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Ergonomia e Segurança do Trabalho Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Danilo Cândido Bulgo Revisão Textual: Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos Ergonomia e Segurança do Trabalho Ergonomia e Segurança do Trabalho • Proporcionar ao estudante o conhecimento acerca da ergonomia e da segurança do trabalho, bem como da importância dos equipamentos de proteção individual em um todo, porém com ênfase no campo da fisioterapia; • Evidenciar os riscos de trabalho e a atuação fisioterapêutica; • Identificar fatos importantes que regem a legislação e as principais normas regulamentadoras. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Ergonomia e Segurança do Trabalho. UNIDADE Ergonomia e Segurança do Trabalho Ergonomia e Segurança do Trabalho A preocupação com a saúde, segurança e ergonomia nos locais de trabalho vem se destacando na sociedade moderna e isso se dá pelo fato de crescer diariamente o número de acidentes e doenças relacionadas às atividades produtivas nos mais variados campos de trabalho. No Brasil, em meados de 1978, na tentativa de fixar medidas de segurança aplicadas à saúde no trabalho na rotina das empresas, foi instituída uma gama de estruturas legais representadas especialmente pelo Capítulo V da Consolida- ção das Leis do Trabalho (CLT) e pelas Normas Regulamentadoras (NRs). Essa foi a maneira encontrada para garantir aos trabalhadores um ambiente de trabalho seguro e saudável, com a redução dos riscos inerentes ao trabalho (ROSA; QUIRINO, 2017). A Segurança no Trabalho surge, então, como um campo que visa subsidiar cons- tantes transformações de processos no ambiente de trabalho, no maquinário, nas ferramentas e nos produtos que são utilizados nas diferentes atividades laborais no decorrer da história, tendo como característica o aumento da qualidade de vida aos trabalhadores durante suas jornadas de trabalho. Afinal, o que é segurança do trabalho e saúde do trabalhador? Ao pensar no histórico da segurança do trabalho, pesquisadores apontam que Aristóteles es- tudava as enfermidades dos trabalhadores nas minas e, principalmente, as maneiras de evitá- -las, e Hipócrates, famoso por ser considerado pai da medicina, quatro séculos antes de Cristo, estudou a origem das doenças das quais eram vítimas os trabalhadores que exerciam suas ati- vidades em minas de estanho. Em tempos mais modernos, em meados de 1802, o parlamento britânico aprovou a Primeira Lei de proteção dos Trabalhadores, conhecida como a “lei de saú- de e moral dos aprendizes”, que em seus pilares “Estabelecia o limite de 12 horas de trabalho por dia, proibia o trabalho noturno, obrigava os empregadores a lavar as paredes das fábricas duas vezes por ano e tornava obrigatória a ventilação do ambiente” (MIRANDA, 1998, p. 2). No território brasileiro, as legislações são relativamente recentes no campo da se- gurança do trabalho e saúde do trabalhador. Até o início do século XX, a economia nacional era focada no serviço braçal de escravos e na agricultura, e nessa época já existiam acidentes decorrentes do trabalho. Em 1970, o Brasil era o campeão mundial de acidentes do trabalho e desde então começaram os avanços na área que preserva a saúde do trabalhador. Nesse contexto, surge a medicina do trabalho, que se destaca por trabalhar em prol da preservação da saúde do trabalhador, proporcionando aos empregados aumento das condições de saúde nos espaços de trabalho, bem como auxiliando no manejo das consequências de adversidades causadas durante o trabalho. Essa área atende o trabalhador desde o ingresso na empresa, com os exames ad- missionais, até o término de seu contrato de trabalho, com os exames demissionais, além de intervenções que visam empoderar o trabalhador frente aos cuidados com sua saúde durante sua vida laboral. 8 9 Ao se pensar na saúde do trabalhador, os equipamentos de proteção individual (EPI) se tornam indispensável na rotina dos trabalhadores durante suas atividades laborais. Vamos falar sobre essa temática? A Norma Regulamentadora NR 6 descreve que o EPI possui a finalidade de pro- teger individualmente cada trabalhador de possíveis lesões quando da ocorrência de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. Dessa maneira, o EPI não evita os acidentes em si, mas minimiza os riscos e protege o empregado quando o risco estiver ligado à função ou ao cargo do trabalhador e à exposição ao agente. O risco está relacionado ao aspecto e à quantidade do agente, ao tempo de exposição e à sensibilidade do organismo do trabalhador (ALVES, 2013). Para entrar no mercado, os EPIs devem ser testados e aprovados pela autoridade competente, a fim de evidenciar sua eficácia. O Ministério do Trabalho atesta a qua- lidade de um EPI por meio da emissão obrigatória do “Certificado de Aprovação”. Outro certificado emitido pelo Ministério do Trabalho visando cadastrar os fabrican- tes de EPIs é o “Certificado de Registro de Fabricante”. O Ministério do Trabalho admite a compra de EPIs advindos de outros países e que são comercializados no território nacional, porém estes devem estar credenciados por meio do Certificado de Registro de Importação (ALVES, 2013). Para utilizar os EPIs, existe uma obrigatoriedade mútua entre empregador e em- pregado. A seguir, vamos identificar cada uma dessas obrigações. • São obrigações da empresa prestadora de serviço: » Proporcionar ao empregado o EPI adequado conforme a atividade exercida, em consonância com o setor de segurança do trabalho da organização; » Realizar a substituição imediata do EPI danificado, inclusive em caráter emer- gencial, se necessário; » Determinar a utilização, bem como fiscalizar o EPI de maneira correta, apli- cando as medidas previstas em leis para os trabalhadores que não cumprirem com a ordem pré-determinada; » É responsabilidade do empregador subsidiar ao empregado, de maneira gra- tuita, o EPI aprovado pelo Ministério do Trabalho, além de substituir o mesmo frente às demandas advindas da rotina e do tipo de trabalho; » Manter a comunicação aberta junto ao Ministério do Trabalho ou órgão responsável, a fim de esclarecer qualquer tipo de irregularidade observada no EPI adquirido; • São obrigações do trabalhador: » Fazer uso do EPI apenas para a finalidade a que se destina durante sua jornada de trabalho; » Receber os EPIs recomendados, bem como responsabilizar-se pela manuten- ção, conservação e utilização do EPI; 9 UNIDADE Ergonomia e Segurança do Trabalho » Seguir as normas e regulamentos propostos pelo setor de Segurança do Tra- balho sobre o uso adequado, guarda e conservação do EPI; » Comunicar imediatamente ao supervisor imediato e/ou à equipe de seguran- ça do trabalho da organização sobre qualquer intercorrência com a utilização de EPI; » Solicitar ao supervisor imediato a requisição para realizar a troca do EPI inade- quado para uso; » Devolver o EPI reutilizável à segurança do trabalho, quando o trabalhador se desligar da Unidade. São variados os tipos de EPIs, cada um terá sua finalidade e modo de utilização, especificações que vão depender da atividade laboral a ser executada, assim como do local de trabalho. A seguir estão listados alguns EPIs utilizados: • Luvas: têm a finalidade de proteger as mãos, dedos e braços contra riscos mecânicos, térmicos e químicos. Geralmente são confeccionadas em diferen- tes materiais, dependo da proteção que se deseja obter; • Calçados: destinados à proteção dos pés, dedos e pernas contra riscos tér- micos, umidade, produtos químicos, quedas e animais peçonhentos; • Aventais, jalecos, mangotes, capas, calças e blusas: têm como propósito proteger o corpo do trabalhador contra calor, frio, produtos químicos e umi- dade, etc; • Óculos e máscaras: visam proteger os olhos contra partículas, luz intensa e severa, radiação e respingos de produtos químicos, gases, vapores; • Protetores auriculares e abafadores: auxiliam na proteção do sistema auditivo; • Cintos de segurança: auxiliam na proteção contra quedas; • Capacetes,capuz e gorros: visam proteger o crânio contra impactos, choque elétrico e combate a incêndio e servem de proteção aos cabelos; • Cremes variados: protegem a pele contra a ação de produtos químicos em geral. Aprofunde seu conhecimento sobre os EPIs assistindo aos vídeos a seguir. Você poderá perceber a importância da utilização destes equipamentos de proteção na indústria e na área da saúde: • Reportagem especial: Saiba sobre a importância do uso de EPIs. Disponível em: https://youtu.be/gk4-XuG4emU • Uso correto de EPIs nas urgências e hospitais. Disponível em: https://youtu.be/Mg3RIWPwvxA 10 11 CINTOS DE SEGURANÇA MÁSCARAS LUVAS MANGOTES ÓCULOS AVENTAIS CREMES VARIADOS PROTETORES ABAFADORES GORROS CAPACETES CAPAS PROTETORES AUDITIVOS JALECOS Figura 1 – Equipamentos de Proteção Individual Fonte: Adaptado de Getty Images Quando se trata da prática profissional do fisioterapeuta, os EPIs são extrema- mente importantes para sua rotina de trabalho, pois de acordo com a Organização Mundial de Saúde, os profissionais de saúde em geral apresentam riscos elevados no desenvolvimento de patologias infecciosas comparados à população em geral, devido à maior chance de exposição durante o período laboral. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em sua norma regulamen- tadora NR nº 32, considera o jaleco um equipamento de proteção individual indis- pensável. Dessa maneira, preconiza que os trabalhadores não devem deixar seu local de trabalho com os equipamentos de proteção individual, bem como com os trajes utilizados em suas atividades laborais (CREMEC, 2014). Os EPIs devem ser atóxicos, sem a finalidade de gerar alergias ou irritações para a pele dos trabalhadores e ainda serem confortáveis (SKRABA; NICKEL; WOTKOSKI, 2006). Seguindo os padrões estipulados pela Norma Regulamentadora (NR-6) da por- taria Nº 3.214 de 08.06.78, os EPIs têm a finalidade de proteger os profissionais nas operações de riscos de exposição ou quando existir manipulação de produtos químicos e biológicos, bem como riscos de contágio com materiais perfurocortantes (CARVALHO et al., 2009). No cenário brasileiro, a NR 32 estabelece as diretrizes básicas para a inserção de medidas protetivas à segurança de trabalhadores na área da saúde, determinando 11 UNIDADE Ergonomia e Segurança do Trabalho que a vestimenta deve ser fornecida pelas instituições de saúde sem gastos para o profissional e que os mesmos não devem utilizá-la fora das atividades de trabalho (BRASIL, 2002). Tavares (2009, p. 16 e 17) destaca que diversos são os fatores que se relacionam à implantação de programas de segurança e saúde do trabalho nos espaços organi- zacionais, dentre eles a autora aponta: • Aspectos sociais: O ônus pelo acidente do trabalho reflete-se em toda a nação; é ela que paga, através da arrecadação de impostos, ao incapacitado ou à famí- lia da vítima de um acidente fatal o seguro social a que tem direito. É expressivo o número de brasileiros aposentados por invalidez, que ficam à espera apenas do seu irrisório salário, quando poderiam estar produzindo e, consequentemen- te, contribuindo para o desenvolvimento do país; • Aspectos humanos: Embora não se possa representar em números, o aspecto humano é o mais importante, pois não há dinheiro que pague o preço de uma vida, assim como não há indenização que corresponda ao valor de uma mão, de um braço ou de qualquer parte do corpo mutilada em um acidente. Não dá para mensurar o significado, para os familiares, de um indivíduo que saiu para trabalhar e não voltou, vítima de um acidente do trabalho que poderia ter sido evitado. Outro fator não quantificável são os traumas que um acidente acarreta para os companheiros do acidentado; • Aspectos econômicos: A queda na produção de uma empresa e da nação como um todo, decorrente de acidentes de trabalho, é um aspecto que deve ser considerado, pois, além do custo final dos produtos, o acidente acarreta gastos com atendimento médico, transporte, remédios, indenizações, pen- sões, etc. Com a pandemia devida ao Covid-19, os fisioterapeutas ficaram em evidência, pois são fundamentais na linha de frente no tratamento de pacientes acometidos pelo Coronavírus. Dessa maneira, amplie seu conhecimento sobre os EPIs, a segurança do trabalhador que lida com essa patologia. Orientações quanto ao uso de equipamentos de proteção individual (epis) por fisio- terapeutas e terapeutas ocupacionais que atuam frente à pandemia do novo corona- víus (covid-19) no âmbito hospitalar, disponível em: https://bit.ly/2YbX9Ji Os fisioterapeutas pertencem à classe de profissionais da área de Saúde que mais apresentam distúrbios posturais, pois as atividades laborativas exercidas durante sua rotina implicam exigências do sistema musculoesquelético, com movimentos repe- titivos de membros superiores, manutenção de posturas estáticas e dinâmicas por tempo prolongado e, principalmente, movimentos de sobrecarga para a coluna ver- tebral (HOLDER et al., 1999). 12 13 A Associação Brasileira de Fisioterapia disponibilizou um documento que objetiva informar sobre os modos de transmissão, o uso correto de equipamentos de proteção individual (EPIs) no ambiente hospitalar pelos fisioterapeutas e sobre a prevenção de transmissão cruzada por estes profissionais durante a pandemia de COVID-19. Recomendações sobre o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) no am- biente hospitalar e prevenção de transmissão cruzada na covid-19. Disponível em: https://bit.ly/3aEngNV A Norma Regulamentadora 17 (NR 17), cuja titulação é Ergonomia, estabelecida pelo Ministério do Trabalho por meio da Portaria nº 3.751, de 23 de novembro de 1990, estabelece parâmetros que admitam a adaptação das condições de trabalho às condições psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a adequá-las ao máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. A NR 17 tem a sua existência jurídica assegurada, em nível de legislação ordinária, nos Artigos 198 e 199 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) (BRASIL, 1996). Nessa perspectiva, a Ergonomia se destaca por estar relacionada à compreensão das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos, a fim de aprimorar o bem-estar huma- no e o desempenho global do sistema homem-máquina-ambiente (ABERGO, 2012). De acordo com Dul (2004), a palavra ergonomia é de origem grega – ERGO signi- fica trabalho e NOMOS significa leis, regras e normas; essa junção, então, se dá como “as regras/normas/leis para a execução do trabalho”. Ergonomia, portanto, é o estudo científico das relações entre o homem e o seu ambiente de trabalho (LIDA, 2005). A ergonomia visa auxiliar na identificação de condições inadequadas no ambiente laboral, ampliando o olhar para a análise ergonômica do trabalho, a fim de aprimo- rar condições que permitam a manutenção da qualidade de vida e saúde do traba- lhador (LIMA, 2000). A análise ergonômica do trabalho abarca, em seus objetivos, métodos e desenvol- vimentos teóricos sobre a atividade de trabalho efetivamente desenvolvida pelas pes- soas, suas dificuldades físicas e/ou cognitivas e as condições encontradas no espaço de trabalho (SALERMO, 2000). Deliberato (2002) ainda destaca que no contexto ergonômico, a ergonomia se apresenta de três maneiras: Quadro 1 – Tipos de ergonomia Ergonomia de Correção Define-se quando a mesma é aplicada com base na análise ergo-nômica do trabalho. Ergonomia de Concepção Ocorre quando o estudo se faz durante a fase inicial do projeto, para uma máquina, um método de trabalho ou ambiente. Ergonomia de Conscientização Baseia-se na orientação e informação do trabalhador, por meio de treinamentos e palestras, sobre seu posto de trabalho. 13 UNIDADE Ergonomia e Segurança do Trabalho Observe a figura a seguir. CERTO ERRADO Torcicolo Ombros tensos e arcados Lombalgia Cotovelo de tenista/gol�sta Veias varicosas, pernas inchadas Câimbrasnos dedos Cefaléias, fadiga visual, olhos ressecados e prurido Punho em uma direção neutra (sem dobrar) Ombros e quadris alinhados Encosto adaptado à curvatura da coluna Descanso de braço na altura correta Altura do assento abaixo da rótula Pés apoiados no solo ou em descanso para os pés Joelhos discretamente abaixo do quadril Mouse próximo ao teclado e no mesmo nível Teclado diretamente à sua frente Figura 2 – Ergonomia na saúde do trabalhador Fonte: Adaptado de Getty Images É notório que o profissional atuante nos pilares da ergonomia cuida de forma global da saúde do trabalhador; como evidenciado na Figura 2, o trabalhador é as- sistido de maneira ampla, com a finalidade de diminuir os agravos sofridos pela má utilização dos mobiliários utilizados diariamente na sua prática laboral. Nota-se que os sistemas corporais são beneficiados com tais modificações ergonômicas. A ergonomia colabora para propiciar segurança e bem-estar aos trabalhadores, bem como a eficácia dos sistemas nos quais eles se encontram envolvidos. Assim, percebe-se a relevância do desenvolvimento de um pensamento que sensibilize para a prevenção dentro das empresas; a fisioterapia do trabalho (ou fisioterapeuta ergonomista) é um desses recursos modernos para implantação desses programas nas instituições. ERGONOMIA FÍSICA COGNITIVA ORGANIZACIONAL Posto de trabalho Ambiente físico Individual Coletiva Normalidade Anormalidade Figura 3 – Conceituação da ergonomia Desse modo, a ergonomia se torna um processo construtivo e participativo, pois auxilia de maneira abrangente a detecção e solução de possíveis transtornos laborais, exige o conhecimento profissional de tarefas exercidas na rotina profissional, bem como das dificuldades enfrentadas, para se atingir o desempenho e a produtividade exigidos (BRASIL, 2012). 14 15 A ergonomia se destaca por ser a ciência aplicada para facilitar o trabalho execu- tado pelo homem, sendo que se interpreta aqui a palavra “trabalho” como algo muito abrangente. Uma ciência que pesquisa, estuda, desenvolve e aplica regras e normas a fim de organizar o trabalho, tornando este último compatível com as características físicas e psíquicas do ser humano. Pensando na qualidade de vida e na saúde do trabalhador, destaca-se o bem-estar no ambiente laboral, que decorre de sentimentos agradáveis que se originam das situ- ações vivenciadas pela execução de suas atividades no campo de trabalho. A manifes- tação no âmbito individual ou coletiva do bem-estar no trabalho se distingue pela exis- tência de sentimentos (isolados ou associados) que acontecem, com maior constância, nas seguintes modalidades: alegria, amizade, ânimo, confiança, conforto, disposição, equidade, equilíbrio, estima, felicidade, harmonia, justiça, liberdade, prazer, respeito, satisfação, segurança, simpatia (FERREIRA, 2012, p. 179). Já o mal-estar no trabalho é um sentimento desagradável que se acarreta das circuns- tâncias vivenciadas pelos trabalhadores na execução das tarefas. A manifestação indi- vidual ou coletiva do mal-estar no trabalho se caracteriza pela vivência de sentimentos (isolados ou associados) que advêm, com maior frequência, nas seguintes modalidades: aborrecimento, antipatia, aversão, constrangimento, contrariedade, decepção, desâni- mo, desconforto, descontentamento, desrespeito, embaraço, incômodo, indisposição, menosprezo, ofensa, perturbação, repulsa, tédio (FERREIRA, 2012a, p. 180). O quadro a seguir indica a relação entre o bem-estar e mal-estar na rotina de tra- balho, visto que as condições do trabalho, organização do trabalho, relações socio- -profissionais do trabalho, reconhecimento e crescimento profissional e elo entre trabalho e vida social se estruturam a fim de compor aspectos que interligam a saúde do trabalhador e o espaço laboral. Quadro 2 – Representações de bem-estar e mal-estar no campo de trabalho Condições de Trabalho • Equipamentos arquitetônicos: piso, paredes, teto, portas, janelas, decoração, arran- jos físicos, layouts; • Ambiente físico: espaços de trabalho, iluminação, temperatura, ventilação, acústica; • Instrumental: ferramentas, máquinas, aparelhos, dispositivos informacionais, documenta- ção, postos de trabalho, mobiliário complementar; • Matéria-prima: materiais, bases informacionais; • Suporte organizacional: informações, suprimentos, tecnologias, políticas de remune- ração, de capacitação e de benefícios. Organização do Trabalho • Missão, objetivos e metas organizacionais: qualidade e quantidade, parametragens; • Divisão do trabalho: hierárquica, técnica, social; • Processo de trabalho: ciclos, etapas, ritmos, tipos de pressão; • Padrão de conduta: conhecimento, atitudes, habilidades previstas, higiene, trajes/ vestimentas; • Trabalho prescrito: planejamento, tarefas, natureza e contúdos das tarefas, regras formais e informais, procedimentos técnicos, prazos; • Tempo de trabalho: jornada (duração, turnos), pausas, férias, flexibilidade; • Gestão do trabalho: controles, supervisão, fiscalização, disciplina. 15 UNIDADE Ergonomia e Segurança do Trabalho Relações Socioprofissionais do Trabalho • Relações hierárquicas: chefia imediata, chefias superiores; • Relações com os pares: colegas de trabalho, membros de equipes; • Relações externas: cidadãos-usuários dos serviços públicos, clientes e fornecedores de produtos e serviços privados, pestadores de serviços, auditores, fiscais. Reconhecimento e Crescimento Profissional • Reconhecimento: do trabalho realizado, do empenho, da dedicação, da hierarquia (chefia imediata e superiores), da instituição, dos cidadãos-usuários/clientes/consumi- dores, da sociedade; • Crescimento profissional: uso da criatividade, desenvolvimento de competências, capacitações, oportunidades, incentivos, equidade, carreira. Elo Trabalho e Vida Social • Sentido do trabalho: prazer, bem-estar, valorização do tempo vivenciado na organiza- ção, sentimento de utilidade social, produtividade saudável; • Importância da instituição empregadora: significado pessoal, significado profissio- nal, significado familiar, significado social; • Vida social: relação trabalho-casa, relação trabalho-família, relação trabalho-amigos, relação trabalho-lazer, relação trabalho-sociedade. Fonte: Adaptado de FERREIRA, 2013 A ergonomia pode subsidiar ideias de proteger o trabalhador dos riscos físicos, ambientais e psicológicos provocados, principalmente, pelo sistema capitalista, que visa sempre ao lucro mediante aumento da produção, intensificando o fluxo de tra- balho e delimitando seu tempo, sem se preocupar com o conforto do funcionário. A atuação preventiva do fisioterapeuta ergonomista visa diminuir desconfortos e aumentar a qualidade de vida de colaboradores, o que, consequentemente, pode corroborar os benefícios à empresa. Ao se tratar disfunções e alterações ocorridas por ocupação profissional, o objeto de ação é um elemento integrante da ergonomia, a partir do momento em que orienta quanto a posicionamento e posturas durante o efetivo trabalho. Desse modo, ao especificar um procedimento a cada colaborador, propicia a programação de exercícios preventivos para relaxamento de estruturas que compõem o corpo humano (NASCIMENTO; OLIVEIRA, 2013). Diniz et. al. (2008) destacam que a ergonomia irá sintetizar todos os conheci- mentos adquiridos sobre anatomia, fisiologia, biomecânica, sistema nervoso, cine- sioterapia, dentre outras disciplinas, a serem aplicados também ao planejamento de máquinas, ferramentas e estratégias, bem como utilizados à disposição dos postos laborais no sentido de como agir, para uma melhor eficiência tanto dos homens como das máquinas. Para Deliberato (2002), as estratégias na atenção preventiva estão na modifica- ção dos postos de trabalho, na redução da repetitividade e no uso do sistema de alternância das tarefas, no descanso durante a jornada de trabalho e na conscien- tização dos trabalhadores pelas atividades educativas. Os trabalhadorespossuem uma tendência maior a habituar-se ao espaço de trabalho do que adaptar esses ambientes às suas necessidades. Nascimento (2012) ressalta que a ergonomia consente a confrontação da tare- fa prescrita com a realizada, bem como proporciona um diagnóstico de maneira 16 17 objetiva às possíveis alterações ou adaptações necessárias à melhoria do posto de trabalho, da organização do trabalho ou das condições ambientais a que são subme- tidos esses trabalhadores, sendo de responsabilidade do Fisioterapeuta do Trabalho, ou fisioterapeuta ergonômico. 1ª etapa Análise das demandas ergonômicas 2ª etapa Análise das condições de trabalho 3ª etapa Análise da carga física dos trabalhadores 4ª etapa Diagnóstico Ergonômico 5ª etapa Recomendações Ergonômicas Figura 4 – Demandas da organização laboral Figura 5 – Ergono mia postural Fonte: Getty Images Dessa maneira, quais vantagens a organização tem ao investir na ergonomia? Benefícios da ergonomia: • Aumento na produtividade das organizações; • Elevação do bom clima organizacional favorável; • Trabalhadores com mais satisfação profissional; • Diminuição de riscos de acidentes e doenças ocupacionais; • Redução no número de atrasos e faltas; • Diminuição no número de pedidos de demissão; • Menos riscos deletérios dos aspectos emocionais (ansiedade, estresse e depressão). 17 UNIDADE Ergonomia e Segurança do Trabalho A seguir, vamos ampliar nosso conhecimento sobre os aspectos ergonômicos. • Orientações Ergonômicas, disponível em: https://bit.ly/3kVZPo8 • Cartilha de ergonomia, disponível em: https://bit.ly/3iJXKd4 Frente aos conceitos da segurança do trabalho e da ergonomia, a busca constante pelo bem-estar físico e mental é um processo contínuo na vida humana. Assim, a Er- gonomia e a segurança na saúde do trabalhador contribuem com a qualidade de vida, saúde e bem-estar dos funcionários, bem como dos empregadores. A má postura, equipamentos não adequados ou não ajustados ao colaborador e as alterações dele- térias dos aspectos biopsicossociais, advindas dos transtornos causados no ambiente laboral, podem causar males para a saúde e reduzir a produtividade no trabalho. Desse modo, faz-se necessário difundir aspectos na ergonomia que são a segu- rança no trabalho e a prevenção de acidentes de trabalho. Ambos, em consonância, podem estabelecer locais, ferramentas e estratégias adequadas para o colaborador exercer as suas atividades diárias, além de usar métodos laborais que facilitam sua rotina nos espaços de trabalho. 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Ergonomia: História, Conceitos e Aplicabilidade https://youtu.be/nDwRnirgxKE Fisioterapia na Saúde do Trabalhador https://youtu.be/oD2PLVHAE1g Leitura A Evolução Histórica da Ergonomia no Mundo e seus Pioneiros https://bit.ly/3g27y0c Fisioterapia Preventiva na Avaliação Ergonômica de um Escritório https://bit.ly/349RpU1 Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora Nº 17 https://bit.ly/3g9j1LB 19 UNIDADE Ergonomia e Segurança do Trabalho Referências BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 6 – Equipamento de proteção individual – EPI – Portaria GM n. 3.214, de 08 de junho de 1978. Disponível em: <http://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-n-11.347-de-6-de-maio-de-2020-255 941711>. Acesso em: 26/05/2020. ________. Portaria n. 8, de 08 de maio de 1996 – NR 07. Altera Norma Regulamenta- dora NR-7 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, v. 134, n. 91, p. 8202, 13 de maio de 1996. CARVALHO, C. R. S.; MADEIRA, M. Z. A.; TAPETY, F. I.; ALVES, E. L. M.; MARTINS, M. C. C.; BRITO, J. N. P. O. Aspectos de biossegurança relacionados ao uso do jaleco pelos profissionais de saúde: uma revisão de literatura. Texto e Contexto Enfermeiro. Florianópolis, v. 18, n. 2, p. 355-360, abr./jun. 2009. CREMEC – Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará. Parecer CREMEC Nº. 16/2014. Assunto: uso do jaleco fora do local de trabalho. Fortaleza – Ceará, 2014. DELIBERATO, P. C. P. Fisioterapia preventiva. Barueri: Manole, 2002. ________. Fisioterapia preventiva: fundamentos e aplicações. 1ª ed. Barueri: Manole, 2002. 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