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Tutoria TUTORIA 4: OBJETIVOS/PERGUNTAS: m Explicar as fases do ciclo cardíaco m Entender o funcionamento do sistema nervoso autônomo sobre o sistema cardiovascular m Relacionar os conceitos de pré e pós carga com a frequência cardíaca m Compreender os múltiplos fatores que alteram o débito cardíaco TERMOS DESCONHECIDOS: Inotropicamente; Pré-carga e pós-carga; Extrasístole; Débito cardíaco. DESTAQUES: Reações cardíacas; Sístole ventricular; SNA; Pressão alta; Coração acelerado; Miocárdio. Tutoria CICLO CARDÍACO: O coração funciona como uma bomba. Ao pensar em uma bomba, é importante associar com uma bomba hidráulica, pois o coração varia a pressão interior para gerar o fluxo sanguíneo. Ou seja, em um sistema fechado, o coração varia a pressão interior nos momentos de sístole (contração) e diástole (relaxamento) para gerar o fluxo sanguíneo. Sístole: Sístole é o período de contração muscular das câmaras cardíacas. A cada batimento cardíaco, as aurículas contraem-se primeiro, impulsionando o sangue para os ventrículos, o que corresponde à sístole atrial (ou auricular). Os ventrículos contraem-se posteriormente, bombeando o sangue para fora do coração, para as artérias, o que corresponde à sístole ventricular. Diástole: período de relaxamento muscular. Nesse período, de pressão arterial mínima, a cavidade dilata os ventrículos e permite a entrada de sangue, para que possa ser expelido na contração. OBSERVAÇÃO: Basicamente, a sístole é a contração para expelir o sangue daquela câmera. Diástole é o relaxamento que permite a entrada de sangue. REVISÃO SOBRE PRESSÃO Na fisiologia, buscamos compreender como o sangue flui – em outras palavras, quais os mecanismos ou forças que geram o fluxo sanguíneo. Uma resposta mecânica simples para “Por que o sangue flui?” é que os líquidos e os gases fluem por gradientes de pressão (ΔP) de regiões de alta pressão para regiões de baixa pressão. Por essa razão, o sangue pode fluir no sistema circulatório apenas se uma região desenvolver pressão mais elevada do que outras. Nos seres humanos, o coração gera alta pressão quando se contrai. A pressão em um líquido é a força exercida pelo líquido no seu recipiente. No coração e nos vasos sanguíneos, a pressão é normalmente mensurada em milímetros de mercúrio (mmHg). Se as paredes de um recipiente cheio de líquido se contraem, a pressão exercida sobre o líquido no recipiente aumenta. Você pode demonstrar este princípio enchendo um balão com água e apertando-o com a mão. A água é minimamente compressível, de modo que a pressão aplicada ao balão será transmitida para todo o líquido. À medida que você aperta, a pressão mais alta no líquido faz as partes do balão tornarem-se salientes. Se a pressão for elevada o suficiente, a tensão nas paredes do balão faz ele se romper. O volume de água dentro do balão não se alterou, mas a pressão no líquido aumentou. No coração humano, a contração dos ventrículos cheios de sangue é similar a apertar um balão com água: a pressão gerada pela contração do músculo ventricular é transferida para o sangue. O sangue sob alta pressão flui para fora do ventrículo, para os vasos sanguíneos, deslocando o sangue sob baixa pressão que já está nos vasos. A pressão criada dentro dos ventrículos é denominada pressão propulsora, pois é a força que impulsiona o sangue pelos vasos sanguíneos. Quando as paredes de um recipiente preenchido com liquido se expandem, a pressão exercida sobre o liquido diminui. Por isso, quando o coração relaxa e se expande, a pressão dentro das câmaras cheias de liquido cai. Tutoria Recapitulando sobre o coração, sabe-se que ele possui basicamente duas bombas. O lado direito do coração possui sangue venoso e é responsável por levar esse sangue para artéria pulmonar. O lado esquerdo leva o sangue para a artéria da aorta, ou seja, para circulação sistêmica (todos os demais tecidos do corpo). O ciclo cardíaco é um conjunto de atividades que ocorre entre o início de um batimento até o próximo. Um único ciclo cardíaco inclui todos os eventos associados a um batimento cardíaco. Assim, um ciclo cardíaco consiste em uma sístole e uma diástole dos átrios mais uma sístole e uma diástole dos ventrículos. Em cada ciclo cardíaco, os átrios e ventrículos se contraem e relaxam alternadamente, forçando o sangue das áreas de alta pressão às áreas de baixa pressão. Fisicamente, pressão é a grandeza dada por meio da FORÇA aplicada em uma área de SUPERFÍCIE. Enquanto uma câmara do coração se contrai, a pressão arterial dentro dela aumenta (ou seja, a força aplicada naquela área de superfície é maior). BOMBA DE ESCORVA (PRIMER PUMP) – ENCHIMENTO VENTRICULAR LENTO (DIÁSTASE) Os átrios são considerados bombas de escorva (primer pump). Geralmente, cerca de 80% do sangue que está no átrio escoa diretamente para o ventrículo sem o auxílio da contração, ficando apenas 20% com ela para terminar de encher os ventrículos. SÍSTOLE ATRIAL – ENCHIMENTO VENTRICULAR RÁPIDO O sangue vai se acumulando nos átrios. Quando termina essa fase e o ventrículo volta para a fase de diástole, que é o relaxamento, o volume sanguíneo que ficou nos átrios exerce pressão nas valvas atrioventriculares (direita: tricúspide; esquerda: mitral ou bicúspide) e, então, passa rapidamente para os ventrículos. Durante a sístole atrial, que dura cerca de 0,1 s, os átrios estão se contraindo. Ao mesmo tempo, os ventrículos estão relaxados. 1) A despolarização do nó SA provoca a despolarização atrial. 2) A despolarização atrial causa a sístole atrial. Conforme o átrio se contrai, ele exerce pressão sobre o sangue dentro dele, o que o força a passar através das valvas AV abertas para os ventrículos. 3) A sístole atrial contribui com os últimos 25 mℓ de sangue ao volume já existente em cada ventrículo (cerca de 105 mℓ). O fim da sístole atrial é também o fim da diástole ventricular (relaxamento). Assim, cada ventrículo contém cerca de 130 m ℓ no final do seu período de relaxamento (diástole). Este volume de sangue é chamado volume diastólico final (VDF). SÍSTOLE VENTRICULAR Durante a sístole ventricular, que dura cerca de 0,3 s, os ventrículos se contraem. Ao mesmo tempo, os átrios estão relaxados na diástole atrial. 1) A despolarização ventricular provoca a sístole ventricular. Conforme a sístole ventricular começa, a pressão intraventricular se eleva e “empurra” o sangue contra as valvas atrioventriculares (AV), forçando seu fechamento. Por cerca de 0,05 s, as valvas atrioventriculares, do tronco pulmonar e da aorta estão fechadas. 1) Este é o período de contração isovolumétrica. Durante este intervalo, as fibras musculares cardíacas estão se contraindo e exercendo força, mas ainda não estão se encurtando. Dessa Tutoria forma, o coração ainda não tem forças suficientes para abrir as valvas semilunares (valva da aorta e para tronco pulmonar). Ou seja, há pressão e contração ocorrendo, mas por todas as portas (valvas) estarem fechadas, o volume não altera. Assim, a contração muscular é isométrica (mesmo comprimento). Além disso, como as quatro valvas estão fechadas, o volume ventricular permanece o mesmo (isovolumétrica). 2) A contração continuada dos ventrículos faz com que a pressão no interior das câmaras aumente acentuadamente. Isto é, aos poucos os ventrículos vão ganhando força para conseguir pressionar a abertura das valvas semilunares. Quando a pressão ventricular esquerda ultrapassa a pressão da valva aórtica e a pressão ventricular direita sobe acima da pressão no troncopulmonar, as valvas do tronco pulmonar e da aorta se abrem. Neste momento, começa a ejeção de sangue do coração. O período durante o qual as valvas do tronco pulmonar e da aorta estão abertas é a ejeção ventricular, que tem a duração de cerca de 0,25 s. 3) Nessa fase, 70% do volume sanguíneo ventricular é levado. 4) O ventrículo esquerdo ejeta cerca de 70 mℓ de sangue para a aorta, e o ventrículo direito ejeta o mesmo volume de sangue para o tronco pulmonar. O volume remanescente em cada ventrículo no final da sístole, cerca de 60 mℓ, é o volume sistólico final (VSF). 5) O volume sistólico, o volume ejetado a cada batimento por cada ventrículo, é igual ao volume diastólico final menos o volume sistólico final: VS = VDF – VSF. Em repouso, o volume sistólico é de aproximadamente 130 mℓ – 60 mℓ = 70 mℓ. Quando nos referimos a ejeção ventricular, é importante ressaltar que ela ocorre em duas fases: EJEÇÃO RÁPIDA: As valvas semilunares abrem quando a pressão no interior do ventrículo direito está por volta dos 8mmHg e do ventrículo esquerdo aos 80mmHg; logo o sangue é ejetado para as respectivas artérias. No primeiro momento da ejeção, 70% do sangue é expelido, esse período é chamado de ejeção rápida. EJEÇÃO LENTA: Como 70% do sangue já foi ejetado, agora restam os 30%, que serão lançados no segundo e terceiro momento, logo após o período de ejeção rápida. Destes, 30% correspondem ao período de ejeção lenta. DIÁSTOLE VENTRICULAR Durante o período de relaxamento, que dura cerca de 0,4 s, os átrios e os ventrículos estão relaxados. Conforme aumenta a frequência cardíaca, o período de relaxamento torna-se cada vez mais curto, enquanto a duração da sístole atrial e da sístole ventricular se encurta apenas discretamente. 1) A repolarização ventricular provoca a diástole ventricular. Conforme os ventrículos relaxam, a pressão no interior das câmaras cai. Com isso, ocorre um leve retorno do sangue da aorta e do tronco pulmonar para as regiões de baixa pressão nos ventrículos. O fluxo retrógrado de sangue atinge as válvulas das valvas e fecha as valvas do tronco pulmonar e da aorta. Ou seja, com esse retorno, as valvas semilunares automaticamente se fecham. CONTRAÇÃO ISOVOLUMÉTRICA EJEÇÃO VENTRICULAR Tutoria 2) Depois do fechamento das valvas do tronco pulmonar e da aorta, existe um breve intervalo em que o volume de sangue do ventrículo não se modifica porque as quatro valvas estão fechadas. Este é o período de relaxamento isovolumétrico. 3) Conforme os ventrículos continuam relaxando, a pressão cai rapidamente. Quando a pressão ventricular cai abaixo da pressão atrial, as valvas do tronco pulmonar e da aorta se abrem e começa o enchimento ventricular. Dessa forma, todo o sangue que estava chegando, ao invés de ficar retido nos átrios, vai para os ventrículos. Ou seja, o sangue que fluiu para os átrios e ali se acumulou durante a sístole ventricular então se desloca rapidamente para os ventrículos. No final do período de relaxamento, os ventrículos estão cerca de 75% cheios. Tutoria REGULAÇÕES DO CORAÇÃO: Quando a pessoa se encontra em repouso, o coração bombeia apenas 4 a 6 litros de sangue por minuto. Durante o exercício intenso, pode ser necessário que esse coração bombeie de 4 a 7 vezes essa quantidade. Os meios básicos de regulação do volume bombeado são (1) regulação cardíaca intrínseca, em resposta às variações no aporte do volume sanguíneo em direção ao coração; e (2) controle da frequência cardíaca e da força de bombeamento pelo sistema nervoso autonômico. REGULAÇÃO DA ATIVIDADE CARDÍACA PELO MECANISMO DE FRANK-STARLING (CONTROLE INTRÍSECO) Todo sangue que chega no coração, independente do volume, o sangue será ejetado. Quanto mais sangue chega no coração, mais sangue sai. Basicamente, o sangue chega pelas veias cavas (superiores e inferiores) e enche o átrio direito. Esse sangue é direcionado aos ventrículos. Durante a diástole, o coração está relaxado e os ventrículos estão enchendo de sangue. Quando mais estendido fica o coração durante a diástole, maior é a força de contração dele na sístole. Imagine que o ventrículo vai se enchendo, fazendo com que os músculos cardíacos se estirem e queiram voltar ao seu estado de repouso. Com isso, quanto mais cheio o ventrículo, maior é a disposição muscular de voltar a esse estado, aumentando a intensidade da força de contração. Dessa forma, o coração consegue bombear todo o volume sanguíneo presente no ventrículo. Esse processo de aumento da força de contração, devido à evolução do estiramento, chama-se tensão passiva, um processo que ocorre de forma ainda mais intensa no músculo cardíaco do que nos músculos esqueléticos. Mas esse não é único meio pelo qual a lei atua. Também acontece uma elevação da sensibilidade das células musculares aos íons de cálcio (Ca++) à medida que o músculo é estirado pelo conteúdo ventricular. Quanto maior o estiramento, mais cálcio entrará na célula; como o cálcio é essencial no processo de contração muscular, o aumento da sua concentração proporciona maior força de contração, em especial quando se chega à saturação celular. É importante ter em mente que o músculo cardíaco precisa de menos concentração de Ca++ do que músculos esqueléticos, para atingir sua capacidade total de contração. Ainda há uma terceira ferramenta fisiológica que auxilia o mecanismo: à medida que o músculo cardíaco se estira, o espaço entre as fibras musculares grossas e finas é reduzido, permitindo maior proximidade entre as moléculas de miosina e actina. Quanto mais próximas estão, maior é o número de interações entre elas. Como a relação entre essas duas moléculas leva à contração do músculo, o aumento de interações resulta em maior força de contração. Em resumo, o enchimento do ventrículo é o gatilho para todo o processo de aumento da força de contração cardíaca. Primeiro, por causa da tensão passiva do músculo cardíaco, depois, pela maior entrada de cálcio nas células musculares devido ao aumento da sensibilidade ao íon Ca++. Por fim, ainda eleva a possibilidade de interações entre actina e miosina no espaço interfibrilar, reduzido pelo estiramento. Com isso, o coração não precisa de um controle nervoso nem hormonal constante para bombear o sangue. Todo esse processo fisiológico do mecanismo de Frank-Starling resulta na ampliação do volume sistólico em resposta ao aumento do volume diastólico final. REGULAÇÃO PELO SISTEMA NERVOSO AUTONÔMICO (CONTROLE EXTRÍNSECO) Tutoria A regulação do sistema nervoso autonômico é controlado sistema nervoso simpático e parassimpático do coração. Os nervos parassimpáticos são chamados de vagos. Eles inervam o nodo atrioventricular e o nodo-sinoatrial. Os nervos simpáticos (cadeias simpáticas) inervam a musculatura cardíaca. INERVAÇÃO DO CORAÇÃO Sobre a inervação do coração, refere-se à rede de nervos responsáveis pelo funcionamento do coração. O coração é inervado por fibras simpáticas e parassimpáticas do ramo autonômico do sistema nervoso periférico. A rede de nervos que irriga o coração recebe contribuições dos nervos vago direito e esquerdo, além de contribuições do tronco simpático (cadeias simpáticas). Estes são responsáveis por influenciar a frequência cardíaca, o débito cardíaco e as forças de contração do coração. SISTEMA DE ESTIMULAÇÃO SIMPÁTICA E PARASSIMPÁTICA A frequência de geração e a velocidade de condução são aumentadas pela parte simpática e inibidas pela parte parassimpática da divisão autônoma do sistema nervoso para atender às demandas ou poupar energia. A estimulação simpática é responsável por: c Aumentar dinâmica e funcionalidade do coração através do aumentoda frequência cardíaca, da condução do impulso, da força da contratilidade e do fluxo sanguíneo pelos vasos coronários. c Aumentar a frequência de despo- larização das células marca-passo e a condução atrioventricular. A estimulação parassimpática é responsável por: c Diminuir a dinâmica do coração através da diminuição da frequência cardíaca, redução da força de contração e constrição das artérias coronárias, para poupar energia em períodos de maior demanda. c As fibras parassimpáticas liberam acetilcolina que se liga aos receptores muscarínicos resultando em redução da frequência de despolarização das células marcapasso e a condução atrioventricular além de diminuição da contração atrial. ESTIMULAÇÃO SIMPÁTICA E FREQUÊNCIA CARDÍACA É importante lembrar que a estimulação simpática aumenta, acentuadamente, a atividade cardíaca, tanto pelo aumento da frequência cardíaca quanto pelo aumento da força e do volume de seu bombeamento. Estímulos simpáticos potentes podem aumentar a frequência cardíaca em pessoas adultas jovens, desde seu valor normal de 70 batimentos/min até 180 a 200 e raramente até 250 batimentos/min. Além disso, estímulos simpáticos aumentam a força da contração cardíaca até o dobro da normal, aumentando, desse modo, o volume bombeado de sangue e elevando sua pressão de ejeção. Portanto, a estimulação simpática, com frequência, é capaz de aumentar o débito cardíaco até seu dobro ou triplo, além do aumento do débito, Tutoria originado pelo mecanismo de Frank-Starling, como já discutido. Por outro lado, a inibição dos nervos simpáticos pode diminuir moderadamente o bombeamento cardíaco: sob circunstâncias normais, as fibras nervosas simpáticas do coração têm descarga contínua, mas em baixa frequência suficiente para manter o bombeamento cerca de 30% acima do que seria sem a presença de estímulo simpático. Assim, quando a atividade do sistema nervoso simpático é deprimida até valores abaixo do normal, tanto a frequência cardíaca quanto a força de contração muscular ventricular diminuem, reduzindo, assim, o bombeamento cardíaco por até 30% abaixo do normal. ESTIMULAÇÃO PARASSIMPÁTICA E FREQUÊNCIA CARDÍACA Embora o sistema nervoso parassimpático seja extremamente importante para muitas outras funções autônomas do corpo, como o controle das múltiplas ações gastrointestinais, ele desempenha apenas papel secundário na regulação da função vascular na maioria dos tecidos. Seu efeito circulatório mais importante é o controle da frequência cardíaca pelas fibras nervosas parassimpáticas para o coração nos nervos vagos. Essa estimulação provoca principalmente acentuada diminuição da frequência cardíaca e redução ligeira da contratilidade do músculo cardíaco. A forte estimulação das fibras nervosas parassimpáticas dos nervos vagos do coração pode chegar a parar os batimentos por alguns segundos, mas então o coração usualmente “escapa” e volta a bater entre 20 e 40 vezes por minuto, enquanto o estímulo parassimpático continuar. Ainda mais, um estímulo vagal forte pode diminuir a força de contração miocárdica por 20% a 30%. As fibras vagais estão dispersas, em grande parte, pelos átrios e muito pouco nos ventrículos, onde realmente ocorre a geração da força de contração. Essa distribuição explica o porquê do fato da estimulação vagal ocorrer principalmente sobre a redução da frequência cardíaca e não diminuir de modo acentuado a força de contração. Mesmo assim, a combinação dos efeitos da redução importante da frequência, com leve diminuição da força de contração, pode diminuir o bombeamento ventricular em 50% ou mais. Tutoria PRÉ-CARGA E PÓS-CARGA: O ciclo cardíaco é composto de sístole (contração – manda sangue para o resto do corpo por meio das artérias) e a diástole (relaxamento – coração recebe sangue das veias superiores). É necessário ressaltar que o volume diastólico final é o volume do ventrículo no final da diástole. Quanto mais sangue entra nos ventrículos durante a diástole, maior vai ser o volume sanguíneo nos ventrículos. Quanto maior o volume sanguíneo do coração na diástole, maior será a tensão nas paredes dos ventrículos porque o musculo cardíaco estará estirado (estendido, esticado). Pré-carga: É a pressão que o sangue faz no ventrículo quando está cheio antes da contração, ou seja, antes da sístole. Quanto maior ou menor a tensão, maior ou menor é a pré-carga. Pós-carga: É a resistência enfrentada durante a ejeção do ventrículo; o sangue enfrenta dificuldades de seguir no momento em que ele é expelido para as respectivas artérias. REGULAÇÃO DO VOLUME SISTÓLICO Um coração saudável bombeia o sangue que entrou em suas câmaras durante a diástole anterior. Em outras palavras, se mais sangue retornou ao coração durante a diástole, então mais sangue será ejetado na próxima sístole. Em repouso, o volume sistólico é de 50 a 60% do volume diastólico final, porque 40 a 50% do sangue permanece nos ventrículos depois de cada contração (volume sistólico final). Três fatores regulam o volume sistólico e garantem que os ventrículos esquerdo e direito bombeiem volumes iguais de sangue: (1) précarga, o grau de estiramento no coração antes de ele se contrair; (2) contratilidade, o vigor da contração das fibras musculares ventriculares individuais; (3) póscarga, a pressão que tem de ser sobrepujada antes que possa ocorrer ejeção do sangue a partir dos ventrículos. PRÉ-CARGA A maior pré-carga (estiramento) nas fibras musculares cardíacas antes da contração aumenta a sua força de contração. A pré-carga pode ser comparada ao estiramento de uma faixa de borracha. Quanto mais esticada está a faixa de borracha, com mais força ela retornará quando liberada. Dentro de certos limites, quanto mais o coração se enche de sangue durante a diástole, maior será a força de contração durante a sístole. Esta relação é conhecida como a Lei de FrankStarling do coração. A précarga é proporcional ao volume diastólico final (VDF) (o volume de sangue que enche os ventrículos no final da diástole). Normalmente, quanto maior é o VDF, mais forte é a contração seguinte. Dois fatores-chave determinam o VDF: (1) a duração da diástole ventricular e (2) o retorno venoso, o volume de sangue que retorna ao ventrículo direito. Quando a frequência cardíaca aumenta, a duração da diástole é menor. Menos tempo de enchimento significa um VDF menor, e os ventrículos podem se contrair antes que sejam devidamente preenchidos. Por outro lado, quando o retorno venoso aumenta, um maior Tutoria volume de sangue flui para os ventrículos, e o VDF é aumentado. Quando a frequência cardíaca ultrapassa cerca de 160 bpm, o volume sistólico geralmente declina em decorrência do tempo de enchimento curto. Nestas frequências cardíacas rápidas, o VDF é menor, e a pré-carga é menor. As pessoas que têm frequências cardíacas de repouso mais lentas geralmente têm grandes volumes sistólicos de repouso, porque o tempo de enchimento é prolongado e a pré-carga é maior. A lei de FrankStarling do coração equaliza o volume ejetado pelos ventrículos direito e esquerdo e mantém o mesmo volume de sangue que flui para as circulações sistêmica e pulmonar. Se o lado esquerdo do coração bombeia um pouco mais de sangue do que o lado direito, o volume de sangue que retorna para o ventrículo direito (retorno venoso) aumenta. O aumento do VDF faz com que o ventrículo direito se contraia com mais força no próximo batimento, trazendo os dois lados de volta ao equilíbrio. CONTRABILIDADE O segundo fator que influencia o volume sistólico é a contratilidade do miocárdio, a força de contração em uma dada précarga. As substâncias que aumentam a contratilidade são agentesinotrópicos positivos; aqueles que diminuem a contratilidade são os agentes inotrópicos negativos. Assim, para uma précarga constante, o volume sistólico aumenta quando uma substância inotrópica positiva está presente. Os agentes inotrópicos positivos muitas vezes promovem o influxo de Ca2+ durante potenciais de ação cardíacos, o que aumenta a força da contração seguinte. A estimulação da parte simpática da divisão autônoma do sistema nervoso (SNA), hormônios como a epinefrina e a norepinefrina, o aumento do nível de Ca2+ no líquido intersticial e fármacos digitálicos têm efeitos inotrópicos positivos. Em contraste, a inibição da parte simpática do SNA, a anoxia, a acidose, alguns anestésicos e o aumento no nível de K+ no líquido intersticial têm efeitos inotrópicos negativos. Os bloqueadores dos canais de cálcio são fármacos que podem ter um efeito inotrópico negativo, reduzindo o influxo de Ca2+, diminuindo assim a força da contração cardíaca. PÓS-CARGA A ejeção de sangue do coração começa quando a pressão no ventrículo direito excede a pressão no tronco pulmonar (cerca de 20 mmHg), e quando a pressão no ventrículo esquerdo excede a pressão na aorta (cerca de 80 mmHg). Nesse momento, a pressão mais elevada no sangue faz com que os ventrículos pressionem as válvulas semilunares a abrir. A pressão que precisa ser superada antes de que uma válvula semilunar possa abrir é denominada póscarga. Um aumento da pós-carga faz com que o volume sistólico diminua, de modo que mais sangue permanece nos ventrículos no final da sístole. As condições que podem aumentar a pós-carga incluem a hipertensão (pressão arterial elevada) e o estreitamento das artérias pela aterosclerose. Tutoria DÉBITO CARDÍACO: Embora o coração tenha fibras autorrítmicas que possibilitam a ele bater de modo independente, seu funcionamento é regulado por eventos que ocorrem em todo o corpo. As células do corpo precisam receber uma certo aporte de oxigênio do sangue a cada minuto para manter a saúde e a vida. Quando as células estão metabolicamente ativas, como durante o exercício, elas gastam ainda mais oxigênio do sangue. Durante os períodos de repouso, a demanda metabólica celular é reduzida, e a carga de trabalho do coração diminui. Resumo rápido: Basicamente, as células do nosso corpo precisam do oxigênio do sangue para manter a vida. O débito cardíaco (DC) é o volume de sangue ejetado (lançado para fora) ventrículos (esquerdo ou direito) nas artérias coração (aorta ou tronco pulmonar) a cada minuto. O débito cardíaco é igual ao volume sistólico (VS), que é o volume de sangue ejetado pelo ventrículo a cada contração, multiplicado pela frequência cardíaca (FC), pi seja, a quantidade de batimentos cardíacos por minuto: DC (mℓ/min) = VS (mℓ/batimento) × FC (batimentos/min) Em um homem adulto típico em repouso, o volume sistólico é de 70 mℓ/batimento, em média, e a frequência cardíaca é de cerca de 75 bpm. Assim, o débito cardíaco médio é: DC= 70 mℓ/batimento × 75 batimento por minuto DC= 70 mℓ/batimento × 75 batimento por minuto DC= 70 mℓ × 75 por minuto DC = 5.250 mℓ/min DC = 5,25 ℓ/min Este volume é próximo do volume total de sangue, que é de cerca de 5 ℓ em um homem adulto típico. Assim, todo o volume de sangue flui pelas circulações pulmonar e sistêmica a cada minuto. Durante o exercício leve, por exemplo, o volume sistólico pode aumentar para 100 mℓ /batimento, e a frequência cardíaca para 100 bpm. O débito cardíaco então seria de 10 ℓ /min. Durante o exercício intenso (mas ainda não máximo), a frequência cardíaca pode acelerar para 150 bpm e o volume sistólico pode subir para 130 mℓ/batimento, resultando em um débito cardíaco de 19,5 ℓ/min. Dessa forma, em um exercício intenso, todo o volume de sangue flui pelas circulações pulmonar e sistêmica VÁRIAS VEZES a cada minuto. RETORNO VENOSO O retorno venoso é a quantidade de sangue que flui das veias para o átrio direito a cada minuto. O retorno venoso e o débito cardíaco devem ser iguais um ao outro, exceto por poucos batimentos cardíacos nos momentos em que o sangue é temporariamente armazenado ou removido do coração e dos pulmões. ÍNDICE CARDÍACO O débito cardíaco sofre influência de fatores do metabolismo basal, da massa corporal (se o paciente é obeso ou não), da frequência de exercício físico e também da idade. Por isso, há muitas variáveis que interferem no débito cardíaco. Para permitir a comparação do débito cardíaco entre diferentes indivíduos, usa-se dividir o valor do débito cardíaco pela superfície corpórea (SC), expressa em metros quadrados. Esse novo indicador da função de bomba do coração tem mais significado que o anterior e é chamado de índice cardíaco (IC). Índice cardíaco (IC) = Débito cardíaco (DC)/superfície corpórea Um humano médio que pesa 70 quilogramas tem área de superfície corporal de cerca de 1,7 m2, o que significa que a média Tutoria normal do índice cardíaco para adultos é de aproximadamente 3 L/min/m2 da área da superfície corporal. DETERMINANTES DO DÉBITO CARDÍACO O débito cardíaco varia de forma acentuada com o nível de atividade do corpo. Os seguintes fatores, entre outros, afetam diretamente o débito cardíaco: (1) o nível basal do metabolismo corporal; (2) se a pessoa está se exercitando; (3) a idade da pessoa; e (4) as dimensões do corpo. Nos homens saudáveis e jovens, o débito cardíaco em repouso fica em torno de 5,6 L/min. Nas mulheres, esse valor é cerca de 4,9 L/min. Quando também é considerado o fator idade — pois com o avanço da idade, a atividade corporal e a massa de alguns tecidos (p. ex., músculo esquelético) diminuem, o débito cardíaco médio para o adulto em repouso em números inteiros é declarado, muitas vezes, quase 5 L/min. EFEITO DA IDADE SOBRE DÉBITO CARDÍACO A Figura 20-1 mostra o débito cardíaco expresso como índice cardíaco em diferentes idades. Aumentando rapidamente para o nível acima de 4 L/min/m2 aos 10 anos de idade, o índice cardíaco diminui para cerca de 2,4 L/min/m2 aos 80 anos de idade. O débito cardíaco é regulado por toda a vida, quase diretamente proporcional à atividade metabólica total. Portanto, o índice cardíaco diminuído é indicativo do declínio da atividade ou da massa muscular com a idade. CONTROLE DO DÉBITO CARDÍACO PELO RETORNO VENOSO – MECANISMO DE FRANK- STARLING DO CORAÇÃO O principal determinante do débito cardíaco é o RETORNO VENOSO. Quando se diz que o débito cardíaco é controlado pelo retorno venoso, isso significa que não é o próprio coração normalmente o controlador principal do débito cardíaco. Em vez disso, os diversos fatores da circulação periférica que afetam o fluxo sanguíneo de retorno pelas veias para o coração, referido como retorno venoso, é que são os principais controladores. A primordial razão, pela qual os fatores periféricos são, em geral, tão importantes no controle do débito cardíaco, é que o coração apresenta um mecanismo intrínseco que, nas condições normais, permite que ele bombeie automaticamente toda e qualquer quantidade de sangue que flua das veias para o átrio direito. Esse mecanismo, designado como lei de Frank-Starling do coração. Basicamente, essa lei diz que quando quantidades elevadas de sangue fluem para o coração, essa maior quantidade de sangue distende as paredes das câmaras cardíacas. Como resultado da distensão, o músculo cardíaco se contrai com mais força, fazendo com que seja ejetado todo o sangue adicional que entrou da circulação sistêmica. Tutoria Desse modo, o sangue, que flui para o coração, é automaticamente bombeado sem demora para a aorta para fluir de novo pela circulação. Vale ressaltar que quanto maior o enchimento do ventrículo, maiora força de contração. Consequentemente, maior a força de ejeção. Esse conceito é chamado de Lei de Frank- Starling. Como o débito cardíaco está associando FREQUÊNCIA CARDÍACA a VOLUME SISTÓLICO, podemos dizer que isso afeta diretamente o débito cardíaco Outro fator importante é que a distensão do coração faz com que seu bombeamento seja mais rápido, resultando em uma frequência cardíaca maior, isto é, a distensão do nodo sinusal na parede do átrio direito tem efeito direto sobre a ritmicidade do próprio nodo, aumentando por até 10% a 15% a frequência cardíaca. Além disso, o átrio direito distendido desencadeia reflexo nervoso, designado como reflexo de Bainbridge, que passa primeiro pelo centro vasomotor do encéfalo e, a seguir, de volta ao coração, pela via nervosa simpática e vagal, acelerando também a frequência cardíaca. . c Distensão atrial: a distensão do átrio faz com que tenhamos um aumento da frequência cardíaca, alterando então o débito cardíaco. c Reflexo de Bainbridge: o aumento da distensão atrial permite que os átrios aumente a força contrátil, influenciando então na frequência cardíaca. Isto é, o reflexo de bainbridge (ou reflexo atrial) está associado a aceleração do ritmo cardíaco devido ao aumento da pressão sanguínea Nó sinusal ou nas veias cavas DÉBITO CARDÍACO É INFLUENCIADO PELO METABOLISMO TECIDUAL O retorno venoso ao coração é a soma de todos os fluxos sanguíneos locais, por todos os segmentos teciduais individuais da circulação periférica. Assim, conclui-se que a regulação do débito cardíaco é a soma de todas as regulações do fluxo sanguíneo local. Na maioria dos tecidos, o fluxo sanguíneo aumenta, em grande parte, em proporção ao metabolismo de cada tecido. Por exemplo, o fluxo sanguíneo local quase sempre aumenta quando se eleva o consumo de oxigênio tecidual. Em suma, o consumo de oxigênio e o débito cardíaco aumentam, em paralelo, um com o outro. Resumindo, o débito cardíaco é determinado, usualmente, pela soma de todos os vários fatores orgânicos que controlam o fluxo sanguíneo local. Todo o sangue local flui para formar o retorno venoso, e o coração automaticamente bombeia esse sangue de volta para as artérias, para fluir de novo pelo sistema. c Metabolismo tecidual: quanto maior o metabolismo de um órgão, maior será o seu fluxo sanguíneo devido a maior demanda. Destarte, uma baixa taxa de metabolismo de um órgão reflete em um fluxo sanguíneo menor. Tutoria CURVAS DO DÉBITO CARDÍACO Existem limites definidos para a quantidade de sangue que o coração é capaz de bombear; esses limites podem ser expressos, em termos quantitativos, na forma de curvas do débito cardíaco. A Figura 20-5 demonstra a curva normal do débito cardíaco, exibindo o débito cardíaco por minuto para cada nível da pressão atrial direita. Observe que o nível do platô dessa curva normal do débito cardíaco é aproximadamente 13 L/min, 2,5 vezes o débito cardíaco normal de cerca 5 L/min. Isso significa que o coração humano normal, funcionando sem qualquer estímulo especial, pode bombear um retorno venoso de até 2,5 vezes o retorno venoso normal antes de passar a ser fator limitante no controle do débito cardíaco. Na Figura 20-5, são mostradas várias outras curvas de débito cardíaco para corações que não estão bombeando normalmente. As curvas mais superiores são para corações hipereficazes, que bombeiam melhor que o normal. As curvas mais inferiores são para os corações hipoeficazes, que bombeiam em níveis abaixo do normal. Um coração hipereficaz consegue bombear acima da curva de débito normal. São corações “dotados”. Dois tipos de fatores podem fazer com que o coração atue como bomba melhor que a normal: (1) a estimulação nervosa; e (2) a hipertrofia do músculo cardíaco. A combinação de (1) estimulação simpática; e (2) inibição parassimpática fazem duas coisas para aumentar a eficácia do bombeamento cardíaco: (1) aumento acentuado da frequência cardíaca e (2) aumento da força da contração cardíaca (que é referido como “contratilidade” aumentada). A hipertrofia cardíaca pode aumentar a eficácia do bombeamento. A hipertrofia é um aumento e crescimento das células musculares que pode acontecer por meio do exercício e a forma mais comum é com o levantamento de pesos. Por exemplo, é comum que os corações de corredores de maratona aumentem suas massas por até 50% a 75%. Um coração hipoeficaz é aquele com a menor capacidade de bombear sangue, ou seja, abaixo da curva do débito normal. Alguns motivos são: inibição da estimulação nervosa do coração; aumento da pressão arterial contra a qual o coração deve bombear; fatores Tutoria patológicos que causem ritmo ou frequência cardíaco anormais, etc. DÉBITO CARDÍACO ALTO OU BAIXO DEVIDO PATOLOGIAS Múltiplas anormalidades clínicas podem causar débitos cardíacos muito altos ou muito baixos. c Beribéri aumenta o débito cardíaco: Essa doença é causada por quantidade insuficiente da vitamina tiamina (vitamina B1) na dieta. A falta dessa vitamina causa diminuição da capacidade dos tecidos de utilizar alguns nutrientes celulares, e os mecanismos do fluxo sanguíneo tecidual local causam, por sua vez, acentuada vasodilatação periférica compensatória. Algumas vezes, a resistência periférica total diminui a tão pequena quanto 1,5 vez o normal. Consequentemente, os níveis de longo prazo do retorno venoso e do débito cardíaco também aumentam frequentemente a 2 vezes o normal. c Anemia aumenta o débito cardíaco: Na anemia, dois efeitos periféricos diminuem muito a resistência periférica total. Um desses efeitos é a viscosidade reduzida do sangue, resultante da concentração diminuída dos eritrócitos. O outro é a distribuição diminuída de oxigênio aos tecidos, que causa vasodilatação local. Como consequência, o débito cardíaco aumenta muito. Quando essas patologias afetam o débito cardíaco, temos que ressaltar que toda vez que o coração é gravemente lesado, independentemente da causa, seu nível limitado de bombeamento pode cair abaixo do que é necessário para o fluxo adequado de sangue para os tecidos. Alguns exemplos incluem (1) bloqueio grave de vaso sanguíneo coronário e infarto consequente do miocárdio, (2) cardiopatia valvular grave, (3) miocardite, (4) tamponamento cardíaco e (5) distúrbios metabólicos cardíacos. Quando o débito cardíaco diminui muito, o que faz com que os tecidos do corpo comecem a ter deficiência nutricional, a condição é denominada choque cardiogênico. MÉTODOS DE MEDIDA DO DÉBITO CARDÍACO No ser humano, o débito cardíaco é medido por métodos indiretos que não requerem cirurgia. Dois dos métodos utilizados em estudos experimentais são o método de oxigênio de Fick e o método de diluição de indicador. O débito cardíaco também pode ser estimado por ecocardiografia, um método que usa ondas de ultrassom de um transdutor colocado na parede torácica ou passando pelo esôfago do paciente para medir o tamanho das câmaras cardíacas, assim como a velocidade do fluxo sanguíneo do ventrículo até a aorta. O débito sistólico é calculado a partir da velocidade do fluxo sanguíneo até a aorta e a área transversal da aorta, determinada pelo diâmetro que é medido pela imagem de ultrassom. O débito cardíaco é então calculado como o produto do débito sistólico pela frequência cardíaca. MÉTODO DE OXIGÊNIO DE FICK Tutoria Essa figura mostra que 200 mililitros de oxigênio estão sendo absorvidos nos pulmões pelo sangue pulmonar a cada minuto. Mostra também que o sangue, que chega ao lado direito do coração, tem concentração de oxigênio de 160 mililitros por litro de sangue, enquanto o que sai do lado esquerdo do coração tem concentração de200 mililitros por litro de sangue. Por esses dados, pode-se calcular que cada litro de sangue, ao passar pelos pulmões, absorve 40 mililitros de oxigênio. Como a quantidade total de oxigênio absorvido pelo sangue, nos pulmões, a cada minuto é de 200 mililitros, dividindo-se 200 por 40, obtém-se o total de cinco frações de 1 litro de sangue que devem passar pela circulação pulmonar a cada minuto para absorver essa quantidade de oxigênio. Portanto, a quantidade de sangue que flui pelos pulmões a cada minuto é de 5 litros, o que é também medida do débito cardíaco. Assim, o débito cardíaco pode ser calculado pela seguinte equação: RESERVA CARDÍACA A reserva cardíaca é a diferença entre o débito cardíaco máximo de uma pessoa e o débito cardíaco em repouso. A pessoa média tem uma reserva cardíaca de quatro ou cinco vezes o valor de repouso. Os atletas de endurance (endurance é a capacidade física que permite a um atleta sustentar por um longo período de tempo uma atividade física relativamente generalizada em condi- ções aeróbias) de elite têm uma reserva cardíaca sete ou oito vezes o seu DC de repouso. As pessoas com cardiopatia grave podem ter pouca ou nenhuma reserva cardíaca, o que limita a sua capacidade de realizar até mesmo as tarefas simples da vida diária. REGULAÇÃO DA FREQUÊNCIA CARDÍACA Como você acabou de ver, o débito cardíaco depende tanto da frequência cardíaca quanto do volume sistólico. Os ajustes na frequência cardíaca são importantes no controle a curto prazo do débito cardíaco e da pressão arterial. O nó sinoatrial (SA) inicia a contração e, se deixado por si só, estabeleceria uma frequência cardíaca constante de cerca de 100 bpm. No entanto, os tecidos exigem diferentes volumes de fluxo sanguíneo em condições distintas. Durante o exercício, por exemplo, o débito cardíaco aumenta para fornecer mais oxigênio e nutrientes aos tecidos que estão trabalhando. O volume sistólico pode cair se o miocárdio ventricular estiver danificado ou se o volume de sangue for reduzido por causa de sangramento. Nestes casos, os mecanismos homeostáticos mantêm um débito cardíaco adequado pelo aumento da frequência e da contratilidade cardíacas. Entre os vários fatores que contribuem para a regulação da frequência cardíaca, os mais importantes são a divisão autônoma do sistema nervoso e os hormônios liberados pelas medulas das glândulas suprarrenais (epinefrina e norepinefrina). REGULAÇÃO AUTONÔMICA DA FREQUÊNCIA CARDÍACA A regulação do coração pelo sistema nervoso se origina no centro cardiovascular localizado no bulbo. Esta região do tronco Tutoria encefálico recebe informações de vários receptores sensoriais e dos centros cerebrais superiores, como o sistema límbico e o córtex cerebral. O centro cardiovascular então direciona o débito apropriado, aumentando ou diminuindo a frequência dos impulsos nervosos nas partes simpática e parassimpática do SNA. Mesmo antes de a atividade física começar, especialmente em situações de competição, a frequência cardíaca pode aumentar. Este aumento antecipatório ocorre porque o sistema límbico envia impulsos nervosos para o centro cardiovascular no bulbo. Quando a atividade física começa, os proprioceptores que estão monitorando a posição dos membros e os músculos enviam impulsos nervosos ao centro cardiovascular para aumentar a frequência. As informações dos proprioceptores são um grande estímulo para o rápido aumento da frequência cardíaca que ocorre no início da atividade física. Outros receptores sensitivos que fornecem informações ao centro cardiovascular incluem os quimiorreceptores, que monitoram alterações químicas no sangue, e os barorreceptores, que monitoram o estiramento das principais artérias e veias causado pela pressão do sangue que flui neles. Barorreceptores importantes localizados no arco da aorta e nas artérias carótidas detectam alterações na pressão arterial e fornecem informações sobre essas mudanças ao centro cardiovascular. Os neurônios simpáticos se estendem do bulbo à medula espinal. Da região torácica da medula espinal, nervos simpáticos aceleradores cardíacos estendem-se para o nó SA, para o nó AV e para a maior parte das porções do miocárdio. Os impulsos nos nervos cardíacos aceleradores desencadeiam a liberação de norepinefrina, que se liga os receptores beta1 (β1) das fibras musculares cardíacas. Essa interação tem dois efeitos distintos: (1) Nas fibras do nó SA (e AV), a norepinefrina acelera a taxa de despolarização espontânea, de modo que estes marcapassos disparam impulsos mais rapidamente e aumentam a frequência cardíaca; (2) nas fibras contráteis dos átrios e ventrículos, a norepinefrina aumenta a entrada de Ca2+ através dos canais lentos de Ca2+ acionados por voltagem, aumentando assim a contratilidade. Como resultado, um maior volume de sangue é ejetado durante a sístole. Em caso de aumento moderado da frequência cardíaca, o volume sistólico não diminui, porque o aumento da contratilidade compensa a redução da précarga. Com a estimulação simpática máxima, no entanto, a frequência cardíaca pode chegar a 200 bpm em uma pessoa de 20 anos de idade. Em uma frequência cardíaca assim alta, o volume sistólico é menor do que em repouso, por causa do tempo de enchimento muito curto. A frequência cardíaca máxima diminui com a idade; como regra, subtrair sua idade de 220 fornece uma boa estimativa de sua frequência cardíaca máxima em batimentos por minuto. Os impulsos nervosos parassimpáticos chegam ao coração por meio dos nervos vagos (NC X) direito e esquerdo. Os axônios vagais terminam no nó SA, no nó AV e no miocárdio atrial. Eles liberam acetilcolina, o que reduz a frequência cardíaca, diminuindo a velocidade de despolarização espontânea das fibras autorrítmicas. Dado que apenas algumas fibras vagais inervam o músculo ventricular, as alterações na atividade parassimpática pouco influenciam a contratilidade dos ventrículos. Existe um equilíbrio que flutua continuamente entre a estimulação simpática e a estimulação parassimpática do coração. Em repouso, a estimulação parassimpática predomina. A frequência cardíaca de repouso – de aproximadamente 75 bpm – geralmente é menor do que a frequência autorrítmica do nó SA (cerca de 100 bpm). Com a estimulação máxima pela parte parassimpática, o coração Tutoria pode desacelerar para 20 ou 30 bpm, ou pode até mesmo parar momentaneamente. REGULAÇÃO QUÍMICA DA FREQUÊNCIA CARDÍACA Determinados produtos químicos influenciam a fisiologia de base do músculo cardíaco e a frequência cardíaca. Por exemplo, a hipoxia (nível de oxigênio reduzido), acidose (pH baixo) e alcalose (pH elevado) deprimem a atividade cardíaca. Vários hormônios e cátions têm grandes efeitos sobre o coração: Hormônios. A epinefrina e a norepinefrina (provenientes da medula da glândula suprarrenal) melhoram a efetividade do bombeamento cardíaco. Estes hormônios afetam as fibras musculares cardíacas de modo muito semelhante à maneira como o faz a norepinefrina liberada pelos nervos aceleradores cardíacos – aumentam a frequência e a contratilidade cardíacas. O exercício, o estresse e a excitação fazem com que as medulas das glândulas suprarrenais liberem mais hormônios. Os hormônios tireoidianos também melhoram a contratilidade cardíaca e aumentam a frequência cardíaca. Um sinal de hipertireoidismo é a taquicardia, ou seja, uma frequência cardíaca de repouso elevada. Cátions. Dado que as diferenças entre as concentrações intracelulares e extracelulares de vários cátions (p. ex., Na+ e K+) são cruciais para a produção de potenciais de ação em todas as fibras nervosas e musculares, não é de se estranhar que os desequilíbrios iônicos possamcomprometer rapidamente a efetividade do bombeamento cardíaco. As concentrações relativas de três cátions – K+, Ca2+ e Na+ – exercem efeito acentuado na função cardíaca. Níveis sanguíneos elevados de K+ ou Na+ diminuem a frequência e a contratilidade cardíaca. O excesso de Na+ bloqueia o influxo de Ca2+ durante potenciais de ação cardíacos, diminuindo assim a força de contração, enquanto o excesso de K+ bloqueia a produção de potenciais de ação. Um aumento moderado do nível intersticial (e, portanto, intracelular) de Ca2+ acelera a frequência cardíaca e fortalece as contrações cardíacas. EFEITO DO POTÁSSIO O excesso de potássio nos líquidos extracelulares pode fazer com que o coração se dilate e fique flácido, além de diminuir a frequência dos batimentos. Grandes quantidades de potássio podem vir a bloquear a condução do impulso cardíaco dos átrios para os ventrículos pelo feixe A-V. A elevação da concentração de potássio para apenas 8 a 12 mEq/L — 2 a 3 vezes o valor normal — pode provocar uma fraqueza acentuada do coração, ritmo de batimentos anormal e morte. Isto é, a alta concentração de potássio, no líquido extracelular, despolariza parcialmente a membrana celular, deixando o Tutoria potencial de membrana menos negativo. À medida que o potencial de membrana diminui, a intensidade do potencial de ação também diminui, o que faz as contrações do coração serem progressivamente mais fracas. EFEITO DO CÁLCIO O excesso de íons cálcio causa efeitos quase opostos aos dos íons potássio, induzindo o coração a produzir contrações espásticas. A causa disso é o efeito direto dos íons cálcio na deflagração do processo contrátil cardíaco. Por outro lado, a deficiência dos íons cálcio causa fraqueza cardíaca, semelhante à causada pelo aumento do potássio. Felizmente, porém, os níveis de íons cálcio no sangue normalmente são mantidos dentro de faixa bem estreita. Assim, os efeitos cardíacos das concentrações anormais de cálcio raramente se apresentam como uma preocupação clínica. EFEITO DA FEBRE A temperatura corporal aumentada, como ocorre quando alguém tem febre, provoca elevação muito importante da frequência cardíaca às vezes até ao dobro do valor normal. A redução da temperatura provoca queda da frequência, caindo até a poucos batimentos por minuto, quando a pessoa está próxima à morte por hipotermia, com a temperatura corporal entre 15 e 21°C. Provavelmente, isso é decorrente do fato de o calor aumentar a permeabilidade das membranas do músculo cardíaco aos íons que controlam a frequência cardíaca, com resultante aceleração do processo de autoestimulação. Tutoria RESUMO: 1) O débito cardíaco (DC) é o volume de sangue ejetado por minuto pelo ventrículo esquerdo para a aorta (ou pelo ventrículo direito para o tronco pulmonar). É calculado do seguinte modo: DC (mℓ/min) = volume sistólico (VS) em mℓ/batimento × frequência cardíaca (FC) em batimentos/min. 2) O volume sistólico (VS) é o volume de sangue ejetado por um ventrículo durante cada sístole. 3) A reserva cardíaca é a diferença entre o DC máximo de uma pessoa e seu DC em repouso. 4) O volume sistólico está relacionado com a pré-carga (estiramento do coração antes de ele se contrair), contratilidade (vigor da contração) e pós-carga (pressão que precisa ser sobrepujada antes que a ejeção ventricular possa ter início). 5) De acordo com a lei de FrankStarling do coração, uma précarga maior (volume diastólico final) distendendo as fibras musculares cardíacas pouco antes da contração aumenta a sua força de contração até que o alongamento se torne excessivo. 6) O controle nervoso do sistema circulatório se origina no centro cardiovascular localizado no bulbo. 7) Os impulsos simpáticos aumentam a frequência cardíaca e a força de contração; os impulsos parassimpáticos diminuem a frequência cardíaca. 8) A frequência cardíaca é afetada por hormônios (epinefrina, norepinefrina, hormônios da tireoide), íons (Na+, K+, Ca2+), idade, sexo, condicionamento cardiorrespiratório e temperatura corporal. Tutoria EXERCÍCIOS E CORAÇÃO O condicionamento cardiorrespiratório de uma pessoa pode ser melhorado em qualquer idade com o exercício regular. Alguns tipos de exercício são mais efetivos do que outros em melhorar a saúde do sistema cardiovascular. Os exercícios aeróbicos, qualquer atividade que aciona grandes músculos do corpo durante pelo menos 20 min, eleva o débito cardíaco e acelera a taxa metabólica. Geralmente recomenda-se 3 a 5 sessões por semana para melhorar a saúde do sistema cardiovascular. Caminhadas rápidas, corrida, ciclismo, esqui cross-country e natação são exemplos de atividades aeróbicas. A prática de exercícios físicos aumenta a demanda de oxigênio dos músculos. O fato de a demanda ser atendida depende principalmente da adequação do débito cardíaco e do bom funcionamento do sistema respiratório. Após várias semanas de treinamento, uma pessoa saudável aumenta o débito cardíaco máximo (o volume de sangue ejetado dos ventrículos para as respectivas artérias por minuto), elevando assim o fornecimento máximo de oxigênio aos tecidos. O transporte de oxigênio também aumenta porque os músculos esqueléticos desenvolvem mais redes capilares em resposta ao treinamento prolongado. Durante a atividade extenuante, um atleta bem treinado pode alcançar o dobro do débito cardíaco de uma pessoa sedentária, em parte porque o treinamento provoca hipertrofia do coração. Esta condição é conhecida como cardiomegalia fisiológica. A cardiomegalia patológica está relacionada com cardiopatia grave. Mesmo que o coração de um atleta bem treinado seja maior, seu débito cardíaco de repouso é aproximadamente o mesmo de uma pessoa não treinada saudável, porque o volume sistólico (volume de sangue bombeado a cada contração de um ventrículo) é aumentado enquanto a frequência cardíaca é diminuída. A frequência cardíaca de repouso de um atleta treinado muitas vezes é de apenas 40 a 60 bpm (bradicardia de repouso). A prática regular de exercício também ajuda a reduzir a pressão arterial, a ansiedade e a depressão; a controlar o peso; e a aumentar a capacidade do organismo de dissolver coágulos de sangue. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA Na insuficiência cardíaca a pessoa tem diminuição na capacidade de exercício ou até mesmo de se movimentar. Existem várias técnicas cirúrgicas e dispositivos médicos para ajudar um coração em insuficiência. Para alguns pacientes, mesmo um aumento de 10% no volume de sangue ejetado pelos ventrículos pode significar a diferença entre permanecer acamado e ter mobilidade limitada. O transplante cardíaco consiste na substituição de um coração com lesões importantes por um coração normal de um doador em morte cerebral ou falecido recentemente. Os transplantes cardíacos são realizados em pacientes com insuficiência cardíaca em estágio terminal ou doença da artéria coronária (DAC) grave. Quando um coração adequado é localizado, a cavidade torácica é exposta por meio de uma secção medioesternal. Depois de o paciente ser colocado em um aparelho de circulação extracorpórea, que oxigena e circula o sangue, o pericárdio é seccionado para expor o coração. Em seguida, o coração lesionado é removido (geralmente com exceção da parede posterior do átrio esquerdo) (Figura 20.18) e o coração do doador é colocado e suturado na posição de modo que o restante do átrio esquerdo e os grandes vasos sejam ligados ao coração do doador. O novo coração é estimulado quando o sangue flui por ele (pode ser utilizado um choque elétrico para corrigir um ritmo anormal), o paciente é retirado doaparelho de circulação extracorpórea, e o tórax é fechado.
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