
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
8
Apresentaremos a teoria aristotélica e unicista de conhecimento, a qual 
enfatiza o mundo concreto – divergindo do dualismo platônico – e explica 
o movimento recorrendo à questão do ato e potência e das quatro causas; 
além de explanar as modalidades de conhecimento (teorética, prática e 
produtiva), com ênfase a um empirismo germinal.
Abordaremos a visão de conhecimento medieval fortemente marcada 
pelo cristianismo, pela visão bíblica e pela intolerância com visões de mundo 
divergentes; os primeiros questionamentos dos humanistas, com forte 
tendência antropocêntrica, indo até o renascimentoe a definitiva separação 
dos campos do conhecimento proporcionada pela contribuição galilaica.
Seção 3 | Conhecimento em Aristóteles
Seção 4 | Conhecimento Medieval e Renascentista
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
9
Introdução à unidade
Por vezes pode parecer que a filosofia seja uma disciplina estranha (e talvez 
realmente seja), pois indaga o óbvio, o comum. A filosofia questiona aquilo que 
parece natural, por exemplo, porque de uma semente de limão nunca nasce uma 
laranjeira? Você pode rir e achar tola a indagação, mas então explique o porquê. 
Existe uma resposta? Possivelmente sim, e os estudiosos da área se esforçarão em 
no-la apresentar. Quando os estudiosos correram atrás dessa resposta, eles estavam 
fazendo filosofia, pois estavam buscando o porquê. 
Questionar o óbvio implica deixar de lado tudo o que foi aprendido até então 
e tentar ver as coisas de um jeito novo, como se fosse a primeira vez que você 
vê aquilo que você sempre viu. Só assim conseguimos filosofar, pois o que temos 
em nossas mentes, na grande maioria das vezes, são informações, conhecimentos 
herdados ou adquiridos e não conhecimentos alcançados, conquistados.
Partindo dessa compreensão, podemos nos perguntar: o que é o conhecimento? 
Nós conhecemos muitas coisas, ou achamos que conhecemos; mas o que, 
necessariamente, é conhecer? Existem diferentes tipos de conhecimento?
Normalmente os filósofos entendem que conhecimento é um modo, uma 
maneira de compreender o mundo e explicá-lo atribuindo-lhe significado. Não nos 
referimos aos conhecimentos particulares, subjetivos; dos tipos: eu conheço tal 
pessoa, eu conheço tal cidade, por exemplo. Mas do conhecimento do mundo, da 
vida, da realidade como um todo, tal qual esse todo é. 
Entende-se que o propósito do conhecimento é conhecer a verdade e, 
novamente, poderíamos nos indagar: o que é a verdade? Muitos filósofos comungam 
da ideia de que a verdade é a plena adequação do mundo fora da nossa mente, 
com a representação ou ideia que dele temos em nossa mente. Essa é a chamada 
teoria correspondencialista da verdade. Aristóteles (384-322 a.C.) se referia a ela do 
seguinte modo: “dizer o que é do que é e o que não é do que não é, é verdade; dizer 
o que é do que não é e o que não é do que é, é falsidade”. 
Seria possível conhecer o mundo do jeito que ele é, ou só podemos conhecer a 
representação dele que os nossos sentidos nos permitem obter? Dito de outro modo: 
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
10
temos certeza de que todos nós vemos as coisas do jeito que elas são? Enxergamos 
as mesmas cores? Ouvimos os mesmos sons? E o som que nós ouvimos é o som 
que é emitido ou é apenas o som que o nosso ouvido consegue captar? Sentimos 
os mesmos gostos ou cada pessoa tem um paladar diferente? Se não sentimos os 
mesmos gostos, o gosto está nas coisas ou é atribuído às coisas por nossos órgãos 
sensoriais? Talvez nunca tenhamos respostas para essas perguntas.
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
11
Seção 1
Noções elementares e tipos de conhecimento
Nesta sessão, você terá oportunidade de conhecer os elementos bases da 
compreensão de conhecimento, desde a sua etimologia e tipos de conhecimento, 
até os diferentes modos de aplicação do mesmo, bem como a questão de valor do 
conhecimento em si ou em função da sua aplicabilidade.
1.1 Compreensão de conhecimento
O vocábulo “conhecimento” em grego se diz gnose (γνώση) e em latim se diz 
cognitio; e ambos nos remetem à ideia de noção, ter noção, estar ciente, ter ciência. 
O temo “aprender” em língua latina é cognoscebre, muito próximo, como se vê, do 
nosso verbo conhecer. Isso pode nos indicar que conhecimento é uma técnica para 
aprender, ou apreender, a realidade. Nesse sentido, também temos a descrição de 
conhecimento, segundo o dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano, que nos diz 
que conhecimento é:
Em geral, uma técnica para a verificação de um objeto qualquer, ou a 
disponibilidade ou posse de uma técnica semelhante. Por técnica de 
verificação deve-se entender qualquer procedimento que possibilite 
a descrição, o cálculo ou a previsão controlável de um objeto; e por 
objeto deve-se entender qualquer entidade, fato, coisa, realidade ou 
Fonte: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/90/Espelho_dos_Jer%C3%B3nimos.
jpg?uselang=pt-br>. Acesso em: 31 mar. 2015.
Figura 1.1 | Teoria correspondencialista: pensamento e realidade como reflexo um do outro
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
12
propriedade. Técnica, nesse sentido, é o uso normal de um órgão do 
sentido tanto quanto a operação com instrumentos complicados de 
cálculo: ambos os procedimentos permitem verificações controláveis. 
(ABBAGNANO, 2003, p. 174).
Creio ter ficado claro que conhecimento tem a ver com o modo como apreendemos 
a realidade que nos circunda. Em geral, essa apreensão se dá pelos sentidos, os quais 
nos oferecem a matéria-prima para que o intelecto organize as impressões que temos 
do mundo. O problema paira sobre a possibilidade de os nossos sentidos serem fiéis 
nessa apreensão e do nosso intelecto organizar corretamente o material apreendido. 
É aqui que se distinguem o lúcido e o louco. E, por que não dizer, os homens dos 
animais, pois os animais têm os sentidos, e alguns muito melhores que os nossos, 
mas, a princípio, não organizam a experiência coletada.
Daí se entende que para um conhecimento poder ser considerado verdadeiro 
ele tem de passar pelo crivo da razão e, tanto quanto possível, ser demonstrado a 
sua veracidade de modo concreto, observável. Por isso, nos dias atuais, a ciência é 
considerada como uma das melhores formas de conhecimento em detrimento das 
demais modalidades. Contudo, é sempre bom ter presente que todas as formas de 
conhecimento são válidas e que não existe um conhecimento superior ao outro, 
embora existam conhecimentos que predominem mais em determinadas épocas e 
menos em outras.
Também é pertinente distinguirmos 
as concepções de conhecimento, 
inteligência e sabedoria, pois não 
raro as pessoas creem que as três 
são sinônimas. Ter, ou reter, muito 
conhecimento, ou muitas informações 
(salientamos que nem toda informação 
é conhecimento; só é conhecimento 
a informação que nós incorporamos, 
que nos apossamos dela), enfim, ser 
culto, está ligado à capacidade de 
armazenamento do cérebro. Têm 
pessoas de boa memória que retêm 
muitos e variados conhecimentos. 
Inteligência é uma capacidade, talvez 
natural, de compreender de modo 
correto e rápido a informação que nos 
é apresentada. Uma pessoa pode ter as 
duas, boa memória e inteligência, ou 
Fonte: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/
wikipedia/commons/0/09/Intelig%C3%AAncia_Coletiva.
jpg?uselang=pt-br>. Acesso em: 31 mar. 2015.
Figura 1.2 | Conhecimento, inteligência e 
sabedoria são distintos
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
13
uma apenas, ou nenhuma. Sabedoria é saber aplicar os conhecimentos obtidos, é 
saber viver, saber organizar a vida, saber conduzir-se na vida tratando bem as pessoas 
e a natureza toda. Uma pessoa pode ser sábia sem ser inteligente e sem ter boa 
memória, pois as três são independentes.
Entende-se que existem cinco tipos de conhecimento, sendo quatro deles teóricos 
ou abstratos e um prático ou concreto. Os quatro teóricos são: o senso comum, 
o mitológico-religioso, o filosófico e o científico. E o prático é a técnica. O senso 
comum é espontâneo, natural, subjetivo. É o conhecimento imediato que temos 
mesmo sem nenhum tipo de estudo; por vezes, se diz que é a nossa opinião. Os 
gregos chamavam-no de doxa ( ).
O senso comum, ao partir em busca de explicações para a realidade, acabou 
por originar o conhecimento mitológico. A palavra mito, mytheo ( ) em grego, 
significa narrativa, discurso; porém trata-se de uma narrativa fantasiosa; logo também 
significa narrativa, mas é uma narrativa mais plausível. Há quem defenda que o mito e 
a religião têm a mesma natureza (fantasiosa) e a partir disso dizem que se tratade um 
conhecimento mitológico-religioso ou mítico-teológico. 
Há, porém, quem defenda que do conhecimento mítico se originou de dois outros 
tipos de conhecimento, o religioso e o filosófico. O conhecimento filosófico teria sido 
o início do conhecimento racional e teria se originado no século VI a. C. nas colônias 
gregas, mais especificamente em Mileto, cidade situada no território que atualmente 
pertence à Turquia, mas que naquela época compunha a Magna Grécia e se chamava 
Jônia. Os primeiros filósofos são chamados de pré-socráticos e o primeiro deles é 
Tales de Mileto (625-558 a.C.). A preocupação deles era descobrir qual foi o elemento 
natural, físico, portanto, que originou tudo o que existe. Esse primeiro elemento, ou 
elemento primordial, em grego se diz arquê.
Os pressupostos para melhor compreendermos as bases do conhecimento grego são: 
1. Tudo se relaciona ao arquê (primeiro princípio).
2. A matéria (natureza, physis) é eterna, não houve o momento da criação.
3. O tempo é circular e cíclico.
4. Desaparecem os elementos míticos.
5. Há uma ordem (cosmos) no mundo, regida pelo logos (razão).
6. A composição do cosmos é unicamente de elementos naturais.
7. O homem é um microcosmo também regido pelo logos.
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
14
Os gregos não acreditavam em criação do mundo, para eles o mundo 
sempre existiu, não foi criado. A matéria é eterna e, de tempos em 
tempos, tudo se repete. Teoria essa conhecida como eterno retorno. 
Você pode achar uma ideia estranha, mas hoje em dia há cientistas 
que defendem que o universo já passou por diversos big-bangs e que o 
universo se expande e se contrai (big crunch) e explode de novo, ou seja, 
eterno retorno.
Na antiguidade filosofia era a totalidade do saber, mas a partir de certo momento 
as áreas específicas do conhecimento vão ganhando vida própria, vão se separando 
da filosofia. Possivelmente a primeira delas tenha sido a geografia, com Eratóstenes 
de Cirene (276-194 a.C.), bibliotecário da biblioteca de Alexandria, considerado o 
primeiro homem que mediu a circunferência do planeta. A emancipação das áreas 
do saber vai formando a ciência, em grego episteme, um modo ainda mais racional, 
verificável, constatável e convincente de explicar o mundo. Muito embora até hoje a 
ciência ainda não tenha conseguido atingir o seu intento, ela se coloca como uma 
das formas mais críveis de conhecimento, por demonstrar aquilo que afirma.
Por fim, existe o conhecimento prático, a técnica, em grego técne, ; palavra 
que foi traduzida por “arte”, pois se trata de uma modalidade de conhecimento que 
tem a ver com saber fazer, saber produzir. Arte aqui tem o sentido mais de artesanato 
do que propriamente belas artes. Hoje em dia é muito comum vincularmos a técnica 
com a tecnologia, mas certamente nem sempre foi assim, pois a tecnologia é bem 
recente. A técnica, ou arte, é um modo de conhecimento através da sensibilidade.
O educador brasileiro Paulo Freire constrói uma bela analogia para ilustrar o 
valor dos diversos tipos de conhecimento. É comum avaliarmos as modalidades de 
conhecimento comparando umas com as outras e, desse modo, julgarmos algumas 
mais valiosas. Para demonstrar que não existe um conhecimento mais importante que 
os outros, mas conhecimentos diferentes, vamos nos valer de uma anedota que Paulo 
Freire utilizava com esse intento. Conta-se que um homem vivia com o seu barquinho 
a fazer travessias de pessoas de um lado ao outro em um rio. Em um determinado dia 
subiram no seu barco uma professora, um advogado e um médico. Iniciada a travessia, 
quebrando o incômodo silêncio, a professora perguntou ao barqueiro se ele sabia ler. 
Diante da resposta negativa, a professora concluiu: é uma pena o senhor não saber 
ler, pois perdeu grande parte da sua vida por isso. O advogado aproveitou e perguntou 
se ele conhecia leis e sabia dos seus direitos, ao que o barqueiro respondeu também 
de forma negativa. Tal qual a professora, também o advogado sustentou que a falta 
de conhecimento das leis lhe ocasionou a perda de grande parte da sua vida. Por 
fim o médico quis saber como ele cuidava da saúde e percebendo que os cuidados 
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
15
eram mínimos acabou por concordar com os seus companheiros. O barqueiro quieto 
continuou o seu trabalho. No meio do rio o barco começou a ter problemas e na 
iminência de afundar o barqueiro teve de interpelar todos os tripulantes se acaso eles 
sabiam nadar ou não. Diante da negativa dos três, o barqueiro concluiu, é uma pena 
vocês acabam de perder a vida toda de vocês.
Nas próximas páginas buscaremos fazer um resgate da construção do 
conhecimento ao longo da história da humanidade, desde a Grécia antiga até o 
começo da modernidade ou, mais especificamente, até o final do renascimento. Para 
tanto, nos valeremos muito aproximativamente do nosso texto citado nas referências, 
de Machado (no prelo 2015), principalmente de Heráclito a Aristóteles.
Heráclito de Éfeso (540-470 a. C.) e a origem do problema
Ainda quando aos primeiros filósofos, os pré-socráticos, buscavam entender a 
ordem (cosmos, em grego) e encontrar o arquê (ώώώώ houve um filósofo 
que questionou a possibilidade do conhecimento. Segundo este filósofo, não seria 
possível conhecer nada de modo tão seguro como se supunha até então, pois o 
mundo está em constante transformação e essa transformação ocorre em função da 
luta dos contrários: o dia sucede à noite e vice-versa, o frio ao calor, o seco ao úmido 
etc. Segundo este filósofo, o homem poderia conhecer apenas a mudança, o devir 
(vir a ser), e jamais o ser, a essência das coisas. Estamos nos referindo ao filósofo pré-
socrático Heráclito de Éfeso, para quem o mundo era como um fogo que é sempre 
o mesmo e sempre outro, sempre diferente, a chama balança, aumenta, diminui, se 
esvai, é outra a cada segundo, mas enquanto durar, será o mesmo fogo. Entendia 
Heráclito que o conhecimento estava na mente, na capacidade de abstrair para 
além daquilo que é observado. Na capacidade que a mente tem de concatenar os 
acontecimentos isolados e atribuir-lhes significação como partes de um todo.
 Para ele:
Se um avião estivesse retornando dos Estados Unidos trazendo 
entre os passageiros um pós-doutor em física quântica e um 
índio analfabeto que retorna de um congresso e o avião caísse na 
selva amazônica, o conhecimento mais útil para a sobrevivência 
nesse momento e nesse local seria o do pós-doutor ou do índio 
analfabeto? Com base nisso, é possível afirmar que existem 
conhecimentos mais importantes do que outros?
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
16
a divergência e a contradição não só produzem a unidade 
do mundo, mas também a sua transformação. O mundo 
é um eterno fluir, como um rio; e é impossível banhar-se 
duas vezes na mesma água. Fluxo contínuo de mudanças, o 
mundo é como um fogo eterno, sempre vivo, e ‘nenhum deus, 
nenhum homem o fez’. Mas só se compreende isso quando, 
ao deixar de lado a ‘falsa sabedoria’ ditada pelos sentidos e 
pelas opiniões, chega-se ao logos, isto é, ao pensamento 
sensato. É o raciocínio adequado que abre as portas para o 
entendimento do princípio de todas as coisas. ‘Não de mim, 
mas do logos tendo ouvido é sábio homologar tudo é um’, diz 
um de seus aforismos. (ABRÃO, 1999, p. 31).
Em virtude deste modo de pensar, Heráclito é considerado um dos pais da dialética 
(embate de visões opostas), postura que terá influência sobre o pensamento de Platão 
(428-347 a.C.). Platão foi discípulo de Crátilo (século V a. C.) o qual fora discípulo de 
Heráclito.
Alguns filósofos radicalizaram ainda mais o pensamento de Heráclito e passaram 
a duvidar da possibilidade de se conhecer as coisas. Além de Crátilo, para quem 
o homem não entraria nem uma única vez em um rio, pois as águas estavam em 
constante renovação, destacam-se também os céticos Górgias de Leontini (480-371 
a.C.) – filósofo sofista que dizia que “o ser não existe; se existisse não poderíamos 
conhecê-lo;e se pudéssemos conhecê-lo não poderíamos comunicá-lo aos outros” – 
e também Pirro de Élis (360-270 a. C.), para o qual o homem não pode conhecer nada 
de modo seguro e jamais alcançará a certeza sobre as coisas (COTRIM, 2008, p. 58). 
Conta-se que no auge do seu ceticismo Pirro parou, inclusive, de falar e se contentava 
apenas em mexer a mão ou a cabeça. 
“Muitas vezes, na Metafísica, Aristóteles 
repisa o conceito de que quem nega 
o princípio supremo do ser, para ser 
coerente com essa negação, deveria 
calar e não expressar absolutamente 
nada. E tal é precisamente a conclusão a 
que Pirro chega, proclamando a ‘afasia’” 
(REALE, 1990, p. 270). Afasia é abster-se 
conscientemente de qualquer juízo, ou 
seja, tentar não pensar.
Apesar da insistência de muitos 
filósofos na impossibilidade de o ser 
humano atingir um conhecimento 
Fonte: Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/
Fire?uselang=pt-br#mediaviewer/File:Stort_b%C3%A5l_
sankthans.jpg>. Acesso em: 31 mar. 2015.
Figura 1.3 | O mundo é como um fogo ou 
como um rio, sempre o mesmo e sempre outro
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
17
inabalável da realidade, houve um 
filósofo que defendeu uma tese 
totalmente contrária e sustentou que a 
mudança que percebemos no mundo 
é ilusória, pois as coisas mudam só 
aparentemente, mantendo aquilo que 
lhes é essencial: um núcleo invariável 
que lhes confere identidade. Esta 
imutabilidade, contudo, não seria 
captada pelos sentidos, apenas pela 
razão. O principal defensor desta teoria 
foi Parmênides de Eléia (cerca de 530-
460 a. C.), o qual sustentava que o 
nada não gera coisa alguma (do nada, 
nada provém) e que a existência das 
coisas deve ter sido a partir de algo que 
sempre existiu e sempre existirá, este algo é o ser. O ser existe e todas as coisas foram 
geradas a partir dele. Daí a sua famosa afirmação “o ser é e o não ser não é”. Defendia 
que o Universo é uno e imutável, imperecível, ilimitado e indivisível e que a mudança é 
ilusão dos sentidos, por trás da mudança há uma realidade imutável.
Se aos olhos comuns esse conflito entre ser e devir parece banal, aos olhos críticos 
(ou filosóficos) ela é muito profunda, pois tem a ver com o sentido último da realidade e 
também com a possibilidade ou não do conhecimento verdadeiro, ou seja, da ciência. 
Note que toda pessoa idosa um dia foi um bebê e que ela permanece sendo a mesma 
pessoa, embora o seu corpo não tenha mais nenhuma célula que tinha algum tempo 
atrás. Este exemplo ilustra a questão do ser e do devir: houve mudança, mas o ser (a 
essência) permaneceu. Tente encontrar uma resposta para isto e você perceberá que 
ela é bastante complexa.
Fonte: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/
wikipedia/commons/7/7f/Mignard-Andromeda_and_Perseus.
jpg?uselang=pt-br>. Acesso em: 31 mar. 2015.
Figura 1.4 | A nossa mente não consegue pensar 
algo que não existe, consegue no máximo 
juntar coisas existentes separadamente. 
Exemplo: Pegasus
1. Sobre Heráclito acesse o link disponível em: <http://www.
mundodosfilosofos.com.br/heraclito.htm>. 
2. Sobre o ceticismo pirrônico acesse o link disponível em: <http://
www.recantodasletras.com.br/ensaios/2233233>.
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
18
1. Aranha e Martins definem o senso comum como o “primeiro 
olhar sobre o mundo, ainda não crítico, a partir do qual as pessoas 
participam de uma comunhão de ideias e realizam as expectativas 
de comportamento dos grupos sociais a que pertencem”. 
(ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Temas de filosofia. 3. ed. 
rev. São Paulo: Moderna, 2005, p. 144). 
Sobre o senso comum, assinale o que for correto.
a) O senso comum é um conjunto de ideias cuja finalidade é a 
crítica ao saber estabelecido.
b) O senso comum é um conjunto de ideias e práticas cegas e 
incompatíveis com a verdade.
c) Todos os homens, intelectuais e analfabetos, participam do 
senso comum.
d) O senso comum confunde-se com as ideologias de uma 
classe ou de um grupo social.
2. “Nada do que foi será / De novo do jeito que já foi um dia / 
Tudo passa / Tudo sempre passará / [...] Tudo que se vê não é / 
Igual ao que a gente / Viu há um segundo / Tudo muda o tempo 
todo / No mundo” (Trecho da música Como uma onda, de Lulu 
Santos e Nelson Motta). 
A letra dessa canção lembra as ideias do filósofo grego Heráclito, 
que viveu no século VI a.C. e que usava uma linguagem poética para 
exprimir seu pensamento e o qual acreditava que, no mundo, tudo 
muda o tempo todo e nada permanece, tudo é um perpétuo fluir. 
Dentre as sentenças de Heráclito a seguir citadas, marque aquela 
da qual o sentido da canção de Lulu Santos mais se aproxima. 
a) Morte é tudo que vemos despertos, e tudo que vemos dormindo 
é sono. 
b) O homem tolo gosta de se empolgar a cada palavra. 
c) Ao se entrar num mesmo rio, as águas que fluem são outras.
d) Muita instrução não ensina a ter inteligência.
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
19
Seção 2
Conhecimento em Platão
Nesta sessão, você terá oportunidade de ter contato com a compreensão 
de mundo, de homem e de ciência legada por Platão para a formação da cultura 
ocidental, bem como a influência dessa visão para a formação da nossa cultura e o 
vínculo que essa visão estabeleceu com a questão da religiosidade, entre outros.
2.1 Platão e o conhecimento
É bastante comum ouvirmos falar da briga, do confronto ou conflito entre 
Heráclito e Parmênides. Portanto, é bom que se diga que é quase certo que eles 
nunca se conheceram e que, possivelmente, nunca discutiram suas ideias. A 
referência que aqui se faz do embate ente ambos é uma referência a um embate 
figurativo, é apenas força de expressão.
Platão, cujo verdadeiro nome era Arístocles, foi um dos primeiros filósofos a buscar 
uma solução para o impasse suscitado pelas ideias de Heráclito e Parmênides, ou, 
mais especificamente, entre o ser e o devir. Para Platão, Heráclito tem razão quando 
diz que tudo muda, que nada permanece; e Parmênides também tem razão ao dizer 
que o ser não muda, que o ser é e não pode não ser e que a mudança é ilusão. Mas 
como é possível ambos estarem corretos? 
É possível porque, embora não consigamos perceber com muita clareza, não 
existe apenas um mundo, como normalmente supomos, mas dois mundos: o mundo 
sensível ou material (trata-se do mundo concreto percebido pelos nossos sentidos 
e onde as coisas mudam) e o mundo inteligível ou das ideias (trata-se do nosso 
pensamento, da nossa abstração e onde as coisas [leia-se conceitos] não mudam). 
O mundo das ideias é o mundo dos conceitos, das essências, as quais, uma vez 
compreendidas permanecem para sempre, são imutáveis. Se você sabe, se você 
tem ideia do que seja uma árvore, não importa se ela é pequena e nova ou se já é 
uma árvore enorme e quase morrendo, você irá entender quando alguém expressar 
a ideia de árvore.
Devemos prescindir dos acidentes (detalhes), ou seja, das qualidades não 
essenciais da árvore (alta/baixa, grossa/fina, nova/velha, feia/bonita etc.) e reterá 
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
20
apenas o conceito de árvore, aquilo que constitui a sua essência (a “arvoridade”), sua 
razão de ser. O mesmo acontece quando falamos em cavalo, casa, homem etc. Os 
cavalos, casas e homens mudam, mas os conceitos que deles temos permanecem e 
nos possibilitam entender o que seja cada uma destas coisas as quais nos referimos. 
Tudo tem a sua essência: algo que é universal e vale para todos os objetos daquele 
tipo e nos permite a compreensão apesar da diferença nos detalhes (acidentes). 
Quando falo homem, todos entendem apesar de não haver dois homens iguais e 
apesar de cada um, poder pensar em um homem diferente. Por quê? Porque em 
termos de conhecimento, em termos de compreensão, o que importa é a ideia, o 
conceito de homem. É evidente que se me refiro a um homem em particular, então 
preciso caracterizá-lo ou identificá-lo para que o eu possa ser compreendido.
Há, contudo, ideias que não têm representação no mundo material, ou seja, não 
existemfisicamente, não são palpáveis; elas existem somente no nosso pensamento, 
só existem enquanto ideias. Assim, Platão sustenta que o mundo inteligível é superior 
ao mundo sensível. É o mundo inteligível que nos permite conhecer (compreender) 
o mundo sensível. Mas como se forma o mundo inteligível? Ou, de onde vêm nossas 
ideias? Segundo Platão, nós já nascemos com elas. Temos, portanto, ideias inatas. 
Mas então um recém-nascido já tem ideias em seu cérebro? Para Platão sim; porém 
ele as esqueceu e na medida em que vai vivendo e presenciando o mundo à sua volta, 
irá relembrando das ideias que um dia conheceu ou contemplou no hiperurânio. 
Platão termina a sua obra A República, narrando o Mito de Er, e através deste mito 
busca explicar como a alma adquire conhecimento, como o esquece e como o 
recobra. Er é o nome de um soldado que tendo morrido em combate foi recolhido 
dez dias depois em bom estado de conservação, quando iam lhe dar sepultura ele 
ressuscitou e narrou o que havia visto. 
Ele havia sido escolhido para narrar 
aos homens o que acontecia no 
hiperurânio. Lá a alma contemplava as 
ideias puras, as formas perfeitas; mas 
quando alguém estava para nascer, 
o Demiurgo (o deus que plasma a 
humanidade) se encarregava de juntar 
a alma ao corpo, antes, porém, a 
alma passava pela planície do Lethes 
(esquecimento, em grego) e tomava a 
água do rio Ameles e assim que a alma 
bebia desta água perdia a memória 
de tudo, esquecia tudo o que havia 
contemplado (Er foi dispensado de 
beber desta água para que pudesse se Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/nYIjst>. Acesso em: 31 
mar. 2015.
Figura 1.5 | Para Platão conhecer é reconhecer, 
recordar
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
21
lembrar do que havia visto). 
E quando a alma se juntava ao corpo e a criança nascia, nascia sem lembrar-se 
de nada, por isto, para Platão conhecer é recordar, é reminiscência (despertar ideias 
remanescentes). Também se diz anamnese (em grego “ana” signfica trazer de novo; 
e “mnesis” é memória), algo como uma frágil recordação, uma tênue lembrança sem 
muita certeza e segurança. Platão seria, portanto, o primeiro racionalista (pessoa que 
sustenta que a verdade se encontra na razão, no logos, e é inata). Para os racionalistas 
não importa tanto o que é apreendido pelos sentidos, o importante é o que é processado 
pela razão, pois é nela que se encontra a fonte da verdade, da sabedoria e da ciência.
O mito da caverna
Outro mito narrado por Platão é o Mito da Caverna, com ensinamentos relevantes 
tanto para a teoria do conhecimento quanto para a política e até mesmo para a 
ética. Possivelmente este seja o ensinamento platônico mais conhecido e divulgado.
Ele fala de pessoas que se encontram no fundo de uma caverna desde o seu 
nascimento, com os pés e o pescoço acorrentados de modo a enxergar apenas 
o paredão dos fundos (se fosse hoje talvez Platão falasse de uma sala de cinema). 
Próximo da entrada da caverna há transeuntes carregando objetos, os quais são 
refletidos na parede e tomados pelos prisioneiros como sendo reais. 
O eco das vozes externas dá a impressão de que as sombras falam. E para se 
entreter os prisioneiros tentam advinhar a sequência da passagem dos objetos. 
Vivem assim até que um prisioneiro se liberta e se volta para a entrada da caverna e 
começa a escalar a difícil subida até a sua saída (o conhecimento é uma escalada 
difícil, pois temos de abandonar velhas e arraigadas convicções). 
À medida que se aproxima da claridade (a luz é a metáfora da sabedoria; luz em 
grego é phós [ e phós compõe a palavra sophós [ a qual significa 
sábio) seus ollhos doem. Então, ele protege os olhos com a mão e olha para baixo 
onde vê objetos refletidos na água. À noite ele consegue contemplar o céu com a 
lua e as estrelas. E quando o dia vai amanhecendo, a sua vista vai se acostumando 
com a claridade e, então, ele passa a contemplar os verdadeiros objetos e não 
mais as sombras ou reflexos. Por fim contempla o sol, emblema do bem, do belo 
e do verdadeiro. Lembrando-se dos demais prisioneiros, ele retorna à caverna para 
resgatá-los, mas os prisioneiros que lá ficaram estão numa posição cômoda e não 
querem deixar a caverna. 
Na interpretação deles, o prisioneiro libertado não tem mais a mesma acuidade 
visual para distinguir os objetos ou advinhar a sua sequência. Com base nisso 
julgam que a saída fez mal ao prisioneiro e, diante da insistência dele, para que os 
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
22
demais deixem a caverna, os prisioneiros se revoltam e acabam por assassinar o 
prisineiro que retornou. Este mito traz muitos outros elementos importantes e seria 
interessante lê-lo na íntegra.
Entendendo o mito
A caverna representa o mundo material e sensível em que nós vivemos e as sombras 
dos objetos, as coisas materiais que percebemos pelos sentidos. O prisioneiro que 
se liberta da caverna, para Platão é o filósofo, o estudioso; o mundo fora da caverna 
representa o mundo das ideias verdadeiras ou da verdadeira realidade; a luz exterior 
do sol é a luz da verdade. O instrumento que liberta o filósofo é a dialética e a visão 
do mundo real iluminado é a Filosofia. Os prisioneiros zombam, espancam e matam 
o filósofo por entender que o mundo sensível é o verdadeiro, único e real.
Podemos perceber nesse mito diferentes níveis de conhecimento: 
1. Contemplar as sombras é o senso comum, a opinião, adoxa (a doxa 
prevalece no mundo sensível). 
2. Contemplar os objetos à luz da fogueira, segundo Platão, são as crenças, 
pisti em grego.
3. Contemplar as coisas reais (leia-se “ideais”) refletidas na água, no entender 
de Platão é a ciência, a episteme (a episteme prevalece no mundo inteligível). 
4. A decisão de sair da caverna corresponde ao senso crítico, a busca do 
conhecimento, o amor ao saber, que em grego se diz filosofia. Mais do que 
isso, a filosofia é o arremate final de tudo o que aconteceu e está acontecendo; 
é clara noção do que seja o mundo. 
Platão colocava a filosofia como último estágio do conhecimento, ou estágio 
mais alto, acima da ciência inclusive, porque entendia que a ciência explicava como 
as coisas funcionam, mas não explica o porquê do seu funcionamento. Além disso, 
é preciso lembrar que a ciência da época era rudimentar.
Caso queira conhecer o Mito da Caverna acesse o link disponível em: 
<http://zeadir.blogspot.com.br/2008/10/o-mito-da-caverna.html>. 
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
23
Segundo Platão, o conhecimento não reside nas impressões advindas das 
sensações, mas no raciocínio acerca das mesmas. A única maneira para se atingir a 
essência e a verdade é o raciocínio, de outro modo isto é impossível, conforme afirma 
em Teeteto (186c), onde também apresenta a sua célebre definição de conhecimento 
como crença verdadeira e justificada (acompanhada de explicação racional).
No Mênon (98a), Platão afirma que
É por enfatizar o uso da razão que Platão pode ser considerado o primeiro dos 
racionalistas.
O esquema idealizado por Platão seria mais ou menos o seguinte:
Uma versão recente do Mito da Caverna foi veiculada pelas 
telas do cinema através do filme Matrix. Nesse filme há um 
entrelaçamento de realidade e sonho/pensamento, ou dito de 
outra forma, o pensamento tem o poder de criar a realidade 
e a realidade que se acredita viver não passa de impulsos 
eletromagnéticos enviados por computadores superpotentes. 
Fica o questionamento, será que a realidade que vivemos e cremos 
ser a mais genuína e perfeita, corresponde adequadamente à 
realidade tal qual ela é? Ou será que cada um de nós pode ver o 
mundo de um jeito?
As opiniões que são verdadeiras [...] são uma bela coisa e produzem 
todos os bens. Só que não se dispõem a ficar muito tempo, fogem 
da alma do homem, de modo que não são de muito valor, até que 
alguém as encadeie por um cálculo de causa. [...] e quando são 
encadeadas, em primeiro lugar, tornam-se ciências, em segundo 
lugar, estáveis. E é por isso que a ciência é de mais valor que a 
opiniãocorreta, e é pelo encadeamento que a ciência difere da 
opinião correta. (PLATÃO, 2001, p. 102).
Ao propor que o uso da razão, em vez da observação, é o único 
caminho para adquirir conhecimento, Platão lançou os alicerces 
para o racionalismo do século XVII. A influência platônica ainda 
sobrevive. O amplo leque de temas sobre os quais escreveu levou 
Alfred North Whitehead, lógico britânico do século XX, a dizer que 
toda a filosofia ocidental subsequente “consiste num conjunto de 
notas de rodapé a Platão”. (AA. VV., 2011, p. 55).
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
24
Figura 1.6 | Os dois mundos platônicos
FONTE: AA. VV.(2011, p. 52)
1. Segundo Platão, Parmênides havia percebido que podemos 
conhecer pela razão e não pelos sentidos, contudo, se fazia 
necessário vincular o que se conhecia via razão com o objeto material 
que se torna conhecido. Desse modo, a Doutrina dos Dois Mundos 
ia, paulatinamente, ganhando consistência em seus pensamentos.
De acordo com o texto, como Platão se situa diante dessa relação 
sujeito cognoscente e objeto conhecido?
a) Colocando uma absoluta separação entre ambos.
b) Dando ênfase ao objeto e afirmando que o nosso conhecimento 
depende deles.
c) Concordando com o pensamento de Parmênides que via razão 
e sensação como inseparáveis.
d) Sustentando que apenas a razão consegue produzir 
conhecimento e não a sensação.
2. “Quando é, pois, que a alma atinge a verdade? Temos de um lado 
que, quando ela deseja investigar com a ajuda do corpo qualquer 
questão que seja, o corpo, é claro, a engana radicalmente.
Dizes uma verdade.
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
25
– Não é, por conseguinte, no ato de raciocinar, e não de outro 
modo, que a alma apreende, em parte, a realidade de um ser?
– Sim.
[...] - E é este então o pensamento que nos guia: durante todo o 
tempo em que tivermos o corpo, e nossa alma estiver misturada 
com essa coisa má, jamais possuiremos completamente o objeto 
de nossos desejos! Ora, esse objeto é, como dizíamos, a verdade.”
(PLATÃO. Fédon. Trad. Jorge Paleikat e João Cruz Costa. São 
Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 66-67.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a concepção de 
verdade em Platão, é correto afirmar:
a) O conhecimento inteligível, compreendido como verdade, está 
contido nas ideias que a alma possui.
b) A verdade reside na contemplação das sombras, refletidas pela 
luz exterior e projetadas no mundo sensível.
c) A verdade consiste na fidelidade, e como Deus é o único 
verdadeiramente fiel, então a verdade reside em Deus.
d) A principal tarefa da filosofia está em aproximar o máximo 
possível a alma do corpo para, dessa forma, obter a verdade.
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
26
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
27
Seção 3
Conhecimento em Aristóteles
Vamos, nesta sessão, buscar apresentar a discordância existente entre Platão e 
Aristóteles com relação ao modo como conhecemos o mundo e a saída apresentada 
pelo Estagirita à questão do movimento interno dos seres (nascer, crescer, viver e 
morrer), haja vista que para Aristóteles não existem dois mundos.
Apesar de todo o respeito e consideração que Aristóteles nutria por seu mestre, 
acabou por discordar dele em alguns assuntos, sendo um deles justamente a teoria do 
conhecimento. Em Ética a Nicômaco (1096a15), Aristóteles afirmou “a piedade exige 
de nós que honremos mais a verdade que os nossos amigos”, frase que se tornou 
célebre como provérbio latino “Amicus Platon, sed magis amica veritas”. (HELFERICH, 
2006, p. 40), que pode ser traduzido como “sou amigo de Platão, mas sou mais amigo 
da verdade”.
Podemos considerar como emblema dessa discordância o modo como os dois 
3.1 Aristóteles
Aristóteles não era grego, era macedônio, nasceu na cidade de Estagira e, 
por isso, também ficou conhecido como O Estagirita. Embora não fosse grego, 
Aristóteles viveu grande parte da sua vida em Atenas. Aos 17 anos de idade iniciou 
os seus estudos na Academia de Platão e lá permaneceu por 20 anos até a morte 
do seu mestre. Por ser aluno de maior destaque da Academia acreditou que poderia 
se tornar o novo escolasta (nome que se dava ao diretor), mas como os gregos são 
bastante nacionalistas, acabaram dando a direção da escola a Espeusipo, sobrinho 
de Platão. Isso entristeceu muito Aristóteles e o fez ir embora de Atenas.
Em 347 a. C, morrendo Platão, Aristóteles deixa Atenas e vai para 
Assos, na Ásia Menor, onde Hérmias, antigo escravo e ex-integrante 
da Academia, havia se tornado o governante. É possível que a escolha 
de Espeusipo, sobrinho de Platão, para substituir o mestre na direção 
da Academia, tenha decepcionado Aristóteles; sua destacada atuação 
naqueles vinte anos parecia apontá-lo como o mais apto a assumir a 
chefia. (ARISTÓTELES, 1987, p. 3).
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
28
foram retratados no centro do quadro A Escola 
de Atenas, de Rafael de Sanzio (1483-1520): 
Platão apontando para o alto (e segurando em 
sua mão o livro Timeu) querendo indicar que 
o verdadeiro conhecimento se encontra no 
mundo das ideias e Aristóteles apontando para 
baixo (segurando em sua mão uma de suas 
obras mais conhecidas, Ética à Nicômaco) 
sinalizando que nós obtemos o verdadeiro 
conhecimento a partir do mundo concreto 
em que vivemos. 
Vejamos mais algumas discordâncias 
entre o pensamento dos dois: para Platão 
nascemos com ideias, para Aristóteles 
nascemos sem nada na mente. Para Platão 
existem dois mundos, para Aristóteles 
apenas um. Para Platão nascemos com 
virtude – embora encobertas, empanadas, 
adormecidas, devendo ser despertadas por 
nós – e para Aristóteles nascemos sem virtude 
e as adquirimos pelo hábito, pois o hábito é a 
nossa segunda natureza.
Tudo indica que inicialmente Aristóteles seguiu muito de perto os ensinamentos de 
Platão, mas depois acabou divergindo deste.
Fonte: Disponível em: <http://commons.wikimedia.
org/wiki/File:Sanzio_01.jpg?uselang=pt-br>. Acesso 
em: 31 mar. 2015.
Figura 1.7 | Detalhe do quadro Escola 
de Atenas, mostrando a discordância 
entre Platão e Aristóteles
Segundo Will Durant (1996, p. 70), “os dois eram gênios; e 
é notório que os gênios combinam entre si com a mesma 
harmonia com que a dinamite combina com o fogo”. Platão 
teria se referido a Aristóteles como o Nous da Academia, a 
inteligência personificada. Aristóteles teria gasto muito 
dinheiro com livros manuscritos e formado uma biblioteca, 
e por isso Platão chamava a casa de Aristóteles de “a casa 
do leitor”. Aristóteles dá a entender que a sabedoria não iria 
morrer junto com Platão, e ele responde que Aristóteles se 
parece com o potro que escoiceia a mãe depois de beber todo 
o leite. (MACHADO, 2013, p. 16).
Grande parte das obras de Aristóteles sumiu (inclusive o enredo do filme O Nome 
da Rosa é um livro sumido de Aristóteles, Poética II) e outras ficaram desconhecidas 
por, aproximadamente, 1500 anos, pois estavam de posse dos árabes e apenas eles as 
conheciam. Há quem defenda que estas obras se encontravam na Casa da Sabedoria 
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
29
de Bagdá, um dos maiores centros de conhecimento do mundo antigo.
Com a chegada dos muçulmanos à Europa, estas obras aos poucos foram sendo 
conhecidas.
Tudo leva a crer que Aristóteles não queria simplesmente se opor ao seu mestre, 
mas corrigir aquelas ideias onde ele percebia alguns equívocos, pois o pensamento 
aristotélico é devedor do platônico por ser dele oriundo.
Ato e potência
Segundo Aristóteles, o mundo inteligível concebido por Platão conseguia apenas 
explicar a imperfeição do mundo sensível e não como a mudança acontece e é 
captada pelos sentidos. Para Aristóteles o conhecimento começa pelos sentidos os 
quais captam o mundo sensível (ou material) em que vivemos. A partir disto o intelecto 
separa os aspectos acidentais (aquilo que não é essencial para a compreensão do 
objeto, não faz parte da sua essência e é apenas uma característica daquele objeto 
Os primeiros textos, de que se conhecemalguns fragmentos, são de 
forte influência platônica até no título (como O Banquete, O Sofista, 
O Político) [...]. A ruptura com o pensamento do mestre ocorre após 
a saída da Academia: a obra Sobre a Filosofia, desse período, contém 
a crítica da teoria das ideias. A partir daí Aristóteles desenvolveria seu 
próprio caminho. (ABRÃO, 1999, p. 55). 
Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/RhUp3M>; <http://goo.gl/tYBcB6>. Acesso em: 31 mar. 2015.
Figura 1.8 | Ato e potência: tudo está propenso a mudança, vide São Paulo em 1902 e 2002
Sobre Aristóteles acesse o link disponível em: <http://www.
mundodosfilosofos.com.br/aristoteles.htm>.
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
30
individual, um detalhe que não afeta a sua estrutura) e esta separação chama-se 
abstração. “Para Aristóteles, o conhecimento é esse processo de abstração pelo qual 
o intelecto produz conceitos universais que, ao contrário das ideias de Platão, não 
existem separadamente das coisas e do intelecto”. (ABRÃO, 1999, p. 56).
Observando o mundo percebemos 
tudo se transforma continuamente. A 
mudança que percebemos nas coisas 
ocorre porque tudo o que existe está, 
neste momento em que percebo, em 
ato (o modo como o objeto se apresenta 
ao meu intelecto neste exato instante), 
mas tem a possibilidade de se alterar e 
tornar-se diferente daquilo que percebo. 
Esta possibilidade é a potência: o poder 
de se tornar algo que ainda não é, mas 
pode vir a ser. O ato é o estado atual 
(aqui e agora) do ser e a potência aquilo 
no qual o ser se transformará, mas sem 
deixar de ser aquilo que era. É como se a 
transformação ocorresse sobre uma base 
imutável. 
Uma semente em nossas mãos é, 
em ato, apenas uma semente, mas em 
potência é uma árvore ou talvez até uma 
floresta. A árvore saiu dali, de dentro 
da semente; ou seja, a semente foi se 
transformando até se tornar uma árvore, 
Você já percebeu que tudo nesse mundo realmente está 
em mudança? E que não adianta querermos parar esse 
movimento, pois ele parece ter vontade própria? Tente 
parar o seu pensamento por 10 segundos. Tente parar o seu 
envelhecimento. Tente parar as mudanças que ocorrem em 
sua cidade. E astronomicamente? Segundo os cientistas, o 
sol vai se apagar daqui há 4,5 bilhões de anos. A nossa galáxia 
está em rota de colisão com a galáxia de Andrômeda. O 
universo dá indícios de estar se desacelerando e esfriando. O 
que será de tudo isso daqui a bilhões de anos?
Fonte: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/
wikipedia/commons/c/c1/%27David%27_by_Michelangelo.
JPG?uselang=pt-br>. Acesso em: 31 mar. 2015.
Figura 1.9 | Quatro Causas: o que é, do 
que é feito, quem fez e por que fez. David 
de Michelangelo
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
31
mas não houve uma mudança brusca que permitiu, de um instante para o outro, que 
ela se tornasse algo totalmente diferente daquilo que era. Esta alteração é o modo 
como a potência vai se atualizando, o ser vai passando da potência ao ato. Diríamos, 
fica atualizado, ou seja, agora está em ato.
As quatro causas: material, formal, eficiente e final
Este movimento, esta passagem da potência para o ato ocorre por ser efeito de 
uma causa (para Aristóteles tudo tem causa, tudo tem motivo de ser; por isto se diz 
que o seu pensamento é teleológico [telos, em grego é motivo, finalidade]): a causa 
eficiente – aquela que faz com que o ser se transforme em algo diferente. Segundo o 
Estagirita tudo o que existe possui quatro causas. São elas:
- Causa material: aquilo do qual o objeto é feito.
- Causa formal: o formato que o objeto tem.
- Causa eficiente: aquela que age sobre o objeto; e
- Causa final: a razão de ser, a finalidade do objeto.
Se a semente é um bom exemplo para se compreender a questão do ato e 
potência, talvez a estátua o seja para se compreender as quatro causas. Imaginemos 
o Davi, de Michelangelo: o mármore de Carrara é a causa material (a matéria da qual a 
estátua é feita), um homem em pé é a causa formal (a forma que o mármore adquiriu), 
Michelangelo a causa eficiente (foi ele quem a fez) e a causa final é a finalidade, o 
motivo pelo qual ele esculpiu tal estátua, no caso, a encomenda feita pelos políticos 
florentinos. A causa final “é a mais importante: se a potência atualiza-se em ato, é 
sempre em vista de alguma finalidade”. (ABRÃO, 1999, p. 57).
A partir da teleologia, ou seja, da ideia de que tudo tem uma causa e que nada 
existe em vão, Aristóteles postulou a necessidade de uma causa primeira, também 
chamada por ele de motor imóvel, que não seria material, mas forma pura. Percebe-se 
então que Aristóteles conserva de Platão uma única forma transcendente (separada) 
correspondente à ideia de “Deus”, que diferentemente do que havia sido concebido 
por Platão, não cria e nem interfere no curso do mundo, mas é pensamento do 
Sobre ato e potência acesse o link disponível em: <http://www.
webartigos.com/artigos/ato-e-potencia-aristotelico/10066/>. 
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
32
pensamento e conhecimento de si, é ato puro, um pensamento sempre em ato, 
espírito puríssimo.
Os tipos de conhecimento segundo Aristóteles
Com base na distinção entre ação e contemplação, Aristóteles classifica as ciências, 
ou saberes, do seu tempo em três tipos diferentes.
- Ciências produtivas: aquelas que têm por base o conhecimento sensível e 
estudam as práticas produtivas, as técnicas com o objetivo de produzir um objeto. São 
as ciências, os conhecimentos próprios dos artistas e artesãos. Também é chamado 
de poiesis (produção, em grego). Exemplos: medicina, arquitetura, agricultura e 
economia, entre outros. 
- Ciências práticas: objetiva possibilitar ao homem o acesso ao bem, ou seja, tornar 
melhor o homem (a vida) e a polis (a convivência). Quando tem por finalidade o bem 
individual chama-se ética; quanto tem por finalidade o bem coletivo chama-se política. 
Portanto, ética e política tem, para Aristóteles, a mesma finalidade: alcançar o bem. A 
finalidade da política é a vida boa, justa, bela e livre e é superior à ética, pois o bem 
comum antecede ao bem individual.
- Ciências teoréticas (ou contemplativas): são saberes vinculados à reflexão, ao 
entendimento intelectivo da realidade; estudam realidades que existem por si e não 
são resultado de obra humana. A física, a biologia e a meteorologia, por exemplo, 
estudam as realidades ligadas à natureza e submetidas às mudanças. A matemática 
estuda as coisas ligadas à natureza não submetidas às mudanças. A metafísica estuda 
o ser que deve haver em toda e qualquer realidade e a teologia estuda as coisas divinas. 
Acreditamos ter apresentado aqui as principais contribuições de Aristóteles à teoria 
do conhecimento. Aristóteles morreu em 322 a. C., um ano depois do seu discípulo 
Alexandre Magno (356-323 a. C.). Alexandre havia difundido pelo mundo conhecido o 
modo de vida dos gregos e isso ficou conhecido como helenismo. Aproximadamente 
70 anos depois vai surgir o Império Romano que, após contato com a cultura helênica, 
Figura 1.10 | O conhecimento aristotélico a partir do mundo físico
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
33
fará uma simbiose desta com a cultura romana, dando início à cultura greco-romana, 
um dos pilares da civilização ocidental.
O outro pilar formador da nossa cultura será a cultura judaico-cristã. Note 
que estamos falando de cultura e não de religião, pois tanto o judaísmo quanto o 
cristianismo, além de possibilitar uma visão religiosa do mundo também possibilitam 
um modo peculiar de ver e de agir no mundo gerando, assim, uma cultura. Essas 
quatro visões de mundo vão se encontrar em Roma, o centro político do mundo 
antigo. Contudo, não se encontram todos ao mesmo tempo, o helenismo chega a 
Roma mais ou menos pelo ano 300 a. C. e o cristianismo só chega (ou melhor, só é 
aceito), aproximadamente, no ano 400 d. C., pois só em 393 d. C. o cristianismo se 
torna religião oficial do Império e já estamos entrando em outro período da história.
1. Em sua obra intitulada Metafísica,Aristóteles afirma que “todos 
os homens, por natureza, desejam conhecer. Sinal disso é o prazer 
que nos proporciona os nossos sentidos; pois, ainda que não 
levemos em conta a sua utilidade, são estimados por si mesmos; 
e, acima de todos os outros, o sentido da visão [...] Por outro lado, 
não identificamos nenhum dos sentidos com a Sabedoria, se bem 
que eles nos proporcionem o conhecimento mais fidedigno do 
particular. Não nos dizem, contudo, o porquê de coisa alguma”.
De acordo com o texto, considere:
I. Entendia Aristóteles que sabedoria é conhecer as causas 
particulares dos eventos.
II. A aquisição da sabedoria plena pode ser considerada o mais alto 
grau de conhecimento.
III. O prazer que sentimos quando utilizamos os nossos sentidos 
pode ser considerado o grau mais elevado de conhecimento.
IV. Aristóteles entendia que os homens nascem com o desejo de 
conhecer as coisas.
Estão corretas apenas as afirmativas:
a) I e II.
b) II e IV.
c) I, II e III.
d) I, III e IV.
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
34
2. Para Aristóteles a ciência pode ocupar-se com quatro tipos de 
causas: material, formal, eficiente e final.
Assinale a alternativa em que as perguntas correspondem, 
respectivamente, às causas citadas.
a) Por que foi gerado? Do que é feito? O que é? Quem gerou?
b) O que é? Do que é feito? Por que foi gerado? Quem gerou?
c) Do que é feito? O que é? Quem gerou? Por que foi gerado?
d) Quem gerou? Por que foi gerado? O que é? Do que é feito?
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
35
Seção 4
Conhecimento medieval e renascentista
Apresentaremos, nessa sessão, como se deu a compreensão de conhecimento 
durante a Idade Média, conhecida como época das trevas, inclusive, justamente 
porque o conhecimento ficou estagnado; como o mundo era entendido e explicado 
nessa época e, por fim, como o Renascimento rompeu com essa visão e constitui a 
nova ciência.
4.1 Conhecimento medieval e renascentista
Segundo a divisão histórica, a Idade Média começou em 476 d. C. com a queda 
do Império Romano no ocidente e veio até 1453, com a queda do Império Romano 
no oriente (tomada de Constantinopla pelos Turcos Otomanos) ou, segundo outros, 
até 1492 com a descoberta da América.
A filosofia medieval não tem os limites tão bem demarcados como a história, 
mas entende-se que ela começou em 529 d.C. quando o imperador Justiniano 
determinou o fechamento de todas as escolas pagãs, entre elas a Academia de 
Platão (aberta em 387 a.C., funcionou por 916 anos) e o Liceu de Aristóteles (aberto 
em 335 a.C., funcionou por 864 anos) e veio até Guilherme de Ockham (1290-1349) 
sendo que, a partir de então, começa o Renascimento. É bom deixar claro, contudo, 
que não há muito consenso quanto a essas demarcações.
 Desse modo, podemos dizer que a filosofia medieval compreende um 
período de, aproximadamente, mil anos, indo, grosso modo, de 400 a 1400 e 
compreendendo uma época em que o poder mais bem organizado foi o poder 
eclesiástico. No ano 393, o imperador Teodósio tornou o cristianismo a religião 
oficial do Império. Oitenta anos depois o Império Romano estava ruindo sob as 
invasões bárbaras.
Como sabemos, quando os bárbaros ocuparam Roma, a cultura sucumbiu, pois 
a língua falada pelos bárbaros não era decifrável, e a escolas foram fechadas, sendo 
reabertas apenas no ano 781 por determinação do imperador Carlos Magno. Nessa 
época, a única instituição que estava coesa era a Igreja e, desse modo, ela acabou 
ficando com o poder espiritual e o poder temporal em suas mãos, mantendo escolas 
internas (monacais) em funcionamento e hospitais. Foi assim que a Igreja acabou se 
envolvendo em questões políticas, econômicas, artísticas, científicas etc., ou seja, o 
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
36
mundo era, conforme a Igreja dizia que ele era.
Para delimitar o que era ou não conhecimento verdadeiro a Igreja recorria ao 
livro dos livros, a Bíblia, pois acreditava que ali estava expressa a palavra de Deus 
e que tudo o que constava nela representava a verdade sobre o mundo. Hoje os 
teólogos sustentam que a Bíblia não é um livro de ciência, mas um livro de fé, pois 
ela narra a história de um povo interpretada á luz da crença em um ser superior. 
A bíblia é oriunda de um povo (judeu) e de uma época (antiguidade) e traz consigo 
uma cosmologia própria, entendendo que a terra é plana e está imóvel no centro 
do universo; ao seu redor giram a lua, o sol, os planetas e as demais estrelas. Apenas 
desse modo, faz sentido que Josué tenha feito o sol parar no Vale de Gabaon e a lua 
no Vale de Aiaon (Js 10, 12). Além disso, a Igreja se autodeclarou representante de 
Deus na terra e passou a interferir em assuntos políticos, econômicos (condenava a 
usura, por exemplo), artísticos, enfim, em todas as áreas da vida humana, conforme 
já assinalamos anteriormente.
Apesar da recomendação bíblica de cuidado em relação às vãs filosofias, descrita 
na Carta aos Colossenses (2, 6-8), onde se lê:
Já que vocês aceitaram Jesus Cristo como Senhor, vivam como 
Cristãos: enraizados nele, vocês se edificam sobre ele e se apoiam 
na fé que lhes foi ensinada, transbordando em ações de graças. 
Cuidado para que ninguém escravize vocês através de filosofias 
enganosas e vãs, de acordo com tradições humanas, que se 
baseiam nos elementos do mundo, e não em Cristo.
A Igreja, sobretudo, na pessoa de Agostinho de Hipona (354-430 d.C.), fez 
uma releitura da filosofia de Platão e acabou por unir essas duas visões de mundo, 
construindo uma visão filosófica própria, a Filosofia Cristã. Vamos conhecer um pouco 
mais da teoria do conhecimento de Agostinho, um dos grandes expoentes de duas 
grandes áreas: filosofia e teologia.
Você consegue supor como será a ciência daqui a 200, 300 
ou 500 anos? Assim como percebemos lacunas no modo 
como a ciência foi feita antigamente, será que no futuro, os 
estudiosos também não vão rir da nossa ciência? Será que o 
mundo é e funciona conforme acreditamos hoje em dia?
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
37
Agostinho e a teoria da iluminação divina
 Agostinho, ou Santo Agostinho, é o maior nome da filosofia Patrística (nome 
originado do latim pater, que tem o sentido de padre e que se refere ao período em 
que os Santos Padres se dedicaram a purificar a religião cristã diante da ameaça das 
heresias). Os principais problemas que ele teve de enfrentar foram relacionados às 
formulações acerca da Trindade, da criação do mundo, da constituição da alma, 
da encarnação e ressurreição de Cristo e da relação entre liberdade e graça e entre 
fé e razão. Para a filosofia, o cristianismo se apresentava com muitos absurdos, 
por exemplo, Deus criar o Universo e os seres ex nihil (a partir do nada), morrer na 
cruz, amar o ser humano. E esse conjunto de absurdos foi terreno propício para 
o surgimento de muitas heresias, com destaque para: Gnosticismo, Donatismo, 
Maniqueísmo, Arianismo, Nestorianismo, Pelagianismo, Adocionismo, Apolinarismo, 
Docetismo, Monofisismo. Cada uma delas com uma compreensão diferente da 
mensagem cristã.
Uma das questões que mais incomodava Agostinho era: conhecemos a verdade? 
Como a conhecemos? Ele acabou concluindo que conhecemos com certeza o 
princípio de não contradição e a própria existência. Dizia que “ninguém pode duvidar 
da própria existência porque, neste caso, a dúvida é uma prova da existência: se me 
engano, existo”. (MONDIN, 1982, p. 137).
Sobre as heresias acesse o link disponível em: <http://zeadir.blogspot.
com.br/2015/01/principais-heresias.html>.
Fonte: Disponível em: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Educacion_en_la_nueva_espa%C3%B1a.jpg?uselang=pt-br. 
Acesso em: 31 mar. 2015.
Figura 1.11 | Com sua luz, Deus ilumina nossas mentes com as suas verdades
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
38
Tenho plena certeza de existir, de conhecer-me e de amar-
me; e não temo os argumentos apresentados contra esta 
verdade pelos acadêmicos, que dizem: e se te enganas? Se me 
engano significa que sou, que existo.Uma vez, pois, que existo, 
se me engano, como posso enganar-me a respeito de minha 
existência, se é certo que existo pelo próprio fato de enganar-
me? Portanto, eu, que me enganaria, mas que existiria mesmo 
na hipótese de que me enganasse, inegavelmente não me 
engano no conhecer a mim mesmo. (CIDADE DE DEUS, XI, 26, 
apud, MONDIN, 1982, p. 137).
Agostinho acabou concluindo que o conhecimento se dava por três vias – 
os sentidos, a razão inferior (a ciência) e a razão superior (a fé) –, que apreendem 
respectivamente os objetos, as leis da natureza e as verdades eternas. Mesmo o 
conhecimento adquirido pelos sentidos depende, em última instância, da alma. O 
corpo recebe as impressões, mas é a alma que elabora o conhecimento. 
Segundo Agostinho, a alma recebe a imagem e não os objetos em si. A razão 
inferior se ocupa do conhecimento científico acerca do mundo corpóreo e de suas 
leis, bem como do processo de abstração. Por fim, a mais alta forma de conhecimento 
é o das verdades eternas a qual só é possível por meio da iluminação divina: “Deus 
irradia na mente humana as verdades absolutas, imutáveis”. (MONDIN, 1982, p. 139). 
Dizia ele que é preciso crer para compreender e compreender para crer.
Com relação ao movimento, Agostinho entende que ele está estruturalmente 
ligado com o tempo. Ao criar o mundo do nada, Deus criou também o tempo, por isso 
“não há movimento antes do mundo, só com o mundo” (REALE, 1990, p. 451). Tudo o 
que existe existiu primeiro na mente divina, pelo que as ideias têm um papel essencial 
na criação. Deus criou a matéria e todas as possibilidades de sua concretização, 
infundindo nelas as razões seminais de cada coisa, como se a natureza estivesse 
grávida e a evolução fosse esse movimento em direção ao parir. São como sementes 
que evoluem, amadurecem e concretizam aquilo para o qual foram projetadas. 
A questão do tempo em Agostinho é bastante intrigante, pois ele indaga acerca da 
sua existência. Primeiro diz que o passado existiu, mas não existe mais, não se pode 
medi-lo; depois afirma que o futuro ainda não existe, não chegou e também não se 
pode medi-lo; por fim diz que o presente é fugaz e quando tento medi-lo ele já se foi, 
virou passado (Confissões, livro XI), portanto, como não existe nem o passado, nem 
o presente e nem o futuro, conclui-se que o tempo não existe, ou, que o tempo não 
existe em si, apenas em nossa mente.
Como bom platônico, Agostinho prioriza mais o mundo inteligível que o mundo 
sensível e sustenta que as coisas exteriores são unicamente para conduzir o ser 
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
39
humano ao conhecimento de si mesmo e o ajudam a se elevar até Deus (ascese). A 
fé e a razão se complementam num processo intelectual que desemboca no amor. A 
inteligência prepara para a fé e ambas se conduzem ao amor, pois é só no amor que 
se encontra a verdade.
As universidades de Bolonha e de Paris estão entre as primeiras que 
surgiram e acabaram se tornando uma espécie de modelo para as 
demais. A universidade de Paris surgiu a partir de uma ampliação da 
escola da catedral de Nôtre-Dame. Uma das figuras mais importantes 
do início desta universidade foi Pedro Abelardo (1079 – 1142). [...] 
Naquela época a disciplina por excelência, além da teologia, era a 
lógica, pois era muito importante saber construir argumentos claros e 
convincentes e saber encontrar a verdade bíblica distinguindo o que é 
linguagem literal da linguagem figurativa, ou simbólica. Preocupados 
com a questão da linguagem e valendo-se da lógica e da dialética 
surgiram, inicialmente, debates acerca de questões relacionadas à 
alma e isto acabou desembocando na querela acerca da natureza dos 
universais. (MACHADO, 2013, p. 29).
A questão dos universais
Logo após a morte de Agostinho, em 430, 
entramos naquele período de estagnação do 
conhecimento, pois, como já mencionamos, 
as escolas deixaram de existir na Europa, sendo 
reabertas apenas no ano 781. Muito lentamente 
as escolas vão sendo difundidas pelo velho 
continente, funcionando, geralmente, junto 
aos palácios e por isso receberam o nome de 
Escolas Palatinas.
O currículo dessas escolas era o Trivium 
(três matérias: gramática, retórica e dialética) 
e o Quadrivium (quatro matérias: aritmética, 
geometria, música e astronomia). Já estamos entrando em um momento que ficou 
conhecido como Escolástica.
Próximo ao ano 1200 surge a primeira universidade do mundo – ao menos 
nos moldes atuais, pois já havia uma no Egito (Universidade de al-Azhar) e outra na 
Península Itálica (Universidade de Bolonha), a Universidade de Paris. Ela surgiu junto à 
Catedral de Nôtre-Dame. As aulas eram mais em forma de debates do que expositivas; 
e um dos temas recorrentes era a questão dos universais (conceitos gerais e abstratos. 
Por exemplo: casa, homem, pedra etc.).
Fonte: Disponível em: <http://commons.wikimedia.
org/wiki/File:Pe%C3%B1alosa-tomas_aquino.
jpg?uselang=pt-br>. Acesso em: 31 mar. 2015.
Figura 1.12 | Escolástica: aulas debatidas 
com pouco material de estudo
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
40
Basicamente, a preocupação era perceber a relação que existe entre as palavras 
e as coisas, entre os conceitos e a realidade. Rosa, por exemplo, é um nome que 
sobrevive à morte da própria flor, o que indica que a palavra pode se referir até as 
coisas inexistentes. Será que as coisas existem por si mesmas, separadas dos objetos 
sensíveis? Para responder estas questões surgiram duas correntes: os nominalistas e 
os realistas.
Para os nominalistas, os universais são meras palavras, meros nomes, sem existência 
real. São abstrações feitas a partir da percepção de objetos individuais (este homem, 
este animal) (ABRÃO, 1999). O realismo se opõe a isto e defende que os universais têm 
existência efetiva. Uma existência anterior e separada das coisas, como ensinava Platão, 
ou a forma das coisas, como ensinava Aristóteles. Pedro Abelardo defende uma solução 
intermediária: “os universais só existem no intelecto, mas ao mesmo tempo, mantêm 
relação com as coisas particulares na medida em que lhes dão significado. Desse modo, 
é como significado que os universais subsistem às coisas”. (Ibidem, p. 108).
Mas o maior do nome da Filosofia Escolástica 
acabou sendo Tomás de Aquino (1225-1274). Ele 
teve o privilégio de ser um dos primeiros professores 
a ter contato com as obras de Aristóteles, até então, 
posse dos árabes, como já assinalamos.
Tomás de Aquino se apoiou no pensamento de 
Aristóteles para elaborar a sua doutrina filosófica 
do mesmo modo como Agostinho se baseou 
em Platão. E, como bom aristotélico, Tomás de 
Aquino também sustentou que nascemos tabula 
rasa (quadro vazio, sem nada na mente), sendo a 
experiência sensorial a fonte do conhecimento, que 
pode ocorrer de duas maneiras: pelas evidências 
fornecidas pela experiência no mundo que nos 
rodeia ou pela revelação divina, podendo ambos 
conduzir a Deus. Deste modo, Tomás acreditou 
demonstrar que o pensamento aristotélico não se 
Sobre a fundação das universidades e sobre a contribuição de Pedro 
Abelardo, assista ao filme “Em nome de Deus”. Cuidado, porém, porque 
existem dois filmes com esse nome. Veja na sinopse se o enredo é a 
história de Abelardo e Heloísa.
Outro filme que retrata a época aqui descrita é “O Nome da Rosa”, 
baseado no livro de Umberto Eco.
Fonte: Disponível em: <http://commons.
wikimedia.org/wiki/File:Mosteiro_de_
Santa_Maria_da_Vit%C3%B3ria,_Batalha,_
Portugal_(2720108018).jpg?uselang=pt-br>. 
Acesso em: 31 mar. 2015.
Figura 1.13 | Tomás de Aquino, 
expoente máximo da filosofia 
Escolástica.
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
41
contrapunha à teologia cristã.
Para o Aquinate, todo conhecimento ocorre por assimilação ou por união da coisa 
conhecida e do objeto cognoscente (conhecedor), dizia que o objeto conhecido está 
no cognoscente segundo a natureza do próprio cognoscente. Sob a influência de 
Aristóteles afirmou que conhecer é abstrair, sendo o universal abstraído do particulare 
a forma abstraída da matéria individual. 
Aquino buscou sintetizar a fé e a razão, pois entendia que não existem contradições 
entre a Filosofia e a fé cristã, visto que apenas a fé e a revelação cristã são capazes de 
atingir as puras verdades espirituais. Além destas, existem também as verdades naturais 
teológicas, que podem ser obtidas tanto por intermédio da fé e da revelação como 
pela razão e pelos sentidos. Um exemplo de verdade natural teológica é a busca de 
provas da existência de Deus.
Outra grande herança do aristotelismo foi a teoria das quatro causas, na qual, na 
interpretação de Tomás de Aquino, Deus é a causa primeira de todas as coisas. E, por 
fim, a filosofia cristã, a exemplo da grega, também se mantém essencialista (tudo tem 
uma essência, uma razão de ser), muito embora o enfoque na universalidade do ser 
humano passe a ser a “vontade de Deus”.
O Renascimento: Galileu Galilei e a nova ciência
O Renascimento é um período relativamente curto da história, mas com 
Tomás de Aquino era bastante gordo e calado e foi apelidado de Boi 
Mudo, pelos colegas de estudo. O mestre, Alberto Magno, em tom 
profético disse aos seus discípulos “respeitem esse que vocês chamam 
de Boi Mudo, pois quando ele mugir o mundo todo vai ouvi-lo”. Dizem 
que ele era tão gordo que, ao sentar-se à mesa, o seu braço não 
alcançava o prato; motivo pelo qual fizeram um semicírculo na mesa 
para ele poder chegar mais perto e se alimentar.
Sobre Tomás de Aquino acesse o link disponível em: <http://www.
mundodosfilosofos.com.br/aquino.htm>. 
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
42
contribuições substanciais em duas grandes 
áreas, na política (com Nicolau Maquiavel [1469-
1527]) e na ciência (com Galileu Galilei [1564-
1642]). Foram contribuições tão relevantes que 
mudaram para sempre a natureza dessas duas 
esferas.
Existe uma ciência antes de Galileu Galilei e 
outra depois dele. Portanto, a ciência que fazemos 
hoje é muito devedora ao Florentino, a tal ponto 
que ele é conhecido como o Pai da Ciência 
Moderna. E para termos uma ideia do que vai 
acontecer com a ciência a partir da contribuição 
de Galileu Galilei, talvez seja suficiente recordar a 
sua famosa frase: “A filosofia encontra-se escrita 
neste grande livro que continuamente se abre 
perante nossos olhos (isto é, o universo), que não 
se pode compreender antes de entender a língua 
e conhecer os caracteres com os quais está 
escrito. Ele está escrito em língua matemática...” 
(GALILEI, 1978, p. 119).
A frase acima nos remete ao pensamento de Pitágoras de Samos (570-497 a. C.) 
que já havia afirmado: “o mundo se reduz a números”. Contudo, mesmo assim, a 
ciência antiga foi feita apenas com razão e observação; Galileu Galilei acrescentou 
a experimentação (método desenvolvido por Francis Bacon [1561-1626]), o cálculo e 
a matemática. Desde então só será considerado ciência o conhecimento que puder 
ser provado, demonstrado, quantificado e mensurado. Poderíamos dizer que ele 
é o culpado por você ter, hoje em dia, que aprender fórmulas, pois a partir dele, o 
conhecimento tem de ser traduzido nessa linguagem. É difícil estudar assim?
Veja o que Galileu Galilei diz sobre a dificuldade de se conhecer as coisas:
Fonte: Disponível em: <http://commons.
wikimedia.org/wiki/File:Mosteiro_de_Santa_
Maria_da_Vit%C3%B3ria,_Batalha,_Portugal_
(2720108018).jpg?uselang=pt-br>. Acesso em: 
31 mar. 2015.
Figura 1.14 | O Renascimento foi 
um período curto, mas profundo, 
que deixou muitas marcas
Se raciocinar sobre um problema difícil fosse a mesma coisa 
que carregar pesos, então muitos cavalos carregariam mais 
sacos de trigo que um cavalo só, e eu concordaria mesmo que 
a opinião de muitos valesse mais do que a de poucos; mas o 
raciocinar é como o correr, e não como o carregar. Assim, um 
cavalo de corrida sozinho correrá sempre mais do que cem 
cavalos frisões. (GALILEI, 1978, p. 211).
Frase bem próxima, ou com o mesmo sentido, da frase de Schopenhauer (1788-
1860): “O intelecto não é uma grandeza extensiva, mas intensiva: sendo assim, um 
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
43
único indivíduo pode tranquilamente opor-se a dez mil, e uma assembleia de mil 
imbecis não faz um único homem inteligente” (esta frase se encontra na obra A arte 
de insultar, no verbete Igualitarismo).
Galileu Galilei nasceu em 15 de fevereiro de 1564 na cidade italiana de Pisa. Aos 17 
anos começou estudar medicina, mas nela não satisfez o “seu gosto pela observação 
e pelo rigor do raciocínio” (ROVIGHI, 1999, p. 34), pois na época a medicina não era 
uma ciência tão rigorosa e baseava-se muito mais na autoridade dos clássicos do 
que na observação do corpo humano. Mesmo contrariando seus familiares passou a 
estudar matemática, concomitante com medicina e aos poucos abandonou a ciência 
de Hipócrates. Aos 25 anos tornou-se professor de matemática na Universidade de 
Pisa, mudando dois anos depois, para a Universidade de Pádua.
Em 1609, Galileu Galilei ficou sabendo que na Holanda havia sido construído um 
telescópio, buscou informações, aperfeiçoou este instrumento e começou a fazer 
observações astronômicas. Um ano depois escreveu um livro O mensageiro celeste, 
onde descreveu as montanhas da lua, quatro satélites de Júpiter, as fases de Vênus, 
as formas de Saturno e as manchas solares. Ao perceber que as manchas solares 
mudavam de posição, concluiu que isto só era possível porque a terra estava girando 
em torno do sol.
Em uma carta de 1610, Galileu Galilei afirmou que gostaria que lhe acrescentassem 
ao título de matemático também o de filósofo. É preciso lembrar que filósofo era 
aquele que estudava a natureza, os corpos e seus fenômenos. Diz ele ter “estudado 
mais anos de filosofia do que meses de matemática pura”. (ROVIGHI, 1999, p. 48). 
Galileu Galilei fez investigações em física, sobretudo em mecânica, tentando descrever 
os fenômenos em linguagem matemática, fato que provocou forte reação da 
ciência oficial, até então aristotélica. Contudo, aplicar matemática à física foi a maior 
contribuição de Galileu Galilei para a história das ideias (PESSANHA, 1978).
Fonte: Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Galileo_telescope_replica_(1).jpg?uselang=pt-br>. Acesso 
em: 31 mar. 2015.
Figura 1.15 | Réplica do telescópio (ou luneta) de Galileu Galilei.
Será que muitas vezes não julgamos que muitas pessoas juntas 
podem ter mais conhecimento do que uma única pessoa? Será 
que às vezes não somos levados a concordar com a maioria, 
simplesmente por ser maioria?
Noções gerais acerca do conhecimento
U1
44
Galileu tornou-se o criador da física moderna, quando enunciou 
as leis fundamentais do movimento; foi também um dos 
maiores astrônomos de todos os tempos, pelas observações 
pioneiras que fez com o telescópio. [...] Galileu é mais 
importante pelas contribuições que fez ao método científico 
do que propriamente pelas revelações físicas e astronômicas 
encontradas em suas obras (PESSANHA, 1978, p. 96).
processo pelo qual os intelectuais se desligam das justificativas 
baseadas na religião, que exigem adesão pela crença, para só 
Estruturou todo o conhecimento científico da natureza e 
abalou os alicerces que fundamentavam a concepção medieval 
de mundo. [...] Em lugar de conceber o mundo como dividido 
em duas partes, uma superior, constituída pelo céu, e a outro 
inferior, a terra em que vive o homem, mostrou que todos os 
objetos físicos devem ser concebidos como sendo da mesma 
natureza e tratados de modo idêntico, pelo menos por aqueles 
que desejam conhecer cientificamente o universo. [...] Mostrou 
que a natureza é fundamentalmente um conjunto de fenômenos 
mecânicos, tal como afirmou Demócrito na Antiguidade. [...] E 
mostrou, finalmente, que “o livro da natureza está escrito em 
caracteres matemáticos” e que ‘sem um conhecimento dos 
mesmos, os homens não poderão compreendê-lo’. (PESSANHA, 
1978, p. 97).
O método desenvolvido por Galileu foi uma revolução na ciência e consistia de três 
princípios: 1º

Outros materiais