Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Resenha crítica do livro “História Social da Psicologia”, cap. 1 Publicado em 2018, o livro História Social da Psicologia foi escrito por alguns estudiosos. Entretanto, iremos nos ater apenas a tríade de autores que compõe o primeiro capítulo da obra “Por que fazer uma História Social da Psicologia?”: Cristiana Facchinetti, Francisco Teixeira Portugal e Alexandre de Carvalho Castro. Cristiana Facchinetti atualmente é Pesquisadora do Departamento de Pesquisa e Professora permanente do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde. Cursou Psicologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) vindo a se formar em 1993. Possui mestrado e doutorado em Teoria Psicanalítica, ambos pela UFRJ, tendo como temas, respectivamente, Um Percurso Para a Feminilidade e Deglutindo Freud: sobre a digestão do discurso psicanalítico no Brasil. Estudioso da Psicologia Social, Francisco Teixeira Portugal graduou-se em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Concluiu seu mestrado e doutorado em Psicologia Clínica, ambos pela PUC-RJ tendo como temas de seus estudos, respectivamente, As psicoses no pensamento de Freud e O homem diante dos animais: uma história das relações entre homens e animais na psicologia. Atualmente é professor associado da UFRJ atuando, principalmente, com os seguintes temas: História da Psicologia, História da Psicologia no Brasil, Psicologia Social e Psicologia e Educação. Bacharel em Psicologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e mestre em Tecnologia pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ), Alexandre de Carvalho Castro possui também mestrado e doutorado, ambos pela UERJ, apresentando como temas de seus trabalhos/estudos, respectivamente, O Homem de Vidro e o Sofrimento Invisível – Uma Visão existencial da Saúde Mental no Trabalho e Olhai os Delírios no Conto: Análise dos Temas Psicológicos nos Contos de Machado de Assis. Desenvolvendo pesquisas apoiadas por editais do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), atua principalmente no campo da Psicologia do Trabalho, Psicologia Social, História da Psicologia e Relações Étnico-Raciais. Juntos esses escritores através de suas áreas de interesse e investigação, possuem propriedade para discorrer quanto a Psicologia Social e sua história. No texto é defendido pelos autores um modo diferente de fazer a história da psicologia. Os escritores questionam o modo como “A história” foi moldada ao longo dos anos, de modo que se restringiu exclusivamente a linha de pensamento positivista nas abordagens da História da Psicologia Social. Logo, sua tese apresenta-se como uma crítica a esse posicionamento, para expor a carência do estudo e investigação por outras vias e maneiras de se construir esses conhecimentos. O texto aborda o ensino como feito de forma padronizada seguindo uma conduta incorporada previamente – que já está intrínseca a didática de ensino e aprendizagem, além de qualquer processo de formação de conhecimento, principalmente com a história. Seguir esse padrão sistematizado condiz com um comodismo, pois este apresenta uma linha simples e direta sem explorar os outros viés e todas as possibilidades. Dessa forma, no que diz respeito à forma de “contar a história” descarta e desperdiça muita sabedoria popular, como as tradições. De certo, essa metodologia influencia no desinteresse quanto ao ensino da história, por mais interessante que a mesma possa ser. De forma a demonstrar os seus pontos de vista, os escritores, como meio pedagógico, fazem uma comparação do estudo da história com os museus clássicos mostrando que a curiosidade inicial no estudo, que é despertada pelos grandes nomes e obras, tanto pode abrir novos horizontes para um aprofundamento no estudo como pode lhe limitar a apenas um ponto de vista, o que normalmente acontece. Nesse sentido, a interessante analogia elaborada nos primeiros parágrafos entre um museu e a própria história, apresenta o museu com suas galerias pré-estabelecidas e mostra que geralmente há apenas uma única visão da história do objeto em exibição para a pessoa que o vislumbra, e assim seria o modo como é feita a história da psicologia, tendo apenas os nomes dos autores tidos como mais renomados em destaque em detrimento dos demais, exemplificado pela raridade em que são encontrados os nomes de pesquisadores brasileiros. Posteriormente, como forma de exemplificar melhor seu posicionamento os escritores mostram outra comparação com o filme, de 2006, “Uma noite no museu”, na qual a disposição das galerias está toda embaralhada por conta das mesmas terem ganhado vida própria. Tal comparação, além de divertida visa contrastar com a ideia de um museu estático e conjecturar a proposta de que o estudante deve olhar por outros ângulos diferentes dos quais já estão postos. Por certo, a relação visa questionar a forma como construímos nossos conhecimentos em uma única ótica, busca analisar os rígidos modelos que se formaram ao longo dos anos diante o positivismo, levando a analisar os motivos que fizeram e moldaram essas construções. Quem se beneficiou? Quem se prejudicou? Os porquês das escolhas feitas pelos autores da história. Nessa perspectiva, a problematização ocorre para com a construção de conhecimento embasada na visão que possui uma perspectiva progressista como uma constituição linear dos fatos, ou seja, um método que consiste na observação de fenômenos, tomando como base somente a razão. Os escritores fazem uma crítica ferrenha a esse posicionamento, que por mais que seja tradicional é muito restringente, visto que, cria-se uma história dos vencedores e não dos vencidos como algo natural e certo, desvalorizando todos os contextos relativos nesses processos. Para posteriormente tentar reconstruir a partir da desconstrução dos “museus” clássicos. Nesse contexto, com o estudo da psicologia não foi diferente, pois se apresentam muitas problemáticas, uma vez que, qualquer pesquisa histórica recebe grande influência de seu pesquisador. De certo, por várias vezes ocorre uma incapacidade do historiador, que não consegue cumprir o seu papel em analisar os aspectos de forma “neutra”, deixando seus interesses interferirem na pesquisa. Desse modo, faz-se necessária uma abordagem holística que analise todas as circunstâncias socioculturais, políticas e econômicas, especialmente quanto ao surgimento da psicologia. Da mesma forma, observa-se que as análises dessa ciência no Brasil perpassaram uma interpretação fundada no eurocentrismo, o que não condiz com a conjuntura brasileira – outro argumento que reforça a deficiência do positivismo. Por certo, deve-se estudar história com um olhar crítico e avaliativo, a confrontar a contemporaneidade com o conhecimento adquirido no passado e vice e versa. Assim, é possível valorizar os saberes locais que por muito tempo foram desperdiçados em uma inútil equiparação com a Europa, a fim de demonstrar que em cada e qualquer local, como no Brasil, ocorre formação de conhecimento sem hierarquias. Dessa forma, com a naturalização da história, isto é, a aceitação do museu clássico como a única verdade, sem perceber, reproduzimos as ideias, teorias, verdades e inverdades do historiador sobre esse ou aquele aspecto de sua obra. Assim, os autores nos convidam a ao entrar em um museu problematizar a afirmação de uma única forma de contar a história e abrir espaço para outros nomes e temas. Ou seja, encoraja o estudante a mudar sua postura, a ter uma perspectiva crítica em relação à história da psicologia e a sair da inércia e tomar uma atitude que seria como sugerida pelo autor, desarrumar os museus. Sendo fundamental para isso o questionamento do porquê, para que e para quem a história é feita. Seu objetivo, portanto é bagunçar as arrumações tradicionais permitindoum maior dinamismo aos museus. Em suma, com o objetivo de ser uma introdução aos estudos de História da Psicologia, este capítulo faz mais do que fornecer uma orientação nesse campo. O texto propõe um estudo da psicologia permeada em uma visão social, a fim de que se permita uma consciência quanto à realidade e a valorização de toda conjuntura que compõe a psicologia como ciência codependente. Os autores usam de uma argumentação clara e bem fundamentada para traçar seus posicionamentos, por meio de comparações compõem sua ideia central, bem como fortalecem sua tese mostrando as consequências e desperdícios que o uso exclusivo do positivismo traz, simultaneamente sintetizam seus questionamentos quanto à necessidade de se refletir sobre o assunto abordado. O trio de historiadores não busca mostrar um modo certo de se contar a história ou meramente criticar a utilizada, eles buscam compreender os problemas na forma de se constituir conhecimento histórico em Psicologia, almejando fomentar interesse no estudo das diferentes áreas históricas em suas entrelinhas. Um texto que por sua linguagem simples e dinâmica pode ser recomendado para iniciantes nos estudos em Psicologia, tal como para pesquisadores interessados na área da Psicologia Social, além de todos que queiram descontruir sua visão e ampliar seus conhecimentos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PORTUGAL, F. T. ;Facchinetti, C. ; CASTRO, A. C. . Por que fazer uma História Social da Psicologia?. In: Francisco Teixeira Portugal, Cristiana Facchinetti, Alexandre de Carvalho Castro. (Org.). História Social da Psicologia. 1ed.Rio de Janeiro: NAU Editora, 2018, v. 1, p. 11- 21. PORTUGAL, F. T. (Org.) ; FACCHINETTI, C. (Org.) ; CASTRO, A. C. (Org.) . História Social da Psicologia. 1. ed. Rio de Janeiro: NAU, 2018. 127p . PORTUGAL, F. ; FACCHINETTI, C. ; CASTRO, A. C. . História Social da Psicologia. 1. ed. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2018. v. 1. 128p http://ppghcs.coc.fiocruz.br/index.php/br/docentes/103-corpo-docente/148-cristiana- facchinetti
Compartilhar