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Universidade Federal da Paraíba – UFPB Centro de Ciências da Saúde – CCS Dep. de Fonoaudiologia Docente: Profª Drª Janaína Von Shosten Trigueiro Discente: Sara Varela Luckwü de Oliveira Portfólio de Saúde Coletiva Aplicada à fonoaudiologia João Pessoa - PB 03 de Novembro de 2021 Resumo do artigo A POTENCIALIDADE DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE ATENÇÃO BÁSICA PARA AÇÕES EM FONOAUDIOLOGIA Janice Vielmo Cáceres Andrielle de Bitencourt Pacheco Elenir Fedosse Jayne Guterres de Mello O Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB) é um software desenvolvido para computadores que é “alimentado por algumas fichas (A, B, C, D), e a partir delas são gerados os relatórios - Situação de Saúde e Acompanhamento das Famílias na Área (SSA-2), Situação de Saúde e Acompanhamento das Famílias no Município (SSA-4), Produção e Marcadores para Avaliação por Área (PMA-2), Produção e Marcadores para Avaliação por Município (PMA-4) – e os consolidados A1, A2, A3 e A418”, e foi instaurado para substituir o antigo Sistema de Informação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (SIPACS). Seu objetivo é acompanhar as ações e os resultados das atividades realizadas pelas equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF) e do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) tendo como orientação uma determinada população local, e deve resultar no auxílio e planejamentos das equipes citadas. Além disso, o SIAB “descreve a realidade sócio-econômica, indica as condições de saúde, adoecimento e morte, avalia as condições dos serviços e atenção em saúde e colabora no monitoramento da situação de saúde de uma área territorial.” (CÁCERES, J. et al. 2014) É conhecido que o Sistema Único de Saúde (SUS) categoriza os níveis de atenção à saúde em - Primária/Básica, Secundária/Média complexibilidade e Terciária/Alta complexibilidade, onde a atenção primária deve ser a porta de entrada do usuário ao SUS. Apesar de nos documentos oficiais ser previsto ao fonoaudiólogo a competência de atuar nos níveis de média e alta complexibilidade, a fonoaudiologia tem almejado se inserir e garantir cada vez mais a sua participação na atenção básica, realizando ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, e o SIAB mostra-se um potencial aliado para os planejamentos de ações fonoaudiológicas, pois fornece dados que permitem identificar as desigualdades presentes, localizar os problemas de saúde em microrregiões, prestar intervenções e aperfeiçoar o uso do sistema de saúde. Ao analisar as fichas e os relatórios fornecidos pelo SIAB, as autoras do artigo encontraram pontos de interesse para a fonoaudiologia, isto é, dados relativos às condições socioeconômicas, hábitos de vida e saúde, tal qual a presença de doenças e/ou de agravos à saúde, que são fundamentais para a definição das ações na área.”O SIAB possibilita, então, a realização de um diagnóstico situacional representativo da realidade concreta de uma dada população e, consequentemente, favorece o planejamento de ações fonoaudiológicas de natureza preventiva e/ ou reabilitadora”; ainda o SIAB revela também a produção em saúde da população local em questão. Consta também no referido artigo, que apesar da divergência das informações entre os dados produzidos no nível local (ESF) e o consolidado municipal apresentado (SMS) (como a redução do número de ACS - de seis ACS previstos existiam quatro, e de outros profissionais da equipe mínima da ESF - faltavam o enfermeiro e o dentista), o entendimento das autoras sobre a importância das informações levantadas pelos instrumentos do SIAB possibilitarem ao fonoaudiólogo decisões a respeito do tipo de ação a ser efetuada no âmbito de uma ESF, permanece o mesmo e que na impossibilidade de encontrar relatórios referentes à atenção básica desenvolvida em uma cidade -SSA4, poderão ser analisados, nas unidades de saúde aqueles dados referentes à micro-área e/ou área específica -os relatórios SSA2 (ao passo que, o relatório SSA2 reúne os dados de uma área, o relatório SSA4 reúne as informações de todas as ESF da cidade). Sendo assim, os relatórios abordados permitem que o fonoaudiólogo que atua junto ao ACS entenda a situação de moradia e o perfil da comunidade assistida, o que facilita o planejamento das ações. “Por exemplo, nas regiões em que há um grande número de mulheres adultas, pode-se pensar em ações voltadas para gestação e amamentação; já nas que se identifica grande número de idosos há a possibilidade de planejamento e execução de grupos de convivência”. (CÁCERES, J. et al. 2014) Apesar da competência do SIAB como instrumento de diagnóstico e planejamento em saúde, os dados nele encontrados não podem responder completamente ao conhecimento das circunstâncias da saúde fonoaudiológica da população, por isso os profissionais devem atuar adjacente aos ACS e aos outros profissionais das equipes de referência, apanhando novas informações que respondam ao núcleo da Fonoaudiologia, como as que dizem respeito à audição, alimentação e comunicação em todos os ciclos de vida dos usuários. Essa conformidade será responsável por favorecer o desenvolvimento de ações e o reconhecimento da Fonoaudiologia nos serviços públicos municipais. Portanto, mesmo sendo uma ferramenta de gestão, não se pode descartar o potencial do SIAB para os fonoaudiólogos que atuam na saúde pública, como ferramenta para realizar o diagnóstico situacional e o planejamento das ações, pois os dados presentes no SIAB possibilitam a aproximação dos fonoaudiólogos com as necessidades dos usuários atendidos pela atenção primária, favorecem a organização das ações, estimulam o protagonismo dos profissionais e usuários, favorecendo assim, o vínculo e a realização das ações. Resumo do Ebook “Cuidado em saúde e práticas fonoaudiológicas” capítulo 11: PRÁTICA INTERPROFISSIONAL COLABORATIVA: Contribuições para/da fonoaudiologia Heloise Fernandes Agreli Jaqueline Alcântara Marcelino da Silva Michelly Santos de Andrade Variadas condições clínicas que têm relação com a comunicação - à exemplo a perda auditiva (P.A), requerem assistência individuais, familiares e coletivas, que compreendem ações de promoção, prevenção, reabilitação e aperfeiçoamento da comunicação humana, tornando necessária a intervenção do fonoaudiólogo junto às equipes de saúde atuantes. Entretanto, os cuidados fonoaudiológicos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ainda são poucos e insuficientes, mesmo com a crescente demanda por estes cuidados. “‘Os problemas de acesso à assistência fonoaudiológica podem ser ainda mais graves, se considerarmos que a existência de deficiência, tal como auditiva, pode dificultar a comunicação entre pacientes e profissionais, constituindo-se em mais uma barreira ao acesso à saúde’ (IEZZONI et al. 2004).” (AGRELI; SILVA; ANDRADE, 2021) Usuários (ou não) do SUS que possuem deficiências fazem parte do grupo de risco de pessoas que estão mais suscetíveis a desenvolver doenças secundárias ou doenças crônicas, e podem precisar ser assistidas pela fonoaudiologia, e também por outros profissionais e equipes que pratiquem o trabalho de atendimento integrado. Para essa problemática, o Ministério da Saúde (2015) propõe o fortalecimento do trabalho em equipes de saúde, que no contexto da prática colaborativa tem sua potencialidade no fortalecimento de sistemas integrados de saúde, que são caracterizados pelas ações interprofissionais e intersetoriais. A prática interprofissional colaborativa (PIC) é a prática que ocorre quando profissionais de diferentes áreas efetuam serviços tendo como base a integralidade da saúde, e envolvem os pacientes, famílias, cuidadores e comunidade para atenção à saúde de qualidade em todos os níveis da rede de serviços. A PIC tem como elemento principal a atenção centrada na pessoa, isto é, “cuidarcom as pessoas” e não apenas “cuidar para as pessoas”. A comunicação é uma peça-chave para a efetividade da PIC, pois os profissionais das mais diversas áreas precisam, em algum ponto, entrar em acordo quanto ao plano de ação que deve guiar o cuidado e a atenção à saúde. Portanto, a comunicação é intrínseca ao tema deste capítulo, e “deve ser assertiva, expressa nas suas diferentes e complementares modalidades (oral, escrita, gestual, suplementar/alternativa) e possibilitar a produção de um cuidado compartilhado entre profissionais e usuários, considerando o papel da cultura e da linguagem no processo de saúde e doença (CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, 2018).” (AGRELI; SILVA; ANDRADE, 2021) Além disso, uma comunicação eficiente e eficaz entre profissionais de diferentes áreas envolvidos em um mesmo caso pode evitar erros e acontecimentos discrepantes na assistência à saúde, essa boa comunicação pode e deve ser exaltada e praticada desde a formação acadêmica dos profissionais de saúde, através de vivências como o PET-Saúde Interprofissionalidade, que associa o trabalho em equipe à prática interprofissional colaborativa e à educação interprofissional em saúde, pois problemas de comunicação como conflitos e/ou falta de confiança entre os profissionais e estruturas organizacionais muito hierarquizadas podem dificultar a comunicação interprofissional, causando conflitos, que por sua vez, geram bloqueio das relações humanas, provocando atos de negociação e disputa entre os profissionais da saúde. Sendo assim, a educação interprofissional se manifesta como uma das respostas para proporcionar os avanços necessários na comunicação interprofissional e na consolidação da PIC. Nesse contexto, as autoras do capítulo em questão apontam como papel da fonoaudiologia: “Definir critérios que contemplem a comunicação em todas as suas nuances, tais como: modalidades da linguagem utilizadas, formas de expressão da comunicação (agressiva ou não-agressiva), empatia e interesse pela comunicação do outro, se fornece explicações em linguagem apropriada e clara, se há validação da compreensão da mensagem emitida pelos atores envolvidos no processo de cuidado em saúde (profissionais> demais profissionais, profissionais> usuários, usuários>profissionais);” (AGRELI; SILVA; ANDRADE, 2021) “Desenvolver estratégias de comunicação incorporadas às propostas de educação permanente dos profissionais da saúde; que contemplem as diferentes modalidades da comunicação entre trabalhadores- trabalhadores e entre trabalhadores-usuários, reduzindo o volume de conflitos e de planos de cuidado não compartilhados que podem submeter o usuário a procedimentos desnecessários/ repetitivos;” (AGRELI; SILVA; ANDRADE, 2021) “Possibilitar espaço para promover autoconfiança e felicidade do sujeito nos diferentes espaços que ocupa, por meio de habilidades comunicativas efetivas;” (AGRELI; SILVA; ANDRADE, 2021) “Ofertar oficinas de linguagem e/ou voz para aperfeiçoar a capacidade comunicativa dos usuários expressarem suas necessidades de saúde e os profissionais com vistas à qualificação do vínculo e garantir uma orientação adequada, isto é, que seja compreendida pelo usuário.” (AGRELI; SILVA; ANDRADE, 2021) Por fim, a partir do disposto no presente texto, evidencia-se a prática interprofissional colaborativa na assistência fonoaudiológica como uma promessa futura de evolução no cuidado, integração entre profissionais, usuários, serviços de saúde e cuidado centrado no paciente, podendo os fonoaudiólogos fazer parte do avanço no trabalho colaborativo se desde a academia forem inseridos ao contexto da comunicação interprofissional junto aos demais profissionais de saúde. Resumo do Tratado de Especialidades em Fonoaudiologia, capítulo 89: REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE E FONOAUDIOLOGIA Stela Maris Aguiar Lemos Gabriela Cintra Januário Karina Mary de Paiva-Vianna Atenção à saúde: aspectos contextuais: Em meio às tentativas de responder as importantes mudanças sociais e das práticas de saúde por causa do crescente processo de urbanização e industrialização e da certificação do direito da população à saúde e do encargo do Estado sobre promover e proteger a saúde é que emerge o conceito dos Determinantes Sociais da Saúde (DSS). Esses e mais fatores de mudanças sociais trouxeram a necessidade de mudança para o sistema de saúde brasileiro, que precisou se reestruturar às respostas sociais e às novas demandas de saúde da população. O aparecimento do aspecto sociopolítico no processo saúde-doença durante o período pós-guerra e a perspectiva biológica e social desse processo abriu um novo campo de conhecimento de prática e educação, iluminando o fato de que as condições econômicas e sociais da população exercem efeitos importantes sobre a saúde e a doença. Nesse contexto e de acordo com a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnico-raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. Os estudos sobre os DSS trazem consigo grandes desafios, como estabelecer uma hierarquia de determinações entre fatores de natureza social, econômica e política e perceber como estes fatores concernem sobre as condições de saúde de indivíduos e grupos populacionais e o avanço da ciência e tecnologias junto ao processo de urbanização e industrialização, o controle das doenças infecciosas e parasitárias e o aumento da prevalência das doenças crônicas (não transmissíveis) têm transformado o panorama demográfico e epidemiológico brasileiro, acarretando necessidade de mudanças no modelo da saúde. “Do ponto de vista demográfico, o Brasil tem vivido um acelerado e tardio envelhecimento populacional, se comparado com os países desenvolvidos. Os idosos, indivíduos com mais de 60 anos, que representavam 2,7% em 1960, passaram para 5,4% em 2000 e alcançarão 19% em 2050, superando o número de jovens”, que perfaz no crescente aumento do convívio com as doenças crônicas, ocasionando a sobrecarga do sistema de saúde que não foi planejado para atender de forma efetiva essa nova demanda, pois historicamente foi preparado para atender às condições agudas (doenças transmissíveis). “As características das condições agudas, de curto curso, possibilitam um sistema de saúde reativo e com respostas episódicas. Já as condições crônicas, de longo curso, exigem atuação proativa deste sistema, como forma de garantir respostas contínuas e integradas às necessidades da população.” A partir disto, a situação epidemiológica no Brasil vem sendo considerada como tripla carga de doenças, pois envolve simultaneamente a convivência com doenças infecciosas, desnutrição e problemas de saúde reprodutiva; o desafio das doenças crônicas e seus fatores de risco, como tabagismo, sobrepeso e obesidade, sedentarismo e estresse; e o contínuo crescimento das causas externas. (LEMOS; JANUÁRIO; VIANNA, 2014) Redes de Atenção à Saúde: aspectos conceituais e elementos constitutivos O cenário da saúde no Brasil mostra a vivência de uma transição demográfica rápida, junto à convivência com a tripla carga de doenças, com a grande influência de doenças crônicas. Como uma saída, o sistema de saúde tornou-se um sistema fragmentado, com atenção voltada às condições agudas e às agudizações de condições crônicas, operando de forma episódica e reativa. A ideia de Redes de Atenção à Saúde (RAS) surgiu no Relatório Dawson (Reino Unido, 1920) e foi revisitada nos anos 90 com a crise global dos sistemas de saúde que emergia. Já no Brasil, o Ministério da saúde (MS) declara a RAS como arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas, que integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão buscam garantir a integralidade do cuidado. O conceito de hierarquia na RASé substituído pela poliarquia ou rede de malhas, onde um nó se liga a outros nós, permanecendo sempre interconectados e é um sistema horizontal, onde sua conformação é uma rede de pontos sem ordem e grau de importância entre eles.”A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que as RAS contém seis modalidades de integração: um conjunto amplo de intervenções preventivas e curativas para uma população; os espaços de integração de vários serviços; a atenção à saúde contínua; a integração vertical de diferentes níveis de atenção; a vinculação entre a formulação da política de saúde e a gestão; e o trabalho intersetorial.” (LEMOS; JANUÁRIO; VIANNA, 2014) A RAS é formada por três elementos fundamentais: população, uma estrutura operacional e um modelo de atenção à saúde. A população sob responsabilidade de uma RAS deve ser registrada em sistemas de informações potentes, segmentada, subdividida em subpopulações por fatores de risco, estratificada por riscos em relação às condições de saúde estabelecidas. Isso envolve um processo complexo e estruturado de territorialização, cadastramento das famílias, classificação das famílias por risco sociossanitário, filiação das famílias à Unidade de Atenção Primária à Saúde (APS)/Equipe do Programa de Saúde da Família (PSF), identificação de subpopulações com fatores de risco, com condições de saúde estratificadas por graus de riscos e com condições de saúde muito complexas e é papel da APS se articular intimamente com a população. A estrutura operacional da RAS é feita pelos nós e pelas interconexões entre esses nós, e essa estrutura é formada por um centro de comunicação, atenção primária à saúde, pontos de atenção secundários e terciários, sistemas de apoio, sistemas logísticos e sistema de governança da rede de atenção à saúde. Por fim, o modelo de atenção à saúde é constituído por sistemas lógicos que organizam o funcionamento das redes de atenção, articulam as relações entre as populações e suas subpopulações em risco, determinam os focos das intervenções no sistema e os tipos de intervenções sanitárias a serem realizadas. Atenção primária à saúde como eixo das redes A APS necessita estar bem estabelecida e estruturada, superando a visão de atenção seletiva e de mero nível de atenção para garantir uma atenção eficiente e integral, pois além de representar uma estratégia de reordenamento dos sistemas de saúde, ela funciona como base para a RAS. A APS é o centro de comunicação entre as redes de atenção à saúde; ela é a responsável por ordenar os fluxos e contrafluxos de usuários, produtos e informações ao longo de todos os pontos de atenção; faz parte integral do nível de atenção primária e é quem representa, organiza e faz funcionar a porta de entrada do sistema, garantindo acessibilidade aos usuários ou não. Sistemas de saúde fragmentados se dispõem em pontos de atenção à saúde isolados e ineficientes, pois não conseguem assistir de forma contínua e integral a população. “Segundo relatório da OMS, os sistemas de saúde predominantes em todo o mundo estão falhando, pois não estão conseguindo acompanhar a tendência de declínio dos problemas agudos e de ascensão das condições crônicas. Quando os problemas de saúde são crônicos, o modelo de tratamento agudo não funciona.” Esses sistemas possuem uma organização hierárquica, onde não existe comunicação efetiva para continuidade de atenção, tem como foco as condições agudas, possui ênfase nas intervenções curativas e reabilitadoras, o modelo de atenção à saúde fragmentado e sem estratificação dos riscos e a atenção está centrada no cuidado profissional, especialmente no médico. (LEMOS; JANUÁRIO; VIANNA, 2014) Redes de atenção: um modelo de atenção à saúde e processos históricos O SUS pode ser visto como uma das maiores conquistas sociais da constituição de 1998, é fruto de uma construção coletiva e tornou-se a maior política de Estado do País. Nos últimos anos o SUS foi capaz de atingir grandes resultados, dentre eles a significativa redução da taxa de mortalidade materno-infantil e a diminuição da desnutrição. Apesar disso, o Brasil ainda se caracteriza pela diversidade socioeconômica e de necessidades de saúde da população, que exprimem o quão complexo é a implementação de um sistema unificado de saúde no país. Dessa maneira, a gestão do SUS se torna caracterizada pela grande fragmentação de seus serviços, programas, ações e práticas clínicas evidenciadas por grandes ausências assistenciais; baixo financiamento público eficiente; pouca eficiência no emprego dos recursos; estrutura descabida de modelos de atenção, marcada pela incoerência entre a oferta de serviços e a necessidade de atenção; frágil gestão do trabalho com o grave problema de precarização e carência de profissionais em número e alinhamento com a política pública; a pulverização dos serviços nos municípios e a pouca inserção da vigilância e promoção em saúde no cotidiano dos serviços de atenção. “Segundo Mendes, são necessárias reformas sanitárias que resultem em mudanças substanciais que devem englobar desde o processo decisório até a intervenção, passando pelo escopo da gestão e do financiamento da atenção à saúde. Nesse contexto, como proposta de superação da fragmentação da assistência à saúde, o Ministério da Saúde publicou, em 2010, a Portaria 4.279/GM/MS, de 30 de dezembro de 2010 que trata de diretrizes para a estruturação de Redes de Atenção à Saúde. Ela objetiva aperfeiçoar o funcionamento político-institucional do SUS e assegurar ao usuário o conjunto de ações e serviços que necessita com efetividade e eficiência.” A Rede de Atenção à Saúde é caracterizada pela relação horizontal entre os pontos de atenção com o centro de comunicação na atenção primária à saúde, que é considerada o primeiro nível de atenção e que destaca a função decisória dos cuidados primários sobre os problemas mais comuns de saúde, e a partir desta se realiza e coordena o cuidado em todos os pontos de atenção - unidades básicas de saúde; unidades ambulatoriais especializadas; centros de reabilitação, os hospitais e domicílio, que são igualmente importantes no sistema. (LEMOS; JANUÁRIO; VIANNA, 2014) Na estrutura de rede, os pontos de atenção são como nós interligados por disposições materiais e imateriais de comunicação, como os sistemas de apoio -são lugares institucionais onde são oferecidos serviços comuns a todos os pontos de atenção à saúde, formados pelo sistema de apoio diagnóstico e terapêutico e pelos sistemas de informação em saúde- e sistemas logísticos - soluções em saúde ligadas ao conceito de integração vertical, muito utilizadas nas tecnologias de informação. É a validação de um sistema de referência e contrarreferência dos usuários e de trocas de produtos e de informações no espaço da rede de atenção à saúde. Os principais sistemas logísticos da rede são o cartão de identificação dos usuários, o prontuário clínico, os sistemas de acesso regulado à atenção à saúde e os sistemas de transporte em saúde. Para o processo de trabalho em rede, é preciso levar em conta a gestão da clínica, que precisa utilizar como ferramenta as diretrizes e recomendações que guiam as decisões assistenciais de prevenção e promoção de saúde e de organização de serviços. Essas diretrizes são linhas de cuidado que coordenam recursos e práticas de produção de saúde entre os pontos da rede de atenção à saúde, visando um gerenciamento cabível, ágil e individual dos usuários. Portanto, o conjunto da rede de atenção à saúde deve estar sob a gestão de um sistema de governança, que imputa à acareação de questões políticas e estruturais do processo de regionalização, como as relações federativas, as relações público-privadas, as capacidades internas de gestão, a sustentabilidade financeira, a regulação da atenção e o estabelecimento de padrões de qualidade para a provisão de serviços, bem como os padrões de gestão e desempenho das unidades de saúde.(LEMOS; JANUÁRIO; VIANNA, 2014) Fonoaudiologia, redes e processo de trabalho em saúde: Durante o processo de implantação, implementação, planejamento e gestão das redes de atenção, é imprescindível a presença e atuação do fonoaudiólogo. Além das atividades específicas cabíveis nas distintas configurações de redes nacionais, regionais e locais para garantir a identidade profissional, também é fundamental que o fonoaudiólogo faça parte de equipes inter e multiprofissionais e interdisciplinares. Em relação à atuação especializada do fonoaudiólogo, deve ser considerada a gestão e as diretrizes clínicas de acordo com os critérios epidemiológicos e organizativos que fazem parte de cada rede temática -Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência, Rede Cegonha, Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras substâncias, Rede de Urgência e Emergência e Rede de Atenção às Doenças e Condições Crônicas- sempre centrado na integralidade do cuidado em um entendimento amplo do processo de saúde e doença. Apesar do consenso de que a fonoaudiologia tem prioridade nas redes de atenção de Cuidados à Pessoa com Deficiência e de Atenção Psicossocial devido ao foco no diagnóstico e intervenção/reabilitação, um olhar mais ampliado revela que a fonoaudiologia tem lugar nas variadas equipes que compõem as redes temáticas, e sua atuação deve garantir a diversidade de ações junto à prática dos conhecimentos específicos fundamentais para atenção aos problemas de saúde da população. Nesse contexto, a avaliação, diagnóstico, habilitação, reabilitação, acolhimento, prevenção e controle de agravos e promoção de saúde devem ser idealizados e estruturados de acordo com a temática principal da rede em questão. Ainda se faz necessário que no âmbito das redes seja garantida a produção de cuidado, articulada à produção de indicadores e de conhecimento na área, tornando possível o acompanhamento das ações desenvolvidas e a hipótese de novas estratégias de enfrentamento às demandas da rede. “O planejamento e a consolidação de ações promotoras de saúde centradas não apenas em fatores epidemiológicos, mas também no conhecimento real das condições de vida, trabalho e lazer da população a que se destinam faz-se necessário. É fundamental, considerar além dos dados de morbimortalidade, características regionais e indicadores multitemáticos.” É cardinal que o fonoaudiólogo se insira no processo de planejamento e gestão, pois é essencial incluir-se em atividades de macrogestão e de microgestão das redes de atenção para estar presente nas diferentes instâncias de gestão do SUS. (LEMOS; JANUÁRIO; VIANNA, 2014) Por fim, o trabalho do fonoaudiólogo nas redes de atenção pode compreender, entre outros, os seguintes objetivos: “Contribuir para a construção de linhas de cuidado em cada uma das redes temáticas tendo como referência a integralidade e o trabalho em equipe” “Buscar a compreensão e a construção da articulação entre os diversos pontos de atenção;” “Buscar integrar distintas instâncias de gestão, inclusive comitês gestores;” “Participar de padronização de procedimentos e elaboração de protocolos na atenção à saúde Participar de ações destinadas ao planejamento, ao monitoramento e à execução de projetos e programas de saúde;” “Contribuir no planejamento e condução de estudos epidemiológicos e, consequentemente, na produção de conhecimento para a área de saúde;” “Contribuir na informação e no letramento em saúde do usuário do Sistema Único de Saúde Fomentar estratégias de educação permanente.” (LEMOS; JANUÁRIO; VIANNA, 2014) Diretrizes organizativas das redes temáticas de atenção à saúde e compromissos do fonoaudiólogo: A portaria 4.279/GM/MS, de 30 de dezembro de 2010, estabelece diretrizes para a organização da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), torna explícito o processo de implantação das redes de atenção à saúde. “A leitura da Portaria e de seus anexos é o passo inicial para o estabelecimento da configuração do trabalho do fonoaudiólogo e demais profissionais de saúde no âmbito das redes de atenção tendo como referência a justificativa, os fundamentos, os elementos constitutivos e as estratégias de implementação” (LEMOS; JANUÁRIO; VIANNA, 2014) Todas as Redes temáticas possuem suas diretrizes organizativas definidas por portarias específicas, portanto, é de valor buscar conhecer a dimensão das atividades do fonoaudiólogo em cada rede de saúde, tornando viável realizar um ensaio sobre os compromissos que devem ser especificados. Durante a Leitura da Portaria 1.459/GM/MS, de 24 de junho de 201111, que institui, no âmbito do SUS, a Rede Cegonha, compreende-se que são obrigações importantes a serem seguidas pelo fonoaudiólogo de acordo com as autoras: “Trabalho em equipe para a promoção da saúde e da qualidade de vida de gestantes, nutrizes e de crianças de 0 a 24 meses;” “Contribuição para a promoção da amamentação saudável;” “Contribuição para o estabelecimento de dados epidemiológicos quanto ao desenvolvimento neuropsicomotor, com ênfase no desenvolvimento da linguagem e da audição de crianças de 0 a 24 meses;” “Construção e monitoramento de indicadores de desenvolvimento miofuncional, da linguagem e da audição;” “Capacitação de profissionais da rede para identificação e monitoramento de casos de risco para alterações comunicativas, de audição e linguagem;” “Contribuição para construção da linha de cuidado e desenvolvimento para crianças de 0 a 24 meses, tendo como referência a protocolização da avaliação, o diagnóstico e a intervenção a tempo;” De acordo com a Portaria 1.600/GM/MS, de sete de julho de 201112, que reformula a Política Nacional de Atenção às Urgências e institui a Rede de Atenção às Urgências no SUS, é possível perceber a atuação do fonoaudiólogo em diversos pontos de atenção da rede e pensar como afazeres fundamentais, segundo as autoras: “Construção do trabalho em equipe para a garantia do cuidado integral e qualidade de vida de pacientes atendidos pela rede de urgência e emergência;” “Contribuição para a construção de linhas de cuidado integral aos pacientes atendidos pela rede de urgência e emergência;” “Construção e monitoramento de indicadores da atenção fonoaudiológica para pacientes da rede de urgência e emergência;” “Compreensão e construção de projetos terapêuticos singulares;” “Construção de protocolos de atendimento e balizadores terapêuticos para intervenção fonoaudiológica;”. A partir da leitura da Portaria 3088/GM/MS, de 23 de dezembro de 201113, que forja a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras substâncias, no âmbito do SUS e abre espaço para as dimensões de assistência individual e em grupo e para as ações de promoção da saúde, são estabelecidos os deveres do fonoaudiólogo na referida rede, segundo as autoras: “Contribuição para a construção de linhas de cuidado integral para pessoas com sofrimento ou transtorno mental;” “Contribuição para capacitação de profissionais da rede de saúde e educação quanto ao processo comunicativo de crianças, adolescentes e adultos com sofrimento ou transtorno mental;” “Compreensão do processo comunicativo como um dos eixos fundamentais para a construção da cidadania e estratégia de enfrentamento da violência;” A Portaria 793/GM/MS, de 24 de abril de 201214, que institui a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência na esfera do SUS, delega alguns compromissos a serem assumidos segundo as autoras, dentre eles: “Trabalho em equipe para a promoção da saúde e da qualidade de vida da pessoa com deficiência, em todos os ciclos de vida;” “Contribuição para a promoção da cidadania e inclusão socialde pessoas com deficiência;” “Contribuição para a construção de linhas de cuidado integral para pessoas com deficiência;” “Contribuição para capacitação de profissionais das redes de saúde e educação quanto ao processo de inclusão e apoio terapêutico para crianças e adolescentes com deficiência;” “Construção, aplicação e acompanhamento de projetos terapêuticos singulares para pessoas com deficiência Protocolização da avaliação e do diagnóstico fonoaudiológico;” “Construção de protocolos de atendimento e balizadores terapêuticos da intervenção fonoaudiológica da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência;” Por fim, a Portaria 252/GM/MS, de 19 de fevereiro de 201315, que institui a Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas no SUS, de acordo com as autoras, remete aos compromissos de: “Contribuição para a construção de linhas de cuidado integral para pessoas com doenças crônicas;” “Contribuição para a construção de estratégias de prevenção de agravos;” “Contribuição para projetos de letramento de saúde que atendam aos problemas e necessidades de pacientes com doenças crônicas;” Formação do fonoaudiólogo e trabalho em rede: Para corresponder à configuração das redes de atenção, é necessário que ocorram mudanças na formação do fonoaudiólogo, buscando o equilíbrio entre prática e formação profissional no Sistema Único de Saúde. Esse processo deve ser iniciado ainda na formação acadêmica e ser continuado com a inserção do fonoaudiólogo no mercado de trabalho, para isso é preciso buscar meios de aproximação entre ensino e trabalho, e inclusão em meios reais de trabalho em saúde no SUS. Entretanto, a regulamentação ainda é um desafio para a gestão em saúde no Brasil, um país de proporções continentais. “Por fim, um desafio importante é a formação em Fonoaudiologia, que tradicionalmente contou com a formação centrada na especialização e na lógica da atenção individual. Realidade que tem mudado nos últimos anos com as políticas indutoras para a formação em saúde (PETsaúde, Pró-saúde). Contudo, ainda há que se investir muito na graduação e na formação continuada de profissionais no âmbito do Sistema Único de Saúde.” (LEMOS; JANUÁRIO; VIANNA, 2014). Resumo do Tratado de Especialidades em Fonoaudiologia, capítulo 93: PLANEJAMENTO E GESTÃO - INTERFACES DAS MICRO E MACROPOLÍTICAS DE SAÚDE Marcus Valerius da Silva Peixoto Andrea Wander Bonamigo Maria Aparecida Miranda de Paula Machado Saúde coletiva e planejamento em saúde: A fonoaudiologia vem ampliando cada vez mais as oportunidades de conexão com a saúde coletiva, se aprofundando no estudo sobre o processo saúde-doença para além de um fenômeno biológico e no âmbito das práticas. Mas, o caminho ainda é longo pela frente e pode apresentar desafios para a prática em saúde da Fonoaudiologia na organização de serviços de saúde, e também na necessidade de se aplicar um olhar científico para a investigação nas suas intervenções no espaço coletivo. “A saúde coletiva pode ser concebida como um campo de práticas e um campo de saber que compreende a saúde enquanto um fenômeno social, de modo a superar o biologicismo dominante, a naturalização da vida social e submissão da clínica a modelos assistenciais hegemônicos incoerentes com as necessidades de saúde da população.” (PEIXOTO; BONAMIGO; MACHADO, 2014). A produção teórico-prática da saúde coletiva sustentou as práticas do movimento político “Reforma Sanitária Brasileira” de 1970, que contribuiu para mudanças do que se entendia por saúde no Brasil e também para a consolidação do SUS em 1988. A saúde coletiva é “sustentada” por três principais pilares disciplinares: epidemiologia, ciências sociais em saúde e planejamento em saúde. Planejamento em saúde: do senso comum à ferramenta de gestão e processo social: Qualquer sujeito tem consigo a capacidade de planejar para nortear suas ações, mas quando o assunto são as instituições de saúde (ministérios, secretarias, serviços, distritos), essa atividade é fundamental tanto para o comprometimento delas com a transformação das condições de saúde de uma população, tanto para melhor destinação de recursos, distribuição do trabalho e comprometimento de todos com determinados objetivos, e é nesse contexto que o planejamento em saúde determina uma área de interação com a Política de Saúde, que compreende questões relacionadas ao pode em saúde, e a questões que se referem ao estabelecimento de diretrizes, planos, programa e projetos de saúde. O planejamento em saúde enquanto ferramenta é uma forma de expressar uma Política de Saúde, tanto em suas diretrizes mais amplas que se estendem para fins didáticos como uma “macropolítica” que também podem expressar uma “micropolítica”, através de programas e projetos a fim de traduzir de forma detalhada as amplas diretrizes políticas em ações articuladas com objetivos, atividades e recursos, observando-se sua viabilidade de aplicação e execução. As micropolíticas se referem às práticas rotineiras que acontecem através da troca dos saberes e relações entre profissional, gestor e usuários, que possibilitam o estabelecimento da autonomia e a construção conjunta dos caminhos a trilhar na construção do cuidado. Já as macropolíticas, estão ligadas ao entendimento do sistema e também se estende à articulação com outros setores, como a educação. Fonoaudiologia e o planejamento e gestão em saúde; O ato de planejar/programa e de avaliar as ações e serviços da Fonoaudiologia, e também de outras áreas ligadas à reabilitação, é complexo por motivos como os seguintes: “Existe relativa imprevisibilidade de duração do processo terapêutico, em virtude da singularidade de cada um dos usuários, tanto de seu distúrbio quanto de sua resposta à terapia, ou seja, inviabilizando um dimensionamento prévio da capacidade instalada dos serviços;” “O fato de a terapia ter geralmente uma frequência, no mínimo, semanal exige uma grande logística de agendamento de pacientes para evitar que os profissionais fiquem ociosos ou sobrecarregados;” “Os indicadores de saúde para esse tipo de atenção ainda são muito incipientes no SUS;” “Os sistemas de informação necessitam de aprimoramento para garantir melhor avaliação, e planejamento das ações nesse âmbito;” (PEIXOTO; BONAMIGO; MACHADO, 2014) Então, fica clara a necessidade e os desafios do fonoaudiólogo que, quer esteja na atenção à saúde, quer esteja na gestão, na programação de serviços ou na formulação de macropolíticas públicas, ter um melhor entendimento sobre o planejamento e avaliação em saúde a fim de programar melhor os serviços, refinar os fluxos dos usuários e fortalecer a categoria no âmbito do sistema público de saúde. Do enfoque normativo ao estratégico: um breve histórico para a compreensão do planejamento em saúde hoje: No contexto das mudanças de condição de vida e saúde da população a partir da metade do século XX, foi que em 1960 a Organização Panamericana de Saúde (OPS) e o Centro de Estudos do Desenvolvimento da Universidade Central da Venezuela, com ajuda da Comissão Econômica para América Latina (Cepal), desempenharam um papel fundamental na elaboração do método de planejamento conhecido como Cendes-OPS, que foi marcado pelo viés desenvolvimentista/economicista e considerava que os países "subdesenvolvidos" deveriam seguir os caminhos dos países desenvolvidos, deixando de lado a importância de se aprofundar no contexto vivido pelos países em questão. Dessa forma o ato do planejamento ficou recluso aos gestores e técnicos do nível central dos ministérios da saúde e órgãos similares, restando a execução de programas e campanhas para a gestão local e serviços. O empenho para a implementação do planejamento como ferramenta passou a ajudar na formulação de políticas de saúde.Em 1975 aconteceu um grande marco, uma publicação realizada pela OPS, do documento clássico chamado “Formulación de Políticas de Salud”, mais conhecido como método CPPS - Centro Pan-americano de Planejamento em Saúde. Esse documento reforça a ideia que a autoridade política estabelece os objetivos gerais que pretende alcançar e os meios para atingi-los. Nesse sentido, a formulação de uma política de saúde possui uma sequência que inclui a elaboração de: Imagem-objetivo (definida como uma situação futura desejada, ou seja, é a situação que se pretende alcançar com a intervenção/política a ser planejada) Formulação de preliminar de proposições (trata-se do delineamento dos objetivos da intervenção, representa uma situação intermediária entre a situação presente e a imagem-objetivo, além disso, definem-se prazos e meios para alcançá-la). Análise das proposições (inclui a análise de coerência e factibilidade visando fixar as prioridades, observando-se os recursos humanos, financeiros, de equipamentos e instalações disponíveis, também a organização técnico-administrativa e operacional). Estratégia (balanço do que é possível fazer para se modificar uma situação de saúde, analisando-se como as decisões vão impactar e gerar diversas atitudes dos atores sociais envolvidos com a ação; envolve diversos cálculos políticos e técnico-administrativos). Formalização de Políticas (o último passo da sequência envolve a explicitação de uma política através de leis, diretrizes, portarias, planos, programas ou projetos). (OPS, 1975). Apesar dos méritos do planejamento normativo, sua lógica vertical e tecnocrata acarretaram críticas, apesar de sua utilização ainda ser observada no Sistema Único de Saúde nos dias de hoje. No caso da oferta de procedimentos fonoaudiológicos em especial, pode ocorrer que, em muitos municípios e estados, sequer emprega-se tal método de planejamento, ficando a implantação dos serviços e distribuição de procedimentos ocorrendo por critérios de facilidade apenas. Essa situação está longe da ideal, pode gerar grandes iniquidades de acesso da população aos serviços de Fonoaudiologia, filas evitáveis, distribuição de recursos incoerentes com as necessidades de saúde da população”.(PEIXOTO; BONAMIGO; MACHADO, 2014) O Brasil pode ser considerado solo fértil para desenvolvimentos de pensamentos sobre planejamento em saúde, porque existe ainda uma relevante produção científica que herdada de muitos dos “intelectuais orgânicos” envolvidos com a Reforma Sanitária Brasileira, também se destacam as chances de experimentação das prósperas práticas de planejamento em municípios e estados no início do SUS e durante seu processo de implementação. “O arcabouço jurídico-institucional do SUS contido nas Leis 8.080/90 e 8.142/90 (leis orgânicas da saúde) aponta para as responsabilidades de se elaborar o planejamento estratégico nos âmbitos nacional, estadual e municipal. No decorrer das mais de duas décadas de SUS, esse tema vem ganhando grande importância, sendo admitido em outras legislações como no Pacto pela Saúde, instituído pelas Portarias do Ministério da Saúde 399, de 22 de fevereiro de 2006, e 699, de 30 de março de 2007. Além disso, desde 2006 o Brasil conta com o Sistema de Planejamento no SUS, chamado PlanejaSUS. Ele visa institucionalizar o planejamento estratégico no âmbito do SUS e contribuir para aumentar a capacidade técnica dos estados e municípios ao realizarem essa prática mediante instrumentos qualificados.” (PEIXOTO; BONAMIGO; MACHADO, 2014) Desafios na formação e na ação: As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) orientam o curso de fonoaudiologia, e em seu artigo 4º está proposta uma base comum para todos os cursos da área da saúde, se referindo às competências e habilidades gerais necessárias para as práticas do fonoaudiólogo, destacando-se que: “cada profissional deve assegurar que sua prática seja realizada de forma integrada e contínua com as demais instâncias do sistema de saúde, sendo capaz de pensar criticamente, de analisar os problemas da sociedade e de procurar soluções para os mesmos”. Ainda nas DCN é enfatizada a necessidade de os profissionais apresentarem características de liderança nos processos de gestão e no trabalho em equipe multiprofissional, atentando ao fado que a liderança envolve “compromisso, responsabilidade, empatia, habilidade para tomada de decisões, comunicação e gerenciamento de forma efetiva e eficaz” No terreno do processo de trabalho e organização dos serviços, a formação do profissional fonoaudiólogo tende a atuar com mais ênfase na gestão das micropolíticas, por causa do planejamento e monitoramento terapêutico, do acompanhamento de grupos, da elaboração de protocolos, entre outros, presentes na rotina diária. “Ceccin e Feuerwerker apontam para a possibilidade da formação em saúde a partir da interação entre os segmentos compreendidos pelo ensino, práticas de atenção, gestão setorial e do controle social. Essa interação é chamada de ‘Quadrilátero da Formação’ e de acordo com os autores deve dignificar as características locais, valorizar as capacidades instaladas, desenvolver as potencialidades existentes em cada realidade, estabelecer a aprendizagem significativa, efetiva, afetiva, criativa, capacidade de crítica, bem como produzir sentidos, autoanálise e autogestão.” (PEIXOTO; BONAMIGO; MACHADO, 2014) .
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