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P4 - faringotonsilite 1 🦠 P4 - faringotonsilite caso Gabriela, acadêmica de medicina da UFSB, sonha em ser pediatra como sua tia Cibele e decide acompanhá-la no consultório durante as férias. A primeira consulta é a da Emília, que tem 7 anos e está com a dra. Cibele desde o nascimento. A mãe informa que a menina está com febre há 2 dias (máximo 38,5°C), além de dor de cabeça, náuseas e muita queixa de dor de garganta. Parou inclusive de se alimentar, mas mantém a ingesta de líquidos. Não tem comorbidades e alergias, e a vacinação está em dia. Ao exame a paciente encontra-se febril (38°C), FC=115bpm, FR=25ipm, PA=90x60mmHg. Na inspeção observa-se bom estado geral e um discreto exantema macular difuso. Na oroscopia nota-se aumento de tonsilas, com presença de exsudato bilateral e petéquias no palato. Já na palpação percebe-se um discreto aumento dos linfonodos (aproximadamente 1cm) da região cervical, bilateral, discretamente dolorosos, de consistência fibroelástica, móveis e sem sinais flogísticos. Sem outras alterações ao exame físico. Dra. Cibele coleta um swab das tonsilas palatinas e faringe para realização de um teste rápido e envia uma segunda amostra para realização de cultura. O teste rápido dá resultado negativo e Dra. Cibele prescreve apenas sintomáticos, gargarejo com solução salina morna e orienta o retorno da mãe em 24h para reavaliação clínica. Gabriela fica muito confusa com a conduta e após a saída da paciente questiona: mas se tem pus não estamos autorizados a iniciar antimicrobianos? P4 - faringotonsilite 2 Devemos aguardar o resultado da cultura? E o risco de complicações na ausência do tratamento? termos destacados exantema macular difuso: Pequenas erupções avermelhadas (máculas eritematosas) espalhadas pelo corpo. exsudato: evasão de líquidos (proteínas do plasma, leucócitos, plaquetas e hemácias) orgânicos por meio de membranas ou paredes celulares, geralmente associado a algum tipo de contusão ou processo inflamatório. Semelhante ao processo fisiopatológico do edema. É um processo associado à cicatrização. oroscopia: é um exame físico que permite a visualização da cavidade oral e das estruturas que compõem essa região como os dentes, úvula, língua, gengivas, tonsilas, mucosas orais, arco faríngeo, palato mole, palato duro, arco palatoglosso, freios labiais e linguais. petéquias no palato: corresponde a mácula eritematosas, de coloração marrom/arroxeadas causadas pelo sangramento sob a pele, localizadas na transição entre palato duro e palato mole. Conhecido como sinal de Forchheimer. sinais flogísticos: são os cinco sinais da inflamação: dor, calor,rubor, edema e perda de função. consistência fibroelástica: Proliferação excessiva de tecido fibroso e elástico. Presença de estrutura fibrosa em meio a um tecido flexível. (Ex: ponta do nariz; próstata) swab: cotonete estéril que serve para coleta de exames microbiológicos com a finalidade de estudos clínicos ou pesquisa. objetivos Compreender a diferença entre infecção fúngica, bacteriana e viral. Conhecer a fisiopatologia da tonsilite e citar os principais agentes etiológicos causadores da tonsilite. Expor as manifestações clínicas da tonsilite. Entender os exames clínicos e laboratoriais para tonsilite. P4 - faringotonsilite 3 Descrever conduta terapêutica para a tonsilite. Compreender a diferença entre infecção fúngica, bacteriana e viral. Infecções virais Os vírus que causam infecções transitórias são estruturalmente heterogêneos, mas todos induzem uma resposta imune efetiva que elimina os patógenos, limitando as durações das infecções. No entanto, vírus específicos exibem diversidade genética em graus amplamente diferentes, uma variável que tem impacto importante na suscetibilidade do hospedeiro à reinfecção do vírus do mesmo tipo. O vírus da caxumba, por exemplo, possui somente um subtipo genético e infecta pessoas apenas uma vez, enquanto outro vírus, tais como o vírus influenza, podem infectar novamente o mesmo indivíduo devido as variantes genéticas que surgem periodicamente na natureza. A imunidade à alguns vírus diminuem com um tempo, e isso também pode permitir que o mesmo vírus infecte repetidamente o hospedeiro. A transmissão de infecções virais ocorre de formas muito similares às infecções bacterianas: por contato próximo com uma pessoa infectada (pelo toque, beijo ou contato com fluidos corporais); pela mãe ao bebê durante a gestação ou parto; ao entrar em contato com superfícies contaminadas por bactérias; pela picada de insetos. As infecções virais também costumam causar febre, além de cansaço, falta de apetite, mal estar e vômito. No entanto, cada doença por vírus tem seus próprios sintomas. Elas podem variar de condições pouco graves, cujos problemas se curam sozinhos, até enfermidades mais sérias, que podem inclusive levar à morte. Um ponto importante: enquanto as infecções virais são contraídas a partir do contato com outras pessoas ou picada de insetos, por exemplo, as infecções bacterianas podem se desenvolver dentro do próprio corpo. Infecções fúngicas Fungos são eucariotos com paredes celulares que crescem como filamentos multicelulares (micélios) ou como células individuais ou em cadeias (leveduras). As paredes celulares dão a forma aos fungos. Leveduras são ovais e a maioria se reproduz por brotamento. Algumas leveduras, como a Candida albicans, podem produzir brotamentos que P4 - faringotonsilite 4 não se destacam e se tornam alongados, produzindo cadeias leveduriformes alongadas, denominadas pseudo-hifas. Os micélios consistem em filamentos semelhantes a fios (hifas) que crescem e se dividem em suas pontas. Eles podem produzir células redondas, denominadas conídeos, que são facilmente transmitidas pelo ar, disseminando o fungo. Muitos fungos clinicamente importante são dimórficos, existindo como leveduras ou micélios, dependendo das condições ambientais (leveduras se formam em temperatura corporal e micélios em temperatura ambiente). Infecções fúngicas podem ser diagnosticadas por meio de exame histológico, apesar de a identificação definitiva de algumas espécies necessitar de cultura. As infecções fúngicas também denominadas de micose, são de quatro tipos: micoses superficiais e cutâneas são comuns e limitadas às camadas muito superficiais ou queratinizadas da pele (cabelo e unha). micoses subcutâneas envolvem a pele, tecido subcutâneos e linfáticos e raramente se disseminam sistematicamente. micoses endêmicas são causadas por fungos dimórficos, que podem produzir doenças sistêmicas sérias em indivíduos saudáveis. micoses oportunistas podem causar doenças sistêmicas com risco de morte em indivíduos que estão imunossuprimidos ou que possuem dispositivos protéticos implantados ou cateteres vasculares. Infecções bacterianas Muitas infecções bacterianas são contagiosas, ou seja, podem ser transmitidas de pessoa para pessoa. Elas podem ser transmitidas por contato próximo com uma pessoa infectada, pelo toque ou beijo, ou pelo contato com fluidos corporais, como gotículas de saliva, espirros ou em relações sexuais. Certas infecções bacterianas também podem ser transmitidas pela mãe ao bebê durante a gestação ou parto. Entrar em contato com superfícies contaminadas por bactérias, como corrimões e maçanetas, também pode resultar em uma infecção bacteriana caso a pessoa toque seu rosto, nariz ou boca logo em P4 - faringotonsilite 5 seguida. Além de serem transmitidas entre pessoas, a infecção bacteriana pode ser transmitida pela picada de um inseto ou pelo consumo de água ou alimentos contaminados. As infecções bacterianas costumam provocar febre alta, acima de 38°C, e sintomas que tendem a piorar com o tempo. Além disso, as doenças causadas por bactérias costumam causar mais dor em um local específico do corpo. O tratamento de infecções bacterianas é feito com antibióticos específicos para a bactéria em questão, assim como outros medicamentos, que podemser recomendados pelo médico para aliviar o sintoma. referência ANDREOLI, Thomas E. et al. Cecil Medicina interna básica. In: Cecil medicina interna básica. 1991. p. 740-740. Conhecer a fisiopatologia da faringotonsilite e citar os principais agentes etiológicos causadores da tonsilite. As tonsilas são responsáveis pela primeira linha de defesa dos tratos digestório e respiratório contra agentes externos. Embora a tonsilite seja caracterizada pela inflamação das tonsilas palatinas, geralmente o quadro clínico vem acompanhado da inflamação de todo o anel linfático e, por isso, o nome faringotonsilites é atualmente o mais utilizado. As FTs infecciosas estão relacionadas a um espectro de respostas inflamatórias que vão desde a mínima hiperemia da mucosa até o enantema com exsudação e formação de edema. O quadro agudo de tonsilite palatina é também conhecido como angina, classificada como eritematosa, eritematopultácea, pseudomembranosa, vesiculosa e ulceronecrótica. referência COSTA, Gabriela Araujo et al. Diagnóstico diferencial das faringotonsilites na infância. Rev Med Minas Gerais, v. 28, n. Supl 6, p. S280612, 2018. Agentes etiológicos Os agentes etiológicos virais mais comuns são os Rinovírus, Adenovírus, Coxsackie, Influenza, Parainfluenza, Vírus Respiratório Sinsicial e Vírus Epstein-Barr. Já os bacterianos são Streptococcus pyogenes, também conhecido como estreptococo betahemolítico do grupo A de Lancefield (EBGA), Haemophilus influenzae, Moxarella catarrhalise Staphylococcus aureus; a frequência destes agentes varia P4 - faringotonsilite 6 de acordo com a estação do ano, a idade da criança e a área geográfica. referência PEREIRA, MARIA LUIZA CUNHA et al. FARINGOTONSILITES AGUDAS-REVISÃO DE LITERATURA. REVISTA UNINGÁ REVIEW, v. 16, n. 1, 2013. Expor as manifestações clínicas da faringotonsilite. Os sinais e sintomas são pesquisados através da anamnese e do exame físico que, na fase inicial, mostram praticamente as mesmas informações nas diferentes etiologias das infecções: hiperemia dos pilares amigdalianos, das amígdalas e da faringe e hipertrofia dos folículos linfáticos. Portanto, são de baixa sensibilidade e especificidade para avaliação clínica no diagnóstico etiológico de infecção pelo EBHA. Autores observaram que as petéquias no palato, o exsudato nas tonsilas palatinas e os gânglios cervicais dolorosos eram significativamente mais frequentes nos casos com cultura positiva para S. pyogenes. Os principais dados da história clínica que auxiliam no diagnóstico de uma causa específica de dor de garganta incluem desconforto respiratório (associado a síndromes obstrutivas, como os abscessos); febre, presente nas síndromes infecciosas e inflamatórias; fadiga, característica da mononucleose; e início abrupto dos sintomas, geralmente associados a infecções bacterianas referência PEREIRA, MARIA LUIZA CUNHA et al. FARINGOTONSILITES AGUDAS- REVISÃO DE LITERATURA. REVISTA UNINGÁ REVIEW, v. 16, n. 1, 2013. COSTA, Gabriela Araujo et al. Diagnóstico diferencial das faringotonsilites na infância. Rev Med Minas Gerais, v. 28, n. Supl 6, p. S280612, 2018. BALBANI, Aracy Pereira Silveira; MONTOVANI, Jair Cortez; CARVALHO, Lidia Raquel de. Faringotonsilites em crianças: visão de uma amostra de pediatras e otorrinolaringologistas. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, v. 75, p. 139-146, 2009. Entender os exames clínicos e laboratoriais para faringotonsilite. O teste para a doença estreptocócica por detecção ou cultura de antígenos pode reforçar a hipótese de amigdalite estreptocócica, se houver história e P4 - faringotonsilite 7 exames compatíveis prévios, pois a identificação isolada de um microrganismo particular, por cultura ou detecção rápida de antígenos, não define a causa da faringite, uma vez que muitos organismos colonizam o trato respiratório superior sem provocar doença. O padrão-ouro para diagnóstico da faringotonsilite estreptocócica é a cultura da secreção das tonsilas e parede posterior da orofaringe em placa de agar com sangue de carneiro a 5%. O exame tem sensibilidade superior a 90%, porém o resultado é obtido somente em 24 a 48 horas. Uma alternativa para diagnóstico é o teste antigênico rápido. Os "kits" para exame extraem antígenos do S. pyogenes dos "swabs" da orofaringe, fornecendo resultado em poucos minutos. O método possui alta sensibilidade (80-95%) e especificidade (90%). 95,8% dos pediatras e 91,5% dos otorrinos não solicitam exames para diagnóstico laboratorial. Quando o fazem, geralmente optam pelo hemograma completo referência PEREIRA, MARIA LUIZA CUNHA et al. FARINGOTONSILITES AGUDAS- REVISÃO DE LITERATURA. REVISTA UNINGÁ REVIEW, v. 16, n. 1, 2013. BALBANI, Aracy Pereira Silveira; MONTOVANI, Jair Cortez; CARVALHO, Lidia Raquel de. Faringotonsilites em crianças: visão de uma amostra de pediatras e otorrinolaringologistas. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, v. 75, p. 139-146, 2009. Descrever conduta terapêutica para a faringotonsilite. O tratamento das infecções virais é sintomático; utiliza-se associação de analgésicos, antitérmicos, hidratação e gargarejos com antissépticos, de acordo com a intensidade do quadro. A presença de colonização bacteriana indica a necessidade de iniciar a antibioticoterapia. O EBGA é o principal patógeno responsável pelas faringotonsilites de origem bacteriana, e é universalmente sensível à Peticilina, por isso a mesma é considerada a droga de primeira escolha, podendo optar pelo uso de Amoxicilina via oral por 10 dias, Penicilina V, via oral, ou Penicilina G Benzatina intramuscular, em dose única. Quando houver falha terapêutica das opções anteriores, pode ser utilizada Amoxicilina + Clavulanato ou Amoxicilina + Sulbactam. Em casos de pacientes alérgicos à Penicilina, está indicado o uso de Eritromicina por 10 dias ou Azitromicina por 5 dias. P4 - faringotonsilite 8