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MODULAÇÃO INTESTINAL SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Probióticos e Prebióticos ......................................... 4 3. Simbióticos ................................................................... 9 4. Microbiota Intestinal ................................................11 Referências Bibliograficas .........................................16 3MODULAÇÃO INTESTINAL 1. INTRODUÇÃO A descoberta da existência de probi- óticos ocorreu no início do século XX, quando Ellie Metchnikoff observou que a longevidade dos camponeses búlgaros estava relacionada com a dieta rica em leite fermentado des- sa população. Ele fez essa associa- ção pela presença de uma bactéria ácido-lática nesse alimento, as quais são responsáveis pela fermentação de açúcares, como a lactose do leite, em ácido lático, acidificando o trato digestivo. De maneira contrária, Ellie também observou que uma autointo- xicação intestinal, como a causada por um tipo inadequado de dieta, pode gerar o aumento de bactérias prote- olíticas, que geram toxinas putrefati- vas, aumentando o risco de doenças e envelhecimento da população. Após a descoberta de Ellie, o pesqui- sador Alfred Nissele, observando um grupo de soldados da 1ª guerra mun- dial, que saíram ilesos de um surto de enterocolite por shigelose, percebeu que as fezes desses soldados eram ricas em uma bactéria, a E. coli, a qual associou como uma bactéria proteto- ra contra enterocolites. Já no final do século XX, os pesqui- sadores Gibson e Roberfroid postu- laram que a microbiota intestinal se beneficiam de substâncias não dige- ríveis, como fibras e casca de frutas. Assim, hoje sabe-se que microbiota intestinal, adquirida após o nascimen- to, é formada por diversas bactérias que realizam diversos processos no organismo humano, como a absorção de nutrientes, defesa contra micror- ganismos patogênicos e modulação do sistema imune. Há ainda evidên- cias, de que a microbiota intestinal também interfere na inflamação, re- sistência insulínica e risco cardiome- tabólico, por exemplo. 4MODULAÇÃO INTESTINAL 2. PROBIÓTICOS E PREBIÓTICOS Os probióticos são microrganismos vivos não patogênicos, que conferem benefícios à saúde do hospedeiro. São seres comensais do trato digestivo, que sobrevivem às secreções gástri- ca, biliar e pancreática, além de serem muito resistentes a antibióticos. Os principais representantes dos probióticos são bactérias gram-po- sitivas (Lactobacillus, Streptococ- cus, Lactococcus, Pediococcus, En- terococcus, Bifidoacterium, Bacillus, Clostridium), principalmente Bifido- bactérias e Lactobacillus, gram-ne- gativas (E. coli não patogênica) e le- veduras (Saccharomyces). Os lactobacilos são bactérias gram- -positivas e anaeróbicas facultativas, predominantes no intestino delgado. Os principais representantes são as espécies Lactobacillus casei, Lac- tobacillus rhamnosus, Lactobacillus acidophilus. Essas bactérias inibem a proliferação de microrganismos não benéficos, pela competição com lo- cais de ligação e nutrientes e produ- zem ácidos orgânicos, que reduzem o pH intestinal, retardando o cresci- mento de bactérias patogênicas. As bifidobactérias são anaeróbicas ou anaeróbias estritas, normalmente predominantes no intestino grosso, e possuem ação benéfica nos quadros de diarreia. A seleção de bactérias probióticas se baseia no gênero, estabilidade em se- creções ácidas e na bile, capacidade de adesão e colonização à mucosa do MAPA 1 ELLIE METCHNIKOFF MODULAÇÃO INTESTINALPROBIÓTICOS LONGEVIDADE DOS COMPONESES BÚLGAROS ACIDIFICAÇÃO DO TRATO DIGESTIVO MICROBIOTA INTESTINAL 5MODULAÇÃO INTESTINAL TGI, bem como produção de substân- cias antimicrobianas. Essas bactérias não podem ser patogênicas, ou seja, seu uso precisa ser seguro, e não podem transferir genes que possam gerar resistência a antimicrobianos. Além disso, o uso de probióticos deve ser diário, sendo eficaz em concentra- ções maior que 107 células viárias por grama ou mililitro de conteúdo (OMS). Com isso, levando em consideração a diluição e a perda que ocorre durante o tráfego no TGI, é recomendado o uso de probióticos que tenham um nível populacional igual ou superior a 109 células viárias, visto que nem to- das serão absorvidas. Além disso, é preciso que os microrganismos este- jam vivos para que realizem suas fun- ções, daí a importância do uso corre- to de antibióticos, ou seja, utilização apenas quando necessária e nas do- ses e período de tempo adequado. Competição por nutrientes e probióticos Bioconversão Produção de substratos de crescimento Antagonismo direto Estimulação imune Exclusão competitiva Melhora da resposta imune inata Redução da inflamação Recrutamento de neutrófilos Figura 1. Ação dos probióticos. Fonte: https://bit.ly/34bvDPk Os probióticos aumentam a produ- ção de ácidos graxos de cadeia cur- ta, reduzindo o pH do meio e conse- quentemente favorável à proliferação das bactérias benéficas e aumentam a resistência contra bactérias pa- togênicas. Isso porque competem por nutrientes e sítios de adesão com bactérias patogênicas, produ- zem bacteriocinas e metabólitos que 6MODULAÇÃO INTESTINAL favorecem a defesa contra os pató- genos e modulam o sistema imuno- lógico aumentando os níveis de anti- corpos (IgA) e atividade fagocítica dos macrófagos, ativação dos linfócitos B e T, além de inibirem a liberação de toxinas. Os probióticos auxiliam na digestão da lactose em indivíduos intoleran- tes pelo fato de as bactérias lácticas produzirem a b-D-galactosidase, além de que a fermentação de pro- dutos lácticos pela bactérias lácticas aumenta a absorção de vitaminas do complexo B, importante no metabo- lismo de carboidratos, proteínas e lipí- dios. Essas bactérias também ajudam na melhora da absorção de macro e micronutrientes e produção de ácido lático e ácidos graxos de cadeia cur- ta, que contribuem para a geração de energia no organismo. Esses ácidos graxos de cadeia curta também pa- recem estar envolvidos na diminuição da síntese de colesterol hepático, as- sim como a redistribuição do coleste- rol do plasma para o fígado. Alguns estudos também evidenciam que os probióticos realizam efeito anti-hi- pertensivo ao controlar a pressão ar- terial, e diminuem a ação patogênica da H. pylori, que gera úlceras no TGI, especialmente no estômago, além de controlarem a colite provocada por rotavírus. Além disso, esses microrganismos, promovem a manutenção e repa- ro da barreira intestinal, reduzindo a permeabilidade e absorção de alér- genos e antígenos, diminuindo a in- flamação local. Também auxiliam na resolução da obstipação intestinal. SE LIGA! O colesterol é produzido em várias células e tecidos do corpo, sendo que 25% é sintetizado no fígado, utili- zado nas membranas celulares. O co- lesterol é transportado no plasma por lipoproteínas, LDL e HDL, também pro- duzidas no fígado, sendo a alta taxa de LDL associada com o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, principal- mente. Assim, a redução da produção desses compostos pelo fígado induzida pelo consumo de probióticos é benéfica ao diminuir as chances de desenvolvi- mento de dessas doenças. O termo prebiótico foi empregado por Gibson e Roberfroid, em 1995, para designar “ingredientes nutricionais não digeríveis que afetam benefica- mente o hospedeiro estimulando se- letivamente o crescimento e atividade de uma ou mais bactérias benéficas do cólon, melhorando a saúde do seu hospedeiro”. Ou seja, os prebióticos não são microrganismos vivos e sim ingredientes nutricionais que estimu- lam seletivamente o crescimento de bactérias específicas, pois fornecem alimentos para determinados grupos de bactérias, especialmente bifido- bactérias e lactobacilos. Esses ingre- dientes, então, promovem mudanças específicas na composição e/ou ativi- dade da microbiota gastrointestinal. 7MODULAÇÃO INTESTINAL Os prebióticossão substâncias ali- mentares, principalmente os polissa- carídeos não amido e oligossacaríde- os, resistentes à acidez gástrica, que sofrem hidrólise parcial no intestino de mamíferos. Essas substâncias po- dem ser absorvidas pela via alimen- tar, a partir de fibras e cascas de fru- tas, e também sinteticamente. Alguns açúcares absorvíveis ou não, fibras, álcoois de açúcares e oligos- sacarídeos estão dentro deste con- ceito de prebióticos. Destes, os oli- gossacarídeos – cadeias curtas de polissacarídeos compostos de três a dez açúcares simples ligados entre si –, têm recebido mais atenção pelas inúmeras propriedades prebióticas atribuídas a eles. Os frutooligossaca- rídeos são polissacarídeos que têm demonstrado bons efeitos prebióti- cos, “alimentando” seletivamente al- gumas espécies de Lactobacillus e Bifidobactérias, reduzindo, assim, a quantidade de outras bactérias como Bacteroides, Clostridium e Coliformes. Os prebióticos podem ser obtidos na forma natural em sementes e raízes de alguns vegetais como a chicória, cebola, alho, alcachofra, aspargo, ce- vada, centeio, grãos de soja, grão- -de-bico e tremoço. Também, podem ser extraídos por cozimento ou atra- vés de ação enzimática ou alcoóli- ca. Há, também, os oligossacarídeos sintéticos obtidos através da polime- rização direta de alguns dissacaríde- os da parede celular de leveduras ou fermentação de polissacarídeos, além dos oligossacarídeos do leite materno. Eles atuam principalmente no intesti- no grosso, sendo uma fonte de ener- gia para a proliferação de bactérias benéficas, e mudança na composição e/ou atividade das bactérias gastroin- testinais, favorecendo principalmente o crescimento de bifidobactérias. Os prebióticos, ao alimentarem as bactérias comensais, as tornam mais fortes e consequentemente o meio se torna menos suscetível ao cresci- mento de colônias de bactérias pa- togênicas, devido ao mecanismo de competição entre elas. Além disso, acredita-se que os prebióticos e pro- bióticos geram indiretamente o bene- fício de diminuição da permeabilidade intestinal às toxinas inerentes ao pro- cesso digestivo, pois a ligação des- ses probióticos ao enterócito promo- ve cascatas que liberam citocinas, e com isso ocorre melhora imunológica, resolução da inflamação e melhoria da saúde mental. A saúde mental se relaciona com a saúde intestinal por conta do fato de que o sistema gas- trointestinal também é responsável pela produção de diversos de neuro- transmissores do bem-estar. 8MODULAÇÃO INTESTINAL Figura 2. Alimentos prebióticos. Fonte: https://bit.ly/34ekeP3 MAPA 2 PROBIÓTICOS MICRORGANISMOS VIVOS NÃO PATOGÊNICOS PRODUÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS DE CADEIA CURTA E ÁCIDO LÁTICO MELHORA DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE MACRO E MICRONUTRIENTES MODULAÇÃO DO SISTEMA IMUNE MAIOR PRODUÇÃO DE ANTICORPOS E ATIVIDADE FAGOCÍTICA INIBIÇÃO DA LIBERAÇÃO DE TOXINAS E MANUTENÇÃO DA BARREIRA INTESTINAL PREBIÓTICOS INGREDIENTES QUE PROMOVEM O CRESCIMENTO DE PROBIÓTICOS POLISSACARÍDEOS NÃO AMIDO OLIGASSACARÍDEOS RESISTENTES À ACIDEZ GÁSTRICA 9MODULAÇÃO INTESTINAL SE LIGA! Probióticos auxiliam na prevenção de infecções urogenitais, como as vaginoses, por reduzirem a quantidade de bactérias patogênicas no colón e aumentarem a quantidade de competidores benéficos no trato urogenital. Atualmente, alguns infecções genitais são tratadas com probióticos (encapsulados ou via vaginal), especialmente em quadros recorren- tes, e também é recomendado o uso de probióticos após o tratamento com antibióticos para vaginoses. Abaixo, uma tabela relacionando a aplicabilidade de alguns microrganismos considerados probióticos: CEPA SITUAÇÃO CLÍNICA Lactobacillus casei - Prevenção da diarreia associada a antibióticos em adultos - Prevenção de diarreia por C. difficile em adultos - Terapia adjuvante para erradicação de H. pylori - Complementa o crescimento do Lactobacillus acidophilus - Auxilia na digestão e redução à intolerância à lactose e constipação Lactobacillus acidophilus - Prevenção da enterocolite necrosante em lactente pré- maturo - Prevenção de diarreia por C. difficile em adultos - Prevenção da diarreia associada a antibióticos em adultos - Tratamento da diarreia aguda infecciosa em crianças - Produz enzima lactase - Aumenta a imunidade Lactobacillus rhamnosus - Tratamento da diarreia aguda infecciosa em crianças - Prevenção da diarreia associada a antibióticos em crianças - Prevenção da diarreia associada a antibióticos em adultos - Prevenção da diarreia nosocomial em crianças - Terapia adjuvante para erradicação de H. pylori - Alivia alguns sintomas da síndrome do intestino irritável Bifidobacterium Lactis - Prevenção da enterocolite necrosante em lactente pré- maturo - Prevenção de diarreia por C. difficile em adultos - Prevenção e manutenção da remissão na pouchit (bolsite) Tabela 1. Fonte: Flesch AGT, Poziomyck AK, Damin DC. O Uso Terapêutico dos Simbióticos. ABCD Arq Bras Cir Dig 2014;27:206-9 3. SIMBIÓTICOS Os simbióticos são gerados pela jun- ção de um ou mais probióticos com um ou mais prebióticos, de modo que os prebióticos são complementares e sinérgicos aos probióticos. Essa as- sociação traz benefícios adicionais, como aumento da resistência das cepas contra patógenos e também exercem um efeito multiplicador so- bre as ações isoladas dos probióticos. O uso clinico de probióticos, prebióti- cos e simbióticos é capaz de prevenir câncer colorretal, tratar diarreia aguda, evitar diarreia por antibióticos, auxiliar no tratamento de doença inflamatória 10MODULAÇÃO INTESTINAL intestinal, doença hepática não alco- ólica do fígado e prevenir diarreia no- socomial (diarreia hospitalar). A ação dos simbióticos na prevenção de cân- cer está associada à ligação e degra- dação de compostos com potencial carcinogênico, alterações quantitativa e/ou qualitativa na microbiota intes- tinal envolvidas na produção de car- cinógenos e produção de compostos antimutagênicos no cólon (como o butirato). Há também benefícios não relaciona- dos ao trato gastrointestinal, que são a melhora da resposta imunológica, diminuição de vaginose bacteriana, prevenção de atopia, principalmente no puerpério, e da síndrome metabó- lica e várias doenças cardiovascula- res, bem como a redução de sintomas psiquiátricos, especialmente ansieda- de e depressão. Os simbióticos têm sido utilizados na dietoterapia, visando a melhora do estado de saúde de pacientes com alguns tipos de câncer. Comumente ocorrem alterações na composição da microbiota gastrointestinal devi- do a fatores ambientes e alimentares, favorecendo infecções perioperató- rias. Esses pacientes (portadores de câncer) são mais suscetíveis a infec- ções do que outros pacientes cirúrgi- cos por uma séria de fatores, sendo a translocação bacteriana a principal causa. Basicamente, a translocação bacteriana consiste na passagem de microrganismos ou endotoxinas da mucosa e lâmina própria do trato di- gestivo para os linfonodos mesentéri- cos e outros órgãos, e esse fenômeno está associado à bacteremia, sepse e falência de múltiplos órgãos. Figura 3. Ação simbiótica. Fonte: https://bit.ly/3dWIfgB 11MODULAÇÃO INTESTINAL CEPA DOSE Lactobacillus casei 1010 ufc -2x/dia Lactobacillus acidophilus 109 – 1013 ufc – 1 a 3x/dia Lactobacillus rhamnosus 1010 – 1011 ufc – 2x/dia Bifidobacterium lactis 1010 ufc – 2x/dia Tabela 2. Fonte: Flesch AGT, Poziomyck AK, Damin DC. O Uso Terapêutico dos Simbióticos. ABCD Arq Bras Cir Dig 2014;27:206-9 MAPA 3 SIMBIÓTICOSEFEITO MULTIPLICDOR SOBRE AS AÇÕES DOS PROBIÓTICOS RESISTÊNCIA CONTRA PATÓGENOS PREVENÇÃO DE CÂNCER COLORRETAL, ATOPIAS, VAGINOSE BACTERIANA, PREVENÇÃO DE SÍNDROMES METABÓLICAS SINERGIA ENTRE PREBIÓTICOS E PROBIÓTICOS 4. MICROBIOTA INTESTINAL O microbioma intestinal é formado por um conjunto de microrganismos comensais encontrados em um orga- nismo, unidos por uma relação simbi- ótica, que pode ser benéfica ou pato- gênica. O intestinohumano hospeda cerca de 10¹4 bactérias, distribuídas pelo TGI, sendo mais de 1000 espé- cies, destacando os Bacterioides spp, Bifidobacterium spp e Lactobacillus spp (benéficas), Enterobecteriaceae e Clostridium spp (patogênicas), as quais têm papel fundamental na fun- ção imunológica da mucosa do trato gastrointestinal. 12MODULAÇÃO INTESTINAL Os indivíduos apresentam a compo- sição da microbiota intestinal distin- tas, a qual é influenciada por fatores genéticos, além de características in- dividuais e ambientais, como o modo de nascimento (parto normal ou ce- sariana), idade e hábitos alimentares (amamentação ou fórmula), tempo de gestação, uso de antimicrobianos, condições de higiene e até mesmo o estresse da mãe. A passagem pelo canal vaginal no mo- mento do parto começa a estimular a colonização do trato gastrointestinal do recém-nascido, devido ao contato com os microrganismos maternos, e no período pós-natal, a duração da amamentação também determinará esta microbiota. Um atraso na coloni- zação do TGI pode gerar menor resis- tência a infecções, devido ao retardo no balanço das respostas Th1 e Th2, bem como favorecer o desenvolvi- mento de alergias alimentares. Comparando com adultos, os lacten- tes possuem a microbiota do TGI com maior variabilidade da composição, apresentando menos espécies com menor estabilidade. Entre 2 e 3 anos de idade, o ecossistema passa a ser Boca Estômago Colonizado por ~ 10³ bactérias /ml Duodeno Colonizado por ~ 10²-104 bactérias/ml Cólon Colonizado por ~ 10¹¹ Reto Figura 3. Trato gastrointestinal. Fonte: https://bit.ly/34bvDPk 13MODULAÇÃO INTESTINAL mais estável, assemelhando-se ao do adulto. Já os indivíduos adultos podem apresentar modificações na composi- ção de sua microbiota gastrointestinal por influência de alterações ambien- tais ou de estados patológicos. Com o envelhecimento, é observado redução na população de Bacteroides, Bifidobactérias e menor produção de ácidos graxos de cadeia curta, assim como crescimento de anaeróbios fa- cultativos, como Fusobacteria, Clos- tridia, Eubacteria, e maior atividade proteolítica. Há evidências de que es- sas modificações estão associadas à perda de paladar, olfato e menor in- gestão alimentar. SAIBA MAIS! Indivíduos magros e obesos apresentam diferente composição da microbiota intestinal, e isso estimula a produção de diferentes citocinas inflamatórias por esses dois grupos. A hipertrofia do tecido adiposo gerada pela obesidade gera distúrbios metabólicos e hemodinâmicos pela produção de adipocinas, as quais estão envolvidas com o processo de resistência insulínica e consequente síndrome metabólica. Assim, diferentes composições da microbiota podem aumentar a produção de citocinas pró-inflamatórias, alterando a expressão de genes do hos- pedeiro e induzindo o estado patogênico que proporciona o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, como o diabetes. Além de preparar o sistema imunoló- gico da mucosa, a microbiota intestinal também mantém a homeostasia do epitélio intestinal e integridade epite- lial de barreira, participa da motilida- de intestinal, absorção de nutrientes e metabolização de macronutrientes, gerando subprodutos fermentáveis, que são ácidos graxos de cadeia cur- ta, que promovem o pH adequado ao bom funcionamento tanto da di- gestão quanto da absorção. Micror- ganismos que colonizam o intestino podem alterar a expressão gênica em células da mucosa intestinal, poden- do inclusive alterar a função do trato gastrointestinal. A dieta é o principal fator que influen- cia nas características da microbiota intestinal, que é resultado dos hábi- tos alimentares de longo prazo e por fenótipos do hospedeiro, não sendo muito alterada por intervenções de curto prazo. Dietas hiperlipídicas, por exemplo, pode afetar a integridade da mucosa do TGI e desregular sua per- meabilidade, o que torna o indivíduo mais vulnerável a infecções, altera- ções essas que não estão necessa- riamente associadas à obesidade. O mesmo vale para o teor de açúcar consumido, que gera alterações na composição da microbiota, elevando o número de Firmicutes e reduzindo o de Bacteroidetes. 14MODULAÇÃO INTESTINAL O mau funcionamento da microbiota é chamado de disbiose intestinal, que é provocada pela relação patogênica entre bactérias e o hospedeiro, sendo o principal mecanismo desse proces- so a inflamação do lúmen intestinal, que gera uma lesão na mucosa intes- tinal, levando a perda da integridade da barreira e consequentemente a doenças. As principais causas de disbiose in- testinal são o uso indiscriminado de antibióticos, principalmente quando não é feito uso de probióticos; estres- se crônico; dieta ocidental rica em ali- mentos ultraprocessados e açúcares; e há também a hipótese da higiene, a qual postula que a incorporação de maus hábitos de higiene e vacina- ção, por exemplo, favoreceu a proli- feração de determinados grupos de bactérias, que ativam uma resposta Th2 mais do que a resposta Th1, tor- nando os indivíduos mais suscetíveis a alergias e menos preparados con- tra microrganismos invasores. Esse desequilíbrio provoca diarreia, alergia alimentar, eczema atópico, doenças inflamatórias intestinais, artrite, entre outros. A disbiose intestinal pode ser evita- da antes mesmo do nascimento, com a correta alimentação da genitora no período gestacional, com uso de pro- bióticos quando necessários, bem como o aleitamento materno após o nascimento do bebê. Além disso, é importante o uso adequado de anti- bióticos, que devem ser usados ape- nas quando necessário, e seguindo as doses e o tempo correto de tra- tamento, bem como realizar uso de probióticos após a antibioticotera- pia, a fim de restabelecer a microbio- ta intestinal. Também é necessário o gerenciamento do estresse da vida moderna e evitar a exposição maior e precoce das crianças a ambientes não estéreis, dando maior tempo para que elas desenvolvam melhor seus mecanismos de defesa. A suplementação alimentar com pro- bióticos e prebióticos, então, auxiliam na homeostase intestinal e possibilita o desempenho adequado das fun- ções fisiológicas do hospedeiro. SAIBA MAIS! A resposta Th2 é mais relacionada com os processos alérgicos, enquanto a resposta Th1 está mais envolvida com os mecanismos de defesa do organismo. Isso porque as citocinas produzidas pelas células Th1 ativam macrófagos e favorecem a geração de células Tc, ge- rando uma resposta mediada por células. Enquanto as citocinas produzidas pelas células Th2 ativam células B, produzindo anticorpos. Lembrando que tanto as células Th1 quanto as células Th2 são subgrupos dos linfócitos T CD4+, e os processos alérgicos são mediados principalmente por IgE, que é produzida pelas células B (plasmócitos). 15MODULAÇÃO INTESTINAL MAPA 4 ABUSO DE ANTIBIÓTICOS MICROBIOTA INTESTINAL MELHORA DA RESPOSTA TH1 COMPOSIÇÃO INFLUENCIADA POR GENÉTICA, DIETA, MODO DE NASCIMENTO E CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS E AMBIENTAIS DISBIOSE INTESTINAL REGULAÇÃO DA RESPOSTA TH2 AUMENTO DE ANTICORPOS IgA MELHORA DA FAGOCITOSE ATIVAÇÃO DE LINFÓCITOS B e T MENOR ABSORÇÃO DE ALÉRGENOS ESTRESSE CRÔNICO DIETA OCIDENTAL RICA EM ULTRAPROCESSADOS HIPÓTESE DA HIGIENE MAPA 5 MODULAÇÃO INTESTINAL PROBIÓTICOS PREBIÓTICOS MICROBIOTA INTESTINAL INGREDIENTES QUE PROMOVEM O CRESCIMENTO DE PROBIÓTICOS REGULAÇÃO DAS RESPOSTAS TH1 (DEFESA) E TH2 (ATOPIAS) PRODUÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS DE CADEIA CURTA E ÁCIDO LÁTICO MELHORA DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE MACRO E MICRONUTRIENTES MODULAÇÃO DO SISTEMA IMUNE 16MODULAÇÃO INTESTINAL REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS Flesch AGT, Poziomyck AK, Damin DC. O Uso Terapêutico dos Simbióticos. ABCD Arq Bras Cir Dig 2014;27:206-9. World Gastroenterology Organisation (WGO). Diretrizes Mundiais da Organização Mundial de Gastroenterologia – Probióticos e prebióticos. Fev 2017. PAIXÃO, Ludmilla Araújo; CASTRO, Fabíola Fernandes dosSantos. A colonização da mi- crobiota intestinal e sua influência na saúde do hospedeiro. Universitas: Ciências da Saúde, Brasília, v. 14, n. 1, p. 85-96, 2016. VIEIRA, Leda Quercia; PENNA, Francisco Jose; FILHO, Luciano Amedee Peret; NICOLI, Ja- cques Robert. Uso de probióticos na prevenção e tratamento de infecções e inflamações gastrintestinais. Revista médica de Minas Gerais, Belo Horizonte, v. 17, n. 2, p. 45-53, 2007. MORAES, Ana Carolina Franco, et al. Microbiota intestinal e risco cardiometabólico: mecanis- mos e modulação dietética. Arq Bras Endocrinol Metab vol.58 no.4 São Paulo, Junho, 2014. 17MODULAÇÃO INTESTINAL
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