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ABORDAGENS TEÓRICAS DA CONTABILIDADE AULA 2 Prof. Ivanildo Viana Moura 2 CONVERSA INICIAL Olá, aluno(a), tudo bem? Seja bem-vindo(a) à segunda aula de Abordagens Teóricas da Contabilidade. Hoje vamos nos aprofundar um pouco mais na contabilidade. Os temas dessa aula são: 1. Autonomia patrimonial; 2. Classificação patrimonial: bens, direitos, obrigações; 3. Classificação patrimonial: Patrimônio Líquido; 4. Equação patrimonial básica; 5. Mutações na situação patrimonial. Aproveite a leitura e pratique os conhecimentos adquiridos resolvendo os exercícios. Lembre-se, a melhor maneira de aprender, é praticando. Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO Conforme estudado anteriormente, a contabilidade é a linguagem dos negócios, e o seu principal objetivo é fornecer informações úteis aos diversos usuários que tomam decisões com base nos relatórios contábeis que evidenciam dados sobre o patrimônio da entidade, a qual se classifica como objeto dessa ciência. As informações reportadas sobre o patrimônio demonstram aspectos qualitativos e quantitativos, evidenciando quais foram as mutações ocorridas de um período para outro, o que possibilita aos usuários uma visão de tendências futuras sobre as contas patrimoniais ou mesmo de resultado, auxiliando na tomada de decisões acerca dos interesses da entidade. Mas afinal, o que seria entidade em contabilidade? O que é o patrimônio e cada um dos seus elementos? Como ocorrem as mutações patrimoniais? Estes são os aspectos que trabalharemos a partir de agora. TEMA 1 – AUTONOMIA PATRIMONIAL A Resolução CFC n. 750, de 29 de dezembro de 1993, trata dos princípios contábeis. De acordo com essa resolução, estes princípios constituem a condição de legitimidade das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC), e 3 representam a essência das doutrinas e teorias relativas à Ciência da Contabilidade. Em relação ao patrimônio, o objeto da contabilidade, a Resolução CFC n. 750 estabelece um princípio que determina a forma como deve ser configurada a entidade e como deve ser tratado o patrimônio a ela pertencente, conforme disposto em seu art. 4º: O Princípio da ENTIDADE reconhece o Patrimônio como objeto da Contabilidade e afirma a autonomia patrimonial, a necessidade da diferenciação de um patrimônio particular no universo dos patrimônios existentes, independentemente de pertencer a uma pessoa, um conjunto de pessoas, uma sociedade ou instituição de qualquer natureza ou finalidade, com ou sem fins lucrativos. Por consequência, nesta acepção, o patrimônio não se confunde com aqueles dos seus sócios ou proprietários, no caso de sociedade ou instituição. Nesse contexto, o patrimônio da entidade é reconhecido como sendo o objeto da contabilidade, mas o princípio determina que deve haver a Autonomia Patrimonial, ou seja, ele deve estar sob controle da entidade e não deve ser confundido com o patrimônio dos sócios ou proprietários. Como seria isso? Observe o contexto a seguir: Provavelmente você já viu ou viveu uma situação semelhante, na qual o dono da empresa retira dinheiro do caixa para quitar suas contas pessoais. Atos como este, além de ferir o princípio da entidade, podem comprometer as atividades operacionais, pois prejudicam o planejamento financeiro, principalmente no que tange aos recursos destinados ao capital de giro, o que poderia levar a empresa à insolvência ou necessidade de captação de recursos de terceiros, acarretando no pagamento de juros. 4 Por esse motivo, devemos ter em mente a autonomia patrimonial, pois o patrimônio da empresa a ela pertence e deve ser diferenciado do patrimônio de seus sócios ou proprietários, assim se determina o princípio da entidade. 1.1 A Entidade Contábil Segundo Hendriksen e Van Breda (2007, p. 104): "Entidade Contábil consiste em determinar a unidade econômica que exerce controle sobre recursos, aceita responsabilidade por assumir e cumprir compromissos e conduz a atividade econômica". Conforme a Resolução CFC n. 774/1994, a entidade poderá ser desde uma pessoa física, a qualquer tipo de sociedade, instituição ou conjunto de pessoas, como: Famílias; Empresas; Governos; Sociedades beneficentes, religiosas, culturais, esportivas, de lazer, técnicas; Sociedades cooperativas; Fundos de investimento e outras modalidades. No entanto, embora todas as formas citadas anteriormente possam ser consideradas como entidades, para a contabilidade é necessário que haja a autonomia patrimonial, que é declarada por meio da formalização da entidade na forma jurídica, conforme disposto da Resolução CFC n. 774/1994: O patrimônio, na sua condição de objeto da contabilidade, é, no mínimo, aquele juridicamente formalizado como pertencente à Entidade, com ajustes quantitativos e qualitativos realizados em consonância com os princípios da própria Contabilidade. A garantia jurídica da propriedade, embora por vezes suscite interrogações de parte daqueles que não situam a autonomia patrimonial no cerne do Princípio da Entidade, é indissociável desse princípio, pois é a única forma de caracterização do direito ao exercício de poder sobre o mesmo Patrimônio, válida perante terceiros. Nesse sentido, Ávila (2006) conceitua a pessoa jurídica como uma entidade abstrata constituída com o objetivo de explorar organizadamente uma atividade qualificada como comum, sendo assim, passível de direitos e obrigações distintos das pessoas físicas, aspectos que a caracterizam como se tivesse “vida própria”. 5 Assim, a autonomia patrimonial é mais uma vez reafirmada, caracterizando o patrimônio para a entidade no momento em que esta assume forma jurídica, mas é bom ressaltar que esse mesmo patrimônio possui sentido unívoco. 1.2 Sentido unívoco do patrimônio Uma técnica muito utilizada nas empresas, principalmente para fins de controles gerenciais, é a divisão do todo em setores, departamentos ou centros de responsabilidades. Essas divisões acarretam em autonomia gerencial para os gestores das áreas, mas não representam autonomia patrimonial, no sentido de geração de novas entidades. Conforme a Resolução CFC n. 750, de 29 de dezembro de 1993, art. 4º, Parágrafo único – “O PATRIMÔNIO pertence à ENTIDADE, mas a recíproca não é verdadeira. A soma ou agregação contábil de patrimônios autônomos não resulta em nova ENTIDADE, mas numa unidade de natureza econômico - contábil”. Nesse contexto, têm-se a determinação do que se conhece por sentido unívoco, o qual impede a formação de novas entidades a partir da divisão do patrimônio para fins de controles gerenciais. Sobre esse assunto, a Resolução CFC n. 774/1994 traz o seguinte texto: A autonomia patrimonial apresenta sentido unívoco. Por consequência, o patrimônio pode ser decomposto em partes segundo os mais variados critérios, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos. Mas nenhuma classificação, mesmo que dirigida sob ótica setorial, resultará em novas Entidades. Carece, pois, de sentido, a ideia de que as divisões ou departamentos de uma Entidade possam constituir novas Entidades, ou “microentidades”, precisamente porque sempre lhes faltará o atributo da autonomia. Tem-se então, a interpretação do sentido unívoco do patrimônio. Basicamente, é relacionado à questão da garantia jurídica de propriedade, o que dá autonomia ao patrimônio da entidade, uma vez que garante a ela o direito de exercício de poder patrimonial. Um exemplo clássico de divisão patrimonial é dado pela própria Resolução CFC n. 774/1994: Na contabilidade aplicada, especialmente nas áreas de custos e de orçamento, trabalha-se, muitas vezes, com controles divisionais, que podem ser extraordinariamente úteis, porém não significam a criação de novas Entidades, precisamente pela ausência de autonomia patrimonial. 6 Imagine então, uma fábrica naqual foram feitas várias divisões, para que o gestor tenha mais controle dos custos e despesas incorridas. Essas divisões possibilitarão aos executivos da empresa o acesso a informações mais detalhadas sobre os gastos nas áreas formadas, bem como uma melhor avaliação de desempenho de seus gestores. No entanto, essas áreas não têm forma jurídica separada da entidade, sendo todas partes do mesmo patrimônio juridicamente formalizado como um todo. Nesse contexto, se as divisões deram origem à departamentos, como o de administração, compras, vendas, recursos humanos, contabilidade, manutenção, SESMT e produção, etc., mesmo tendo autonomia gerencial, elas não possuem autonomia patrimonial, pois fazem parte do todo que se configura no patrimônio da entidade juridicamente constituída. Figura 1 – Divisão por departamentos TEMA 2 – CLASSIFICAÇÃO PATRIMONIAL: BENS, DIREITOS E OBRIGAÇÕES Classificar significa ordenar, dispor por classes, fazer uma separação por espécie. Em contabilidade, deve-se fazer a classificação dos itens antes dos lançamentos contábeis, para que não haja inconsistência na elaboração das demonstrações e para evitar a divulgação de dados inconsistentes aos usuários dos demonstrativos. 7 As informações fornecidas pela contabilidade dizem respeito, principalmente, ao patrimônio das entidades, suas mutações qualitativas e quantitativas. Mas o que seria o patrimônio? “O patrimônio tem sentido amplo: por um lado significa o conjunto de bens e direitos pertencente à uma pessoa ou empresa, por outro lado inclui as obrigações a serem pagas” (Marion, 2009, p. 30). O conjunto de bens, direitos e obrigações forma as contas patrimoniais, que são demonstradas no Balanço Patrimonial da entidade, a principal demonstração contábil existente. O entendimento das contas patrimoniais é de suma importância para o contador, pois é ele o responsável pela correta classificação dos itens que compõe o patrimônio. Figura 2 – Itens do Balanço Patrimonial O balanço demonstra o patrimônio da entidade, seu conjunto de bens, direitos e obrigações. 2.1 Bens Bem é um conceito econômico que representa itens passíveis de avaliação monetária, os quais podem satisfazer necessidades do ser humano. Os bens podem ser classificados sob dois pontos de vista: o contábil e o da composição física, sofrendo subclassificações, conforme representa o organograma: 8 Figura 3 – Classificação dos bens De acordo com Ávila (2012, p. 44), sob o ponto de vista contábil, os bens são classificados em: Bens de troca: são aqueles que tem por finalidade ser trocados por outros bens, direitos e até obrigações. Geralmente os bens de troca são conhecidos por mercadorias, mas lembramos que, embora o dinheiro não seja mercadoria, constitui-se em um bem que pode ser trocado por qualquer elemento do patrimônio. Exemplo: mercadorias e dinheiro. Bens de uso: são aqueles utilizados pela empresa de maneira permanente, ou seja, durante o processo de utilização não desaparecem e podem ser utilizados novamente. Exemplos: balcões, veículos, imóveis, computadores, etc. Bens de consumo: são aqueles que, durante o processo em que são utilizados pela empresa, desaparecem, ou seja, são consumidos e não podem ser reutilizados. Exemplos: embalagem, combustível, tinta para impressão, etc. Assim, com base no contexto do autor, sabemos que os bens possuem três classificações distintas. Essas classificações nos permitem ter um melhor detalhamento das contas patrimoniais, pois cada tipo de bem tem um objetivo específico para a entidade, e dependendo do objetivo, a classificação no Balanço Patrimonial é feita de forma diferente. É importante também conhecermos a classificação dos bens sob o aspecto da composição de sua estrutura física: Materiais: aqueles que possuem matéria, ou seja, tem corpo físico. São conhecidos também como corpóreos, concretos e tangíveis. Por sua vez, são classificados em bens móveis ou imóveis. Bens Móveis: são aqueles que podem mudar de lugar, impulsionados por força própria ou força de terceiros, sem que haja alteração em seu estado original, ou seja, podem mover-se sem que mudem suas características físicas. Exemplos: veículos, mesas, cadeiras, computadores, balcões, etc. 9 Bens imóveis: aqueles que não podem ser deslocados de seu lugar original, sem causar danos em sua forma física. Exemplos: prédios, terrenos, barracões, etc. Imateriais: aqueles que não possuem matéria, ou seja, não tem corpo físico. São conhecidos também como incorpóreos, abstratos e intangíveis. Representam determinados gastos que a empresa realizou e que, por sua característica, devem fazer parte do patrimônio. Não são muito comuns, devido à sua natureza. Exemplos: marcas e patentes, fundo de comércio. Dessa forma, todos os recursos que a empresa já adquiriu, sejam eles materiais ou imateriais, figuram o ativo da empresa. No entanto, para completar essa conta, precisamos considerar também os direitos que a empresa tem a receber de terceiros. 2.2 Direitos De acordo com Padoveze (2016), nos primórdios da civilização o conceito de riqueza era entendido somente como conjunto de bens e coisas que fossem tangíveis, mas com o passar do tempo, o ser humano começou a entregar esses bens em troca de uma devolução futura, no pressuposto de um ganho adicional, fazendo surgir assim o conceito de direito. Nesse contexto, o conceito de direito está atrelado ao seguinte fato: “se por um lado o sujeito entregava o bem por meio de um contrato formal ou informal, por outro, a outra pessoa se comprometia a devolver o bem recebido de alguma forma, fosse devolvendo bens similares, fosse entregando bens diferentes” (Padoveze, 2016, p. 17). Figura 4 – Situação de troca (1) Esse tipo de transação era comum na época em que não existia a moeda. No momento em que foi inventada, começou a ser utilizada nas transações. 10 Figura 5 – Situação de troca (2) Dessa forma, o direito representa os valores que a empresa tem a receber de terceiros, provenientes de suas atividades operacionais. No reconhecimento dos direitos no Balanço Patrimonial, geralmente usa-se, juntamente com a denominação da conta, expressões que evidenciam a natureza do direito, por exemplo: a recuperar, a compensar, a apropriar, a receber, entre outras (Ávila, 2012). Alguns exemplos de direitos são: duplicatas a receber, notas promissórias a receber, aluguéis a receber, impostos a recuperar, adiantamento a fornecedores, adiantamento a empregados. Pode-se dizer que o direito e a obrigação nasceram no mesmo momento, pois para que alguém tenha um direito, outra pessoa tem que ter uma obrigação. 2.3 Obrigações Assim como os direitos representam os valores que a empresa tem a receber de terceiros provenientes de suas transações comerciais, as obrigações representam o oposto, são os valores que a empresa deve aos terceiros. Segundo Ávila (2012), as obrigações representam valores que a entidade tem a pagar para terceiros, e são provenientes à suas atividades operacionais. Assim, as obrigações são classificadas no passivo da entidade, e conforme sua natureza, a representação da conta pode ter sua nomenclatura acompanhada da expressão a pagar ou a recolher. Alguns exemplos de obrigações são: duplicatas a pagar, notas promissórias a pagar, salários a pagar, seguros a pagar, impostos a recolher, etc. 11 Importante ressaltar que estamos tratando somente de obrigações da empresa para com terceiros, mas o investimento dos sócios/proprietários na entidade também são obrigações, porém, tratadas de outra forma, pois os aspectos que envolvem as contas são diferentes. TEMA 3 – CLASSIFICAÇÃO PATRIMONIAL: PATRIMÔNIO LÍQUIDO Os passivos são as contas do patrimônio que representam obrigações da empresa para com terceiros, mas existe outro grupo de contasque também representa obrigações, conceituado como Patrimônio Líquido. A diferença de um grupo para outro é que o passivo representa as obrigações da empresa com terceiros, e por esse motivo é também chamado de passivo exigível. Por sua vez, o Patrimônio Líquido representa as obrigações da empresa com seus sócios/proprietários, e esse grupo é também conhecido como passivo não exigível. Nesse entendimento, podemos dizer que as contas do Patrimônio Líquido são relativas aos recursos próprios da empresa, pertencentes a seus proprietários, sócios ou acionistas (Araújo; Assaf Neto, 2010). De acordo com a Lei n. 11.638/2007, para as sociedades por ações, a divisão do Patrimônio Líquido é feita da seguinte forma: Capital social: “Representa o valor inicial pelo qual a empresa iniciou suas atividades e incorpora também acréscimos posteriores que podem ocorrer, tanto por aporte de novos recursos, quanto por meio de reinvestimento de parte dos lucros” (Coelho; Lins, 2010, p. 53). Reservas de capital: Conforme Ribeiro Filho, Lopes e Pederneiras (2009), as reservas de capital representam valores recebidos que não transitam pelo resultado, como acontece com as receitas. Isso acontece porque os valores destinados às reservas de capital não têm relação com a entrega de bens ou serviços da empresa. Ajuste de avaliação patrimonial: “Essa conta é decorrente das contrapartidas de aumentos ou diminuições de valores atribuídos a elementos do ativo e do passivo” (Araújo; Assaf Neto, 2010). Reservas de lucros: “Essa conta é formada por valores que dizem respeito à parcela de lucros não distribuídos pela empresa com objetivo 12 específico definido” (Ribeiro Filho; Lopes; Pederneiras, 2009). As reservas de lucros são compostas pelas seguintes contas: Reserva legal; Reservas estatutárias; Reservas para contingências; Reservas de lucros para expansão; Reservas de lucros a realizar. Ações em tesouraria: De acordo com Araújo e Assaf Neto (2010), esta conta é redutora do Patrimônio Líquido. Nela são registrados os valores relacionados às compras que a empresa faz de suas próprias ações no mercado. Prejuízos acumulados: Representam valores negativos que a empresa retifica no seu Patrimônio Líquido, reduzindo assim, o valor do mesmo (Araújo; Assaf Neto, 2010). A seguir, está a representação do Patrimônio Líquido e suas contas: Figura 6 – Contas do Patrimônio Líquido O Patrimônio Líquido é o primeiro grupo de contas que recebe valores no Balanço Patrimonial, e a partir dele, as outras contas começam a “ter vida”, pois no momento em que o capital social da empresa começa a ser integralizado, o ativo começa a receber valores, tornando possível a visualização da igualdade entre as contas credoras e devedoras, um dos atributos da equação patrimonial básica. 13 TEMA 4 – EQUAÇÃO PATRIMONIAL BÁSICA Conforme já comentado anteriormente, o patrimônio é composto por bens, direitos e obrigações da entidade. Esse conjunto é denominado de contas patrimoniais, que posteriormente são apresentadas no Balanço Patrimonial da entidade. O Balanço Patrimonial tem representação em forma de T, justamente por apresentar as contas conforme o método das partidas dobradas, ou seja, as contas do ativo (lado esquerdo) são de natureza devedora, e as contas do passivo e Patrimônio Líquido (lado direito), de natureza credora. Conforme a teoria do débito e do crédito, o total de valores em débitos deve ser igual ao total de valores em créditos, por esse motivo, no Balanço Patrimonial a soma dos valores das contas do ativo (débito) deve ser igual à soma dos valores das contas do passivo e do Patrimônio Líquido (crédito). Para entender esse contexto, é importante compreender o que são origens e aplicação de recursos. 4.1 Origens e aplicações de recursos Quando uma nova entidade é constituída, seus sócios/proprietários devem investir algum capital, seja em numerários ou bens. No momento que isso ocorre, o capital originado na constituição da entidade é aplicado em algum lugar. Dessa forma, tem - se de um lado a origem de recursos, que é o Patrimônio Líquido da empresa, mais especificamente o capital social, e do outro lado, a aplicação de recursos, que será a conta do ativo que irá receber os recursos adquiridos na integralização deste capital. Para ficar mais claro o entendimento, vamos imaginar que na constituição de uma determinada empresa, os proprietários subscreveram um valor de R$100.000,00 de capital social. Na integralização desse capital, todo esse valor foi integralizado na forma de um veículo, móveis e equipamentos da empresa. Dessa forma, temos o capital social integralizado no valor de R$100.000,00 como sendo a origem de recursos, e as contas do ativo que receberam os bens adquiridos como a aplicação dos recursos. Assim, num primeiro momento, a origem de recursos será sempre o capital social da empresa, e na medida em que operações forem sendo realizadas, ela também terá as contas do passivo como origem de recursos, pois 14 trabalhará com compras a prazo, pagamento de funcionários, impostos, empréstimos, financiamentos, etc. Por outro lado, todos os bens e direitos adquiridos com as atividades operacionais serão classificados no ativo, compondo a aplicação dos recursos. Figura 7 – Aplicação de recursos De acordo com a teoria do débito e do crédito, o total de origem de recursos deve ser igual ao total de aplicações. Deste modo, podemos trabalhar uma equação que representa o patrimônio da entidade. 4.2 Equação patrimonial básica da contabilidade As contas patrimoniais dispostas no balanço possuem naturezas diferentes. De um lado, temos o ativo, representando as contas positivas, e do outro lado, temos o passivo, representando as contas negativas. A diferença entre as contas positivas e negativas irá evidenciar a situação líquida da entidade, ou, o Patrimônio Líquido. A estrutura patrimonial, apresentada pelo Balanço Patrimonial demonstra o equilíbrio entre as contas positivas e negativas. De acordo com Padoveze (2016), o termo “balanço” deriva da equação de equilíbrio patrimonial, pois o ativo deve ter o seu valor igual ao valor do passivo e Patrimônio Líquido. A equação patrimonial básica da contabilidade é realizada através da seguinte fórmula: 15 Ativo = Passivo + Patrimônio Líquido (A = P + PL) A equação patrimonial demonstra a relação entre as contas e evidencia o verdadeiro significado do Patrimônio Líquido, demonstrando a situação líquida da entidade naquele determinado momento. 4.3 Situações patrimoniais líquidas Vimos então que o patrimônio da entidade possui contas positivas e negativas, as quais são representadas pelo ativo e pelo passivo, respectivamente. Mas onde entra o Patrimônio Líquido nessa história? O Patrimônio Líquido representa a situação patrimonial líquida, ou seja, a diferença entre o ativo e o passivo. Representa as obrigações da empresa para com seus sócios ou proprietários, porém, são obrigações não exigíveis, que provavelmente só serão cobradas numa situação de descontinuidade da entidade. De acordo com Crepaldi (2010), essas obrigações com os donos da empresa são denominadas de situação líquida e se modificam com as alterações no capital e apurações do resultado (lucros ou prejuízos). Considerando que o Patrimônio Líquido representa as obrigações da empresa com sócios ou proprietários, numa situação de descontinuidade os valores dessa conta seriam divididos entre eles. No entanto, somente haverão valores a serem divididos caso a empresa quite todas as suas dívidas com terceiros e ainda assim reste algum valor na conta do Patrimônio Líquido. Nesse entendimento, a equação patrimonial básica da contabilidade nos possibilita ter “a interpretação da situação patrimonial líquida da empresa, uma vez queessa corresponde ao valor do Patrimônio Líquido, representando a diferença entre a somatória dos bens e direitos (ativo) e a somatória das obrigações (passivo exigível) ” (Ávila, 2012, p. 52). A situação patrimonial líquida é demonstrada por meio da seguinte equação: Ativo - Passivo = Situação Patrimonial Líquida Com base nisso, a situação patrimonial líquida das empresas pode ser: 16 Positiva; Negativa; Nula. 4.3.1 Situação patrimonial líquida positiva A situação patrimonial líquida positiva ocorre quando o ativo é maior que o passivo, evidenciando um Patrimônio Líquido positivo. Essa situação pode ser representada de duas formas: Situação 1: Quando o ativo for maior que o passivo, sendo o passivo maior que zero, representada da seguinte forma: A > P sendo o P > 0 Isto revela que: “embora haja dívidas para com terceiros, os valores do ativo são suficientes para quitá-las, havendo ainda sobra de recursos para os proprietários” (Ávila, 2012, p. 52). Tabela 1 – Exemplo de Balanço Patrimonial (1) Aplicando a fórmula: Ativo - Passivo = Situação Patrimonial Líquida 200.000 – 130.000 = 70.000 Nesse caso, temos o ativo maior que o passivo, e maior que zero (A > P sendo o P > 0). Portanto, o PL também é maior que zero. Nessa situação, em caso de descontinuidade, a entidade conseguiria pagar suas contas e ainda sobrariam R$70.000,00 para ser dividido entre seus sócios. 17 Situação 2: Quando o ativo for maior que o passivo, sendo o passivo igual a zero, representada da seguinte forma: A > P sendo o P = 0 Isto revela que: “a entidade não possui dívidas com terceiros, sendo os valores do ativo integralmente revertidos aos proprietários” (Ávila, 2012). Tabela 2 – Exemplo de Balanço Patrimonial (2) Aplicando a fórmula: Ativo - Passivo = Situação Patrimonial Líquida 200.000 – 0 = 200.000 Nesse caso, temos o ativo maior que o passivo, sendo este igual a zero (A > P sendo o P = 0). Portanto, o PL também é maior que zero. Nessa situação do exemplo, em caso de descontinuidade, a entidade não teria dívidas com terceiros para pagar, e todo o valor do ativo seria dividido entre os sócios. Em ambas as situações, temos o ativo maior que o passivo exigível, e por esse motivo, a situação patrimonial líquida é positiva (Patrimônio Líquido positivo). 4.3.2 Situação patrimonial líquida negativa A situação patrimonial líquida é negativa quando o total de obrigações exigíveis (passivo) é maior que o total da soma de bens e direitos (ativo). Essa situação é também conhecida como desfavorável ou deficitária (Crepaldi, 2010). Essa situação patrimonial revela que há dívidas para com terceiros e que os valores do ativo não são suficientes para quitá-las, sendo necessário um incremento financeiro por parte dos proprietários” (Ávila, 2012, p. 55). 18 Geralmente, esse tipo de situação demonstra que a empresa apresenta prejuízos acumulados, conforme exemplo: Tabela 3 – Exemplo de Balanço Patrimonial (3) Aplicando a fórmula: Ativo - Passivo = Situação Patrimonial Líquida 200.000 – 230.000 = - 30.000 Nesse caso, temos o passivo maior que o ativo, portanto, o PL é negativo. Nessa situação, em caso de descontinuidade, a entidade não terá recursos no ativo suficientes para quitar todas as dívidas com terceiros, e provavelmente, os sócios ainda terão que responder pelo saldo passivo remanescente. 4.3.3 Situação patrimonial líquida nula A situação patrimonial líquida é nula quando o total de bens e direitos é igual ao total das obrigações exigíveis. Essa situação é também conhecida como equilibrada, pois não existe riqueza própria (Crepaldi, 2010). Essa situação revela que há dívidas para com terceiros e os valores dos ativos são suficientes para quitá-las, mas não sobrando valores para os proprietários (Ávila, 2012). Tabela 4 – Exemplo de Balanço Patrimonial (4) 19 Aplicando a fórmula: Ativo - Passivo = Situação Patrimonial Líquida 200.000 – 200.000 = 0 Nesse caso temos o ativo igual ao passivo, portanto, o PL é nulo. Nessa situação, em caso de descontinuidade, a entidade terá recursos no ativo suficientes para quitar todas as dívidas com terceiros, mas não sobrará recursos para serem divididos entre os sócios. Com base na situação patrimonial líquida, é possível ao sócio ou proprietário saber como anda o seu investimento inicial na empresa, possibilitando um acompanhamento da evolução do seu capital no decorrer dos exercícios subsequentes, desde o surgimento da empresa. TEMA 5 – MUTAÇÕES NA SITUAÇÃO PATRIMONIAL Diariamente, são tomadas decisões nas organizações dos mais diversos aspectos, e o patrimônio da entidade pode ou não ser alterado por essas decisões, dependendo do teor delas. Existem dois tipos de eventos que acontecem nas empresas em decorrência de decisões tomadas, que podem ou não alterar o patrimônio. São eles: Atos administrativos: eventos que não provocam alterações no patrimônio (Ávila, 2012). Alguns exemplos de decisões que se classificam em atos administrativos são: admitir empregados, assinar documentos, etc. Fatos administrativos: São também chamados de fatos contábeis e se caracterizam por provocarem modificações no patrimônio. Exemplos de fatos administrativos são: compras, vendas, pagamentos, despesas, etc. (Crepaldi, 2010). Os fatos administrativos podem ser classificados em: Fatos permutativos; Fatos modificativos (aumentativos ou diminutivos); Fatos mistos (aumentativos ou diminutivos). A figura a seguir mostra a classificação dos fatos: 20 Figura 8 – Classificação dos fatos contábeis Fonte: Ferrari (2013, p. 221). As classificações dos fatos são explicadas a seguir. 5.1 Fatos permutativos Segundo Crepaldi (2010), os fatos permutativos não alteram o Patrimônio Líquido, fazendo somente com que ocorram trocas entre os elementos do patrimônio, como: bens por bens, bens por obrigações, direitos por bens, etc. De acordo com Favero et al. (2011), eles geram modificações nos saldos das contas que representam os bens, direitos e obrigações, mas sem alterar a situação líquida. Compra de mercadorias à vista (bens por bens); Compra de instalações a prazo (bens por obrigações); Recebimento de direitos (direitos por bens); Pagamento de obrigações (bens por obrigações). Exemplo: No dia 26/11/2018 uma empresa fez uma compra de mercadorias à vista no valor de R$5.000,00. O dinheiro saiu do caixa e aumentou o estoque de mercadorias, ou seja, houve uma permuta entre os bens patrimoniais, não afetando o Patrimônio Líquido. 5.2 Fatos modificativos São aqueles que provocam alterações no patrimônio das entidades, modificando a situação líquida (Favero et al., 2011). Podem ser aumentativos, quando aumentam o patrimônio, e diminutivos, quando diminuem o patrimônio (Crepaldi, 2010). Exemplos: Receitas de aluguel – fato modificativo aumentativo; 21 Receitas de juros – fato modificativo aumentativo; Despesas de salários – fato modificativo diminutivo; Despesas financeiras – fato modificativo diminutivo. Esses fatos têm relação com contas de resultado. Dessa forma, considera-se que quando ocorrerem, irão afetar uma conta patrimonial relacionada à bens, direitos ou obrigações, e a contrapartida será uma conta de resultado, receitas ou despesas, que afetarão no lucro e, consequentemente, no Patrimônio Líquido. Exemplos: Pagamento de despesas = Saída de dinheiro do caixa = Diminuição do ativo. Reconhecimento de uma despesa = Diminuição do lucro = Diminuição do Patrimônio Líquido. 5.3 Fatos mistos Os fatos mistos são combinações dos fatos de natureza permutativa com os de natureza modificativa, ou seja, ao mesmo tempo que provocam modificações na composição dos bens, direitos e obrigações a pagar, alteram também a situação líquida (Favero etal., 2011). Exemplos de fatos mistos (Crepaldi, 2010, p. 39): Venda de mercadorias com lucro (entrou dinheiro no caixa, saiu mercadoria – modificações no ativo) e houve aumento do Patrimônio Líquido. Pagamento de duplicatas com juros (saiu dinheiro do caixa (ativo), diminuiu as obrigações (passivo) e houve uma despesa (os juros pagos), diminuindo o Patrimônio Líquido. TROCANDO IDEIAS A autonomia estabelece que o patrimônio de uma Entidade jamais pode confundir-se com aqueles dos seus sócios ou proprietários. No entanto, é comum a prática de pagar contas pessoais com dinheiro do caixa da empresa, principalmente em empresas familiares. De acordo com Marion (2009, p. 138), “se o sócio utilizar dinheiro da empresa, a contabilidade não pode impedir certos fatos que, de início, venham ferir um princípio básico, mas estabelecer corretivos e, se possível, tentar disciplinar os sócios em face das normas contábeis”. Com base no exposto, considerando o princípio da entidade, para que situações como essas não venham a prejudicar as atividades operacionais, como poderiam ser resolvidas esse tipo de ocorrências? Seria possível disciplinar o sócio/proprietário no sentido de impedi-lo de tirar dinheiro do caixa, 22 ou existe alguma forma de regularizar essas tomadas de dinheiro? Entre no fórum e debata o assunto com seus colegas. NA PRÁTICA Responda às questões a seguir. (As respostas encontram-se ao final deste documento). 1. A Resolução CFC n. 750, de 29 de dezembro de 1993, dispõe sobre os Princípios Contábeis concernentes à Contabilidade no seu sentido mais amplo de ciência social, cujo objeto é o patrimônio das entidades. Sobre o princípio da entidade, assinale a única alternativa falsa: a. Reconhece o patrimônio como objeto da Contabilidade. b. Afirma a autonomia patrimonial. c. Considera a necessidade da diferenciação do patrimônio da entidade daquele dos seus sócios. d. O patrimônio apresenta sentido unívoco. e. A divisão do patrimônio resultará em novas Entidades. 2. Os itens que compõem o patrimônio da entidade são classificados antes de serem colocados no Balanço Patrimonial, existindo três classificações possíveis para esses itens. Sobre as classificações patrimoniais, explique como são classificados os bens pelo ponto de vista contábil. 3. Os passivos são as contas do patrimônio que representam obrigações da empresa para com terceiros, mas existe outro grupo de contas que também representam obrigações, o qual é conceituado como Patrimônio Líquido. Sobre as contas do Patrimônio Líquido, assinale a alternativa que contém a conta que representa o valor inicial pelo qual a empresa iniciou suas atividades e incorpora também acréscimos posteriores que podem ocorrer, tanto por aporte de novos recursos, quanto por meio de reinvestimento de parte dos lucros. a. Reserva de Lucros. b. Capital Social. c. Ajuste de avaliação patrimonial. d. Reservas de capital. e. Reservas de lucros. 23 4. Na contabilidade, o total de recursos disponibilizados para a entidade (origem) deve ser igual ao total aplicado (aplicações), fazendo com que haja um certo equilíbrio entre as contas, o que dá origem à Equação Patrimonial Básica. Se uma empresa apresentar as seguintes informações: Ativo = R$200.000,00 Passivo = R$160.000, assinale a alternativa que corresponde à equação que representa a situação patrimonial da empresa: a. Positiva: A > P sendo P = 0. b. Negativa: A < P. c. Nula: A = P. d. Positiva: A > P sendo P > 0. e. Nula: A > P sendo P= 0. 5. Fatos administrativos são também chamados de fatos contábeis e se caracterizam por fazer modificações no patrimônio. Assinale a alternativa que corresponde ao tipo de fato que acontece quando uma empresa compra mercadorias a prazo. a. Fato misto aumentativo. b. Fato modificativo aumentativo. c. Fato permutativo. d. Fato misto diminutivo. e. Fato modificativo diminutivo. FINALIZANDO Hoje vimos um pouco sobre a entidade, os bens, direitos e obrigações, e a formas como pode apresentar-se a situação patrimonial líquida da empresa. Vimos também sobre os tipos de mutações que podem ocorrer em decorrência dos fatos administrativos. Os assuntos da nossa segunda aula foram: Autonomia patrimonial. Classificação patrimonial: bens, direitos, obrigações. Classificação patrimonial: Patrimônio Líquido. Equação patrimonial básica. Mutações na situação patrimonial. 24 REFERÊNCIAS ARAÚJO, A; ASSAF NETO, A. Aprendendo contabilidade. Ribeirão Preto, São Paulo: Inside Books, 2010. ÁVILA, C. A. Gestão contábil para contadores e não contadores. Curitiba: IBPEX, 2012. BAZZI, S. Contabilidade em ação. Curitiba: InterSaberes, 2014. COELHO, C. LINS, L. Teoria da contabilidade: abordagem contextual, histórica e gerencial. São Paulo: Atlas, 2010. CREPALDI, S. Curso básico de contabilidade: resumo da teoria, atendendo às novas demandas da gestão empresarial, exercícios e questões com resposta. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010. FAVERO, H. et al. Contabilidade: teoria e prática. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2011. FERRARI, E. Contabilidade geral: teoria e mais de 1.000 questões. 13. ed. rev. ampl. e atual. com as seguintes posições dos Pronunciamentos e Interpretações Técnicas do CPC. Niterói, RJ: Impetus, 2013. HENDRIKSEN, E; BREDA, M. Teoria da contabilidade. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2007. MARION, J. Introdução à contabilidade: com ênfase em teoria. Campinas, São Paulo: Alínea, 2009. PADOVEZE, C. Contabilidade geral. 1. ed. Curitiba: InterSaberes, 2016. RIBEIRO FILHO, J; LOPES, J; PEDERNEIRAS, M. (Org.). Estudando teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas, 2009. 25 RESPOSTAS 1. Alternativa e: A divisão do patrimônio resultará em novas entidades. 2. Resposta: Do ponto de vista contábil, os bens são classificados em: bens de troca, bens de uso e bens de consumo. 3. Alternativa b: Capital Social. 4. Alternativa d: Positiva: A > P sendo P > 0. 5. Alternativa c: Fato permutativo.
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