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SISTEMAS DE ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA Eng. Carlos Alberto Alvarenga 0315s Solenerg Engenharia Fone: (31) 3262 1534 - E-mail: cursos@solenerg.com.br - Web site: www.solenerg.com.br Sistemas de Energia Solar Fotovoltaica 3 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 1 A ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA..................................................................................................... 5 2 A ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA NO MUNDO ........................................................................... 17 3 A ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA NO BRASIL ............................................................................ 21 4 O MÓDULO FOTOVOLTAICO ................................................................................................................. 26 5 SISTEMAS FOTOVOLTAICOS AUTÔNOMOS ...................................................................................... 35 6 PROJETO DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS AUTÔNOMOS COM BATERIAS ........................... 49 7 GERADORES FOTOVOLTAICOS CONECTADOS À REDE ............................................................... 60 8 PROJETO DE MICRO GERADOR CONECTADO À REDE ................................................................. 68 9 PROCEDIMENTOS PARA ACESSO À REDE ......................................................................................... 79 10 INSTALAÇÃO E MANUTENÇÃO DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS ............................................. 84 REFERÊNCIAS E SÍTIOS DE INTERESSE NA WEB Anexo: Requisitos para a conexão de acessantes ao sistema de distribuição Cemig – Conexão em baixa tensão Textos e Figuras desta publicação poderão ser reproduzidos desde que citada a fonte. 4 APRESENTAÇÃO A presente publicação apresenta um conjunto básico de informações sobre a tecnologia fotovoltaica com o objetivo de dar ao participante do curso de energia solar fotovoltaica promovido pela Solenerg Engenharia uma visão geral dos aspectos relacionados ao aproveitamento dessa fonte fantástica de energia que nos foi legada e que seguramente terá um papel crescente no desenvolvimento humano. Não houve a intenção de varrer toda a gama de assuntos relacionados, devido a sua vastidão. Entretanto, as principais aplicações estão abordadas, algumas delas de forma mais aprofundada. Ao final da publicação estão apresentados alguns sites úteis, que poderão ser consultados pelos participantes do curso para assuntos específicos de seu interesse e também alguns catálogos de equipamentos. Considerando a formação do autor, engenheiro eletricista, especialista na área de energia solar fotovoltaica, procurou-se enfocar o assunto dentro da ótica da engenharia e tomando como base as experiências vividas pelo mesmo na Companhia Energética de Minas Gerais no setor de desenvolvimento energético e na empresa Solenerg Engenharia. São apresentadas características técnicas de sistemas e equipamentos utilizados no aproveitamento da energia solar para gerar eletricidade utilizando a tecnologia fotovoltaica e as principais aplicações. A abordagem da publicação é técnica e realista, mostrando as grandes vantagens do uso da energia solar fotovoltaica, mas apresentando também as dificuldades e os desafios. O texto conta também com a colaboração importante de dezenas de alunos que elaboraram trabalhos de fim de curso de especialização lato sensu da Universidade Federal de Lavras sob a orientação do autor e que se encontram disponíveis para consultas no site da Solenerg Engenharia e também dos alunos dos diversos cursos de extensão realizados em Belo Horizonte e outros estados pela Solenerg Engenharia. O objetivo maior da publicação será alcançado na medida em que seus leitores usarem as informações oferecidas no encaminhamento de iniciativas estimuladas pela realização do Curso de Energia Solar Fotovoltaica. O autor agradece as sugestões para o aperfeiçoamento do texto, que poderão ser incluídas em futuras edições. Carlos Alberto Alvarenga Sistemas de Energia Solar Fotovoltaica 5 1 A ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA 1.1 APROVEITAMENTO DA ENERGIA SOLAR O Sol é responsável pelo fornecimento da quase totalidade da energia consumida pela humanidade desde seus primórdios. A energia armazenada pelas plantas através da fotossíntese que garante a vida na Terra, as modernas hidrelétricas cujas represas são abastecidas graças ao ciclo das águas provocado pela evaporação, os cata-ventos e geradores eólicos acionados pela força dos ventos produzidos pelas diferenças de temperatura da atmosfera, os combustíveis fósseis gerados a partir de resíduos orgânicos de tempos primitivos, são exemplos incontestáveis de nossa dependência energética do Sol. O homem tem feito uso, ao longo dos tempos, desta fonte formidável de energia, que abastece seu próprio corpo ao ingerir os alimentos. Com o tempo foi aprendendo a multiplicar a própria energia corporal ao usar os animais de carga, ao usar os barcos à vela em vez dos remos, ao produzir vapor e acionar suas máquinas, evoluindo sempre até atingir a sofisticação da eletricidade e dos modernos motores com seus controles eletrônicos. Uma das bases da vida moderna é a utilização maciça e generalizada da energia. Iniciando- se pelos eletrodomésticos que facilitam nossa vida, passando pelos transportes, pela indústria, pela agricultura que produz nosso alimento, pelos meios de comunicação, observa-se que a energia está presente em nossa vida diária desde quando levantamos pela manhã até quando vamos dormir à noite. Ela é um conforto e uma necessidade que o homem moderno já não pode prescindir. Entretanto, em todo o mundo, levanta-se um clamor contra a agressão ao meio ambiente que a vida moderna tem provocado, principalmente a originada da geração, transmissão e distribuição da energia. Aspira-se aos progressos que a tecnologia proporciona, mas rechaçam-se seus efeitos maléficos, principalmente aqueles que deterioram o ambiente onde o homem vive. A mais nobre das energias, a eletricidade, para ser produzida gera efeitos colaterais. Desde as terras inundadas pelas hidrelétricas, o represamento dos rios, a poluição e a emissão de CO2 provocadas pelas usinas térmicas, os riscos da geração nuclear e até a poluição visual das linhas e redes de distribuição, existe sempre um aspecto indesejado. O sonho da energia limpa, entretanto, persiste na mente de muitos. E o avanço da tecnologia, nesse inicio de século, está reservando ao homem uma grata surpresa: a geração de calor e eletricidade no próprio ponto de consumo, evitando-se tanto os problemas ambientais da geração convencional quanto à extensão das onerosas e incômodas linhas elétricas para transporte da energia. A fonte dessa energia é o Sol. A captação é realizada utilizando-se tanto os coletores solares para geração de calor quanto às células fotovoltaicas que transformam diretamente a radiação solar em eletricidade, sem produção de nenhum tipo de resíduo. Sem fumaça, sem partes móveis, sem barulho. Coletores solares e painéis com células fotovoltaicas, instalados sobre ou integrados ao telhado de uma residência podem fornecer todo o calor e toda a energia elétrica que é necessária para as necessidades dos moradores. No Brasil, país tropical, essa tecnologia encontra um campo propício, muito sol, grandes áreas e muita necessidade de energia, tanto para o sistema elétrico integrado quanto para locais 6 isolados e distantes da rede elétrica. A casa solar autônoma energeticamente não é um sonho. Existem centenasde milhares dessas casas espalhadas pelo mundo, muitas delas aqui no Brasil. São pequenas casas, situadas em locais remotos, às vezes de difícil acesso. As redes elétricas estão distantes, mas as famílias que lá residem assistem normalmente aos programas de televisão, ouvem música pelo rádio, à noite conversam sob a luz brilhante de lâmpadas fluorescentes. Em muitas, uma motobomba elétrica bombeia água de uma cisterna para um reservatório elevado disponibilizando água encanada em casa e até se ter uma horta irrigada. Mais conforto, mais saúde, mais qualidade de vida. A utilização da energia solar de uma forma direta, principalmente através de coletores solares e células fotovoltaicas, apresenta-se, portanto, como uma nova forma de aproveitamento dessa fonte, que tem a grande vantagem de ser inesgotável, se considerarmos os parâmetros de tempo terrestres. Além disso, a crescente demanda mundial de energia, o progressivo esgotamento das fontes de energia não renováveis e o problema ambiental que se apresenta como uma questão cada vez mais importante para o futuro da humanidade colocam a energia solar como uma alternativa promissora e que seguramente ocupará um lugar de destaque neste milênio. Existem, entretanto, algumas características e limitações desse tipo de aproveitamento energético que é preciso levar em conta. A radiação solar não está presente todo o tempo, existe o ciclo natural do dia e da noite, existem os períodos chuvosos ou nublados. Por isso, em sistemas isolados e autônomos, que dependem somente dessa fonte energética, é necessário armazenar a energia em acumuladores térmicos ou em baterias elétricas, armazenando-a durante os períodos ensolarados para usá-la nos períodos sem insolação. Além disso, apesar da energia solar ser gratuita, seus equipamentos ainda são relativamente caros, o que implica na necessidade de uso eficiente da energia gerada, usando-se, por exemplo, lâmpadas fluorescentes de maior eficiência. Outro exemplo importante é o aquecimento da água, que se torna muito mais conveniente quando feito diretamente com os aquecedores solares, ao invés de gerar eletricidade para alimentar um aquecedor elétrico. 1.2 GERAÇÃO DE ELETRICIDADE COM ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA A conversão da energia solar diretamente em eletricidade, em um processo limpo, silencioso e realizado no próprio local do consumo vai ao encontro de uma grande aspiração da sociedade moderna. Principalmente em uma época em que os principais processos de produção e transporte da eletricidade são alvos de críticas, devido aos impactos ambientais que provocam. A produção de eletricidade por meio de geradores fotovoltaicos já é, hoje, uma realidade técnica e econômica que se espalha pelo mundo e que agora começa a se difundir pelo Brasil. O Brasil, considerando a sua extensão territorial, as características de dispersão de sua população e o elevado nível de radiação solar, está seguramente destinado a ser um grande usuário dessa tecnologia. Observa-se, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, um significativo número de pessoas residindo em locais isolados e distantes da rede elétrica existente. O atendimento de muitos deles por meio da extensão da rede mostra-se inviável a curto, médio e, mesmo, longo prazos, tendo em vista o baixo consumo previsto, o alto custo de instalação e a ausência de rentabilidade. A alternativa fotovoltaica pode se revelar, em muitos casos, como uma alternativa factível e de menor custo que a extensão da rede, podendo viabilizar, em prazos Sistemas de Energia Solar Fotovoltaica 7 relativamente curtos, o atendimento a essa população. Por outro lado, a geração de eletricidade para conexão à rede elétrica a partir da tecnologia fotovoltaica se constitui uma forma complementar de geração de baixo impacto ambiental, na qual a eletricidade é produzida próximo de onde é consumida e que se apresenta cada vez mais atrativa considerando as reduções de custos dos últimos anos. A expectativa é que, com alguns incentivos, ela se torne cada vez mais competitiva com as outras fontes representando um importante reforço energético para o sistema brasileiro interligado. Os geradores fotovoltaicos apresentam nível elevado de confiabilidade operacional, não são agressivos ao meio ambiente, permitem a eletrificação de residências remotas, contribuindo para fixar as pessoas em seus locais de origem e a melhoria imediata das condições de vida das comunidades e também podem se constituir em um importante reforço para a geração de eletricidade para o sistema elétrico interligado. Mas, somente agora o governo e as concessionárias de eletricidade estão despertando para as potencialidades dessa tecnologia, possibilitando o início de significativos programas de disseminação tanto em nível de eletrificação rural quanto de micro e mini geração distribuída. Os capítulos a seguir fornecem informações básicas sobre esta nova tecnologia e sobre os sistemas que foram concebidos para adaptar as características da fonte energética solar às necessidades humanas e sobre as principais aplicações atuais no Brasil, tanto as relacionadas com uso de geradores autônomos em regiões remotas quanto às relacionadas com a geração de energia elétrica interligada à rede elétrica. Dada à extensão do tema são fornecidas referências de textos complementares que possibilitarão aos interessados aprofundar nos aspectos específicos de seu interesse. 1.3 CARACTERÍSTICAS DA RADIAÇÃO SOLAR O Sol é composto basicamente por hidrogênio e hélio que, sob a ação das altas temperaturas de milhões de graus do seu interior, desencadeia um processo de fusão de núcleos de hidrogênio produzindo hélio e com liberação de neutrinos e de radiação gama, de alta energia. A radiação solar que atinge a Terra provém da região da fotosfera solar, camada com aproximadamente 300 km de espessura e temperatura superficial na faixa de 5.800 K. Esta radiação sofre a influência das variações das camadas externas do Sol, dos pontos quentes e frios, das erupções cromosféricas etc. Entretanto a variação da intensidade da radiação proveniente do Sol que atinge nosso planeta é pequena, função, principalmente, da variação da distância Terra-Sol ao longo do ano e tem uma intensidade média bem definida. A constante solar é definida como a potência da radiação recebida do Sol em uma superfície de 1 m2 perpendicular à direção de propagação, medida no limite da atmosfera da Terra. Seu valor médio é 1.367 W/m2 (Watt por metro quadrado). A variação máxima de aproximadamente +/- 1,7% na distância entre a Terra e o Sol, acarreta uma oscilação na constante solar da ordem de +/- 3%. Nem toda essa radiação chega à superfície da Terra. Como se pode ver no balanço energético da Figura 1-1 a maior parte dela é refletida de volta ao espaço, absorvida pelas moléculas (CO2, H20 etc.) presentes no ar, pelas nuvens e pelo espalhamento dos diversos agentes suspensos na atmosfera. Também devemos levar em consideração uma parte muito pequena que é absorvida pelas plantas. Em um dia claro, sem nuvens, com o Sol a pino, a energia solar que atinge uma superfície horizontal de 1 m2 próxima ao solo é de cerca de 1.000 W. À 8 medida que o Sol fica mais baixo no horizonte, a crescente massa de ar que se interpõe no caminho dos raios solares reduz a intensidade com que os mesmos alcançam essa superfície perpendicular de 1 m2. Figura 1-1- Balanço energético da energia solar incidente na Terra. A radiação global que atinge a superfície é soma de uma componente direta, resultante daqueles fótons não desviados, e de uma componente difusa, resultante da dispersão da luz por choques e reflexões na atmosfera. A relação entre essas componentes varia com a altura do Sol sobre o horizonte e com diversos outros parâmetros sendo diferente de regiãopara região, ao longo do dia e ao longo do ano. Os coletores solares concentradores somente aproveitam a radiação solar direta, enquanto outros equipamentos, como coletores planos e painéis fotovoltaicos, aproveitam a radiação global. O Sol emite sua radiação em ampla faixa espectral, de raios cósmicos a ondas de rádio. Porém, devido à sua temperatura de emissão, de cerca de 5.800 0K, aproximadamente 97% da radiação do espectro solar está compreendido entre os comprimentos de onda de 0,3 µm e 3,0 µm, o que o caracteriza como radiação de ondas curtas, com concentração na faixa da luz visível. Essas radiações são diferentemente refletidas e absorvidas pela atmosfera. O conhecimento dessa distribuição espectral pode ser útil para melhorar a precisão da estimativa da energia que seria extraída em um determinado aproveitamento, uma vez que os diferentes tipos de coletores solares apresentam melhores respostas para diferentes faixas do espectro. O efeito causado no espectro da radiação solar pela presença da atmosfera é ilustrado na Figura 1-2, onde estão indicados os comprimentos de onda nos quais ocorre absorção de energia por componentes da atmosfera. Sistemas de Energia Solar Fotovoltaica 9 Figura 1-2 -Distribuição espectral da radiação solar. 1.4 VARIAÇÃO DA RADIAÇÃO SOLAR INCIDENTE Na otimização de projetos de aproveitamento da energia solar é importante o conhecimento das variações ano a ano, sazonais e diárias da radiação solar. As variações sazonais dos níveis de radiação solar, em um plano horizontal na superfície da Terra, devem-se principalmente à inclinação do seu eixo de rotação em relação ao plano da órbita em torno do Sol (Ver Figura 1-3). A declinação solar (ângulo entre a linha Terra-Sol e o plano do equador) varia entre ± 23,45 °, provocando as estações e as conhecidas variações na duração dos dias ao longo do ano (Ver fig.1.4). A soma desta declinação com a latitude de um local específico determina a trajetória aparente do Sol para o observador situado neste local. No hemisfério sul, o coletor solar sempre deve apontar para o norte, para maximizar o aproveitamento da energia. Figura 1-3 - Movimento da Terra em torno do sol. Figura 1-4 - Movimento relativo do sol. 10 Figura 1-5 – Variação da radiação solar em um plano horizontal durante um dia típico. A Figura 1-5 mostra a variação do nível da radiação solar em um dia típico. Observa-se a influência da hora do dia e dos fatores meteorológicos no nível de radiação disponível em um plano horizontal. Esta grande variabilidade da energia solar exige, quase sempre, a previsão de um sistema de armazenamento de energia para atendimento das necessidades do consumidor. Resumindo podemos dizer que a energia solar captada varia com: � a radiação incidente; � o ângulo de incidência; � a área de captação e com � a eficiência de captação e que são características da energia solar: � variabilidade no tempo, em nível diário, sazonal e de ano para ano; � distribuição desigual pela superfície terrestre, com áreas mais ou menos favoráveis ao seu aproveitamento; � altamente dependente de fatores meteorológicos. A potência da radiação solar que atinge a atmosfera terrestre é cerca de 1,7x1014 kW, o que corresponde a mais de 13 milhões de vezes a potência elétrica instalada da usina hidrelétrica de Itaipu, uma das maiores do mundo. É claro que a maior parte dessa energia não pode ser aproveitada, nem este potencial está distribuído uniformemente pelo planeta, como está descrito neste capítulo, mas isto nos dá uma ideia do enorme potencial energético que temos ao nosso dispor. Conforme apresentado nos itens anteriores, os sistemas de conversão de energia solar Sistemas de Energia Solar Fotovoltaica 11 utilizam uma fonte de energia muito variável, sobre a qual não se tem nenhum controle. Nos sistemas convencionais de geração de energia, comumente se pode controlar a quantidade de energia na entrada, que pode ser ajustada de acordo com as necessidades de consumo. Num gerador solar não é possível, por exemplo, aumentar a quantidade de energia radiante captada quando esta é insuficiente para uma determinada aplicação. Esta realidade gera um desafio para o projetista no dimensionamento criterioso tanto de um sistema autônomo para suprir uma determinada necessidade de consumo quanto em um sistema conectado à rede para avaliação da eletricidade gerada. Como definir que níveis de energia estarão disponíveis após a instalação? A avaliação criteriosa da potencialidade desse recurso exige a realização de levantamentos abrangentes dos níveis da radiação solar incidente no local do projeto, seja através de medições com instrumentos solarimétricos ou com utilização de modelos matemáticos para extrapolação dos valores disponíveis para áreas desprovidas de dados. O conhecimento, através de uma série histórica de dados, das características e da quantidade de energia solar disponível, permitirá a escolha e o dimensionamento adequados de sistemas de aproveitamento de energia solar. Para determinar a viabilidade técnico-econômica de um aproveitamento específico, bastam estatísticas baseadas em alguns anos de observação. Por outro lado, na elaboração de projetos de maior responsabilidade e custos, ao especificar um equipamento que garanta um nível determinado de produção de energia, é conveniente dispor-se de dados em períodos maiores, compatíveis com a variação admissível para a energia de saída do equipamento. Os níveis médios de radiação solar variam de região para região devido, principalmente, às diferenças de latitude, condições meteorológicas e altitudes. Variam também durante o ano e também de ano para ano. Esses níveis podem ser estimados através de extrapolação de dados de uma rede de estações meteorológicas terrestres ou com base em observações realizadas por satélites. Mas para estudos mais aprofundados do potencial de um determinado sítio, com vistas a um projeto específico de maior vulto, é recomendável também a realização de medições locais, no sentido de avaliar as influências localizadas de relevo, presença de partículas na atmosfera etc., para correlacionar com a série histórica obtida através de estações meteorológicas próximas. É preciso sempre se ter em conta que os sistemas de captação de energia solar caracterizam-se por produzir uma energia interruptível. No caso de sistemas fotovoltaicos autônomos, em períodos prolongados sem insolação ou quando o usuário utilizar a energia além do previsto poderá haver falta de energia. Com o tempo o próprio usuário vai passar a conhecer o seu sistema e irá disciplinar o uso da energia em função das condições meteorológicas vigentes. Por isso é importante que ele interaja com o sistema e conheça suas limitações e potencialidades. 1.5 UNIDADES DE MEDIÇÃO DA RADIAÇÃO SOLAR Para se medir a potência da radiação solar incidente sobre uma superfície utiliza-se com frequência a unidade de potência elétrica (Watt) por unidade de área desta superfície. Conforme descrito no item 1.3, nos limites da atmosfera terrestre, esta potência é de 1.367 W/m2 para uma superfície perpendicular a esta radiação, reduzindo-se para cerca de 1.000 W/m2 ao nível do solo em um dia claro e sem nuvens e com o Sol a pino. Mas para se avaliar o potencial de uma região para aproveitamento da energia solar é necessário trabalhar com unidades de energia (e não de potência) que levam em conta as variações diárias e sazonais da radiação incidente. Esta unidade deve expressar a quantidade total de energia que chega a esta superfície de 1 m2 a cada dia (ou a cada ano). Este valor é usualmente dado em kWh/m2/dia (ou kWh/m2/ano). Significa, por exemplo, que se uma radiação de 1.000 W/m2 pudesse incidir sobre uma superfície de 1 m2 durante as 24 horas de um dia resultaria 12 em uma energia totalincidente de 24 kWh/m2/dia. Mas, em um caso prático de uma superfície fixa horizontal de 1m2, é preciso considerar que: √ A radiação máxima ocorre apenas próximo ao meio dia e se reduz no inicio da manhã e no final da tarde terminando por zerar durante a noite; √ A superfície de incidência permanece no plano horizontal todo o tempo enquanto o Sol apresenta um movimento aparente modificando o ângulo de incidência da radiação; √ As condições meteorológicas podem variar durante o dia; Pode-se concluir que o total de energia incidente em 24 horas será muito menor que o produto de 1.000 W pelas 24 horas do dia. Um valor típico para o Brasil para um dia claro é 5 kWh/m2/dia. Outra forma muito utilizada, pela sua simplicidade, para expressar o nível da energia solar incidente em um local é o numero médio de horas de Sol máximo. Considera-se que a radiação solar máxima (1.000 W/m2) atinge a superfície horizontal de 1 m2 por um número equivalente de horas que resulte no mesmo valor da integração da radiação solar real incidente durante as 24 horas do dia. Ou seja, em um dia claro, em que a energia total incidente foi de 5 kWh/m2/dia, pode- se dizer que houve uma incidência de Sol máximo de 1.000 W/m2 por 5 horas naquela superfície. Podemos dizer, por exemplo, que uma determinada região apresenta um nível médio de radiação solar incidente de 5 kWh/m2/dia ou 5 horas de Sol máximo por dia. As unidades kWh/m2/dia e horas de Sol máximo por dia são, portanto, equivalentes. 1.6 NÍVEIS SOLARIMÉTRICOS O mapa da Figura 1-6 mostra os níveis solarimétricos médios mundiais. Pode-se observar que os maiores potenciais se localizam nas regiões de menor latitude e que apresentam clima mais seco, com menor nebulosidade. As regiões desérticas tropicais são as de maior potencial. Figura 1-6 - Níveis médios anuais de radiação solar no plano horizontal na Terra – kWh/m2/dia fonte: RISE – Research Institute for Sustainable Energy O Brasil, e principalmente a região amazônica, não dispõe de uma rede densa de estações de medição de radiação solar com séries históricas que permitam realizar extrapolações precisas de níveis medidos para locais de projetos específicos. Existem, porém, levantamentos realizados a partir de estações terrestres e dados de satélites, com margens de erro aceitáveis para muitas aplicações. Apesar dessas limitações e das divergências significativas observáveis entre os mapas existentes, os dados disponíveis são considerados suficientes para projetos de menor porte. Diversas fontes de dados e mapas podem ser consultadas para se elaborar projetos. O Atlas Solarimétrico é uma delas. A Figura 1-7 mostra a distribuição dos potenciais pelo Brasil Sistemas de Energia Solar Fotovoltaica 13 Figura 1-7 - Níveis médios anuais de radiação solar no plano horizontal no Brasil Fonte: Atlas Solarimétrico do Brasil. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2000 (adaptado). Observa-se que os potenciais mais elevados estão concentrados em uma faixa que cobre o Nordeste e o Centro-Oeste brasileiros, reduzindo-se na Amazônia e de forma mais significativa no Sul do país. Diversos estados têm seus próprios atlas solarimétricos que podem ser consultados nos projetos. A Figura 1-8 mostra os níveis médios anuais de radiação solar no plano horizontal constantes no Atlas Solarimétrico do Estado de Minas Gerais (www.atlassolarimetricomg.com.br/). Figura 1-8 Radiação solar média diária anual – Fonte: Atlas solarimetrico de Minas Gerais Outra fonte muito utilizada é a disponibilizada pelo CRESESB na Internet. Através do site www.cresesb.cepel.br, pode-se ter acesso às médias mensais de uma série histórica de dados para diversos locais no Brasil, bastando-se entrar com as coordenadas geográficas. 14 A Tabela 1-1 mostra os níveis médios mensais de radiação solar global no plano horizontal na região de Belo Horizonte - MG (kWh/m2/dia). Observa-se uma variação significativa dos níveis médios durante o ano. Os meses de menor insolação vão de maio a julho e os de maior insolação de agosto a abril. Isto se deve em parte ao fato desta região ser caracterizada por um clima tropical de altitude com verões quentes e chuvosos e invernos secos, com duas estações distintas: a seca e a chuvosa. A estação chuvosa vai de outubro a março e a estação seca, de abril a setembro. Apesar da cidade de Belo Horizonte estar na zona tropical, apresenta nível de nebulosidade relativamente elevado no período chuvoso o que afeta significativamente os níveis de radiação solar incidente no solo neste período. A presença frequente de nuvens que refletem e espalham os raios solares reduzem os níveis médios de radiação solar incidente, comparativamente a regiões do norte do Estado. Tabela 1-1 – Níveis médios mensais de radiação solar global no plano horizontal na região de Belo Horizonte-MG (kWh/m2/dia) 1.7 POTENCIAL DE GERAÇÃO DE ELETRICIDADE SOLAR Se calcularmos a quantidade de energia solar que incide em todo o Estado de Minas Gerais, que tem uma área de cerca de 588.000 km2 e um nível médio anual de radiação solar global no plano horizontal de aproximadamente 4,8 kWh/m2/dia, chegaremos a um valor de cerca de 1.000.000 TWh/ano. Se 0,1% de toda a área do Estado (588 km2) fosse coberta com painéis fotovoltaicos ou instalações termo-solares de geração de eletricidade e considerando uma eficiência média total de transformação da energia solar incidente em eletricidade de 5% (a eficiência de um módulo fotovoltaico de silício monocristalino atualmente é cerca de 15%) teríamos uma geração de eletricidade de cerca de 50 TWh/ano, que é semelhante ao consumo total de eletricidade do Estado em 2007. Para comparação a Tabela 1-2 apresenta a área máxima e a produção de energia elétrica de algumas usinas hidrelétricas do estado e a energia de fonte solar que produziriam se todo o reservatório fosse coberto com painéis fotovoltaicos. Sistemas de Energia Solar Fotovoltaica 15 * *Supondo um fator de capacidade de 50% das hidrelétricas e toda a área do reservatório coberta com módulos PV. Tabela 1-2 – Comparação de produção de energia solar x hidrelétrica para a mesma área ocupada. Pode-se extrair da Tabela 1-2 que, se utilizássemos a área dos reservatórios dessas hidrelétricas para gerar eletricidade com a energia solar, conseguiríamos uma produção de energia maior que aquela que é produzida pela conversão hidrelétrica. Portanto, se fosse economicamente viável, seria possível suprir toda a demanda de eletricidade do Estado a partir da energia solar sem grandes impactos ambientais. Entretanto, dada a variabilidade dos níveis de radiação solar teriam que ser previstos gigantescos sistemas de armazenamento de energia para suprimento de eletricidade durante a noite ou nos períodos de baixa insolação, o que torna esta escala de instalação inviável em termos práticos. 1.8 VANTAGENS DA GERAÇÃO DE ELETRICIDADE COM ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA Fonte energética gratuita e disponível para todos Devido à fonte energética solar ser disponível em todas as partes, fica minimizado o problema do suprimento de eletricidade em locais remotos, distantes de cidades e de redes elétricas, com estradas ruins e com dificuldades de obtenção de combustíveis fósseis. Com isso, pode-se ter disponível a eletricidade sem a limitação de se estar próximo à rede elétrica. Deve-se observar que apesar da radiação solar ser gratuita os equipamentos e a instalação têm um custo que deve ser confrontado com as demais alternativas para se avaliar a viabilidade do uso desta tecnologia. Geração distribuída com baixo impacto ambiental Em lugar de se gerar a eletricidade em grandes centrais e distribuí-la, gera-se no próprio local de uso, reduzindo-se os impactos ambientais das grandes instalações de geração e de transmissão. Confiabilidade Uma característica importante dos sistemas fotovoltaicosé a confiabilidade. Devido ao fato de não terem partes móveis, serem de baixo nível de complexidade e não estarem sujeitos praticamente aos efeitos dos ventos fortes e das descargas atmosféricas, apresentam alto índice de disponibilidade. Além disso, caso ocorra um defeito, este se limita à instalação específica, não se estendendo às demais. Usina hidrelétrica Área (km2) Potência (MW) Energia Produzida* (TWh/ano) Potência central solar* (MW) Energia produzida* (TWh/ano) UHE NOVA PONTE 442 510 2,2 44.200 66 UHE TRÊS MARIAS 1.056 356 1,6 105.600 158 UHE EMBORCAÇÃO 467 1.192 5,7 46.700 70 UHE SÃO SIMÃO 665 1.710 7,5 66.500 100 Total: 2630 3.768 17,0 263.000 394 16 Modularidade Devido às células fotovoltaicas estarem dispostas em módulos, os sistemas podem ser expandidos na medida das necessidades. Isso torna possível que os sistemas sejam projetados mais adequadamente para as necessidades atuais, reduzindo-se o investimento inicial. Autonomia Uma das principais vantagens do uso das células fotovoltaicas para a geração de eletricidade é que o consumidor é também o produtor da energia, sendo dono e responsável por todo o processo. No caso de sistemas isolados é independente da concessionaria de energia. Energia elétrica sem interferências externas As redes elétricas convencionais podem trazer para dentro da instalação do consumidor distúrbios elétricos que podem ocasionar danos a equipamentos e seres vivos. Equipamentos eletrônicos são sensíveis a surtos provocados principalmente por descargas atmosféricas, muito comuns em redes de distribuição. Estações de telecomunicações em locais elevados aumentam sua confiabilidade com geradores fotovoltaicos autônomos em vez de redes elétricas. Sistemas de Energia Solar Fotovoltaica 17 2 A ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA NO MUNDO A conversão da radiação do Sol diretamente em eletricidade é feita usando-se o efeito fotovoltaico, observado já em 1839 por Edmond Becquerel. Ele observou o surgimento de uma diferença de potencial nas extremidades de uma estrutura semicondutora, quando fazia incidir uma luz sobre ela. Apesar de, em 1876, já ter sido construído um primeiro dispositivo prático, somente em 1956 foram construídas as primeiras células fotovoltaicas industriais, impulsionadas pelas novas descobertas da microeletrônica. Mas, o custo era extremamente elevado, o que inviabilizava sua utilização prática, a não ser em aplicações muito específicas. O grande agente impulsionador das pesquisas para o aperfeiçoamento da tecnologia foi a necessidade de se desenvolver sistemas autônomos de energia para satélites e veículos espaciais. Nesses casos, o custo não era fator limitante e as características de confiabilidade e de baixo peso, tornaram as células fotovoltaicas a maneira mais conveniente e segura de gerar eletricidade no espaço. Com a comprovação de suas características no espaço, elas passaram a ser utilizadas também em aplicações terrestres, principalmente na alimentação elétrica de estações remotas de telecomunicação e telemedição. A utilização das células fotovoltaicas como gerador de eletricidade para aplicações diversas, inclusive para complementação do sistema elétrico existente, começou a ser concebida com o advento da crise do petróleo em 1973. Com a possibilidade real do esgotamento das reservas petrolíferas, a energia solar passou a atrair o interesse dos governos e de empresas ligadas à área energética. As companhias petrolíferas apressaram-se em constituir empresas e investir na área. Mas, o custo de produção das células era muito elevado em relação à quantidade de energia que produziam. Era preciso reduzi-lo significativamente. Por isso, o desenvolvimento do mercado foi muito lento. Mas, mesmo assim, em 1978, a produção já chegava a 1 MWp/ano (O Watt Pico ou Wp mede a potência elétrica máxima que a célula desenvolve quando exposta à radiação direta do Sol). Com o aumento da escala de produção e o advento de novas tecnologias de fabricação das células, os preços começaram a cair rapidamente. Quando ocorreu a redução do preço do petróleo e a crise energética deixou de assustar o mercado, muitas das empresas petrolíferas deixaram a área. O preço das células começou a cair lentamente, tendendo a certa estabilização. Mas, um novo fator continuou impulsionando a indústria: o fortalecimento dos movimentos de defesa do meio ambiente e o consequente incentivo de alguns países, principalmente a Alemanha, para a instalação de geradores fotovoltaicos conectados à rede elétrica. Em 1996, a produção já ultrapassava 80 MWp/ano. A partir de 1997 o crescimento se acelerou muito passando a taxa a patamares acima de 30% ao ano. Em 2011 a produção já atingia 29 GWp/ano (Figura 2-1). 18 Figura 2-1– Produção mundial de células fotovoltaicas - Fonte: International Energy Agency-Relatório 2014 Em 2012 houve uma estabilização por causa de um declínio na Alemanha e na Itália, mas em 2013 volta a crescer com perspectivas de atingir 50 GWp em 2014. Apesar da crise na Europa e as restrições às importações dos módulos chineses estabelecidas em 2013, tudo indica que um ritmo de crescimento acima de 10% ao ano se manterá nos próximos anos principalmente devido ao crescimento da instalação fora da Europa. Inicialmente as células eram produzidas quase que só na Europa, nos Estados Unidos e no Japão, mas a partir de 2000 a China começou a fabricar as células em grande escala alcançando 6% do total produzido no mundo em 2005, 63% em 2009, 71% em 2010 e 80% em 2011 passando a ser preponderante no mercado europeu e mundial. A Figura 2-2 ilustra este crescimento. Figura 2-2 – Aumento da participação da China no mercado europeu no período 2009-2011 Os preços das células também foram acompanhando este movimento e contribuindo para este fenomenal acréscimo na produção. Conforme mostrado na Figura 2-3 de um preço inicial das células de dezenas de dólares para cada Wp já em 1985 se alcançava um preço de 6 a 7 US$/Wp, preço esse que foi paulatinamente sendo reduzido para se chegar em 2014 a menos de 1 US$/Wp. As novas tecnologias em desenvolvimento, principalmente a dos filmes finos, poderão provocar reduções ainda mais significativas nos preços das células fotovoltaicas. Avanço dos módulos chineses no mercado europeu 2011 – 29 GWp 2012 – 29 GWp 2013 – 37 GWp 2014 – 50 GWp (2014-previsão de vendas) Sistemas de Energia Solar Fotovoltaica 19 Figura 2-3 – Tendência de queda de preços no mercado internacional - Fonte: http://thinkprogress.org Figura 2-4 Países que mais instalaram células fotovoltaicas em 2013 Este grande crescimento do mercado e consequente redução de preços deve-se basicamente à disseminação dos geradores fotovoltaicos conectados à rede elétrica (Figura 2-5). Esta disseminação começou na Alemanha, se espalhou pela Europa, principalmente na Espanha, Itália e Portugal e recentemente se dissemina por vários países do mundo principalmente China, Japão e USA. Nos próximos anos se prevê que diversos outros países do mundo passarão a incentivar esta tecnologia e estabelecer programas de desenvolvimento. 20 Figura 2-5 - Evolução dos geradores fotovoltaicos conectados a rede no mundo A maior parte destes sistemas conectados a rede foi instalada em centrais pequenas ou médias na área comercial conforme mostrado na Figura 2-6. Figura 2-6 - Aplicação dos geradores fotovoltaicos conectados a rede na Alemanha- Fonte: IMS Research O mesmo processo de redução de custos está ocorrendo com os inversores para as centrais conectadas à rede conforme mostrado na Figura 2-7.Figura 2-7 - Redução do preço de inversores no mercado internacional Sistemas de Energia Solar Fotovoltaica 21 3 A ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA NO BRASIL 3.1 EVOLUÇÃO DA ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA NO BRASIL Em 2013 o Brasil ainda apresentava um nível de fabricação e instalação de geradores fotovoltaicos muito baixo, não condizente com o tamanho e população do país e com suas potencialidades e necessidades. Comparado com mercados mais desenvolvidos na área o mercado brasileiro tem sido insignificante. Até 2012 os geradores fotovoltaicos eram usados basicamente na eletrificação rural, em sistemas autônomos em locais distantes da rede elétrica. Eram pequenas aplicações com baterias ou em bombas de água com pequeno numero de módulos em cada uma. Os geradores eram relativamente caros, utilizando módulos de pequeno porte. A fabricação nacional era praticamente nula. Apenas uma empresa, a Tecnometal, produzia módulos no Brasil mas em pequena escala. Sua capacidade produtiva de 25 MWp/ano era muito pequena comparada com os fabricantes internacionais. Mas o mercado brasileiro é ainda muito menor. Estimativas apontavam para um consumo inferior a 10 MWp/ano em 2011 com importações da ordem de 6 MWp. O governo lançou diversos programas de eletrificação rural, a maioria com resultados acanhados mostrando o grande desafio para o Brasil de desenvolver modelos autossustentados de eletrificação rural com geradores fotovoltaicos. O baixo nível cultural e econômico da maior parte das populações que poderiam ser beneficiadas e os modelos utilizados limitaram o desenvolvimento do mercado. Programas oficiais, como o Luz para Todos, estavam em realização em 2013 mas com um avanço lento. 3.2 O SISTEMA DE COMPENSAÇÃO DE ENERGIA A diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) aprovou em 17/04/12, através da Resolução Normativa Nº 482, regras destinadas a reduzir barreiras para instalação de geração distribuída de pequeno porte com energia solar fotovoltaica, que incluem a microgeração, com até 100 kW de potência, e a minigeração, de 100 kW a 1 MW. A resolução criou o Sistema de Compensação de Energia, que permite ao consumidor instalar pequenos geradores fotovoltaicos em sua unidade consumidora e trocar energia com a distribuidora local. Pelo sistema, a unidade geradora instalada em uma residência, por exemplo, produzirá energia e o que não for consumido será injetado no sistema da distribuidora, que utilizará o crédito para abater o consumo dos meses subsequentes. Os créditos poderão ser utilizados em um prazo de 36 meses e as informações estarão na fatura do consumidor, a fim de que ele saiba o saldo de energia e tenha o controle sobre a sua fatura. Os órgãos públicos e as empresas com filiais que optarem por participar do sistema de compensação também poderão utilizar o excedente produzido em uma de suas instalações para reduzir a fatura de outra unidade. O consumidor que instalar micro ou minigeração distribuída será responsável inicialmente pelos custos de adequação do sistema de medição necessário para implantar o sistema de compensação. Após a adaptação, a própria distribuidora é responsável pela manutenção, incluindo os custos de eventual substituição. As distribuidoras elaboraram ou revisaram suas normas técnicas para tratar do acesso desses pequenos geradores, tendo como referência a 22 regulamentação vigente, as normas brasileiras e, de forma complementar, as normas internacionais. Estas regulamentações passaram a valer a partir do final de 2012, marcando o ano de 2013 como um ano de mudança importante da trajetória da energia solar fotovoltaica no Brasil. De acordo com a ANEEL, no final de 2013, o Brasil já tinha uma capacidade fotovoltaica conectada à rede acumulada de cerca de 6 MW. Em abril de 2014 a capacidade atinge 89 sistemas fotovoltaicos instalados totalizando 13,2 MW sendo 9,28 MW já em operação. A energia fotovoltaica instalada em 2014 no Brasil representava apenas 0,01% da capacidade de geração global do país. No início de 2015 estavam em operação 317 sistemas fotovoltaicos com uma potência de 15,2 MW. A geração de energia elétrica próxima ao local de consumo ou na própria instalação consumidora, chamada de “geração distribuída”, pode trazer uma série de vantagens sobre a geração centralizada tradicional, como, por exemplo, economia dos investimentos em transmissão, redução das perdas nas redes e melhoria da qualidade do serviço de energia elétrica. Como a regra é direcionada a geradores que utilizem fontes renováveis de energia, a agência espera oferecer melhores condições para o desenvolvimento sustentável do setor elétrico brasileiro, com aproveitamento adequado dos recursos naturais e utilização eficiente das redes elétricas. O assunto foi amplamente discutido com a sociedade em uma consulta e uma audiência pública e foram recebidas mais 400 contribuições de agentes do setor, universidades, fabricantes, associações, consultores, estudantes e políticos. Paralelamente ao sistema de compensação de energia, a ANEEL aprovou novas regras para descontos na Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição – TUSD e na Tarifa de Uso do Sistema de Transmissão – TUST para usinas maiores (de até 30 MW) que utilizarem fonte solar. Para os empreendimentos que entrarem em operação comercial até 31/12/17, o desconto de 80% será aplicável nos 10 primeiros anos de operação da usina. O desconto será reduzido para 50% após o décimo ano de operação da usina. Para os empreendimentos que entrarem em operação comercial após 31/12/17, mantém-se o desconto de 50% nas tarifas. Esta regulamentação da ANEEL corre paralela com o sistema de certificação de qualidade estabelecido pelo INMETRO que garante uma maior confiabilidade para esta tecnologia. 3.3 O SISTEMA DE TARIFA PRÊMIO O sistema que possibilitou o grande avanço da energia solar fotovoltaica conectada a rede no mundo foi o sistema de Tarifa Prêmio. Mais difundido principalmente na Europa, este sistema oferece um incentivo muito grande para instalação de geradores fotovoltaicos para conexão à rede. Neste sistema o autoprodutor/consumidor compra toda a energia que consome ao preço normal da distribuidora e vende toda a energia que produz a um preço maior recebendo a chamada tarifa prêmio. O sistema apresenta muitas vantagens ao investidor pois garante o acesso ao grid, permite contratos de longo prazo com redução de preços gradativa, estabelece preços de acordo com a fonte e o custo de produção. Foi o que permitiu o avanço imenso da energia fotovoltaica na Alemanha, Espanha, Itália e outros. Mas o governo resiste a implantar este modelo no Brasil considerando que ele embute um subsidio que deverá ser pago por todos os consumidores. Sistemas de Energia Solar Fotovoltaica 23 3.4 O SISTEMA DE LEILÕES DE VENDA DE ENERGIA Uma linha promissora para o desenvolvimento da energia solar fotovoltaica no Brasil é o sistema de venda de energia em grandes blocos com contratos de longo prazo em leilões como os que são realizados para energias de outras fontes como hidráulica e eólica. Neste sistema a distribuidora ou o consumidor compra a energia produzida com contratos de longo prazo. O governo brasileiro incluiu a fonte solar nos leilões que foram realizados no final de 2013 mas sem sucesso considerando ainda a pouca competitividade da fonte solar com as demais devido a não existência de incentivos específicos. Estimulado pela crise energética devido a um verão 2013/2014 excepcionalmente seco foi realizado pela primeira vez em outubro de 2014 um leilão de energia de reserva com preço teto exclusivo para a energia solar que foi bem sucedido e levou ao fechamento de contratos de venda de energia com 31 projetos totalizando 1.048 MWp ou 889,6 MW de inversores ou 202,1 MW médios de energia injetada na rede. Foi contratadaaproximadamente 20 vezes toda a capacidade instalada do país e 70 vezes toda a capacidade de energia solar fotovoltaica que está conectada a rede. Este investimento representa 15 vezes tudo o que o Brasil já investiu ao longo da sua história em energia solar fotovoltaica. Os preços médios foram: • R$ 142,34/MWh para eólica; • R$ 215,12/MWh para a solar (valor teto era de R$ 262/MWh) • R$ 169/MWh para biomassa –preço teto – não houve contratos 3.5 PROGRAMA DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO Em 2011 foi lançado o programa de P&D Estratégico da ANEEL - Chamada 013/2011 - “Arranjos Técnicos e Comerciais para Inserção da Geração Solar Fotovoltaica na Matriz Energética Brasileira”. Este programa de desenvolvimento tem como objetivos: � Facilitar a inserção da geração solar fotovoltaica na matriz energética brasileira; � Viabilizar economicamente a produção, instalação e monitoramento da geração solar fotovoltaica para injeção de energia elétrica nos sistemas de distribuição e/ou transmissão; � Incentivar o desenvolvimento no país de toda a cadeia produtiva da indústria solar fotovoltaica com a nacionalização da tecnologia empregada; � Fomentar o treinamento e a capacitação de técnicos especializados neste tema em universidades, escolas técnicas e empresas; � Estimular a redução de custos da geração solar fotovoltaica com vistas a promover a sua competição com as demais fontes de energia; e � Propor e justificar aperfeiçoamentos regulatórios e/ou desonerações tributárias que favoreçam a viabilidade econômica da geração solar fotovoltaica, assim como o aumento da segurança e da confiabilidade do suprimento de energia. A chamada recebeu 18 propostas totalizando 24.5 MWp tendo sido aprovadas 9 e 8 dependentes de readequação, sendo 1 recusada. Os investimentos previstos chegam a R$ 395, 9 milhões, mostrando ser um programa de grande repercussão para o mercado. O governo brasileiro lançou em 2013 o Inova Energia - novo projeto de fomento à inovação tecnológica com recursos de R$ 2,4 bilhões. É uma iniciativa conjunta de Finep, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e 24 pretende fomentar projetos em smart grids, transmissão de energia em ultra-alta tensão, fonte solar e heliotérmica e veículos híbridos e eficiência energética veicular. 3.6 O INTERESSE DAS EMPRESAS NACIONAIS PARA O DESENVOLVIMENTO Estas ações do governo se uniram ao interesse dos empresários em desenvolver o negócio fotovoltaico no Brasil considerando o potencial existente. A ABINEE – Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica – apresentou suas Propostas para Inserção da Energia Solar Fotovoltaica na Matriz Elétrica Brasileira, um Estudo do Grupo Setorial de Sistemas Fotovoltaicos da Abinee, elaborado pela equipe da LCA Consultores e PSR Soluções e Consultoria em Energia. Este estudo pode ser obtido em http://www.abinee.org.br/informac/arquivos/profotov.pdf e foi fruto de uma discussão ampla da classe empresarial apresentando um panorama da geração fotovoltaica no mundo e a potencialidade de implantação efetiva no Brasil, por meio de políticas específicas para o segmento. A expectativa é que o trabalho contribua para que o país amplie e diversifique sua matriz elétrica, levando em conta o desenvolvimento de uma cadeia produtiva local. O estudo mostra a importância da atuação governamental no sentido de se dar um pontapé inicial para deslanchar uma escala de produção que desenvolva o mercado. E ressalta que o instrumento mais eficiente para isso é a institucionalização de um leilão específico para a fonte solar fotovoltaica, com um volume de contratação relevante para efetivar e antecipar o elevado potencial de mercado para esta fonte no Brasil. E conclui que para uma indústria na qual a escala produtiva é fator decisivo, não é possível esperar que as forças do mercado o façam sem colocar em risco a oportunidade de inserção desta indústria no Brasil. Um incentivo importante para desenvolvimento da indústria nacional de energia solar fotovoltaica é a disponibilidade de financiamento com juros baixos. O BNDES aprovou em 2014 linhas de financiamento para cobertura dos investimentos nas usinas fotovoltaicas vencedoras dos leilões usando recursos do Fundo Clima e do Finem mas condiciona sua participação de acordo com o nível de nacionalização dos equipamentos e sistemas fotovoltaicos. Este financiamento pode chegar até 80% do valor do investimento com juros baixos. 3.7 AS PRIMEIRAS CENTRAIS BRASILEIRAS Todo este movimento já trouxe os primeiros projetos de centrais solares fotovoltaicas de maior porte para conexão à rede. O projeto pioneiro foi a Usina Tauá, no Ceará, de 1 MWp. Empreendimento do megaempresário Eike Batista, contou com incentivos do governo do Ceará e vende a energia produzida para a distribuidora local. Construída em 2011, com um custo em torno de R$10 milhões, em região de alto nível de insolação, conseguiu gerar mais de 1,5 GWh no primeiro ano de operação. A realização da copa do mundo de futebol no Brasil em 2014 também estimulou a construção de centrais fotovoltaicas em estádios. Diversas arenas contam com projetos para inclusão destas centrais. O estádio Pituaçu, na Bahia, inaugurou em 2012 sua central de 400 kWp. O estádio do Mineirão inaugurou sua central de 1,42 MWp em maio de 2013. A Arena Pernambuco começa a gerar no segundo semestre de 2013 com sua planta de 1 MWp. O Maracanã e outros Sistemas de Energia Solar Fotovoltaica 25 estádios também realizaram seus projetos dando uma maior visibilidade desta tecnologia para um amplo público. A chamada 13 da ANEEL, descrita no item 3.5 está possibilitando a construção de diversas centrais que começam a ser inauguradas gerando projetos de pesquisa e demonstração que estimulam as empresas a formularem projetos de aproveitamento dessa fonte. A CEMIG está construindo em 2015 a Usina Solar de Sete Lagoas de 3 MW em Minas Gerais. A Eletrosul inaugurou em 2014 sua central de 1 MW. A CPFL investiu mais de R$13 milhões na Usina solar de Tanquinho. A CELPE construiu uma usina na Arena Pernambuco e outra na ilha de Fernando Noronha. A Tracbel construiu a UFV Nova Aurora de 3 MW em Santa Catarina. A Petrobrás também realiza investimentos na UFV de Alto de Rodrigues. 3.8 PERSPECTIVAS PARA OS PRÓXIMOS ANOS As perspectivas para os próximos anos são promissoras para o desenvolvimento da energia solar fotovoltaica no Brasil. Com a implantação do sistema de compensação de energia, instalação dos sistemas em estádios de futebol e nas instalações para as Olimpíadas do Rio e efetiva implantação das centrais solares da chamada 13 da ANEEL somados à crise energética, a abertura de financiamento do BNDES e aos empreendimentos a serem construídos vencedores do leilão de reserva de outubro de 2014 seguramente haverá uma grande expansão desta tecnologia no Brasil. Com este ambiente propício podem surgir novas fabricas de equipamentos fotovoltaicos, A redução significativa dos preços da energia elétrica vendida no Brasil em 2013 resultante do processo de renovação das concessões das grandes hidrelétricas foi parcialmente compensada pela elevação do preço em 2014 devido ao aumento da geração térmica mais cara e pela expressiva redução dos preços dos módulos e inversores no Brasil. Complementada pela visível valorização da geração solar pelas empresas, à decisão do governo de realização dos leilões exclusivos e a crise hidroenenergética de 2015 prevê-se um grande aumento de mercado nos próximos anos. Algumas empresas já mostram interesse de contar com o selo de empresa que tem eletricidade solar, sinal de consciência ambiental. 26 4 O MÓDULO FOTOVOLTAICO 4.1 A CÉLULA FOTOVOLTAICA A célula fotovoltaica é o elemento básico do módulo fotovoltaico. É na célula que se dá a conversãoda energia radiante do Sol em energia elétrica. Usualmente, tem a forma de pequenos discos ou retângulos e são fabricadas em grande escala. Conforme os materiais utilizados e de acordo com a área apresentam características elétricas específicas. São extremamente frágeis e geram, individualmente, uma quantidade de energia muito pequena, geralmente em tensões muito baixas da ordem de 0,5 V. A Figura 4-1 mostra uma célula fotovoltaica típica medindo 152 x 152 mm, corrente: 6,5 A, potência: 3,2 Wp e eficiência: 14%. Figura 4-1: Conversão da energia solar em eletricidade na célula fotovoltaica. A célula fotovoltaica utiliza o “efeito fotovoltaico” para gerar eletricidade. Baseia-se na propriedade de certos materiais existentes na natureza, denominados semicondutores, de possuírem uma banda de valência totalmente preenchida com elétrons e uma banda de condução totalmente vazia a temperaturas muito baixas. Quando os fótons da luz solar na faixa do espectro de radiação visível incidem sobre este material, excitam elétrons da banda de valência enviando-os à banda de condução. A energia presente nos fótons é transferida para os átomos, liberando estes elétrons com alta energia. Uma barreira consegue impedir que estes elétrons retornem a sua posição anterior, podendo-se direcioná-los para um circuito elétrico, gerando uma tensão e uma corrente elétrica. O elemento semicondutor mais utilizado atualmente é o silício. Quando se adicionam impurezas, como o fósforo ou o boro, criam-se elementos de silício com excesso (tipo n) ou com falta de elétrons (tipo p). Esses elementos podem ser combinados em uma junção pn. Quando os elétrons do lado n são excitados por fótons solares, atravessam a linha demarcatória formada na junção pn e são impedidos de retornar por uma barreira que se forma na junção. Com isso, os elétrons se acumulam do lado p, tornando-o um polo negativo enquanto que o lado n torna-se um polo positivo. Quando se interligam externamente os dois polos, por meio de um fio condutor, há passagem de uma corrente elétrica que tende a equilibrar os dois polos novamente. Se a Sistemas de Energia Solar Fotovoltaica 27 incidência dos fótons solares sobre a superfície da célula é contínua, a corrente elétrica se manterá, transformando a célula em um gerador de eletricidade. A Figura 4-2 ilustra este processo. Figura 4-2: Junção pn de uma célula fotovoltaica. Não é objetivo desta publicação a descrição detalhada dos processos físicos que ocorrem numa célula fotovoltaica, considerando-se ainda os vários materiais diferentes utilizados. Existem diversos tipos de células fotovoltaicas no mercado e outras estão em desenvolvimento. O objetivo maior das pesquisas é conseguir células que apresentem custos mais baixos de fabricação, com alta durabilidade e com boa eficiência na conversão da radiação solar em energia elétrica. A seguir são apresentados alguns tipos de células mais importantes. Células de silício monocristalino - São células muito utilizadas atualmente, respondendo por mais de 40% do mercado (Figura 4-3), devido à sua alta confiabilidade, alta eficiência e tecnologia de fabricação consolidada. Esta tecnologia permite uma eficiência teórica de conversão de energia de 27%, mas as unidades comercializadas têm eficiências em torno de 16%. Isso significa que 16% da energia solar que incide sobre a célula é transformada em energia elétrica. O restante é refletido ou transformado em calor. O silício utilizado na fabricação da célula é, basicamente, o mesmo empregado em componentes da microeletrônica. O silício purificado é transformado em um bloco formado por um único cristal e fatiado em lâminas extremamente finas. Essas lâminas convenientemente tratadas para a formação das junções são submetidas a diversos processos, transformando-se nas células fotovoltaicas. A grande limitação dessa tecnologia está relacionada com os custos de fabricação, que são muito elevados. A matéria-prima é cara, os processos são complexos e de alto consumo de energia e a perda de material durante a fabricação é muito grande. Entretanto o ganho de escala vem paulatinamente reduzindo o custo das células que usam essa tecnologia. Células de silício policristalino - Estas células, também muito utilizadas e com participação no mercado acima de 40% (Figura 4-3), são fabricadas com o mesmo material das células de silício monocristalino. A diferença básica é que o bloco cilíndrico não é composto de um único cristal. Esse fato acarreta uma pequena redução da eficiência das células, mas o custo de fabricação reduz-se em função da menor quantidade de energia despendida. São células muito confiáveis, com tecnologia consolidada e participação significativa no mercado. 28 As pesquisas para desenvolvimento das células de silício cristalino (mono e poli) tem se concentrado atualmente na fabricação de lâminas (wafers) mais finas (de 450µm para 180µm) e com maior eficiência (de 12%-14% para 17%-22%). Estima-se que espessuras abaixo de 100µm e eficiências entre 19%-24% poderão ser alcançadas nos próximos anos. Figura 4-3: Tipos de células - participação no mercado mundial – 2009-2010 – Fonte: Paula Mints-Navigant Consulting Células de filmes finos - Os filmes finos constituem um grande campo de pesquisas para desenvolvimento de células de menor custo, boa eficiência e durabilidade e principalmente boa adequação para integração nas edificações. O grande objetivo é desenvolver técnicas alternativas ao silício mono e policristalino, que tenham custos menores e, ao mesmo tempo, a confiabilidade e a durabilidade daqueles. A estratégia é usar pouco material, diminuir o consumo de energia e reduzir a complexidade dos processos, permitindo a produção em larga escala. Este tipo de célula pode ser integrado com mais facilidade na arquitetura das edificações. Os principais tipos de células de filmes finos atualmente em pesquisa são as de silício amorfo, as de disseleneto de cobre e índio, as de telureto de cádmio e as de arseneto de gálio. Algumas dessas tecnologias já estão em estágio comercial com produtos disponíveis e já instalados. Os filmes finos respondiam em 2010 por cerca de 15% do mercado (Figura 4-3), mas prevê-se que possam alcançar cerca de 1/3 do mercado nos próximos anos. À medida que este tipo de célula vai se difundindo o mercado vai alcançando uma maior confiança no nível de manutenção da eficiência da mesma ao longo de sua vida útil. Há uma grande esperança de que dessas pesquisas surja uma tecnologia confiável e de baixo custo que permitirá uma grande expansão no uso da energia solar para geração de eletricidade. Células com concentração - Uma forma interessante que tem sido experimentada para aumentar a produção de energia de uma célula é acrescentar dispositivos que concentram a radiação solar na superfície da mesma (Figura 4-4). Com isso, se tem uma maior intensidade luminosa na célula e, portanto, mais eletricidade produzida. O objetivo é usar menor área de células, que são materiais relativamente caros, colocando-se lentes e espelhos de menor custo. Entretanto, quando se concentram elevadas intensidades luminosas sobre as células, ocorre uma redução da eficiência intrínseca das mesmas, já que as temperaturas e as correntes elétricas produzidas são muito mais elevadas que nas disposições normais. Por isso, em muitos casos, tem- se que usar células especiais com maior capacidade de dissipação de calor capazes de trabalhar com maior eficiência nessas condições. Para aumentar a eficiência do sistema, se pode prever dispositivos que permitam à célula rastrear o sol, mantendo-a sempre no foco. Esses dispositivos são usualmente muito precisos, mas Sistemas de Energia Solar Fotovoltaica 29 nem sempre muito econômicos. Ressalte-se queapenas a radiação solar direta pode ser concentrada tornando esses dispositivos mais adequados para regiões com níveis elevados de radiação solar direta e com pequena incidência de nuvens. O uso de concentradores em células fotovoltaicas tem que ser analisado sob o ponto de vista econômico. Há que se verificar se a redução de custos obtida ao diminuir-se a área das células compensa o acréscimo de custos dos sistemas de rastreamento, concentração, refrigeração, uso de células especiais, operação e manutenção mais complexas etc. Atualmente este tipo de tecnologia ainda está em estagio experimental. Figura 4-4: Concentração da radiação solar na célula 4.2 O MÓDULO FOTOVOLTAICO O módulo fotovoltaico é a unidade básica do subsistema de geração de eletricidade. Ele consiste de uma estrutura montada em quadro, geralmente de alumínio e é composto de um conjunto de células fotovoltaicas ligadas eletricamente entre si em paralelo e em série, cobertas por um encapsulamento que protege as mesmas e suas conexões da ação do tempo e dos eventuais impactos. As células são cobertas, do lado exposto ao sol, por uma cobertura transparente, normalmente vidro, plástico ou resina de silicone mais um encapsulante normalmente EVA. Na parte traseira são revestidas por uma cobertura posterior normalmente Tedlar conforme mostrado na Figura 4.5. Todos esses revestimentos, em conjunto com o quadro de alumínio, resultam em uma estrutura rígida e resistente ao manuseio e às intempéries. É importante que as células fiquem protegidas da umidade do ar para que possam manter suas características ao longo de sua vida útil. Cuidados especiais devem ser tomados na limpeza e no manuseio para não quebrar o vidro e não furar os módulos. Figura 4-5: Estrutura do módulo fotovoltaico Nos terminais positivo e negativo na saída de cada módulo tem-se a soma da energia produzida por cada célula, resultando em um montante energético mais significativo e já adaptado às características elétricas que se quer trabalhar. O número de células em série determina as características da tensão elétrica de saída do módulo. Um módulo típico utilizado para carregar uma bateria de 12 V é composto por 36 células em série enquanto um módulo utilizado para conexão à rede elétrica é composto por 48 a 72 células. Na Figura 4-6 é mostrado um módulo fotovoltaico típico de 36 células. 30 Figura 4-6: Módulo fotovoltaico composto de 36 células em série. Para muitas aplicações de pequeno porte com bateria, basta um módulo fotovoltaico, mas aplicações maiores ou para conexão à rede exigem o uso de muitos módulos. Vários módulos podem ser conectados fisicamente e eletricamente em uma mesma estrutura, formando um painel. Este painel pode ser considerado como uma unidade básica de uma instalação de grande porte. Cada painel é conectado de forma a fornecer as tensões em corrente continua adequadas ao sistema. Para sistemas com baterias as tensões típicas de trabalho são 12 V, 24 V e 48 V enquanto para sistemas conectados à rede com inversor central variam entre 200 V e 600 V. Um conjunto de painéis de uma mesma instalação forma um arranjo. Um arranjo pode ser composto por apenas um painel ou por milhares de painéis fotovoltaicos, dependendo do porte da instalação de geração de eletricidade. 4.3 CURVA CARACTERÍSTICA DO MÓDULO FOTOVOLTAICO Na saída de um módulo utilizado para carregar uma bateria de 12 V, composto por 36 células ligadas em série, cada uma gerando aproximadamente 0,5 V, pode ser obtida uma tensão de aproximadamente 18 V. Entretanto esta tensão não é fixa. Depende da corrente elétrica que está sendo solicitada ao módulo. Quando o módulo está fornecendo a corrente para uma bateria ou para uma carga qualquer, as tensões e as correntes variam segundo curvas específicas denominadas curvas características IxV. Uma curva característica típica é mostrada na Figura 4-7. Figura 4-7: Curva característica I x V de um módulo fotovoltaico. O entendimento desta curva é básico para se avaliar como o módulo se comporta em diferentes condições de insolação e de carga. Essa curva é característica de cada tipo de módulo e é fornecida pelo fabricante. Cada condição de insolação e temperatura gera uma curva específica. Sistemas de Energia Solar Fotovoltaica 31 Um eixo corresponde à corrente elétrica que o módulo fornece em Ampère e o outro eixo corresponde à tensão elétrica que desenvolve em seus terminais. Quando não há carga, ou seja, os dois terminais do módulo estão em aberto, a corrente que o módulo produz é zero, mas a tensão é máxima. Quando se coloca uma carga crescente a corrente vai aumentando, mas a tensão vai reduzindo conforme mostrado na curva. A seguir são definidos alguns pontos notáveis dessa curva. Corrente de curto-circuito – Isc – É a máxima corrente que o módulo pode produzir sob determinadas condições de insolação e temperatura, quando seus terminais são curto-circuitados. Como não há tensão, a potência elétrica é zero. Tensão de circuito aberto – Voc – É a máxima tensão que o módulo pode produzir sob determinadas condições de insolação e temperatura e acontece quando seus terminais estão abertos. Como não há corrente elétrica, a potência elétrica fornecida pelo módulo é zero. Corrente de potência máxima – Imp – É a corrente elétrica que o módulo fornece no ponto de potência máxima sob determinadas condições de insolação e temperatura. É considerada a corrente nominal do módulo fotovoltaico. Tensão de potência máxima – Vmp – É a tensão elétrica que o módulo fornece no ponto de potência máxima, sob determinadas condições de insolação e temperatura. Potência máxima – Pmax – É a potência elétrica máxima que o módulo pode fornecer sob determinadas condições de insolação e temperatura. Corresponde ao produto da corrente de potência máxima, pela tensão de potência máxima. Este ponto ocorre no joelho da curva característica. Analisando-se a curva característica da Figura 4-7, pode-se observar que, sob determinada condição de insolação e temperatura, quando a corrente elétrica produzida pelo módulo aumenta, a tensão diminui. No extremo, quando ocorre um curto circuito, a tensão cai para zero. Isso faz com que o módulo seja autoprotegido contra curtos-circuitos. Por outro lado, quando a corrente diminui, a tensão aumenta. Isso pode ser perigoso quando se está carregando uma bateria e esta atinge plena carga, não necessitando de mais corrente elétrica do módulo. A tensão sobre a bateria se eleva, podendo danificá-la por sobretensão. O controlador de carga, neste caso, é essencial para proteger a bateria. Pode-se observar também que, na maior parte da curva, a corrente fornecida pelo módulo diminui muito lentamente com o aumento da tensão sendo praticamente constante nesta faixa, mas diminui rapidamente quando a tensão ultrapassa determinado limiar. O ponto da curva em que o sistema funciona depende da carga. O ideal é que o sistema funcione o mais próximo possível do ponto de potência máxima para que haja um maior aproveitamento da energia solar. Pmax = Imp x Vmp 32 4.4 EFICIÊNCIA DO MÓDULO FOTOVOLTAICO A eficiência é uma das maneiras de se avaliar a qualidade de um módulo fotovoltaico. Mas, é preciso analisá-la dentro de um contexto global, considerando as outras variáveis envolvidas. Ela é definida pela relação entre a quantidade de energia elétrica que é produzida no ponto de máxima potência (W) e a quantidade de energia solar que chega ao módulo (W/m2 x m2). Para se avaliar a eficiência do módulo, é importante que seja considerada toda a área do mesmo, incluindo os pontos inertes, que não geram energia, tais como o espaço entre as células e o quadro. A eficiência calculada, dessa forma, é inferior à que se obteria se fosse utilizada apenas a árearealmente útil das células. Outra maneira de avaliar a qualidade das células é verificar o fator de forma do módulo fotovoltaico. Quanto mais a curva característica se aproxima da forma retangular, melhor é a qualidade da célula. Pode-se definir o Fator de Forma pela expressão a seguir que relaciona a área entre os dois retângulos mostrados na Figura 4-7: A curva característica mostrada na Figura 4-7 é válida para condições ambientais específicas. Essa curva varia quando estas condições são alteradas. Quando o nível de radiação solar que incide sobre o módulo decresce, o desempenho do módulo também decresce, conforme mostrado na Figura 4-8, que apresenta curvas características de um módulo típico. A corrente produzida varia, praticamente, linearmente com o nível de insolação que incide perpendicularmente no módulo. Em períodos nublados, a geração de corrente elétrica pelo módulo decresce muito. Por isso, é muito importante que o sistema fotovoltaico seja adequadamente dimensionado de acordo com as condições de insolação do local de instalação e que os módulos sejam instalados nos ângulos mais adequados, de acordo com a latitude local e com as características da carga. Eficiência = Pmax/ (Radiação x área) Fator de forma = Imp x Vmp Isc x Voc Sistemas de Energia Solar Fotovoltaica 33 Figura 4-8: Influência do nível de radiação solar instantâneo no desempenho do módulo. Quando a temperatura das células aumenta, a potência máxima que os módulos podem fornecer decresce. O principal efeito do aumento de temperatura é o decréscimo da tensão produzida, conforme mostrado na Figura 4.7. Essa queda de tensão é de cerca 0,37% para cada grau centígrado de aumento de temperatura. Isso resulta numa redução da potência máxima que o módulo pode fornecer de aproximadamente 0,45% para cada grau centígrado de aumento da temperatura. - Figura 4-9: Influência da temperatura nas características elétricas do módulo. Considerando que a curva característica varia com o nível de insolação e com a temperatura, foram definidas condições padrões para as quais todos os módulos são referidos. Dessa forma, é possível se comparar as curvas características de módulos diferentes porque estas curvas estão nas mesmas bases. Como condição padrão de insolação, foi definida a intensidade de 1.000 W/m2, correspondente a um dia ensolarado, ao meio dia, com o Sol a pino, com a radiação solar incidindo ortogonalmente à superfície dos módulos. Essa radiação é chamada de radiação máxima ou de pico, apesar de que, em algumas circunstâncias, ser possível obter intensidade de radiação solar superior a este valor. Como condição padrão de temperatura da célula é aceita internacionalmente a temperatura de 250C. Radiação solar padrão = 1.000 W/m2 Temperatura padrão da célula = 250C 34 As características nominais dos módulos informadas pelos fabricantes estão referenciadas a esta condição padrão. Por exemplo, se o módulo tem uma potência máxima nominal de 50 Wpico ou 50 Wp significa que, com um nível de radiação incidente de 1.000 W/m 2 e uma temperatura de célula de 250C, ele desenvolve uma potência elétrica máxima de saída de 50 W (no ponto de máxima potência). 4.5 AVALIAÇÃO DE CONFORMIDADE DO MÓDULO FOTOVOLTAICO O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia - INMETRO através das Portarias n.º 396/2008 e 004/2011 regulamentou a avaliação da conformidade de equipamentos para energia fotovoltaica e determinou que após 01 de julho de 2012, os sistemas e equipamentos para energia fotovoltaica deverão ser comercializados, no mercado nacional, somente em conformidade com os requisitos aprovados. Mesmo que o módulo fotovoltaico já tenha certificação IEC, TUV, UL ou qualquer outra, é necessário realizar os testes com cada modelo. Para isso credenciou diversos laboratórios no Brasil entre eles o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica – CEPEL, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento – CPqD/ASE - Área de Sistemas de Energia, o Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo - IEE/USP, o Laboratório de Energia Solar/Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - GREEN / PUC-MG, a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-RJ e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - LABELO / PUC-RS. A condição para aceitação: passar nos testes de isolamento elétrico e a potência medida estar entre -5% e +10% da potência nominal do módulo. Com o valor da potência e com a medida da área externa dos módulos calcula-se a eficiência e emite-se a etiqueta INMETRO com a letra (A, B, C, D, E). O módulo fotovoltaico para receber a etiqueta A de maior eficiência deve ter uma eficiência acima de 14%. Para receber a etiqueta B deve estar entre 13 e 14%, C entre 12 e 13%, D entre 11 e 12% e E quando estiver abaixo de 11% ( Figura 4-10). Figura 4-10: Tabelas de eficiência energética e etiqueta do INMETRO para módulos fotovoltaicos. Sistemas de Energia Solar Fotovoltaica 35 5 SISTEMAS FOTOVOLTAICOS AUTÔNOMOS 5.1 SISTEMAS FOTOVOLTAICOS Os sistemas fotovoltaicos compreendem o conjunto dos equipamentos necessários para transformar a energia radiante do Sol em eletricidade adequada para o uso do consumidor. Para fins dessa exposição, eles foram divididos em quatro classes básicas: autônomos com baterias, híbridos, de bombeamento de água e conectados ao sistema elétrico. A seleção do sistema mais adequado depende das finalidades que se pretende dar à eletricidade produzida, da análise econômica, do nível de confiabilidade de fornecimento de eletricidade que se deseja e de outras condições específicas de cada projeto. A eletricidade produzida pelas células fotovoltaicas tem características específicas, exigindo equipamentos adicionais para adaptá-la aos equipamentos consumidores. Os módulos fotovoltaicos geram corrente elétrica contínua, com tensão e corrente variáveis em função do nível de insolação e dos requisitos da carga. Portanto, são necessários inversores quando se necessita de corrente alternada (usada na maioria dos eletrodomésticos disponíveis no mercado), acumuladores elétricos (baterias) no caso dos geradores autônomos, para acumular a energia gerada nos momentos de insolação para uso durante as 24 horas do dia e controladores de carga para proteção das baterias contra cargas e descargas excessivas. 5.2 SISTEMAS DE BOMBEAMENTO DE ÁGUA 5.2.1 Tipos de sistemas de bombeamento São sistemas projetados especificamente para bombeamento de água de poços, lagos e rios. Uma característica deste tipo de sistema é que ele dispensa o armazenamento da energia elétrica produzida pelos módulos fotovoltaicos já que se pode armazenar a água bombeada em reservatórios. Nos períodos noturnos ou quando não há insolação, pode-se utilizar a água armazenada em um reservatório elevado. O sistema de bombeamento solar dispensa a rede elétrica e o motor Diesel, produzindo sua própria eletricidade. É eficiente, confiável, necessita de pouca manutenção e resolve o problema de bombeamento de água com um custo relativamente baixo. Uma característica favorável ao uso dessa tecnologia refere-se ao casamento perfeito entre a fonte energética solar e a necessidade de água. Geralmente as regiões mais secas e carentes de água são as mais abundantes de insolação. E em épocas de maior nebulosidade a necessidade de água normalmente é menor. Outro aspecto muito favorável dessa aplicação refere-se à possibilidade de armazenamento da água bombeada em vez do armazenamento da eletricidade produzida pelos módulos fotovoltaicos. Isso diminui a importância de um grande fator limitante do uso da energia solar que é sua variabilidade no tempo e a necessidade de sistemas de armazenamento para tê-la de
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