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INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA CURSO TÉCNICO EM INFORMÁTICA RONALDO NOBERTO DOS SANTOS COTA NÃO É ESMOLA: UM DIREITO E NÃO UM PRIVILÉGIO ARAPIRACA 2021 0 INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA ____________________________________ RONALDO NOBERTO DOS SANTOS COTA NÃO É ESMOLA: UM DIREITO E NÃO UM PRIVILÉGIO Trabalho solicitado pelo professor Geraldo Ramires de Lima Júnior da disciplina de Geografia, como requisito à obtenção de nota bimestral. Orientador: Geraldo Ramires de Lima Júnior. ARAPIRACA 2021 1 INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA ____________________________________ COTA NÃO É ESMOLA: UM DIREITO E NÃO UM PRIVILÉGIO QUOTA IS NOT ALMS: A RIGHT AND NOT A PRIVILEGE Ronaldo Noberto dos Santos. RESUMO Levando em consideração a sociedade brasileira hodierna como um país diverso, com mais da metade da população não branca, verifica-se, ainda, a desigualdade e exclusão. No setor escolar, especificamente, em universidades, nota-se que pretos, pardos, indígenas e pobres são a minoria nesse âmbito, em comparação a maioria branca e ricos. Sob esse viés, este artigo analisará o sistema de cotas das universidades, discutindo questões sobre direito ou privilégio, reparação histórica, o que é a cota, meritocracia e o racismo, tendo em vista o âmbito educacional e tendo como primeira referência e marco inicial a música Cota Não É Esmola de Bia Ferreira. Palavras-chave: Cota. Direito. Racismo. Desigualdade, Educação. ABSTRACT Considering today's Brazilian society as a diverse country, with more than half of the non-white population, inequality and exclusion are also verified. In the school sector, specifically, in universities, it is noted that blacks, browns, indigenous people and the poor are the minority in this area, compared to the white majority and the rich. Under this bias, this article will analyze the university quota system, discussing issues about rights or privilege, historical reparation, what is the quota, meritocracy and racism, considering the educational sphere and having as a first reference and starting point the song Cota Não É Esmola by Bia Ferreira. Keywords: Quota. Right. Racism. Inequality, Education. 2 INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA ____________________________________ SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 4 2. ANÁLISE DA DISCUSSÃO COTA 4 2.1 COTAS 4 2.1.1 COTAS SOCIAIS 5 2.1.2 COTAS RACIAIS 5 2.1.3 COTAS POR DEFICIÊNCIA 5 2.2 SISTEMA DE COTAS 6 2.3 DIREITO OU PRIVILÉGIO 7 2.4 REPARAÇÃO HISTÓRIA 7 2.5 MERITOCRACIA 8 2.6 RACISMO 8 3. METODOLOGIA 9 4. RESULTADOS 9 5. CONCLUSÃO 10 6. REFERÊNCIAS 11 3 INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA ____________________________________ 1. INTRODUÇÃO O Poder Legislativo teve que elaborar leis atendendo a reivindicações de movimentos sociais para garantir o ingresso de indivíduos pretos, pardos ou indígenas em cursos superiores de universidades públicas federais e em concursos públicos no Brasil. O País, sendo o último a abolir a escravidão do Ocidente, promoveu profundas cicatrizes no corpo social brasileiro, sendo mais de 300 anos de injustiça e exploração humana, passando por fases manobras políticas, desde a negação do racismo até a política do embranquecimento populacional. Não obstante, segundo o Pnad/IBGE de 2017, a maioria(54%) da população brasileira é negra e, mesmo assim, observa-se que essa parte da sociedade são, infelizmente, excluídas do ensino superior. Apesar de alguns desses terem registros civis, eles acabam vivendo na invisibilidade para o Estado. 2. ANÁLISE DA DISCUSSÃO COTA O que são cotas? O que é o sistema de cotas no Brasil? A cota é um direito ou um privilégio? Por que a cota? Qual a relação da meritocracia com as cotas? E o racismo? Várias são as perguntas sobre a temática que muitos não sabem a resposta. A seguir analisaremos cada uma delas detalhadamente. 2.1 COTAS Com a criação da lei 12.711/12, conhecida como a lei de cotas, foi determinado que metade das vagas de universidades fossem destinadas para pessoas cotistas. As cotas têm a finalidade de amenizar desigualdades: sociais, educacionais ou econômicas. Elas são utilizadas em vários países para diminuir as desigualdades sociais e econômicas entre pretos e brancos. Na atualidade, existem três tipos de categorias de cotas no Brasil: sociais, educacionais e por deficiência física. 4 INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA ____________________________________ 2.1.1 COTAS SOCIAIS As apontadas como cotas sociais, são aquelas que analisam uma série de fatores socioeconômicos das pessoas. Habitualmente, leva em consideração os critérios de renda do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal(CadÚnico), considerando famílias de baixa renda aquela que a renda familiar per capita for de até meio salário mínimo, ou três salários mínimos. Essa categoria de reserva de vagas, normalmente, está ligada ao requisito de ter estudado todo o ensino médio em escolas públicas. E, ainda, pela lei 12.799/13, têm direito à isenção na taxa de inscrição do Enem e vestibulares todos aqueles que se encaixam nessa posição. 2.1.2 COTAS RACIAIS Mesmo não se tratando de Instituições Federais, há a reserva de cotas por etnias, para preto, pardo, indígena e também quilombolas. Em alguns casos, são criados e aplicados vestibulares para somente pessoas que se enquadram nessa posição. Normalmente, para preto, pardo e indígenas, basta uma autodeclaração de raça, o que pode gerar algumas polêmicas. Além da autodeclaração, existem a declaração de comunidade quilombola e o documento da Fundação Nacional do Índio(Funai) comprovando a sua origem. Mas é importante ressaltar que, é a instituição que determina os documentos necessários para a comprovação étnica do grupo que o indivíduo alega pertencer. 2.1.3 COTAS POR DEFICIÊNCIA A reserva de vagas para pessoas com deficiência é outra comum no Brasil. Porém, não tem nenhuma legislação específica para essa categoria de tipo de cota, contudo, algumas instituições separam vagas para pessoas com algum tipo de deficiência. Para contestar a deficiência, basta o indivíduo apresentar um laudo médico com a indicação do Código Internacional de Doenças(CID), alegando sua deficiência. 5 INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA ____________________________________ 2.2 SISTEMA DE COTAS Nos últimos anos(principalmente, depois de Bolsonaro assumir a presidência), o sistema de cotas foi foco de um extenso debate no Brasil. Isso se dá, pois, enquanto uns aprovam sua existência e sabem sua importância, outros não apoiam, criticam instituições que as utilizam(muitos com o discurso da meritocracia, abordado subtópico 2.5). Diante disso, faz-se necessário entender sobre a história das cotas na coletividade brasileira. Na década de 30 na Índia, surgia o que seria o sistema de cotas, presente na Constituição no país desde 1949. Da Índia, outros países foram influenciados, como Malásia, Nova Zelândia e Austrália, chegando até ao Ocidente, nos Estados Unidos, Canadá e Colômbia. Diferentemente de outros países, os Estados Unidos não têm uma Constituição que prevê sistemas de cotas no país, sendo as cotas, existentes como uma política social adotada por instituições, com autonomia para definir seus critérios de ingresso. Embora tardia, as experiências dos Estados Unidos, serviu como referência para o sistema de cotas no Brasil. Em 2000, foi aprovada uma lei que reserva metade das vagas de universidades estaduais para estudantes de escolas públicas, tendo alteração em 2001, determinando 40% das vagas para negros e pardos autodeclarados. Sendo somente em 2004, foi adotado o sistema de cotas, pelo vestibular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro(UERJ). Em seguida, a Universidade de Brasília(UnB) implantou uma política de ações afirmativas para negros em seu vestibular, em 2004, tornando-se a primeira federal a implantar e utilizar esse sistema de cotas no Brasil. Depois vieramaparecer demais universidades usando reservas de vagas para pretos, pardos, indígenas e estudantes de escolas públicas, porém sem nenhuma padronização. Somente com a Lei de Cotas em 2012, as reservas de cotas ficaram sendo obrigatórias. Nesta lei, entre outras coisas, a finalidade era de diminuir a desigualdade entre pretos e brancos no País, realizando o que é chamado de reparação histórica(abordado no subtópico 2.4). Desses tempos para a atualidade, observa-se que nas universidades, houve, de fato, uma melhora significativa no ingresso dessa parcela de estudantes. Conforme o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais(Inep), a Lei de Cotas estendeu em 39% a presença de estudantes pretos, pardos e indígenas oriundos de escolas públicas em instituições federais de ensino superior, entre 2011 e 2016. Isso torna o sistema de cotas muito importante para a Federação, mas não o suficiente. 6 INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA ____________________________________ 2.3 DIREITO OU PRIVILÉGIO O processo histórico de modo algum se desenrola de maneira linear e harmônica, muito pelo contrário, esses processos de construção da sociabilidade, de avanços e retrocessos, só se constrói nas relações de luta entre classes antagônicas. Em vista do passado, historicamente, a educação no Brasil não se formou de maneira unitária, ou seja, os filhos das classes trabalhadora, dominadora e abastada não receberam as mesmas condições de acesso educacional. Sempre no Brasil, teve desigualdades entre pretos e brancos, sendo este mais privilegiado em todos os âmbitos. Já os pretos, sempre lutaram por igualdade, por condições iguais. Muitos ignorantes esquecem da história, do passado, e, simplesmente, fecham os olhos para o que aconteceu e acontece com os pretos no Brasil, demonstrando suas opiniões contra as cotas, pois em suas visões, todos são iguais, sempre tiveram condições iguais e sempre foram tratados iguais, afirmando ser privilégio as cotas. Um estudante preto, pardo ou indígena(PPI) pobre tem acesso às mesmas condições de ensino que os brancos ricos?! Não. Se não existissem as cotas, raramente se encontraria um médico ou advogado de origem humilde e PPI, exercendo dignamente suas funções como se encontra hoje. Assim sendo, declarar/afirmar que no Enem, por exemplo, todos terão as mesmas condições de acesso ao ensino superior ou que cota é um privilégio é uma profanação. 2.4 REPARAÇÃO HISTÓRIA Como já dito, as cotas são palco de discussões por muitas pessoas, uns a favor, outros não. As cotas são como se fossem dívidas que agora estão sendo pagas, uma reparação. No País, a presença de profissionais pretos, pardos ou indígenas, deve-se ao sistema de cotas aqui implantado, fazendo com que as desigualdades diminuam gradativamente. Não se pode falar de igualdade em um país desigual. Quaisquer projetos/programas que tenham como finalidade acabar com essa desigualdade será bem-vindo por pessoas sãs. “Reportar a lacuna histórica, é retornar às origens.” Karla Borges professora, bacharel em várias áreas 7 INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA ____________________________________ 2.5 MERITOCRACIA Desde a última eleição de 2018 em que Bolsonaro, infelizmente, foi eleito presidente do Brasil, ouve-se muito, discursos negacionista de meritocracia. Não é diferente quando o assunto são cotas, muitos defendem esse discurso, mas ao realizar isso distorcem o conceito do mérito. O argumento do mérito tem duas versões: uma moral e outra consequencialista. A moral toma como fulcro do padrão de justiça que baseia as instituições liberais democráticas, sendo aquelas que recompensam o mérito, este compreendido como o reconhecimento do esforço e competência dos indivíduos. A consequencialista critica processos procedimentos “não-meritocráticos” por premiar pessoas que teriam menos competência para exercer tal atividade. O acesso privilegiado à educação de pessoas vindas de pessoas advindas de família de classe média e alta lhes garante vantagens competitivas na corrida à educação superior de qualidade e empregos, em vista àqueles que não desfrutam de tais regalias por sua posição de nascimento. Portanto: “Ganhar uma corrida de competidores que têm pesos atados aos pés não é mérito algum.” João Feres Júnior doutor em ciência política 2.6 RACISMO Segundo a Constituição Federal de 1988 — documento jurídico mais importante do país — todos somos iguais, mas para que essa igualdade seja efetivada, é necessário tratar os iguais como iguais, e os diferentes como diferentes, na medida de suas desigualdades, para que a justiça prevaleça. Não se nega o quanto a população negra sofreu por muitos anos e ainda sofre com a discriminação racial, que por consequência reduzem suas oportunidades. A humanidade tem que entender que ninguém é melhor que ninguém devido à cor da pele, sendo o preconceito racial ainda uma triste realidade brasileira que precisa ser combatida. 8 INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA ____________________________________ 3. METODOLOGIA A metodologia é o estudo dos métodos. Isto é, o estudo dos caminhos para se chegar a um determinado fim. Com o objetivo de analisar as características dos vários métodos indispensáveis tais como: avaliar capacidades, limitações e criticar os pressupostos quanto à sua utilização. Para a realização deste trabalho, optou-se por pesquisas bibliográficas na busca de artigos e sites na internet. Realizou-se a busca por meio dos unitermos “artigos”, “sistema de cotas”, “cotas”, “desigualdades”, dentre outros, presente neste artigo. Ao todo, foram analisados mais de dez artigos, mais de dez sites e publicações para a estruturação deste artigo, acerca da temática abordada. 4. RESULTADOS O sistema de cotas influencia diretamente no desenvolvimento social individual e coletivo, garantindo que pessoas PPIs que estão a receber certas dívidas históricas(reparação), tenham acessos às universidades de cursos superiores. Esse sistema é considerado um exemplo de intervenção das desigualdades sociais no Brasil. Ao analisar o texto que compõem este artigo, verifica-se que sim, cotas são necessárias e não um privilégio, e que o mérito não tem nada a ver com essa história, visto que pelo racismo e tudo que os negros passaram quando escravizados e passam após esse período de escravidão, não os mantêm em igualdade com pessoas brancas de classes altas, assim, a sociedade tem uma dívida para/com eles. 9 INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA ____________________________________ 5. CONCLUSÃO Depreende-se, portanto, que se deve ter em mente que o sistema de cotas é um tipo de ação afirmativa, destinado a corrigir as desigualdades no ensino superior. Deve ser discutido e apoiado esse processo, o tornando visível, uma vez que o seu ocultamento afeta principalmente as classes baixas/menos favorecidas. As cotas além de necessárias, reparatórias e paliativas, também pertencem à revolução, elas são necessárias e não um privilégio. A meritocracia não se deve considerar, tendo em vista as desigualdades em que certas pessoas estão inseridas. A transformação ocorre de maneira gradativa, não deixando de ser alicerce para novas mudanças. As cotas são oportunidades para muitos, mas é necessário lembrar que elas não devem ser permanentes, sendo uma reparação, pois senão nunca haverá mudança. Assim, espera-se que futuramente, visando um lado utópico, que não existam cotas, não existam por consequência de não haver mais racismo, descriminalização, desigualdade social e racial, dentre outros fatores. Tendo acabado, pois, a grande dívida às pessoas negras, pardas e indígenas do Brasil. 10 INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA ____________________________________ 6. REFERÊNCIAS https://brasilescola.uol.com.br/educacao/sistema-cotas-racial.htm https://revistavalore.emnuvens.com.br/valore/article/download/426/348 https://www.opet.com.br/faculdade/revista-pedagogia/pdf/n12/artigo6.pdfhttps://mundoeducacao.uol.com.br/educacao/sistema-cotas.htm https://blog.imaginie.com.br/sistema-de-cotas/ https://www.colab.re/conteudo/cotas https://vestibular.brasilescola.uol.com.br/cotas/negro-pobre-deficiente-ou-indigena.htm https://vestibular.mundoeducacao.uol.com.br/cotas/historia-sistema-cotas-no-brasil.htm https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/rdtps/article/view/8859 https://politicalivre.com.br/artigos/cota-e-reparacao/#gsc.tab=0 https://pp.nexojornal.com.br/opiniao/2021/M%C3%A9rito-e-cotas https://www.metodista.br/revistas/revistas-ipa/index.php/direito/article/view/694/632 Link para a música Cota Não É Esmola de Bia Ferreira: https://www.youtube.com/watch?v=QcQIaoHajoM 11 https://brasilescola.uol.com.br/educacao/sistema-cotas-racial.htm https://revistavalore.emnuvens.com.br/valore/article/download/426/348 https://www.opet.com.br/faculdade/revista-pedagogia/pdf/n12/artigo6.pdf https://mundoeducacao.uol.com.br/educacao/sistema-cotas.htm https://blog.imaginie.com.br/sistema-de-cotas/ https://www.colab.re/conteudo/cotas https://vestibular.brasilescola.uol.com.br/cotas/negro-pobre-deficiente-ou-indigena.htm https://vestibular.mundoeducacao.uol.com.br/cotas/historia-sistema-cotas-no-brasil.htm https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/rdtps/article/view/8859 https://politicalivre.com.br/artigos/cota-e-reparacao/#gsc.tab=0 https://pp.nexojornal.com.br/opiniao/2021/M%C3%A9rito-e-cotas https://www.metodista.br/revistas/revistas-ipa/index.php/direito/article/view/694/632 https://www.youtube.com/watch?v=QcQIaoHajoM INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS ARAPIRACA ____________________________________ 12