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33 VOLUME PSICOPEDAGOGIA REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOPEDAGOGIA • Nº 100 • 2016 • ISSN 0103-8486 EDITORIAL / EDITORIAL • Momentos para comemorar... ..............................................................................................1 ARTIGOS ORIGINAIS / ORIGINAL ARTICLES • Educação Integral: significações por alunos de ensino fundamental pelo Par Educativo .....5 • Estratégias de aprendizagem e sua relação com o desempenho escolar em crianças do Ensino Fundamental I ..................................................................................... 19 • Habilidades cognitivas e competências prévias para aprendizagem de leitura e escrita de pré-escolares com fissura labiopalatina ............................................................28 • A utilização do Teste de Atenção Concentrada (AC) para a população infanto-juvenil: uma contribuição para a avaliação neuropsicológica........................................................ 37 RELATO DE EXPERIÊNCIA / EXPERIENCE REPORT • Características da dislexia de desenvolvimento e sua manifestação na idade adulta .....50 ARTIGOS ESPECIAIS / SPECIAL ARTICLES • A literatura como intervenção psicopedagógica com adolescente ..................................60 • Portfólio: instrumento de metacognição para os professores em seu processo reflexivo na atividade docente ........................................................................................... 67 • A supervisão psicopedagógica e o pensamento crítico ....................................................75 • Dislexia na escola: identificação e possibilidades de intervenção ..................................86 • As ideias de Vigotski e o contexto escolar .........................................................................98 • O estigma da mente: transformando o medo em conhecimento .................................. 103 RELATO DE PESQUISA / RESEARCH REPORT • A formação e regulamentação das atividades em Psicopedagogia ................................ 110 SEÇÃO BAHIA Presidente: Nilzan Gomes Santos End. Av. Tancredo Neves, 3343, sala 1105 – Ed. Cempre Torre B – Caminho das Árvores – Salvador, BA – CEP 41820-121 Tel: (71) 3341- 0121 E-mail: abppsecao.ba@uol.com.br Vice-presidente: Joanice Maria Bezerra Souza SEÇÃO CEARÁ Presidente: Andréa Aires Costa End. Rua João Carvalho, 800, sala 1008 – Ed. Talent Center – Aldeota – Fortaleza, CE – CEP 60140-140 Tel: (85) 8543-4331/ 9667-2002 / Whats app 9404-2669 E-mail: abppce@psicopceara.com.br Vice-presidente: Graça Maria de Morais Aguiar e Silva SEÇÃO DISTRITO FEDERAL Presidente: Walderlene Ramalho End. QNE 02, Lote 01, sala 203 – Taguatinga – Brasília, DF – CEP 72125-020 Tel/Fax: (61) 8359-5464 E-mail: abppbsb@hotmail.com SEÇÃO GOIÁS Presidente: Lucila Menezes Guedes Monferrari End. Av. 85, 684, sala 207 – Ed. Eldorado Center – St Oeste – Goiânia, GO – CEP 74120-090 Tel: (62) 3214-2178 E-mail: psicopedagogiagoiasabpp@gmail.com Vice-presidente: Denise Araújo Santos Baiocchi Carneiro SEÇÃO MINAS GERAIS Presidente: Regina Rosa dos Santos Leal End. Av. Brasil, 248, sala 202 – Santa Ifigênia – Belo Horizonte, MG –CEP 30140-001 Tel: (31) 3221-3616 / 3239-5920 / 9238-1955 E-mail: abppminasgerais@gmail.com Vice-presidente: Maria Ana Tafner Pereira SEÇÃO PARÁ Presidente: Maria Nazaré do Vale Soares End. Trav. 3 de maio, 1218, sala 105 – Ed. Alpha Center – Belém, PA – CEP 66660-600 Tel: (91) 3229-0565 E-mail: abpppa@yahoo.com.br Vice-presidente: Eliane Souza de Deus Neto Almeida SEÇÃO PARANÁ SUL Presidente: LORIANE FERREIRA End. Av. Fernando Amaro, 431 – Bairro Alto da XV – Curitiba, PR – CEP 80045-080 Tel: (41) 3363-8006 E-mail: diretoria@paranasulabpp.com.br Vice-presidente: Heloísa Monte Serrat Barbosa SEÇÃO PERNAMBUCO Coordenadora: Roberta Claro End. Rua Aviador Severiano Lins, 73, sala 5 – Boa Viagem – Recife-PE – CEP 51020-060 Tel: (81) 3466-1362 E-mail: abpppernambuco@gmail.com Vice-coordenadora: Valéria Regina Granha SEÇÃO PIAUÍ Presidente: Cristina Miranda (interina) End. Rua Arlindo Nogueira, 333, sala 5 – Edif. Luiz Fortes – Centro – Teresina, PI – CEP: 64000-290 Tel: (86) 9992- 0817 E-mail: abppsecaopiaui@hotmail.com SEÇÃO RIO DE JANEIRO Presidente: Maria Katiana Veluk Gutierrez End. Av. Nossa Senhora de Copacabana, 861, sala 302 – Copacabana – Rio de Janeiro, RJ – CEP 22060-000 Tel: (21) 2236-2012 E-mail: abpp-rj@abpp-rj.com.br Vice-presidente: Fátima Galvão Palma SEÇÃO RIO GRANDE DO NORTE Presidente: Ednalva de Azevedo Silva End. Rua Kerginaldo Cavalcante, 279 – Nova Descoberta – Natal, RN –CEP: 59075-240 Tel: (84) 99675-8660 E-mail: psicopedrn@yahoo.com.br Vice-presidente: Hebert Ezequiel Fernandes de Medeiros SEÇÃO RIO GRANDE DO SUL Presidente: Iara Caierão End. Av. Venâncio Aires, 1119, sala 9 – Cidade Baixa – Porto Alegre, RS – CEP 90520-000 Tel: (51) 3333-3690 / 9607-7053 E-mail: secretaria@abpprs.com.br Vice-presidente: Gilca Maria Lucena Kortmann SEÇÃO SANTA CATARINA Presidente: Maria Alice Moreira Bampi End. Rua Rui Barbosa, 574, apto 801 – Agronômica – Florianópolis, SC – CEP 88025-301 Tel: (48) 3365-1097 / 9116-0753 E-mail: abppsc@gmail.com Vice-presidente: Lucimara Maia da Silva SEÇÃO SÃO PAULO Presidente: Sandra Lia Nisterhofen Santilli End. Av. Dr Arnaldo, 1690 – Sumaré – São Paulo, SP – CEP 01255-000 Tel: (11) 9 6416-1030 E-mail: saopaulo@saopauloabpp.com.br Vice-presidente: Maria Cristina Natel SEÇÃO SERGIPE Presidente: Nielza da Silva Maia de Souza End. Rua Riachuelo, 1188, sala 16 – São José – Aracajú, SE – CEP 49015-160 Tel: (79) 3214-5363 ramal 222 E-mail: abppsergipe@gmail.com Vice-presidente: Maria de Fátima Vasconcelos Gomes NÚCLEO ESPÍRITO SANTO Coordenadora: Cheila Araújo Mussi Montenegro End, Av. Nossa Senhora da Penha,1495, sala 504-A – Ed. Corporate Center – Santa Lúcia – Vitória, ES – CEP: 29056-905 Tel: (27) 98875- 4508 E-mail: abpp.es@gmail.com Vice-coordenadora: Lúcia Maria Gogoy NÚCLEO PARANÁ NORTE Coordenadora: Rosa Maria Junqueira Scicchitano End. Rua Antonio Amado Noivo, 440 – Ipiranga – Londrina, PR – CEP 86010-050 Tel:(43) 3324- 3425 E-mail: rosamaria@uel.br Vice-coordenadora: Deibe Moraes NÚCLEO SUL MINEIRO Coordenadora: Janaína Cristiane Guidi Pereira Endereço: Rua Alberto Cabre, 300 – Vila Pinto – Varginha, MG – CEP 37010-630 Tel: (35) 9808-2392 E-mail: abppsulmineiro@gmail.com Vice-coordenadora: Marília Vieira Siqueira de Arantes Sede: Rua Teodoro Sampaio, 417 - Conj. 11 - CEP: 05405-000 - São Paulo - SP Pabx: (11) 3085-2716 - 3085-7567 - www.abpp.com.br - abpp@abpp.com.br // psicoped@uol.com.br ABPP EM TODO O BRASIL NÚCLEOS E SEÇÕES DA ABPp Triênio 2014-2016 Conselho editorial internaCional Carmen Pastorino - Uruguai César Coll - Espanha Isabel Solé - Espanha Maria Cristina Rojas - Argentina Neva Milicic - Chile Vitor da Fonseca - Portugal Conselho editorial naCional Beatriz Scoz SP Débora Silva de Castro Pereira BA Edith Rubinstein SP Eloísa Quadros Fagali SP Evelise Maria L. Portilho PR Heloisa Beatriz Alice Rubman RJ Iara Caierão RS Leda M. Codeço Barone SP Margarida Azevedo Dupas SP Maria Auxiliadora de Azevedo Rabello BA Maria Cecília Castro Gasparian SP Conselho exeCutivo Maria Irene Maluf SP Luciana Barros de Almeida GO editora Maria Irene Maluf SP Maria Célia Malta Campos SP Maria Cristina Natel SP Maria Silvia Bacila Winkeler PR Marisa Irene Siqueira Castanho SP Mônica H. Mendes SP Nádia Bossa SP Neide de Aquino Noffs SP Nívea M.de Carvalho Fabrício SP Rosa M. Junqueira Scicchitano PR Sônia Maria Colli de Souza SP Consultores ad hoc Ana Maria Maaz Acosta Alvarez Cleomar Landim de Oliveira Jaime Zorzi Lino de Macedo Lívia Elkis Luiza Helena Ribeiro do Valle Saul Cypel Sonia Maria Pallaoro Moojen Sylvia Maria Ciasca PSICOPEDAGOGIA – Órgão oficial de divulgação da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp é indexada nos seguintes órgãos: 1) LILACS - Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde - BIREME 2) Clase -Citas Latinoamericanas en Cien- cias Sociales y Humanidades. Universidad Nacional Autónoma de Mexico 3) Edubase - Faculdade de Educação, UNI- CAMP 4) Bibliografia Brasileira de Educação - BBE CIBEC / INEP / MEC 5) Latindex - Sistema Regional de Informa- ción en Línea para Revistas Científicas de América Latina, El Caribe, España y Portugal 6) Catálogo Coletivo Nacional – Instituto Brasileiro em Ciência e Tecnologia – IBICT Psicopedagogia: Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia / Associação Brasileira de Psicopedagogia. - Vol. 10, nº 21 (1991). São Paulo: ABPp, 1991- Quadrimestral ISSN 0103-8486 C o n t i n u a ç ã o , a p a r t i r d e 1 9 9 1 , v o l . 1 0 , n º 2 1 d e B o l e t i m d a Associação Brasileira de Psicopedagogia. 1. Psicopedagogia. I. Associação Brasileira de Psicopedagogia. CDD 370.15 7) INDEX PSI – Periódicos – Conselho Federal de Psicologia 8) DBFCC – Descrição Bibliográfica Fundação Carlos Chagas 9) PEPSIC – Periódicos Eletrônicos em Psicologia Editora Responsável: Maria Irene Maluf Revisão e Assessoria Editorial: Rosângela Monteiro Editoração Eletrônica: Rudolf Serviços Gráficos O conteúdo dos artigos aqui publicados é de inteira responsabilidade de seus autores, não expressando, necessariamente, o pensamento do corpo editorial. É expressamente proibida qualquer modali- dade de reprodução desta revista, seja total ou parcial, sob penas da lei. www.abpp.com.br abpp@abpp.com.br // psicoped@uol.com.br Rua Teodoro Sampaio, 417 - Conj. 11 - Cep: 05405-000 São Paulo - SP - Pabx: (11) 3085-2716 - 3085-7567 Acesse a revista na íntegra: http://abpp.com.br/publicacoes_revista_psicopedagogia.html diretoria da assoCiação Brasileira de PsiCoPedagogia triÊnio 2014/2016 Ana Paula Loureiro e Costa RJ Clarissa Farinha Candiota RS Débora S. de Castro Pereira BA Evelise Maria Labatut Portilho PR Fabiani Ortiz Portella RS Francisca Francineide Cândido CE Galeára Matos de França Silva CE Iara Caierão RS Joyce Maria Barbosa de Pádua PI Luciana Barros de Almeida GO Luciana Queiroz Bem Portela CE Márcia Alves Simões SP Maria Cristina Natel SP Maria José Weyne M. de Castro CE Maria Teresa Messeder Andion SP Marisa Irene Siqueira Castanho SP SuplenteS Edimara de Lima SP Heloisa Beatriz Alice Rubman RJ Jozélia de Abreu Testagrossa BA Márcia Alves Affonso SP Presidente Luciana Barros de Almeida (GO) Vice-Presidente Edimara de Lima (SP) 1ª Tesoureira Quézia Bombonatto (SP) 2ª Tesoureira Ana Paula Loureiro e Costa (RJ) 1ª Secretária Administrativa Maria Teresa Messeder Andion (SP) 2ª Secretária Administrativa Heloísa Beatriz Alice Rubman (RJ) 1ª Assessora Científica Marisa Irene Siqueira Castanho (SP) 2ª Assessora Científica Evelise Maria Labatut Portilho (PR) Assessoras de Relações Públicas Débora Silva de Castro Pereira (BA) Galeára Matos de França Silva (CE) Marilene Ribeiro de Azevedo (GO) Assessoras de Comunicação e Divulgação Iara Caierão (RS) Maria José Weyne Melo de Castro (CE) Maria Katiana Veluk Gutierres (RJ) ASSeSSoriAS Assessora de Publicações Científicas Maria Irene Maluf (SP) Assessora de Formação e Regulamentação Neide De Aquino Noffs (SP) Beatriz Judith Lima Scoz SP Edith Rubinstein SP Leda Maria Codeço Barone SP Maria Cecília Castro Gasparian SP Maria Célia Malta Campos SP Maria Irene Maluf SP Mônica H. Mendes SP Neide de Aquino Noffs SP Nívea Maria de Carvalho Fabrício SP Quézia Bombonatto SP Conselheiras vitalíCias Conselheiras eleitas – gestão 2014/2016 sumário EDITORIAL / EDITORIAL • Momentos para comemorar Irene Maluf .......................................................................................................................................1 ARTIGOS ORIGINAIS / ORIGINAL ARTICLES • Educação Integral: significações por alunos de ensino fundamental pelo Par Educativo Full-time school: meanings for students of elementary education using educational pair drawing Francisca Tietze; Marisa Irene Siqueira Castanho.........................................................................5 • Estratégias de aprendizagem e sua relação com o desempenho escolar em crianças do Ensino Fundamental I Strategies learning and its relationship with the performance in school teaching children Fundamental I Kelly Cristina Ramires Prates; Ricardo Franco de Lima; Sylvia Maria Ciasca ...........................19 • Habilidades cognitivas e competências prévias para aprendizagem de leitura e escrita de pré-escolares com fissura labiopalatina Cognitive abilities and previous competencies for reading and writing learning in preschoolers with cleft palate Maria de Lourdes Merighi Tabaquim; Laiza Oliveira Vilela; Évelyn Raquel Benati .................28 • A utilização do Teste de Atenção Concentrada (AC) para a população infanto-juvenil: uma contribuição para a avaliação neuropsicológica The use of Concentrated Attention (AC) Test for children and youth population: a contribution to the neuropsychological evaluation Edyleine Bellini Peroni Benczik; Graziella Ceregatti Leal; Tábata Cardoso ..............................37 RELATO DE EXPERIÊNCIA / EXPERIENCE REPORT • Características da dislexia de desenvolvimento e sua manifestação na idade adulta Characteristics of development dyslexia and its manifestation in adulthood Sônia Maria Pallaoro Moojen; Ana Bassôa; Hosana Alves Gonçalves........................................50 ARTIGOS ESPECIAIS / SPECIAL ARTICLES • A literatura como intervenção psicopedagógica com adolescente Literature as psychopedagogical intervention with teenager Sonia Saj Porcacchia; Leda Maria Codeço Barone; Beethoven Hortencio Rodrigues da Costa ...... 60 • Portfólio: instrumento de metacognição para os professores em seu processo reflexivo na atividade docente Portfolio: metacognition tool for teachers in their reflective process in teaching activity Mônica Mendes ..............................................................................................................................67 • A supervisão psicopedagógica e o pensamento crítico The psychopedagogical supervision and the critical thought Débora Silva de Castro Pereira ......................................................................................................75 • Dislexia na escola: identificação e possibilidades de intervenção Dyslexia at school: early identification and possibilities of intervention Sônia das Dores Rodrigues; Sylvia Maria Ciasca .........................................................................86 • As ideias de Vigotski e o contexto escolar The Vygotsky’s ideas and the school context Ingrid Lilian Fuhr Raad .................................................................................................................98 • O estigma da mente: transformando o medo em conhecimento The stigma of mind: turning fear into knowledge Alessandra Lemes Prado; Rodrigo Affonseca Bressan ................................................................103 RELATO DE PESQUISA / RESEARCH REPORT • A formação e regulamentação das atividades em Psicopedagogia Training and regulations activities in Educational Psychology Neide de Aquino Noffs .................................................................................................................110 1 Rev. Psicopedagogia 2016; 33(100): 1-4 EDITORIAL MoMentos Para CoMeMorar... A 100ª edição da Revista Psicopedagogia, que a Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) traz a público neste mês de abril de 2016, durante o 3º ano da gestão de Luciana Barros de Almeida, representa um marco importante na história da Associação e da própria Psicopedagogia no Brasil. É um momento de comemorar e inicialmente, como não poderia deixar de ser, prestar nossa homenagem e agradecer às fundadoras da ABPp, que a criaram em 1982 o “Boletim da Associação de Psicopedagogos de São Paulo” que, quatro anos depois, tornou-se o Boletim da Associação Brasileira de Psicopedagogia.Foi o empenho pela causa dessa profissão que então nascia, que fez o pioneirismo dessas profissionais aflorar com coragem, em uma época em que poucas pessoas no Brasil reconheciam a importância de tal especialização. O Boletim cresceu, ganhou notoriedade e foi transformado em Psicopedagogia: Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia, em 1991, a partir da edição 21 e muitas editoras se sucederam, engrandecendo a Psicopedagogia. A história continuou e tivemos a honra de assumir a editoria desta revista em 2003, edição 61, tendo como demanda maior o reconhecimento científico dessa publicação. Em 2005, edição 69, a revista recebeu pela primeira vez qualificação B Nacional pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ligada ao Ministério da Educação, e obteve sua indexação pela Lilacs. Na edição 72, do ano 2006, comemorativa dos 25 anos da ABPp, já havia sido indexada a oito importantes Bases de Dados Nacionais e Internacionais e se fortalecido como fonte de consulta respeitada no meio acadêmico. Em 2009, a partir da edição 81, sempre comprometida com a divulgação do conhecimento acerca da Psicopedagogia, atendendo a um pleito mundial de contenção de gastos das reservas naturais e proteção ao meio ambiente, esse periódico passou a ser publicado unicamente pela Internet, com acesso aberto, sem qualquer restrição a consultas públicas. Com a indexação alcançada no PePSIC - Periódicos Eletrônicos em Psico- logia, em setembro de 2010, as edições quadrimestrais passaram a poder ser livremente acessadas em todas as partes do mundo pelo endereço: http://pepsic. bvsalud.org/scielo.php?script=sci_serial&pid=0103-8486&lng=en&nrm=iso e também continuaram abertas através do site www.abpp.com.br/revista. Em 2016, este ano ainda, será lançado o novo site da Revista, compatível com o que há de mais atual entre as publicações científicas internacionais. Prestamos também nosso agradecimento e homenagem aos sucessivos editores e membros do Conselho Editorial e do Conselho Nacional, que nesses últimos 35 anos se sucederam: pessoas altruístas, profissionais exímios, que dedicaram parte de suas vidas a esta Associação e a esta publicação. Graças a esse empenho, gradativamente, esta revista passou a ser o meio de divulgação 2 Rev. Psicopedagogia 2016; 33(100): 1-4 EDITORIAL científica, a representar a própria ABPp e tornou-se referência da profissão que lhe empresta o nome, no Brasil e no mundo. Não se poderia deixar de agradecer e muito, aos inúmeros autores, profis- sionais de várias áreas do saber, que generosamente colaboram para ampliar, enriquecer e solidificar o olhar já multidisciplinar da Psicopedagogia, trazen- do-a ao sec. XXI com recursos de toda ordem do conhecimento, à altura de seus pares em outras áreas do saber. Hoje, resultante desse trabalho coletivo, a Revista Psicopedagogia, ímpar não apenas em nosso País como também internacionalmente, a única que representa os psicopedagogos brasileiros e sua Associação de classe, chega à 100ª edição e comemora 34 anos de publicação ininterrupta. De modo muito particular, gostaríamos de agradecer aos associados da ABPp e aos nossos leitores assíduos, que tanto contribuíram para nos manter com entusiasmo nessa tarefa. Por isso, a vocês, é dedicada esta edição especial! A 100ª edição da Psicopedagogia, que excepcionalmente foi impressa e disponibilizada on line, nos traz alguns temas importantes tratados há longo tempo, mas vistos hoje sob novos prismas, enriquecidos com conhecimentos da Ciência e da Neurociência aplicada à Educação. Abrimos esta edição com quatro Artigos Originais, de especial relevância para os profissionais da Psicopedagogia e Educação. Ao investigar os significados para as crianças de um Programa de Educação Integral, utilizando o desenho do Par Educativo, Francisca Tietze e Marisa Irene Siqueira Castanho nos trazem uma contribuição valiosa pela raridade de pesquisas psicopedagógicas de cunho científico nessa área, “Educação In- tegral: significações por alunos de ensino fundamental pelo Par Educativo”. “Estratégias de aprendizagem e sua relação com o desempenho escolar em crianças do Ensino Fundamental I”, de Kelly Cristina Ramires Prates, Ricardo Franco de Lima e Sylvia Maria Ciasca, é uma pesquisa cujo objetivo, muito instigante, foi avaliar o repertório de estratégias de aprendizagem utilizadas por estudantes do ensino fundamental I e relacioná-lo com o desempenho em leitura, escrita e aritmética, de modo a identificar as relações e o valor preditivo das estratégias de aprendizagem para o desempenho escolar. Em seguida, temos “Habilidades cognitivas e competências prévias para aprendizagem de leitura e escrita de pré-escolares com fissura labiopalati- na”, de Maria de Lourdes Merighi Tabaquim, Laiza Oliveira Vilela e Évelyn Raquel Benati, uma interessante investigação que teve como escopo geral caracterizar o desempenho cognitivo de crianças com fissura labiopalatina em fase de pré-alfabetização. “A utilização do Teste de Atenção Concentrada (AC) para a população infanto-juvenil: uma contribuição para a avaliação neuropsicológica” é uma pesquisa que nos oferece novas perspectivas de informações sobre avaliação de crianças e jovens com problemas de atenção, uma função cerebral impor- tante para a integração mental e é reconhecida como o pré-requisito mais relevante para a manifestação do intelecto e da capacidade de reflexão. Es- crito por Edyleine Bellini Peroni Benczik, Graziella Ceregatti Leal e Tábata 3 Rev. Psicopedagogia 2016; 33(100): 1-4 EDITORIAL Cardoso, o objetivo desse estudo foi investigar o desempenho de crianças e adolescentes no Teste AC, verificar evidências de validade e elaborar normas de padronização para essa população. Segue um Relato de Experiência, “Características da dislexia de desen- volvimento e sua manifestação na idade adulta”, de Sônia Moojen, Ana Bassôa e Hosana Alves Gonçalves, que visa a apresentar algumas definições sobre a dislexia do desenvolvimento, o movimento do corpo científico pelo emprego da palavra transtorno e as características consensuais sobre o tema. Também realiza uma breve revisão de pesquisas que apontam as dificuldades encontradas, nas habilidades de leitura, escrita e consciência fonológica, por adultos disléxicos. Para finalizar, apresenta um estudo de caso, comparando o desempenho em leitura e escrita de um adulto com o diagnóstico e um controle. Os Artigos Especiais desta edição, certamente serão uma grata surpresa ao leitor. É de Sonia Saj Porcacchia, Leda Maria Codeço Barone e Beethoven Hortencio Rodrigues da Costa o artigo “A literatura como intervenção psico- pedagógica com adolescente”. Trata-se de um trabalho expressivo, que aborda tema de grande relevância, que tem como objetivo apresentar a utilização de leitura de textos literários na intervenção psicopedagógica com um adoles- cente. A publicação desse trabalho, enviado pela primeira presidente de nossa Associação, Leda Maria Codeço Barone, é uma honra especial. “Portfólio: instrumento de metacognição para os professores em seu pro- cesso reflexivo na atividade docente”, da Conselheira Vitalícia da ABPp Mô- nica Mendes, apresenta uma abordagem que provoca o autoconhecimento do professor, com o intuito de aproximá-lo de seus alunos por meio de observação e elaboração de atividades voltadas para as modalidades de aprendizagem destes. Com muita satisfação, publicamos o trabalho da Conselheira Débora Silva de Castro Pereira, “A supervisão psicopedagógica e o pensamento crítico”, de grande relevância, sobre o trabalho psicopedagógico voltado para a super- visão, a construção do conhecimento, da autonomia e da independência do pensamento. “Dislexia na escola: identificação e possibilidades de intervenção”, é o oportuno artigo escrito por Sônia das Dores Rodrigues e Sylvia Maria Ciasca. As autoras abordam os principais conceitos relativos à dislexia, sua identificação e algumas possibilidadesde intervenção sobre esse transtorno de aprendizagem, que ganhou mais relevância a partir do momento em que a educação escolar tornou-se inclusiva. “As ideias de Vigotski e o contexto escolar”, é o artigo enviado por Ingrid Lilian Fuhr Raad, que parte do pressuposto que a política de Estado de Edu- cação está calcada na ideologia neoliberal, em que a escola assume o lugar de uma das instituições sociais de controle e perpetuação da lógica vigente. “O estigma da mente: transformando o medo em conhecimento”, de Alessandra Lemes Prado e Rodrigo Affonseca Bressan, nos mostra estratégias educativas que visam à promoção do bem-estar integral (físico, mental e emo- cional) no âmbito individual e coletivo, assim como à diminuição dos fatores de risco para o desenvolvimento de psicopatologias. 4 Rev. Psicopedagogia 2016; 33(100): 1-4 EDITORIAL É um Artigo de Pesquisa que encerra brilhantemente esta 100ª edição, de autoria da Conselheira Vitalícia Neide de Aquino Noffs, um dos mais respei- tados nomes da Psicopedagogia brasileira: “A formação e regulamentação das atividades em Psicopedagogia”. Esse artigo tem como objetivo principal analisar as concepções que norteiam a formação e a regulamentação da ati- vidade em Psicopedagogia, um importante documento para se ler, analisar e guardar. Assim, consideramos entregue aos associados e leitores a 100ª edição da Revista Psicopedagogia e esperamos que todos celebrem conosco a alegria deste momento por meio da leitura prazerosa e produtiva das páginas que se seguem. Irene Maluf Editora Educação IntEgral E Par EducatIvo Rev. Psicopedagogia 2016; 33(100): 5-18 5 ArTiGo oriGiNAL RESUMO – Este estudo teve como objetivo investigar os significados de um Programa de Educação Integral para crianças utilizando o desenho do Par Educativo. Os programas de Educação Integral oferecem atividades esportivas, culturais e de ampliação do currículo, supostamente em situações favorecedoras da qualidade de ensino e de formação. Foram avaliados, por meio da técnica gráfica do Par Educativo, os desenhos de três alunos com idades entre 10 e 11 anos, com e sem dificuldades de aprendizagem de escolas públicas de um município paulista. Foi solicitado aos alunos que desenhassem uma situação de aprendizagem em oficinas oferecidas no contra turno da aula e outra situação de aprendizagem em sala de aula. Como critérios de avaliação dos desenhos elegeram-se indicadores de conflito na relação de aprendizagem. Os resultados sugerem maior incidência de indicadores de conflito nos dois alunos com dificuldades de aprendizagem, quando comparados ao aluno sem dificuldades, em qualquer das situações; no entanto, na comparação dos desenhos de situações de aprendizagem nas oficinas com os das situações em sala de aula, não se obteve resultados consistentes. Embora se trate de uma amostra pequena para conclusões, pode-se afirmar que o Par Educativo é uma boa técnica para avaliar representações de relação vincular com a aprendizagem, sendo necessária a continuidade de estudos visando à validação de critérios para sua interpretação. Quanto à vivência em situações de aprendizagem em oficinas de ampliação da jornada escolar, sugerem-se mais estudos para avaliar o impacto desses programas na educação de crianças nas escolas públicas. UNITERMOS: Aprendizagem. Vínculos afetivos. Teste do Par Educativo. Contra turno escolar. Estudo de casos. Correspondência: Marisa Irene Siqueira Castanho Rua Luís Mazzarolo, 94 – Vila Clementino – São Paulo, SP, Brasil – CEP 04024-040 E-mail: marisa.irene@unifieo.br / msiqueiracastanho@gmail.com Francisca Tietze – Graduanda do Curso de Psicope da- gogia do Centro Universitário Fieo – Unifieo, Osas co, SP, Brasil. Marisa Irene Siqueira Castanho – Docente e pes- qui sadora do Programa de Pós-Graduação em Psi- cologia Educacional e do Curso de Graduação em Psi copedagogia do Centro Universitário Fieo – Unifieo, Osasco, SP, Brasil. eduCação integral: signifiCações Por alunos de ensino fundaMental Pelo Par eduCativo Francisca Tietze; marisa irene siqueira Castanho TieTze F & CasTanho Mis Rev. Psicopedagogia 2016; 33(100): 5-18 6 INTRODUÇÃO Este artigo apresenta os resultados de um estudo que é parte de uma pesquisa mais exten- sa que tem como objetivo identificar e analisar aspectos qualitativos e quantitativos de uma proposta de educação integral em um município próximo à cidade de São Paulo. Neste estudo, especificamente, o objetivo foi analisar os signi- ficados do programa de Educação Integral, para as crianças envolvidas, utilizando como recurso de análise e interpretação a técnica gráfica do Desenho do Par Educativo. O Desenho do Par Educativo é uma técnica criada por Malvina Oris e Maria Luisa S. De Ocampo, na Argentina1, sendo mais tarde es- truturado por María Elena Coviella de Olivero e Cristina Van der Kooy de Palacios. Trata-se de uma técnica projetiva, que tem como objetivo “detectar a relação vincular latente entre o que ensina e aquele que aprende”2 e que pode ser utilizada em qualquer circunstância que envolva duas ou mais pessoas em situação de aprendi- zagem, em contextos diversos, como a escola, a família, os amigos. O termo Educação Integral refere-se, de ma- neira ampla, aos programas educacionais que propõem ampliar as atividades escolares das crianças para além do período regular da sala de aula, oferecendo atividades esportivas, cultu- rais e de ampliação do currículo, favorecendo a qualidade do processo de formação de crianças e jovens. Para desenvolver propostas de educação integral é preciso envolver e articular diversos outros sujeitos, tempos e espaços de maneira a contemplar o maior número de alunos em ativi- dades diversas. “A ampliação do tempo diário de escola pode ser entendida e justificada de dife- rentes formas: a) ampliação do tempo como forma de se alcançar melhores re- sultados (...); b) ampliação do tempo como adequação da escola às novas condições da vida urbana, das famílias e particular- mente da mulher”3. As oficinas ministradas no contra turno es- colar e oferecidas pelos programas de educação integral têm, portanto, como finalidade a me- lhoria da educação e do desempenho escolar, sobretudo de crianças que não têm atingido os resultados mínimos previstos nas provas oficiais de avaliação escolar4,5. A despeito disso, estudo referente à rede pública paulista6 mostra que alunos de escolas de tempo integral não apre- sentam diferenças significativas em termos de proficiência e aprovação escolar, em relação àqueles que frequentam as escolas tradicionais. A autora supõe que esses resultados decorrem do pouco tempo de análise ou do pouco tempo despendido em atividades que possam afetar diretamente a proficiência dos alunos. Nos últimos anos, ocorreu uma ampliação significativa na implantação de propostas de educação integral nas escolas públicas, em de- corrência das políticas e diretrizes governamen- tais que emanam do Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE7. A consulta a um levantamento de publica- ções8 sobre análises de experiências em educa- ção integral em textos publicados entre 2007 e 2012 revelou que, dentre 22 artigos, somente três faziam referência à participação de alunos na avaliação das propostas implantadas. Com base no interesse em conhecer com mais detalhes os procedimentos metodológicos usados pelos auto- res dos três estudos citados, exatamente porque traziam referências a opiniões de alunos sobre experiências vividas em programas de Educação Integral, procedeu-se a um rastreamento desses textos9-11. O primeiro9 apresentava os resultados de uma pesquisa realizada numa escola estadual no município de Pirassununga, estado de São Paulo, de junho de 2007 a junho de 2008, junto a gestores, professores, alunos e responsáveis; por meio de um questionário aplicado a alunos da 8ª série, foi possível apreender a compreensão, as motivações, as preferências e as percepções dos alunosem relação à Escola de Tempo Inte- gral. Para os alunos, a Educação Integral estava vinculada à extensão da jornada diária de per- manência na escola, com o “aprender mais” os conteúdos escolares. Educação IntEgral E Par EducatIvo Rev. Psicopedagogia 2016; 33(100): 5-18 7 O segundo10 trazia reflexões acerca da am- pliação da jornada escolar e da Educação Inte- gral, a partir da fala de sete alunos dos anos iniciais do ensino fundamental inseridos em escolas em três municípios situados nas regiões sudeste e nordeste do Brasil, participantes de um programa de Educação Integral. O objetivo foi investigar como os alunos justificam a amplia- ção da jornada em relação à sua vida, dentro e fora do espaço escolar e como compreendem as diversas atividades por que passam na escola, ao longo dos dias. Os resultados demonstram que os alunos correlacionam a ampliação da jornada escolar como aprendizagem de conteúdos peda- gógicos difíceis, e também como de formação em sentido mais amplo (informática, pintura, músi- ca); também traçam uma linha contínua entre a ampliação da jornada escolar e situações que envolvem riscos sociais; por último, evidenciam a ausência de oportunidades e/ou instituições culturais e sociais em seu cotidiano como justi- ficativa para sua permanência nas experiências de jornada escolar ampliada. O último11 relatava uma experiência e os cus- tos de uma escola do campo em tempo integral do município de Palmas, estado de Tocantins. O objetivo foi avaliar por meio das perspectivas da comunidade escolar o alcance dos objetivos da proposta da escola, bem como estimar o custo- -aluno no programa. Ressalta-se na fala dos alunos a satisfação com as oficinas e atividades e o bom relacionamento com todos na escola. Como ponto negativo, os alunos relatam que to- das as atividades sempre eram realizadas dentro da sala de aula ou no pátio, sem calçamento e ao sol. Apontaram também a falta de uma sala de multimeios, tão importante para uma escola de tempo integral. Com base nessas considerações iniciais e, frente ao interesse em investigar significações produzidas por crianças participantes de progra- mas de educação integral, elegeu-se o Desenho do Par Educativo supondo que esta poderia ser uma técnica propícia para tal investigação. Supôs-se, também, que haveria maior evidên- cia de indicadores de conflitos nas relações de aprendizagem em desenhos que representassem a sala de aula, comparados aos desenhos sobre as situações de aprendizagem nas oficinas de educação integral, em especial, em crianças com dificuldades de aprendizagem. O termo dificuldades de aprendizagem é um termo genérico que corresponde a uma multipli- cidade de manifestações e a um amplo conjunto de fatores na sua configuração12-14. No entanto, nenhum dos fatores pode ser considerado iso- ladamente e a literatura sobre o atendimento da queixa escolar em serviços psicológicos e psicopedagógicos aponta para a variabilidade de demandas encaminhadas a esses serviços, com incidência em meninos na faixa etária dos 7 aos 13 anos, e nos últimos anos do Ensino Fundamental I, momento que a aprendizagem escolar deveria estar se consolidando15-17. REVISÃO DA LITERATURA SOBRE O PAR EDUCATIVO Em um estudo descritivo, Muñiz18 apresentou desenhos produzidos por escolares, exemplifi- cando os diferentes modos de representar a rela- ção vincular de aprendizagem por eles. O estudo teve como base a teoria do vínculo de Enrique Pichón Rivière, compreendendo a aprendizagem humana como um encontro entre possibilidades e obstáculos dos vínculos afetivos, e a interpreta- ção psicodramática do cenário interior construí- do a partir de experiências vinculares primárias como base de interpretação do mundo real. A autora iniciou a aplicação da técnica projetiva gráfica, juntamente com a pedagoga argentina Malvina Oris, que por sua vez modificara o teste de “duas pessoas” criado por Bernstein, em 1964, para aplicação junto a adolescentes e crianças com problemas de aprendizagem. Olivero & Palacios2 aplicaram o Par Educativo com a finalidade de estabelecer variáveis de interpretação e de adequação das mesmas em casuísticas variadas para verificar a confiabili- dade e a validação de critérios de interpretação do teste. As autoras realizaram um estudo junto a crianças de 8 a 10 anos, de diferentes níveis sociais. Distribuíram as amostras da seguinte TieTze F & CasTanho Mis Rev. Psicopedagogia 2016; 33(100): 5-18 8 maneira: 100 casos pertenciam a escolas urba- nas, 100 casos pertenciam a escolas suburbanas e 100 casos retirados de prontuários de consulta de crianças com transtornos de aprendizagem. A respeito das classes sociais, as escolas urbanas correspondiam à classe média e alta e as escolas suburbanas à classe média e baixa e as escolas respondiam a características institucionais dife- rentes quanto à ementa curricular. As autoras2 partiram da seguinte proposta: “Desenhe uma pessoa que ensina e outra que aprende”. A análise das produções gráficas teve como sustentação a teoria psicanalítica freudiana, a psicogenética de Piaget e a teoria do vínculo. A partir da análise das representa- ções gráficas, as autoras descreveram alguns indicadores de análise: papeis, objetos de apren- dizagem específicos, objetos de aprendizagem complementares, relação dos personagens com o objeto de aprendizagem e distância entre eles, cenário, características de quem ensina e de quem aprende, adição de personagens à cena, correlações entre a parte gráfica e a parte verbal. Posteriormente, Visca1,19 propôs o desenvol- vimento de pautas gráficas para a interpretação do Par Educativo, tendo como referencial teórico a Epistemologia Convergente, com foco na rede de vínculos de aprendizagem que um sujeito pode estabelecer em três grandes domínios: no escolar, no familiar e consigo mesmo, por meio da investigação da relação com os objetos de aprendizagem, com quem ensina e com quem aprende em qualquer situação. O autor consi- derou que o desenho do Par Educativo adquire significado em sua totalidade e no conjunto de três grandes grupos de indicadores: os detalhes do desenho, o título e o conteúdo do relato, o grau de estereotipia ou flexibilidade dos aspectos detectados. Dentre os detalhes, Visca1,19 desta- cou os seguintes indicadores significativos para análise: tamanho do desenho, dos personagens e dos objetos de aprendizagem, posição e dis- tância dos personagens em relação aos objetos de aprendizagem. Mais recentemente, Sakai20 desenvolveu uma pesquisa em forma de tese mais sistemática, objetivando adaptar indicadores de interpreta- ção dos desenhos da figura humana e de outras técnicas gráficas projetivas para a validação de critérios de avaliação do Teste do Par Educativo. A autora realizou um estudo de padronização do TPE em uma amostra de escolares de terceiras e quartas séries do Ensino Fundamental, de es- colas públicas e particulares, com o objetivo de avaliar a relação entre o desempenho escolar e o total de indicadores de conflito nos desenhos. Adaptou 66 indicadores relacionados ao grafis- mo, ao cenário, ao par professor-aluno, à figura de quem ensina e à figura de quem aprende. A autora realizou o estudo com 383 crianças divididas em três grupos quanto ao desempe- nho escolar de acordo com as avaliações dos professores. Os resultados confirmaram uma relação entre desempenho escolar e o total de indicadores de conflitos e as crianças de escolas públicas apresentaram um número mais elevado desse tipo de indicadores. MÉTODO Este estudo elegeu o método qualitativo21, numa abordagem descritiva, com a utilização de estudos de caso. Segundo o autor, o método qualitativo justifica-se principalmente quando se procura entender a natureza de determina- do fenômeno social em situações complexas ou estritamente particulares, possibilitando a compreensão mais profunda do comportamento dos indivíduos. Os participantes desta pesquisaforam três alunos, que frequentavam as oficinas do programa de Educação Integral, na faixa etária de 10 a 11 anos, do sexo masculino, cujos pais autorizaram sua participação, estudantes do Ensino Fundamental I, de três escolas públicas em um município da região metropolitana de São Paulo. O critério de escolha foi ao acaso e com a concordância dos pais por assinatura dos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido. A pesquisa foi realizada nas dependências das escolas; foram agendados horários para a aplicação do instrumento, imediatamente antes, ou após a oficina de Educação Integral que as crianças frequentavam. Para a realização dos Educação IntEgral E Par EducatIvo Rev. Psicopedagogia 2016; 33(100): 5-18 9 desenhos foram utilizados lápis preto número 2 e borracha, além de papel sulfite A4, em aplica- ções individuais e mediante a solicitação de dois desenhos, o primeiro com a seguinte instrução para as crianças: “Por favor, faça um desenho de você nesta oficina, aprendendo”. O segundo: “Agora, faça um desenho de você na sala de aula, aprendendo”. Após cada desenho, era solicitado um título e um relato sobre a situação desenhada. Os critérios de avaliação dos desenhos foram sistematizados por meio de uma composição de indicadores de conflitos na relação de aprendi- zagem retirados dentre os considerados comuns nos autores já citados1,2,19,20 e que compõem a Tabela 1. A Tabela 1 apresenta os 34 indicadores selecionados para a avaliação do desenho do Par Educativo neste estudo. Sete indicadores referem-se a características do Professor (P); sete referem-se às características do Aluno (A); três referem-se aos Objetos de Aprendizagem (Ao); três aos Objetos Complementares (Oc); cinco ao Cenário (C); seis ao Par Educativo (PAR); e, por último, três referem-se à relação entre título e desenho (RTD1), título e relato verbal (RTRV1) e desenho e relato verbal (RDRV1). A cada um desses indicadores foi atribuído um valor de 0 ou 2, referente a uma ordem cres- cente como sugestivo de conflitos na relação com a aprendizagem escolar, de forma a se obter re- sultados quantitativos para estabelecer algumas das correlações esperadas na comparação entre os desenhos das situações de aprendizagem nas oficinas em relação aos da sala de aula e nos desenhos das crianças com dificuldades de aprendizagem em relação aos de crianças sem dificuldades de aprendizagem. Assim, por exemplo, nos indicadores P1 referentes à figu- ra de quem ensina e A1 referentes à figura de quem aprende, à presença desses personagens foi atribuído valor 0 e à ausência, valor 2, pela concordância nos estudos citados de Olivero, Palacios2, Visca1,19 e Sakai20 de que a ausência é indicativa de rejeição, negação e/ou isolamento em relação aos personagens ausentes. Apenas os indicadores P4, Oa2, Oc2, C2, PAR3 receberam, além dessa valoração de 0 ou 2, uma valoração intermediária de 1 ponto, uma vez que foram considerados apenas por Visca1,19. Dessa forma, as análises de ambos os dese- nhos foram realizadas, buscando-se identificar especificidades, semelhanças, divergências nas situações de aprendizagem, objetos, pessoas representadas, relação ensinante/aprendente, por meio das correlações estabelecidas após o processo de valoração em cada um dos indica- dores avaliados. RESULTADOS Um breve perfil das crianças participantes do estudo possibilitou contextualizar a situação de pesquisa e as representações por meio dos desenhos produzidas por elas. Primeira criança P., idade de 10 anos e 6 meses, cursando o 5º ano, frequentava no contra turno da sala de aula regular, as oficinas de judô, informática e futsal. Segundo relato do pai, ele tem dificuldades de fala e de aprendizagem na escola, está em tratamento de fonoaudiologia e psicopedagogia em serviços ofertados para a população carente. Veio para esta escola no 4º ano. O aluno estava na oficina de informática no dia da aplicação do instrumento, porém desenhou a oficina de futsal, representando a si próprio com uma amiga jogando futebol na quadra. Ao entregar a folha perguntou se podia desenhar uma quadra (Figura 1). Virou o papel na horizontal, mas ia virando a folha para desenhar cada parte: um gol, outro gol, o centro, usando a borracha espon- taneamente. Há uma divisão em dois campos, em cada um se situa uma das crianças frente à trave do gol. O aluno desenho duas bolas. No inquérito, o aluno relata: “Aqui eu aprendo a ficar quieto e não bater nos outros. Eu estou aqui e esta é uma menina de 11 anos chamada Bianca. Ela joga para mim e eu para ela”. O nome do desenho pode ser: - Jogando bola?”. No segun- do desenho, dada a consigna, ele ficou quieto e pensativo. Virou a folha na horizontal e, depois de algum tempo começou a desenhar de forma TieTze F & CasTanho Mis Rev. Psicopedagogia 2016; 33(100): 5-18 10 Tabela 1 – Critérios de avaliação dos indicadores de conflito na relação de aprendizagem na escola. N ID Indicadores Valor Atribuído 1 P1 Figura de quem ensina (professor) 2 = ausente 0 = presente 2 P2 Tamanho da figura do professor 2 = grande 2= pequeno 0= médio 3 P3 omissão de partes da figura do professor 2= presente 2 = em forma de palitos 0 = ausente 4 P4 Posição da figura do professor 2= de costas/deitado 1= sentado de frente/de perfil 0= em pé de frente/de perfil 5 P5 sombreamento/rabisco na figura do professor/ uso de borracha/rasura em excesso 2= presente 0= ausente 6 P6 Figura bizarra do professor 2= presente 0 = ausente 7 P7 sinais de agressividade na figura do professor 0= ausente 2= presente 8 A1 Figura de quem aprende (aluno) 2= ausente 0= presente 9 A2 Tamanho da figura do aluno 2= grande 2= pequeno 0= médio 10 A3 omissão de partes da figura do aluno 2= presente 2= em forma de palitos 0=ausente 11 A4 Posição da figura do aluno 2= de costas/deitado 0 = sentado de frente/de perfil 0 = em pé de frente/perfil 12 A5 sombreamento/rabisco na figura do aluno/ uso de borracha 2= presente 0= ausente 13 A6 Figura bizarra do aluno 2= presente 0 = ausente 14 A7 sinais de agressividade na figura do aluno 2= presentes 0= ausentes 15 oa1 objetos específicos de aprendizagem 2= ausentes 0 = presentes 16 oa2 Tamanho dos objetos de aprendizagem 1 = grande 1= pequeno 0= médio 17 oa3 objetos de aprendizagem constituindo barreiras 2= presente 0 = ausente 18 oc1 objetos complementares/outros objetos 2= presentes 0 = ausentes 19 oc2 Tamanho dos objetos complementares/outros objetos 2 = grande 1= médio 1= pequeno continua... Educação IntEgral E Par EducatIvo Rev. Psicopedagogia 2016; 33(100): 5-18 11 ...Continuação Tabela 1 – Critérios de avaliação dos indicadores de conflito na relação de aprendizagem na escola. N ID Indicadores Valor Atribuído 20 oc3 objetos complementares constituindo barreiras 2= presente 0 = ausente 21 C1 Cenário 2= ausente 0= presente 22 C2 Ambientação representada 2= ausência de ambientação 1= ambientação representada não correspondente à situação 0= ambientação escolar adequada à situação representada 23 C3 Ênfase no cenário/ambiente físico 2= presente 0= ausente 24 C4 sombreamento/uso de borracha/rabiscos/rasuras/ cenário ou ambiente físico 2= presente 0= ausente 25 C5 inclusão de outros personagens na cena 2= presente 0= ausente 26 PAr1 Presença do par educativo 2= ausente 0= presente 27 PAr2 Natureza do par 2= outros pares (pai, mãe-filho(a); criança-criança; outro adulto-criança). 0= professor e aluno 28 PAr3 interação entre os membros do par 2= ausente 2= ambos estão em áreas diferentes/não se olham 1= lado a Lado 0= presente 0= frente a frente 29 PAr4 Posição entre os membros do par 2= professor em lugar mais alto que o aluno 2= professor em lugar mais baixo que o aluno 0= ambos no mesmo nível 30 PAr5 Distância entre os membros do par 2= distância longa 0= distância curta 0= distância média 31 PAr6 relação dos membros do par com o objeto de aprendizagem 2= somente o aluno (criança) se relaciona como oa 2= somente o professor (adulto) se relaciona com o oa 2= Ausência de relação 0= ambos os membros do par se relacionam com oa 32 rTD1 relação entre o título e o desenho 2= ausente 0= presente 33 rTrV1 relação entre o título e o relato verbal 2= ausente 0= presente 34 rDrV1 relação entre o desenho e o relato verbal 2= ausente 0= presente Fonte: Elaborada pelas autoras a partir dos estudos de olivero & Palacios2, Visca1,19 e sakai20. TieTze F & CasTanho Mis Rev. Psicopedagogia 2016; 33(100): 5-18 12 mais contida do que no desenho anterior e da esquerda para a direita. Apoiou todo o antebraço esquerdo na folha, quase cobrindo o que estava desenhando. Ao terminar (Figura 2), P. diz: “Eu levanto da carteira e vou à lousa copiar o texto, tem que copiar tudo. Nisso, ele completou risqui- nhos no caderno do desenho. Mostrou: - “Aqui está a professora e aqui está a minha carteira”. Acrescentou a carteira no desenho. Nome do desenho: “Lição, aprender a ler e a escrever”. Ao perguntar o nome da professora, respondeu que esqueceu. Segunda criança K., 9 anos e 11 meses, está no 4º ano, veio transferido para esta escola desde o 2º ano. Segundo relato da mãe, não tem dificuldades de aprendizagem e, com sua participação nas oficinas de capoeira e jogos cooperativos vem se desenvolvendo bastante, mais desinibido e com maior concentração. O aluno deu o título para o primeiro desenho (Figura 3): “Melhores Aulas” para seu desenho na oficina. Explicou que o menino à esquerda estava dando a “meia lua” um golpe de capoeira, que esse menino era ele e o professor estava tocando berimbau. Na mesma folha, desenhou uma segunda situação em que a professora explicava o Estatuto da Criança e do Adolescente e escreveu no quadro a sigla ECA. Após o desenho, disse: “As melhores aulas para mim são quando todo mundo ficam juntos praticando e aprendendo coisas juntos”. No se- gundo desenho (Figura 4), o aluno deu o título: “Estudando Matemática”, relatando que sua professora estava ensinando matemática a ele. Figura 1 – P., 10 a 6 m, aprendendo na oficina de Futsal. Título dado: “Jogando bola”. Figura 2 – P., 10 a 6 m, aprendendo na sala de aula. Título dado: “Lição, aprender a ler e a escrever”. Figura 3 – K, 9a 11m, aprendendo nas oficinas de Capoeira e Cidadania. Título dado: “Melhores Aulas”. Figura 4 – K., 9a 11m, aprendendo na sala de aula. Título do desenho: “Estudando Matemática”. Educação IntEgral E Par EducatIvo Rev. Psicopedagogia 2016; 33(100): 5-18 13 Terceira criança V. tem 11 anos completos, está no 5º ano e, segundo relato da mãe, tem dificuldades de ler e escrever, mas também se queixa dos professores que não ensinam direito. Participa da oficina de futsal. No primeiro desenho, o aluno deu o título: “Fute Bello”. Desenhou a si próprio junto com dois colegas jogando futebol. Acrescentou o sol e as nuvens (Figura 5). No segundo desenho, o aluno se desenhou juntamente com outros dois colegas na aula de matemática e com a professora passando tudo no quadro. O aluno desenhou uma linha em torno de cada um dos alunos, um deles sendo ele próprio. V. desenhou somente cadeiras, todos sentados, nenhuma mesa e a professora de costas para os alunos, de frente para a lousa. O título dado ao desenho foi: “Aprendendo Matemática” (Figura 6). Na Tabela 2, são apresentados os resulta- dos da pontuação atribuída nas avaliações dos de senhos das três crianças, de acordo com os critérios estabelecidos. No cômputo geral, os valores atribuídos aos desenhos dos três participantes que represen- tam as situações de aprendizagem nas oficinas ofertadas no programa de Educação Integral totalizam 44 pontos, comparados a 48 pontos na soma dos valores atribuídos às situações de aprendizagem em sala de aula. Essa diferença a maior na pontuação de indicadores de conflito referentes às situações em sala de aula era uma das hipóteses levantadas neste estudo. No entan- to, essa diferença computada é pequena e pouco significativa, principalmente ao se verificar os resultados dos desenhos por aluno. K., que não tem queixa de dificuldade de aprendizagem, mantém nos desenhos das duas situações, o mesmo número de pontos, ou seja, 11 pontos, referentes aos indicadores de conflito na relação de aprendizagem; P., com queixa de dificuldade de aprendizagem, apresenta pontuação alta (20 pontos) de indicadores de conflito na situação de aprendizagem na oficina de futsal, e mais baixa na situação desenhada em sala de aula (15 pontos), portanto, um resultado não esperado; V., que também tem queixa de dificuldade de aprendizagem, apresenta um escore mais ele- vado de indicadores de conflito no desenho de sala de aula, 22 pontos, se comparado ao total de indicadores de conflito na oficina de futsal (13 pontos). Aliada a essa avaliação quantitativa, integra- -se uma avaliação interpretativa referente ao tipo de indicadores representados, dos quais se destacam para esta análise os que, segundo Sakai20 dizem respeito à estrutura do desenho do Par Educativo: a figura de quem ensina, a figura de quem aprende, a natureza do par, o cenário e a relação com o objeto de aprendizagem. Em relação à figura de quem ensina, nota-se a ausência do professor em dois dos desenhos, ambos da situação de oficina dos alunos com queixa de dificuldade de aprendizagem, P. e V., o que levou a desconsiderar a avaliação desses Figura 5 – V., 11a, aprendendo na oficina de Futsal. Título dado: “Fute Bello”. Figura 6 – V., 11a, aprendendo na sala de aula. Título dado: “Bello na Escola”. TieTze F & CasTanho Mis Rev. Psicopedagogia 2016; 33(100): 5-18 14 Tabela 2 – Avaliação dos desenhos realizados pelos participantes. Desenho Oficina Desenho Sala de Aula P. K. V. Total P. K. V. Total P P1 2 0 2 4 P1 0 0 0 0 P2 _ 0 _ 0 P2 2 2 0 4 P3 _ 2 _ 2 P3 2 2 0 4 P4 _ 0 _ 0 P4 0 0 0 0 P5 _ 2 _ 2 P5 2 2 0 4 P6 _ 0 _ 0 P6 0 0 0 0 P7 _ 0 _ 0 P7 0 0 0 0 A A1 0 0 0 0 A1 0 0 0 0 A2 2 2 0 4 A2 0 0 0 0 A3 2 0 0 2 A3 2 2 2 6 A4 0 0 0 0 A4 0 0 0 0 A5 0 2 0 2 A5 0 2 2 4 A6 0 0 0 0 A6 0 0 2 2 A7 0 0 0 0 A7 0 0 0 0 oa oa1 0 0 0 0 oa1 0 0 0 0 oa2 0 0 0 0 oa2 0 1 0 1 oa3 2 0 0 2 oa3 2 0 0 2 oc oc1 0 0 2 2 oc1 2 0 2 4 oc2 _ _ 2 2 oc2 1 _ 1 2 oc3 _ _ 0 0 oc3 2 _ 2 4 C C1 0 0 0 0 C1 0 0 0 0 C2 0 1 0 1 C2 0 0 1 1 C3 2 0 2 4 C3 0 0 2 2 C4 2 0 0 2 C4 0 0 2 2 C5 2 2 2 6 C5 0 0 2 2 PAr PAr1 0 0 0 0 PAr1 0 0 0 0 PAr2 2 0 2 4 PAr2 0 0 0 0 PAr3 2 0 1 3 PAr3 0 0 2 2 PAr4 0 0 0 0 PAr4 0 0 0 0 PAr5 2 0 0 2 PAr5 0 0 0 0 PAr6 0 0 0 0 PAr6 0 0 2 2 r rTD1 0 0 0 0 rTD1 0 0 0 0 rTrV1 0 0 0 0 rTrV1 0 0 0 0 rDrV1 0 0 0 0 rDrV1 0 0 0 0 ToTAL 20 11 13 44 ToTAL 15 11 22 48 Fonte: Elaborada pelas autoras a partir dos estudos de olivero & Palacios2, Visca1,19 e sakai20. itens conforme Tabela 2. Nesses desenhos, pela falta da figura do professor, o Par Educativo é representado pela relação criança-criança, o que parece supor uma percepção por parte desses alunos, de que as oficinas são situações mais livres. No entanto, nessas situações desenha das, Educação IntEgral E Par EducatIvo Rev. Psicopedagogia 2016; 33(100): 5-18 15 ambos os membros do par se encontram em áreas diferentes, distantes entre si e não se olham, o que pode evidenciar desvio de um processo normal de aprendizagem1,2,19,20 ou vínculo ina- dequado de aprendizagem1,19. Em ambos os desenhos de K., bem como no desenho de sala de aula de P., embora a figura do professor esteja presente, ela é representada em tamanho pequeno, quando comparado ao tamanho da figura do aluno, com omissões de partes, rasuras, uso de borracha, o que para os autores que embasam este estudo pode significar uma desvalorização do professor e/ou sinal de ansiedade em relação à situação representada. Quanto à figura do aluno, ela mostra-se pe- quena, em palitos e com omissões de partes no primeiro desenho de P., e com omissões de partes nos desenhos de sala de aula dos três alunos; uso de borracha,sombreamentos, rasuras em pelo menos três dos desenhos; há, ainda, uma repre- sentação bizarra da figura do aluno no desenho de V. da sala de aula. Esses elementos podem indicar desvalorização em relação ao aluno e/ou sinal de ansiedade em relação à situação repre- sentada1,2,19,20. Há também algumas evidências de dificuldades com o esquema corporal e baixo rendimento escolar20. Outro elemento que se destaca é a ênfase e inadequação do cenário, nos desenhos das si- tuações de oficinas dos três alunos, e no caso de V. também no desenho de sala de aula, que pode ser a expressão de um sentimento de rigidez em relação ao desempenho escolar20. Interes- sante notar que, no caso dos dois alunos com dificuldades de aprendizagem, nas cenas que representam a situação de sala de aula, apare- cem objetos complementares, mesas, carteiras, constituindo barreiras entre o professor e o(s) aluno(s). Outros elementos reforçam a evidência de representações de conflitos na relação com a aprendizagem escolar, como a inclusão de outros personagens na cena; somente o professor se relacionando com o objeto de aprendizagem; falta de interação na relação professor-aluno. Ressalta-se, em todos os alunos, uma relação adequada entre o título e o desenho (RTD1), o título e o relato verbal (RTRV1), o desenho e o relato verbal (RDRV1) nas situações representa- das. No relato de P., no entanto, chama atenção a referência ao aprender a ficar quieto e não bater nos outros, na situação da oficina de futsal, o que parece reforçar os sinais de ansiedade em relação a essa situação por ele representada. No relato de K., em relação também ao desenho das oficinas, denominadas por ele “Melhores aulas”, destaca-se o valor dado por ele a essas situações de aprendizagem quando todos ficam juntos praticando e aprendendo. No desenho de V. representando a situação de aprendizagem em sala de aula, embora haja uma coerência entre título, desenho e relato verbal, chama atenção o fato de a professora ser desenhada de costas para os alunos e estes representados de forma encapsulada, isolados entre si e da professora. DISCUSSÃO P. e V. são as duas crianças que têm, segundo relato de seus pais, dificuldades de aprendiza- gem. P., com 10 anos e 6 meses, e V. com 11 anos completos, cursam o 5º ano do Ensino Funda- mental e, embora estejam na idade adequada para a série que cursam, pertencem ao clássico perfil de alunos que, apesar das promoções esco- lares de ano, não atingem os níveis considerados mínimos nas habilidades de leitura e escrita e de matemática. No caso de P. a queixa na fala do pai vem caracterizada como de problemas de saúde, e P. vem acumulando uma série de passagens por clínicas de atendimento, estando atualmente em atendimento nas áreas de fonoaudiologia e aguardando vaga em clínica de psicopedagogia. No caso de V. não há relatos suficientes da mãe sobre o histórico da queixa escolar. Os resultados evidenciam uma inversão quan to aos escores atingidos na avaliação dos desenhos desses dois alunos, referentes aos indicadores de conflito na relação vincular com a aprendizagem escolar, contrariando a primeira hipótese deste estudo de que os indicadores de conflito seriam mais evidentes nos desenhos representando a aprendizagem na sala de aula. Que situações TieTze F & CasTanho Mis Rev. Psicopedagogia 2016; 33(100): 5-18 16 vivenciadas por esses alunos os levam a repre- sentar de maneira invertida a situação de oficina, para P. e a situação de sala de aula, para V. com maiores evidências de indicadores de conflito? A resposta para esta indagação necessitaria de um aprofundamento na compreensão da história de desenvolvimento e de aprendizagens desses alunos, o que escapa à proposição deste estudo. No caso de K., a criança sem queixas de dificuldade de aprendizagem, o empate atin- gido na pontuação dos indicadores de conflito em ambas as situações de aprendizagem, na oficina oferecida pelo programa de educação integral e na sala de aula leva a crer que, pelo menos para este aluno, ambas as situações se igualam no que tange a indicadores de conflitos. No entanto, comparativamente aos outros dois alunos esse escore se mostra inferior, o que pode ser indicativo de que, nos alunos com dificulda- des de aprendizagem, haja maior evidência de indicadores de conflitos na relação vincular de aprendizagem, confirmando a segunda hipótese deste estudo. CONCLUSÃO Na revisão da literatura9-11 realizada para este estudo, os procedimentos metodológicos utilizados tinham como base o uso de entre- vistas junto a alunos para colher suas opiniões sobre as experiências vividas em programas de Educação Integral. Como síntese dos resultados daqueles estudos, os pesquisadores chegaram a algumas representações dos programas de Educação Integral como vinculados ao apren der conteúdos escolares9,10, ou como ampliação da formação dos alunos em sentido mais amplo10, ou como proteção frente a riscos sociais10, ou como oportunidades de acesso a programações culturais10, ou como expressão de satisfação com as oficinas e atividades e o bom relacionamen- to com todos na escola11. No caso do presente estudo, este último resultado é o que mais se aproxima da expressão de satisfação do aluno K. com as atividades desenvolvidas nas oficinas de educação integral. Nos outros dois alunos, P. e V., a atividade destacada é a de futsal e a representação é de alunos jogando bola sem a presença de um educador. Além disso, nos de senhos destes alunos, fica nítida a ênfase na situação de ensino-aprendizagem de conteúdos escolares somente na sala de aula. A utilização, portanto, de uma técnica proje- tiva favoreceu o acesso a conteúdos não apenas conscientes, como forma de representação das situações e ambientações de aprendizagem na escola, em duas situações específicas, de oficinas de educação integral e de sala de aula. Os resultados sugerem maior incidência de indicadores de conflitos nos dois alunos com difi- culdades de aprendizagem, quando comparados com o aluno sem dificuldades, em qualquer das situações desenhadas. No entanto, a comparação entre os desenhos de situações de aprendizagem nas oficinas com os das situações de sala de aula, não mostram diferenças consistentes. Embora se trate de uma amostra pequena para conclusões, pode-se afirmar que o Par Educativo é uma boa técnica para avaliar re- presentações de relação vincular com a apren- dizagem, sendo necessária a continuidade de estudos visando à validação de critérios para sua interpretação. Quanto às significações atribuídas por alunos às vivências em situações de aprendizagem em oficinas de ampliação da jornada escolar, os con- teúdos trazidos pelos alunos participantes levam a supor que há uma distância entre as aprendi- zagens de sala de aula e as aprendizagens que ocorrem nas oficinas. Isto pode ser resultante de pouca integração entre os profissionais da escola e do programa de Educação Integral, uma vez que, na situação pesquisada, este serviço é terceirizado pelo município. São poucos os estudos que analisam os impactos dos programas de Educação Integral no desenvolvimento e na aprendizagem das crianças e jovens. Os resultados apontados aqui sugerem a necessidade de desenvolvimento de pesquisas nessa direção. Educação IntEgral E Par EducatIvo Rev. Psicopedagogia 2016; 33(100): 5-18 17 SUMMARY Full-time school: meanings for students of elementary education using educational pair drawing This study aimed to investigate the meanings of full-time education program for children using the Educational Pair Drawing. The proposal of full-time education is to offer cultural and sporting activities as well as activities to expand the scholar curriculum, supposedly in situations that could improve quality of teaching and training. Throughout the graphical technique of educational pair drawing were evaluated designs of three students aged 10 and 11 years old, withand without learning disabilities, of public schools in a municipality of Sao Paulo. Students were asked to draw a situation of learning in workshops offered in extra-curricular shifts and another situation of learning in-school. Conflict indicators related to learning were chosen as evaluation criteria of the drawings. The results suggest higher incidence of conflict indicators in both students with learning disabilities, compared to the one without difficulty, in every kind of situation. However, comparing the drawings about learning situations of extra-curricular workshops with those related to learning situation in- school, no significant result could be found. Even though the sampling was considerable small, we assume that the Educational Pair Drawing is a good technique for evaluating the relationship to learning, even though further studies will be necessary to validate the criteria for its interpretation. Considering experiencing situations of learning in after-school workshops, there is a need for future studies in order to evaluate the impact of these programs on the education of children in public schools. KEY WORDS: Learning. Affective links. Educational Pair Drawing Test. Extended school day. Single-case study. REFERÊNCIAS 1. Visca J. Técnicas proyectivas psicopedagó- gicas y pautas gráficas para su interpreta- ción. Buenos Aires: Visca & Visca Editores; 2010. p.33. 2. Olivero MEC, Palacios CVK. Test pareja educativa. El objeto de aprendizaje como medio para detectar la relación vincular la- tente. Aprendizage Hoy. 1985;6(10):21. 3. Mancini SG. Programa Mais Educação: in- vestigando sentidos produzidos por coorde- nadoras acerca de um programa de educação integral [Dissertação de mestrado]. Osasco: Centro Universitário Fieo; 2014. p.24. 4. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. INEP. Sistema de avaliação da educação básica: escala de desempenho em língua portuguesa. Disponí- vel em: http://dowload.inep.gov.br/educacao_ basica/prova_brasil_saeb/escala/2011/escala_ desempenho_portugues_fundamental.pdf. 5. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. INEP. Sistema de avaliação da educação básica: escala de desempenho em matemática. Disponível em: http://dowload.inep.gov.br/educacao_basica/ prova_brasil_saeb/escala/2011/escala_ desempenho_matematica_fundamental.pdf. 6. Aquino JM. A ampliação da jornada escolar melhora o desempenho acadêmico dos estu- dantes? Uma avaliação do programa Escola de Tempo Integral da rede pública do Estado TieTze F & CasTanho Mis Rev. Psicopedagogia 2016; 33(100): 5-18 18 de São Paulo [Tese de Doutorado]. Piracica- ba: Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”; 2011. 7. Brasil. Ministério da Educação. Plano de De- senvolvimento da Educação – PDE: razões, princípios e programas. Brasília: Ministério da Educação; 2007. 8. Castanho MIS, Mancini SG. Educação Inte- gral no Brasil: potencialidades e limites em produções acadêmicas sobre análise de ex- periências. Ensaio: Aval Pol Públ Educ. 2016; 24(90):225-48. 9. Castro A, Lopes RE. A escola de tempo inte- gral: desafios e possibilidades. 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Artigo resultante de pesquisa desenvolvida com au xí- lio financeiro do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC do Centro Universitário Fieo – UNIFIEO – Osasco – SP, 2015. Artigo recebido: 25/2/2016 Aprovado: 29/3/2016 Estratégia dE aprEndizagEm E dEsEmpEnho Escolar Rev. Psicopedagogia 2016; 33(100): 19-27 19 ArTiGo oriGiNAL RESUMO – O objetivo da presente pesquisa foi avaliar o repertório de es- tratégias de aprendizagem utilizadas por estudantes do ensino fundamental I e relacioná-lo com o desempenho em leitura, escrita e aritmética. Participaram do estudo 50 estudantes sem queixas de dificuldades de aprendizagem, de ambos os gêneros, 8 anos, cursando o 2o ano de duas escolas públicas, avaliados por meio da “Escala de avaliação das estratégias de aprendizagem para o ensino fundamental” (EAVAP-EF) e pelo “Teste de Desempenho Escolar” (TDE). As avaliações ocorreram individualmente no contexto escolar. Os resultados mostraram correlações estatisticamente significativas e positivas entre o desempenho em escrita, aritmética, leitura e total (TDE) e os escores de ausência de estratégias metacognitivas disfuncionais, estratégias cognitivas, estratégias metacognitivas e total (EAVAP-EF). A análise de regressão indicou que os diferentes escores da EAVAP-EF foram capazes de predizer o desempenho no TDE, principalmente em aritmética, leitura e total. O estudo permitiu identificar as relações e o valor preditivo das estratégias de aprendizagem para o desempenho escolar. UNITERMOS: Estudantes. Estratégias. Aprendizagem. Leitura. Re da- ção. Matemática. Correspondência: Kelly Cristina Ramires Prates Rua Prof. Dr. Euryclides de Jesus Zerbini, 115 – casa 5 – Fazenda Santa Cândida – Campinas, SP, Brasil – CEP: 13087-571 E-mail: kellyramires@hotmail.com Kelly Cristina Ramires Prates – pedagoga, estudante de Psicopedagogia e Psicologia, especialização em neu- ropsicologia aplicada à neurologia infantil – Facul- da de de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas (FCM/UNICAMP), Campinas, SP, Brasil. Ricardo Franco de Lima – psicólogo, neuropsicólogo, mes - tre e doutor em Ciências Médicas (FCM/UNICAMP). Membro do laboratório de pesquisa em dificuldades, distúrbios de aprendizagem e transtornos da aten ção (DISAPRE/UNICAMP). Coordenador do Centro de In- vestigação da Atenção e Aprendizagem (CIAPRE), Campinas, SP, Brasil. Sylvia Maria Ciasca – psicóloga, neuropsicóloga, livre do cente em neurologia infantil. Docente do De par ta- mento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médi- cas – UNICAMP. Coordenadora do DISAPRE/UNICAMP, Campinas, SP, Brasil. estratégias de aPrendizageM e sua relação CoM o deseMPenho esColar eM Crianças do ensino fundaMental i Kelly Cristina ramires Prates; ricardo Franco de Lima; sylvia maria Ciasca Prates KCr et al. Rev. Psicopedagogia2016; 33(100): 19-27 20 INTRODUÇÃO As estratégias de aprendizagem são ações facilitadoras do processo de aprendizagem e estudo, podendo ser divididas em cognitivas e metacognitivas1. As estratégias cognitivas envol- vem: (a) Ensaio - o estudante deve copiar, anotar toda a matéria na íntegra e sublinhar as partes mais importantes; (b) Elaboração - parafrasear, resumir o material, anotar partes importantes e criar analogias dando sentido às informações; (c) Organização - selecionar as principais ideias, criar roteiros e mapas conceituais. Por sua vez, as estratégias metacognitivas compreendem: (a) Planejamento - o estudante deve estabelecer metas, visando ao resultado almejado; (b) Moni- toramento - autoavaliação do que foi aprendido, atenção, compreensão do material e uso de es- tratégias; (c) Regulação - ajuste da velocidade, releitura, revisão do material, uso de estratégias e ajuste do ambiente2. Diferentes autores mostram que o uso de es - tratégias pelos estudantes possui relação com seu desempenho escolar, uma vez que eles se tor nam mais autorregulados para lidar com as situações de aprendizagem3-5. Nesse sentido, algu mas pesquisas têm sido conduzidas com o intuito de caracterizar o repertório de estraté- gias de aprendizagem dos estudantes do ensino fundamental. Em uma pesquisa foram avaliados cole tivamente 491 estudantes, cursando do 6º ao 9º ano, por meio da Escala de Avaliação das Estra- tégias de Aprendizagem para o Ensino Funda- mental (EAVAP-EF)6. Os resultados indicaram que a maior parte dos estudantes descreveu utilizar estratégias cognitivas e metacognitivas durante a realização de lições e estudos em casa. A estraté- gia mais referida foi a percepção de dificuldades em relação a algum conteúdo. Além disso, os estudantes não repetentes referiram utilizar mais estratégias que os repetentes, de forma que pode haver algum tipo de relação entre o repertório de estratégias e o desempenho escolar. Por fim, o es- tudo revelou existir efeito do sexo, idade, ano es- colar e tipo de escola sobre o uso das estratégias, sendo que as meninas, estudantes mais novos, cursando o 6o ano e de escolas particulares obti- veram pontuações mais elevadas na EAVAP-EF. Em outro estudo foram investigadas as estra- tégias de compreensão mais utilizadas por es- tudantes do ensino fundamental de uma escola pública da cidade de Campinas/SP7. Adicional- mente, foram analisados os efeitos de fatores como, idade, série escolar, gênero e repetência. Participaram do estudo 110 estudantes, entre 8 e 16 anos, de 3ª, 5ª e 7ª séries, que pertenciam a um grupo socioeconômico menos favorecido de uma escola com muitas queixas de repetência. Os resultados demonstraram que 80% dos estu- dantes, ao lerem um texto, referem problemas para compreensão do conteúdo, e dentre eles 92% percebem quando isso acontece. Para a melhora da compreensão da leitura, 44,3% uti- lizam apoio social, 31,8%, fazem uso da releitura e 11,4% tentam resolver as suas dificuldades sozinhos. Estudantes da 3ª e 5ª séries demons- traram maior escore para a falta de percepção de quando não estão compreendendo a leitura, demonstrando pouco uso de estratégias meta- cognitivas. Para avaliar a compreensão da leitura e de- sempenho escolar em matemática no ensino fundamental, autores realizaram estudo com 434 estudantes, cursando da 5ª a 8ª séries, de duas escolas públicas do interior de São Paulo8. Os es tudantes foram avaliados pelo Teste de Cloze, administrado coletivamente, e para a avaliação do desempenho escolar foram obtidas as notas das disciplinas de português e matemática. Os re- sultados demonstraram evidência de corre lações entre a compreensão leitora e desempenho escolar. As estratégias de aprendizagem podem ser ensinadas no contexto escolar. Alguns exemplos são: grifar pontos importantes de um texto, pres- tar atenção durante a leitura, reler, questionar a compreensão, criar hábito de leitura, resumir, entre outros. Nesse sentido, estudo quase-ex- perimental foi conduzido para avaliar a eficácia de uma intervenção educacional em estratégias de aprendizagem para a produção de texto9. O estudo foi realizado em 3 etapas: pré-teste, in- tervenção e pós-teste. A qualidade da produção textual foi avaliada pela comparação de dois textos narrativos quanto aos aspectos estruturais, Estratégia dE aprEndizagEm E dEsEmpEnho Escolar Rev. Psicopedagogia 2016; 33(100): 19-27 21 nível de articulação de ideias, erros ortográficos e quantidade de linhas escritas. Participaram da pesquisa 35 alunos da 6ª série de uma escola pública de Catalão/Goiás, distribuídos aleato- riamente em: grupo experimental (N=18) e controle (N=17). Os resultados revelaram que, após terem sido submetidos à intervenção, os alunos do grupo experimental produziram textos melhores, com estrutura narrativa, maior quanti- dade de linhas escritas e articulação das ideias. Com base no exposto, o presente estudo obje- tivou avaliar o repertório de estratégias de apren- dizagem utilizadas por estudantes do ensino fundamental I e relacioná-lo com o desempenho em leitura, escrita e aritmética. MÉTODO Participantes Participaram do estudo 50 estudantes com 8 anos, cursando o 2º ano do ensino fundamen- tal de duas escolas públicas de uma cidade do interior de São Paulo, sendo 24 (48%) meninos e 26 (52%) meninas. Os critérios de inclusão e exclusão dos participantes foram: • Autorização dos pais/responsáveis por meio do termo de consentimento livre e es clarecido (TCLE); • Assinatura do termo de assentimento pelo participante; • Ter sido indicado pela professora do se- gundo ano de cada escola participante. Instrumentos Teste de Desempenho Escolar (TDE)10 – tra- ta-se de um instrumento normatizado para a população brasileira e que visa oferecer uma avaliação das capacidades fundamentais para o desempenho escolar da leitura, escrita e ma- temática. O TDE foi validado a partir da avalia- ção do desempenho de escolares cursando do 2º ao 7º ano do ensino fundamental, ainda que possa ser aplicado com algumas reservas para o 8º e 9º ano. Ele é formado pelos subtestes da escrita, aritmética e leitura. Cada um apresenta itens com ordem crescente de dificuldade. Os acertos são pontuados com 1 e a soma dos itens representa o escore bruto (EB) de cada subteste. Posteriormente, os EB de cada subteste são somado para compor o escore total. Os EB de cada subteste e total são classificados por meio de uma tabela, conforme o nível escolar, como: superior, médio e inferior. Para o presente estudo, foram considerados todos os escores brutos dos subtestes e total, para realizar correlações com a escala de estratégias de aprendizagem. Escala de avaliação de estratégias de apren- dizagem para crianças do ensino fundamen tal (EAVAP-EF)11 – é um instrumento validado e nor matizado para a população brasileira, com- posto por 31 afirmações, sendo 13 referentes à ausência de estratégias metacognitivas disfun- cionais (AEMD), 11 de estratégias cognitivas (Est_Cog) e 7 de estratégias metacognitivas (Est_Met). Para cada afirmação, o estudante deve selecionar uma resposta da escala Likert: sempre, às vezes ou nunca. Ao final, são atribuí- dos escores de 2 pontos para “sempre”, 1 ponto para “às vezes” e 0 para “nunca”. Somente nos itens 3, 7, 8, 15, 19, 21, 23, 24, 25, 26, 28 e 30, a correção é invertida. Os escores são expressos como: bruto (EB), percentil (Perc) e percentil para a faixa etária (PFE). Procedimentos O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Ciências Médicas da Univer- sidade Estadual de Campinas (UNICAMP), sob o parecer número 1.314.545. Depois de obtidas as devidas autorizações dos responsáveis por duas escolas públicas da cidade de Campinas/ SP, os participantes foram selecionados dentre as indicações das professoras. Posteriormente, foi encaminhado o TCLE aos pais. Após o recebi- mento das autorizações, os participantes assina- ram o termo
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