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A poesia de Florbela Espanca e Cesário Verde

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A poesia de Florbela Espanca e Cesário Verde
A poetisa portuguesa nasceu em 1894 e foi batizada Flor Bela Lobo, mas escolhe adotar o nome Florbela d’Alma da Conceição Espanca. Morreu em 1930, aos 36 anos.
José Joaquim Cesário Verde foi poeta português (1855- 1886). Considerado um dos precursores da poesia que seria feita em Portugal no século XX.
Contexto sócio-histórico em Portugal na 2ª metade do século XIX
A Independência do Brasil, em 1822, deixa Portugal sem os lucros dos produtos brasileiros;
A invasão francesa (Napoleão) deixa o país empobrecido;
Guerra civil entre os irmãos D. Pedro e D. Miguel deixa Portugal dividido em termos sociais (O cerco do Porto);
Novidades no setor de transportes – mais modernos e mais velozes;
Novos meios de comunicação – utilização de selos pelos correios;
Era das máquinas – telefone, trem...
Aumento da produção agrícola, com novos instrumentos, mas grande desemprego de camponeses;
Descoberta da máquina a vapor faaz nascer a indústria – êxodo rural;
Na literatura, em prosa: Eça de Queirós, Camilo castelo Branco, Júlio Dinis e Ramalho Ortigão;
A Geração de 70 – elite intelectual que promoveu um movimento cultural e literário renovador.
Florbela Espanca
Foi jornalista e estudou Direito em Lisboa.
Poesia com erotização, feminilidade e panteísmo.
Uma das suas principais inspirações é o irmão Apeles. Homenagem a ele no poema “A vida e a morte”.
As primeiras tentativas de promover as suas poesias falharam. Em 1915, inaugura o projeto “Trocando olhares”, uma coletânea de 85 poemas e 3 contos.
ANGÚSTIA
Tortura do pensar! Triste lamento!
Quem nos dera calar a tua voz!
Quem nos dera cá dentro, muito a sós,
Estrangular a hidra num momento!
E não se quer pensar! ... e o pensamento
Sempre a morder-nos bem, dentro de nós ...
Querer apagar no céu – ó sonho atroz! –
O brilho duma estrela, com o vento! ...
E não se apaga, não ... nada se apaga!
Vem sempre rastejando como a vaga ...
Vem sempre perguntando: “O que te resta? ...”
Ah! não ser mais que o vago, o infinito!
Ser pedaço de gelo, ser granito,
Ser rugido de tigre na floresta!
Florbela Espanca, em "Livro de Mágoas“
https://www.pensador.com/melhores_poemas_florbela_espanca/
Sobre a dor existencial representada por uma angústia íntima de pensar sobre si;
Utiliza elementos da natureza (estrela, vento, gelo, floresta, tigre) a autora expressa o desespero de existir.
Outras obras de Florbela Espanca
Charneca em flor – considerada sua obra prima
O Dominó Preto – póstumo
As máscaras do destino (póstumo e em homenagem ao irmão morto em um acidente de avião)
Diário do último ano
Somente “Livro de Mágoas” e “Livro de Sóror Saudade” foram publicadas em vida. Sua obra completa foi reunida no volume “Sonetos Completos”, publicado pela primeira vez em 1934.
 
https://www.pensador.com/melhores_poemas_florbela_espanca/
Este poema sintetiza bem a visão da autora sobre ela mesma e sobre o mundo;
Temática da solidão, da incerteza no destino, e de ser sonhadora e incompreendida pela sociedade em que vive;
Busca de algo indefinido
E, 1919, publica o livro de sonetos “Livro de Mágoas”. Em 1922, tem publicado o seu soneto “Price Charmant...”;
Em 1923, é publicada sua segunda coletânea de sonetos, “Livro de Sóror Saudade”, edição paga pelo pai da poetisa.
É uma autora polifacetada: escreveu poesia, contos, um diário e epístolas. Traduziu romances e colaborou em jornais e revistas;
Sua poesia é quase sempre em forma de sonetos.
https://www.pensador.com/melhores_poemas_florbela_espanca/
Sugestão de que poesia é um ofício de pura energia;
Usa adjetivos de grandeza, de intensidade, vigor de ser poeta;
A poesia tornaria o cotidiano mais suportável.
Temática quase sempre é o amor e o que permeia esse sentimento: solidão, tristeza, saudade, sedução, desejo, morte.
A sua obra também abrange poemas de sentido patriótico, como o soneto “No meu Alentejo”.
A obra de Espanca estimula a emancipação da mulher, exprimindo a frustração feminina com a tradição patriarcal opressiva. 
https://www.escritas.org/pt/florbela-espanca
Fanatismo
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver.
Não és sequer razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No mist’rioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!…
“Tudo no mundo é frágil, tudo passa…
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
“Ah! podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!…”
Soneto publicado no livro Soror Saudade (1923)
Fonte: https://www.ufrgs.br/jornal/florbela-espanca/
Nasceu em Vila Viçosa, no Alentejo (região centro-sul de Portugal);
É filha do fotógrafo e antiquário João Maria Espanca com a camponesa Antónia da Conceição Lobo, com quem teve também Apeles. As crianças foram registradas somente com o nome da mãe, mas são criados por João e sua esposa, Mariana. Ele só reconhece Florbela como filha em cartório 18 anos depois da morte dela.
Seus poemas não são todos moldados por uma métrica formal;
Escreveu cerca de 150 poemas, sendo o primeiro aos 8 anos, quando, em palavras suas, “já as coisas da vida me davam vontade de chorar”;
MULHER
Ó Mulher! Como és fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma se estorce amargurada!
Quantas morrem saudosa duma imagem.
Adorada que amaram doidamente!
Quantas e quantas almas endoidecem
Enquanto a boca rir alegremente!
Quanta paixão e amor às vezes têm
Sem nunca o confessarem a ninguém
Doce alma de dor e sofrimento!
Paixão que faria a felicidade.
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
Que se esvai e que foge num lamento!
https://www.pensador.com/melhores_poemas_florbela_espanca/
Tema da feminilidade;
Sugere que as mulheres conseguem disfarçar suas dores ao mesmo tempo em que sorriem para o mundo.
Cesário Verde
Impõe o real concreto a sua poesia;
Supremacia do mundo externo, da materialidade dos objetos;
Predomínio do cenário urbano;
Situa as cenas apresentadas espaço/temporalmente;
Atenção ao pormenor, ao detalhe;
Temática: a dureza do trabalho, a doença, a injustiça social, a imoralidade, a desonestidade;
Situado na corrente estética do Impressionismo.
Não hesita em descrever em seus poemas ambientes que, segundo a tradição da poesia, não tinham nada de poéticos.
Nasceu no Porto e morreu aos 31 anos, em Angola. Um de seus principais poemas, “Nós” (1884) foi escrito em homenagem aos dois irmãos mortos de tuberculose. No ano seguinte de sua morte é organizado o livro O livro de Cesário Verde, compilando suas poesias.
Impressionismo
Os impressionistas valorizavam a impressão pura, a percepção imediata, não intelectualizada, com seu caráter fragmentário e fugaz;
Ao observar a realidade, os impressionistas não fazem uma descrição fiel e perfeita do cenário. 
Cesário Verde também se insere no Parnasianismo pela busca da perfeição formal através de uma poesia descritiva;
Influência de Baudelaire (poeta francês).
O Parnasianismo é também a necessidade de objetivar ou despersonalizar a poesia, e corresponde à reação naturalista que aparece no romance; aproximação da poesia às artes plásticas.
https://pt.slideshare.net/becresforte/cesrio-verde-12512353
Utiliza linguagem prosaica – próxima da prosa e da linguagem do cotidiano.
Outras influências artísticas e estéticas
Binômio cidade/campo
A mulher
Num Bairro Moderno
Dez horas da manhã; os transparentes
Matizam uma casa apalaçada;
Pelos jardins estancam-se as nascentes,
E fere a vista, com brancuras quentes,
A larga rua macadamizada.
Rez-de-chaussée repousam sossegados,
Abriram-se, nalguns, as persianas,
E dum ou doutro, em quartos estucados,
Ou entre a rama do papéis pintados,
Reluzem, num almoço, as porcelanas.
Como é saudável ter o seu conchego,
E a sua vida fácil! Eu descia,
Sem muita pressa, para o meu emprego,
Aondeagora quase sempre chego
Com as tonturas duma apoplexia.
E rota, pequenina, azafamada,
Notei de costas uma rapariga,
Que no xadrez marmóreo duma escada,
Como um retalho da horta aglomerada
Pousara, ajoelhando, a sua giga.
E eu, apesar do sol, examinei-a.
Pôs-se de pé, ressoam-lhe os tamancos;
E abre-se-lhe o algodão azul da meia,
Se ela se curva, esguelhada, feia,
E pendurando os seus bracinhos brancos.
Do patamar responde-lhe um criado:
"Se te convém, despacha; não converses.
Eu não dou mais." È muito descansado,
Atira um cobre lívido, oxidado,
Que vem bater nas faces duns alperces.
Subitamente - que visão de artista! -
Se eu transformasse os simples vegetais,
À luz do Sol, o intenso colorista,
Num ser humano que se mova e exista
Cheio de belas proporções carnais?!
Bóiam aromas, fumos de cozinha;
Com o cabaz às costas, e vergando,
Sobem padeiros, claros de farinha;
E às portas, uma ou outra campainha
Toca, frenética, de vez em quando.
E eu recompunha, por anatomia,
Um novo corpo orgânico, ao bocados.
Achava os tons e as formas. Descobria
Uma cabeça numa melancia,
E nuns repolhos seios injetados.
As azeitonas, que nos dão o azeite,
Negras e unidas, entre verdes folhos,
São tranças dum cabelo que se ajeite;
E os nabos - ossos nus, da cor do leite,
E os cachos de uvas - os rosários de olhos.
Há colos, ombros, bocas, um semblante
Nas posições de certos frutos. E entre
As hortaliças, túmido, fragrante,
Como alguém que tudo aquilo jante,
Surge um melão, que lembrou um ventre.
E, como um feto, enfim, que se dilate,
Vi nos legumes carnes tentadoras,
Sangue na ginja vívida, escarlate,
Bons corações pulsando no tomate
E dedos hirtos, rubros, nas cenouras.
O Sol dourava o céu. E a regateira,
Como vendera a sua fresca alface
E dera o ramo de hortelã que cheira,
Voltando-se, gritou-me, prazenteira:
"Não passa mais ninguém!... Se me ajudasse?!..."
Eu acerquei-me dela, sem desprezo;
E, pelas duas asas a quebrar,
Nós levantamos todo aquele peso
Que ao chão de pedra resistia preso,
Com um enorme esforço muscular.
"Muito obrigada! Deus lhe dê saúde!"
E recebi, naquela despedida,
As forças, a alegria, a plenitude,
Que brotam dum excesso de virtude
Ou duma digestão desconhecida.
E enquanto sigo para o lado oposto,
E ao longe rodam umas carruagens,
A pobre, afasta-se, ao calor de agosto,
Descolorida nas maçãs do rosto,
E sem quadris na saia de ramagens.
Um pequerrucho rega a trepadeira
Duma janela azul; e, com o ralo
Do regador, parece que joeira
Ou que borrifa estrelas; e a poeira
Que eleva nuvens alvas a incensá-lo.
Chegam do gigo emanações sadias,
Ouço um canário - que infantil chilrada!
Lidam ménages entre as gelosias,
E o sol estende, pelas frontarias,
Seus raios de laranja destilada.
E pitoresca e audaz, na sua chita,
O peito erguido, os pulsos nas ilhargas,
Duma desgraça alegre que me incita,
Ela apregoa, magra, enfezadita,
As suas couves repolhudas, largas.
E, como as grossas pernas dum gigante,
Sem tronco, mas atléticas, inteiras,
Carregam sobre a pobre caminhante,
Sobre a verdura rústica, abundante,
Duas frugais abóboras carneiras.
Cesário Verde, in 'O Livro de Cesário Verde'
// Consultar versos e eventuais rimas
20 estrofes – quintilhas, com rimas cruzadas e interpoladas, e versos decassílabos.
As mulheres trabalhadoras são objeto de admiração de Cesário.
Sobre a vendedora deste poema, apesar de pobre, anêmica e de ter de trabalhar como feirante, ela representa a força genuína do povo trabalhador.
As primeiras estrofes constituem uma visão panorâmica, para depois focar na trabalhadora.
A arte de Cesário Verde é reveladora de preocupação social e intervém criticamente;
Sua força inspiradora é a terra-mãe, sendo nela que o poeta encontra vários de seus temas. É, por isso, associado ao mito Anteu. Nas mitologias grega e berbere, Anteu era filho de Posídon e Gaia. O gigante ficava forte quando em contato com o chão e fraco quando suspenso no ar.
Ecos de sua obra podem ser vistos em poemas de Fernando Pessoa, parecendo ser Cesário Verde o antecessor do heterônimo Álvaros de Campos e sendo citado várias vezes por Alberto Caeiro e Bernardo Soares.
A observação de situações do cotidiano são o ponto de partida preferencial para seus poemas.
Vocabulário objetivo e imagens extremamente visuais.
Referências
BARBOSA, Osmar (org.). Poesias Completas de Cesário Verde. Rio de Janeiro: Ediouro, 1987.
ESPANCA, Florbela. Charneca em Flor. 19. ed.. Lisboa: Livraria Bertrand, 2002. 
__________. O Dominó Preto. Pref. Fabio Mario da Silva. São Paulo: Editora Martin Claret Ltda., 2010. 
__________. Soror Saudade. São Paulo: Editora Martin Claret Ltda, 2010. 
MOISÉS, Massaud. “Realismo”. In: A Literatura Portuguesa. 22ª ed. São Paulo: Cultrix, 1986. ORTIZ, Renato. Cultura e modernidade. São Paulo: Brasiliense, 1991.
____________. A criação literária: poesia. 16ª Ed. São Paulo: Cultrix, 2003. 
REIS, Carlos (org.) História da Literatura Portuguesa: O Realismo e o Naturalismo. Lisboa: Alfa, 2001. 
SILVEIRA, Jorge Fernandes (org.) “Cesário: Duas ou Três Coisas”. In: Cesário Verde – Todos os poemas. Rio de Janeiro: 7 Letras, 1995.

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