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ASPECTOS CONSTITUCIONAIS E NORMAS INTERNACIONAL APLICADAS À SEGURANÇA JURÍDICAS

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ASPECTOS CONSTITUCIONAIS E NORMAS INTERNACIONAL APLICADAS À SEGURANÇA JURÍDICAS
Módulo 1 - ASPECTOS CONSTITUCIONAIS E NORMAS INTERNACIONAIS APLICADAS À SEGURANÇA PÚBLICA
Apresentação do Módulo
Na Constituição de 1988 se encontram os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, dentre eles o de construir uma sociedade livre, justa e solidária, bem como o de promover o bem de todos. 
Essa norma fundamental traça a estrutura essencial desse Estado, em especial no âmbito da segurança pública, conferindo-lhe atribuições (ex.: preservar a ordem pública, que consiste em manutenção e reestabelecimento; proteger pessoas e bens), assim como metas e limites para o cumprimento de suas tarefas e o exercício do poder. 
Dentro desse contexto, destaca-se a dignidade da pessoa humana, além de um catálogo de direitos e garantias fundamentais. 
Ao lado disso, é importante lembrar que o Brasil, nas suas relações internacionais, segue alguns princípios, dentre os quais destacam-se: a prevalência dos direitos humanos, a defesa da paz e a solução pacífica dos conflitos e a cooperação entre os povos para o progresso da humanidade. 
Normalmente essas relações são firmadas por meio de acordos, tratados, convenções, dentre outros atos, regulados pelo Direito Internacional. 
Assim, considerando a atuação no âmbito da segurança pública, é importante destacar que você estudará algumas normas internacionais que possuem reflexo na atuação policial, bem como garantias não expressas na Constituição Brasileira, e que vinculam sua atividade ou recomendam a observação de algumas medidas, podendo ser ou não adotados pelo Brasil, por seu estado ou município. 
Objetivos do módulo
Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de: 
· Descrever o que é dever da sua instituição: identificar as normas constitucionais que tratam das ações de segurança pública, seus órgãos e atribuições;
· Identificar quais normas amparam suas atribuições: identificar as normas constitucionais, bem como os princípios relacionados aos direitos e garantias fundamentais que delimitam a atuação dos profissionais de segurança pública;
· Compreender a necessidade de sua atuação (estatal) como instrumento de promoção da harmonia no seio da comunidade;
· Nomear as restrições legais aos direitos humanos fundamentais;
· Reconhecer as limitações constitucionais da sua atuação policial e as consequências dos desvios desses limites na extensão da responsabilidade;
· Reconhecer o poder que o Estado dá a seus agentes para realizar abordagem; e,
· Conhecer as normas internacionais que cuidam das ações policiais, com seus efeitos e alcance.
Estrutura do módulo
Este módulo abrange as seguintes aulas: 
· Aula 1 – Visão constitucional sobre o papel dos órgãos policiais; 
· Aula 2 – Restrições constitucionais sobre a atuação policial; 
· Aula 3 – Reflexos das normas internacionais na atividade policial. 
Aula 1 – Visão constitucional sobre o papel dos órgãos policiais 
Como profissional, você sabe que a atividade policial integra as ações de segurança pública, e de acordo com os ensinamentos do professor Lazzarini (1999, p. 52), constitui-se como um aspecto da ordem pública, ao lado da tranquilidade e da salubridade pública. Tudo isso é concebido dentro de uma estrutura estatal para garantir uma convivência harmoniosa entre as pessoas. 
Quem de nós, profissionais de segurança pública, nunca disse “Estou aqui para garantir a ordem pública!”, quando na verdade nos referimos à segurança pública. 
Mas, no que a ordem pública difere de segurança pública? Não seriam a mesma coisa? 
1.1. Segurança pública e ordem pública 
Uma explicação usual diz que, em linhas gerais, a segurança pública é causa da ordem pública, que se traduz em um estado antidelitual, livre, portanto, da violação dos bens e valores mais importantes para a coletividade (vida, integridade física, liberdade, patrimônio, etc.) e, por isso, tutelados pelas leis, que regulam o comportamento de todos. 
Nesse sentido, existe ordem pública, e, consequentemente, segurança pública, quando, por exemplo, no dia-a-dia o cidadão tem a liberdade para ocupar espaços públicos, transitar nas ruas a qualquer hora, sem sofrer qualquer tipo de prejuízo, violação ou dano (ex.: furto, roubo, sequestro, lesão corporal, homicídio etc.). 
Para enriquecer essa noção, de acordo com Meirelles (Apud LAZZARINI, 1999, 93), ordem pública é: 
[…] a situação de tranquilidade e normalidade que o Estado assegura – ou deve assegurar – às instituições e a todos os membros da sociedade, consoante às normas jurídicas legalmente estabelecidas [...] abrange e protege também os direitos individuais e a conduta lícita de todo o cidadão, para coexistência pacífica de toda a comunidade. Tanto ofende a violência contra a coletividade ou contra as instituições em geral, como os atentados aos padrões éticos e legais de respeito à pessoa humana [...] é situação fática de respeito ao interesse da coletividade e aos direitos individuais que o Estado assegura, pela Constituição e pelas leis, a todos os membros da comunidade. 
Nas palavras, de Moreira Neto (Apud LAZZARINI, 1999, P. 52) a segurança pública é resultado de um conjunto de ações dos órgãos especializados do Estado, precedido por escolhas feitas pela sociedade e reguladas por normas jurídicas (leis), tudo com a finalidade de garantir a ordem pública, sendo esta objeto daquela. É neste ponto em que nós, profissionais de segurança pública, devemos amparar nossas ações. 
Dentro dessa concepção, a preservação da ordem pública é feita pelos agentes públicos de segurança, por meio da manutenção e quando quebrada, do reestabelecimento da ordem pública. 
Importante!
O agente público de segurança trabalha preventivamente pela manutenção e repressivamente pelo reestabelecimento da ordem pública e da paz na sociedade. 
Essa afirmação de Moreira Neto (1999), se consolida com a leitura do Capítulo (III), “Da segurança pública”, no Título V, da CF/88, que cuida “Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas”. Em especial, o artigo 144 estabelece que o poder público, dentro de suas atribuições, tem a incumbência de promover a preservação da ordem pública e garantir a incolumidade das pessoas e do patrimônio: 
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: 
I -polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
VI - polícias penais federal, estaduais e distrital. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019).
Dito isso, não custa reforçar a ideia de que as atividades desenvolvidas pelos órgãos policiais são consubstanciadas em procedimentos específicos, aptos a alcançar suas finalidades. 
Importante!
As ações dos profissionais de segurança são construídas para garantir e resguardar uma situação de paz social, um ambiente de normalidade almejada pela coletividade, protegendo os bens mais caros para a sociedade, consoante às normas jurídicas vigentes, estabelecendo um grau adequado de coexistência pacífica entre as pessoas. 
1.2. Prevenção e Repressão 
Para facilitar a compreensão do momento em que cada um dos órgãos policiais, citados anteriormente, deve agir, para preservar a ordem pública, proteger pessoas e bens, faça o exercício a seguir: 
· Imagine o momento em que ocorre um evento da natureza (emergências, desastres, catástrofes, etc.) ou uma conduta humana – ação/omissão (crime/delito, contravenção penal, etc.). 
· Diante de situações assim, o que se busca é assegurar um ambiente social livre de riscos e perigos, através de ações de prevenção ou de repressão (imediata e mediata) realizadas pelos órgãos policiais, seja em razão dos acontecimentos da natureza, seja em função do comportamento do ser humano. 
Importante!
Dentro dessa concepção, importa salientar que o Estado é o detentor do uso da força e por isso, quandoa ordem pública é quebrada, seus agentes públicos de segurança, protocolam ações, muitas delas com o emprego de força por meio da repressão imediata, para o reestabelecimento da ordem. 
As ações desenvolvidas pelos órgãos policiais buscam promover o controle social no sentido de evitar (prevenir) a perturbação da ordem pública, a mácula da paz social, a violação dos bens jurídicos tutelados (vida, integridade física, patrimônio, etc.). 
Quando essa prevenção não funciona, surgem os procedimentos de resgate da ordem pública e da paz social, mediante ações de repressão imediata, socorrendo a vítima, isolando o local do evento, prendendo o autor da conduta, instaurando procedimentos (ex.: inquérito policial) para esclarecer os fatos e colher elementos preliminares (autoria, materialidade e circunstâncias) para instruir eventual responsabilização (administrativa, civil ou penal). 
A repressão mediata consolida os atos complementares da colheita de informações, seja promovendo a oitiva do autor dos fatos, vítima ou de testemunhas, que não foram identificados no momento dos eventos, seja realizando diligências, perícias complementares, dentre outros, a fim de instruir a persecução penal instaurada e/ou responsabilização nas esferas administrativa e civil. 
O quadro, a seguir, mostra a relação dos órgãos de segurança pública com as ações de prevenção e repressão, de acordo com o art.144 da CF/88. 
	Órgão
	Ações de Prevenção
	Ações de Repressão imediata
	Ações de Repressão mediata
	Polícia Federal
	(§1º, incisos II e III)
	(§1º, incisos I e IV)
	(§1º, incisos I e IV)
	Polícia Ferroviária Federal e Polícia Rodoviária Federal
	(§§ 2º e 3º)
	(§§ 2º e 3º)
	___
	Polícias Civis
	___
	(§ 4º)
	(§ 4º)
	Polícias Militares
	(§ 5°)
	(§ 5°)
	___
	Polícias Penais
	(§ 5°-A)
	(§ 5°-A)/ Art.301 do Código de Processo Penal
	___
Quadro 1 – Relação dos órgãos de segurança pública com o exercício das ações de prevenção e repressão – Art. 144 da CF/88.
Fonte: Elaborado a partir das informações do conteudista. 
As polícias militares, ao lado dos corpos de bombeiros militares, devido ao regime jurídico peculiar, exercem ainda a atividade de polícia judiciária militar, regulada pelo Código de Processo Penal Militar, com natureza de repressão imediata e mediata 
Observe que as instituições de segurança pública recebem atribuições diversificadas, que abrangem desde o controle social, regulando as relações interpessoais com o emprego da força, o socorro, assistência às populações carentes, apoio às atividades comunitárias, reforço aos demais órgãos nas atividades de saúde, fiscalização tributária, sanitária, dentre outras (COSTA, 2004, p. 35-36). 
E como estas ações são desempenhadas? Como se define onde os órgãos de segurança pública atuarão?
1.2.1 Ações preventivas e repressivas 
As ações preventivas e de repressão imediata são desempenhadas através de procedimentos de distribuição de efetivo em locais em que, após o devido planejamento, guardem algum potencial para a ocorrência de fatos que venham a abalar a paz social, a ordem pública e quando ocorrem crimes, adoção de medidas para prisão em flagrante e atos complementares (LAZZARINI, 1998). Normalmente isso ocorre com o emprego do policiamento ostensivo, direcionado essencialmente para a realização de procedimentos destinados a evitar que pessoas e bens estejam em risco (SKOLNICK; BAYLEY, 2006, p. 97), seja em razão de um evento da natureza ou de um comportamento humano. 
No âmbito das ações de repressão imediata e mediata, evidenciam-se as atividades de polícia judiciária, exercidas pelas polícias federal e civil, mediante colheita de informações sobre a autoria e materialidade de uma infração penal (crimes/delitos e contravenções), bem como o cumprimento de determinações das autoridades judiciárias (juiz de 1° grau, desembargador, ministros do STJ e do STF), como no mandado de prisão, na busca e apreensão de bens, na realização de perícias, etc. 
Seus atos, em regra, são documentados em inquéritos policiais, Autos de Prisão em Flagrante (APF) e Termos Circunstanciados de Ocorrência (TCO) que, uma vez encaminhados para a justiça, tem por finalidade subsidiar o exercício da ação penal por seus titulares (na ação penal pública, o Ministério Público, através da denúncia; na ação penal privada, o ofendido/vítima ou representante legal, através da queixa-crime), ao apontar indícios de autoria e materialidade. Portanto, tipicamente, a polícia judiciária exerce suas atribuições após a ocorrência do fato-crime. De outro lado, é possível que eventualmente haja uma atuação preventiva, através da orientação ao público em geral, ou em cumprimento a um mandado de prisão/busca e apreensão, no qual a simples presença do profissional inibe a ocorrência de um crime. 
Assim, vale ressaltar que também no exercício da atividade de polícia judiciária são realizadas ações de busca pessoal, veicular ou domiciliar, pois constituem procedimentos aptos a instruir a colheita de informações sobre a materialidade e autoria de uma infração penal (crime/delito, contravenção penal), quando instaurado um inquérito policial ou ainda para cumprir uma determinação judicial, no sentido de subsidiar uma instrução criminal, após a instauração de um processo penal. 
1.2.2 Ações dos Corpos de bombeiros militares, guardas municipais, órgãos ou entidades executivos de trânsito 
Conforme você estudou anteriormente, as instituições de segurança pública recebem atribuições diversificadas. No caso em apreço, cumpre destacar as ações de socorro, fiscalização de trânsito, segurança viária, assistência às populações, reforço aos demais órgãos nas atividades de saúde, fiscalização tributária, sanitária, dentre outras. 
Os corpos de bombeiros militares exercem atividades de defesa civil, buscas, salvamento, socorros, prevenção e combate ao incêndio. Tais ações são desenvolvidas em caráter preventivo, repressivo imediato e repressivo mediato, sendo estas realizadas em casos de incêndio, através da perícia. 
Às guardas municipais cabem a proteção de bens, serviços e instalações dos municípios, na forma da lei (CF/88, ART. 144, § 8°). Em 08 de agosto de 2014 entrou em vigor a Lei n° 13.022. 
Saiba mais
A referida lei tem caráter de norma geral, editada no âmbito do Congresso Nacional, podendo cada município, através de suas respectivas câmaras de vereadores, editar normas específicas, a fim de criar guardas municipais, observando a norma geral em destaque. 
Quanto à fiscalização de trânsito e à segurança viária, põe-se em destaque a entrada em vigor da Emenda Constitucional n° 82/2014, conferindo preocupação do tema à segurança pública: 
Art. 144. ... [...] 
§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 82, de 2014);
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e (Incluído pela Emenda Constitucional nº 82, de 2014);
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades executivos e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 82, de 2014);
Aula 2 - Restrições constitucionais sobre a atuação policial 
Você já deve ter ouvido bastante sobre a violência policial. Então, aqui vai uma pergunta: a polícia é violenta? 
2.1. Autorização social para o exercício da violência legítima em benefício da paz social 
Porto (apud OLIVEIRA; SANTOS E SILVA, 2001, p. 33) destaca a ideia de Max Weber (1968) no sentido de que o Estado, por seus agentes policiais, detém o monopólio da violência legítima. 
Violência: Do latim, violência remete a vis, que significa força, vigor, emprego de força física, recursos do corpo para exercer a sua força vital, seja para dominar a natureza, outra pessoa ou grupo de pessoas (FOUCAULT, 2004).
Para que você possa compreender otermo violência legítima, imagine as situações a seguir: 
Situação 01
Imagine uma situação em que você tem que efetuar uma abordagem e mesmo depois de exaustiva negociação o autor da conduta resiste fisicamente à sua legítima atuação, a ponto de querer ofender sua integridade física, exigindo a prisão.
Você conseguiria cumprir sua função sem usar a força?
Assim, para que o Estado cumpra o papel de promover o bem comum, a violência (uso da força) legítima surge como instrumento que tem o objetivo precípuo de estabelecer ou preservar uma sociedade pacificada, o controle social. Na verdade, a conotação dada a essa violência (uso da força) é a de que ela se legitima na autorização dada pelo corpo social, através das normas jurídicas (constituição, leis, etc.), tão somente “para impedir a livre circulação da violência” entre os indivíduos “e inibir sua existência de forma difusa e/ou privatizada pelo conjunto da sociedade”. 
[...] trata-se do domínio de procedimentos fundados no direito racional, guiados por normas e regras impessoais, de caráter mais universalistas. Descumpridas essas condições, abre-se espaço para se falar em violência legítima, como características que podem indicar, além do mais, processos de desconcentração e de privatização dessa violência (Porto, 2000). 
É dentro dessas condições que se desenvolve a concretização da atuação policial, mediante o uso diferenciado da força, como elemento essencial para assegurar a ordem pública, a paz social (BITTNER, 2003, p. 128).
Situação 02
Imagine a situação na qual seja irradiada pela Central de Operações uma denúncia de que três indivíduos, em um veículo automotor, estejam praticando vários roubos em comércio de uma região, mediante uso de uma arma de fogo. Em dado momento, uma viatura se depara com um veículo com as exatas características transmitidas pela Central.
O que você, profissional de segurança faria? Abordaria? E como faria isso?
Agora, partindo das situações anteriormente apresentadas, reflita sobre as questões a seguir. Os excessos na atuação policial, frequentemente, são objetos de severas críticas que, invariavelmente, vinculam-nos à falta de preparação. 
De outro lado, empregando o adágio “a polícia é uma presença que incomoda, mas, principalmente, uma ausência sentida”. 
Sabe-se que o uso da força, a abordagem, ou a efetivação de uma prisão, constituem procedimentos necessários para se alcançar os objetivos dos órgãos policiais, para proteger pessoas e bens, assegurando um ambiente social livre de riscos e perigos.
Pensando na sua realidade e experiência profissional, qual sua ideia a respeito?
Você acredita que seja possível minimizar e até eliminar as críticas sobre a legitimidade de uma intervenção policial? 
2.2. Natureza e distinção entre direitos e garantias fundamentais 
Muitas vezes, quando em atuação, os profissionais de segurança pública escutam o seguinte comentário sobre direitos e garantias individuais: 
Mas onde estão escritos?
Para saber identificar o que realmente é direito e o que é mera alegação infundada, a partir de agora você estudará as bases do tema direitos e garantias fundamentais. Por meio delas, espera-se criar condições para que você possa compreender a razão pela qual tanto se fala em limitações constitucionais à atuação policial e o porquê de sua existência.
Importante!
É importante que você, profissional de segurança pública, conheça as regras que envolvem suas ações para que ninguém, além da lei, diga o que você deve e o que não deve fazer. A lei é quem traça suas ações. 
Toda vez que você, policial, agente aplicador da lei, for realizar algum procedimento, precisará observar que seu comportamento se vincula ao atendimento dos limites legais. 
Empregando os ensinamentos do Professor Paulo Gonet Branco (2008), é bom dizer que os direitos e garantias fundamentais constituem um núcleo, um conjunto de regras e princípios que visam proteger a dignidade da pessoa humana. 
De uma forma bem geral, pode-se dizer que os direitos representam por si bens, isto é, algo que pertence ao patrimônio (material ou imaterial) de alguém ou tem como objeto imediato um bem específico da pessoa (vida, honra, liberdade, integridade física, etc.). 
As garantias correspondem a instrumentos postos à disposição dos indivíduos para assegurar os direitos e limitar os poderes do Estado (habeas corpus, habeas data, mandado de segurança, direito de petição). 
Você conhece as regras diretamente ligadas à nossa atuação? Por que não posso mais “prender” uma pessoa e levar à delegacia para averiguação, se a minha intuição diz que contra ela pode existir um mandado de prisão expedido? O delegado precisa do mandado de prisão para recolhê-la? Onde exatamente está escrito isto? Todos sabem que aquela pessoa é criminosa e cometeu ato delituoso grave em que o autor ainda não havia sido preso. Posso abordá-la na rua e levá-la para casa? 
Saiba mais
Vários são os dispositivos contidos no art. 5º da Constituição que comportam as definições estudadas por você anteriormente, sendo de suma importância a leitura, entendimento e aplicação durante o exercício das ações de segurança. 
Uma curiosidade se destaca em face do conteúdo do caput do art. 5º. Releia o trecho a seguir: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
Observe que, em um primeiro momento, ele dá a entender que os destinatários da proteção jurídica e material são apenas os brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil. Porém, é bom que fique claro que os estrangeiros em trânsito no território nacional também são beneficiários dessa tutela estatal brasileira. Esse entendimento decorre da interpretação dada aos artigos 1°, 3°e 4°da Constituição, de onde se destacam a dignidade da pessoa humana, a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a promoção do bem comum, sem preconceitos de origem raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação e, em especial, a prevalência dos direitos humanos nas suas relações internacionais. 
A existência de direitos e garantias fundamentais na Constituição tem sua razão de ser centrada na magnitude (dimensão) dos valores mais caros da existência humana que, por isso, devem estar resguardados em um documento jurídico supremo e com força vinculante máxima, tornando-se imune aos temperamentos ocasionais de quem ocupa o centro do poder, bem como das instabilidades políticas, religiosas, econômicas e sociais. 
E para que essa concepção seja efetiva, os direitos fundamentais na Constituição vinculam a atuação do Estado, de seus Poderes e de seus órgãos. Circunstância que impede a interpretação de que constituem simples limitações dos poderes, passíveis de serem alterados ou suprimidos ao talante desses, sob o mero argumento de vigorar o interesse do Poder Público na consecução de seus fins. 
Saiba mais
Os órgãos públicos que constituem a administração pública (dentre eles, os da segurança pública) estão vinculados às normas de direitos e garantias fundamentais, pelo que seus agentes devem agir, interpretar e aplicar as leis segundo ao que se dita. 
Em outras palavras, a atividade do poder público não pode deixar de respeitar os limites que lhe acenam os direitos e garantias fundamentais. Em especial, destacam-se as atividades discricionárias da administração, cuja margem de liberdade abre um leque de possibilidades na atuação do agente público, de acordo com os juízos de oportunidade (agora ou depois) e conveniência (bom ou ruim), como ocorre na abordagem policial, pautada eventualmente na fundada suspeita. 
2.2.1. Direito de ir, vir e permanecer
No texto de contextualização, disponível na apresentação, você leu o questionamento:
É certo dizer que as pessoas não podem ficar nas esquinas sem fazer nada até tarde da noite? Será que é isso mesmo?
Para responder a essas questões, é necessário verificar que um dosdireitos fundamentais mais afetados com a intervenção estatal, em especial, por meio da atuação dos órgãos de segurança pública, durante uma busca pessoal, no exercício do dever-poder de polícia (vide Módulo 2), é o direito de ir, vir e permanecer.
Isso porque a CF/88 em seu art. 5º, inciso XV, foi clara ao dizer que: “é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”. Com efeito, não havendo flagrante delito nem outra restrição legal, é perfeitamente possível a permanência das pessoas nas esquinas até tarde da noite. 
Você tem ideia da magnitude, da importância e do relevo que contorna esse direito fundamental? 
A resposta perece simples, mas na prática não o é. Perceba que com a liberdade a pessoa pode desenvolver-se em várias dimensões (física, espiritual, educacional, religiosa, política, etc.). E um dos aspectos dessa liberdade é o direito de locomoção (direito de ir, vir e permanecer), que permite ao cidadão a possibilidade de movimentar-se por todos os espaços públicos e privados na busca de integrar-se com sua sociedade, com sua família, com o poder público, seja para emprego, educação, saúde ou lazer, dentre outros aspectos da vida em sociedade. 
Vale lembrar que isso tudo faz parte da dignidade da pessoa humana, ponto de partida desse estudo, que na Constituição de 88, ao Estado compete proteger e estimular o seu pleno exercício, porque para isso foi concebido. 
Dessa forma, considerando os aspectos fáticos, a abordagem policial deve ser realizada no tempo estritamente necessário para que seja verificada eventual suspeita. Assim, caso não haja nada que vincule o cidadão abordado a algum fato considerado crime, este deve ser liberado imediatamente, desde que não haja outra providência a ser adotada (orientação geral, notificação de trânsito, etc.). 
De outro lado, caso criança ou adolescente não estejam acompanhadas de seus pais, normalmente após às 22h00 (depende da decisão judicial da vara da infância ou legislação local), devem ser encaminhadas para as respectivas residências e apresentadas aos pais ou responsáveis e, na ausência destes, ao Conselho Tutelar. 
2.2.2. Súmula vinculante e atuação policial
Outras questões comentadas no meio policial, são as que se referem ao emprego de algemas e acesso aos autos do inquérito policial por advogado. As questões chegaram a um nível de discussão, ao ponto de serem sumuladas pela Corte Máxima Brasileira, o Supremo Tribunal Federal. E aí fica a indagação:
Por que tenho que cumprir a súmula do STF sobre uso das algemas ou a que se refere ao acesso aos autos de um procedimento apuratório por advogado?
Para responder a esta pergunta, basta promover a leitura do art. 103-A da CF/88:
Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal,bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) (Vide Lei nº 11.417, de 2006).
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) 
Com especial atenção ao exercício dos procedimentos de abordagem policial, em 13 de agosto de 2008 o STF aprovou no Plenário o enunciado de Súmula Vinculante nº 11, que discorre sobre o uso de algemas: 
Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. 
Outra questão que merece ser estudada é aquela que trata do acesso aos autos do inquérito policial, conforme previsto na Súmula Vinculante nº 14, que diz respeito às ações de repressão imediata e mediata no âmbito da polícia judiciária:
É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. 
Como se vê, cumpre destacar que esse direito é dirigido apenas ao defensor, advogado inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, devidamente constituído pelo representado.
2.2.3. Relatividade dos direitos e garantias fundamentais
Lembra-se do que está previsto no caput do art. 144 da Constituição de 1988?
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: 
Até aqui já está mais do que claro o porquê a segurança pública ser dever do Estado. Mas, e a frase... “Responsabilidade de todos”? O que isso significa dizer? 
Em algum momento de seus ensinamentos durante um curso de formação, de aperfeiçoamento, especialização ou em qualquer outro, você já deve ter ouvido falar do chamado contrato social. Trata-se de uma teoria construída por diversos pensadores (Thomas Hobbes, John Locke, Jacques Rousseau) a qual explica os caminhos pelos quais os membros de uma sociedade se unem para formar um Estado, a fim de atingir um bem comum. 
Dentro dessa concepção são estabelecidas uma ordem, um conjunto de regras, um regime político (no Brasil, a democracia), um governante, a concessão e o reconhecimento da autoridade do Estado, de seus Poderes e de seus órgãos. 
Naturalmente, como em todo e qualquer contrato, em que se fixam cláusulas para se alcançar uma finalidade, as partes estabelecem direitos, deveres, encargos, obrigações, responsabilidades. Não é diferente no contrato social, firmado, geralmente através de uma constituição escrita e da legislação regulamentar. Assim, para se fazer parte desse contrato social, com benefícios que lhes são assegurados, cada indivíduo deve abrir mão de certas liberdades para que o Estado ou autoridade delegada tenha condições de estabelecer a ordem social. 
Importante!
O importante é que você compreenda a relatividade dos direitos e garantias fundamentais, como parte dos deveres, encargos, obrigações e responsabilidades de cada indivíduo que compõe a sociedade, reconhecendo e se submetendo à autoridade estatal, para que seja alcançado o bem comum. 
Assim, você deve saber que os direitos e garantias fundamentais não tem feição absoluta, nem são considerados intangíveis ou intocáveis a todo o momento. 
Isso porque, pelo Brasil ser um Estado de Direito, todos os membros da sociedade se submetem à lei, não podendo, dessa feita, se valer de direitos e garantias fundamentais para a prática de ilícitos, bem como se esquivar de uma eventual responsabilidade pecuniária,civil ou penal. Do contrário, os princípios estatuídos nas normas constitucionais estariam relevados à extinção material, uma verdadeira ruína, de anos de evolução da história humana. 
Refletindo
Pense na hipótese em que todas as pessoas não abrissem mão de suas liberdades e viessem a praticar condutas sem limites, como conduzir veículo aonde bem quisesse ou invadir a residência de qualquer pessoa sem o consentimento do morador. Uma reação em cadeia, geraria conflitos sem precedentes, culminando com a extinção de cada pessoa. 
Para o bem da humanidade, você sabe que não é assim que funciona. Até hoje o ser humano existe porque o direito impõe limites na prática de condutas, nas relações sociais, enfim, no exercício de direitos. A isso Moraes (2007) chama de princípio da relatividade ou convivência das liberdades públicas, traduzindo, em suma, a ideia de que os direitos e garantias fundamentais consagrados na Constituição de 1988 não são ilimitados, encontrando restrições nos demais direitos estatuídos nessa Lei Maior.
Daí porque o Estado assume a posição de regulador de condutas em sociedade, notadamente no campo da segurança pública. Ética, valores morais, bom senso, direitos e deveres previstos na Constituição e nas leis. 
Importante!
Aqui importa destacar o dito popular: “o seu direito acaba onde começa o dos outros”. Vida, liberdade, integridade física, patrimônio, honra, etc. Em outras palavras, cada pessoa ao ser detentora de direitos, deve ter a consciência de que os exercerá observando a ética, valores morais, o bom senso, em especial, os direitos dos outros. Em Direito Constitucional chama-se a isso de eficácia horizontal dos direitos fundamentais. 
2.2.4. Dignidade da pessoa humana
Diversas vezes você ouviu falar sobre a dignidade da pessoa humana. E lógico, já deve ter se perguntado:
O que seria isso?
Não é a preocupação aqui estabelecer a exata definição dessa expressão, “dignidade da pessoa humana”, devido a imprecisão que os estudiosos apontam, já que existem diversas discussões sobre o tema, com diferentes opiniões e teorias. Mas, não se pode fugir da necessidade de se ter uma noção geral e comum a seu respeito.
Trata-se de um princípio base do sistema jurídico pátrio, previsto no Pacto de São José da Costa Rica (Convenção Americana de Direitos Humanos) e consagrado pela Constituição de 1988, no qual o Estado, Poderes e órgãos devem plena observância. Em suma, sua ideia central consiste na possibilidade de se assegurar o mínimo existencial à pessoa humana, sob o aspecto moral e material. 
Mas, você deve estar se perguntando: então, quando se considera que o princípio da dignidade da pessoa humana é respeitado? 
Uma resposta aceitável é aquela em que a atuação estatal defere respeito aos valores morais e éticos, à liberdade, intimidade, proporcionando ainda a garantia de assistência material mínima (moradia, alimentação, educação, saúde, segurança, lazer, etc.) e essencial à satisfação das necessidades básicas de cada pessoa. Em suma, essa é a ideia por trás dos direitos e garantias fundamentais contidos na Constituição Federal de 1988. 
A nós, profissionais de segurança pública, cabe exatamente a parcela que diz que respeito à segurança e, nisto, temos fundamento para nossa existência. 
2.2.5. Conflito entre o cumprimento do dever e o respeito aos direitos fundamentais – princípio da proporcionalidade (ponderação de valores)
Um debate que se levanta normalmente é o que diz respeito ao conflito durante o exercício da atividade de controle social pela polícia e a observância dos direitos em um regime de domínio político do povo - democracia (SKOLNICK,1994, p. 6). Ao pesquisar sobre o tema, Costa (2004, p. 37) lembra que Skolnick chamou a isso de dilema entre a lei e a ordem. 
Em outras palavras, trata-se de verdadeira “tensão entre emprego da força e respeito aos direitos individuais e coletivos” (LEMGRUBER; MUSUMECI; CANO, 2003, p. 23). Ou seja, um conflito entre o dever que as polícias têm de manter estáveis as relações e o comportamento dos indivíduos em sociedade, empregando o seu poder coercitivo, e a observância ao conjunto de leis e códigos de conduta da instituição policial. 
É nesse momento que entra a discussão sobre a atuação discricionária (juízo de oportunidade e conveniência), no cumprimento do dever de preservar a ordem, proteger pessoas e bens, em especial durante abordagem policial, com eventual uso da força. A questão é crucial. 
Refletindo
Pense na hipótese em que duas posições defendidas pelos direitos fundamentais entram em choque. De um lado o direito de ir e vir e de outro a incolumidade pública. Nesse sentido, o Professor Paulo Gonet (2008) indaga:
Pode uma prostituta invocar o direito de ir e vir para justificar pedido de salvo conduto que lhe assegure fazer o trottoir* ?
*o caminhar que as prostitutas fazem quando ficam a espera do cliente 
Tendo por base essa questão, o profissional de segurança pública, diante de eventual conflito de direitos fundamentais, deve promover um juízo de valor, principalmente frente a uma fundada suspeita, ou seja, uma ponderação de valores que se assenta sobre o princípio da proporcionalidade, que abrange três critérios: 
· A adequação exige que as medidas interventivas, adotadas pelo policial, sejam aptas a atingir os objetivos pretendidos.
· A necessidade, também conhecida por exigibilidade, diz respeito à escolha, dentre os vários meios existentes, do menos gravoso para o indivíduo sujeito à atuação estatal.
· A proporcionalidade em sentido estrito constitui um juízo definitivo da medida sobre o resultado a ser alcançado, ponderando-se a intervenção e os objetivos perseguidos, sobre o fundamento do equilíbrio entre um e outro. Essa análise deve ser formulada no caso concreto. É preciso verificar os fatos, suas variáveis. 
Para facilitar a compreensão do que você está estudando, faça o exercício a seguir:
Exercício
Não restam dúvidas quanto ao dever de agir, a fim de cumprir o papel constitucional de dar segurança à população. Dentro desse contexto, ao avaliar, os acontecimentos que exijam uma intervenção policial, com todo seu rigor técnico, o desenvolvimento das ações, mesmo que alimentado pela discricionariedade, deve ser feita uma ponderação, isto é, responder aos quesitos da necessidade, adequação e proporcionalidade. Agindo assim, a legitimidade das atividades será alcançada, assegurando a todos os cidadãos um agir eficiente do aparato da segurança pública, mostrando-se compatível com a dignidade da pessoa humana, com o devido respeito aos direitos e garantias fundamentais.
Sobre a regulação da discricionariedade no âmbito dos órgãos de segurança pública, através da ponderação, é importante destacar o que estabelece a lei que fala sobre o emprego dos instrumentos de menor potencial ofensivo que no art. 2º estabelece (Lei nº 13.060, de 22 de dezembro de 2014): 
Art. 2o Os órgãos de segurança pública deverão priorizar a utilização dos instrumentos de menor potencial ofensivo, desde que o seu uso não coloque em risco a integridade física ou psíquica dos policiais, e deverão obedecer aos seguintes princípios:
I - legalidade;
II - necessidade;
III - razoabilidade e proporcionalidade.
Parágrafo único. Não é legítimo o uso de arma de fogo:
I - contra pessoa em fuga que esteja desarmada ou que não represente risco imediato de morte ou de lesão aos agentes de segurança pública ou a terceiros; e
II - contra veículo que desrespeite bloqueio policial em via pública, exceto quando o ato represente risco de morte ou lesão aos agentes de segurança pública ou a terceiros. 
2.2.6. Responsabilidade do Estado decorrente da atuação policial
O profissional de segurança pública, para agir, tem que observar todas as regras já mencionadas e ainda assim estará sujeito a um controle do Estado. 
Por que isto ocorre? Por que o ministério público e as Corregedorias atuam? O que acontece se eu, profissional de segurança pública, ou um familiar meu for vítima de excessos de um agente do Estado, que não entendeu ou simplesmente violou os limitesde sua ação? 
Em um regime democrático, o controle sobre as atividades das polícias é consentâneo com suas diretrizes, na busca de atingir um equilíbrio entre o emprego da força e o respeito aos direitos individuais e coletivos. Então, põem-se em evidência os instrumentos de controle da atividade policial, como forma de participação da sociedade civil nas decisões sobre a maneira de atuação dos órgãos de segurança pública, de acordo com suas necessidades e anseios. 
Tais instrumentos são voltados para vigilância, orientação e correção da atuação dos policiais, visando confirmá-la ou desfazê-la, conforme seja ou não legal, conveniente, oportuna e eficiente, seja nas ouvidorias dos Estados, seja no âmbito do Ministério Público, Poder Judiciário, ou órgãos de defesa dos direitos humanos, organismos não governamentais ou nas casas legislativas (LEMGRUBER; MUSUMECI; CANO, 2003, p. 121). 
Dentro desse contexto surge a responsabilização, ao lado da transparência e do controle como mecanismos de accountability (COSTA, 2004, p. 63) da atividade policial, destinados a prevenir ou superar a eventuais desvios praticados por seus agentes durante a atuação. 
Com efeito, na atuação estatal eventualmente, o agente público pode exceder nos limites de suas atribuições, causando danos às pessoas ou à sociedade em geral. Nesse sentido, quando não são observados os direitos e garantias fundamentais, quando o juízo de ponderação de valores (adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito) não se cumpre, gerando danos morais e/ou materiais às pessoas, o Estado, por seus agentes, pratica ato ilícito (CF/88, art. 37, § 6º; Código Civil, arts. 43, 186, 187 e 927). 
2.2.7. Responsabilidade do agente público na prática de atos ilícitos
Das ideias discorridas anteriormente, uma indagação surge: 
Não seria injusto para a sociedade suportar os prejuízos de uma responsabilidade civil, quando foi o agente público quem deu causa de forma intencional ou sem a observância dos cuidados mínimos exigidos?
Sim, seria. Por isso o art. 37, § 6º, da CF/88, garante o direito de regresso sobre o servidor público, ou seja, se ele praticou ato ilícito de forma dolosa ou culposa, resultando na responsabilidade civil do Poder Público, e esse venha a arcar com os prejuízos, o Estado poderá buscar as medidas cabíveis para repassar esse encargo àquele que deu causa, assegurando, assim, a justiça. 
Cabe salientar que o direito de regresso não comporta prazo prescricional (perda da possibilidade de se cobrar o prejuízo em face do decurso do tempo), conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça – STJ no Resp. nº 328.391 – DF, julgado em 08.10.2002 e publicado no DJ de 02/12/2002. 
Por fim, é possível ainda que o servidor público, além de responder diante de uma ação regressiva, de natureza cível, venha a ser submetido a um processo por ato de improbidade, processo administrativo disciplinar ou criminal, por ter excedido em suas atribuições, sem que isso importe em dupla punição (bis in idem), a qual somente ocorre na mesma esfera, conforme você estudará no Módulo 3. 
Aula 3 - Reflexos das normas internacionais na atividade policial 
Dentro da concepção que você estudou até aqui, cabe dizer que o Estado brasileiro é regido nas suas relações internacionais, dentre outros: 
· pelos princípios da prevalência dos Direitos humanos; 
· defesa da paz; 
· solução pacífica dos conflitos; 
· repúdio ao terrorismo e ao racismo; 
· cooperação entre os povos para o progresso da humanidade. 
Assim, os direitos e garantias fundamentais expressos na Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou contidos em tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte (CF/88, art. 5º, § 2º). Sendo possível, ainda, os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos, aprovados no Congresso Nacional, assumirem o status de emendas constitucionais, i.e., acima das demais leis, desde que observe os requisitos fixados no §3º, art. 5º, da CF/88. 
Pesquise...
Você sabe o que são: Tratados internacionais? Convenções? Atos internacionais em geral? Antes de prosseguir, visite a página do Ministérios das Relações Exteriores e busque as respostas paras essas perguntas. 
Feita a pesquisa recomendada, você deve ter chegado à conclusão de que tais tratados, convenções, dentre outros atos internacionais, devidamente aprovados passam a integrar o conjunto de normas do Brasil, devendo, portanto, serem observados por todos, inclusive pelos profissionais de segurança pública durante o exercício de suas atribuições. 
Veja, a seguir, alguns desses principais documentos. 
Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH) - Pacto de São José da Costa Rica
A Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH) é fruto de um acordo internacional firmado em 22 de novembro de 1969 durante a Conferência Especializada Interamericana de Direitos Humanos, entre os países que compõem a Organização dos Estados Americanos (OEA), da qual o Brasil faz parte. Esse acordo foi subscrito na cidade de San José da Costa Rica, razão pela qual também é conhecido por Pacto de São José da Costa Rica.
Como fundamento do Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos, a CADH entrou em vigor em 18 de julho de 1978. Entretanto, somente em 09 de novembro de 1992 passou a integrar a ordem jurídica brasileira, através do Decreto n° 678, após ter sido aprovada pelo Senado Federal em 26 de maio de 1992, através do Decreto-Legislativo n° 27. Com efeito, o Pacto de São José da Costa Rica vincula as ações dos órgãos policiais no Brasil.
Ao realizar a leitura de seus 81 artigos, você pode verificar que o Pacto de São José da Costa Rica contém cláusulas que reconhecem direitos fundamentais da pessoa humana, tais como o direito à vida, à liberdade, à dignidade, à integridade pessoal e moral, à educação, dentre outros de mesma natureza. Destacam-se as garantias judiciais, reconhecimento da liberdade de pensamento e expressão, proibição da servidão humana, reconhecimento da liberdade de consciência e religião, bem como da liberdade de associação e de proteção à família.
Cabe salientar que, dentro do Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos, diante de eventual omissão ou abusos violadores aos Direitos Humanos, o Pacto de São José prevê que os Estados Partes podem ser julgados e condenados perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos. O Brasil foi condenado nos seguintes casos:
· Ximenes Lopes vs. Brasil, de 4 de julho de 2006;
· Escher e outros vs. Brasil, de 6 de julho de 2009;
· Garibaldi vs. Brasil, de 23 de setembro de 2009; e,
· Gomes Lund e outros vs. Brasil, de 24 de novembro de 2010. 
Diante disso, é importante deixar claro que toda e qualquer ação praticada por um profissional de segurança pública, violadora dos direitos humanos, pode resultar na Condenação do Brasil, como ocorreu nos casos acima elencados.
Documentos internacionais produzidos no âmbito da ONU sobre a atuação policial
No Estado democrático vivenciado no Brasil, atualmente é possível perceber que o povo exige muito mais do Estado do que uma simples prestação de serviços, em especial no âmbito da segurança pública. Em outras palavras, cada pessoa espera que o Poder Público satisfaça suas necessidades de acordo com suas expectativas e o faça de maneira correta, sem causar danos nem transtornos desnecessários. 
Essa questão ultrapassou as fronteiras dos países, tendo sido objeto de atenção no âmbito internacional. Nesse sentido, destaca-se o reconhecimento das Organizações das Nações Unidas (ONU) sobre a natureza do trabalho policial na sociedade, no sentido de ser difícil e delicado, já que interferem em assuntos de alta sensibilidade durante o controle social, tais como a vida, liberdade, integridade física, patrimônio. E por isso expressam a preocupação com as condições de trabalho do policial e, por consequência, com a repercussão sobre o uso da força. 
Com efeito, a ONU considera necessária a adoção de uma série de medidas por parte dos paísespara disponibilizar aos agentes aplicadores da lei instrumentos adequados no exercício de suas funções, incluindo mecanismos que controlem o emprego desnecessário e excessivo da força na solução de conflitos sociais. 
Dentro desse contexto, veja, a seguir, alguns Documentos internacionais produzidos pela ONU sobre a atuação policial. Vale ressaltar que eles não têm natureza de tratado, convenção ou pacto. Na verdade, constituem atos que elencam recomendações sobre a atuação no campo da segurança, que podem ser adotados pelos países. 
· Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo
Em 07 de setembro de 1990, durante o 8° Congresso das Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime e o Tratamento de Infratores, foram elaborados Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo.
Vale ressaltar que ele inspirou a edição da Portaria interministerial n° 4.226, de 31 de dezembro de 2010, ao dispor sobre o uso diferenciado da força no Brasil. 
Código de conduta para os agentes responsáveis pela aplicação da lei
Quem de nós chegou a um hospital ou posto de saúde e deixou de receber o tratamento que esperava do profissional que nos atendeu? 
O profissional aferiu nossa pressão, ministrou os remédios necessários, mas sempre com nítida má vontade e grosseria em suas ações e lida com o paciente. O serviço foi prestado, mas não ficamos satisfeitos pela forma com que fomos tratados. 
Assim, é possível concluir, que a forma como os servidores desenvolvem suas funções é tão importante quanto o trabalho em si. Nesse sentido, no caso dos profissionais de segurança pública, também é essencial que a conduta seja adequada e em conformidade com as leis e os atos que disciplinam as suas atividades. 
No que diz respeito às atividades dos órgãos policiais, essa questão merece especial distinção, pois, conforme já estudado nesse curso, seus profissionais possuem um alto grau de discricionariedade no exercício de suas tarefas (diferente do exemplo da saúde acima mencionado), com destaque para a privação da liberdade de um indivíduo, através de uma busca pessoal, podendo ensejar o uso da força. 
Nesse cenário, a Assembleia Geral das Nações Unidas editou um instrumento, através da Resolução n° 34/169, de 17 de dezembro de 1979, denominado Código de conduta para os agentes responsáveis pela aplicação da Lei. Por meio desta resolução, o Código de Conduta foi transmitido aos governos com a recomendação de que uma consideração favorável fosse dada no que se refere à sua utilização dentro da estrutura da legislação ou prática nacional como um conjunto de princípios a serem observados pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei. Não é um tratado, mas pertence à categoria dos instrumentos que proporcionam normas orientadoras aos governos sobre questões relacionadas com direitos humanos e justiça criminal. Vale a pena conferir seus artigos: 
Artigo 1.º Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem cumprir, a todo o momento, o dever que a lei lhes impõe, servindo a comunidade e protegendo todas as pessoas contra atos ilegais, em conformidade com o elevado grau de responsabilidade que a sua profissão requer. 
Artigo 2.º No cumprimento do seu dever, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar e proteger a dignidade humana, manter e apoiar os direitos fundamentais de todas as pessoas.
Artigo 3.º Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem empregar a força quando tal se afigure estritamente necessário e na medida exigida para o cumprimento do seu dever.
Artigo 4.º As informações de natureza confidencial em poder dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem ser mantidas em segredo, a não ser que o cumprimento do dever ou as necessidades da justiça estritamente exijam outro comportamento.
Artigo 5.º Nenhum funcionário responsável pela aplicação da lei pode infligir, instigar ou tolerar qualquer ato de tortura ou qualquer outra pena ou tratamento cruel, desumano ou degradante, nem invocar ordens superiores ou circunstanciais excepcionais, tais como o estado de guerra ou uma ameaça à segurança nacional, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência pública como justificação para torturas ou
Artigo 7.º Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem cometer qualquer ato de corrupção. Devem, igualmente, opor-se rigorosamente e combater todos os atos desta índole. 
Artigo 8.º Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar a lei e o presente Código. Devem, também, na medida das suas possibilidades, evitar e opor-se vigorosamente a quaisquer violações da lei ou do Código. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei que tiverem motivos para acreditar que se produziu ou irá produzir uma violação deste Código, devem comunicar o facto aos seus superiores e, se
Regras Mínimas para o Tratamento de Presos
As Regras Mínimas para o Tratamento de Presos (RMTP) foram adotadas pelo Primeiro Congresso das Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes, realizado em Genebra em 1955, e aprovadas pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas através das suas resoluções 663 C (XXIV), de 31 de Julho de 1957 e 2076 (LXII), de 13 de Maio de 1977, Resolução 663 C (XXIV) do Conselho Econômico e Social. 
Trata-se de ato internacional que discorre sobre os vários instrumentos relativos à detenção de pessoas, delimitando a atuação dos agentes responsáveis pela segurança, a fim de garantir a tutela dos direitos humanos, sem descuidar do papel de promover a ordem. 
A segurança pública é causa da ordem pública, que se traduz em um estado antidelitual, livre, portanto, da violação dos bens e valores mais importantes para a coletividade (vida, integridade física, liberdade, patrimônio, etc.) e, por isso, tutelados pelas leis, que regulam o comportamento de todos.
As ações desenvolvidas pelos órgãos policiais buscam promover o controle social no sentido de evitar (prevenir) a perturbação da ordem pública, a mácula da paz social, a violação dos bens jurídicos tutelados (vida, integridade física, patrimônio, etc).
Quando essa prevenção não funciona, surgem os procedimentos de resgate da ordem pública e da paz social, mediante ações de repressão imediata. A repressão mediata consolida os atos complementares da colheita de informações. 
As ações preventivas e de repressão imediata são desempenhadas através de procedimentos de distribuição de efetivo em locais em que, após o devido planejamento, guardem algum potencial para a ocorrência de fatos que venham a abalar a paz social, a ordem pública (LAZZARINI, 1998).
Quando alguma ação policial é considerada ilegítima, fora dos parâmetros do uso legítimo da força, tem-se como incompatível com o estado democrático de direito. É importante que você, profissional de segurança pública, conheça as regras que envolvem suas ações para que ninguém, além da lei, diga o que você deve e o que não deve fazer. A lei é quem traça suas ações.
Os órgãos públicos que constituem a administração pública (dentre eles, os da segurança pública) estão vinculados às normas de direitos e garantias fundamentais, pelo que seus agentes devem agir, interpretar e aplicar as leis segundo ao que se dita.
O profissional de segurança pública, para agir, tem que observar todas as regras já mencionadas e ainda assim estará sujeito a um controle do Estado. 
O Estado brasileiro é regido nas suas relações internacionais pelos princípios da prevalência dos direitos humanos, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos, repúdio ao terrorismo e ao racismo, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade, dentre outros.
Os tratados, convenções, dentre outros atos internacionais, devidamente aprovados passam a integrar o conjunto de normas do Brasil, devendo, portanto, serem observados por todos, inclusive pelos profissionais de segurança pública durante o exercício de suas atribuições. 
Módulo 2 - Atuação Policial: da prevenção às ações de resgate da paz social e instrução criminal 
Apresentação doMódulo
Ao se falar em abordagem, normalmente, se pensa na intervenção policial com o fim de se promover uma busca em uma pessoa suspeita de praticar uma infração penal. 
O que ampara a realização de uma busca pessoal durante um evento esportivo, intensificação de policiamento ou uma manifestação, sendo que não há notícia de crime ocorrendo? 
Neste módulo você terá a oportunidade de estudar os principais instrumentos previstos na legislação infraconstitucional brasileira que fundamentam o procedimento da atuação policial, englobando a busca pessoal, veicular e domiciliar 
Ao aproveitar os ensinamentos do Módulo I, que cuidou dos aspectos constitucionais e dos atos internacionais aplicados à atuação policial, a intenção agora é agregar e fazer uma ligação com os princípios e regras de direito administrativo, de direito processual penal e legislação correlata que disciplinam as atividades acima mencionadas, seja para preservar a ordem pública, seja para proporcionar às pessoas um ambiente social livre de riscos e perigos ou ainda subsidiar uma instrução criminal, com o objetivo de resgatar a paz social. 
Objetivos do módulo
Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de: 
· Identificar as principais normas administrativas, processuais e demais atos legais que tratam das ações de preservação da ordem pública, incolumidade das pessoas e do patrimônio;
· Compreender o sentido e o alcance do ato administrativo e de seus elementos nas ações de segurança pública; 
· Compreender o sentido e o alcance do dever-poder de polícia e de seus atributos nas ações de segurança pública; 
· Apontar os fundamentos para a realização da atuação policial como fator de prevenção, justificando a busca pessoal e veicular, independente da existência de uma infração penal em concreto;
· Aplicar os fundamentos objetivos da fundada suspeita, que justifiquem a realização de uma busca pessoal;
· Identificar os elementos da busca veicular e domiciliar para fins de prevenção e repressão;
· Reconhecer quando há necessidade em abordar; 
· Saber explicar o porquê da abordagem.
Estrutura do módulo
Este módulo e formado por 4 aulas: 
· Aula 1– Breves apontamentos sobre o regime de Direito Administrativo no âmbito da segurança pública; 
· Aula 2 – O exercício do dever-poder de polícia na segurança pública; 
· Aula 3 – Atuação policial como estratégia de prevenção à violência urbana, resgate da paz social e instrumento para instrução criminal 
Aula 1 – Breves apontamentos sobre o regime de Direito Administrativo no âmbito da segurança pública 
Para iniciar seus estudos, neste módulo é oportuno retomar algumas perguntas formuladas no início desse curso:
Está errado o policial interferir no trânsito? Ou deveria somente agir para prender bandido? O policial pode abordar qualquer pessoa e quando quiser? Quem define quando o policial deve abordar? Segurança pública é coisa de polícia e não caberia ao cidadão dar a sua opinião? 
Bem, como outra questão: 
Você sabe de onde surgiu a ideia de que a palavra do policial de trânsito “vale mais do que a do autuado”? 
Além das perguntas, também é interessante que você resgate as noções básicas estudadas do Módulo 1 a respeito da finalidade do estado brasileiro, em especial quanto ao papel da segurança pública dentro daquela ideia de contrato social, firmado dentro da sociedade brasileira, a fim de criar a República Federativa do Brasil. 
Para que isso ocorra, o poder público se submete a um conjunto de princípios e regras, que são alicerçados em dois pilares: prerrogativas e sujeições (DI PIETRO, 2011, p. 61). Isso porque, para cuidar do interesse público, o Poder Público não pode se valer das regras de direito privado, com primazia na igualdade de condições entre os indivíduos. 
Conheça, a seguir, um pouco mais a respeito desses pilares: 
O que fundamenta as prerrogativas é o fato de que a supremacia do interesse público deve prevalecer sobre os interesses do particular. Isso pode acontecer através da autoexecutoriedade, autotutela, poder de expropriação, requisição de bens, ocupação temporária de bens, aplicação de sanções administrativas e, em especial, imposição de medidas policial. 
As sujeições constituem limites, como o de praticar atos desde que estejam previstos em lei (legalidade), já que, em um estado democrático de direito a vontade do povo é expressa nesse instrumento, respeitando ainda a dignidade da pessoa humana, bem como os direitos e garantias fundamentais, a fim de evitar abusos ou arbitrariedades. Daí a ideia de interesse público. Nesse sentido, para que se verifique o cumprimento dessa vontade, o ato deve ser transparente, deve ser submetido a uma prestação de contas e a um controle, podendo ser revisto ou anulado, se não atingir o interesse público. 
Ou seja... 
A atuação policial tem que estar de acordo com essas regras para que seus agentes não cometam abusos ou arbitrariedades e com isso a situação seja revertida contra eles, apontando responsabilidades destes atos arbitrários. Nesse sentido, caso isso ocorra, o policial poderá responder criminalmente pela prática de abuso de autoridade (Lei n° 4.898/1965), além ser submetido a eventual responsabilização na esfera disciplinar. Esse ponto será tratado no Módulo 3, com maiores detalhes. 
1.1 Ato administrativo (comportamento do Poder Público) 
Fala-se, assim, no regime jurídico de direito administrativo, do qual se destaca a prática de atos administrativos, para o exercício da função administrativa, tendente a atingir o interesse público. Considerando que todo profissional da área de segurança pública corresponde a um agente público e pratica atos administrativos, sendo responsável pelas suas consequências, nada mais adequado do que estudá-lo, entender sua importância e significado. Isso porque, dessa forma, você compreenderá que seu comportamento profissional tem respaldo na ordem jurídica. 
E por falar nisso, o que você entende por ato administrativo?
Ato administrativo é uma manifestação de vontade (comportamento) proferida pelo Estado e externado por agente público, ou por quem lhe faça às vezes, a fim de criar, modificar ou extinguir direitos, perseguindo o interesse público. 
Vale dizer, essa manifestação de vontade (comportamento) está sujeita ao regime jurídico público, não tendo a mesma força da lei, sendo inferior e complementar à previsão legal. Para aferir sua legitimidade, pode se sujeitar ao controle do poder judiciário, no que diz respeito à legalidade, o qual determina a anulação, nos casos em que descumprido o interesse público. 
Essa manifestação de vontade muitas vezes cumpre uma determinação legal, sendo, portanto, vinculada. Em outras palavras, abre-se um leque de opções para se realizar a manifestação de vontade, abarcando a discricionariedade. E dentro desse contexto, surge o exercício do dever-poder de polícia, conforme você estudará mais a frente. 
1.2 Elementos ou requisitos do ato administrativo 
São elementos ou requisitos do ato administrativo: 
· Competência (Sujeito) 
· Forma 
· Motivo 
· Objeto 
· Finalidade 
trata-se da capacidade do agente público de praticar o ato, conforme definido em legislação. Não havendo lei conferindo essa capacidade, o ato praticado é passível de nulidade. Nesse sentido, destaca-se a tarefa para realizar busca pessoal durante as ações de segurança pública. Em outras palavras, a lei confere aos agentes policiais essa atividade, não sendo admissível outro agente do Estado exercêla. 
1.3 Atributos ou características do ato administrativo 
São atributos ou características do ato administrativo: 
· Presunção de legitimidade 
· Autoexecutoriedade 
· Imperatividade 
· Tipicidade 
Considerando que o agente público tem o dever de praticar um ato conforme determina a lei (ex.: notificação de trânsito, busca pessoal, prisão), paira a presunção de legalidade, bem como a presunção de veracidade. Essa presunção é relativa porque admite prova em contrário, a ser demonstrada pelo destinatário do ato (cidadão), seja administrativamente (ex.: recurso contra notificação de infração detrânsito) ou judicialmente (ação de danos morais e materiais em função de uma abordagem policial ou prisão). 
Saiba mais
Os temas acima foram apresentados de forma resumida. Caso tenha alguma dúvida, você pode aprofundar os conhecimentos com uma doutrina de Direito Administrativo, pois o assunto é vasto e não se esgota com esta rápida abordagem.
Aula 2 – O exercício do dever-poder de polícia na segurança pública 
Na aula anterior você estudou que o poder público, para cumprir a tarefa de promover o bem coletivo, pratica atos respaldado em prerrogativas e é submetido a sujeições, como forma de evitar desvios ao interesse público. Dentro desse contexto, você também teve a oportunidade de estudar sobre o ato administrativo, com seus elementos e atributos. 
Ao dar mais um passo no processo de construção dos fundamentos jurídicos da atuação policial, nesta aula você estudará o dever-poder de polícia e seus atributos (características). 
2.1 O que é dever-poder de polícia 
Ao se deparar com o título, é possível que você tenha percebido algo diferente: “dever-poder de polícia”. 
Mas, não seria poder de polícia? De onde surgiu esse dever? E por que ele vem na frente do poder? 
A explicação é simples. A doutrina clássica fala em poder de polícia. Dentro da tendência de especialização e cientifização, de acordo com Celso Antônio Bandeira de Melo (2011), o Estado, antes de tudo, tem obrigações, encargos e deveres. E para tanto lhes foram disponibilizados poderes (autoridade, capacidade, domínio, faculdade, força, meios, recursos) como instrumentos para alcançar a finalidade pública 
É dentro dessa linha de raciocínio que se funda o dever-poder de polícia, consistente na imposição de limitações ao exercício da liberdade e dos elementos da propriedade (usar, gozar, fruir e reaver a posse ou detenção – Código Civil, art. 1.228) para que os membros da coletividade se mantenham ajustados aos padrões compatíveis com os objetivos do bem comum. Vale dizer, o Estado cumpre seu papel de defensor e propagador dos interesses gerais, coibindo os excessos e prevenindo as perturbações ilícitas à ordem jurídico-social (MEIRELLES, 1997, p. 115). 
Sobre o tema, Carvalho Filho (2007, p. 37) leciona que:
O poder administrativo representa uma prerrogativa especial de direito público outorgada aos agentes do Estado. Cada um desses terá a seu encargo a execução de certas funções. Ora, se tais funções foram por lei cometidas aos agentes, devem eles exercê-las, pois que seu exercício é voltado para beneficiar a coletividade. Ao fazê-lo, dentro dos limites a que a lei traçou, pode dizer-se que usaram normalmente os seus poderes. 
Assim, dentro das cláusulas do contrato social, o dever-poder de polícia corresponde à permissão social dada à administração pública para restringir o exercício de direitos individuais em benefício de toda a sociedade. Empregado com responsabilidade, trata-se de verdadeiro instrumento posto à disposição do poder público para disciplinar o exercício desses direitos e liberdades ou ainda de contê-los, diante de eventuais excessos ou da necessidade de se disciplinar determinadas relações (ex.: interdição de via pública para promoção das ações de segurança). Lembre-se que normalmente esse dever-poder estabelece condições, ou impõe restrições e limitações. 
Dentro desse contexto, é muito comum os profissionais de segurança, durante a realização de suas atribuições exercer o dever-poder de polícia para realizar detenções, seja porque ocorreu um flagrante delito, seja porque a justiça expediu um mandado de prisão decorrente de uma condenação criminal. 
Aí você pergunta, onde encontro esse dever-poder? Em qual lei? Em qual norma ou regulamento? Ou não precisa estar escrito? Estaria implícito? 
Vale ressaltar que você está estudando aqui o conceito desse instrumento de maneira ampla. Assim, para conferir clareza, precisão e ordem lógica, a matéria deve ser tratada de acordo com a atribuição de cada órgão policial. Com efeito, normalmente esse dever-poder vem descrito no ordenamento jurídico, como nos Códigos (de Trânsito, Penal, Processo Penal), legislação ambiental, de direito administrativo, ou ainda nas leis que dispõem sobre a organização de cada instituição. 
A título de exemplo, no exercício da atividade de policiamento ostensivo, essa previsão genérica do dever-poder de polícia é estabelecida no Decreto-Lei nº 667, de 02 de julho de 1969: 
Art. 3º - Instituídas para a manutenção da ordem pública e segurança interna nos Estados, nos Territórios e no Distrito Federal, compete às Polícias Militares, no âmbito de suas respectivas jurisdições: (Redação dada pelo Del nº 2010, de 12.1.1983) 
a) executar com exclusividade, ressalvas as missões peculiares das Forças Armadas, o policiamento ostensivo, fardado, planejado pela autoridade competente, a fim de assegurar o cumprimento da lei, a manutenção da ordem pública e o exercício dos poderes constituídos; (Redação dada pelo Del nº 2010, de 12.1.1983).
b) atuar de maneira preventiva, como força de dissuasão, em locais ou áreas específicas, onde se presuma ser possível a perturbação da ordem; (Redação dada pelo Del nº 2010, de 12.1.1983).
c) atuar de maneira repressiva, em caso de perturbação da ordem, precedendo o eventual emprego das Forças Armadas; (Redação dada pelo Del nº 2010, de 12.1.1983).
d) atender à convocação, inclusive mobilização, do Governo Federal em caso de guerra externa ou para prevenir ou reprimir grave perturbação da ordem ou ameaça de sua irrupção, subordinando-se à Força Terrestre para emprego em suas atribuições específicas de polícia militar e como participante da Defesa Interna e da Defesa Territorial; (Redação dada pelo Del nº 2010, de 12.1.1983).[...]
No âmbito da polícia judiciária, destaca-se o Decreto Federal nº 73.332, de 19/12/1973, que “define a estrutura do Departamento de Polícia Federal”: 
Art. 1º Ao Departamento de Polícia Federal (DPF), com sede no Distrito Federal, diretamente subordinado ao Ministério da Justiça e dirigido por um Diretor-Geral, nomeado em comissão e da livre escolha do Presidente da República, compete, em todo o território nacional: 
I - executar os serviços de polícia marítima, aérea e de fronteiras;
II - exercer a censura de diversões públicas;
III - executar medidas assecuratórias da incolumidade física do Presidente da República, de diplomatas estrangeiros no território nacional e, quando necessário, dos demais representantes dos Poderes da República; 
a) crimes contra a segurança nacional e a ordem política e social;
b) crimes contra a organização do trabalho ou decorrentes de greves;
c) crimes de tráfico e entorpecentes e de drogas afins;
d) crimes nas condições previstas no artigo 5º do Código Penal, quando ocorrer interesse da União; 
e) crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência militar;
f) crimes contra a vida, o patrimônio e a comunidade silvícola;
g) crimes contra servidores federais no exercício de suas funções;
h) infrações às normas de ingresso ou permanência de estrangeiros no País; 
i) outras infrações penais em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, assim como aquelas cuja prática tenha repercussão interestadual e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
I - executar os serviços de polícia marítima, aérea e de fronteiras;
II - exercer a censura de diversões públicas;
III - executar medidas assecuratórias da incolumidade física do Presidente da República, de diplomatas estrangeiros no território nacional e, quando necessário, dos demais representantes dos Poderes da República; 
V - coordenar, interligar e centralizar os serviços de identificação datiloscópica criminal;
VI - selecionar, formar, treinar, especializar e aperfeiçoar o seu pessoal, mediante orientação técnica do Órgão Central do Sistema de Pessoal Civil da Administração Federal;
VII - proceder a aquisição de material de seu exclusivo interesse; 
VIII - prestar assistência técnica e científica, de natureza policial, aos Estados,Distrito Federal e Territórios, quando solicitada;
IX - proceder a investigação de qualquer outra natureza, quando determinada pelo Ministro da Justiça;
X - integrar os Sistemas Nacional de Informações e de Planejamento Federal.
Essa previsão legal é complementada com o Código de Processo Penal: 
Art. 6 o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: 
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994) (Vide Lei nº 5.970, de 1973);
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais; (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994);
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; 
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo
III do Título VII, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que lhe tenham ouvido a leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias; 
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.
Existem normas que disciplinam questões específicas envolvendo a tranquilidade pública, segurança, ordem, costumes, exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do poder público, ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos, dentre outros. 
De olho na realidade
Realize uma pesquisa no conjunto de leis de sua cidade ou Estado a fim de identificar aquelas que dispõem sobre o exercício do dever-poder de polícia. Como sugestão, grave todas essas normas em uma pasta de seu computador para estudo e consulta.
É através do dever-poder de polícia que a lei confere a você, profissional de segurança pública, mecanismos para disciplinar a conduta das pessoas em sociedade. É dentro desse contexto que se fundamenta a atuação policial, instrumento que lhe permite alcançar um grau de ordem pública, de paz social, que se exige no cumprimento de seu mister (ocupação profissional, trabalho ou ofício). 
Considerando essas diretrizes, no campo prático, o dever-poder de polícia confere ao policial o momento ideal para realizar a abordagem, bem como aquilo que ele pode ou não fazer. Para tanto, é preciso avançar nos estudos para entender como isso acontece, por meio dos atributos do dever-poder de polícia. 
2.2 Atributos do Dever-Poder de Polícia
Para que o deve-poder de polícia seja plenamente exercido, de acordo com Meirelles (2011, p. 121), é preciso identificar três atributos ou características: 
· a discricionariedade; 
· a autoexecutoriedade e 
· a coercibilidade. 
Estude, a seguir um pouco a respeito cada um deles. 
2.2.1 Discricionariedade das ações de segurança pública
No dia-a-dia da intervenção policial, considerando o juízo de quando se deve ou não empregar a força, realizar uma abordagem, algemar (STF, Súmula Vinculante nº 11) ou prender (CPP, art. 301 e 302), percebe-se uma larga margem de medidas para se alcançar um objetivo. Pensando nisso, você já deve ter ouvido falar ou teve a oportunidade de constatar que, ao cumprir seu dever, nenhuma ocorrência é igual a outra, ainda que envolva a mesma pessoa, o mesmo lugar, o mesmo horário, dentre outros fatores. Cada caso deve ser tratado de acordo com as circunstâncias. Isso também ocorre durante o planejamento das ações de segurança. 
Por isso que a previsão legal e regulamentar do dever-poder de polícia é abrangente, permitindo ao profissional de segurança pública escolher as medidas oportunas e convenientes para se atingir o fim público. Daí porque se fala em mérito do ato discricionário, alcançado sob: 
· o juízo da oportunidade - elemento motivo: favorável, tempestivo, que vem em tempo; 
· conveniência - elemento objeto: - respeita as regras, apropriado, atende as expectativas, traz benefícios (GASPARINI, 2007, p. 893). 
Como se vê, discricionariedade traduz-se na liberdade de ação dentro dos limites legais para se concretizar o interesse público, fundada num juízo de oportunidade e conveniência. Nesse sentido, Gasparini (2007, p. 893) aduz que: 
Todas as atividades, discricionárias ou vinculadas da Administração Pública estão subordinadas à lei (CF, art. 37). Sendo assim, é natural que a Administração Pública não possa ir além da competência e dos limites traçados pelas normas pertinentes a cada caso ou situação que se lhe apresente. O agir da Administração Pública não se “juridiciza” na ausência da lei. Ademais, há de conter-se na orientação e lindes tracejados pela lei. Qualquer ação estatal sem o correspondente calço legal ou que exceda o âmbito demarcado pela lei é injurídica e expõe-se à anulação. 
Entretanto, essa discricionariedade é objeto de severas críticas, em função da baixa capacidade de avaliação do policial, frente aos recursos que lhes são disponibilizados. Esse entendimento ressalta que as decisões dos policiais acerca de quando se deve ou não usar a força não encontra meio termo, adquirindo contornos dramáticos quando se decide pelo uso letal da força. Por isso que se considera que nem toda ação policial é compatível com o estado democrático de direito, estando fora dos casos de legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular de direito. Com efeito, constata-se, não raras vezes, o uso indiscriminado da força, seja em face de indivíduos que praticam crimes, seja em face de pessoas consideradas suspeitas, mas sem histórico de envolvimento em delitos (RAMOS; MUSUMECI, 2005). 
Dentro dessa discussão, é importante lembrar-se da aula do Módulo 1, na qual você estudou a respeito dos princípios básicos sobre o uso da força e armas de fogo, adotados no Oitavo Congresso das Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes. Para relembrar, leia o item 2 das disposições gerais do anexo: 
Os governos e entidades responsáveis pela aplicação da lei deverão preparar uma série tão ampla quanto possível de meios e equipar os responsáveis pela aplicação da lei com uma variedade de tipos de armas e munições que permitam o uso diferenciado da força e de armas de fogo. Tais providências deverão incluir o aperfeiçoamento de armas incapacitantes não-letais, para uso nas situações adequadas, com o propósito de limitar cada vez mais a aplicação de meios capazes de causar morte ou ferimentos às pessoas. 
Com idêntica finalidade, deverão equipar os encarregados da aplicação da lei com equipamento de legítima defesa, como escudos, capacetes, coletes à prova de bala e veículos à prova de bala, a fim de se reduzir a necessidade do emprego de armas de qualquer espécie. 
Inspirada nesse ato internacional, a Portaria Interministerial nº 4.226, de 31 de dezembro de 2010, ao dispor sobre o uso diferenciado da força no Brasil, estabelece o emprego de armas e equipamentos de menor potencial ofensivo. 
Ao lado disso, põem-se em destaque os seguintes dispositivos da Lei nº 13.060/2014, também estudada no Módulo 1: 
Art. 3° Os cursos de formação e capacitação dos agentes de segurança pública deverão incluir conteúdo programático que os habilite ao uso dos instrumentos não letais 
Art. 5° O poder público tem o dever de fornecer a todo agente de segurança pública instrumentos de menor potencial ofensivo para o uso racional da força. 
Vale lembrar-se da ponderação de valores, do emprego do princípio da proporcionalidade com seus requisitos de adequação, necessidade e razoabilidade ou proporcionalidade em sentido estrito, conforme

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