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1 2 1ᵃ edição – 2019 3 LUMINOSOFIA Coletânea Principal Hugo Lapa 4 AVISO IMPORTANTE Todo o conteúdo desta obra é registrado e possui direitos autorais protegidos por lei. Todos os textos e mensagens deste livro podem ser postados li- vremente nas redes sociais, desde que o nome do autor seja citado. Aqueles que desejam publicar este conteúdo em seus sites, blogs ou qualquer mídia impressa ou eletrônica podem falar direta- mente com o autor em seu e-mail. Aqueles que publicarem qualquer parte do conteúdo desta obra sem citar o nome do autor ou com autoria modifi- cada estarão sujeitos à penalidade conforme legis- lação penal em vigor no país. Contato com Hugo Lapa E-mail: portaldoespiritualismo@gmail.com Blog: http://hugolapa.wordpress.com Curta a página Espiritualidade é Amor no Facebook Inscreva-se em nosso canal Templo Espiritualista Online no Youtube http://hugolapa.wordpress.com/ 5 DEDICATÓRIA Este livro é dedicado a Jesus, Buda, Krishna e Lao Tsé, os maiores mestres que a humanidade já conheceu. 6 Índice Um anjo guia nossos passos ..................................... 14 A mensagem sagrada das flores Nosso ego ferido Vivendo a vida Prece de comunhão A janela da alma As bem-aventuranças Como são os seres que vivem nesse mundo? Por que somos afetados pela mente e emoções? Por que Deus não nos salva? Parábola do grão de mostarda Sonhei com uma escada que levava ao céu Onde você coloca a sua fé? Retirar a flecha do sofrimento Um senhor de 99 anos descobriu a felicidade Você cria o seu problema A cura do corpo não é importante Travessia essencial O sábio que não perdoa Ame para ser amado Controle é uma ilusão Mensagem dos espíritos para todos Sistema humano de vida Não aguento mais tantas brigas O homem desafia Deus Abençoe a vida Deus pode diminuir o peso de nossa cruz Você não é melhor nem pior Não se sinta obrigado a viver o certo O outro passou na minha frente Não adianta tentar controlar a vida Sobre Deus Não existe o dar errado A justiça da lei do karma Fui traída ... o que fazer? Buscar nossos sonhos Espiritualismo fala de pecado? Caminhar pela eternidade 7 Viver em paz Atitudes que evitam a depressão Aprendizado do espírito Por que não podemos viver só o bom? Você é um guerreiro da luz Sobre o suicídio Abrir nossa alma O espírito é obrigado a encarnar na matéria? As principais escolhas da vida Destruição e reconstrução de nossa vida A vida é uma grande oportunidade Não se envolva Do exterior ao interior A verdadeira vida Quando você morrer Minha vida está toda bagunçada Recomeçar Sabemos o que é bom e certo As forças da luz e as forças da escuridão A queda dolorosa O fim definitivo dos problemas A história da mulher que foi para o inferno Influência pré-natal positiva Como ajudar uma pessoa O vazio da riqueza material Abrindo nossos caminhos A história dos três espíritos infelizes Proteção contra o mal Morrer em paz Lutar contra Quem pode te fazer mal? Vitória ou derrota Ajudar uma pessoa Motivos da crise financeira Exemplos de karma O ser desperta Confie na vida A vida é efêmera Solte o peso que você carrega Qual o melhor lugar do mundo A verdadeira carência As sementes do mal O caminho para o infinito 8 É morrendo que se vive As certezas humanas Deus te dá as provas Ensinamentos para a vida Encontrar a alma gêmea O valor da paz Crises financeiras Aprendendo a devolver o empréstimo Crise de transformação O outro me fez mal Coloque-se acima das coisas Hoje é o dia Nascimento e morte O pior e o melhor Equanimidade Estamos aqui de passagem Tudo é perfeição Proteção demais atrapalha Preto velho foi expulso do centro espírita Valorize o que você tem Padrões que se repetem na vida Julgar o outro A fábula do lobinho diferente Deixe estar Que nada nos abale Os mensageiros de Deus Ninguém perde nada O acaso não existe Amor e apego Amor verdadeiro O que fazer na escuridão? Os três sofrimentos Nossos filhos são espíritos Visão espiritual da vida Qual o tamanho do seu mundo? A doença que cura Um homem ofende o sábio Não alimente o mal Não se importe O mal que te fizeram A perda nos faz evoluir O que os outros pensam de você Para que pedir algo a Deus 9 É preciso abrir mão A história das quatro almas Tudo vem e vai embora Viver e morrer Um espírita no umbral Nossa barreira emocional O veneno da serpente Quem é o obsessor? Cair e levantar Aceitar a vida Para uma vida feliz A vida passa Deixe tudo fluir Buscar Deus somente na dor Nossos apegos O consolo após a morte O erro do outro Deus e perfeição Ser e essência Do mundo caminhamos para Deus Paz de espírito O apego O tempo de Deus Não se identifique Viva pelo espírito Amor incondicional A joia da caridade A lei da afinidade A política nacional Preocupações Vida simples As aparências do mundo Um dia você vai morrer O valor do vazio Você é espírita Perdas da vida O pássaro na gaiola O que é o sucesso? Esperar o outro Nível de consciência Materialismo Espiritual Vale dos Arrependidos Quem dá recebe 10 Os três obsessores O orgulho nos faz perder O último abraço Quando você perder Início e fim Respeito Mimar os filhos O Vazio interior Como encarar os problemas da vida Meu inimigo Viver fugindo Ser feliz Deus está em nosso próximo Felicidade e paz Tudo tem um fim Sabedoria e ignorância Pensamentos Princípios espirituais da vida Hoje em dia Os erros da vida O poder Falatório pessoal O véu da ilusão Destino e escolha O papel de salvador A vaidade Comparações A pobreza Criar expectativas A arte de viver Quem tudo quer Melhor forma de viver Não sou nada Eu sou universal Consumismo Um obsessor no centro espírita A oração de Deus A chuva divina A fábula do pintinho e do ovo Eu estou certo A porta da verdade A vida nos ensina Perguntas para a vida 11 A verdadeira liberdade O poder pessoal O rádio da mente humana Ensinamentos de vida Siga em frente A luta pela energia Ser feliz em um relacionamento A lenda da flor azul Liberte-se da prisão A pedra que me jogaram Provações da vida O espírito do mal A venda nos olhos Ser e estar A casa vazia O jardineiro cósmico A cegueira do egoísmo Fundo do poço Nossas preocupações Força interior Saber viver Ninguém gosta de mim Obrigado professor Fé em Deus Lição de vida Ataque espiritual Atravessando o vale do sofrimento A pessoa mais importante Ninguém nos afeta A roda da vida O grande oceano Nascer de novo Lições do sofrimento O silêncio interior A razão da dor A estrada da vida Medo da solidão Partícula de Deus Isso passa Nosso maior inimigo A barreira invisível As cinco regras da raiva O que é espiritualidade? 12 O que te faz feliz? Nosso posicionamento na vida Fazer o bem Onde foi que eu errei? Tudo está dando certo Nove orientações sobre os falsos profetas Luz e trevas A escolha certa O reflexo de si mesmo Chama sagrada O remédio amargo O outro lado da vida Um homem num leito de hospital Minhas coisas Maledicência A eterna aurora O plano das trevas Medo de fantasmas Ah se eu soubesse Antigamente Perder para o medo Experiências revelam seu sofrimento Autoperdão pelos erros Perder nosso chão O poder real A busca do diamante sagrado Caminho do sofrimento Como chegar ao reino de Deus Qual a sua sustentação? Não permita que sua religião te faça estas doze coisas Não julgar positivamente Não crie muitas previsões Como podemos serlivres? Tudo se transforma O que é fazer o bem? Você não pode ser destruído Não vale a pena Querer ser forte o tempo todo Nós somos o céu Solte... e seja livre Nossa missão espiritual O amor é a solução Esperar para viver 13 O caminho dos sábios O que é bom e o que é mal em nossa vida? Seja verdadeiro Não reaja ao mal Dar e receber Vida simples O lobo feroz Deus em nossa vida Jesus seria novamente crucificado hoje Ficar se defendendo sempre Existem três tipos de família Será que só Jesus salva mesmo? Jesus e o dinheiro 14 UM ANJO GUIA NOSSOS PASSOS De vez em quando algumas pessoas me perguntam se os es- píritos podem nos ajudar financeiramente, ou se podem nos curar de uma doença, ou se pode tirar algum vício de nós, ou se podem nos trazer nossa alma gêmea etc. Já há algum tempo, minha resposta tem sido a mesma: os espíritos não nos auxiliam a ganhar mais dinheiro, ou saúde, ou relacionamen- tos, mas sim, eles nos ajudam a abrir nossos olhos para que possamos enxergar o motivo profundo de estarmos passando por tudo isso. Vamos explicar isso de uma forma mais simples… com uma metáfora. Imagine um homem que está caminhando pela vida de olhos fechados. Em algum momento, ele decidiu fechar os olhos para não ter mais contato com a dura realidade das coi- sas. Um anjo bom vai guiando os passos desse homem e vai impedindo que ele caia em buracos, que ele tropece em pe- dras, que ele tome algum tombo etc. No entanto, não tarda muito até o anjo parar e refletir: será eu estou mesmo ajudando esse homem? Ou será que a melhor forma de contribuir para seu bem estar é ajuda-lo a abrir os olhos? Abrindo os olhos ele poderia ver por si mesmo todos os percalços do caminho e, assim, pode desviar-se deles. Sim, ajuda-lo a abrir os olhos é, sem dúvida, a melhor forma de apoia-lo, de assisti-lo, de cola- borar com sua felicidade, conclui o anjo. A mesma coisa ocorre com os seres humanos. Nós somos como esse homem, que fechou os olhos para a realidade e es- pera que forças externas do bem o guiem no escuro, para que ele não seja obrigado a abrir os olhos e encarar a realidade, encarar a si mesmo. Mas os espíritos não vão auxiliar nos des- viando das provas, evitando nossas quedas, nos pegando no colo quando atravessamos a lama que escolhemos percorrer. Não… os espíritos de luz estão a todo momento nos pedindo: “abra seus olhos”, “abra sua consciência”, “desperte para a re- alidade de si mesmo”, “pare de fugir das coisas”, “veja o que você está fazendo com sua vida”, “veja o que está semeando”, “Ame a Deus e ame teu próximo” etc. Caso Deus ou os bons espíritos nos ajudassem a desviar da colheita de nossa própria semeadura, eles estariam criando as condições para que con- tinuemos cegos diante da vida universal. 15 Um homem pode estar passando por uma crise financeira por ser muito egoísta e apegado com suas coisas. Então ele pre- cisa olhar para si mesmo, abrir os olhos para a realidade das suas tendências egoísticas, ao invés de ganhar mais dinheiro. Uma mulher pode ter criado um câncer para ficar de cama, ficar vulnerável, e assim, abrir os olhos e renunciar ao desejo de controle excessivo que há muito tempo a faz sofrer. Um jovem pode não dar certo em relacionamentos para, por exemplo, aprender a resolver sua carência e conseguir ser feliz sozinho, sem ficar colocando a sua felicidade em outros. Assim, os es- píritos ajudam essas pessoas a abrirem seus olhos em relação a si mesmos, abrirem seus olhos para aquilo que é mais impor- tante… e não apenas resolver suas carências mundanas e ma- teriais. Portanto, abra os olhos do coração e da consciência. Pare de fugir da vida e do enfrentamento de si mesmo. Aceite sua mor- talidade e acolha de bom grado as provações que Deus coloca na sua frente. Não peça a Deus para desvia-lo das pedras do caminho, mas peça que Ele te ajude a abrir seus olhos, para que você possa enxergar por si mesmo… e ser feliz na luz, e não na escuridão. Você preferia ser um cego com um excelente guia, ou preferia enxergar e ver as coisas como são? Ninguém quer ser cego… por que então fechamos nossos olhos para a vida como ela é em essência? A escuridão só existe em você pela sua insistência em manter os olhos fechados. Então sim… um anjo sempre guia nossos passos. Mas os se- res angelicais nos guiam para dentro de nós mesmos e não para fora. E você, está fechando os olhos para algo em sua vida? 16 A MENSAGEM SAGRADA DAS FLORES Você compreende a mensagem das plantas e das flores? A mensagem das flores é um princípio sagrado da vida. O ser humano deveria observar mais as plantas e as flores… e as lições que elas nos passam a todo momento. Quando você estiver passeando na natureza, procure observar uma plantinha e suas flores. Nesse momento, lembre-se que antes de ser planta, arbusto ou árvore, ela era uma sementi- nha, pequenininha, parte de outra planta maior. Ela se des- prendeu da planta mãe, perdendo toda a proteção que este ve- getal maior lhe dava. Ela caiu no solo e ficou muito tempo sem poder se mover. Ficou tão imóvel e esquecida ali que começou a afundar no solo. O solo foi absorvendo a sementinha aos poucos, como faz com todas as sementes e ela começou a ficar no escuro. À medida que ia afundando, ela caia numa escuri- dão ainda mais profunda. Ela perdeu tudo… nada mais restava para ela, a não ser obscuridade e um vazio profundo. Então, o milagre acontece… É justamente nesse momento que a sementinha começa seu processo de nascimento. Ela perdeu tudo, foi abandonada pela planta mãe, caiu no chão, ficou pa- ralisada, depois afundou no desespero de uma escuridão e de um vazio. Nesse momento, ela começou a nascer ou renascer. A alquimia sagrada da natureza começa sua grande obra. Fu- rou o bloqueio do solo pesado da materialidade e orientou-se em direção a luz. A luz foi seu guia; ela rompeu a camada grossa do solo e nasceu para fora da terra, para a luz, para a floresta cheia de vida. Ela desabrochou, tornando-se uma linda plantinha. Após um tempo, ela começou a florescer; uma linda e perfumada flor despontou, repleta de alegria e frescor diante da nova vida, desse maravilhoso despertar. Todos nós somos essa sementinha. Perdemos a proteção, ca- ímos no “chão” do real, ficamos paralisados em vários aspec- tos, começamos a afundar numa escuridão e num vazio. Mas como nos mostra a sagrada mensagem das plantas e flores: é justamente esse o momento, a oportunidade, o instante do re- nascimento. É tempo de desabrochar, de florescer, de despon- tar para a verdadeira vida. 17 Essa é uma mensagem que deve ficar para sempre gravada no íntimo de todos nós. É o grande aprendizado que a planti- nha e a flor nos transmitem a cada momento. Sempre que você observar uma plantinha e uma bela flor, lembre-se da sagrada mensagem da sementinha. Essa semente somos todos nós. Somos a semente do ser que vai desabrochar para o infinito e a eternidade. 18 NOSSO EGO FERIDO Um homem foi procurar um sábio e perguntou: – Mestre, fui muito ofendido por uma pessoa e estou com ódio de tudo isso. O que você me aconselha? O sábio disse: venha cá, meu filho, para que possa te orien- tar. O homem se aproximou e ficou aguardando. O sábio en- tão pressionou forte seu ombro direito. O homem soltou um grito de dor! Havia uma ferida em seu ombro. O homem per- guntou: – Mestre! Você enlouqueceu? Por que pressionou assim a fe- rida que tenho no meu ombro direito? Doeu bastante… O sábio respondeu: – Doeu muito, não é? Agora vou tocar no seu ombro es- querdo com a mesma força. Diga-me o que sente… O sábio pressionou o ombro esquerdo do homem. O homem disse: – Agora não sinto nada mestre. – Por que você não sente nada? Perguntou o mestre. – Ora mestre, eu não sinto nada nesse ombroporque aqui não existe uma ferida. Ao contrário do ombro direito, onde existe uma ferida que faz meu ombro ficar sensível a qualquer toque. O sábio disse: – Exatamente. Só dói onde existe uma ferida, ou seja, onde estamos de algum modo sensíveis diante das ocorrências ex- ternas. O mesmo acontece com as ofensas, as agressões ver- bais, as calúnias, as difamações etc. Uma pessoa te ofende e isso te afeta porque existe uma sensibilidade em você. E essa sensibilidade vem de uma “ferida”, uma fraqueza, uma falta, 19 uma carência etc. E tudo isso vem do nosso ego, do nosso or- gulho, da nossa vaidade. O homem prestava bastante atenção nas palavras do sábio. Este concluiu: – É necessário então curar essa ferida, resolver essa sensibili- dade… e isso se faz deixando de lado o nosso ego. Não ha- vendo mais ego, não há mais como alguém tocar nas nossas feridas, pois o que nos deixa sensíveis a tudo é nosso ego fe- rido. Quando você resolver isso, todos podem te ofender de diversas formas: você não sentirá nada. 20 VIVENDO A VIDA Seja o que for, qualquer coisa que te ocorrer, fique em paz com isso. O bom ou o ruim que te chega, não desanime nunca… procure ser feliz com cada coisa que acontece. Se desanimar, não sofra por ter desanimado. Trate o desânimo como algo normal. Não se identifique com ele, pois isso não é seu nem é você. Nenhum sentimento ou estado de ser faz parte de nós, mas apenas passa por nós, fica um tempo e depois vai embora. Qualquer notícia ruim, qualquer perda, qualquer desalento, qualquer sofrimento, qualquer dor que lateja, quaisquer angús- tias ou aflições internas, não se preocupe com nada disso. Seja livre em relação a tudo o que sente e faz. Nada pode te abalar, afinal, você é um filho de Deus perfeito. Nada deve ser alvo de nossas preocupações. Sinta-se livre em relação a tudo. Não tente impor nada a ninguém… e se alguém tentar impor algo a você, não se preocupe, não se abale, não sofra por isso. Não cultive crenças arraigadas. Não creia que você “precisa muito” fazer isso ou aquilo. Não crie conceitos cristalizados em sua mente. Não se deixe influenciar pelas coisas do mundo. Não se apegue a nada. Não crie obrigações. Não se cobre por nada. Faça o que sentir que deve fazer sem autocobranças. Pense sempre assim: “Se fiz, fiz… se não fiz, não fiz. Tudo é perfeito no universo de Deus”. Não se culpe. A culpa não serve para nada e só nos atrasa. O que você receber, diga: “Obrigado Deus”. Se não receber nada diga: “Obrigado Deus. Confio em Teus desígnios. Teus planos são melhores que os meus”. Seja feliz com o que você tem, ao invés de ficar sofrendo e desejando o que você não tem. A felicidade com o ter ou o não ter é o essencial na vida. O essencial é ser feliz, nada mais importa. O essencial não está no ter ou no não ter, pois como diz a má- xima de sabedoria: “O essencial é invisível aos olhos”. 21 Não fique fantasiando uma vida diferente da sua. Não imagine situações fora de sua realidade. Aceite sua vida como ela é… Viva o real dentro da sua existência. “Viver a vida que se tem; é algo que nos faz muito bem”. Sua vida é sua e de mais ninguém. É o que você tem para viver agora. Se no futuro for diferente, ótimo. Se não for, ótimo tam- bém. Não fique triste com sua vida, pois essa foi a vida que Deus te deu. Pode haver algo mais precioso do que viver a vida que Deus nos ofereceu para o desenvolvimento do nosso ser? Não fique afirmando para si mesmo: “Isso é muito importante”. “Isso tem muito valor”… ou: “Isso é muito verdadeiro”. Para Deus, tudo é importante. Tudo tem muito valor. Tudo é verda- deiro. Não há uma coisa mais importante que outra. Não há uma pessoa, coisa ou situação mais valorosa que outra. Não há nada que seja mais verdadeiro do que qualquer outra coisa. Não existe o verdadeiro e o falso. Existe apenas o desejar acre- ditar na ilusão ou buscar a verdade. Quando você determina o que é bom, valoroso, verdadeiro e importante, você começa a sofrer e perde sua paz e sua felici- dade. Quando você determina o que é bom, você cria automa- ticamente o mau. O mau será sempre aquilo que é diferente do que você criou como bom. Portanto, não crie o bom, para não criar também o mau e sofrer por ele. Por isso, não busque mais o bom e nem evite o mau. Deixe de lado os conceitos de bom e mau, certo e errado, positivo e ne- gativo. Seja feliz com o que te acontecer, seja o que for. Não se importe com o restante. Ser livre de tudo e feliz é o que im- porta. Ser desprendido, espontâneo e livre é a maior dádiva que o ser humano pode alcançar neste mundo. Deixe que Deus cuide de tudo… assim, tudo estará sempre em harmonia. Entregue-se a Deus com total fé e confiança. Deixe que Deus guie sua vida. 22 PRECE DE COMUNHÃO Já falamos sobre a prece de comunhão no texto “Tipos de Prece”. Nesse texto definimos quais são os diferentes tipos de preces acessíveis ao ser encarnado nesse mundo. Vamos agora falar um pouco sobre a chamada “Prece de Comunhão” ou “Oração de Comunhão”. Esta se constitui no tipo mais ele- vado de prece que existe e que traz as maiores dádivas que o ser humano pode alcançar. O que é a prece de comunhão? Em linhas gerais, é o tipo de prece onde o ser aspira entrar em contato direto com Deus. Nas orações convencionais podemos pedir, louvar, agradecer, fazer uma intercessão pelo bem de uma pessoa etc. Já na prece de comunhão, a pessoa não busca nenhuma destas coi- sas. Ela não busca pedir coisa alguma; ela não deseja ganhar nada; não aspira nenhum benefício vindo do Alto. Não quer casa, carro, emprego, posses, realização de sonhos etc. A prece de comunhão serve tão somente para estar com Deus, sentir a Deus, banhar-se na luz de Deus. Essa é a prece que dispensa qualquer palavra; dispensa todo tipo de oração pro- nunciada, pois para se harmonizar com Deus basta manter nossa mente e coração tranquilos. Na prece de comunhão é imprescindível não existir qualquer expectativa de nada, nem de “sentir Deus”. Nossa mente con- creta e objetiva não é capaz de alcançar o divino e isso ocorre porque a mente só consegue assimilar aquilo que é limitado, aquilo que tem uma forma, aquilo que possui uma aparência externa. Mas como disse Jesus: “O Reino de Deus não pode ser percebido com aparência externa” e Jesus completa em outra passagem afirmando que “O Reino de Deus está dentro de vós”. O Reino está dentro e não fora. Isso significa que nosso interior é o receptáculo da presença divina. Nosso íntimo é o templo sagrado onde Deus pode manifestar sua presença. Por outro lado, Deus é algo de indefinível, ilimitado, infinito e eterno. Não podemos sentir a Deus antes que nosso ser se abra, ao menos em parte, para o infinito. A prece de comunhão é, com efeito, a prece que nos faculta uma harmonização do ser com o infinito, que é Deus. Este é um contato com o uni- verso de infinitas possibilidades. 23 A comunhão com Deus não é algo que se faz; é algo que sim- plesmente acontece. Sem essa consciência, a comunhão com Deus não ocorrerá. Não é algo que vem da “ação”, mas algo que vem da “receptividade” do nosso ser. Tampouco é um efeito de nossa vontade; mas um estado de espírito que per- mite Deus estar em nós e agir através de nós, expressando em nosso ser a Sua própria vontade divina. Primeiro de tudo pre- cisamos ter a intenção de entrar em contato com Deus, mas tão logo o processo se inicie, devemos abandonar toda e qual- quer intenção e nos colocar receptivos a ação do espírito uni- versal em nós. Para tanto, é preciso que a pessoa se esvazie de si mesma, liberte-se de toda vontade individual, de toda ex- pectativa, de todo desejo e de toda crença que tem em Deus. Imagine um copo que está cheio de lama. Vem alguém e coloca uma água límpida e cristalina nesse copo. O que há de ocorrer? A água não poderá preencher o copo, pois o copo estáabarro- tado de lama. Em nosso ser ocorre o mesmo. É necessário pri- meiro se esvaziar de todo tipo de expectativa de ganho ou van- tagem individual, que cria toda lama do nosso ser, para so- mente depois colocar-se receptivo a presença divina. É certo que Deus não é aquilo que cremos. Deus não cabe em nossas diminutas crenças e ideias. Deus não é algo criado em nossa mente, como um conceito ou uma teoria. Ele é algo de transcendente, de infinito e de eterno, que não podemos definir nem pensar a respeito. Deus não está ao alcance do nosso pensamento. Por isso, é necessário abandonar crenças, ex- pectativas de quaisquer tipos, desejos e interesses individuais. É necessário também tirar a atenção dos sentidos objetivos: visão, audição, tato, paladar e olfato. Desloque sua consciência para além dos sentidos, pois somente assim poderemos sentir o infinito e o eterno. Inicie sentando-se tranquilamente numa cadeia ou na posição que você deseje. Apague a luz e feche os olhos. Faça algumas respirações profundas, inspirando e expirando, sem interrup- ção entre as inspirações e expirações. Depois relaxe comple- tamente. É muito importante ter uma atitude de total entrega a Deus nesse momento. Deixe de lado todas as preocupações, toda pressa, toda a correria e permaneça voltado apenas à en- trega total a Deus. Devemos considerar que Deus está em tudo e tudo está em Deus. Deus é onipresente, onipotente e onisci- ente. Não há coisa alguma que Deus não seja, não faça e não 24 saiba. Tudo é Deus e nesse momento, você também é infinito e eterno. Isso não é uma suposição, uma hipótese ou uma te- oria. Essa é a realidade do universo. O Todo está em tudo e tudo está no Todo. E você já possui a presença de Deus em você, precisa apenas dar-se conta disso. Mais uma vez vamos salientar que o contato com o divino não é algo que se faz, mas algo que simplesmente acontece. Não é você que vai descobrir Deus em você pela sua habilidade, mas Deus que vai se revelar a você. Para que essa revelação ocorra, é preciso um certo estado de espírito de pureza e des- prendimento. “Bem aventurados os puros de coração, pois ve- rão a Deus”. Deixe seu ser vazio de qualquer coisa. Não tenha expectativa nenhuma. Não deseje nada. Não queira ganhar al- guma coisa ou experimentar algo. Apenas deixe tudo fluir infi- nitamente e entregue-se a Deus com total confiança, como uma criança se entrega nos braços de sua mãe. Fique tran- quilo, relaxado, em silêncio e despreocupado. Deixe seu ser livre de tudo… Não espere resultados. Aos poucos algo vai começar a acontecer… O que você come- çar a sentir, procure não pensar sobre isso, apenas deixe fluir. Lembre-se que você não sabe o que é sentir a presença do infinito e nem pode recorrer à memória de experiências passa- das, pois será uma experiência totalmente diferente de tudo o que você conhece, repleta de novidade e frescor. Lembrando também que a harmonização com Deus não se dá no plano emocional, mas num plano interior que o ser humano ainda não conhece. Assim, simplesmente deixe acontecer… deixe es- tar… deixe ser. Vamos lembrar a mensagem que Moisés dei- xou em êxodo quando disse: “Eu Sou o que Eu Sou”. Apenas ser… mais nada. A Prece de Comunhão é, sem sombra de dúvida, a experiência de felicidade infinita mais maravilhosa que você terá nessa vida. Nenhuma satisfação material pode ser comparada a ela. O ser humano acredita que sabe o que é a verdadeira felici- dade, mas ele só conhece a satisfação dos desejos ou o pra- zer. A felicidade infinita e paz eterna só existem quando entra- mos em contato com o divino. Essa é a experiência direta da essência de todas as coisas, que está em você… e está em tudo. 25 A JANELA DA ALMA Um homem foi ter com um mestre e lhe disse: – Mestre, por que Deus não me abençoa? Deus não deveria abençoar a todos com a felicidade, a paz, a justiça, o amor, a liberdade, a plenitude, etc? O mestre respondeu:- Não é Deus que escolhe derramar as Suas bênçãos sobre uma ou outra pessoa. As pessoas é que devem se abrir para as bênçãos que vem continuamente de Deus. Preste atenção nesse ensinamento: Julgar que Deus abençoa uns e não a outros seria absurdo, concorda? Por que Deus iria privilegiar uns em detrimento de outros de forma arbitrária? Deus emite suas bênçãos a todos eternamente, assim como o sol brilha para todos sempre, a todo momento. É da natureza do sol nunca parar de brilhar. Quando alguém diz: “Quero pegar um sol”. O que essa pessoa deve fazer? Deve esperar que o sol lance seus raios sobre ela mesmo que ela esteja dentro de um apartamento sem nunca sair? Ou essa pessoa deve se deslocar até, por exemplo, uma praia, e lá deitar uma cadeira sobre a areia, sentar-se e apro- veitar os raios do sol? Obviamente a pessoa deve ir ao encon- tro de onde tem sol, onde ela deve se colocar numa posição em que os raios de sol a banhem em abundância… e não es- perar que o sol venha até ela. Não adianta ficar presa dentro de um apartamento e aguardar que o sol lance seus raios ple- namente lá. Esse processo é semelhante a uma pessoa que vive num quarto em que existe uma janela toda suja e empoeirada. O sol está sempre brilhando, sempre emitindo seus raios. Ele nunca para de brilhar em todas as direções. Mas quando nossa janela está suja… os raios do sol não conseguem entrar em nosso quarto, por mais que o sol brilhe lá fora. O que devemos nós fazer a esse respeito? Precisamos simplesmente limpar a su- jeira que bloqueia a nossa janela. Limpando nossa janela e dei- xando-a livre, sem nenhum bloqueio, sem sujeiras, sem impu- rezas, sem manchas, os raios solares entrarão imediatamente 26 em nosso quarto, iluminando tudo e nos banhando sempre com seu calor e luz. O mesmo ocorre entre Deus e os seres. Deus, que pode ser comparado a um sol espiritual, lança seus raios a todos os se- res do universo a todo momento. Mas nem todos os seres lim- pam a sua janela, ou vão de encontro aos locais onde podem se banhar livremente com seus raios infinitos. Podemos afirmar que poucos são aqueles que tomam o cuidado de limpar a sua janela, mas mesmo assim ficam pedindo incessantemente que Deus ilumine seu quarto. De que adianta ficar orando a Deus e pedindo bênçãos, bên- çãos e mais bênçãos, se nós mesmos não cuidamos de limpar nossa janela para receber os raios solares de infinitas bênçãos divinas? Limpe primeiro a sua janela, purifique seu ser de todas as má- culas e manchas mentais e emocionais, antes de ficar pedindo que Deus derrame suas bênçãos sobre nós. Não adianta pedir se você não faz o que precisa ser feito para receber a luz de Deus. O sol divino não pode iluminar seu quarto a não ser que você limpe o vidro da janela de sua alma. O homem ficou muito feliz com a explicação do mestre, agra- deceu e partiu, tornando-se outra pessoa. E você, já limpou a janela de sua alma para receber os raios solares do infinito? “Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo aparece- ria para o homem tal como é: infinito.” (William Blake) 27 AS BEM-AVENTURANÇAS As chamadas “bem-aventuranças” são discursos proferidos por Jesus em que este define os princípios e valores do bem viver, estabelecendo regras morais para todos que aspiram um dia sentir a felicidade eterna no Reino de Deus. Lembrando que, segundo Jesus, o Reino de Deus está dentro de cada um. Elas são expostas em Mateus capítulo 5 no chamado “Sermão da Montanha”. Também são encontradas em Lucas no capítulo 6, em menor número Mas o que é um bem-aventurado? Bem-aventurado é basica- mente uma pessoa que encontrou a verdadeira felicidade. Essa não é a felicidade humana ou mundana, que pode ser confundida com a satisfação de desejos materiais. A felicidade das bem-aventuranças é a felicidade eterna, que nada nesse mundo pode dar ou tirar. É uma felicidade que não é desse mundo e que só existe no plano da alma. Os bem-aventurados também podem ser compreendidoscomo os “abençoados”, aqueles que receberam a benção infinita de Deus pelo mérito da prática dos valores mais essenciais da vida espiritual. Vejamos então as bem-aventuranças: Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus; (Mateus 5, 3) Jesus afirma que são bem-aventurados, felizes, ou abençoa- dos todos aqueles que são “pobres de espírito”. Mas o que sig- nifica ser pobre de espírito? O pobre é aquele que tem poucas posses e vive apenas com o básico ou nem isso. Pobre de es- pírito é aquele que é pobre interiormente, ou seja, aquele que não tem grandes desejos, ambições, que consegue ser feliz com pouco levando uma vida de simplicidade. O pobre de es- pírito não tem grandes anseios, sonhos mundanos ou desejos de realizações maravilhosas. O pobre de espírito consegue ser feliz com o que tem… e sentir a paz com o que lhe acontece. Ele é principalmente a pessoa que tem a virtude da humildade, que não se coloca acima das outras e não quer ganhar de nin- guém, ou vencer uma competição a todo custo. Ele não deseja elogio, fama ou adoração pessoal. O pobre de espírito está va- zio de si mesmo, ao contrário do ególatra que está cheio de si mesmo e quer seu ego em destaque. Estando vazio de si 28 mesmo, o pobre de espírito é como o copo vazio que, por estar vazio, pode ser preenchido com a “água da vida”, que vem de Deus. Não será um bem-aventurado aquele que não for pobre de espírito, ou seja, que não for humilde. Ser humilde é a pri- meira condição da vivência da plena felicidade em Deus. Não por acaso Jesus cita os pobres de espírito em primeiro lugar. Aquele que não consegue despojar-se do orgulho e do ego- ísmo, não está apto a felicidade eterna. Aquele que não se li- berta do seu ego, não pode viver com Deus. Bem-aventurados os que choram, porque eles serão con- solados; (Mateus 5, 4) Abençoados são aqueles que choram, pois eles vão receber o consolo. Não o consolo dos homens, que é limitado e condici- onado, mas o consolo do Alto, de Deus, do infinito. A pessoa que chora deixa suas emoções fluírem e não tem medo de de- monstrar seus sentimentos. Não fica se reprimindo e imagi- nando se outros vão julga-la fraca. Quem chora pelas coisas do mundo se abre para a alegria do espírito. Quem chora por aquilo que perdeu encontra o tesouro do céu que nunca poderá ser perdido. O chorar significa sofrer por aquilo que é passa- geiro, por aquilo que se perde, que termina, que se degrada. Todos os que choram e sofrem pelo que passa um dia encon- trarão consolo naquilo que não termina, que não se degrada, que não se perde… esses são os princípios do espírito, eternos como Deus. Aqueles que choram terão o consolo que vem di- retamente da vida em Deus. Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; (Mateus 5, 5) Os mansos são as pessoas calmas, tranquilas, sossegadas, meigas, serenas. Eles não gostam de brigas, de guerra, não fazem disputas nem entram em discussões estéreis para afir- mar suas crenças e vontades, mas vivem em paz com as cir- cunstâncias da vida. São calmos no agir, falar, pensar e sentir. Não se deixam afetar pelas contrariedades e conflitos da exis- tência. Não ficam lutando contra a vida e as pessoas. Lutar contra é um dos caminhos que levam os seres humanos à in- felicidade e a angústia existencial. Os mansos não se irritam, não se deixam dominar pela cólera. Não se ofendem com ata- ques e nem desejam revide, pois sabem que isso não os trará 29 nada de bom. Por isso, nada pode abalar sua calma e tirar sua paz. Os mansos não têm pressa e nem vivem na correria do dia a dia, estressados e ansiosos. A paz interior é a sua maior riqueza. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, por- que eles serão fartos; (Mateus 5, 6) Abençoados são aqueles que procuram ser justos em tudo o que fazem. Não querem levar vantagem em nada. Não são “es- pertos” e tentam se dar bem em cima dos outros. Quem sempre tenta levar vantagem, quem não é justo, está longe ainda do Reino dos bem-aventurados. Quem engana, não está sendo justo. Quem trai, não está sendo justo. Quem tenta passar uma imagem daquilo que não é, também não está sendo justo. Os hipócritas não são justos, pois pregam uma coisa e fazem ou- tra. Quem anseia pela justiça um dia encontrará essa justiça em sua vida. Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcan- çarão misericórdia; (Mateus 5, 7) Misericordiosos são aqueles que tem compaixão pelos seus semelhantes; são os que tem empatia, que se colocam no lugar dos outros e tentam enxergar a vida pela perspectiva do outro, e assim, são compreensivos e tolerantes com todos. Misericor- diosos não buscam vingança, não querem retaliações. Eles ajudam seus irmãos sem esperar nada em troca. Quem é mi- sericordioso com outros vai receber essa mesma misericórdia, pois quem ajuda, será ajudado; quem faz o bem, vai receber esse mesmo bem de volta; quem ama, será amado. Mas quem ajuda pensando em recompensas futuras, ou esperando grati- dão, nada receberá. Os misericordiosos alcançarão misericór- dia, mas os intolerantes, aqueles que não tem empatia pelos seus irmãos humanos, esses estão longe da felicidade eterna prometida por Deus aos seus filhos. Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; (Mateus 5, 8) Os limpos ou puros de coração verão a Deus. Jesus nos mostra que somente aqueles que tem a verdadeira pureza podem ver e sentir o divino. Ser puro é não ficar sempre vendo maldades 30 nas coisas e pessoas. Puro de coração é aquele que enxerga apenas o bem, que não tem mágoas, angústias, culpas, não tem ódio dos seus semelhantes. Aquele que vê sempre erro em todos e em si mesmo, não pode experimentar a verdadeira pureza. Puro de coração é quem vê a vida com inocência, tal como o olhar de uma criança. O puro de coração não mente, não dissimula, não manipula, não tenta parecer algo que não é. O puro é o que é… sem rodeios, sem distorções, sem dis- farces. Aquele que é limpo por dentro não tem preocupações e nem se desgosta com os acontecimentos do mundo, pois se tudo é de Deus, o que pode lhe provocar desgosto? Ele é limpo de toda maledicência, crítica, julgamento e de toda impureza mental e emocional. Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão cha- mados filhos de Deus; (Mateus 5, 9) Pacificadores são aqueles que procuram estabelecer a paz por onde passam. Buscam dirimir ou solucionar os conflitos entre pessoas e nações. O pacificador não pode realizar a paz a não ser que tenha essa mesma paz em seu coração. A paz que ele distribui ao mundo é um reflexo da paz que ele encontrou den- tro de si mesmo. Só vive em paz aquele que passa a considerar a paz como um valor inviolável. Se alguma briga tira sua paz, ele já não está colocando a paz acima da briga. Se uma perda financeira tira sua paz, ele não está colocando a paz acima do dinheiro. É preciso elevar a paz interior como sendo o princípio máximo da existência e a maior aspiração da alma. Somente assim a pessoa pode se tornar uma pacificadora: aquela que tem a paz e leva as gotas sagradas da paz ao mundo. É muito importante que todos coloquem em práticas esses en- sinamentos em suas vidas. Não devemos praticar as bem- aventuranças porque é o certo, ou porque Jesus ficará satis- feito conosco, ou para escapar do inferno de penas eternas. Devemos colocar esses preceitos em prática porque é a única chance dos seres humanos serem felizes. Não há felicidade para quem não segue estes preceitos. Mas quem os vivencia em toda a sua plenitude não estará feliz no Reino de Deus num futuro distante, mas será feliz aqui e agora… e aqui e agora será, finalmente, o Reino de Deus. 31 COMO SÃO OS SERES QUE VIVEM NESSE MUNDO? Como podemos representar os seres que vivem em nosso mundo? Os seres que vivem no mundo humano, em sua grande maio- ria, podem ser simbolizados pelo jovem que vai a uma cidade buscar um documento muito importante. Essedocumento é fundamental para sua entrada na melhor universidade do país. O jovem faz sua viagem a essa cidade onde encontrará o do- cumento de que precisa numa repartição pública local. Resta somente um dia do prazo para a retirada do documento. Depois do prazo expirado, não é mais permitido solicitar o documento. Assim que adentra a cidade, o jovem se encanta pelas belezas do lugar. Começa a caminhar pelos parques, vendo a graça dos pássaros e seu magnífico canto. Ele atravessa os monu- mentos da cidade e fica maravilhado com sua harmoniosa ar- quitetura. Observa as mulheres que moram no local e fica fas- cinado pelo seu jeito, seu modo de falar, de agir, pelo seu olhar etc. O jovem está tão encantado pelos atrativos da cidade que, ao observar as horas, percebe o relógio marcando 18:15hs. Ele se dá conta de que precisava pegar o documento na repartição pública, caso contrário, não poderia ingressar na universidade. Sai então correndo pelas ruas e chega, finalmente, bastante cansado, à repartição. Para sua total tristeza, o segurança lhe diz que a repartição já encerrou seu expediente do dia. O jovem cai de joelhos e ,aos prantos, percebe que jogou no lixo a grande oportunidade de sua vida, que era cursar a universi- dade. As almas que vem a esse mundo são semelhantes a esse jo- vem. Os espíritos vêm a matéria com um propósito: trilhar o caminho do despertar espiritual, a fim de se tornarem eterna- mente felizes como almas imortais que são. No entanto, ao chegarem na matéria, começam a se distrair com as coisas do mundo; deixam-se envolver pelas quimeras da existência; vão se identificando com coisas que são passageiras e não trazem a felicidade eterna do espírito; perdem-se em sonhos humanos ilusórios que trazem apenas satisfações efêmeras e condicio- 32 nadas; começam a desejar aquilo que passa, aquilo que é pe- recível… e acabam se perdendo nas paixões e apegos do mundo. Quando se dão conta do tempo perdido, correm para fazer o que é necessário e importante, mas, a essa altura, já pode não dar mais tempo. 33 POR QUE SOMOS AFETADOS PELA MENTE E EMOÇÕES? Por que somos tão afetados pelo conteúdo de nossa mente e de nossas emoções? Por que nos desesperamos tão facil- mente? Por que entramos em depressão? Por que tudo o que vem em nossa mente tem um poder tão destruidor sobre nós? A resposta é simples. Porque nós mimamos a ambos, tanto nossa mente quanto nossas emoções, tal como se mima uma criança. O que acontece quando se dá muitas coisas a uma criança? Ela pode se tornar muito exigente, querendo sempre mais e mais. Ela pode começar a gritar, a espernear, a fazer birra, a chorar exigindo que sejam cumpridas as suas vonta- des. Tal como uma criança, quando o pai cede à chantagem ou a birra do filho a fim de que ela pare de chorar e lhe dá o que ela quer, assim também nossa mente chora, grita, esperneia, até conseguir o que quer. Sim, muitos ainda não se deram conta disso, mas nossos cor- pos mental e emocional se comportam de forma semelhante a crianças mimadas e cheias de vontades. Quanto mais a cri- ança faz birra e mais o pai cede a chantagem da criança, mais o filho vai gritar e espernear no futuro para conseguir aquilo que deseja. No entanto, o que os pais mais conscientes e menos influenci- áveis costumam fazer nestes casos a fim de educar a criança? O pai ou a mãe deixam a criança chorar, gritar, exigir, esper- near, fazer toda birra possível e dizem “não” e acabou. O que costuma acontecer aqui? A tendência é a criança ir aos poucos diminuindo as exigências, até que chega o momento em que ela interrompe sua birra, acaba esquecendo e vai fazer outra coisa. Assim, se os pais não dão importância à birra da criança; se eles não cedem às vontades do filho; se eles se recusam a suprir todas as suas vontades e requisições, a criança continua chorando, chorando… até que se dá conta de que suas inves- tidas não surtem mais efeito… então suas demandas cessam. A experiência mostra que, quanto mais os pais cedem, mais a criança faz birra e exige o que quer… ao contrário, quanto mais os pais deixam a criança chorar e não se rendem aos caprichos 34 do filho, mais rapidamente ele interrompe seus prantos e gritos, pois vê que eles não geram mais qualquer resultado prático. Nossa mente e nossa emoções agem da mesma forma. No caso, por exemplo, da mente ser invadida de preocupações, quanto mais a pessoa se curva diante dos “gritos” da preocu- pação, da tensão, da aflição, dos receios que ecoam na mente, mais a mente vai novamente “gritar” sobre preocupação, mais ela vai gerar aflições, mais ela se acostumará com tensões, mais ela vai ecoar receios etc. Mas quando a pessoa não se coloca submissa e não alimenta a mente “gritando” em preocu- pações, mais ela vai perceber que suas demandas não criam raízes e tampouco produzem frutos. A mente vê a inutilidade de ficar martelando nesse tema e… ou diminui seu falatório… ou para completamente. Precisamos tratar a mente e as emoções como essa criança mimada e birrenta: quanto mais trela você der e mais fizer as vontades dela, mais ela vai continuar gritando suas deman- das, preocupações, culpas, mágoas, traumas etc. 35 POR QUE DEUS NÃO NOS SALVA? Um homem estava à procura de um grande sábio. Muitos di- ziam que se tratava de um sábio que podia explicar qualquer tema espiritual, sempre de uma forma que as pessoas compre- endessem. O homem seguiu as instruções do mapa e chegou na casa do sábio. O sábio estava sentado, tranquilo, em estado de meditação. O homem saudou o mestre e perguntou: – Mestre, vim até aqui para beber um pouco dos seus ensina- mentos. No entanto, uma questão essencial que gostaria de lhe fazer e que ninguém nunca conseguiu explicar é a seguinte: por que Deus permite que tantas pessoas morram todos os dias, dos mais diferentes motivos, fome, doenças, acidentes etc? Por que Deus não salva estas pessoas? E a segunda per- gunta é: por que Deus não salvou Jesus da morte na cruz, se Jesus era um homem tão bom e amoroso? O sábio apenas respondeu: – Deus salvou Jesus, assim como salva as pessoas todos os dias. – Salvou senhor? – perguntou o homem – Mas então como Je- sus morreu na cruz? O sábio olhou para o homem e perguntou: – Você quer que Deus salve a vestimenta? O homem não compreendeu e pediu que o sábio explicasse melhor. O mestre disse: – Imagine a seguinte situação: sua casa começou a pegar fogo. O fogo vai se alastrando rapidamente por todas as partes da casa e seu filho está no quarto. O que você faz? Você salva o seu filho ou salva a roupa ou as roupas do seu filho? – Eu salvo meu filho, é lógico. As roupas não têm nenhum valor diante do valor da vida do meu filho. 36 O sábio respondeu: – O mesmo faz Deus, o Senhor de todo o universo, a inteligên- cia infinita. Deus dá mais valor a vida dos seus filhos do que as vestimentas ou as roupagens que eles usam ao longo das en- carnações. Nosso corpo material é mera vestimenta temporá- ria; é um envoltório descartável, perecível, o pó da terra que volta ao pó da terra. Por que Deus haveria de salvar o corpo ao invés de dar maior atenção em salvar o espírito? O espírito é o verdadeiro filho de Deus… e não o corpo material ou a perso- nalidade humana. Por isso, no incêndio que é esse mundo ma- terial, onde tudo se desgasta, tudo perece e tudo se destrói, Deus salva o espírito dos seus filhos, ofertando-lhes experiên- cias muito valiosas para sua paz eterna e felicidade eterna, que são muito mais importantes do que os estados efêmeros, ilu- sórios e vazios da matéria. A experiência do espírito e seu aprendizado fica gravada nele para sempre e é para ele fonte de eterna felicidade. Já o corpo material é como a roupa do corpo… se rasga, amassa, se destrói, se desgasta e se perde arrastado pela forçado tempo. Este tem muito pouca importân- cia diante da paz infinita do espírito. Por isso, Deus não salva a roupa do filho; O Ser divino salva o próprio filho: o espírito. 37 PARÁBOLA DO GRÃO DE MOSTARDA Jesus disse… “A que assemelharemos o Reino de Deus? Ou com que parábola o representaremos? É como um grão de mostarda, que, quando se semeia na terra, é a menor de todas as sementes que há na terra; Mas, tendo sido semeado, cresce; e faz-se a maior de todas as hortaliças, e cria grandes ramos, de tal maneira que as aves do céu podem aninhar-se debaixo da sua sombra.” (Marcos 4:30-32) O que significa essa parábola? A menor das sementes da terra é a que mais cresce em direção ao céu…. e se transforma na maior das árvores. Essa parábola tem relação com outros ensinamentos de Jesus. “Os últimos serão os primeiros e os primeiros os últimos.” “Os humildes serão exaltados, e quem se exalta, será humilhado” Isso significa que os menores na Terra serão os maiores no Reino de Deus Quem se acha grande, se apequena… e quem se apequena, se torna grande. Quem se acha superior, se inferioriza… e quem reconhece sua inferioridade, se torna superior. Chico Xavier se achava grande, ou se achava pequeno, um cisco? Ele mesmo dizia que às vezes assinava como “Cisco Xavier”, pois se via apenas como um pequeno cisco. Dizia que era como um diminuto pé de grama, sem nenhuma importância diante do cosmos infinito. Via-se pequeno… e em sua humildade, tornou-se grande, como uma árvore frondosa que muitas “aves” (pessoas) vinham se sustentar em seus galhos. Não se acreditava menos ou mais do que os outros… mas ínfimo diante do infinito divino. Mas por que devemos nos ver como pequenos neste mundo? Porque nada nesse mundo é real. Imagine alguém sendo um excepcional jogador de games. Ele joga tanto o game que esquece de sua vida real… não estuda, não trabalha, não se prepara para a vida verdadeira. O que pode ocorrer com essa pessoa? Mesmo sendo grande no videogame, ele será pequeno na vida real, pois concentra todo seu tempo e esforço no game, 38 ao invés de focar em sua existência verdadeira. Assim também é o homem que se concentra nas miragens e quimeras desse mundo… e se esquece da vida eterna do ser. Esse é o simbolismo do grão de mostarda. Precisamos ser tal como os grãos de mostarda e nos ver como a menor das sementes. Dessa forma, os pequenos serão engrandecidos… e quem se acha grande, será apequenado. Por que isso? Porque somente entra no Reino de Deus quem se tornar tão humilde, tão vazio de si mesmo, que se torna capaz de permitir que Deus O preencha completamente. Pode-se encher com água um copo que já está cheio? Não. Da mesma forma, Deus não pode penetrar numa pessoa cheia de conceitos, padrões de pensamentos, emoções, traumas, crenças, neuroses, cobranças, culpas, medos, mágoas, etc. É preciso primeiro esvaziar esse conteúdo do copo interior, para depois receber a “água da vida”, como disse Jesus. Não pode se encher de Deus aquele que ainda está cheio de si mesmo, cheio da natureza humana, cheio de orgulho, de egoísmo e de vaidade. O francês Nizier Anthelme Philippe, também conhecido como Philippe de Lyon, foi um místico que diziam fazer milagres, promover curas, conhecer o passado e o futuro e até controlar o clima. Philippe de Lyon dizia: “Eu sou o cão do pastor, o menor de vós. O céu tudo me concede, pois sou o último dos seus filhos e o menor deles. Vós que sois grandes, nada obtém. Eu, que sei da minha pequenez, tudo posso”. É preciso ser pequeno no mundo da ilusão, para se tornar grande no reino eterno da verdade. Ínfimo no mundo transitório, para começar a crescer na eternidade. Quanto mais pobre de espírito, maior será nossa riqueza interior e espiritual. Quem ainda se acha grande, bom, importante, sábio, necessário… Deus não pode preencher essa pessoa, pois ela ainda acha que é ela que vive e não que o Cristo vive nela, como disse o apóstolo Paulo. Deus só pode habitar no coração dos humildes, dos pobres de espírito, dos mansos, dos pacificadores, daqueles que se veem muito pequenos diante do infinito. Quem ainda se acha grande, ou médio… bloqueia a entrada do infinito em seu interior. 39 SONHEI COM UMA ESCADA QUE LEVAVA AO CÉU Certa vez me vi saindo do corpo físico a noite enquanto dormia e logo me percebi em meu corpo espiritual. Vi que me encon- trava no plano astral mais sutil, no chamado “plano espiritual”, onde tudo era mais verdadeiro e onde a realidade da vida po- deria nos ser revelada de forma mais direta. Comecei a percorrer várias zonas desse plano etérico e che- guei a um local onde existia, imponente, um imenso portal. Nesse portal havia uma inscrição na parte de cima, que dizia “Religiões”. Fiquei bastante curioso em entender o que aquilo significava e decidi penetrar naquele portal. Será que alguma revelação importante seria passada ali? Após cruzar o portal, me vi diante de uma imensa escada; uma escadaria que parecia não ter fim… Ela se estendia de cima para baixo até chegar ao céu, se perdendo no infinito. Lembrei logo da famosa escada de Jacó, mas essa era um pouco dife- rente. Naquela escada consegui ler a palavra “Cristianismo”. Percebi que ali próximo havia outras escadas: em uma estava escrito “Judaísmo”, em outra “Islamismo”, em outra “Budismo”, em outra ainda “Espiritismo”, e assim por diante. Decidi subir na escada “Cristianismo”, pois sou cristão. Assim que comecei a subir, percebi muitas pessoas paradas em alguns degraus. Percebi ainda que alguns indivíduos abraçavam a escada, prestavam cultos à escada e até mesmo faziam da escada o seu “ídolo”. Algumas pessoas gritavam que apenas a sua es- cada levava ao céu. Outras criticavam e julgavam quem esti- vesse em outras escadas. O culto da escada parecia ser a prá- tica comum de todas as escadas, sem que se desconfiasse que todas as escadas levavam a mesmo objetivo, para o Alto. Co- mecei a refletir: qual o sentido de se manter parado na escada e não ascender até o infinito, se somente lá existe a felicidade eterna e a paz eterna? A escada podia conduzir todas as pessoas ao céu, ao reino do infinito, mas parecia que a grande maioria não queria subir por ela para chegar a esse reino celeste, mas preferiam ficar para- dos na própria escada. Eles pareciam gostar mais da escada do que gostavam de onde a escada conduzia, que era esse divino cósmico. Percebi também pessoas vestidas de branco que desciam pela escada e chamavam a todos para continua- 40 rem subindo, para não ficarem parados na escada, mas sim para ascenderem ao verdadeiro objetivo da escada. A maioria achava lindo esses homens de branco, mas para minha sur- presa, eles recusavam-se a seguir suas orientações. Encontrei com um desses homens vestidos de branco, e ele me explicou o significado de tudo aquilo. Ele disse: – Essa escada representa o caminho espiritual. Aqui nessas diferentes escadarias estão simbolizadas as principais religiões do mundo. A escada é o símbolo de um meio de acesso a al- gum lugar mais elevado. A natureza das religiões humanas é exatamente essa: a de um meio para se chegar a um fim. O grande problema é que quase todas as pessoas ficam parali- sadas e presas a esse meio, a esse caminho e se esquecem do fim, do objetivo maior, que é o céu, ou Deus, ou perfeição etc. A religião é o caminho para se chegar a Deus… A maioria fica parada no meio do caminho, adorando o caminho, lou- vando o caminho, aprisionada e perdida no caminho, seguindo as regras e códigos desse caminho, ao invés de seguir pelo caminho para chegar até o grande objetivo do caminho, que é Deus. Qual pessoa de bom senso sobe por uma escada e de- cide ficar ali parado no meio da escada, ao invés de subir por ela? Essa situação parece absurda, mas é exatamente isso que os fiéis das várias religiões do mundo fazem. No final das contas, as pessoas seguem as religiões e não conseguemche- gar a Deus, mas só conseguem chegar a própria religião, e ali ficam estagnadas e não encontram a paz e a felicidade em suas vidas. O homem de branco concluiu: – Não confundam jamais os meios com os fins. As religiões são como as escadas. Caminhos de acesso a um objetivo, não são elas mesmas esse objetivo. Se você frequenta uma religião e está preso a ela, está burlando a ordem das coisas. Não fique parado na religião, mas siga elevando-se a Deus. 41 ONDE VOCÊ COLOCA A SUA FÉ? Se você coloca a sua fé em alguma realização mundana, caso essa realização não se concretize, você perderá a sua fé. Aquele que embasa sua fé no pedido de uma casa para Deus, inevitavelmente perderá a sua fé caso não receba a casa. Será uma grande decepção pedir, esperar e não receber o que se deseja. Deus não nos dá aquilo que desejamos… Ele nos concede aquilo que precisamos. Você daria doces a seu filho sempre que ele lhe pedisse? Ou daria uma alimentação saudável? Deus não nos dá o que pedimos… mas o precisamos e mere- cemos receber. Por isso, ninguém deve colocar sua fé nas coisas que pas- sam, naquilo que termina, naquilo que é limitado e perecível. Coloque sua fé numa dimensão além… não fique condicio- nando sua fé àquilo que é efêmero. Caso contrário, você facilmente perderá a sua fé… ou terá uma fé capenga, vazia, mentirosa. A fé que se baseia em receber coisas de Deus é uma grande ilusão. Fé é a entrega total e absoluta a um plano maior de vida, que denominamos de milhares de formas, não importa o nome. A entrega a esse plano infinito e eterno deve ser incondicio- nal, sem qualquer expectativa de ganhar nesse mundo, de re- ceber brindes de Deus. Essa é uma atitude infantil que pre- cisa ser revista o quanto antes. Quando você se entrega a essa realidade maior, você adquire uma maestria diante de algo menor. Você conquista um poder e uma liberdade diante de tudo, pois está em contato com o poder maior da existência. Caso estivesse numa luta, você escolheria como parceiro o homem mais forte ou o mais fraco? Escolheria o melhor professor do mundo para lhe transmitir li- ções, ou o professor da esquina? Por que então entregar sua vida às migalhas ilusórias desse mundo limitado? Por que colocar sua vida naquilo que é pequeno, imperma- nente, ilusório, incompleto, imperfeito? 42 Entregue-se ao centro da vida universal… e não às quimeras mundanas. 43 RETIRAR A FLECHA DO SOFRIMENTO Era uma vez um homem que levou uma flechada na perna de um de seus inimigos. Algumas pessoas viram seu sofrimento e lhe disseram: – Não se preocupe, vamos nesse momento retirar esta flecha de sua perna. Mas o homem não permitiu, afirmando que caso a flecha fosse retirada, isso lhe causaria uma dor imensa. Passado algum tempo, o homem continuava sentindo dor, aquela dor latejante e contínua, a dor da flecha cravada na perna. Ele caminhava arrastando-se pelas ruas, com sua perna já inchada e com dificuldade de pisar no chão devido a dor. Algumas pessoas viram seu sofrimento e foram perguntar o ób- vio: – Senhor, por que não tira a flecha de sua perna, já que esta lhe causa tanta dor? A sua resposta era sempre a mesma: – A retirada da flecha vai me causar uma dor lancinante, prefiro não mexer nisso para não aumentar a dor. Deixe como está. O ser humano age exatamente dessa forma. Ele possui cra- vado em seu interior a flecha dos apegos, dos medos, das cul- pas, dos traumas, das autocobranças, etc, mas ele sente que mexer na causa dessas “flechas mentais e emocionais” lhe causará uma dor muito grande, e por isso, deixa que os apegos continuem doendo, que os medos continuem o aterrorizando, que as culpas continuem lhe corroendo, que as autocobranças continuem lhe estressando. É como a mulher que não quer largar seu casamento para não ficar sozinha, mas se esquece que já está sentindo a dor da solidão dentro do próprio casamento. Ou como a mãe que re- clama do sofrimento pelas preocupações com seu filho, mas não consegue deixar seu filho seguir sua vida livre, pois doi não conseguir controla-lo e não tentar definir seu destino. Ou como o homem que reclama do sofrimento da culpa pelos erros co- 44 metidos, mas não consegue largar seu grande perfeccionismo, não admite que tem direito de errar; não aceita suas limitações. Não quer “retirar a flecha” da negação de suas limitações, pois diz que aceitar seus erros doi muito. Ou ainda como a mãe que sofre por seu filho ter saído de casa, mas não consegue “retirar a flecha” do apego que tem ao filho, pois diz que a ideia de não ter mais seu filho ao seu lado doi muito. Isso descreve um comportamento típico do ser humano. As pessoas querem continuar carregando seus pesos, não que- rem solta-los… e depois reclamam que o peso que elas decidi- ram carregar está muito pesado. As pessoas dizem que a ver- dade doi, que ela é cruel e árdua. Mas não sabem que viver na mentira e nas ilusões é muito mais doloroso a longo prazo. Não quer enfrentar uma situação para não sofrer, mas não sabe que o não enfrentamento pode lhe gerar ainda mais sofrimento. Não quer agir para não se prejudicar, mas o não agir pode pre- judica-lo ainda mais. Não quer falar o que precisa ser dito para não causar confusão, mas não entende que não deixar tudo às claras pode causar ainda mais confusão. As pessoas frequentemente declaram que é muito difícil largar os apegos. Mas não acaba sendo muito mais difícil e doloroso viver com os apegos? É muito sofrido mexer nos medos, mas não é muito mais sofrido viver com medo? Colocar curativos na ferida dói, mas não tratar a ferida não dói muito mais e não faz a ferida ficar ainda mais aberta e mais dolorida? Libertar-se de algo gera sofrimento, mas a experiência mostra que viver apri- sionado a algo gera muito mais sofrimento. Assim, o ser hu- mano quer se livrar da dor da flechada, mas não querem retirar a flecha dos apegos, do orgulho, do egoísmo, das culpas, dos medos, as autocobranças, que lhes fazem sofrer. Não viva mais entre uma dor e outra. Retire suas flechas agora. Isso significa remover a causa do sofrimento, seja ela qual for. Se remover a causa do sofrimento dói, lembre-se que não re- move-la vai fazer doer muito mais e por um período bem mais longo. Por isso, retire as flechas. Caso contrário, você vai con- tinuar vivendo como esse homem, que não queria retirar a causa da dor porque esta lhe causaria dor. 45 UM SENHOR DE 99 ANOS DESCOBRIU A FELICIDADE Desde a minha infância, eu sempre busquei o bom na minha vida. Buscar o bom, o agradável e o prazeroso me parecia ser o curso natural da existência humana, assim como repelir o mau, o desagradável e o desprazer. Quando criança, eu queria os melhores chocolates e as balas mais gostosas. Era muito bom poder comer coisas prazerosas. Mas quando os doces faltavam, eu sofria por não poder come- los. Assim, não podia viver o bom como eu queria. Quando o bom acabava, era ruim ficar sem ele. Na adolescência, continuei minha busca pelo bom. Tentava fi- car com as meninas mais bonitas, ter o carro mais rápido e mais confortável, além de ter as roupas mais gostosas de ves- tir. Mas quando eu não ficava com as meninas, ou quando meu carro foi roubado, ou quando não tinha dinheiro para comprar as roupas que eu queria, eu sofria e sentia falta de todas essas coisas boas. O bom de antes acabava sempre se transfor- mando no ruim depois. Quando cheguei na fase adulta, continuei na minha busca fre- nética pelo bom, pelo agradável. Meu objetivo naquela época era ser rico, ter o cargo mais alto na empresa e ter as condições mais confortáveis de vida. Mas aconteceu que eu perdi o emprego, não consegui ser rico como era meu sonho e minha vida nem sempre foi confortável como eu esperava. Viver uma vida boa parecia algo cada vez mais distante. O sonho acabou se tornandoum pesadelo. Será que ainda dava tempo de viver o bom? Foi quando cheguei na senescência, no alto dos meus 99 anos e mesmo bem velhinho, resolvi mudar minha percepção das coisas. 46 Ao invés de ficar esperando sempre o bom chegar até mim, viver na expectativa do bom, do agradável, eu resolvi viver o bom onde quer que eu estivesse. Não ficava mais esperando o bom chegar… mas cada coisa que eu experimentava, cada situação que eu vivia, cada coisa que me acontecesse, eu via ali o bom, eu transformava tudo aquilo em algo bom. Passei a sentir o bom em todas as coisas simples da vida. O bom agora não era mais um acontecimento externo, mas uma realidade interna, que se manifestava através de mim a cada momento. Quando eu ficava esperando o bom, eu sempre dei- xava de sentir o bom de cada momento. Esperar algo é não viver. Quem espera, não vive, quem vive, não fica esperando, mas vive o momento de agora, vendo o bom nas coisas simples da vida. Assim, eu não ficava mais esperando realizar sonhos, mas vivia a mesma felicidade do sonho no aqui e agora. Descobri que eu era muito mais feliz vendo o bom em cada coisa, do que esperando que o bom me chegasse de fora. Des- cobri que não é possível passar uma existência só vivendo o bom, pois o bom, em verdade, somos nós que criamos como bênçãos que já existem no presente, na simplicidade de cada momento. Demorei 99 anos para entender que o bom não é algo que acontece, mas que o bom existe na forma como você vive e na forma como você encara a vida. O bom depende da leitura que você faz das coisas e não de como as coisas acontecem. Não é uma dádiva que vem de fora… mas uma bênção que já está em você nesse momento. O bom e o ruim estão dentro de nós, dentro de cada um. Uma pessoa pode receber muitas coisas boas e não viver o bom real, pois este só existe na alegria que brota espontaneamente de cada instante sagrado da vida. O bom não existe de verdade… o bom só se torna real na forma como você enxerga as coisas da vida. O resto são apenas qui- meras. Sim, eu demorei 99 anos para descobrir isso… e estou aqui, revelando essa sabedoria preciosa a todos. Por isso, não perca sua vida buscando o bom… não desperdice seu tempo bus- cando o bom fora, mas descubra a paz e a felicidade que existe 47 em cada momento, na simplicidade da vida como ela é, num fluxo incessante de bênçãos que você pode enxergar no aqui e agora. Ao menos em uma pequena época da minha vida, com a graça de Deus, eu consegui ser verdadeiramente feliz. ASS: Um senhor de 99 anos que aprendeu a ser feliz agora, sem esperar nada. 48 VOCÊ CRIA O SEU PROBLEMA Muitas pessoas duvidam que o ser humano cria seus próprios problemas. Criamos os problemas e depois sofremos pelo pro- blema que nós mesmos inventamos. Essas pessoas acreditam que os problemas existem externamente a elas mesmas; que eles existem como uma força fora de nós, e assim, nos afetam. No entanto, no Espiritualismo se ensina que os problemas não existem como poderes externos fora de nós, mas que eles são criados por nós e também alimentados a todo momento por nós mesmos. Na medida que eles são criados e alimentados, eles tomam a aparência de uma realidade fora de nós, que seria existente por si mesma. Porém, isso é apenas uma aparência, uma ilusão, uma percepção puramente pessoal. Somos nós os criadores de tudo aquilo que enxergamos como sendo um “pro- blema”. Vamos explicar esse princípio da criação dos problemas com exemplos simples e objetivos, para que qualquer pessoa possa compreender e visualizar a criação dos problemas em sua vida. Preste bastante atenção nesses exemplos, para não cair na ci- lada de criar e manter aquilo que depois será a fonte do seu sofrimento. Em primeiro lugar, um mesmo problema pode ser visto por pes- soas diferentes em intensidades diferentes. Uma pessoa pode, por exemplo, acreditar que é um problema imenso não ter ca- sado ainda com 35 anos de idade. Ela pode se achar velha e incompleta por ainda não ter constituído uma família. Outra pessoa também com seus 35 anos pode, ao contrário. Achar muito bom estar solteira, pois não deseja viver o casamento por considera-lo uma “prisão” e valorizar mais a sua liberdade. Observe que duas pessoas vivendo as mesmas circunstâncias encaram o mesmo acontecimento de formas completamente distintas: o primeiro indivíduo vê um problema em não estar casado e o segundo não consegue ver problema algum, ao contrário. Diante de um mesmo acontecimento há duas pers- pectivas diferentes, para não dizer opostas. Isso nos mostra, de forma clara, que o problema não existe por si mesmo: o pro- blema depende sempre de alguém que o veja, o reconheça e o identifique como algo mau, errado, ruim, catastrófico etc. E como a primeira pessoa criou seu próprio problema? Interna- lizando em sua mente que ela precisa casar para ser alguém, 49 para se completar, por julgar importante ter um companheiro, um parceiro, ou ainda criando o desejo do casamento e da constituição de uma família. Existe aí uma crença, ideia, regra interna ou desejo forte que se direciona ao ato de casar. Há um valor conferido por ela mesma ao casamento e à família. No caso da não existência de uma ideia, regra, obrigação, valor ou desejo, não haveria problema algum em não estar casada aos 35 anos. Mas como há tanto a ideia, obrigação social ou o de- sejo ardente de se casar, o problema está criando quando essa ideia ou esse sentimento não encontram realização no mundo para nossa satisfação pessoal. Nesse sentido, o problema foi criado pela própria pessoa. A carência ou a ânsia de casar cria o problema de não conseguir casar. Outros exemplos podem ser dados do mecanismo pelo qual a mente humana cria seus próprios problemas e depois sofre com sua própria criação. Por exemplo, uma pessoa cria uma expectativa imensa de que sua mãe é uma pessoa boa, ho- nesta, pura, caridosa. Ela então descobre que a mãe está en- volvida num esquema de corrupção e desvio de dinheiro da prefeitura de sua cidade. O mundo dessa pessoa desaba, pois ela havia criado uma imagem extremamente positiva da mãe… Nesse momento, a decepção com a mãe é enorme, a frustra- ção pela expectativa não confirmada é terrível. Observe que a causa da decepção não foi outra senão a expectativa criada por ela mesma; quem gerou a frustração foi a imagem de pu- reza que ela criou ao longo dos anos de como seria sua mãe. E claro… quanto maior a expectativa, maior a decepção. O so- frimento da decepção está diretamente vinculado a quantidade de imagem positiva gerada. Isso mostra como a própria pessoa criou seu problema e seu sofrimento. Outro exemplo: Um pai acredita que seu filho precisa de todas as formas ser bem sucedido na vida e que, para isso, ele pre- cisa ser doutor, como ele é. Seu filho não estuda, não passa na faculdade, não consegue se formar e deseja viver de outra atividade. O pai então passa a enxergar um grande problema nessa situação, pois ele fixou em sua mente a ideia de que o filho tem que ser bem sucedido. Caso o pai não tivesse cons- truído a necessidade do sucesso em sua mente, ele não sofre- ria pelo aparente “fracasso” do filho. O desejo pelo sucesso cria o problema do fracasso e seu consequente e inevitável sofri- 50 mento. Mais uma vez fica claro como o ser humano cria seus próprios problemas. Em outro exemplo, vemos uma pessoa que é muito apegada as suas coisas. Ela tem um forte sentimento de posse em rela- ção ao que tem. Certo dia, um incêndio detroi quase tudo e ela perde boa parte de seus bens. Nesse caso, o problema que ela vê nessa situação é imenso e será diretamente proporcional a quantidade de apego em relação as coisas. Quanto maior o apego, maior o problema que ela verá em ter perdido suas coi- sas. O forte sentimento de posse criou igualmente a forte sen- sação da perda. Se não houvesse tanto apegoe tanto senti- mento de posse, não seria identificado ali um problema tão grande e consequentemente um sofrimento tão intenso. Esses exemplos podem ser estendidos muito mais… Por exemplo, uma pessoa que deseja ser bonita, vai ver um pro- blema sempre que alguém diz que ela não é tão bonita quanto gostaria de ser. Uma pessoa que quer ser muito rica vai sofrer quando não ganhar dinheiro suficiente. Uma pessoa que de- seja elogios por alguma obra realizada, enxergará um pro- blema quando as pessoas não dão o reconhecimento ade- quado ao seu trabalho. Uma pessoa que quer muito ser famosa perceberá um grande problema ao ser esquecida pelo público e não estar mais em destaque. Uma pessoa que cria um sonho qualquer vai ver sempre um problema quando não conseguir realizar o sonho ou quando perder o sonho depois de realizado. Uma pessoa que tem o forte desejo de ganhar cria o medo de perder ou o sofrimento pela perda. Observe que todo problema que posteriormente é identificado como tal nasceu primeira- mente de uma ideia, um conceito, um desejo, uma regra im- posta, uma dependência, uma obrigação, uma valorização de algo ou alguém, etc, que a própria pessoa criou. Por isso dissemos que as bases da criação dos problemas hu- manos sempre foram estabelecidas previamente por nós, de uma forma ou de outra. Por esse motivo que se ensina no Es- piritualismo que os problemas são criações humanas e não re- alidades objetivas do mundo externo. As problemáticas enfren- tadas não são entes externos com poder próprio, com força inerente; eles não existem per si, eles são criados e alimenta- dos por nós mesmos. Eles não existem fora de nós, externa- mente, mas são primeiro cultivados internamente e somente 51 depois são projetados ao exterior e tomam a força que nós mesmos conferimos a eles. Quanto mais a pessoa cria e ali- menta seus problemas, mais ela sofrerá depois em decorrência deles. Por esse motivo, é essencial que você pare de criar seus pró- prios problemas. Busque em ti mesmo a causa dessa criação. Quando você fizer isso, um peso enorme sairá dos seus om- bros e a felicidade plena jorrará como “rios de água viva” do seu interior. Compreenda essa verdade, pare de alimentar a causa do problema e seja feliz. 52 A CURA DO CORPO NÃO É IMPORTANTE As pessoas ficam falando em cura do corpo, que a fé tem o poder de curar, que é preciso curar as doenças, etc, etc. No entanto, sabemos que a verdadeira cura não é a cura do corpo material. Vejamos… o que é o corpo material? É apenas um veículo grosseiro composto de matéria que nos permite viver tempora- riamente num universo permeado igualmente de matéria. Es- tamos na matéria apenas de forma temporária. Tudo o que vi- vemos aqui é passageiro. As pessoas vão viver apenas mais umas décadas e logo depois vão descartar esse agregado de materialidade. Algumas inclusive, muitas que estão lendo estas linhas, vão morrer bem antes de algumas décadas. Tendo isso em vista, será que o corpo material tem mesmo toda essa im- portância para ficarmos supervalorizando os benefícios da cura pela fé? O corpo material é apenas um empréstimo de Deus… um em- préstimo para que os seres possam realizar uma travessia pe- las veredas do mundo tridimensional. É como uma roupa que vestimos hoje… e amanhã já vamos vestir outra roupa. Se a roupa rasgar, não perdemos a nós mesmos, mas apenas tro- camos de roupa e nos revestiremos com outra roupagem. O envoltório material serve como campo de provas do espírito na matéria. Se o envoltório se quebra, pode ser substituído por outro, mas o espírito mesmo não é afetado pela perda deste envoltório e tampouco pelas enfermidades nele. Por que então as pessoas falam tanto em cura material, em cura do corpo físico? Simples… por que os espíritos que vêm a esse mundo ainda estão excessivamente aprisionados aos desejos deste mundo, aos apegos materiais, aos prazeres, às paixões, aos ganhos, às posses, etc. Ainda estamos muito ma- terializados e, por isso, nos identificamos com a roupa, ao invés de nos identificar com o ser verdadeiro. Mal as pessoas sabem que a identificação com o corpo material e com a personalidade é exatamente a causa de todo sofrimento, angústia e vazio que elas sentem. Tudo isso nos mostra que a verdadeira cura não é a cura do corpo. Uma criança que vive pulando os muros, vai rasgar sua 53 roupa novamente, e pode rasgar de novo e de novo…não im- porta quantas vezes ela tentar remendar sua roupa. O mesmo ocorre com os espíritos que vem a este plano. Não adianta cu- rar o corpo várias vezes se nossas atitudes, pensamentos, sen- timentos, apegos, paixões, posses, egoísmo, vaidade, luxúria etc, novamente criarão enfermidades diferentes no corpo ma- terial. Se a causa interior da doença não for curada, o corpo vai continuar absorvendo e somatizando os males da alma. Por outro lado, a alma é eterna… e o corpo é transitório. Será então que não é muito mais importante se concentrar na cura interior, na cura da alma, do que na cura do corpo? Vamos parar de perder tanto tempo tentando curar o corpo. A cura da alma, a cura interior, a cura das mazelas do espírito é infinitamente mais importante. O espírito vai ficar conosco pela eternidade… mas o corpo pode ser descartado em pouquís- simo tempo… antes mesmo do que você supõe. O que você vem fazendo para a cura de sua alma? 54 TRAVESSIA ESSENCIAL Os espíritos que se adiantaram no caminho não conhecem mais as preocupações. Preocupações são sentimentos huma- nos, do nível de inferioridade em que nos encontramos. Os es- píritos mais elevados não se preocupam com nada, pois sabem que Deus está em todas as coisas… e que nada se ganha e nada se perde nessa vida. Se nada podemos ganhar ou perder aqui na matéria… e se nada pode nos atingir aqui, porque so- mos espírito… o que há para se preocupar? Nada pode ser perdido nessa existência. Todos os medos hu- manos são causados por uma preocupação em se perder algo, em algo dar errado, em algo não sair como esperado, em não concretizarmos nossos sonhos. Mas o espírito que já se elevou sabe que a ilusão permeia esse mundo, que nada aqui é real, que tudo na vida material é um sonho… e que não vale a pena viver um sonho dentro de um sonho, mas que é muito melhor viver no real da vida cósmica. Se nada aqui é real… o que po- demos ser perdido? O que pode dar errado num sonho, se o sonho é apenas um sonho? No entanto, devemos viver na matéria para nos desprender- mos da matéria. Viver as paixões para nos libertarmos delas. Viver o sofrimento para colocar um fim ao sofrimento. Experi- mentar as dores e prazeres do mundo para transcendermos tudo isso. Por isso Jesus disse que os ladrões e as prostitutas iriam pre- ceder os fariseus no Reino de Deus, pois eles estavam vivendo intensamente o que eles são, enquanto os fariseus eram hipó- critas e não viviam o que eles pregavam. Não existe tempestade eterna… quanto mais forte a tempes- tade, mais rápido ela tende a desaparecer. O mesmo ocorre com nossa vida humana, quanto mais intensamente vivemos suas tribulações, maior a chance de nos elevarmos acima de tudo isso. Precisamos fazer a grande travessia no vale do mundo… Fa- zendo esta travessia chegaremos ao final do vale e poderemos sair dele. O problema é que a maioria dos espíritos não faz essa travessia essencial, mas se envolve tanto com o mundo 55 que acaba ficando preso aqui, esquece sua verdadeira essên- cia e passa a estar na existência material como sei fosse o fim da vida. O mundo humano não é o final da existência, mas um meio para se chegar a um outro nível de ser. 56 O SÁBIO QUE NÃO PERDOA Há mais de 200 anos num vilarejo, havia um homem que não gostava de um velho sábio que vivia nas proximidades. Certo dia,
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