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Portfólio - Saúde Coletiva aplc a fono

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Universidade Federal da Paraíba – UFPB 
Centro de Ciências da Saúde – CCS 
Dep. de Fonoaudiologia 
Docente: Profª Drª Janaína Von Shosten Trigueiro 
Discente: Sara Varela Luckwü de Oliveira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Portfólio de Saúde Coletiva Aplicada 
à fonoaudiologia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
João Pessoa - PB 
03 de Novembro de 2021 
 
Resumo do artigo 
 A POTENCIALIDADE DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE ATENÇÃO 
BÁSICA PARA AÇÕES EM FONOAUDIOLOGIA 
Janice Vielmo Cáceres 
 Andrielle de Bitencourt Pacheco 
Elenir Fedosse 
Jayne Guterres de Mello 
 
 O Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB) é um software 
desenvolvido para computadores que é “alimentado por algumas fichas (A, B, 
C, D), e a partir delas são gerados os relatórios - Situação de Saúde e 
Acompanhamento das Famílias na Área (SSA-2), Situação de Saúde e 
Acompanhamento das Famílias no Município (SSA-4), Produção e Marcadores 
para Avaliação por Área (PMA-2), Produção e Marcadores para Avaliação por 
Município (PMA-4) – e os consolidados A1, A2, A3 e A418”, e foi instaurado 
para substituir o antigo Sistema de Informação do Programa de Agentes 
Comunitários de Saúde (SIPACS). Seu objetivo é acompanhar as ações e os 
resultados das atividades realizadas pelas equipes da Estratégia de Saúde da 
Família (ESF) e do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) 
tendo como orientação uma determinada população local, e deve resultar no 
auxílio e planejamentos das equipes citadas. Além disso, o SIAB “descreve a 
realidade sócio-econômica, indica as condições de saúde, adoecimento e 
morte, avalia as condições dos serviços e atenção em saúde e colabora no 
monitoramento da situação de saúde de uma área territorial.” (CÁCERES, J. et 
al. 2014) 
 É conhecido que o Sistema Único de Saúde (SUS) categoriza os níveis 
de atenção à saúde em - Primária/Básica, Secundária/Média complexibilidade 
e Terciária/Alta complexibilidade, onde a atenção primária deve ser a porta de 
entrada do usuário ao SUS. Apesar de nos documentos oficiais ser previsto ao 
fonoaudiólogo a competência de atuar nos níveis de média e alta 
complexibilidade, a fonoaudiologia tem almejado se inserir e garantir cada vez 
mais a sua participação na atenção básica, realizando ações de promoção, 
proteção e recuperação da saúde, e o SIAB mostra-se um potencial aliado para 
os planejamentos de ações fonoaudiológicas, pois fornece dados que permitem 
identificar as desigualdades presentes, localizar os problemas de saúde em 
microrregiões, prestar intervenções e aperfeiçoar o uso do sistema de saúde. 
 Ao analisar as fichas e os relatórios fornecidos pelo SIAB, as autoras do 
artigo encontraram pontos de interesse para a fonoaudiologia, isto é, dados 
relativos às condições socioeconômicas, hábitos de vida e saúde, tal qual a 
presença de doenças e/ou de agravos à saúde, que são fundamentais para a 
definição das ações na área.”O SIAB possibilita, então, a realização de um 
diagnóstico situacional representativo da realidade concreta de uma dada 
população e, consequentemente, favorece o planejamento de ações 
fonoaudiológicas de natureza preventiva e/ ou reabilitadora”; ainda o SIAB 
revela também a produção em saúde da população local em questão. Consta 
também no referido artigo, que apesar da divergência das informações entre os 
dados produzidos no nível local (ESF) e o consolidado municipal apresentado 
(SMS) (como a redução do número de ACS - de seis ACS previstos existiam 
quatro, e de outros profissionais da equipe mínima da ESF - faltavam o 
enfermeiro e o dentista), o entendimento das autoras sobre a importância das 
informações levantadas pelos instrumentos do SIAB possibilitarem ao 
fonoaudiólogo decisões a respeito do tipo de ação a ser efetuada no âmbito de 
uma ESF, permanece o mesmo e que na impossibilidade de encontrar 
relatórios referentes à atenção básica desenvolvida em uma cidade -SSA4, 
poderão ser analisados, nas unidades de saúde aqueles dados referentes à 
micro-área e/ou área específica -os relatórios SSA2 (ao passo que, o relatório 
SSA2 reúne os dados de uma área, o relatório SSA4 reúne as informações de 
todas as ESF da cidade). Sendo assim, os relatórios abordados permitem que 
o fonoaudiólogo que atua junto ao ACS entenda a situação de moradia e o 
perfil da comunidade assistida, o que facilita o planejamento das ações. “Por 
exemplo, nas regiões em que há um grande número de mulheres adultas, 
pode-se pensar em ações voltadas para gestação e amamentação; já nas que 
se identifica grande número de idosos há a possibilidade de planejamento e 
execução de grupos de convivência”. (CÁCERES, J. et al. 2014) 
 Apesar da competência do SIAB como instrumento de diagnóstico e 
planejamento em saúde, os dados nele encontrados não podem responder 
completamente ao conhecimento das circunstâncias da saúde fonoaudiológica 
da população, por isso os profissionais devem atuar adjacente aos ACS e aos 
outros profissionais das equipes de referência, apanhando novas informações 
que respondam ao núcleo da Fonoaudiologia, como as que dizem respeito à 
audição, alimentação e comunicação em todos os ciclos de vida dos usuários. 
Essa conformidade será responsável por favorecer o desenvolvimento de 
ações e o reconhecimento da Fonoaudiologia nos serviços públicos 
municipais. 
Portanto, mesmo sendo uma ferramenta de gestão, não se pode 
descartar o potencial do SIAB para os fonoaudiólogos que atuam na saúde 
pública, como ferramenta para realizar o diagnóstico situacional e o 
planejamento das ações, pois os dados presentes no SIAB possibilitam a 
aproximação dos fonoaudiólogos com as necessidades dos usuários atendidos 
pela atenção primária, favorecem a organização das ações, estimulam o 
protagonismo dos profissionais e usuários, favorecendo assim, o vínculo e a 
realização das ações. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Resumo do Ebook “Cuidado em saúde e práticas fonoaudiológicas” capítulo 11: 
 
PRÁTICA INTERPROFISSIONAL COLABORATIVA: 
Contribuições para/da fonoaudiologia 
Heloise Fernandes Agreli 
Jaqueline Alcântara Marcelino da Silva 
Michelly Santos de Andrade 
 
Variadas condições clínicas que têm relação com a comunicação - à 
exemplo a perda auditiva (P.A), requerem assistência individuais, familiares e 
coletivas, que compreendem ações de promoção, prevenção, reabilitação e 
aperfeiçoamento da comunicação humana, tornando necessária a intervenção 
do fonoaudiólogo junto às equipes de saúde atuantes. Entretanto, os cuidados 
fonoaudiológicos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ainda são 
poucos e insuficientes, mesmo com a crescente demanda por estes cuidados. 
“‘Os problemas de acesso à assistência fonoaudiológica podem ser ainda mais 
graves, se considerarmos que a existência de deficiência, tal como auditiva, 
pode dificultar a comunicação entre pacientes e profissionais, constituindo-se 
em mais uma barreira ao acesso à saúde’ (IEZZONI et al. 2004).” (AGRELI; 
SILVA; ANDRADE, 2021) 
 Usuários (ou não) do SUS que possuem deficiências fazem parte do 
grupo de risco de pessoas que estão mais suscetíveis a desenvolver doenças 
secundárias ou doenças crônicas, e podem precisar ser assistidas pela 
fonoaudiologia, e também por outros profissionais e equipes que pratiquem o 
trabalho de atendimento integrado. Para essa problemática, o Ministério da 
Saúde (2015) propõe o fortalecimento do trabalho em equipes de saúde, que 
no contexto da prática colaborativa tem sua potencialidade no fortalecimento de 
sistemas integrados de saúde, que são caracterizados pelas ações 
interprofissionais e intersetoriais. 
 A prática interprofissional colaborativa (PIC) é a prática que ocorre 
quando profissionais de diferentes áreas efetuam serviços tendo como base a 
integralidade da saúde, e envolvem os pacientes, famílias, cuidadores e 
comunidade para atenção à saúde de qualidade em todos os níveis da rede de 
serviços. A PIC tem como elemento principal a atenção centrada na pessoa, 
isto é, “cuidarcom as pessoas” e não apenas “cuidar para as pessoas”. A 
comunicação é uma peça-chave para a efetividade da PIC, pois os 
profissionais das mais diversas áreas precisam, em algum ponto, entrar em 
acordo quanto ao plano de ação que deve guiar o cuidado e a atenção à 
saúde. Portanto, a comunicação é intrínseca ao tema deste capítulo, e “deve 
ser assertiva, expressa nas suas diferentes e complementares modalidades 
(oral, escrita, gestual, suplementar/alternativa) e possibilitar a produção de um 
cuidado compartilhado entre profissionais e usuários, considerando o papel da 
cultura e da linguagem no processo de saúde e doença (CONSELHO 
NACIONAL DE SAÚDE, 2018).” (AGRELI; SILVA; ANDRADE, 2021) 
 Além disso, uma comunicação eficiente e eficaz entre profissionais de 
diferentes áreas envolvidos em um mesmo caso pode evitar erros e 
acontecimentos discrepantes na assistência à saúde, essa boa comunicação 
pode e deve ser exaltada e praticada desde a formação acadêmica dos 
profissionais de saúde, através de vivências como o PET-Saúde 
Interprofissionalidade, que associa o trabalho em equipe à prática 
interprofissional colaborativa e à educação interprofissional em saúde, pois 
problemas de comunicação como conflitos e/ou falta de confiança entre os 
profissionais e estruturas organizacionais muito hierarquizadas podem dificultar 
a comunicação interprofissional, causando conflitos, que por sua vez, geram 
bloqueio das relações humanas, provocando atos de negociação e disputa 
entre os profissionais da saúde. Sendo assim, a educação interprofissional se 
manifesta como uma das respostas para proporcionar os avanços necessários 
na comunicação interprofissional e na consolidação da PIC. 
 Nesse contexto, as autoras do capítulo em questão apontam como papel 
da fonoaudiologia: 
 “Definir critérios que contemplem a comunicação em todas as suas 
nuances, tais como: modalidades da linguagem utilizadas, formas de 
expressão da comunicação (agressiva ou não-agressiva), empatia e 
interesse pela comunicação do outro, se fornece explicações em 
linguagem apropriada e clara, se há validação da compreensão da 
mensagem emitida pelos atores envolvidos no processo de cuidado em 
saúde (profissionais> demais profissionais, profissionais> usuários, 
usuários>profissionais);” (AGRELI; SILVA; ANDRADE, 2021) 
 “Desenvolver estratégias de comunicação incorporadas às propostas de 
educação permanente dos profissionais da saúde; que contemplem as 
diferentes modalidades da comunicação entre trabalhadores-
trabalhadores e entre trabalhadores-usuários, reduzindo o volume de 
conflitos e de planos de cuidado não compartilhados que podem 
submeter o usuário a procedimentos desnecessários/ repetitivos;” 
(AGRELI; SILVA; ANDRADE, 2021) 
 “Possibilitar espaço para promover autoconfiança e felicidade do sujeito 
nos diferentes espaços que ocupa, por meio de habilidades 
comunicativas efetivas;” (AGRELI; SILVA; ANDRADE, 2021) 
 “Ofertar oficinas de linguagem e/ou voz para aperfeiçoar a capacidade 
comunicativa dos usuários expressarem suas necessidades de saúde e 
os profissionais com vistas à qualificação do vínculo e garantir uma 
orientação adequada, isto é, que seja compreendida pelo usuário.” 
(AGRELI; SILVA; ANDRADE, 2021) 
 
 Por fim, a partir do disposto no presente texto, evidencia-se a prática 
interprofissional colaborativa na assistência fonoaudiológica como uma 
promessa futura de evolução no cuidado, integração entre profissionais, 
usuários, serviços de saúde e cuidado centrado no paciente, podendo os 
fonoaudiólogos fazer parte do avanço no trabalho colaborativo se desde a 
academia forem inseridos ao contexto da comunicação interprofissional junto 
aos demais profissionais de saúde. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Resumo do Tratado de Especialidades em Fonoaudiologia, capítulo 89: 
REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE E FONOAUDIOLOGIA 
Stela Maris Aguiar Lemos 
Gabriela Cintra Januário 
Karina Mary de Paiva-Vianna 
Atenção à saúde: aspectos contextuais: 
 
 Em meio às tentativas de responder as importantes mudanças sociais e 
das práticas de saúde por causa do crescente processo de urbanização e 
industrialização e da certificação do direito da população à saúde e do encargo 
do Estado sobre promover e proteger a saúde é que emerge o conceito dos 
Determinantes Sociais da Saúde (DSS). Esses e mais fatores de mudanças 
sociais trouxeram a necessidade de mudança para o sistema de saúde 
brasileiro, que precisou se reestruturar às respostas sociais e às novas 
demandas de saúde da população. O aparecimento do aspecto sociopolítico no 
processo saúde-doença durante o período pós-guerra e a perspectiva biológica 
e social desse processo abriu um novo campo de conhecimento de prática e 
educação, iluminando o fato de que as condições econômicas e sociais da 
população exercem efeitos importantes sobre a saúde e a doença. Nesse 
contexto e de acordo com a Comissão Nacional sobre os Determinantes 
Sociais da Saúde (CNDSS), os DSS são os fatores sociais, econômicos, 
culturais, étnico-raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a 
ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. Os 
estudos sobre os DSS trazem consigo grandes desafios, como estabelecer 
uma hierarquia de determinações entre fatores de natureza social, econômica e 
política e perceber como estes fatores concernem sobre as condições de 
saúde de indivíduos e grupos populacionais e o avanço da ciência e 
tecnologias junto ao processo de urbanização e industrialização, o controle das 
doenças infecciosas e parasitárias e o aumento da prevalência das doenças 
crônicas (não transmissíveis) têm transformado o panorama demográfico e 
epidemiológico brasileiro, acarretando necessidade de mudanças no modelo da 
saúde. 
“Do ponto de vista demográfico, o Brasil tem vivido um acelerado e 
tardio envelhecimento populacional, se comparado com os países 
desenvolvidos. Os idosos, indivíduos com mais de 60 anos, que representavam 
2,7% em 1960, passaram para 5,4% em 2000 e alcançarão 19% em 2050, 
superando o número de jovens”, que perfaz no crescente aumento do convívio 
com as doenças crônicas, ocasionando a sobrecarga do sistema de saúde que 
não foi planejado para atender de forma efetiva essa nova demanda, pois 
historicamente foi preparado para atender às condições agudas (doenças 
transmissíveis). “As características das condições agudas, de curto curso, 
possibilitam um sistema de saúde reativo e com respostas episódicas. Já as 
condições crônicas, de longo curso, exigem atuação proativa deste sistema, 
como forma de garantir respostas contínuas e integradas às necessidades da 
população.” A partir disto, a situação epidemiológica no Brasil vem sendo 
considerada como tripla carga de doenças, pois envolve simultaneamente a 
convivência com doenças infecciosas, desnutrição e problemas de saúde 
reprodutiva; o desafio das doenças crônicas e seus fatores de risco, como 
tabagismo, sobrepeso e obesidade, sedentarismo e estresse; e o contínuo 
crescimento das causas externas. (LEMOS; JANUÁRIO; VIANNA, 2014) 
 
Redes de Atenção à Saúde: aspectos conceituais e elementos constitutivos 
 
 O cenário da saúde no Brasil mostra a vivência de uma transição 
demográfica rápida, junto à convivência com a tripla carga de doenças, com a 
grande influência de doenças crônicas. Como uma saída, o sistema de saúde 
tornou-se um sistema fragmentado, com atenção voltada às condições agudas 
e às agudizações de condições crônicas, operando de forma episódica e 
reativa. 
A ideia de Redes de Atenção à Saúde (RAS) surgiu no Relatório Dawson 
(Reino Unido, 1920) e foi revisitada nos anos 90 com a crise global dos 
sistemas de saúde que emergia. Já no Brasil, o Ministério da saúde (MS) 
declara a RAS como arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de 
diferentes densidades tecnológicas, que integradas por meio de sistemas de 
apoio técnico, logístico e de gestão buscam garantir a integralidade do cuidado. 
O conceito de hierarquia na RASé substituído pela poliarquia ou rede de 
malhas, onde um nó se liga a outros nós, permanecendo sempre 
interconectados e é um sistema horizontal, onde sua conformação é uma rede 
de pontos sem ordem e grau de importância entre eles.”A Organização Mundial 
da Saúde (OMS) considera que as RAS contém seis modalidades de 
integração: um conjunto amplo de intervenções preventivas e curativas para 
uma população; os espaços de integração de vários serviços; a atenção à 
saúde contínua; a integração vertical de diferentes níveis de atenção; a 
vinculação entre a formulação da política de saúde e a gestão; e o trabalho 
intersetorial.” (LEMOS; JANUÁRIO; VIANNA, 2014) 
 A RAS é formada por três elementos fundamentais: população, uma 
estrutura operacional e um modelo de atenção à saúde. A população sob 
responsabilidade de uma RAS deve ser registrada em sistemas de informações 
potentes, segmentada, subdividida em subpopulações por fatores de risco, 
estratificada por riscos em relação às condições de saúde estabelecidas. Isso 
envolve um processo complexo e estruturado de territorialização, 
cadastramento das famílias, classificação das famílias por risco sociossanitário, 
filiação das famílias à Unidade de Atenção Primária à Saúde (APS)/Equipe do 
Programa de Saúde da Família (PSF), identificação de subpopulações com 
fatores de risco, com condições de saúde estratificadas por graus de riscos e 
com condições de saúde muito complexas e é papel da APS se articular 
intimamente com a população. A estrutura operacional da RAS é feita pelos 
nós e pelas interconexões entre esses nós, e essa estrutura é formada por um 
centro de comunicação, atenção primária à saúde, pontos de atenção 
secundários e terciários, sistemas de apoio, sistemas logísticos e sistema de 
governança da rede de atenção à saúde. Por fim, o modelo de atenção à saúde 
é constituído por sistemas lógicos que organizam o funcionamento das redes 
de atenção, articulam as relações entre as populações e suas subpopulações 
em risco, determinam os focos das intervenções no sistema e os tipos de 
intervenções sanitárias a serem realizadas. 
 
Atenção primária à saúde como eixo das redes 
 
A APS necessita estar bem estabelecida e estruturada, superando a 
visão de atenção seletiva e de mero nível de atenção para garantir uma 
atenção eficiente e integral, pois além de representar uma estratégia de 
reordenamento dos sistemas de saúde, ela funciona como base para a RAS. A 
APS é o centro de comunicação entre as redes de atenção à saúde; ela é a 
responsável por ordenar os fluxos e contrafluxos de usuários, produtos e 
informações ao longo de todos os pontos de atenção; faz parte integral do nível 
de atenção primária e é quem representa, organiza e faz funcionar a porta de 
entrada do sistema, garantindo acessibilidade aos usuários ou não. 
Sistemas de saúde fragmentados se dispõem em pontos de atenção à 
saúde isolados e ineficientes, pois não conseguem assistir de forma contínua e 
integral a população. “Segundo relatório da OMS, os sistemas de saúde 
predominantes em todo o mundo estão falhando, pois não estão conseguindo 
acompanhar a tendência de declínio dos problemas agudos e de ascensão das 
condições crônicas. Quando os problemas de saúde são crônicos, o modelo de 
tratamento agudo não funciona.” Esses sistemas possuem uma organização 
hierárquica, onde não existe comunicação efetiva para continuidade de 
atenção, tem como foco as condições agudas, possui ênfase nas intervenções 
curativas e reabilitadoras, o modelo de atenção à saúde fragmentado e sem 
estratificação dos riscos e a atenção está centrada no cuidado profissional, 
especialmente no médico. (LEMOS; JANUÁRIO; VIANNA, 2014) 
 
 Redes de atenção: um modelo de atenção à saúde e processos históricos 
 
 O SUS pode ser visto como uma das maiores conquistas sociais da 
constituição de 1998, é fruto de uma construção coletiva e tornou-se a maior 
política de Estado do País. Nos últimos anos o SUS foi capaz de atingir 
grandes resultados, dentre eles a significativa redução da taxa de mortalidade 
materno-infantil e a diminuição da desnutrição. Apesar disso, o Brasil ainda se 
caracteriza pela diversidade socioeconômica e de necessidades de saúde da 
população, que exprimem o quão complexo é a implementação de um sistema 
unificado de saúde no país. Dessa maneira, a gestão do SUS se torna 
caracterizada pela grande fragmentação de seus serviços, programas, ações e 
práticas clínicas evidenciadas por grandes ausências assistenciais; baixo 
financiamento público eficiente; pouca eficiência no emprego dos recursos; 
estrutura descabida de modelos de atenção, marcada pela incoerência entre a 
oferta de serviços e a necessidade de atenção; frágil gestão do trabalho com o 
grave problema de precarização e carência de profissionais em número e 
alinhamento com a política pública; a pulverização dos serviços nos municípios 
e a pouca inserção da vigilância e promoção em saúde no cotidiano dos 
serviços de atenção. 
 “Segundo Mendes, são necessárias reformas sanitárias que resultem em 
mudanças substanciais que devem englobar desde o processo decisório até a 
intervenção, passando pelo escopo da gestão e do financiamento da atenção à 
saúde. Nesse contexto, como proposta de superação da fragmentação da 
assistência à saúde, o Ministério da Saúde publicou, em 2010, a Portaria 
4.279/GM/MS, de 30 de dezembro de 2010 que trata de diretrizes para a 
estruturação de Redes de Atenção à Saúde. Ela objetiva aperfeiçoar o 
funcionamento político-institucional do SUS e assegurar ao usuário o conjunto 
de ações e serviços que necessita com efetividade e eficiência.” A Rede de 
Atenção à Saúde é caracterizada pela relação horizontal entre os pontos de 
atenção com o centro de comunicação na atenção primária à saúde, que é 
considerada o primeiro nível de atenção e que destaca a função decisória dos 
cuidados primários sobre os problemas mais comuns de saúde, e a partir desta 
se realiza e coordena o cuidado em todos os pontos de atenção - unidades 
básicas de saúde; unidades ambulatoriais especializadas; centros de 
reabilitação, os hospitais e domicílio, que são igualmente importantes no 
sistema. (LEMOS; JANUÁRIO; VIANNA, 2014) 
 Na estrutura de rede, os pontos de atenção são como nós interligados 
por disposições materiais e imateriais de comunicação, como os sistemas de 
apoio -são lugares institucionais onde são oferecidos serviços comuns a todos 
os pontos de atenção à saúde, formados pelo sistema de apoio diagnóstico e 
terapêutico e pelos sistemas de informação em saúde- e sistemas logísticos -
soluções em saúde ligadas ao conceito de integração vertical, muito utilizadas 
nas tecnologias de informação. É a validação de um sistema de referência e 
contrarreferência dos usuários e de trocas de produtos e de informações no 
espaço da rede de atenção à saúde. Os principais sistemas logísticos da rede 
são o cartão de identificação dos usuários, o prontuário clínico, os sistemas de 
acesso regulado à atenção à saúde e os sistemas de transporte em saúde. 
 Para o processo de trabalho em rede, é preciso levar em conta a gestão 
da clínica, que precisa utilizar como ferramenta as diretrizes e recomendações 
que guiam as decisões assistenciais de prevenção e promoção de saúde e de 
organização de serviços. Essas diretrizes são linhas de cuidado que 
coordenam recursos e práticas de produção de saúde entre os pontos da rede 
de atenção à saúde, visando um gerenciamento cabível, ágil e individual dos 
usuários. 
 Portanto, o conjunto da rede de atenção à saúde deve estar sob a 
gestão de um sistema de governança, que imputa à acareação de questões 
políticas e estruturais do processo de regionalização, como as relações 
federativas, as relações público-privadas, as capacidades internas de gestão, a 
sustentabilidade financeira, a regulação da atenção e o estabelecimento de 
padrões de qualidade para a provisão de serviços, bem como os padrões de 
gestão e desempenho das unidades de saúde.(LEMOS; JANUÁRIO; VIANNA, 
2014) 
 
Fonoaudiologia, redes e processo de trabalho em saúde: 
 
 Durante o processo de implantação, implementação, planejamento e 
gestão das redes de atenção, é imprescindível a presença e atuação do 
fonoaudiólogo. Além das atividades específicas cabíveis nas distintas 
configurações de redes nacionais, regionais e locais para garantir a identidade 
profissional, também é fundamental que o fonoaudiólogo faça parte de equipes 
inter e multiprofissionais e interdisciplinares. Em relação à atuação 
especializada do fonoaudiólogo, deve ser considerada a gestão e as diretrizes 
clínicas de acordo com os critérios epidemiológicos e organizativos que fazem 
parte de cada rede temática -Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência, 
Rede Cegonha, Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento 
ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool 
e outras substâncias, Rede de Urgência e Emergência e Rede de Atenção às 
Doenças e Condições Crônicas- sempre centrado na integralidade do cuidado 
em um entendimento amplo do processo de saúde e doença. 
Apesar do consenso de que a fonoaudiologia tem prioridade nas redes 
de atenção de Cuidados à Pessoa com Deficiência e de Atenção Psicossocial 
devido ao foco no diagnóstico e intervenção/reabilitação, um olhar mais 
ampliado revela que a fonoaudiologia tem lugar nas variadas equipes que 
compõem as redes temáticas, e sua atuação deve garantir a diversidade de 
ações junto à prática dos conhecimentos específicos fundamentais para 
atenção aos problemas de saúde da população. Nesse contexto, a avaliação, 
diagnóstico, habilitação, reabilitação, acolhimento, prevenção e controle de 
agravos e promoção de saúde devem ser idealizados e estruturados de acordo 
com a temática principal da rede em questão. Ainda se faz necessário que no 
âmbito das redes seja garantida a produção de cuidado, articulada à produção 
de indicadores e de conhecimento na área, tornando possível o 
acompanhamento das ações desenvolvidas e a hipótese de novas estratégias 
de enfrentamento às demandas da rede. 
“O planejamento e a consolidação de ações promotoras de saúde 
centradas não apenas em fatores epidemiológicos, mas também no 
conhecimento real das condições de vida, trabalho e lazer da população a que 
se destinam faz-se necessário. É fundamental, considerar além dos dados de 
morbimortalidade, características regionais e indicadores multitemáticos.” É 
cardinal que o fonoaudiólogo se insira no processo de planejamento e gestão, 
pois é essencial incluir-se em atividades de macrogestão e de microgestão das 
redes de atenção para estar presente nas diferentes instâncias de gestão do 
SUS. (LEMOS; JANUÁRIO; VIANNA, 2014) 
Por fim, o trabalho do fonoaudiólogo nas redes de atenção pode compreender, 
entre outros, os seguintes objetivos: 
 “Contribuir para a construção de linhas de cuidado em cada uma das 
redes temáticas tendo como referência a integralidade e o trabalho em 
equipe” 
 “Buscar a compreensão e a construção da articulação entre os diversos 
pontos de atenção;” 
 “Buscar integrar distintas instâncias de gestão, inclusive comitês 
gestores;” 
 “Participar de padronização de procedimentos e elaboração de 
protocolos na atenção à saúde Participar de ações destinadas ao 
planejamento, ao monitoramento e à execução de projetos e programas 
de saúde;” 
 “Contribuir no planejamento e condução de estudos epidemiológicos e, 
consequentemente, na produção de conhecimento para a área de 
saúde;” 
 “Contribuir na informação e no letramento em saúde do usuário do 
Sistema Único de Saúde Fomentar estratégias de educação 
permanente.” 
(LEMOS; JANUÁRIO; VIANNA, 2014) 
 
Diretrizes organizativas das redes temáticas de atenção à saúde e compromissos do 
fonoaudiólogo: 
 
 A portaria 4.279/GM/MS, de 30 de dezembro de 2010, estabelece 
diretrizes para a organização da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do 
Sistema Único de Saúde (SUS), torna explícito o processo de implantação das 
redes de atenção à saúde. “A leitura da Portaria e de seus anexos é o passo 
inicial para o estabelecimento da configuração do trabalho do fonoaudiólogo e 
demais profissionais de saúde no âmbito das redes de atenção tendo como 
referência a justificativa, os fundamentos, os elementos constitutivos e as 
estratégias de implementação” (LEMOS; JANUÁRIO; VIANNA, 2014) 
 Todas as Redes temáticas possuem suas diretrizes organizativas 
definidas por portarias específicas, portanto, é de valor buscar conhecer a 
dimensão das atividades do fonoaudiólogo em cada rede de saúde, tornando 
viável realizar um ensaio sobre os compromissos que devem ser especificados. 
Durante a Leitura da Portaria 1.459/GM/MS, de 24 de junho de 201111, que 
institui, no âmbito do SUS, a Rede Cegonha, compreende-se que são 
obrigações importantes a serem seguidas pelo fonoaudiólogo de acordo com 
as autoras: 
 “Trabalho em equipe para a promoção da saúde e da qualidade de vida 
de gestantes, nutrizes e de crianças de 0 a 24 meses;” 
 “Contribuição para a promoção da amamentação saudável;” 
 “Contribuição para o estabelecimento de dados epidemiológicos quanto 
ao desenvolvimento neuropsicomotor, com ênfase no desenvolvimento 
da linguagem e da audição de crianças de 0 a 24 meses;” 
 “Construção e monitoramento de indicadores de desenvolvimento 
miofuncional, da linguagem e da audição;” 
 “Capacitação de profissionais da rede para identificação e 
monitoramento de casos de risco para alterações comunicativas, de 
audição e linguagem;” 
 “Contribuição para construção da linha de cuidado e desenvolvimento 
para crianças de 0 a 24 meses, tendo como referência a protocolização 
da avaliação, o diagnóstico e a intervenção a tempo;” 
 
 De acordo com a Portaria 1.600/GM/MS, de sete de julho de 201112, 
que reformula a Política Nacional de Atenção às Urgências e institui a Rede de 
Atenção às Urgências no SUS, é possível perceber a atuação do fonoaudiólogo 
em diversos pontos de atenção da rede e pensar como afazeres fundamentais, 
segundo as autoras: 
 “Construção do trabalho em equipe para a garantia do cuidado integral e 
qualidade de vida de pacientes atendidos pela rede de urgência e 
emergência;” 
 “Contribuição para a construção de linhas de cuidado integral aos 
pacientes atendidos pela rede de urgência e emergência;” 
 “Construção e monitoramento de indicadores da atenção 
fonoaudiológica para pacientes da rede de urgência e emergência;” 
 “Compreensão e construção de projetos terapêuticos singulares;” 
“Construção de protocolos de atendimento e balizadores terapêuticos 
para intervenção fonoaudiológica;”. 
 
A partir da leitura da Portaria 3088/GM/MS, de 23 de dezembro de 
201113, que forja a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com 
sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades 
decorrentes do uso de crack, álcool e outras substâncias, no âmbito do SUS e 
abre espaço para as dimensões de assistência individual e em grupo e para as 
ações de promoção da saúde, são estabelecidos os deveres do fonoaudiólogo 
na referida rede, segundo as autoras: 
 “Contribuição para a construção de linhas de cuidado integral para 
pessoas com sofrimento ou transtorno mental;” 
 “Contribuição para capacitação de profissionais da rede de saúde e 
educação quanto ao processo comunicativo de crianças, adolescentes e 
adultos com sofrimento ou transtorno mental;” 
 “Compreensão do processo comunicativo como um dos eixos 
fundamentais para a construção da cidadania e estratégia de 
enfrentamento da violência;” 
 
 A Portaria 793/GM/MS, de 24 de abril de 201214, que institui a Rede de 
Cuidados à Pessoa com Deficiência na esfera do SUS, delega alguns 
compromissos a serem assumidos segundo as autoras, dentre eles: 
 “Trabalho em equipe para a promoção da saúde e da qualidade de vida 
da pessoa com deficiência, em todos os ciclos de vida;” 
 “Contribuição para a promoção da cidadania e inclusão socialde 
pessoas com deficiência;” 
 “Contribuição para a construção de linhas de cuidado integral para 
pessoas com deficiência;” 
 “Contribuição para capacitação de profissionais das redes de saúde e 
educação quanto ao processo de inclusão e apoio terapêutico para 
crianças e adolescentes com deficiência;” 
 “Construção, aplicação e acompanhamento de projetos terapêuticos 
singulares para pessoas com deficiência Protocolização da avaliação e 
do diagnóstico fonoaudiológico;” 
 “Construção de protocolos de atendimento e balizadores terapêuticos da 
intervenção fonoaudiológica da Rede de Cuidados à Pessoa com 
Deficiência;” 
 
 Por fim, a Portaria 252/GM/MS, de 19 de fevereiro de 201315, que 
institui a Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas no 
SUS, de acordo com as autoras, remete aos compromissos de: 
 “Contribuição para a construção de linhas de cuidado integral para 
pessoas com doenças crônicas;” 
 “Contribuição para a construção de estratégias de prevenção de 
agravos;” 
 “Contribuição para projetos de letramento de saúde que atendam aos 
problemas e necessidades de pacientes com doenças crônicas;” 
 
Formação do fonoaudiólogo e trabalho em rede: 
 
 Para corresponder à configuração das redes de atenção, é necessário 
que ocorram mudanças na formação do fonoaudiólogo, buscando o equilíbrio 
entre prática e formação profissional no Sistema Único de Saúde. Esse 
processo deve ser iniciado ainda na formação acadêmica e ser continuado com 
a inserção do fonoaudiólogo no mercado de trabalho, para isso é preciso 
buscar meios de aproximação entre ensino e trabalho, e inclusão em meios 
reais de trabalho em saúde no SUS. Entretanto, a regulamentação ainda é um 
desafio para a gestão em saúde no Brasil, um país de proporções continentais. 
 “Por fim, um desafio importante é a formação em Fonoaudiologia, que 
tradicionalmente contou com a formação centrada na especialização e na 
lógica da atenção individual. Realidade que tem mudado nos últimos anos com 
as políticas indutoras para a formação em saúde (PETsaúde, Pró-saúde). 
Contudo, ainda há que se investir muito na graduação e na formação 
continuada de profissionais no âmbito do Sistema Único de Saúde.” (LEMOS; 
JANUÁRIO; VIANNA, 2014). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Resumo do Tratado de Especialidades em Fonoaudiologia, capítulo 93: 
PLANEJAMENTO E GESTÃO - INTERFACES DAS MICRO E 
MACROPOLÍTICAS DE SAÚDE 
Marcus Valerius da Silva Peixoto 
Andrea Wander Bonamigo 
 Maria Aparecida Miranda de Paula Machado 
 
Saúde coletiva e planejamento em saúde: 
 
A fonoaudiologia vem ampliando cada vez mais as oportunidades de 
conexão com a saúde coletiva, se aprofundando no estudo sobre o processo 
saúde-doença para além de um fenômeno biológico e no âmbito das práticas. 
Mas, o caminho ainda é longo pela frente e pode apresentar desafios para a 
prática em saúde da Fonoaudiologia na organização de serviços de saúde, e 
também na necessidade de se aplicar um olhar científico para a investigação 
nas suas intervenções no espaço coletivo. “A saúde coletiva pode ser 
concebida como um campo de práticas e um campo de saber que compreende 
a saúde enquanto um fenômeno social, de modo a superar o biologicismo 
dominante, a naturalização da vida social e submissão da clínica a modelos 
assistenciais hegemônicos incoerentes com as necessidades de saúde da 
população.” (PEIXOTO; BONAMIGO; MACHADO, 2014). 
 A produção teórico-prática da saúde coletiva sustentou as práticas do 
movimento político “Reforma Sanitária Brasileira” de 1970, que contribuiu para 
mudanças do que se entendia por saúde no Brasil e também para a 
consolidação do SUS em 1988. A saúde coletiva é “sustentada” por três 
principais pilares disciplinares: epidemiologia, ciências sociais em saúde e 
planejamento em saúde. 
 
Planejamento em saúde: do senso comum à ferramenta de gestão e processo social: 
 
 Qualquer sujeito tem consigo a capacidade de planejar para nortear 
suas ações, mas quando o assunto são as instituições de saúde (ministérios, 
secretarias, serviços, distritos), essa atividade é fundamental tanto para o 
comprometimento delas com a transformação das condições de saúde de uma 
população, tanto para melhor destinação de recursos, distribuição do trabalho e 
comprometimento de todos com determinados objetivos, e é nesse contexto 
que o planejamento em saúde determina uma área de interação com a Política 
de Saúde, que compreende questões relacionadas ao pode em saúde, e a 
questões que se referem ao estabelecimento de diretrizes, planos, programa e 
projetos de saúde. 
 O planejamento em saúde enquanto ferramenta é uma forma de 
expressar uma Política de Saúde, tanto em suas diretrizes mais amplas que se 
estendem para fins didáticos como uma “macropolítica” que também podem 
expressar uma “micropolítica”, através de programas e projetos a fim de 
traduzir de forma detalhada as amplas diretrizes políticas em ações articuladas 
com objetivos, atividades e recursos, observando-se sua viabilidade de 
aplicação e execução. As micropolíticas se referem às práticas rotineiras que 
acontecem através da troca dos saberes e relações entre profissional, gestor e 
usuários, que possibilitam o estabelecimento da autonomia e a construção 
conjunta dos caminhos a trilhar na construção do cuidado. Já as 
macropolíticas, estão ligadas ao entendimento do sistema e também se 
estende à articulação com outros setores, como a educação. 
 
Fonoaudiologia e o planejamento e gestão em saúde; 
 
 O ato de planejar/programa e de avaliar as ações e serviços da 
Fonoaudiologia, e também de outras áreas ligadas à reabilitação, é complexo 
por motivos como os seguintes: 
 “Existe relativa imprevisibilidade de duração do processo terapêutico, em 
virtude da singularidade de cada um dos usuários, tanto de seu distúrbio 
quanto de sua resposta à terapia, ou seja, inviabilizando um 
dimensionamento prévio da capacidade instalada dos serviços;” 
 “O fato de a terapia ter geralmente uma frequência, no mínimo, semanal 
exige uma grande logística de agendamento de pacientes para evitar 
que os profissionais fiquem ociosos ou sobrecarregados;” 
 “Os indicadores de saúde para esse tipo de atenção ainda são muito 
incipientes no SUS;” 
 “Os sistemas de informação necessitam de aprimoramento para garantir 
melhor avaliação, e planejamento das ações nesse âmbito;” 
(PEIXOTO; BONAMIGO; MACHADO, 2014) 
 
 Então, fica clara a necessidade e os desafios do fonoaudiólogo que, 
quer esteja na atenção à saúde, quer esteja na gestão, na programação de 
serviços ou na formulação de macropolíticas públicas, ter um melhor 
entendimento sobre o planejamento e avaliação em saúde a fim de programar 
melhor os serviços, refinar os fluxos dos usuários e fortalecer a categoria no 
âmbito do sistema público de saúde. 
 
Do enfoque normativo ao estratégico: um breve histórico para a compreensão do planejamento 
em saúde hoje: 
 
 No contexto das mudanças de condição de vida e saúde da população a 
partir da metade do século XX, foi que em 1960 a Organização Panamericana 
de Saúde (OPS) e o Centro de Estudos do Desenvolvimento da Universidade 
Central da Venezuela, com ajuda da Comissão Econômica para América Latina 
(Cepal), desempenharam um papel fundamental na elaboração do método de 
planejamento conhecido como Cendes-OPS, que foi marcado pelo viés 
desenvolvimentista/economicista e considerava que os países 
"subdesenvolvidos" deveriam seguir os caminhos dos países desenvolvidos, 
deixando de lado a importância de se aprofundar no contexto vivido pelos 
países em questão. Dessa forma o ato do planejamento ficou recluso aos 
gestores e técnicos do nível central dos ministérios da saúde e órgãos 
similares, restando a execução de programas e campanhas para a gestão local 
e serviços. 
 O empenho para a implementação do planejamento como ferramenta 
passou a ajudar na formulação de políticas de saúde.Em 1975 aconteceu um 
grande marco, uma publicação realizada pela OPS, do documento clássico 
chamado “Formulación de Políticas de Salud”, mais conhecido como método 
CPPS - Centro Pan-americano de Planejamento em Saúde. Esse documento 
reforça a ideia que a autoridade política estabelece os objetivos gerais que 
pretende alcançar e os meios para atingi-los. Nesse sentido, a formulação de 
uma política de saúde possui uma sequência que inclui a elaboração de: 
 Imagem-objetivo (definida como uma situação futura desejada, ou seja, 
é a situação que se pretende alcançar com a intervenção/política a ser 
planejada) 
 Formulação de preliminar de proposições (trata-se do delineamento dos 
objetivos da intervenção, representa uma situação intermediária entre a 
situação presente e a imagem-objetivo, além disso, definem-se prazos e 
meios para alcançá-la). 
 Análise das proposições (inclui a análise de coerência e factibilidade 
visando fixar as prioridades, observando-se os recursos humanos, 
financeiros, de equipamentos e instalações disponíveis, também a 
organização técnico-administrativa e operacional). 
 Estratégia (balanço do que é possível fazer para se modificar uma 
situação de saúde, analisando-se como as decisões vão impactar e 
gerar diversas atitudes dos atores sociais envolvidos com a ação; 
envolve diversos cálculos políticos e técnico-administrativos). 
 Formalização de Políticas (o último passo da sequência envolve a 
explicitação de uma política através de leis, diretrizes, portarias, planos, 
programas ou projetos). (OPS, 1975). 
 
 Apesar dos méritos do planejamento normativo, sua lógica vertical e 
tecnocrata acarretaram críticas, apesar de sua utilização ainda ser observada 
no Sistema Único de Saúde nos dias de hoje. No caso da oferta de 
procedimentos fonoaudiológicos em especial, pode ocorrer que, em muitos 
municípios e estados, sequer emprega-se tal método de planejamento, ficando 
a implantação dos serviços e distribuição de procedimentos ocorrendo por 
critérios de facilidade apenas. Essa situação está longe da ideal, pode gerar 
grandes iniquidades de acesso da população aos serviços de Fonoaudiologia, 
filas evitáveis, distribuição de recursos incoerentes com as necessidades de 
saúde da população”.(PEIXOTO; BONAMIGO; MACHADO, 2014) 
 O Brasil pode ser considerado solo fértil para desenvolvimentos de 
pensamentos sobre planejamento em saúde, porque existe ainda uma 
relevante produção científica que herdada de muitos dos “intelectuais 
orgânicos” envolvidos com a Reforma Sanitária Brasileira, também se 
destacam as chances de experimentação das prósperas práticas de 
planejamento em municípios e estados no início do SUS e durante seu 
processo de implementação. “O arcabouço jurídico-institucional do SUS contido 
nas Leis 8.080/90 e 8.142/90 (leis orgânicas da saúde) aponta para as 
responsabilidades de se elaborar o planejamento estratégico nos âmbitos 
nacional, estadual e municipal. No decorrer das mais de duas décadas de SUS, 
esse tema vem ganhando grande importância, sendo admitido em outras 
legislações como no Pacto pela Saúde, instituído pelas Portarias do Ministério 
da Saúde 399, de 22 de fevereiro de 2006, e 699, de 30 de março de 2007. 
Além disso, desde 2006 o Brasil conta com o Sistema de Planejamento no 
SUS, chamado PlanejaSUS. Ele visa institucionalizar o planejamento 
estratégico no âmbito do SUS e contribuir para aumentar a capacidade técnica 
dos estados e municípios ao realizarem essa prática mediante instrumentos 
qualificados.” (PEIXOTO; BONAMIGO; MACHADO, 2014) 
 
Desafios na formação e na ação: 
 
 As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) orientam o curso de 
fonoaudiologia, e em seu artigo 4º está proposta uma base comum para todos 
os cursos da área da saúde, se referindo às competências e habilidades gerais 
necessárias para as práticas do fonoaudiólogo, destacando-se que: “cada 
profissional deve assegurar que sua prática seja realizada de forma integrada e 
contínua com as demais instâncias do sistema de saúde, sendo capaz de 
pensar criticamente, de analisar os problemas da sociedade e de procurar 
soluções para os mesmos”. Ainda nas DCN é enfatizada a necessidade de os 
profissionais apresentarem características de liderança nos processos de 
gestão e no trabalho em equipe multiprofissional, atentando ao fado que a 
liderança envolve “compromisso, responsabilidade, empatia, habilidade para 
tomada de decisões, comunicação e gerenciamento de forma efetiva e eficaz” 
 No terreno do processo de trabalho e organização dos serviços, a 
formação do profissional fonoaudiólogo tende a atuar com mais ênfase na 
gestão das micropolíticas, por causa do planejamento e monitoramento 
terapêutico, do acompanhamento de grupos, da elaboração de protocolos, 
entre outros, presentes na rotina diária. “Ceccin e Feuerwerker apontam para a 
possibilidade da formação em saúde a partir da interação entre os segmentos 
compreendidos pelo ensino, práticas de atenção, gestão setorial e do controle 
social. Essa interação é chamada de ‘Quadrilátero da Formação’ e de acordo 
com os autores deve dignificar as características locais, valorizar as 
capacidades instaladas, desenvolver as potencialidades existentes em cada 
realidade, estabelecer a aprendizagem significativa, efetiva, afetiva, criativa, 
capacidade de crítica, bem como produzir sentidos, autoanálise e autogestão.” 
(PEIXOTO; BONAMIGO; MACHADO, 2014) 
 
 
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