Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
79 PATOLOGIA Unidade II 5 REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE Os transtornos de hipersensibilidade referem‑se a uma ativação excessiva ou inadequada do sistema imunológico. A ativação do sistema imunológico normalmente leva à produção de anticorpos e respostas de células T, que protegem o corpo contra o ataque de microrganismos, no entanto, ela provoca também lesão tecidual e doença. As alterações causadas por respostas imunológicas são denominadas, coletivamente, reações de hipersensibilidade. Historicamente, os transtornos de hipersensibilidade são subdivididos em quatro tipos: transtornos do tipo I, mediados por IgE; transtornos do tipo II, mediados por anticorpos; transtornos imunológicos do tipo III, mediados por complemento; e transtornos do tipo IV, mediados por células T1,7,10. Essas categorias diferem em termos do tipo da resposta imunológica que causa a lesão e a natureza e a localização do antígeno que é alvo da resposta. A alergia ao látex, por exemplo, pode decorrer de resposta de hipersensibilidade mediada por IgE ou mediada por células T. 5.1 Transtornos de hipersensibilidade imediata, tipo I As reações de hipersensibilidade do tipo I são mediadas por IgE, que começam rapidamente, com frequência em minutos do contato com um antígeno. Esses tipos de reações a antígenos com frequência são chamados de reações alérgicas. Na resposta alérgica, os antígenos, em geral, são denominados alérgenos, incluem‑se proteína do pólen, ácaros, fragmentos de pele e pelo de animais, alimentos e substâncias químicas, como a penicilina. A exposição ao alérgeno pode ocorrer por meio de inalação, ingestão, injeção ou contato cutâneo. Dependendo da porta de entrada, as reações do tipo I podem ocorrer como uma reação local ou atópica, que é meramente incômoda (por exemplo, rinite sazonal) ou muito debilitante (asma), ou como uma reação sistêmica e potencialmente fatal (anafilaxia). Dois tipos de células são importantes para a reação de hipersensibilidade do tipo I: células T auxiliares do tipo 2 (TH2) e mastócitos ou basófilos. Existem dois subgrupos da primeira (TH1 e TH2), que se desenvolvem do mesmo linfócito T CD4+ precursor. As TH1 diferenciam‑se na resposta a micróbios e estimulam a diferenciação de células B em plasmócitos produtores de IgM e IgG. A diferenciação das do tipo TH2 ocorre em resposta a alérgenos e helmintos (parasitas intestinais). Citocinas (IL‑4, IL‑5, IL‑13) secretadas por células TH2 estimulam a diferenciação de células B em plasmócitos produtores de IgE, atuam como fatores de crescimento para mastócitos e recrutam e ativam eosinófilos. 80 Unidade II Os mastócitos, que são células teciduais, e os basófilos, que são células sanguíneas, derivam de células precursoras hematopoéticas. Os mastócitos e os basófilos possuem grânulos que contêm mediadores que são liberados a fim de iniciar os primeiros eventos nas reações de hipersensibilidade do tipo I. Esses mediadores são pré‑formados nas células ou são ativados através de processamento enzimático. Os mastócitos normalmente encontram‑se distribuídos pelo tecido conjuntivo, em especial em áreas abaixo da pele e mucosas dos tratos respiratório, gastrointestinal e genitourinário e vasos sanguíneos e linfáticos adjacentes. Essa localização os deixa próximos de superfícies que são expostas a antígenos ambientais e parasitas. Os mastócitos em diferentes partes do corpo e até mesmo em um único local podem ter diferenças significativas no conteúdo e na sensibilidade de mediadores a agentes que produzem desgranulação de mastócitos. As reações de hipersensibilidade do tipo I começam com a sensibilização de mastócitos ou basófilos. Durante a sensibilizacão ou estágio de preparo (priming), anticorpos IgE específicos para o alérgeno aderem a receptores na superfície de mastócitos e de basófilos. Com a exposição subsequente, o alérgeno sensibilizante liga‑se à IgE associada à célula e desencadeia uma série de eventos que causam a desgranulação dos mastócitos ou dos basófilos sensibilizados, provocando a liberação de seus mediadores pré‑formados. Os mastócitos também são a fonte de produtos da membrana derivados de lipídios (por exemplo, prostaglandinas e leucotrienos) e citocinas que participam na resposta continuada ao alérgeno. Muitas reações de hipersensibilidade do tipo I, como a asma brônquica, apresentam duas fases bem distintas: • Uma resposta primária ou de fase inicial, caracterizada por vasodilatação, extravasamento vascular e contração de musculatura lisa. • Uma resposta secundária ou tardia, caracterizada por infiltração mais intensa dos tecidos por eosinófilos e outras células inflamatórias agudas e crônicas, além de destruição tissular na forma de lesão celular epitelial. A resposta primária ou de fase inicial em geral ocorre em torno de cinco a trinta minutos de exposição ao antígeno e decai em sessenta minutos. É mediada por desgranulação de mastócitos e liberação de mediadores pré‑formados. Esses mediadores incluem histamina, acetilcolina, adenosina, mediadores quimiotáticos e enzimas como quimase e tripsina, as quais provocam a geração de cininas. A histamina é um potente vasodilatador, que aumenta a permeabilidade de capilares e vênulas e provoca contração de musculatura lisa e constrição brônquica. A acetilcolina produz contração de musculatura lisa brônquica e dilatação de pequenos vasos sanguíneos. As cininas, que são um grupo de potentes peptídeos inflamatórios, precisam ser ativadas através de modificação enzimática. Uma vez ativados, esses mediadores peptídicos produzem vasodilatação e contração da musculatura lisa. A resposta secundária ou tardia ocorre em cerca de duas a oito horas após, e perdura alguns dias. Decorre da ação de mediadores lipídicos e citocinas envolvidos na resposta inflamatória. Os mediadores lipídicos derivam de fosfolipídios da membrana de mastócitos, que são degradados, formando 81 PATOLOGIA ácido araquidônico. Este, por sua vez, é o composto original a partir do qual os leucotrienos e as prostaglandinas são sintetizados, eles produzem respostas semelhantes à histamina e à acetilcolina, embora, comparativamente, seus efeitos sejam tardios e prolongados. Os mastócitos também produzem citocinas e fatores quimiotáticos que induzem a entrada de eosinófilos e leucócitos no local do contato com o alérgeno, contribuindo para a resposta inflamatória. Nesse momento, é importante observar que nem todas as respostas mediadas por IgE produzem desconforto e doença. A hipersensibilidade do tipo I, particularmente a resposta tardia, desempenha um papel de proteção no controle de infecções parasitárias. Os anticorpos IgE lesam diretamente as larvas desses parasitas por recrutarem células inflamatórias e provocarem citotoxicidade celular dependente de anticorpos. Esse tipo de reação de hipersensibilidade do tipo I é particularmente importante em países em desenvolvimento, nos quais um número significativo da população se encontra infestado por parasitas intestinais. Saiba mais Aprimore seu conhecimento sobre sensibilidade, alergia e intolerância alimentar no site do Ministério da Saúde: BRASIL. Ministério da Saúde. Conheça a diferença entre sensibilidade, alergia e intolerância alimentar. Blog da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2016. Disponível em: <http://www.blog.saude.gov.br/index.php/51274‑dia‑ mundial‑da‑alergia‑conheca‑a‑diferenca‑entre‑sensibilidade‑alergia‑e‑ intolerancia‑alimentar>. Acesso em: 11 jul. 2019. 5.1.1 Reações anafiláticas (sistêmicas) A anafilaxia é uma reação de hipersensibilidade sistêmica potencialmente fatal caracterizada por edema disseminado, choque vascular secundário a vasodilatação e dificuldade respiratória.Decorre da presença de antígeno introduzido por injeção, picada de inseto ou absorção através da superfície epitelial da pele ou da mucosa gastrointestinal. O nível de gravidade depende do nível de sensibilização. Até mesmo pequenas quantidades de antígeno podem ser o suficiente para causar anafilaxia em uma pessoa muito sensível. Dentro de minutos após a exposição, ocorre o desenvolvimento de prurido, urticária e eritema cutâneo, sucedidos logo depois por broncoespasmo. 82 Unidade II Antígeno CD4 IL‑4 IL‑3, IL‑5 Célula B Anticorpo MastócitoRecrutamento de eosinófilos Sensibilização de mastócito Liberação de citocinas Recrutamento e ativação de células inflamatórias Fosfolipídios da membrana Ácido araquidônico Prostaglandinas Leucotrienos Desgranulação e liberação de mediadores Resposta inicial primária Vasodilatação Lesão vascular Espasmo de músculo liso Resposta tardia secundária Edema de mucosa Secreção de muco Infiltração de leucócitos Lesão epitelial Broncoespasmo Plasmócito secretor de IgE TH2 Figura 29 – Reação de hipersensibilidade mediada por IgE do tipo I A estimulação da diferenciação de células B por uma célula T auxiliar do tipo 2 (TH2) estimulada por antígeno leva à produção de plasmócitos de IgE e à sensibilização de mastócitos. A ligação subsequente do antígeno produz desgranulação do mastócito sensibilizado com liberação de mediadores pré‑formados, levando a uma resposta primária ou de fase inicial. O recrutamento de eosinófilos por células T (TH2), além da liberação de citocinas e fosfolipídios da membrana a partir do mastócito, acarreta uma resposta secundária ou tardia. 83 PATOLOGIA Saiba mais Para saber mais sobre anafilaxia, consulte o site da Sociedade Brasileira de Pediatria. Disponível em: SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (SBP). Anafilaxia. Guia prático de atualização. Rio de Janeiro: Departamento de Alergia, 2016. Disponível em: <https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/documentos_cientificos/ Alergia‑GuiaPratico‑Anafilaxia‑Final.pdf>. Acesso em: 11 jul. 2019. 5.2 Transtornos mediados por anticorpos, tipo II As reações de hipersensibilidade do tipo II são mediadas por anticorpos IgG ou IgM direcionados contra antígenos‑alvo sobre superfícies celulares ou em tecidos conjuntivos. Os antígenos podem ser endógenos, presentes nas membranas das células corporais, ou exógenos, que são adsorvidos sobre a superfície da membrana. Existem três tipos diferentes de mecanismo mediado por anticorpos envolvidos nas reações do tipo II: opsonização e fagocitose mediada por complemento e por receptor de anticorpos, inflamação mediada por complemento e por receptor de anticorpos e disfunção celular por anticorpos. 5.2.1 Destruição celular mediada por complemento e anticorpos A deleção de células atingidas por anticorpos pode ocorrer por meio do sistema complemento ou por meio de citotoxicidade celular dependente de anticorpos (ADCC), que não exige o complemento. A destruição celular mediada por complemento pode ocorrer porque as células são recobertas (opsonizadas) por moléculas que as tornam atrativas à fagocitose ou por causa da formação de proteínas de ataque à membrana que rompem a integridade da membrana celular e provocam a lise celular. Com a destruição da ADCC, as células recobertas com níveis baixos de anticorpos do tipo IgG são destruídas por diversas células efetoras que se ligam a seu alvo por meio de seus receptores para IgG, e a lise celular ocorre sem fagocitose. Os exemplos de destruição celular mediada por anticorpos incluem reações de transfusão de sangue incompatível, doença hemolítica do recém‑nascido devido à incompatibilidade de ABO ou de Rh e determinadas reações medicamentosas. Nesse último caso, a ligação de certos agentes químicos ou de metabólitos desses agentes à superfície de eritrócitos ou de leucócitos desencadeia uma resposta de anticorpos que lisa a célula recoberta pelo agente químico. As reações medicamentosas líticas podem produzir anemia transitória, leucopenia ou trombocitopenia, que são corrigidas pela remoção do agente agressor. 84 Unidade II Anticorpo Receptor FC Ativação do complemento Opsonização, MAC, fagocitose ↑ Produção e liberação de hormônio da tireoide Receptor de TSH Anticorpo contra o receptor de TSH Terminação nervosaAcetilcolina (ACh) Anticorpo contra o receptor de ACh Receptor de ACh Músculo Anticorpo inibe ligação de neurotransmissor a receptor Célula epitelial da tireoide Inflamação e lesão tissular Ativação do complemento Membrana celular Superfície celular ou anticorpo ECM Leucócitos Receptor C3b A) C) B) D) Figura 30 – Reações de hipersensibilidade do tipo II decorrentes da ligação de anticorpos a antígenos de superfície normais ou alterados: (A) opsonização e fagocitose mediada por complemento ou por receptor de anticorpo, ou lise celular através de complexo de ataque à membrana (MAC); (B) inflamação mediada por complemento e receptor de anticorpo decorrente do recrutamento e da ativação de leucócitos produtores de inflamação (neutrófilos e monócitos); (C) disfunção celular mediada por anticorpos, em que o anticorpo contra o receptor de hormônio tireoestimulante (TSH) aumenta a produção de hormônio da tireoide; e (D) anticorpo contra o receptor de acetilcolina inibe a ligação do receptor do neurotransmissor na miastenia grave 85 PATOLOGIA Observação O revestimento de um antígeno pelo anticorpo ou complemento para melhorar a ligação é denominado opsonização. A endocitose mediada por receptores é desencadeada por opsonização e ligação do agente para fagocitar receptores da superfície celular. 5.2.2 Inflamação mediada por complemento e anticorpos Quando os anticorpos são depositados nos tecidos extracelulares, como membranas basais e matriz, a lesão decorre de inflamação, e não de fagocitose ou de lise celular. Nesse caso, os anticorpos depositados ativam o complemento, gerando produtos intermediários quimiotáticos que recrutam e ativam neutrófilos e monócitos. Os leucócitos ativados liberam substâncias lesivas, como enzimas e intermediários de oxigênio reativos, que resultam em inflamação e lesão tissular. A inflamação mediada por anticorpos é responsável pela lesão tissular vista em algumas formas de glomerulonefrite, rejeição vascular em enxertos de órgãos e outras doenças. Na síndrome de Goodpasture, por exemplo, o anticorpo se liga a um componente estrutural importante das membranas basais pulmonares e glomerulares, provocando hemorragia pulmonar e glomerulonefrite. 5.2.3 Disfunção celular mediada por anticorpos Em algumas reações do tipo II, os anticorpos que se ligam a receptores de células‑alvo específicos não provocam a morte celular, e sim uma alteração na função da célula. Na doença de Graves, por exemplo, autoanticorpos direcionados contra os receptores de hormônio tireoestimulante (TSH) sobre células da tireoide estimulam a produção de tiroxina, provocando hipertireoidismo. Por outro lado, na miastenia grave, autoanticorpos contra os receptores de acetilcolina sobre placas terminais neuromusculares ou bloqueiam a ação da acetilcolina ou medeiam a internalização ou a destruição de receptores, levando à diminuição da função neuromuscular. 5.3 Transtornos mediados por imunocomplexos, tipo III Os transtornos alérgicos por imunocomplexos são mediados pela formação de complexos insolúveis antígeno‑anticorpo, fixação de complemento e inflamação localizada. Os imunocomplexos formados na circulação produzem lesão quando entram em contato com o revestimento vascular ou são depositados nos tecidos, como glomérulo renal, vênulas cutâneas, pulmão e sinóvia articular. Umavez depositados, os imunocomplexos desencadeiam uma resposta inflamatória por meio da ativação de complemento, provocando, desse modo, o recrutamento quimiotático de neutrófilos e outras células inflamatórias. A ativação dessas células inflamatórias por imunocomplexos e complemento, acompanhada pela liberação de mediadores inflamatórios potentes, é diretamente responsável pela lesão. 86 Unidade II Endotélio vascular Anticorpo Antígenos Formação de complexos antígeno‑anticorpo Atração de células inflamatórias Necrose fibrinoide Mediadores que lesam tecido Ativação de complemento Deposição de imunocomplexos 1 3 2 Figura 31 – Reações de imunocomplexos do tipo III envolvendo imunoglobulinas IgG ou IgM ativadas por complemento com (1) formação de imunocomplexos no sangue que são (2) depositados nos tecidos; a ativação do complemento no local da deposição dos imunocomplexos (3) leva à atração de leucócitos responsáveis por lesão vascular e tecidual As reações do tipo III são responsáveis pela vasculite encontrada em determinadas doenças autoimunes, como LES ou lesão renal associada a glomerulonefrite aguda. Os transtornos por imunocomplexos do tipo III podem ser generalizados se eles forem formados na circulação e depositados em muitos órgãos, ou se estiverem localizados em um órgão determinado, como rim, articulações ou pequenos vasos sanguíneos da pele. 5.3.1 Transtornos por imunocomplexos sistêmicos A doença do soro é um transtorno sistêmico por imunocomplexos, que é desencadeado pelo depósito de complexos insolúveis antígeno‑anticorpo (IgM, IgG e, ocasionalmente, IgA) em vasos sanguíneos, articulações e tecidos cardíaco e renal. Os complexos depositados ativam o complemento, aumentam a permeabilidade vascular e recrutam células fagocitárias; todos esses fatores podem promover lesão tecidual focal e edema. O termo doença do soro foi cunhado pela primeira vez para descrever uma síndrome que consista em rash, linfadenopatia, artralgias e, ocasionalmente, distúrbios neurológicos e que se manifestava sete dias ou mais após injeções de antissoro equino (tétano). Embora essa terapia não seja mais usada atualmente, o nome permanece. Atualmente, as causas mais comuns desse transtorno alérgico são antibióticos (especialmente a penicilina) e outros agentes químicos, diversos alimentos e venenos de insetos. Os sinais e sintomas incluem urticária, erupção cutânea em áreas ou generalizada, edema extenso (em geral, em face, pescoço e articulações) e febre. Na maioria dos casos, a agressão é temporária, 87 PATOLOGIA e os sintomas sofrem resolução em alguns dias. No entanto, uma exposição prolongada e contínua ao antígeno sensibilizador pode provocar lesão irreversível. Em indivíduos previamente sensibilizados, formas graves e até mesmo fatais de doença do soro podem ocorrer imediatamente ou alguns dias após o agente químico ou o soro sensibilizador ter sido administrado. O tratamento da doença do soro, em geral, é direcionado para a remoção do antígeno sensibilizante e a promoção do alívio dos sintomas. Para tanto, podem ser necessários aspirina, para a dor articular, e anti‑histamínicos, para o prurido. A epinefrina ou algum corticosteroide sistêmico pode ser usado em reações graves. 5.3.2 Reações localizadas de imunocomplexos A reação de Arthus é uma reação de imunocomplexo localizada, associada à necrose tecidual discreta, geralmente na pele. É causada pela exposição repetida de um local a um antígeno, onde existem níveis elevados de anticorpos circulantes pré‑formados. Na maioria dos casos, os sintomas se manifestam no intervalo de uma hora e alcançam um pico em seis a 12 horas após a exposição. Tipicamente, as lesões são avermelhadas, altas e inflamadas. Com frequência, formam‑se úlceras no centro da lesão devido à liberação de citocinas inflamatórias. O mecanismo da reação de Arthus não é completamente compreendido, mas acredita‑se ser o resultado do contato localizado do antígeno injetado com anticorpos IgG na circulação. Essa reação é o protótipo para o desenvolvimento de vasculite localizada associada a determinadas reações a medicamentos em seres humanos. 5.4 Transtornos de hipersensibilidade celular, tipo IV As reações de hipersensibilidade do tipo IV envolvem respostas imunológicas mediadas por células, e não por anticorpos. A imunidade mediada por células é o principal mecanismo de resposta a diversos microrganismos, incluindo patógenos intracelulares, como Mycobacterium tuberculosis e vírus, além de agentes extracelulares, como fungos, protozoários e parasitas. Também pode provocar morte celular e lesão tecidual em resposta a antígenos químicos (dermatite de contato) ou autoantígenos (autoimunidade). As reações de hipersensibilidade do tipo IV, que são mediadas por linfócitos T especificamente sensibilizados, podem ser divididas em dois tipos básicos: citotoxicidade celular direta e hipersensibilidade do tipo tardio. 5.4.1 Citotoxicidade celular direta Na citotoxicidade celular direta, linfócitos T citotóxicos CD8+ (CTLs) destroem diretamente células‑alvo que exprimem peptídeos derivados de antígenos citossólicos que são apresentados associados a moléculas de MHC classe I. Nas infecções virais, as respostas de CTL podem provocar lesão tissular por destruírem células‑alvo infectadas mesmo se o vírus, por si só, não apresentar efeitos citotóxicos. Alguns vírus lesam diretamente células infectadas e são denominados citopáticos, ao passo que outros, não citopáticos, não o fazem. Como não conseguem diferenciar entre vírus citopáticos e não citopáticos, os CTLs praticamente destroem todas as células infectadas, independentemente de a infecção ser lesiva. 88 Unidade II Em determinadas formas de hepatite, por exemplo, a destruição de hepatócitos ocorre pela resposta de CTL do hospedeiro, e não pelo vírus. 5.5 Transtornos de hipersensibilidade do tipo tardio As reações de hipersensibilidade do tipo tardio (DTH) ocorrem em resposta a antígenos proteicos solúveis e envolvem primariamente células apresentadoras de antígenos, como macrófagos e células T auxiliares CD4+ do tipo TH1. Durante a reação, as células TH1 são ativadas e passam a secretar um conjunto de citocinas que recrutam e ativam monócitos, linfócitos, fibroblastos e outras células inflamatórias. Essas respostas mediadas por células T precisam da síntese de moléculas efetoras, e levam entre 24 a 72 horas para se desenvolver, motivo pelo qual são denominadas transtornos de hipersensibilidade “do tipo tardio”. Antígeno Célula T CD8+ Célula‑alvo A) B) Toxicidade celular direta Resposta de hipersensibilidade tardia Célula apresentadora de antígeno Célula T CD4+ primed [preparada] Célula T CD4+ ativada Citocinas Figura 32 – Reações celulares de hipersensibilidade do tipo IV, que incluem (A) citotoxicidade celular direta, na qual células T CD8+ destroem células‑alvo que sustentam antígeno; e (B) reações de hipersensibilidade tardia, em que células CD4+ pré‑sensibilizadas liberam citocinas que lesam células 89 PATOLOGIA A resposta de DTH mais bem conhecida é a reação ao teste da tuberculina, em que tuberculina inativada ou derivado proteico purificado é injetado sob a pele. No indivíduo sensibilizado por infecção pregressa, uma área localizada de vermelhidão e induração desenvolve‑se em oito a 12 horas, alcançando pico em 24 a 72 horas. A reação de tuberculina caracteriza‑se por acúmulo perivascular de células TH1 e, num grau menor, de macrófagos. A secreção local de citocinas por essas células inflamatórias mononucleares leva ao aumento da permeabilidade microvascular com vermelhidão e tumefação locais. A sequência de eventos na DTH, conforme demonstradopela reação da tuberculina, tem início na primeira exposição aos bacilos da tuberculose. As células TH1 reconhecem os antígenos peptídicos dos bacilos tuberculosos associados aos antígenos MHC classe II na superfície de monócitos e células apresentadoras de antígeno que processaram os antígenos micobacterianos. Esse processo acarreta a formação de células de memória TH1 sensibilizadas que permanecem durante anos na circulação. A injeção subsequente de tuberculina em tal indivíduo resulta na secreção de citocinas de células TH1, que, em última análise, são responsáveis pela resposta de TH1. Ou seja, a imunidade contra a tuberculose é mediada por células. Além de seu papel benéfico de proteção, a DTH pode ser uma causa de doença, incluindo dermatite alérgica de contato. Lembrete A imunidade contra a tuberculose é mediada por células. 6 PROCESSO INFLAMATÓRIO E REPARAÇÃO TECIDUAL 6.1 Inflamação A inflamação é uma reação de defesa do organismo e de seus tecidos a estímulos nocivos. O objetivo é reparar o dano, ou pelo menos limitá‑lo, e também remover a causa, por exemplo, bactérias ou corpos estranhos. As causas de uma inflamação podem ser: • microrganismos, como bactérias, vírus, fungos ou parasitas; • corpos estranhos (proteínas estranhas, por exemplo, pólen, amianto); ou • destruição tecidual com formação de restos de tecido, por exemplo, por meio de danos mecânicos, tais como cortes, arranhões ou corpos estranhos; compostos químicos, tais como ácidos ou álcalis; influências físicas, tais como frio, calor, radiação (UV, raio X, radiotividade); e causas endógenas, como reações autoimunes ou cristais de substâncias precipitados no corpo (ácido úrico, oxalato de cálcio, fosfato de cálcio e colesterol). 90 Unidade II O processo inflamatório é uma resposta do corpo que se destina a eliminar a causa inicial de lesão celular, remover o tecido danificado e produzir um novo. O processo ocorre por meio da destruição, da digestão enzimática, da compartimentalização ou de qualquer outro modo de neutralizar os agentes nocivos. Esses processos são fundamentais para os eventos que acabarão por cicatrizar o tecido danificado. A inflamação está relacionada com os processos de reparação, que substituem o tecido danificado ou preenchem os defeitos residuais com tecido cicatricial fibroso. Embora tenha sido descrita pela primeira vez há mais de dois mil anos, a resposta inflamatória tem sido objeto de constantes estudos até os dias atuais. Hoje, sabe‑se que a patogênese de várias doenças está ligada à resposta inflamatória. Nesses casos, a cascata inflamatória é realizada de maneira excessivamente cuidadosa, danificando vários tipos de tecido e manifestando‑se na forma de distúrbios autoimunes, como a artrite reumatoide. A inflamação é a reação de tecidos vascularizados a uma lesão. Ela se caracteriza pela ação de mediadores inflamatórios, como os do sistema complemento, o fator de necrose tumoral alfa, o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), neutrófilos, assim como pelo movimento de líquidos. As doenças inflamatórias são nomeadas acrescentando‑se o sufixo ‑ite ao órgão ou sistema afetado. Por exemplo, apendicite se refere à inflamação do apêndice; pericardite, à inflamação do pericárdio; e neurite, à inflamação de um nervo. Expressões mais descritivas do processo inflamatório podem indicar se o processo é agudo ou crônico e que tipo de exsudato foi formado. Os eventos clássicos de um processo inflamatório têm sido transmitidos ao longo do tempo. No primeiro século d.C., a reação local da lesão foi descrita em termos atualmente conhecidos como sinais cardinais do processo inflamatório (sinais flogísticos). Estes são rubor (vermelhidão), tumefação (inchaço), calor e dor. No século 2 d.C., foi incluído um quinto sinal cardinal, functio laesa (perda de função). Além dos sinais clássicos que aparecem no local da lesão, podem ocorrer manifestações sistêmicas (por exemplo, febre) à medida que mediadores químicos (por exemplo, citocinas) produzidos no local da inflamação entram no sistema circulatório. A grande variedade de manifestações sistêmicas durante um processo inflamatório agudo é conhecida como resposta de fase aguda. O grau da resposta inflamatória pode ser influenciado por vários fatores, como a duração da lesão, o tipo de agente estranho, o grau de lesão e o microambiente. O processo inflamatório pode ser dividido em dois tipos: agudo e crônico. O agudo tem curta duração, variando de alguns minutos até vários dias, e caracteriza‑se pela exsudação de líquidos e componentes do plasma e pela emigração de leucócitos, predominantemente neutrófilos, para os tecidos extravasculares. O processo inflamatório crônico tem duração mais longa, que varia de um dia até anos, e está associado à presença de linfócitos e macrófagos, à proliferação de vasos sanguíneos, à fibrose e à necrose tecidual. Frequentemente, essas formas básicas de inflamação se sobrepõem, e muitos fatores podem influenciar seu curso. 91 PATOLOGIA Sinais cardinais Calor Fenômenos vasculares Fenômenos irritativos Agente inflamatório Fenômenos exsudativos Fe nô m en os a lte ra tiv os Fenômenos resolutivos Fenômenos reparativos Dor Rubor Tumor Cura por reabsorção do exsudato e regeneração Cura por cicatrização M ed ia do re s Inflamação crônica Inflamação crônica persistente Figura 33 – Fenômenos da inflamação e sua relação com os sinais cardinais Lembrete O objetivo da inflamação é defender o organismo e seus tecidos de estímulos nocivos, como, por exemplo, bactérias ou corpos estranhos, bem como reparar o dano ou, pelo menos, limitá‑lo. 6.1.1 Inflamação aguda O processo inflamatório agudo é uma resposta imediata contra um agente nocivo. A resposta, que serve para controlar e eliminar células alteradas, microrganismos e antígenos, ocorre em duas fases: • Fase vascular, que resulta em aumento do fluxo sanguíneo e alterações nos pequenos vasos da microcirculação. • Fase celular, que resulta na migração de leucócitos da circulação e sua ativação para eliminar o agente nocivo. 6.1.1.1 Células de inflamação O processo inflamatório agudo envolve duas fases principais: vascular e celular. Diversos tipos de tecidos e células estão envolvidos nessas fases, bem como células endoteliais que revestem os vasos sanguíneos, leucócitos que circulam no sangue, células do tecido conjuntivo (mastócitos, fibroblastos, macrófagos e linfócitos) e componentes da matriz extracelular (MEC). A matriz extracelular é composta por proteínas fibrosas (colágeno e elastina), glicoproteínas adesivas e proteoglicanos. No nível bioquímico, 92 Unidade II os mediadores inflamatórios, agindo em conjunto ou em sequência, amplificam a resposta inicial e influenciam sua evolução por meio da regulação das respostas vasculares e celulares subsequentes. 6.1.1.2 Fases da inflamação aguda As alterações vasculares que ocorrem no processo inflamatório envolvem arteríolas, capilares e vênulas da microcirculação. Essas alterações se iniciam logo após a lesão e se caracterizam por vasodilatação, alterações no fluxo sanguíneo, aumento da permeabilidade vascular e extravasamento de líquido nos tecidos extravasculares. A vasodilatação, uma das primeiras manifestações do processo inflamatório, começa depois de uma constrição transitória das arteríolas, que dura alguns segundos. A vasodilatação envolve primeiramente as arteríolas e, em seguida, resulta na abertura dos leitos capilares na região afetada. Como resultado, a área se torna congestionada, causando a vermelhidão (eritema) e o calor associados a um processo de inflamação aguda. A vasodilataçãoé induzida pela ação de vários mediadores, como a histamina e o ácido nítrico. A vasodilatação é rapidamente seguida por aumento da permeabilidade da microcirculação, com o transbordamento de um líquido rico em proteína (exsudato) para os espaços extravasculares. A perda de líquido ocasiona aumento da concentração de constituintes do sangue (hemácias, leucócitos, plaquetas e fatores de coagulação), estagnação do fluxo e coagulação do sangue no local da lesão. Isso ajuda a localizar a disseminação de microrganismos infecciosos. A perda de proteínas plasmáticas reduz a pressão osmótica intracapilar e aumenta a pressão osmótica do líquido intersticial, de modo que este se desloque para os tecidos e produza tumefação (i.e., edema), dor e comprometimento funcional, que são os sinais cardinais do processo inflamatório agudo. A exsudação de líquido para os espaços teciduais também serve para diluir o agente agressor. O aumento da permeabilidade característico de um processo inflamatório agudo resulta da formação de lacunas endoteliais nas vênulas da microcirculação. A ligação de mediadores químicos a receptores endoteliais provoca a contração das células endoteliais e a separação das junções intercelulares. Esse é o mecanismo mais comum de derrame vascular e é induzido pela ação de histamina, bradicinina, leucotrienos e muitas outras classes de mediadores químicos. Arteríola Vênula Vasoconstrição Dilatação da vênula Dilatação da arteríola Exsudato VasodilataçãoA) B) Figura 34 – Inflamação aguda (A) e fase vascular (B) 93 PATOLOGIA 6.1.1.3 Fase vascular Na fase vascular do processo inflamatório agudo ocorrem alterações nos pequenos vasos sanguíneos no local da lesão. Ela começa com vasoconstrição momentânea, rapidamente seguida por vasodilatação. A vasodilatação envolve as arteríolas e vênulas, com consequente aumento do fluxo sanguíneo capilar, causando calor e vermelhidão, dois dos sinais cardinais do processo inflamatório. Acompanha‑se aumento na permeabilidade vascular, com a saída de um líquido rico em proteína (exsudato) para os espaços extravasculares. A perda de proteínas reduz a pressão osmótica capilar e aumenta a pressão osmótica intersticial. Isso, juntamente ao aumento da pressão capilar, provoca fluxo de líquido e seu acúmulo no espaço intersticial, produzindo edema, dor e comprometimento funcional, que representam os outros sinais cardinais do processo inflamatório agudo. À medida que o líquido se desloca para fora dos vasos, ocorre estagnação do fluxo sanguíneo e coagulação. Isso ajuda a localizar a disseminação de agentes infecciosos. 6.1.1.4 Fase celular (marginação, adesão e transmigração de leucócitos) A fase celular do processo inflamatório agudo envolve a mobilização de leucócitos, principalmente neutrófilos, para o local da inflamação, de modo que possam exercer sua função normal de defesa do hospedeiro. O deslocamento e a ativação dos leucócitos podem ser divididos nas seguintes etapas: adesão e marginação, transmigração e quimiotaxia. O recrutamento de leucócitos para as vênulas pré‑capilares, que deixam a circulação, é facilitado pela lentificação do fluxo sanguíneo e pela marginação ao longo da superfície vascular. A adesão e a transmigração de leucócitos do espaço vascular para o tecido extravascular são facilitadas pelas moléculas de adesão complementares (por exemplo, selectinas, integrinas) nos leucócitos e nas superfícies endoteliais. Depois do extravasamento, os leucócitos migram através dos tecidos em direção ao local da lesão por quimiotaxia ou locomoção orientada ao longo de um gradiente químico. Fluxo sanguíneo Rolamento TransmigraçãoAdesão firme (Selectinas) Capilar Neutrófilo Neutrófilo 2 Transmigração 3 Quimiotaxia 1 Marginação Bactérias (PCAM‑1 etc.)(Integrinas β1 e β2) Células endoteliais Figura 35 – A fagocitose envolve três etapas distintas: (1) reconhecimento e aderência; (2) englobamento; e (3) morte intracelular 94 Unidade II 6.1.1.5 Quimiotaxia É o processo dinâmico e guiado por energia de migração celular direcionada. Assim que os leucócitos deixam os capilares, eles vagam através dos tecidos orientados por um gradiente de quimioatratores secretados, como quimiocinas, resíduos bacterianos e celulares e fragmentos de proteínas produzidos pela ativação do sistema complemento (por exemplo, C3a, C5a). As quimiocinas, subgrupo importante de citocinas quimiotáticas, são pequenas proteínas que orientam o tráfego de leucócitos durante os estágios iniciais do processo inflamatório ou lesão. Diversas células imunológicas (por exemplo, macrófagos) e não imunológicas secretam esses quimioatratores para assegurar o movimento dirigido de leucócitos até o local de infecção. 6.1.1.6 Ativação de leucócitos e fagocitose Durante a fase final da resposta celular, monócitos, neutrófilos e macrófagos dos tecidos são ativados para englobar e degradar as bactérias e os fragmentos celulares em um processo denominado fagocitose. Ela é iniciada pelo reconhecimento e pela ligação de partículas por receptores específicos na superfície de células fagocíticas. Essa ligação é essencial para capturar o agente, o que desencadeia o englobamento e ativa o potencial de matar de uma célula. Os micróbios podem se ligar diretamente à membrana de células fagocíticas por diferentes tipos de receptores de reconhecimento de padrão (por exemplo, receptores toll‑like e receptores de manose), ou indiretamente, por intermédio de receptores que reconhecem micróbios revestidos por lectinas de ligação com carboidratos, anticorpos ou complemento. O revestimento de um antígeno pelo anticorpo ou complemento para melhorar a ligação é denominado opsonização. A endocitose mediada por receptores é desencadeada por opsonização e ligação do agente para fagocitar receptores da superfície celular. A endocitose é realizada por extensões citoplasmáticas (pseudópodes) que cercam e encerram a partícula em uma vesícula fagocítica delimitada por membrana, ou fagossomo. No local da inflamação, os produtos do dano tecidual desencadeiam uma série de respostas leucocitárias, incluindo fagocitose e morte celular. 95 PATOLOGIA Fagossomo Fagolisossomo Receptor Fc Fc 1 2 3 4 C3b Receptor C3b Figura 36 – A opsonização dos micróbios: (1) pelo fator de complemento C3b e anticorpo facilita o reconhecimento pelo neutrófilo receptor de C3b e anticorpo Fc; (2) a ativação do receptor desencadeia a sinalização intracelular e a montagem de actina no neutrófilo, levando à formação de pseudópodes que englobam o micróbio em um fagossomo; (3) este, então, se funde com um lisossomo intracelular para formar um fagolisossomo, no qual enzimas lisossomais e radicais de oxigênio (4) são liberados para matar e digerir o micróbio 6.1.1.7 Células endoteliais Constituem o revestimento epitelial com espessura de uma única célula dos vasos sanguíneos. Elas produzem agentes antiplaquetários e antitrombóticos que mantêm a permeabilidade do vaso, assim como vasodilatadores e vasoconstritores que regulam o fluxo sanguíneo. As células endoteliais também são fundamentais para a resposta inflamatória e apresentam alterações significativas em pessoas com doenças inflamatórias. As células endoteliais funcionais fornecem uma barreira de permeabilidade seletiva para estímulos inflamatórios exógenos (microbianos) e endógenos; regulam o extravasamento de leucócitos pela expressão de moléculas de adesão celular e receptores; contribuem para a regulação e a modulação da resposta imune pela síntese e liberação de mediadores inflamatórios; e regulam a proliferação de células imunes pela secreção de fatores estimuladores de colôniashematopoéticas (CSF, colony‑stimulating factor). As células endoteliais também participam do processo de reparo que acompanha a inflamação por meio da produção de fatores de crescimento que estimulam a angiogênese (formação de novos vasos sanguíneos) e a síntese de MEC. As células endoteliais circulantes podem ser utilizadas como indicador da tendência de disfunção vascular em pessoas com lúpus eritematoso sistêmico (LES), mesmo que sem doença cardiovascular diagnosticada. 6.1.1.8 Plaquetas Plaquetas ou trombócitos são fragmentos de células circulantes no sangue envolvidos nos mecanismos celulares de hemostasia primária. Plaquetas ativadas também liberam vários mediadores 96 Unidade II inflamatórios potentes, aumentando, assim, a permeabilidade vascular e alterando as propriedades quimiotáticas, adesivas e proteolíticas das células endoteliais. Quando uma plaqueta sofre ativação, mais 300 proteínas são liberadas. Embora apenas uma proporção relativamente pequena tenha sido identificada, parece que um número significativo são mediadores inflamatórios. A associação entre plaquetas e doenças inflamatórias é realçada pelo número de processos patológicos inflamatórios (por exemplo, aterosclerose, enxaqueca, LES) comprovadamente associados à ativação plaquetária. 6.1.1.9 Neutrófilos e monócitos (macrófagos) São leucócitos fagocíticos existentes em grande número e são evidenciados no local da inflamação em um intervalo de poucas horas. Os dois tipos de leucócitos expressam diversos receptores de superfície e moléculas envolvidas na sua ativação. O neutrófilo é o primeiro fagócito a chegar ao local da inflamação, geralmente em um intervalo de noventa minutos após a lesão. Esses leucócitos têm núcleos divididos em três a cinco lobos. Portanto, são frequentemente chamados de neutrófilos polimorfonucleares (PMN) ou neutrófilos segmentados. Um leucócito identificado por grânulos citoplasmáticos distintivos é chamado granulócito. Os grânulos citoplasmáticos dos granulócitos, que resistem à coloração e continuam a apresentar cor neutra, contêm tecido morto, enzimas e material antibacteriano utilizados na destruição de micróbios que foram engolfados. Os neutrófilos são capazes de produzir oxigênio (peróxido de hidrogênio) e produtos nitrogenados (óxido nítrico [NO]), que auxiliam na destruição dos resíduos engolfados pela célula fagocítica. O número de neutrófilos no sangue muitas vezes aumenta substancialmente durante um processo inflamatório, especialmente com infecções bacterianas. Após serem liberados da medula óssea, os neutrófilos circulantes têm vida útil de aproximadamente dez horas, portanto precisam ser constantemente substituídos para que a contagem permaneça adequada. Isso exige aumento de leucócitos em circulação, condição chamada leucocitose, frequentemente elevada quando há infecções bacterianas e lesão tecidual. Com a demanda excessiva de fagócitos, formas imaturas de neutrófilos são liberadas da medula óssea. Estas, muitas vezes, são chamadas de bastões porque têm o núcleo em formato de ferradura. Monócitos circulantes, que têm um único núcleo em forma de rim e são os maiores leucócitos circulantes, constituem de 3% a 8% da contagem de leucócitos do sangue. Os monócitos são liberados da medula óssea para agir como macrófagos. As células mononucleares chegam ao local da inflamação logo depois dos neutrófilos e desempenham suas funções fagocíticas durante vários dias. Monócitos e macrófagos produzem potentes mediadores vasoativos, incluindo prostaglandinas e leucotrienos, fator de ativação plaquetária (FAP), citocinas inflamatórias e fatores de crescimento que promovem a regeneração dos tecidos. Os macrófagos englobam partículas maiores e uma quantidade maior de material estranho do que os neutrófilos. Esses fagócitos de vida mais longa ajudam a destruir o agente causador, auxiliam nos processos de sinalização de imunidade, servem para eliminar o processo 97 PATOLOGIA inflamatório e contribuem para a iniciação dos processos de cicatrização. Também desempenham papel importante no processo inflamatório crônico, no qual podem rodear e cercar materiais estranhos que não podem ser digeridos. 6.1.1.10 Eosinófilos, basófilos e mastócitos Eosinófilos, basófilos e mastócitos produzem mediadores lipídicos e citocinas que induzem o processo inflamatório. Embora esses três tipos de células apresentem características específicas, todos contêm grânulos citoplasmáticos que induzem o processo inflamatório. São particularmente importantes nos casos de inflamação associada a reações de hipersensibilidade imediata e distúrbios alérgicos. Os eosinófilos circulam no sangue e são recrutados para os tecidos, de modo semelhante aos neutrófilos. A quantidade desses granulócitos aumenta no sangue durante reações alérgicas e infecções parasitárias. Os grânulos de eosinófilos, que se tingem de vermelho com o corante ácido de eosina, contêm uma proteína altamente tóxica para vermes parasitas grandes que não podem ser fagocitados. Também desempenham papel importante nas reações alérgicas por meio do controle da liberação de mediadores químicos específicos. Basófilos são granulócitos sanguíneos semelhantes estrutural e funcionalmente aos mastócitos do tecido conjuntivo. São derivados de células progenitoras da medula óssea e circulam no sangue. Os grânulos dos basófilos, que se tingem de azul com um corante básico, contêm histamina e outros mediadores bioativos de inflamação. Tanto basófilos quanto mastócitos se ligam a um anticorpo, a imunoglobulina E (IgE), secretada por células do plasma por meio de receptores na sua superfície celular. A ligação com IgE provoca a liberação de histamina e de agentes vasoativos dos grânulos dos basófilos. Os mastócitos derivam das mesmas células‑tronco hematopoéticas que os basófilos, mas não se desenvolvem até que deixam a circulação e se alojam nos tecidos. A ativação dos mastócitos resulta na liberação do conteúdo pré‑formado de seus grânulos (histamina, proteoglicanos, proteases e citocinas como o fator de necrose tumoral alfa [TNF‑α] e a interleucina [IL]‑16); na síntese de mediadores lipídicos derivados de precursores da membrana celular (metabólitos do ácido araquidônico, como prostaglandinas e FAP); e na estimulação da síntese de citocinas e quimiocinas por outras células inflamatórias como monócitos e macrófagos. Os mastócitos estão envolvidos nas reações acionadas por IgE e no combate a infecções por helmintos. 6.1.2 Processo inflamatório (células da inflamação) O processo inflamatório agudo envolve duas fases principais: vascular e celular. Diversos tipos de tecidos e células estão envolvidos nessas fases, bem como células endoteliais que revestem os vasos sanguíneos, leucócitos que circulam no sangue, células do tecido conjuntivo (mastócitos, fibroblastos, macrófagos e linfócitos) e componentes da matriz extracelular (MEC), que é composta por proteínas fibrosas (colágeno e elastina), glicoproteínas adesivas e proteoglicanos. No nível bioquímico, os mediadores inflamatórios, agindo em conjunto ou em sequência, amplificam a resposta inicial e influenciam sua evolução por meio da regulação das respostas vasculares e celulares subsequentes. 98 Unidade II Células endoteliais Basófilo Eosinófilo Plaquetas Neutrófilo Monócito Mastócito Fibroblasto Elastina Macrófago Filamentos de proteoglicanosFibras de colágeno Figura 37 – Células de inflamação aguda 6.1.2.1 Mediadores inflamatórios Embora o processo inflamatório seja precipitado por infecção e lesão, seus sinais e sintomas são produzidos por mediadores químicos. Os mediadores podem ser originados do plasma ou decélulas. Os derivados do plasma, sintetizados no fígado, incluem os fatores de coagulação e as proteínas do complemento e são encontrados no plasma em uma forma precursora, que precisa ser ativada por uma série de processos proteolíticos para adquirir suas propriedades biológicas. Os derivados de células normalmente são sequestrados em grânulos intracelulares que precisam ser secretados (por exemplo, histamina a partir de mastócitos) ou são sintetizados conforme a necessidade (por exemplo, citocinas), em resposta a um estímulo. Embora plaquetas, neutrófilos, monócitos/macrófagos e mastócitos sejam as principais fontes desses mediadores, células endoteliais, do músculo liso, fibroblastos e a maioria das células epiteliais podem ser induzidos a produzi‑los. A produção de mediadores ativos é desencadeada por micróbios ou por proteínas do hospedeiro, como as dos sistemas complemento, cinina ou de coagulação, que são ativadas por micróbios ou tecidos danificados. Os mediadores podem atuar sobre uma ou algumas células‑alvo e têm diversos alvos ou diferentes efeitos sobre os tipos distintos de células. Uma vez ativados e liberados da célula, a maioria têm curta duração. Eles podem ser transformados em metabólitos inativos, inativados por enzimas, ou eliminados ou degradados de outro modo. 99 PATOLOGIA 6.1.2.2 Manifestações locais Embora todas as reações inflamatórias agudas sejam caracterizadas por alterações vasculares e infiltração de leucócitos, a gravidade da reação, a causa específica e o local de envolvimento introduzem variações nas manifestações e correlações clínicas. Essas manifestações podem variar desde edema e formação de exsudato até a formação de abscesso ou ulceração. Caracteristicamente, a resposta inflamatória aguda envolve a produção de exsudato, que varia em relação ao tipo de líquido, ao teor de proteína plasmática e à existência ou não de células. Eles podem ser serosos, hemorrágicos, fibrinosos, membranosos ou purulentos. Muitas vezes, o exsudato é composto por uma combinação desses tipos. Exsudato seroso é um líquido com baixo teor de proteína resultante da entrada de plasma no local inflamatório. Exsudato hemorrágico acontece quando existe lesão tecidual grave, que danifica os vasos sanguíneos, ou quando há fugas significativas de hemácias dos capilares. Exsudato fibrinoso contém grandes quantidades de fibrinogênio e forma uma malha grossa e pegajosa, semelhante às fibras de um coágulo sanguíneo. Exsudatos membranosos ou pseudomembranosos se desenvolvem em superfícies mucosas e são compostos por células necróticas enredadas em um exsudato fibropurulento. Um exsudato purulento ou supurativo contém pus, composto por leucócitos degradados, proteínas e fragmentos de tecido. Alguns microrganismos, como Staphylococcus, apresentam maior propensão do que outros a induzir processo inflamatório supurativo localizado. Abscesso é uma área localizada de inflamação contendo um exsudato purulento, que pode ser cercado por uma camada de neutrófilos (ver a figura a seguir). Os fibroblastos, por fim, podem entrar na área e cercar o abscesso. Como agentes antimicrobianos não conseguem penetrar a parede do abscesso, podem ser necessárias incisão cirúrgica e drenagem para alcançar a cicatrização. Ulceração se refere a um local de inflamação, onde uma superfície epitelial (por exemplo, pele ou epitélio gastrintestinal) se torna necrótica e corroída, frequentemente associada à inflamação subepitelial. Ainda, pode decorrer de uma lesão traumática à superfície epitelial (por exemplo, úlcera péptica) ou de um comprometimento vascular (por exemplo, úlceras do pé associadas ao diabetes). Observação Os abcessos se formam por infecções bacterianas ou fúngicas, por organismos que chamamos de “piogênicos” e atingem as camadas mais profundas do tecido conjuntivo. Devido à grande destruição tecidual, incluindo danos à matriz extracelular, o resultado mais comum é o aparecimento de cicatriz e fibrose. 100 Unidade II Pele avermelhada, tumefeita quente e dolorida Farpa contaminada por bactérias Capilares A) Inflamação Dilatação capilar, exsudação de líquido, migração de neutrófilos Parede fibrosa Pus C) Formação de abscesso Compartimentalização de exsudato purulento (pus) para formação de abscesso Necrose tecidual B) Supuração Desenvolvimento de exsudato supurativo ou purulento contendo neutrófilos degradados e restos de tecido Figura 38 – Formação de abscesso: (A) invasão bacteriana e desenvolvimento do processo inflamatório; (B) continuação do crescimento bacteriano, migração de neutrófilos, liquefação por necrose de tecidos e desenvolvimento de exsudato purulento; (C) compartimentalização da área inflamada e seu exsudato purulento de modo a formar um abscesso 6.1.3 Inflamação crônica Inflamação crônica é aquela na qual, devido à persistência do agente inflamatório (por exemplo, um microrganismo), à exposição prolongada a agentes tóxicos (por exemplo, tabagismo) ou a fenômenos autoimunes, o processo se mantém por tempo maior. Nela, os sinais típicos de eritema e edema podem não ser aparentes. Em algumas inflamações de duração prolongada em tecidos conjuntivos há edema e dor com pouca exsudação celular. É o que ocorre, por exemplo, em tendinites, facites, osteartrose e fibromialgia. A característica da inflamação crônica é uma infiltração de células mononucleares (macrófagos) e linfócitos, enquanto o influxo de neutrófilos é visto na inflamação aguda. Ela também envolve a proliferação de fibroblastos, em vez de exsudatos. Como resultado, o risco de formação de cicatrizes e deformidades geralmente é maior do que na inflamação aguda. É classificada em dois padrões: inflamação crônica inespecífica e inflamação granulomatosa. 6.1.4 Inflamação crônica inespecífica Envolve um acúmulo difuso de macrófagos e linfócitos no local da lesão. A quimiotaxia constante faz que macrófagos se infiltrem no local inflamado, onde se acumulam devido à sobrevivência e à imobilização prolongada. Esses mecanismos levam à proliferação de fibroblastos, com formação de cicatrizes, que em muitos casos substituem o tecido conjuntivo normal ou os tecidos parenquimatosos funcionais das estruturas envolvidas. Por exemplo, o tecido cicatricial resultante da inflamação crônica do intestino causa o estreitamento do lúmen intestinal. 6.1.5 Inflamação granulomatosa É uma forma distinta de inflamação crônica. Um granuloma é tipicamente uma pequena lesão de 1 mm a 2 mm, na qual existe um conjunto de macrófagos circundados por linfócitos. Esses macrófagos modificados se assemelham a células epiteliais, que às vezes são chamadas de células epitelioides. Como outros macrófagos, as células epitelioides são derivadas originalmente de monócitos do sangue. 101 PATOLOGIA A inflamação granulomatosa está associada a corpos estranhos, tais como farpas, suturas, sílica e asbesto, e a microrganismos que causam tuberculose, sífilis, sarcoidose, infecções fúngicas profundas e brucelose. Esses tipos de agentes têm uma coisa em comum: são mal digeridos e usualmente não são facilmente controlados por outros mecanismos inflamatórios. As células epitelioides na inflamação granulomatosa podem se agregar em uma massa ou coalescer, formando uma célula gigante multinucleada que tenta circundar o agente estranho. Uma densa membrana de tecido conjuntivo finalmente encapsula a lesão e a isola. Essas células são referidas como células gigantes de corpo estranho. Figura 39 – Células gigantes de corpo estranho; os numerosos núcleos estão dispostos aleatoriamente no citoplasma 6.2 Mecanismo de reparação tecidual 6.2.1 Regeneração dos tecidos A reparação dos tecidos,que se sobrepõe ao processo inflamatório, é uma resposta à lesão tecidual e representa uma tentativa de manter a estrutura e o funcionamento normais do corpo. Pode tomar o formato de uma regeneração, na qual as células lesionadas são substituídas por outras do mesmo tipo; ou de uma substituição por tecido conjuntivo, o que leva a uma cicatriz permanente. Tanto a regeneração quanto a reparação por tecido conjuntivo são determinadas por intermédio de mecanismos semelhantes que envolvem migração, proliferação e diferenciação celulares, bem como interação com a MEC. Os orgãos e os tecidos são compostos por dois tipos de estruturas: parênquima e estroma. Os tecidos do parênquima contêm as células funcionais de um órgão ou parte do corpo (por exemplo, hepatócitos e células tubulares renais). Os tecidos do estroma são compostos de tecido conjuntivo de sustentação, vasos sanguíneos, MEC e fibras nervosas. A regeneração dos tecidos envolve a substituição do tecido lesionado por células do mesmo tipo, deixando pouca ou nenhuma evidência da lesão anterior. A capacidade de regeneração varia de acordo com o tipo de célula e de tecido. As células do corpo podem ser classificadas de acordo com seu potencial de proliferação. Algumas células maduras não se dividem, enquanto outras completam um ciclo celular a cada 16 a 24 horas. 102 Unidade II • Células lábeis: encontradas em tecidos que se encontram sob renovação constante, como a epiderme, o revestimento epitelial dos tratos gastrointestinal, urinário, respiratório e genital, a medula óssea e os órgãos linfoides. • Células estáveis: encontradas em tecidos que normalmente se renovam muito lentamente, mas são capazes de renovação mais rápida após lesão; entre os exemplos estão fígado, glândulas endócrinas, endotélio e túbulos renais proximais. • Células permanentes: diferenciadas terminalmente e que perderam a capacidade de regeneração; entre os exemplos estão neurônios, células da musculatura cardíaca e células do cristalino. As células‑tronco são constituintes de tecidos lábeis. Uma célula‑filha de cada divisão torna‑se uma nova célula‑tronco, enquanto a outra sofre diferenciação terminal. A regeneração pode ser mediada por células‑tronco, células lábeis ou células estáveis. Lesão grave ou persistente, com danos tanto às células do parênquima quanto à MEC, leva a uma situação em que a reparação não pode ser obtida apenas com a regeneração dos tecidos. Nessas condições, ocorre reparação com substituição por tecido conjuntivo, processo que envolve a produção de tecido de granulação e a formação de tecido cicatricial. O tecido de granulação é um tecido conjuntivo úmido de coloração vermelha brilhante que contém capilares recém‑formados, proliferação de fibroblastos e células inflamatórias residuais. O desenvolvimento do tecido de granulação envolve crescimento de novos capilares (angiogênese), fibrogênese e involução para a formação do tecido cicatricial. O processo de angiogênese abrange a produção e o surgimento de novos vasos sanguíneos a partir de vasos preexistentes. Esses novos capilares tendem a brotar da superfície da ferida como pequenos grânulos avermelhados, dando nome ao tecido de granulação. Assim, porções do novo leito capilar se diferenciam em arteríolas e vênulas. A fibrogênese compreende a chegada de fibroblastos ativados. Estes secretam componentes da matriz extracelular, incluindo fibronectina, ácido hialurônico, proteoglicanos e colágeno. A fibronectina e o ácido hialurônico são os primeiros componentes depositados na cicatrização de feridas, e os proteoglicanos aparecem posteriormente. Como os proteoglicanos são substâncias hidrofílicas, sua acumulação contribui para a aparência edematosa da ferida. O começo da síntese de colágeno colabora para a formação subsequente do tecido cicatricial. A formação de uma cicatriz se baseia na estrutura do tecido de granulação de novos vasos e na MEC frouxa. O processo se desenvolve em duas fases: migração e proliferação de fibroblastos para o local da lesão e deposição de MEC por essas células. À medida que o processo de cicatrização evolui, ocorre redução na proliferação de fibroblastos e formação de novos vasos sanguíneos e aumento da síntese e deposição de colágeno, esta importante para o desenvolvimento de forças de tração no local da ferida de cicatrização. Em última análise, a base para a formação do tecido de granulação evolui para uma cicatriz composta de fibroblastos fusiformes, em grande parte inativos, densas fibras de colágeno, fragmentos de tecido 103 PATOLOGIA elástico e outros componentes da MEC. À medida que a cicatriz amadurece, a degeneração vascular, por conseguinte, transforma o tecido de granulação altamente vascular em uma cicatriz pálida, em grande parte avascular. 6.2.2 Fases da cicatrização A cicatrização de feridas envolve a restauração da integridade do tecido lesionado. No caso de cicatrização de feridas cutâneas, comumente utilizada para ilustrar os princípios gerais do processo, divide‑se em três fases: inflamatória, proliferativa e contração da ferida e fase de remodelação. Cada uma é mediada por citocinas e fatores de crescimento. 6.2.2.1 Fase inflamatória A fase inflamatória começa no momento da lesão com a formação de um coágulo sanguíneo e a migração de leucócitos fagocíticos para o local da ferida. As primeiras células a chegar, os neutrófilos, ingerem e removem as bactérias e os restos celulares. Após 24 horas, os macrófagos se juntam aos neutrófilos para continuar a ingestão de fragmentos celulares; estes desempenham papel essencial na produção de fatores de crescimento para a fase proliferativa. Coágulo Fibrina Epiderme Neutrófilo Derme Gordura Figura 40 6.2.2.2 Fase proliferativa Os processos durante essa fase são responsáveis pela construção de tecido novo para preencher o espaço da ferida. As células mais importantes durante essa fase são os fibroblastos, que são células do tecido conjuntivo que sintetizam e secretam colágeno, proteoglicanos e glicoproteínas necessários para a cicatrização de feridas. Os fibroblastos também produzem uma família de fatores de crescimento que induzem o processo de angiogênese (crescimento de novos vasos sanguíneos) e proliferação e migração de células endoteliais. O evento final da fase proliferativa é a epitelização, durante a qual as células 104 Unidade II epiteliais nas bordas da ferida proliferam para formar uma nova camada de superfície, semelhante à que foi destruída pela lesão. Tecido de granulação Células epiteliais Fibroblasto Macrófago Vaso sanguíneo Figura 41 6.2.2.3 Contração da ferida e fase de remodelação Essa fase se inicia aproximadamente três semanas após a lesão com o desenvolvimento da cicatriz fibrosa e pode continuar por seis meses ou mais, dependendo da extensão da ferida. Durante essa fase, ocorre redução na vascularidade e remodelação contínua do tecido cicatricial, simultaneamente por meio da síntese de colágeno pelos fibroblastos e da lise pela enzima colagenase. Como resultado desses dois processos, a arquitetura da cicatriz é capaz de aumentar sua resistência à tração, e a cicatriz encolhe, tornando‑se menos visível. Contração da ferida Cicatriz fibrosa Vaso sanguíneo Figura 42 105 PATOLOGIA 6.2.2.4 Cicatrização de feridas Tecidos lesionados são reparados por meio da regeneração de células do parênquima ou por meio de reparação do tecido conjuntivo, na qual o tecido cicatricial é substituído por células do parênquima do tecido lesionado. O objetivo principal desse processo é preencher o vazio criado pela destruição de tecidos e restaurar a continuidadeestrutural da parte lesionada. Quando não pode acontecer regeneração, a cicatrização por substituição, com uma cicatriz de tecido conjuntivo, fornece os meios para manutenção da continuidade. Embora o tecido cicatricial preencha a lacuna criada pela sua morte, ele não repara a estrutura com células funcionais do parênquima. Como a capacidade de regeneração da maioria dos tecidos é limitada, a cicatrização de feridas geralmente envolve certa quantidade de reparo por tecido conjuntivo. A discussão a seguir aborda principalmente o processo de cicatrização de feridas cutâneas. 6.2.2.5 Cicatrização por primeira ou segunda intenção Dependendo da extensão da perda de tecido, o fechamento e a cicatrização da ferida podem ocorrer por primeira ou segunda intenção, isto é, cicatrização primária ou secundária. Uma incisão cirúrgica suturada é um exemplo de cicatrização por primeira intenção. Feridas maiores (por exemplo, queimaduras e grandes feridas superficiais), que apresentam maior perda de tecido e de contaminação, cicatrizam por segunda intenção. Esta é mais lenta do que a primeira, e resulta na formação de uma quantidade maior de tecido cicatricial. Uma ferida capaz de ser cicatrizada por primeira intenção pode se tornar infectada e cicatrizar por segunda intenção. Primeira intenção, sem perda de tecido Segunda intenção, perda de tecido Figura 43 106 Unidade II Cicatrização por primeira intenção É mais rápida e resulta em cicatrizes menores, visto que a fenda da ferida é mais estreita e a destruição tecidual nas suas bordas é menor. O exemplo clássico é o das feridas cirúrgicas, em que o sangue extravasado pelo corte forma um coágulo que ocupa o espaço entre as margens da ferida. A reação inflamatória se instala a partir da liberação de mediadores originados do coágulo de fibrina, das células aprisionadas no coágulo, do tecido conjuntivo das bordas da ferida e das células epiteliais da margem da lesão. São liberados por macrófagos do coágulo IL‑1 e TNF e também pelos ceratinócitos da margem da lesão. Essas citocinas ativam as células endoteliais, que expõem moléculas de adesão (por exemplo, selectinas), favorecendo a adesão de leucócitos. Cicatrização por segunda intenção Quando a ferida é extensa e tem margens afastadas, forma‑se um grande coágulo; se há infecção associada, surge reação inflamatória importante. Nos dois casos, a exsudação de fagócitos é muito intensa e forma‑se abundante tecido de granulação. Como as bordas da ferida são distantes, a regeneração da epiderme é mais lenta e demora mais tempo para se completar. As células da epiderme proliferam nas margens, onde ocorre certo grau de hiperplasia devido à grande quantidade de fatores de crescimento liberados a partir das células exsudadas. Nas fases iniciais, o tecido de granulação faz saliência na superfície da ferida. Com o passar do tempo, ele sofre as mesmas transformações descritas na cicatrização por primeira intenção, sendo muito mais intenso e evidenciável o fenômeno da retração da cicatriz pelos miofibroblastos (a transformação de fibroblastos em miofibroblastos é muito mais frequente nesse tipo de cicatrização). A retração é tão pronunciada que pode, em alguns meses, reduzir a superfície da cicatriz em 90% da dimensão inicial. Como na cicatrização por primeira intenção, a resistência da cicatriz aumenta com o passar do tempo, mas não atinge os níveis da pele íntegra. Os fatores de crescimento envolvidos são os mesmos descritos para a cicatrização por primeira intenção. 6.2.2.6 Cicatrização hipertrófica e queloide São duas condições em que há formação importante de tecido conjuntivo denso em cicatriz cutânea, a qual pode adquirir volume considerável. A cicatriz hipertrófica tende a ser reversível, regredindo parcialmente com o passar do tempo. O queloide forma tumorações nas áreas de cicatrização, mesmo em feridas pequenas, podendo não regredir ou ter regressão muito lenta. Nos dois casos, o aspecto microscópico é semelhante: as fibras colágenas são irregulares, grossas e formam feixes distribuídos ao acaso, contendo capilares e fibroblastos em maior número do que uma cicatriz normal. Essas duas lesões são mais frequentes na população afrodescendente, mas não se conhece o defeito que leva ao descontrole da síntese do colágeno nos dois processos. Tratam‑se de situações em que os mecanismos de produção estão exacerbados e/ou os mecanismos de degradação da MEC estão reduzidos. 107 PATOLOGIA Queloide Os queloides são cicatrizes grandes e de formas irregulares que se estendem acima e além do limite da ferida original. Eles tendem a ser nodulares e estriados. Portanto, embora não representem uma preocupação clínica, eles podem ter uma aparência indesajável. Os queloides são compostos principalmente de grandes feixes desordenados de colágeno. Eles estão associados à excessiva proliferação de fibroblastos no local da ferida. Há uma propensão genética para a formação dos queloides, são mais comuns em pessoas afrodescendentes. Infelizmente, a remoção cirúrgica com frequência é acompanhada da formação de um novo queloide. Figura 44 – Queloide: mulher negra com queloide que se desenvolveu após a perfuração da orelha 6.2.3 Fatores que afetam a cura de feridas Vários fatores locais e sistêmicos influenciam a cura de feridas. Embora existam muitos fatores que impeçam a cura, as pesquisas têm encontrado poucas maneiras de acelerar o processo normal de reparo. Entre as causas da cura prejudicada de uma ferida estão: desnutrição; fluxo sanguíneo e aporte de oxigênio prejudicados; respostas inflamatórias e imunológicas impedidas; infecção, separação da ferida e corpos estranhos; e efeitos da idade. 6.2.3.1 Desnutrição A cura bem‑sucedida de uma ferida depende em parte de estoques adequados de proteínas, carboidratos, gorduras, vitaminas e minerais. É bem reconhecido que a desnutrição lentifica o processo de cura, fazendo que as feridas se curem inadequada ou incompletamente. 6.2.3.2 Fluxo sanguíneo e liberação de oxigênio Para que a cura ocorra, as feridas devem ter um fluxo sanguíneo adequado para suprir os nutrientes necessários e remover refugos resultantes, toxinas locais, bactérias e outros resíduos. Um impedimento à cura da ferida devido a um mau fluxo sanguíneo pode ocorrer como resultado das condições da ferida (por exemplo, edema) ou problemas de saúde preexistentes. Doenças arteriais ou patologias venosas são 108 Unidade II causas bem documentadas de impedimento à cura. Em situações de trauma, uma diminuição no volume sanguíneo pode causar redução no fluxo sanguíneo para tecidos lesados. O oxigênio molecular é necessário para a síntese de colágeno. Mostrou‑se que mesmo uma ausência temporária de oxigênio pode resultar na formação de um colágeno menos estável. As feridas em um tecido isquêmico tornam‑se infectadas mais frequentemente do que as tecidos bem vascularizados. Macrófagos requerem oxigênio para a destruição de microrganismos que tenham invadido a área. Embora essas células possam executar a fagocitose em um ambiente relativamente anóxico, elas não podem digerir as bactérias. A cura de feridas é prejudicada em pessoas com diabetes mellitus, principalmente aquelas que têm níveis de glicose sanguínea mal controlados. Estudos mostraram cicatrização tardia de feridas, malformação de colágeno e força tênsil ruim em animais diabéticos. Doenças em pequenos vasos sanguíneos também são comuns em pessoas com diabetes, impedindo a liberação de células inflamatórias, oxigênio e nutrientes para o local da ferida. A administração terapêutica de drogas corticosteroides diminui o processo inflamatório e pode retardar o processo decicatrização. Esses hormônios diminuem a permeabilidade capilar durante os estágios iniciais da inflamação, prejudicam as propriedades fagocíticas dos leucócitos e inibem a proliferação e a função dos fibroblastos. 6.2.3.3 Infecção, separação de feridas e corpos estranhos Contaminação, separação de feridas e corpos estranhos dificultam o processo de cicatrização. Uma infecção prejudica o processo sob vários aspectos. Ela prolonga a fase inflamatória, dificulta a formação de tecido de granulação e inibe a proliferação de fibroblastos e a deposição de fibras de colágeno. No momento da lesão, todas as feridas estão contaminadas. Embora as defesas do organismo possam lidar com a invasão de microrganismos no momento do ferimento, feridas gravemente contaminadas podem sobrecarregar as defesas do hospedeiro. Quadros de traumatismo e comprometimento preexistente das defesas do hospedeiro também têm condições de contribuir para o desenvolvimento de infecções. A aproximação das bordas da ferida (i.e., a sutura de um tipo de ferida por incisão) aumenta muito as chances de cicatrização e evita o desenvolvimento de infecção. A epitelização da lesão com bordas estreitamente aproximadas ocorre no intervalo de um a dois dias. Feridas grandes e abertas tendem a cicatrizar mais lentamente porque muitas vezes é impossível conseguir o fechamento neste tipo de ferimento. A presença de corpos estranhos tende a favorecer a contaminação bacteriana e atrasa a cicatrização: fragmentos de madeira, aço, vidro e outros compostos podem se incrustar na ferida e ser difíceis de localizar quando ela é tratada. Suturas também devem ser consideradas corpos estranhos e, apesar de necessárias para o fechamento de feridas cirúrgicas, são um impedimento para a cicatrização. Por isso, devem ser removidas tão rapidamente quanto possível após um procedimento cirúrgico. A infecção de uma ferida é uma preocupação especial em pessoas com implantes de corpos estranhos, como dispositivos ortopédicos (por exemplo, pinos, dispositivos de estabilização), marca‑passos e shunts. Elas são difíceis de tratar e podem exigir a remoção do dispositivo. 109 PATOLOGIA 6.2.4 Manipulações e procedimentos para facilitar a cicatrização Os profissionais da saúde vêm tentando vários tipos de manipulação para facilitar e acelerar o processo de cicatrização, especialmente nas feridas crônicas. Os equivalentes biológicos de pele, formados por ceratinócitos proliferados in vitro, associados a componentes da MEC, são testados para acelerar a reparação de feridas extensas ou de úlceras crônicas. O efeito acelerador na cicatrização está relacionado ao fato de o enxerto possuir células vivas que produzem fatores de crescimento, favorecendo a proliferação fibroblástica e vascular. Métodos físicos são testados com base em observações experimentais, mas ainda com resultados controversos em humanos. Experimentalmente, eletroestimulação direta com corrente alternada de baixa frequência ou de alta voltagem aumenta a exsudação de leucócitos e acelera a síntese de matriz e o fluxo de sangue no tecido cicatricial. A utilização de oxigênio hiperbárico é considerada útil no tratamento de feridas infectadas, especialmente por microrganismos anaeróbicos ou com necrose óssea. O método aumenta a oxigenação do sangue e a síntese de óxido nítrico, o que parece estimular a formação do tecido cicatricial. Apesar de bons resultados experimentais, em humanos os benefícios são questionáveis. Os raios laser de baixa energia e o ultrassom também têm sido considerados facilitadores da cicatrização em modelos experimentais. 7 PIGMENTAÇÃO PATOLÓGICA Pigmento (do latim pigmentum = corante, cor) é a designação dada a uma substância que tem cor própria, e origem, composição química e significado biológico diversos. Os pigmentos encontram‑se distribuídos na natureza, em células vegetais e animais, nas quais desempenham importantes funções (por exemplo, clorofila, citocromos, melanina). Denomina‑se pigmentação o processo de formação e/ou acúmulo, normal ou patológico, de pigmentos em locais do organismo. A pigmentação patológica pode ser sinal de alterações bioquímicas pronunciadas, sendo o acúmulo ou a redução de vários pigmentos um dos aspectos mais evidentes em várias doenças. Seu grande número origina‑se de substâncias sintetizadas pelo próprio organismo: são os pigmentos endógenos. Outros, denominados exógenos, são formados no exterior e, por meio das vias respiratória, digestiva ou parenteral, penetram e depositam‑se em diferentes órgãos. 7.1 Pigmentações endógenas Resultam de hiperprodução e acúmulo de pigmentos sintetizados no próprio organismo. Podem ser classificadas como: derivadas da hemoglobina (pigmentos biliares, hematoidina, hemossiderina, pigmento malárico, pigmento esquistossomótico); melanina; ácido homogentísico; e lipofuscina. A seguir analisaremos três tipos: pigmentos biliares; hemossiderina e melanina. 7.1.1 Pigmentos de hemoglobina 7.1.1.1 Pigmentos biliares O principal pigmento biliar é a bilirrubina (Bb), um pigmento amarelo, produto final do catabolismo da fração heme da hemoglobina e de outras hemoproteínas. Tradicionalmente, são duas as razões para a 110 Unidade II atenção que os profissionais de saúde dispõem esse assunto. Primeiro, porque o aumento acentuado dos níveis sanguíneos da Bb não conjugada, particularmente em recém‑nascidos, pode causar lesão cerebral irreversível, morte e, em casos de sobrevida, sequelas neurológicas permanentes, condição chamada kernicterus ou icterícia nuclear (do alemão kern = núcleo), porque a impregnação do tecido nervoso pela Bb pode ser vista macroscopicamente em diversos núcleos cerebrais, cerebelares e do tronco encefálico. Segundo, porque o conhecimento do metabolismo da Bb é essencial para o diagnóstico de um grande número de doenças, hereditárias ou adquiridas, do fígado e do sangue. Distúrbios associados ao aumento dessa produção ou ao defeito hepático na remoção do pigmento da circulação resultam na elevação de seu nível no sangue (hiperbilirrubinemia) e em um sinal clínico muito importante, a icterícia, que se caracteriza por deposição do pigmento na pele, na esclera e em mucosas. Além disso, o aumento na excreção de Bb na bile por doenças hemolíticas crônicas favorece a formação de cálculos pigmentares negros ou puros, constituídos, principalmente, por bilirrubinato de cálcio. 7.1.2 Hemossiderina biliar É também um pigmento resultante da degradação da hemoglobina e que contém ferro. A hemossiderina representa uma das duas principais formas de armazenamento intracelular de ferro; a outra é a ferritina. A quantidade de ferro no corpo do homem adulto é de, aproximadamente, 4 g a 5 g. Cerca de 65% a 70% do ferro corporal estão presentes na hemoglobina das hemácias; outros 10% estão presentes em mioglobinas, citocromos e enzimas que contêm ferro; os 20% a 25% restantes são armazenados como ferritina e hemossiderina nos hepatócitos (aproximadamente 40% do ferro armazenado) e macrófagos de fígado, baço, medula óssea e linfonodos. O ferro é vital para todos os seres vivos, pois participa de diversos processos metabólicos, como transporte de oxigênio e de elétrons (hemoproteínas) e síntese de DNA (enzima ribonucleotídeo redutase). Por sua participação em diversas funções celulares, é necessário um constante equilíbrio entre absorção intestinal, transporte plasmático pela proteína transferrina, armazenamento nos hepatócitos e macrófagos e utilização do metal (por exemplo, eritropoese). Quando há oferta excessiva de ferro, a ferritina forma agregados conhecidos como hemossiderina. A sua deposição excessiva nos tecidos pode ser localizada ou sistêmica.
Compartilhar