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TEMAS E TEORIAS DA FILOSOFIA

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Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
TEMAS E TEORIAS 
DA FILOSOFIA
Autores: Celso Kraemer
 Melissa Probst Stamm
801
J962t Kraemer, Celso.
 Temas e Teorias da Filosofia / Celso Kraemer [e]
 Melissa Probst Stamm. Centro Universitário Leonardo
 da Vinci – Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2009.x;
 133 p.: il.
 Inclui bibliografia. 
 ISBN 978-85-7830-230-6
 1. Filosofia – Teoria 2. Temas em Filosofia
 I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. 
 II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Dr. Malcon Tafner
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel
Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller
 Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald
 Profa. Jociane Stolf
Revisão de Conteúdo: Prof. Fernando Schaffer
Revisão Gramatical: Profa. Iolanda Lourdes Sestrem
Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci
Copyright © Editora Grupo UNIASSELVI 2009
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial. UNIASSELVI – Indaial.
Sou graduada em Pedagogia, com pós-
graduação em Metodologia do Ensino Superior 
e em Supervisão, Orientação e Gestão Escolar. 
Atualmente sou acadêmica do Mestrado em Educação 
pela Universidade Regional de Blumenau. Atuo como 
Professora em cursos de Ensino Médio, pós-graduação. 
Atualmente atuo também como professora tutora interna 
do Curso de Pedagogia, oferecida pela UNIASSELVI. 
Publiquei: Professor: reprodução ou mudança? Avaliação 
educacional: diversos olhares; Ética e valorização da 
vida em Paulo Freire e cerca de 80 livros de literatura 
infantil publicados pela Editora Sabida e alguns pela 
editora Bicho Esperto, ambas de Blumenau.
Melissa Probst Stamm
Sou graduado em Filosofi a, com mestrado em 
Educação pela Universidade Regional de Blumenau 
e com doutorado em fi losofi a pela Pontifícia 
Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Atuo 
como professor de fi losofi a na Universidade Regional 
de Blumenau (FURB) há 19 anos, trabalhando nos mais 
diversos cursos de graduação. Também sou professor do 
Curso de Filosofi a da Faculdade São Luiz, de Brusque, há 
mais de dez anos. Atualmente sou também professor do 
Mestrado em Educação da FURB. Publiquei: Recordando 
Paulo Freire: experiências de Educação Libertadora na 
Escola; Ética e Antropologia; O Cortesão e o Modelo de 
Educação; Disciplina do Corpo; Um Estudo da História 
da Prostituição na Sociedade Blumenauense entre os 
anos de 1890/1900 - Parte I; Um Estudo da História 
da Prostituição na Sociedade Blumenauense 
entre os anos de 1890/1900 - Parte II; A Cisão 
da Filosofi a entre Universalismo e Singularismo 
durante o Século XX.
Celso Kraemer
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................ 7
CAPÍTULO 1
Noções Gerais de Filosofia ......................................................... 9
CAPÍTULO 2
Raízes da Filosofia ...................................................................... 27
CAPÍTULO 3
Herança, Tradição, Transmissão: dos Estoicos 
a Descartes – Filosofia na Idade Média .................................... 45
CAPÍTULO 4
Filosofia do Cogito: Fundação 
do Sujeito do Conhecimento ..................................................... 59
CAPÍTULO 5
Kant, o Iluminismo e a Modernidade .......................................... 73
CAPÍTULO 6
A Razão no Século XIX ............................................................... 89
CAPÍTULO 7
Alternativas ao Humanismo do Século XIX............................ 103
CAPÍTULO 8
Tirania e Vigor Crítico da Modernidade .................................117
APRESENTAÇÃO
A filosofia é mais do que uma disciplina a ser ministrada na escola. Ela é a 
forma mais bem elaborada da sabedoria humana. Tratando de muitos assuntos, 
desde o tema da verdade (teoria do conhecimento/epistemologia), do bem (ética/
moral), da beleza (estética), até questões mais simples, como o significado do 
jogo, todos interessam, no sentido de serem importantes para toda e qualquer 
pessoa, de qualquer idade. Mesmo que você nunca tenha lido um texto de filósofo, 
isso não significa que você não se envolveu com questões filosóficas. Todos 
nós, na medida em que somos conscientes de nossa existência como pessoas, 
somos obrigados a nos perguntar de onde provém tudo isso, por que eu existo, 
qual o sentido da existência. Na medida em que nos perguntamos essas coisas, 
forçosamente estamos nos colocando questões filosóficas.
Nesse sentido, o presente Caderno de Estudos foi elaborado para aproximar 
as grandes elaborações filosóficas, dos chamados filósofos, da experiência 
cotidiana das pessoas. Buscamos tornar possível a você, leitor(a), encontrar suas 
próprias perguntas e questões presentes em nosso texto, para que você, além de 
perceber o quanto a filosofia está presente em sua vida, consiga ver também que 
a filosofia não é algo tão complicado; com um pouquinho de aplicação você verá 
que a filosofia já está presente em sua vida.
Na execução desse empreendimento, organizamos o roteiro de estudos 
em oito capítulos. O Primeiro Capítulo aborda a questão da sabedoria, os tipos 
de uso da palavra sabedoria e os diferentes assuntos abordados pela filosofia, 
bem como suas divisões internas. O Segundo Capítulo mostra que através da 
mitologia e da religião o ser humano deu as primeiras respostas a suas questões 
filosóficas. Sobre esse solo mitológico constitui-se a primeira filosofia, da Physis, 
a partir da qual os filósofos mais conhecidos, Sócrates, Platão e Aristóteles, 
constituíram suas reflexões. O Terceiro Capítulo dedica-se a apresentar a 
filosofia dos estóicos e dos epicuristas, bem como identificar as filosofias da 
Idade Média, a Patrística e a Escolástica. O Racionalismo, o Empirismo e a 
importância do método indutivo para a ciência são expostos no Quarto Capítulo, 
dedicado aos séculos XVII e XVIII, importantes para a ruptura com o pensamento 
antigo e medieval, preparando o espírito de nosso tempo. O Quinto Capítulo 
demonstra as influências do Iluminismo na vida social, política e ética, bem como 
da Filosofia Crítica de Kant, para a finitude de nossa época. O debate acerca 
do modelo social da burguesia é discutido no Sexto Capítulo, no qual também 
se discutem o Positivismo de Comte e a dialética de Hegel e Marx. O Sétimo 
Capítulo fala do método hermenêutico e do método fenomenológico de Husserl, 
mostrando o quanto eles fazem parte do cotidiano de nossa vida. O caderno 
finaliza no Oitavo Capítulo, com as novas filosofias do século XX. Em função 
do volume, importantes filosofias, como a de Henri Bergson, Emanuel Mounier, 
Maurice Merlou-Ponty acabaram ficando de fora. Em compensação, conseguimos 
fazer uma excelente apresentação das filosofias de Nietzsche, Freud, Heidegger, 
Foucault e Deleuze. Convidamos você para essa aventura com o pensamento.
CAPÍTULO 1
Noções Gerais de Filosofia
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
  Compreender a importância das diferentes regiões temáticas da fi losofi a na 
vida em sociedade.
  Indicar de que maneira o conceito de sabedoria permite relacionar internamente 
a fi losofi a de vida, fi losofi a de instituições e a fi losofi a em sentido estrito.
10
Temas e teorias da fi losofi a
11
NOÇÕES GERAIS DE FILOSOFIACapítulo 1
ConteXtualização
Entre as coisas mais importantes da vida, a sabedoria ocupa um lugar 
privilegiado. Se todos os outros bens que você conseguiu acumular podem 
ser subtraídos, a sabedoria, uma vez atingida, integra-se tanto ao seuser que 
jamais pode ser roubada. Por certo tempo, na sociedade moderna, industrial 
e tecnológica, teve-se a impressão de que a fi losofi a havia deixado de ser 
importante. Mas, como nem tudo que é importante reduz-se ao útil, um número 
crescente de pessoas retorna à fi losofi a por reconhecer nela a maneira mais 
fundamental de buscar o sentido da própria existência, atingir a justiça, a ética e 
compreender a totalidade. O que se entende por fi losofi a? Que relações há entre 
a sabedoria e a fi losofi a? De que modo a fi losofi a está presente em nossa vida?
SaBedoria: FILOS SOPHOS
SABEDORIA. Eis uma palavra de natureza enigmática. Não que todas 
as palavras e a linguagem falada, em seu conjunto, não sejam profundamente 
enigmáticas. Como é possível que um animal, andando em duas patinhas, 
começasse a dar nome às coisas? O que é, propriamente, dar nome a alguma 
coisa? Qual a relação entre o nome e a coisa? Talvez todos os nomes sejam 
uma imensa arbitrariedade. Meu nome é Joaquim, mas poderia ser qualquer 
outro. E se meu nome não fosse Joaquim, seria eu outra pessoa? Ou ainda, eu, 
que sou Joaquim, com outro nome, seria ainda o mesmo que sou (Joaquim), não 
sendo Joaquim? Quem eu seria, com outro nome? Veja-se que aqui já temos 
um PROBLEMA FILOSÓFICO e um excelente tema para o PENSAMENTO 
FILOSÓFICO. 
Continuando nosso questionamento, poderíamos ainda nos perguntar: o que 
é falar? Quando falamos, o que, realmente, fazemos? O que acontece conosco 
quando falamos? E o que acontece com o mundo quando falamos? Se não 
falássemos, seríamos ainda os mesmos? O mundo ainda seria o mesmo? O que 
Martin Heidegger quis, exatamente, dizer quando afi rmou que a linguagem é a 
morada do Ser (daquilo que é)? Falar realmente é apenas usar as palavras já 
prontas para comunicar o que vemos, sentimos, pensamos, desejamos, conforme 
acreditamos em meio às nossas ocupações diárias? Qual é a força da PALAVRA? 
Seria o falar uma maneira de CRIAR o mundo e a nós mesmos? A linguagem 
é apenas um instrumento para nos comunicarmos, ou ela é muito mais do que 
isso? Que relação ou diferença existe entre pensar, falar e SER? A relação entre 
estes três verbos é muito mais profunda do que imaginamos em nossa ingênua 
existência no mundo. Mas deixemos, por enquanto, essa questão do nome, da 
linguagem e do ser para mais adiante e voltemos à palavra que começou essa 
conversa: sabedoria.
12
Temas e teorias da fi losofi a
Martin Heidegger é um dos principais fi lósofos do século XX, 
viveu na Alemanha e desenvolveu um grande número de conceitos 
fi losófi cos novos, uma metodologia nova para o PENSAMENTO 
FILOSÓFICO (para pensarmos fi losofi camente). Mais adiante o 
conheceremos melhor.
Dizíamos, no início, que a palavra SABEDORIA é enigmática. Mas em que 
sentido é ela enigmática? Onde está o enigma da palavra SABEDORIA? Afi nal, 
todos conhecemos a palavra e normalmente não nos enganamos a seu respeito. 
“Quando sei, digo que sei, quando não sei, digo que não sei”. Quando digo “sei”, 
isso signifi ca que detenho: a) uma informação; b) um conhecimento; c) um saber? 
A qual destes três termos (informação, conhecimento, saber) a palavra sabedoria 
se refere? Temos aí três níveis: o nível da informação, o nível do conhecimento e 
o nível do saber.
“Fui informado de que...” é o primeiro nível; a informação é algo que ainda 
permanece externa a mim, ainda não comporta uma atitude mais sistemática 
frente às coisas. O segundo nível, do conhecimento, já demanda um trabalho 
mais longo, uma mudança, uma atitude investigativa, curiosa e de elaboração 
da informação, tornando-a compreensível em função de suas causas e dos 
efeitos que a circundam. Nesse nível temos as diversas formas de conhecimento: 
conhecimento pela vivência (senso comum), conhecimento científi co, religioso, 
artístico, técnico e até mesmo o conhecimento da fi losofi a (enquanto apropriação 
do que existe de conhecido em fi losofi a).
Mas a sabedoria responde a outro nível. Embora ela se confunda, muitas 
vezes, com o nível do conhecimento, ela responde à junção de dois componentes 
não implicados no conhecimento: o fazer e o agir. Mantenha a atenção à diferença 
entre fazer e agir.
O fazer refere-se à dimensão técnica da atividade, distribuindo-
se em uma escala que vai do nível mais rústico (“feito a facão”) até 
o nível mais elaborado (feito com arte). O agir refere-se à dimensão 
ética da atividade. Implica, por um lado, a liberdade da vontade e, por 
outro, a escolha correta, adequada à noção de bem. O saber defi ne-se, 
assim, por uma bi-frontalidade: a perfeição técnica e a perfeição ética, 
conjugadas na atividade humana. É a isso, propriamente, que se refere 
a sabedoria. Ela requer o máximo de conhecimento possível, aliado ao 
máximo de treino técnico possível e à melhor escolha ética possível. 
É o nível de excelência nas três dimensões, conhecimento, técnica e 
ética, que está compreendido no conceito de sabedoria.
O fazer refere-se à 
dimensão técnica 
da atividade, 
distribuindo-se em 
uma escala que 
vai do nível mais 
rústico (“feito a 
facão”) até o nível 
mais elaborado 
(feito com arte). 
13
NOÇÕES GERAIS DE FILOSOFIACapítulo 1
Mas por que isso é enigmático? Onde reside o enigma da sabedoria? 
Tudo seria mais simples se na raiz do problema da sabedoria não estivessem 
a origem, o destino e a felicidade do homem. Essas questões parecem sempre 
fugir, ir além, transcender qualquer conhecimento. As respostas que já foram 
dadas, nas diversas culturas, por diferentes personalidades, com metodologias 
distintas, desde a mitologia, a religião, a ciência, a fi losofi a, a poesia, a literatura, 
a arte em geral, são em número tão elevado que é impossível uma única pessoa, 
hoje, conhecer todas. E mesmo supondo que alguém as conhecesse todas, ainda 
assim não temos nenhuma garantia de que essa pessoa seja propriamente sábia, 
ou seja, que saiba qual a origem, o destino e a felicidade do homem.
Uma vida sábia é, obrigatoriamente, uma vida boa (de acordo com o bem) 
e feliz. Antes de tudo, o que é o Bem? Mas o enigma reside também no fato de 
que cada um necessita fazer sua própria ginástica intelectual, refl exiva, moral, 
técnica e ética para aprender a ser feliz, a partir das condições que o mundo 
“objetivamente” nos fornece. O enigma se mostra do fato de que cada um pode ser 
sábio de maneira diferente; cada um necessita construir sua sabedoria: cada um 
deve ser sábio à sua maneira. Nisso o enigma da sabedoria se aproxima muito do 
enigma da arte. Nenhum conhecimento e nenhuma técnica, embora necessários, 
resultam naturalmente em arte ou sabedoria. Para ambas requer-se sempre algo 
mais, algo de próprio, uma espécie de elaboração de si, mediante a presença do 
espírito. A arte e a sabedoria requerem um espírito próprio, um espírito que se 
eleva acima do horizonte do já conhecido, do já feito ou do já sabido. Um espírito 
criador, de si mesmo, de sua própria perfeição e felicidade.
A sabedoria é, nesse sentido, por mais enigmático que isso possa 
parecer, uma atitude diante de si, diante dos outros e diante do mundo. 
A sabedoria é uma maneira de conduzir-se no mundo, mesmo que não 
saibamos exatamente o que é o mundo. Talvez o mundo seja nossa 
própria elaboração. A sabedoria é, então, uma elaboração de si e do 
mundo, com os outros.
Atividade de estudo
Demonstre em que consiste a especifi cidade da sabedoria.
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A sabedoria é 
uma maneira de 
conduzir-se no 
mundo, mesmo 
que não saibamos 
exatamente o que
é o mundo.
14
Temas e teorias da fi losofi a
a) Filosofi a de vida
 
Ao que já vimos anteriormente, a sabedoria é umadimensão abrangente do 
ser humano - ela tem suas especifi cidades, diferente da sabedoria dos deuses 
e a sabedoria dos animais. O homem parece situar-se a meio caminho entre os 
animais e os deuses, aparentando-se com uns e com os outros, embora não 
seja propriamente deus e nem simplesmente animal. Mas qual a relação entre 
sabedoria e fi losofi a? De modo bastante simples, pode-se dizer que deuses 
não têm fi losofi a, apenas sabedoria, direta e evidente, enquanto a fi losofi a é 
a sabedoria dos homens, por ser sempre incerta, relativa, “tateando” entre um 
universo de possibilidades que se abrem ante o pensamento. Filósofo não é 
sábio, no sentido estrito do termo, apenas amigo ou amante (philos) do saber 
(Sophia). A fi losofi a (philos + Sophia) é um amor. Amor a uma atitude mais ampla, 
a um horizonte mais largo do saber que nos é possível.
Se não temos um saber imediato, devemos buscar, de modo mediato (através 
de mediações) o saber que nos é possível. É nessa busca pelo saber que reside 
a atitude fi losófi ca. A fi losofi a é, portanto, a busca pelo saber, que reúne a origem 
e a destinação (fi nalidade) de todas as coisas e de nós mesmos, aliada à noção 
de felicidade. Obviamente que felicidade é um conceito muito moldável, admitindo 
uma gama de variações possíveis, tão ampla quanto o número de pessoas (e 
de organizações) existentes. Mas fi losofi a é, também, o conjunto de respostas 
admitidas e assumidas por alguém: sua sabedoria, em sentido pessoal. O conjunto 
das respostas assumidas pessoalmente, sobre as questões mais importantes da 
existência humana, o que é o bem, o que é a liberdade, o que é a felicidade, o que 
é a verdade, o que é o amor, o que é Deus, qual a origem do universo, do mundo, 
do homem, qual a razão e a fi nalidade da existência humana, etc. é chamado de 
fi losofi a de vida, pois reúne a sabedoria própria de cada um.
Importante notarmos que as respostas que assumimos pessoalmente não 
provêm de nossa natureza genética (em sentido biológico); também não provêm 
da atividade isolada do cérebro ou da mente “apartada” do mundo. Uma pessoa 
que viaja muito, conhece outros povos, outras culturas, crenças, religiões, outros 
hábitos alimentares, hábitos sexuais, outros gostos estéticos, etc. amplia sua 
sabedoria, em sentido pessoal. Igualmente, uma pessoa que lê bastante, busca 
informação e refl ete sobre as informações dos livros, das revistas e outros 
meios, também amplia sua sabedoria. Ampliar sua sabedoria signifi ca ampliar 
seus horizontes, abrir seu espírito para o diferente, enfrentar os dogmas e tabus 
pessoais, ou seja, ter uma atitude curiosa e sábia, de busca e de superação.
Signifi ca, então, que não somos apenas passivos (vítimas ou privilegiados) 
em nossa sabedoria pessoal. Assumir uma atitude fi losófi ca ante a fi losofi a de vida 
torna-nos autores, artífi ces, criadores de nossa fi losofi a de vida. Se o tamanho do 
mundo é do tamanho de nossa sabedoria, há pessoas com um mundo pequenino, 
15
NOÇÕES GERAIS DE FILOSOFIACapítulo 1
estreito, sufocado (pela ignorância) e pessoas com um mundo enorme, quase 
infi nito, aberto para a experimentação, para a degustação. A diferença está na 
atitude fi losófi ca diante do que chamamos mundo. É muito importante não 
pensarmos esse “tamanho do mundo” como “pessoas com ou sem dinheiro”. Há 
muitas pessoas com muito dinheiro, mas pobres espiritualmente, sua sabedoria é 
miudinha, são “sem-fi losofi a”; mas há também pessoas com pouco dinheiro, que 
são ricas espiritualmente, sua sabedoria é grande e seu mundo se amplia, pois 
tem uma atitude fi losófi ca diante do mundo.
A fi losofi a de vida é, pois, uma forma de sabedoria, em consonância 
com as formas mais elaboradas da criação artística, cultural, teológica, 
científi ca ou fi losófi ca. Ela (a fi losofi a de vida) pode ser nossa prisão, 
mantendo-nos amarrados aos preconceitos, aos dogmas, aos tabus da 
cultura/sociedade, desde que nos acomodemos nas crenças que nos 
constituem enquanto pessoa, apenas absorvendo passivamente tais 
crenças. Mas a fi losofi a de vida também pode ser a condição de nossa 
própria liberação, de nossa autonomia, na medida em que a assumimos 
criticamente, buscando outras fontes de informação, leitura de outras 
fi losofi as além da nossa própria, meditando acerca das razões pelas 
quais eu penso assim, por que não penso diferente, etc. “Uma vida que 
não é refl etida, não vale a pena ser vivida”, já dizia o fi lósofo Sócrates, muitos 
séculos antes de Cristo.
Atividade de estudo
Diferencie o fi lósofo do sábio.
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b) Filosofi a de uma organização/empresa/grupo, etc
Viver em grupo é sempre uma tarefa complexa. Se, por um lado o homem 
“é um animal político”, conforme Aristóteles, o que nos agrega, expondo-nos à 
experiência coletiva, por outro lado somos também pessoas singulares, com 
gostos e vontades individuais. Essa dupla experiência do ser humano, social 
A fi losofi a de vida 
é, pois, uma forma 
de sabedoria, em 
consonância com 
as formas mais 
elaboradas da 
criação artística, 
cultural, teológica, 
científi ca ou 
fi losófi ca.
16
Temas e teorias da fi losofi a
e individual, é um dos grandes desafi os para a fi losofi a prática, ou seja, para 
a ética e a política. Admitindo-se a afi rmação de que não nascemos prontos, 
mas geneticamente predispostos à aprendizagem, tornando-nos pessoas pela 
vivência em sociedade (conforme Emanuel Mounier) ou sujeitos (conforme Michel 
Foucault), adquirindo da sociedade a linguagem, os modelos de pensamento, 
os valores, as noções morais, os hábitos, as normas e as noções básicas de 
estética, de verdade, etc. compreende-se melhor a noção de vida pública, na 
qual experimentamos mais especifi camente a vida ativa (bios politikos) ou vida 
contemplativa (bios theoretikos), da qual fala Hanna Arendt (2001).
Mounier e Foucault são fi lósofos franceses do século XX.
Veja-se tanto A Política quanto Da Alma (três livros), de 
Aristóteles. Nesses livros o velho e bom fi lósofo expõe muito das 
noções fundamentais do homem que se constitui propriamente 
homem vivendo em sociedade.
Um grupo social pode confi gurar-se no tamanho de uma pequena empresa, 
de uma gigante conglomeração ou até de uma nação. Constituir-se e manter-
se enquanto coletivo requer a confl uência de saberes específi cos. Tais saberes 
circulam entre as pessoas, moldando sua atitude, conduta, escolhas, modo de 
pensar. Eles sempre circulam de modo mais espontâneo, quase naturalmente, 
embora muitas vezes não sejam refl etidos. Outras vezes, tais saberes são objeto 
de pesquisa, de refl exão, de análise. Em nosso tempo, sobretudo no tocante às 
organizações, não faltam metodologias bastante efi cazes para fazer vir à luz a 
fi losofi a da empresa.
Conforme se vê, a fi losofi a de uma empresa, organização ou 
sociedade participa do conceito mais amplo de saber que está na 
origem do conceito de fi losofi a. Não é descabido, portanto, falar-se da 
fi losofi a de uma sociedade, de uma empresa ou de uma organização. 
Mas deve-se prestar atenção ao fato de que isso não é a noção 
mais específi ca de fi losofi a, aquela atividade dos fi lósofos ou o tal 
pensamento fi losófi co. As metodologias que permitem conhecer (fazer 
vir à luz), estruturar, manipular, aplicar, desenvolver intencionalmente a 
fi losofi a do agrupamento social provêm das ciências sociais. São, 
portanto, metodologias científi cas, não Filosofi a. O vínculo entre estas fi losofi as 
e a Filosofi a propriamente dita é a noção de saber, de sabedoria, enquanto 
A fi losofi a de 
uma empresa,organização ou 
sociedade participa 
do conceito mais 
amplo de saber 
que está na origem 
do conceito de 
fi losofi a.
17
NOÇÕES GERAIS DE FILOSOFIACapítulo 1
conjunto dos valores, virtudes, gostos, conhecimentos teóricos e técnicos que se 
materializam no coletivo.
Seria absurdo afi rmar-se uma independência entre as três esferas 
mapeadas, a fi losofi a de vida (o indivíduo), a fi losofi a de organizações sociais 
(o grupo) e a Filosofi a propriamente dita. Obviamente que o coletivo, o grupo 
exerce a primazia entre as três esferas. É da experiência coletiva que o indivíduo 
herda quase tudo o que ele depois chama de sua fi losofi a de vida. É também da 
mesma experiência coletiva que provém o material básico (Stoff) para o trabalho 
fi losófi co. Mas o trabalho da fi losofi a não se resume a sacralizar o “já dado” no 
social, conforme se verá a seguir.
Atividade de estudo
Diferencie Filosofi a, fi losofi a de vida e fi losofi a da empresa.
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c) Filosofi a em sentido estrito: conceito, métodos e importância da 
atividade fi losófi ca
A afi rmação de Maurice Merleau-Ponty, de que todos somos fi lósofos 
enquanto pensamos, pode ser tomada de modo mais espontâneo, entendendo-
se, então, que a fi losofi a é conatural ao pensamento humano, não havendo uma 
distinção mais profunda entre fi lósofos e não fi lósofos. O que ocorreria, nesse 
caso, seria de ordem mais comportamental, ou seja, o comportamento do homem, 
em nosso tempo, exclui de suas ocupações mais importantes a atividade de 
pensar, a sabedoria, contentando-se com o conhecimento científi co ou com o 
domínio tecnológico, não buscando mais saber por que e para que, sendo-lhe 
sufi ciente o como: como aumentar meus rendimentos, como ser mais efi ciente 
no trabalho, como me divertir, como educar, etc. sem importar-se com justiça, 
felicidade, saúde, bastando o direito, a diversão, a não-doença.
18
Temas e teorias da fi losofi a
Maurice Merleau-Ponty foi um fi lósofo francês do século 
XX, com forte contribuição nas questões fundamentais do homem 
contemporâneo, envolto em angústias advindas do modo capitalista, 
tecnológico e cientifi cista de viver. Para Merleau-Ponty, deve-
se restituir, na experiência coletiva, o modo artístico, refl exivo e 
espiritual de viver. Principais livros: A Estrutura do comportamento e 
Fenomenologia da Percepção.
Outra forma de interpretar-se a afi rmação de Merleau-Ponty é ver, no enquanto 
pensamos, não algo espontâneo, mas sistemático, elaborado, intencional, só 
sendo propriamente fi losófi co enquanto for feito de modo adequado. Nisto a 
afi rmação nos revela que a potencialidade para pensar fi losofi camente pertence 
a todos nós, que não necessitamos de uma “nova natureza”. Já estamos dotados 
dessa capacidade, necessitando apenas de educação adequada, meio social 
propício, persistência pessoal, para exercermos o tal pensamento fi losófi co.
Mas, o que entendemos por pensamento fi losófi co propriamente 
dito? Em que ele se diferencia do pensamento em geral? Há algo que 
se pode chamar especifi camente de Filosofi a? A primeira característica 
do pensar fi losofi camente consiste na atitude diante de si, diante dos 
outros, diante da verdade e do mundo. Tal atitude inicia pela curiosidade 
e pelo espanto, ou seja, é uma atitude inconformada com as verdades, 
as explicações e as crenças comuns a seu tempo. Espantar-se com o 
fato de “eu” existir, de pensar e, sobretudo, saber que estou pensando, 
saber que “estou aí”, mas sem saber ao certo de onde “eu” vim, de 
onde veio tudo, para que estou aqui, qual a fi nalidade de minha própria 
existência. O segundo passo dessa atitude é perguntar, perguntar para as 
pessoas comuns, para os especialistas, para os “sábios”, perguntar aos livros, à 
religião, à literatura, à ciência, buscar saber das respostas já elaboradas acerca 
dessas questões, tão simples e tão fundamentais. O terceiro passo consiste na 
desconfi ança. Não basta ouvir o que as pessoas e os livros me dizem. Devo 
questionar sobre as bases a partir das quais tais respostas foram constituídas. 
Talvez elas sejam respostas baseadas em crenças, em costumes, em dogmas 
de fé, em visões muito parciais. É espantoso o fato de que nós podemos nos 
enganar. Pior: nada nos assegura de que não estejamos enganados o tempo 
todo, acerca de tudo que confi amos ser real, verdadeiro.
Colocados esses questionamentos, deve-se desenvolver maneiras de buscar 
respostas mais sistemáticas, detectar as fontes de erro ou engano, precaver-se, 
metodicamente, contra o erro ou engano, prosseguir com calma, investigando 
cada conceito, cada certeza, cada fundamento.
A primeira 
característica 
do pensar 
fi losofi camente 
consiste na atitude 
diante de si, diante 
dos outros, diante 
da verdade e do 
mundo.
19
NOÇÕES GERAIS DE FILOSOFIACapítulo 1
É nesse sentido que a fi losofi a é um pensamento radical: duvida de tudo, 
até da própria existência, sem medo ou dogma; sistemático: não é um falatório 
generalista sobre qualquer coisa, em que cada um pode dar sua opinião. É um 
trabalho meticuloso, atento, criterioso, duvidando do óbvio, investigando os pontos 
de vista mais absurdos, estabelecendo com zelo e cuidado de método os conceitos 
fundamentais a partir dos quais um entendimento (novo) se torna possível; em 
totalidade: pontos de vista muito parciais, superfi ciais, acomodados em um como, 
sem mergulhar no porquê, não bastam à fi losofi a. Pensar fi losofi camente é buscar 
horizontes sempre mais largos e profundos. É buscar entender, por exemplo, não 
o funcionamento de uma célula, mas o princípio da vida. É buscar saber não se 
esta ou aquela ação está de acordo com a lei, mas saber o que é a justiça, e 
se a lei está de acordo com a justiça. Perguntar-se sobre o que é o bem, o que 
é a felicidade, não se este ou aquele momento me dá prazer ou alegria. O que 
chamamos de fi losofi a é o resultado dessa atitude e desse trabalho pacientemente 
feito há mais de dois mil e quinhentos anos.
Atividade de estudo
Em que consiste a fi losofi a propriamente dita?
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Temas e teorias da fi losofi a
Regiões Temáticas
A fi losofi a é uma das formas de saber estruturado mais antigo que existe. Os 
temas e problemas a que ela se propôs, nesse longo tempo, abarcam a totalidade 
das ações, das curiosidades, das angústias e das ideias da espécie humana. 
Pretender, em poucas páginas, explicar cada uma destas elaborações seria 
completamente impossível. Pretende-se, de modo simplifi cado, apresentar as 
principais divisões internas e as principais temáticas já desenvolvidas, cientes da 
impossibilidade de ser exaustivo oucompleto.
Quando se pergunta: qual é o objeto da fi losofi a? Essa pergunta 
admite duas respostas diferentes. A primeira, a mais utilizada, é de que o 
objeto da fi losofi a é a sabedoria. A outra resposta diz que qualquer coisa 
pode ser objeto de investigação fi losófi ca, pois o fi losófi co não está no 
objeto, mas na atitude, no modo da investigação. Portanto, uma divisão 
interna da fi losofi a não pode seguir seus objetos específi cos, pois, na 
primeira resposta, evidencia-se o fato de que o objeto da fi losofi a é único, 
não admitindo divisão. Na segunda resposta seu objeto fragmenta-se em 
tantas divisões quantas são as coisas que compõem a realidade.
Coisa é um vocábulo muito usado em fi losofi a, substitui as 
denominações mais restritivas, mantendo a dimensão de abertura e 
totalidade, necessárias à fi losofi a.
Pode-se, ainda assim, fazer uma primeira divisão interna da fi losofi a a partir 
da natureza do seu objeto. Este pode ser: teórico, quando seu objeto implica 
prioritariamente um conhecimento; prático, quando seu objeto implica a ação ou 
conduta humana. Em um segundo nível pode-se fazer uma divisão seguindo os 
principais temas abordados em cada uma das duas regiões, a teórica e a prática. 
Saliente-se que nem todos os autores são unânimes com a primeira divisão. Para 
muitos, o conhecer e o agir são, necessariamente, inseparáveis. Para Platão, 
por exemplo, ninguém, que conhece o bem, escolhe praticar o mal. Mas pode-se 
ponderar que, uma coisa é conhecer como se faz e dispor dos meios para fazer 
uma bomba atômica; outra coisa é decidir fazê-la e utilizá-la. Em nosso tempo, 
inclusive, a ciência (conhecer) e a ética (agir) parecem não estar mais de mãos 
dadas, caracterizando-se como territórios independentes: o primeiro competindo 
exclusivamente aos cientistas; o segundo fi cando a cargo dos fi lósofos.
Qual é o objeto 
da fi losofi a? A 
primeira, a mais 
utilizada, é de que 
o objeto da fi losofi a 
é a sabedoria. A 
outra resposta diz 
que qualquer coisa 
pode ser objeto 
de investigação 
fi losófi ca.
21
NOÇÕES GERAIS DE FILOSOFIACapítulo 1
a) Região teórica
A expressão teórica, referindo-se a uma divisão interna da fi losofi a, signifi ca 
a dimensão especulativa, que busca conhecer a realidade em seus princípios 
fundamentais. Deve-se salientar que uma separação entre ciência e fi losofi a é 
bastante recente. Os primeiros sinais dessa separação se manifestam no século 
XVII, mas apenas no século XIX ela se efetiva, com o advento do Positivismo. 
Desde a antiguidade, passando pela Idade Média e o Renascimento, a fi losofi a 
abarca também as ciências. Deve-se salientar que não existia a fi gura específi ca 
do fi lósofo, especialista em fi losofi a. Tal fi gura só apareceu no século XIX, na 
Alemanha, onde Hegel foi contratado pela universidade como professor dessa 
disciplina. Filosofi a sempre foi um conceito mais abrangente. O fi lósofo estudava 
ciências como psicologia, história, antropologia, matemática, geometria, lógica, 
retórica, etc. Quase todas são hoje ciências independentes. Mesmo assim, 
abarcam ainda o interesse e a abrangência da fi losofi a.
O positivismo é uma linha teórica da sociologia, criada pelo 
francês Auguste Comte (1798-1857), que começou a atribuir fatores 
humanos nas explicações dos diversos assuntos, contrariando o 
primado da razão, da teologia e da metafísica.
• Ciência
 
Com esse conceito designava-se, até o século XVIII, o conjunto dos saberes 
mais certifi cados. No topo da hierarquia estava a Metafísica, considerada também 
a ciência divina, por investigar as leis universais e imutáveis do real. A busca da 
metafísica é o Ser, aquilo que é por si mesmo, uno e único, origem dos entes 
múltiplos que nos aparecem no mundo. Ela também estuda as causas primeiras, 
as causas únicas das coisas múltiplas que vemos no mundo. Enfi m, ela estuda as 
coisas que estão para além do mundo físico, material, que vemos todos os dias. Em 
segundo lugar vêm as ciências chamadas particulares. São chamadas particulares 
pelo fato de estudarem apenas uma parte do real, como a física, a matemática, a 
geometria, a cosmologia, etc. Enquanto a Metafísica estuda o Ser em totalidade, as 
ciências particulares estudam o ser a partir de uma de suas partes.
 
 
• Lógica
 
A lógica é criada, enquanto disciplina específi ca, por Aristóteles. 
A lógica aristotélica passou a ser chamada de Lógica Formal, por 
A lógica é uma 
ferramenta 
auxiliar para que 
o pensamento 
progrida de modo 
correto. 
22
Temas e teorias da fi losofi a
dois motivos. Primeiro, porque ela se ocupa apenas com a forma do raciocínio, 
investigando e descobrindo as múltiplas possibilidades de equívocos ou erros 
do mesmo e estabelecendo um complexo conjunto de critérios para ajudar 
o pensamento a prosseguir com segurança, evitando que caia em erro ou 
contradição. Nesse sentido a lógica é uma ferramenta auxiliar para que o 
pensamento progrida de modo correto. A lógica não se ocupa com a investigação 
da realidade, apenas com a forma do raciocínio. A segunda razão de ela ser 
chamada de Formal é o aparecimento da lógica dialética, com Hegel, no século 
XIX, além de outros modelos lógicos, como a lógica discreta, a lógica das 
probabilidades, dos mundos possíveis, etc.
 
 
• Epistemologia/teoria do conhecimento
 
A preocupação quanto ao valor ou ao crédito do conhecimento sempre foi 
uma preocupação interna à fi losofi a. O fi lósofo sempre se perguntou (e continua se 
perguntando) sobre o fundamento a partir do qual ele afi rma certo conhecimento 
ou um conhecimento como certo. Conhecer sempre traz em seu bojo a pretensão 
da verdade. Nesse sentido, a Teoria do Conhecimento é a investigação acerca 
das condições sob as quais um conhecimento pode ser admitido como verdadeiro. 
No momento em que as ciências tornaram-se independentes da fi losofi a, no 
século XIX, surge uma nova disciplina (ou talvez um novo nome para uma velha 
disciplina), a Epistemologia. Está a seu cargo evidenciar os pressupostos, as 
condições e o estatuto dos princípios e dos métodos das ciências. Teoria do 
conhecimento e Epistemologia, em certa medida, se equivalem, sendo, muitas 
vezes questão de preferência ou tradição à qual se está fi liado ao preferir um ou 
outro nome. Quando se fala do estatuto da fi losofi a acerca da verdade, fala-se 
mais em Gnoseologia ou Teoria do conhecimento. Quando tal estatuto se refere à 
ciência, mais comumente se usa o termo Epistemologia.
 
 
• Refl exão da razão sobre si mesma
 
Uma das operações mais complexas do mundo é o que chamamos 
consciência. Ela consiste na operação de a mente poder pensar a si 
mesma. Não se quer dizer com isso que a mente, nessa operação, já 
conheça a si mesma, de modo evidente. A única evidência que aparece 
é o dado de que eu sei que existo, é um saber de si sobre si mesmo. 
Mas esta evidência inicial está longe de ser evidente. Não sabemos, 
até hoje, qual a relação entre mente e cérebro. Temos algumas noções 
sobre o funcionamento do cérebro, as diferentes regiões que intensifi cam sua 
atividade de acordo com operações mais específi cas, como, por exemplo, a fala, 
as emoções, as atividades intelectuais. Mas a mente continua um grande mistério, 
A única evidência 
que aparece é o 
dado de que eu sei 
que existo, é um 
saber de si sobre si 
mesmo.
23
NOÇÕES GERAIS DE FILOSOFIACapítulo 1
da mesma forma como é mistério ainda o fato de, em determinado momento de 
nossa história biológica, uma parte da matéria ter-se tornado consciente, ou seja, 
no cérebro (matéria orgânica) ter-se desenvolvido uma mente capaz de saber que 
ela existe. Temos muito mais perguntas do que respostas sobre esse fato. Em 
função disso, é muito difícil termos um conceito exato do que quer dizer RAZÃO 
HUMANA. Acostumamo-nos com a ideia de que somos racionais. Sabemos o 
que queremos dizer com conduta racional, conhecimento racional, que a ciência 
é uma atividade racional, que a matemática, a lógica, a fi losofi a são atividadesestritamente racionais, mas o que é a razão, nela mesma, é uma pergunta que 
conseguimos formular, mas a resposta parece sempre estar um pouco além 
de nossa capacidade de responder. O tema da razão, de sua natureza, usos e 
limitações ainda será tema dos próximos capítulos.
b) Região “Práticas”
 
A noção de fi losofi a prática pode, facilmente, ser fonte de mal-
entendidos. Normalmente entendemos por prática coisas que têm a 
ver com o fazer imediato, não-refl exivo, mas que serve para agir sobre 
as coisas ou para usarmos. Quando se fala em fi losofi a prática quer 
designar-se algo diverso do ativismo imediatista. A fi losofi a prática 
também não se opõe propriamente à fi losofi a teórica, pois também 
na parte prática busca-se desvelar os fundamentos do agir humano, 
de sua conduta; buscam-se os princípios e as causas primeiras que 
possibilitam escolhas corretas, que orientam a vontade nas escolhas 
que somos obrigados a fazer. Se na fi losofi a teórica o conceito fundamental é a 
verdade, na fi losofi a prática, os conceitos fundamentais são o Bem e o Belo. O 
conceito de Bem é fundamento para a ética e a moral e o Belo é fundamento da 
Arte e da Estética.
 
 
• Moral
 
Moral é um conceito provindo do latim e designa a adequação da conduta 
aos costumes considerados corretos pelo grupo a que se pertence. Enquanto 
refl exão fi losófi ca, a moral é o estudo dos fundamentos da conduta humana, sua 
adequação ao que se considera O Bem ou, pelo menos, ao que a sociedade 
considera bom, correto. À fi losofi a cabe desvendar o que provém exclusivamente 
do costume, que pode ser fonte de vícios, preconceitos, injustiças, do que 
provém de fundamentos mais universais de justiça, direitos fundamentais, como a 
liberdade, etc.
 
 
Se na fi losofi a 
teórica o conceito 
fundamental é 
a verdade, na 
fi losofi a prática, 
os conceitos 
fundamentais são o 
Bem e o Belo.
24
Temas e teorias da fi losofi a
• Ética
 
Semelhante à moral, também a ética refere-se aos costumes do éthos, 
termo grego que designa, inicialmente, os hábitos considerados bons, virtuosos 
pelo grupo social. Não há unanimidade entre os estudiosos sobre a diferenciação 
entre ética e moral. Para alguns, a ética é a ciência que estuda os fundamentos 
universais dos valores, o conceito e o fundamento do Bem, os princípios 
universais que delineiam o que é eticamente correto, distinguindo-o do que seria 
eticamente incorreto. Nesse caso caberia à moral a refl exão e os juízos acerca da 
conduta singular de cada pessoa frente ao grupo, cabendo a ela indicar e julgar 
as ações moralmente corretas e as moralmente incorretas. Para outros, moral e 
ética estão em um mesmo patamar, não fazendo muito sentido querer colocar 
uma mais acima, na investigação mais universal e a outra mais abaixo, aplicada 
aos casos mais singulares. Para um terceiro grupo, ainda, cabe à moral ocupar-
se dos princípios e valores gerais ou universais, enquanto cabe à ética investigar 
a maneira adequada de a pessoa singular efetivar, em sua conduta e escolhas 
diárias, tais valores e virtudes gerais.
• Política
 
A política é um ramo da fi losofi a (embora na atualidade ela esteja bastante 
afastada da fi losofi a) que se ocupa dos princípios, dos meios e das fi nalidades 
da organização social, bem como das distinções conceituais entre público e 
privado, Estado justo x Estado injusto, as motivações, a fi nalidade da atividade 
política, modelos de governo, formas e regimes políticos, etc. De certa forma, a 
política é uma das atividades mais nobres do ser humano. Conforme já vimos, 
para Aristóteles, é na atividade política (tomada em sentido mais amplo, enquanto 
vida coletiva, espaço privilegiado para a virtude teórica e a virtude prática) que 
se constitui propriamente a humanidade do homem. Atualmente grande parte do 
que era ocupação da Filosofi a Política passou a ser campo de estudo da Ciência 
Política, que é uma das ciências sociais.
 
 
• Estética/Filosofi a da Arte
 
Arte, originariamente, designa toda atividade humana que resulta em um 
produto. Há, nesse sentido, a arte produtiva, cujo artefato resultante tem um fi m 
útil para as necessidades do homem, e a arte contemplativa, feita não para a 
utilidade, mas para a fruição, para o gosto, chamada, nesse caso, de arte estética. 
A arte, sobretudo no segundo sentido, é objeto de refl exão em todas as fi losofi as. 
Ela guarda um enigma que desafi a o pensamento fi losófi co. Ela é uma atividade 
sem nenhum fi m prático imediato, não corresponde a nenhuma necessidade 
material, nisso assemelhando-se à própria fi losofi a. Mas enquanto à fi losofi a 
importam a verdade, os conceitos, a arte é totalmente livre, descompromissada 
com a verdade, o bem, o correto.
25
NOÇÕES GERAIS DE FILOSOFIACapítulo 1
Por outro lado, a arte é um dos veículos mais poderosos para 
carregar mensagens intraduzíveis em outras linguagens. A poesia, o 
conto, o romance conseguem dizer de forma bela e encantadora coisas 
que a fi losofi a e a ciência se mostram bem mais limitadas em expor. 
A música, a pintura, a escultura, etc. são criações tão geniais que 
fazem parecer tímidas as elaborações da ciência e da fi losofi a. Deve-se 
considerar também o espantoso efeito que a arte exerce sobre o ser 
humano. A arte bem feita, sublime, chega a suspender no homem os 
juízos racionais. Como ferramenta pedagógica ou política, também a 
arte é muito mais poderosa que qualquer outra criação ou conhecimento 
humano. Não é por acaso que as campanhas políticas, muito mais do que debates 
honestos, são peças publicitárias artisticamente elaboradas. Estética e Filosofi a 
da arte são ramos da Filosofi a que se ocupam dessas questões.
Atividade de estudo
Diferencie fi losofi a teórica da fi losofi a prática, indicando em qual 
delas está situada a ciência e a razão de ela situar-se aí.
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Algumas Considerações
Nesse primeiro capítulo abordamos a importância das diferentes regiões 
temáticas da fi losofi a, buscando refl etir sobre como o conceito de sabedoria 
permite relacionar internamente a fi losofi a de vida, a fi losofi a de instituições e a 
fi losofi a propriamente dita. A fi losofi a (philos + sophia) é um amor à sabedoria, 
uma atitude diante de si, diante dos outros e diante do mundo. Desse modo, pode-
se dizer que a sabedoria é uma maneira de conduzir-se no mundo. E, por mais 
que haja a distinção entre Filosofi a de Vida, Filosofi a de Instituições e a Filosofi a 
propriamente dita, não há independência entre essas três esferas, visto que é na 
experiência coletiva que o indivíduo encontra os fundamentos do que chama de 
 A poesia, o 
conto, o romance 
conseguem dizer 
de forma bela e 
encantadora coisas 
que a fi losofi a e a 
ciência se mostram 
bem mais limitadas
em expor. 
26
Temas e teorias da fi losofi a
fi losofi a de vida, e é dessa mesma experiência coletiva que provém o material 
básico do trabalho fi losófi co.
ReferÊncias
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense 
Universitária, 2001.
CAPÍTULO 2
Raízes da Filosofia
A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
  Apontar a infl uência dos saberes mitológicos, místicos e religiosos na 
constituição da maneira fi losófi ca de pensar o real. 
  Diferenciar o idealismo platônico do realismo aristotélico. 
28
Temas e teorias da fi losofi a
29
RAÍZES DA FILOSOFIACapítulo 2
ConteXtualização
Écerto admitir-se o princípio que afi rma a conexão entre o modo de vida 
efetivo de uma sociedade e o surgimento de fi losofi as específi cas. Ele se aplica 
até mesmo ao aparecimento de Platão, para muitos o maior fi lósofo de todos 
os tempos, aquele que colocou as bases para toda a fi losofi a que já se fez 
até nossos dias. A fi losofi a de Platão herda uma longa tradição anterior a ele, 
tanto da cultura grega, quanto de outras culturas, como a da Índia, do Egito, da 
Europa, etc. Dessa herança Platão faz propriamente nascer o que conhecemos 
hoje por fi losofi a. Portanto, sua fi losofi a resulta do conjunto de questões, crenças, 
tradições, angústias e expectativas do mundo grego. Debruçando-se sobre os 
desafi os e apostas do mundo de seu tempo, Platão promove uma espécie de 
reelaboração desse mundo e lhe dá uma nova forma. Nasce, assim, a Filosofi a e 
a aventura que dura até nossos dias. É esse “nascimento” da Filosofi a que será o 
ponto principal do presente capítulo.
Mitologia/Misticismo/Religião
A partir da noção de sabedoria, vista no capítulo anterior, pode-se perceber 
que a raiz mais profunda da fi losofi a deve remontar a formas anteriores, mais 
antigas de saber. Seguramente não se pode ter total segurança ao determinar 
qual das três formas de saber, entre a mitologia, o misticismo e a religião, é a mais 
antiga e serve de base para as outras. Uma das hipóteses mais aceitas é a de 
que a mais antiga seja a mitologia, alojando, inicialmente, o misticismo. A partir 
disso se teria desenvolvido a religião e, posteriormente, a fi losofi a.
a) A Mitologia
A partir de certo modo de se conceber o desenvolvimento dos grupos 
humanos primitivos, os rituais comemorativos de uma caçada, por exemplo, 
teriam, pela repetição, dado origem aos mitos. Lembre-se do princípio de 
que “quem conta um conto, aumenta um ponto”. A cada ano que a caçada era 
novamente celebrada, rememorava-se o relato, já celebrado no ano anterior. Ano 
após ano, a história da caçada era aumentada, tornada mais importante, mais 
“miraculosa”, quase mágica. Assim, ter-se-iam iniciado os mitos, a partir dos 
ritos que celebravam algum fato marcante. Com o passar do tempo, as histórias 
repetidas em celebrações, iam tomando formas sempre mais lendárias, até se 
tornarem mais que humanas, quase divinas. Na base do mito estaria, então, a 
repetição de uma celebração que, de início, festejava algo bem humano, nada 
extraordinário. Mas, com o tempo, tomava nova dimensão, se transmutava, 
nascendo o que hoje chamamos de mito.
30
Temas e teorias da fi losofi a
A origem da palavra mito não é conhecida com exatidão. Sabe-se que 
remonta à língua grega (Mythos). Já no período arcaico (antes do século VIII a.C.) 
ela aparece, provavelmente designando a fala, enquanto testemunho, relato ou 
declaração, na forma de verso. Mais tarde (século VI a. C.) a palavra Logos – 
do verbo legein (eu falo) reúne o que se diz em prosa, os logoi (discurso), na 
forma descritiva ou explicativa. Gradativamente a prosa (logoi) foi substituindo o 
verso (Mythoi), até o ponto em que a verdade enquanto relato de fi dedignidade 
aos fatos é associada ao logos, discurso verdadeiro. Com isso o mito perde a 
força do desvelamento (Alétheia) tornando-se apenas folclore. Um primeiro 
iluminismo, à época clássica de Sócrates, Platão e Aristóteles (século V e IV a. 
C.) e um segundo Iluminismo, dos séculos XVII e XVIII d. C.) encarregaram-se 
de transformar o mito em folclore que se presta a fi ns literários. (DOWDEN, 1994, 
p.13-15).
Apenas nos séculos XIX e XX é que se retoma o estudo dos mitos, 
com novo interesse, percebendo neles uma importância estrutural 
e estruturante, tanto da linguagem quanto da psique humana. Além 
disso se verifi ca que o mito exerce funções múltiplas na constituição e 
organização das sociedades humanas, no que diz respeito à atividade 
intelectual (explicar a origem das coisas), moral (justifi car as normas), 
política (respeito à hierarquia, autoridade), etc.
Se a origem do mito pode ser derivada dos ritos, as motivações 
e a função dos mitos são bem mais complexas. Até onde os estudos 
antropológicos nos informam, todas as culturas humanas têm seus mitos de 
origem. Vejamos um exemplo, advindo justamente da cultura do povo grego: 
Antes de serem criados o mar, a terra e o céu, todas as coisas 
apresentavam um aspecto a que se dava o nome de Caos 
– uma informe e confusa massa, mero peso morto, no qual, 
contudo, jaziam latentes as sementes das coisas. A terra, o 
mar e o ar estavam todos misturados [...]. Deus e a Natureza 
intervieram fi nalmente e puseram fi m a essa discórdia, 
separando a terra do mar e o céu de ambos. Sendo a parte 
ígnea a mais leve, espalhou-se e formou o fi rmamento; o ar 
colocou-se em seguida, no que diz respeito ao peso e ao 
lugar. A terra, sendo a mais pesada, fi cou para baixo, e a água 
ocupou o ponto inferior, fazendo-a fl utuar.
Nesse ponto, um deus [...] tratou de [...] arranjar e dispor as 
coisas na Terra. Determinou aos rios e lagos seus lugares, 
levantou montanhas, cavou vales, distribuiu os bosques, as 
fontes, os campos férteis e as áridas planícies, os peixes 
tomaram posse do mar, as aves, do ar e os quadrúpedes, da 
terra.
Torna-se necessário, porém, um animal mais nobre [...]. Na Terra, 
há tão pouco separada do céu, ainda havia algumas sementes 
celestiais ocultas. Prometeu tomou um pouco dessa terra e, 
O mito exerce 
funções múltiplas 
na constituição 
e organização 
das sociedades 
humanas, no 
que diz respeito 
à atividade 
intelectual, moral, 
política etc.
31
RAÍZES DA FILOSOFIACapítulo 2
misturando-a com água, fez o homem à semelhança dos deuses. 
Deu-lhe o porte ereto, de maneira que, enquanto os outros 
animais têm o rosto voltado para baixo, olhando a terra, o homem 
levanta a cabeça para o céu e olha as estrelas.
[...] A primeira mulher chamava-se Pandora. Foi feita no céu, 
e cada um dos deuses contribuiu com alguma coisa para 
aperfeiçoá-la. Vênus deu-lhe a beleza, Mercúrio a persuasão, 
Apolo, a música etc. Assim dotada, a mulher foi mandada à 
Terra e oferecida a Epimeteu. [...] [este] tinha em sua casa 
uma caixa, na qual guardava certos artigos malignos, de que 
não se utilizara, ao preparar o homem para sua nova morada. 
Pandora foi tomada por intensa curiosidade de saber o que 
continha aquela caixa, e, certo dia, destampou-a para olhar. 
Assim, escapou e se espalhou por toda parte uma multidão 
de pragas que atingiram o desgraçado homem, tais como 
a gota, o reumatismo e a cólica, para o corpo, e a inveja, o 
desrespeito e a vingança, para o espírito. [...] [tudo escapara, 
menos uma] a esperança. Assim, sejam quais forem os males 
que nos ameacem, a esperança não nos deixa inteiramente; 
e, enquanto a tivermos, nenhum mal nos torna inteiramente 
desgraçados. (BULFINCH, 2002, p. 20).
Prometeu era um dos titãs, uma raça gigantesca, que habitava 
a Terra antes do homem. A pedido de seu irmão, Epimeteu, e com a 
ajuda da deusa Minerva, roubou o fogo do Carro do Sol e o entregou 
ao homem, que assim conquistou grande poder e independência 
(construir armas e ferramentas, aquecer a morada, cunhar moedas, 
etc.).
O relato acima é muito rico. Ele expõe as diversas nuances e as 
funções primordiais dos mitos. Em primeiro lugar, o mito usa sempre 
uma linguagem metafórica. Não deve ser interpretado literalmente. 
Ele requer que se compreenda a simbologia de seus termos, das 
fi guras que aparecem. Lido literalmente, sempre aparece, em todos os 
mitos, um apelo ao universo mágico, ao fantástico. Mas quando se o decompõe, 
interpretando a função de suas metáforas, de suas alegorias, de suas analogias, 
de seus símbolos, o mito aparece com sua força explicativa e coercitiva. Ao 
mesmo tempo em que ele responde à pergunta elementar: “de onde vem tal 
coisa?” (o mal, por exemplo), ele também, ao dar a resposta, coage o indivíduo a 
certa conduta adequada à moral e às normas do grupo.
A cultura grega é, entre todas as conhecidas, a mais ricano que tange à 
variedade e multiplicidade de mitos. É nela que o gênio criador do homem 
mostrou-se mais fecundo. O panteão dos gregos (o conjunto de deuses e deusas) 
o mito usa sempre 
uma linguagem 
metafórica.
32
Temas e teorias da fi losofi a
apresentado nos mitos era tão complexo que requeria especialistas no assunto. 
Essa era, justamente, uma das funções do poeta: conhecer as diferentes 
divindades, saber para que deveriam ser invocadas, qual seu poder, seu desígnio 
e, com isso, orientar a conduta e as escolhas dos homens. Assim, o poeta era 
uma fi gura social que estabelecia a relação entre os deuses e os homens. 
b) O Misticismo
Misticismo, segundo Fernandes, Luft e Guimarães (2003), é a 
devoção contemplativa; crença religiosa ou fi losófi ca que admite a 
comunicação oculta entre o homem e a divindade; tendência a acreditar 
no sobrenatural. Conforme se pode ver, o misticismo mostra-se como 
uma predisposição tanto para a mitologia quanto para a religião. 
Também para muitas fi losofi as o misticismo é fundamental.
Inicialmente, em todas as culturas humanas, a crença em algo 
“sobrenatural” parece encontrar-se na base (no princípio) das primeiras 
explicações acerca da origem e do destino do homem e do mundo. 
Quando nos damos conta de que “de repente” a consciência se instala 
no homem e ele percebe que existe, que está no mundo, que é real, 
mas não tem nenhuma informação sobre “de onde veio”, “como chegou a existir”, 
por quais razões, por quais propósitos ele está aí, é compreensível que apele ao 
“sobrenatural”. Supõe-se que no passado, na origem de nossa humanidade, tenha 
ocorrido algo semelhante ao que acontece com toda criança ainda hoje. Certo dia 
ela, ainda pequena, dá-se conta de que existe, “está aí”. Nesse momento ela se 
torna uma perguntadora: “mãe, de onde que eu vim?”, “de onde vieram todas 
as coisas?”, “por que meu cachorro não dorme em uma cama igual à minha?”. 
São intermináveis perguntas que quase enlouquecem a pessoa que a acompanha 
em seus “primeiros passos” no mundo do “ser homem”. Prestando-se atenção, 
percebe-se que as primeiras respostas que damos à criança não deixam de ser 
mágicas. Contamos histórias, fábulas, lendas, contos, ensinamos a orar, falamos 
de Deus ou deuses, fadas, bruxas, etc. Estes relatos estão longe de ser inocentes 
“contos infantis”. Eles constituem a base de um sistema antropológico, elaborado 
no longo percurso de nossa história, desde as primeiras respostas que a espécie 
deu a si mesma até o momento em que cada um de nós vem ao mundo e se faz 
as mesmas perguntas.
Se hoje a criança “recebe” (herda, através de nossos relatos) um conjunto 
de explicações “já prontas”, acumuladas historicamente, lá no início nossa 
espécie não dispunha de “um mundo dos adultos”, cheio de respostas a todas 
as nossas perguntas. É como se toda a espécie estivesse na infância, todos se 
fazendo as mesmas perguntas, sem livros ou histórias nas quais se pudessem 
buscar as respostas.
Misticismo 
é a devoção 
contemplativa; 
crença religiosa 
ou fi losófi ca 
que admite a 
comunicação oculta 
entre o homem 
e a divindade; 
tendência a 
acreditar no 
sobrenatural.
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RAÍZES DA FILOSOFIACapítulo 2
Mito, religião e fi losofi a nascem desse “espanto” pelo qual cada um, e toda 
a espécie, passa. A causa fundamental que deu origem aos mitos, às religiões 
e à fi losofi a é a mesma que continua a mover nosso empreendimento criador 
nas mais modernas ciências ou técnicas investigativas. O elemento mágico do 
misticismo, fortemente presente nas primeiras explicações do homem sobre a 
origem do mundo e de si mesmo, por um lado, faz o mundo ser mágico, encantado; 
dá uma razão de existir ao homem e lhe fornece um sentido, uma direção, uma 
destinação. Por outro lado, desvela (Alhétheia) ao homem o transcendente. 
O mundo tornou-se a face visível (imanente) de uma totalidade que escapa à 
nossa apreensão intelectual. As causas fundamentais parecem manter-se num 
horizonte transcendente, mais distante do que nossa visão consegue discernir. 
Nossa existência mundana caminha inequivocamente para a morte (fi nito), mas 
sabemos que em nossa morte o mundo não acaba (infi nito). Será que na minha 
morte, fi nitude, eu termino radicalmente de existir ou também em mim pode haver 
algo da infi nitude do Cosmos?
Importa ainda salientar que o misticismo, enquanto certo apelo ao mágico, 
ao transcendente, ao “divino” não desapareceu do horizonte de nossa existência. 
Mesmo nas ciências mais materialistas, nos momentos em que a explicação 
meramente mecânica não dá conta, apela-se a ele. Veja-se o exemplo das 
ciências exatas, pautadas unicamente no “concreto”. Quando perguntadas 
sobre por que nós somos capazes de criar tais explicações (comprovadas 
cientifi camente) e por que devemos acreditar nelas, a resposta que recebemos 
é “porque somos seres racionais e a razão tem essa capacidade!”. Mas o que 
é ser racional? O que é a Razão? O que é capacidade racional? Não deixa de 
haver aí um apelo, velado, silencioso, ao misticismo, ao transcendente, ao mágico 
do mundo. Mas por questões políticas, de carreira acadêmica, colaboração com 
o sistema de produção e consumo das mercadorias, etc. que quer que todos 
sejamos “animais produtores (trabalho) e consumidores (diversão)”, o mundo 
tornou-se desencantado, materialista, mecanicista, no qual a única saída para a 
miséria de nossa existência parece ser a diversão, o consumo.
c) A Religião
Nosso primeiro contato com o religioso, despertado pela consciência, está 
nas respostas mágicas que os adultos nos dão às perguntas fi losófi cas sobre 
quem somos, etc. O segundo contato é através de alguma igreja específi ca, à qual 
os adultos pertencem, nos dizendo o que é o mundo e o homem. Mais tarde nos 
informam que as igrejas (geralmente cristãs, no caso do Ocidente) pertencem a 
uma religião monoteísta (o Cristianismo, no Ocidente) e que existem três grandes 
religiões monoteístas: Cristianismo, Islamismo e Judaísmo. A religiosidade 
politeísta, ou a não teísta (como o Budismo) costumam ser mantidas à margem 
ou totalmente ignoradas, como coisa inferior, primitiva, frente à Verdade do 
34
Temas e teorias da fi losofi a
Monoteísmo de NOSSA religião. Um terceiro contato com a religião incita-nos a 
uma busca crítica, questionando os fundamentos, a razão de ser, os dogmas, as 
submissões morais ou o sentido de libertação implicados na religião.
Para os estudos fi losófi cos importa menos a igreja x ou a religião y. O que 
desperta o interesse é o fenômeno religioso e seu signifi cado antropológico como 
tal, seu aparecimento, seu signifi cado e sua permanência para o homem no 
mundo. À fi losofi a não cabe a pergunta: qual a verdadeira religião ou o verdadeiro 
deus, mas o que signifi ca religião, o que signifi ca deus?.
Religião, em uma de suas acepções, signifi ca re-ligar. Tal sentido 
expressa a própria condição do homem. Não nos sentimos apenas mais 
um, entre outros seres biológicos, embora façamos parte da natureza, 
sabemos que em algum momento ocorreu uma ruptura. Nesse sentido, 
o re-ligar pode designar uma retomada mais intrínseca com a Natureza. 
Por outro lado, sabemos que não somos deuses, mas sentimos 
um anseio permanente de transcender, de ir mais além de nossa condição de 
fi nitude no mundo fi nito. Nesse sentido, o re-ligar pode designar a busca pela 
transcendência, pelo infi nito. Obviamente que, em nossa modernidade materialista 
e técnica, tais questões, como fi nito-infi nito, imanência-transcendência, etc. 
parecem abandonadas. Mas elas não desapareceram. Ao contrário, elas se 
mantêm atuais, seja na religiosidade das pessoas, nos misticismos de diversos 
matizes, seja nas fi losofi as que interrogam acerca do sentido de ser do homem no 
mundo. Assumir o fenômeno religioso de forma crítica não signifi ca simplesmente 
negar-se à refl exão, ao contrário; o que está em jogo, nessas discussões, é o 
próprio destino do homem, de cada um e de todos ao mesmo tempo.
Atividade de estudosQual a relação entre ritos, mitos, religião e fi losofi a?
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o re-ligar pode 
designar a 
busca pela 
transcendência, 
pelo infi nito.
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RAÍZES DA FILOSOFIACapítulo 2
PHYSIS/Pré-Socráticos/Sofistas
A constituição da fi losofi a grega é complexa. Estudando-se as culturas 
ainda mais antigas, como Egito, China, Índia, etc. percebe-se que os gregos 
“herdaram” (acolheram) muitas infl uências desses povos. Além disso, antes do 
que chamamos surgimento da fi losofi a grega, há um longo período em que o 
“caldo cultural” para tal surgimento vai se constituindo. Nesse período, chamado 
Período Arcaico, os mitos (e seus lindos e longos versos), o misticismo e a 
religiosidade politeísta predominaram.
Se, no início do fi losofar entre os gregos, há uma mudança no estilo literário 
dos versos para a prosa, isso não signifi ca que eles simplesmente romperam 
defi nitivamente com sua história e cultura. Platão, por exemplo, recolhe e utiliza 
mitos egípcios, indianos, entre outros já conhecidos no Período Arcaico. Os 
mitos, com seu misticismo e religiosidade, estão na base do pensamento fi losófi co 
que, enquanto modelo racional de elaboração e exposição, é especifi camente 
ocidental. Não signifi ca que não tenha recebido importantes contribuições de 
outros continentes; signifi ca apenas que o modo de elaborar as perguntas e, 
sobretudo as respostas, é ocidental, é europeu, é grego. O que se quer dizer, mais 
especifi camente, é que a fi losofi a busca causas mais prováveis ou plausíveis do 
que a magia do pensamento religioso-mitológico.
Os primeiros fi lósofos datam do século VII a.C., nas colônias 
gregas. Muitos atribuem a Tales, de Mileto, o feito, ante a pergunta “de 
onde provém tudo?”, de haver buscado uma resposta intelectual, não 
tão mitológica. Sua resposta pode nos parecer ingênua e ainda um tanto 
mágica, diz ele: tudo é feito de água! Mas estamos há mais de dois mil 
e setecentos anos tentando, ainda, buscar respostas para o sentido da 
totalidade, numa jornada que se iniciou com esses primeiros fi lósofos.
Há duas maneiras de nos referirmos a eles: fi lósofos da Physis 
(essa palavra pode ser traduzida por Natureza, mas não signifi ca o 
que entendemos hoje por esse termo, mas sim a totalidade originária, 
da qual tudo provém, tudo se mantém e tudo retorna) e fi lósofos pré-socráticos 
(anteriores a Sócrates. Alguns, classifi cados como pré-socráticos são, na 
verdade, contemporâneos de Sócrates, como é o caso de Demócrito de Abdera, 
atual Turquia).
Os fi lósofos da Physis, embora abarquem um número elevado de autores, 
temas e abordagens específi cas, podem ser ordenados em dois grandes grupos 
de perspectivas: os monistas, que trabalham com a concepção de realidade única, 
por exemplo, Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Leucipo, Demócrito, e os dualistas, 
como, por exemplo, Pitágoras, Parmênides, Cleanto, Crisipo. Com o aparecimento 
Os primeiros 
fi lósofos datam do 
século VII a.C., nas 
colônias gregas. 
Muitos atribuem a 
Tales, de Mileto, 
o feito, ante a 
pergunta “de onde 
provém tudo?”, de 
haver buscado uma 
resposta intelectual, 
não tão mitológica.
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Temas e teorias da fi losofi a
da fi losofi a de Platão, os monistas fi caram quase esquecidos até o século XX, não 
se levando muito a sério sua investigação. Mesmo assim, conforme Onfray (2008), 
sua elaboração é de grande importância, pois nos oferecem uma visão completa do 
mundo e do homem, em devir constante, desde seus fundamentos metafísicos (uma 
metafísica não dualista) até os domínios da ética (uma ética da vida e da alegria – 
dionisíaca), da saúde e da vida feliz, a partir do ideal da época: kalós kagathós (belo 
e bom). A perspectiva monista, por afeito da obra de Platão, mas também dos usos 
que se fez do platonismo, tanto no Cristianismo quanto na racionalidade moderna, 
tornou-se uma espécie de fi losofi a dos vencidos, enquanto, pelo mesmo conjunto de 
causas políticas e intelectuais, o dualismo tornou-se uma fi losofi a dos vencedores, 
da qual se concebem apenas os aspectos positivos, enquanto aos vencidos restam 
as caricaturas mal desenhadas, “esquecidos, negligenciados”. Mas a noção de 
corpo, por exemplo, destes monistas assemelha-se à noção contemporânea de 
corpo em autores importantes como Deleuze.
Os sofi stas sofrem de injustiça ainda maior, ante a “guerra” que Platão lhes 
declara. A história da fi losofi a muitas vezes os declara ainda pré-socráticos, 
mantendo a desqualifi cação, muitas vezes nem os considerando fi lósofos. O 
próprio termo, sofi sta, por sua polissemia, muitas vezes é associado a sofi sma, 
raciocínio falso, enganoso, ou a sofi sticação/sofi sticaria, enquanto um acréscimo 
de beleza na aparência do discurso, sutileza excessiva, com o propósito de 
dissimular a verdade.
De acordo com Onfray (2008), enquanto Platão era da elite ateniense, tem sua 
própria escola, a Academia, os sofi stas eram pessoas mais comuns, “itinerantes, 
originários de meios modestos”, recebiam salário pelo ensino que praticavam, 
pois “dispunham apenas desse meio para garantir sua sobrevivência”. Não eram 
Cidadãos Atenienses. Protágoras, por exemplo, um dos mais ilustres expoentes 
dessa fi losofi a, foi carregador em um porto do Mediterrâneo. Demócrito, vendo 
sua inteligência, compra-o, promove-o a secretário e lhe dá condições para tornar-
se fi lósofo. Enquanto Platão desqualifi ca a democracia, como um governo das 
massas ignorantes, argumentando em favor do governo de uma elite de sábios, 
os sofi stas são democráticos, defensores da igualdade de direitos.
Os ensinamentos dos sofi stas, em linhas gerais, podem variar. Desde o 
ensino da arte de falar corretamente (boa retórica), até dicas práticas de como 
viver bem. Sua sabedoria contempla a imanência, a vida do homem na terra, 
sua fi nitude, expondo a fragilidade do intelecto, do pensamento e da linguagem 
no que concerne ao conhecimento de verdades universais, metafísicas, seja no 
sentido da moral (o Bem), da estética (o Belo), da ética e da política (a Justiça), da 
ciência (a Essência fundamental de todas as coisas) ou da antropologia (a origem, 
a razão de existir e o destino do homem). Para eles a linguagem, a política, a 
ética, a ciência, o sentido da vida são uma espécie da arte, que exige de nós 
qualifi cação, treino, criação, aperfeiçoamento, ocupação e cuidados cotidianos, 
sem que tenhamos delas uma verdade fi nal.
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RAÍZES DA FILOSOFIACapítulo 2
Atividade de estudos
Que relações se pode estabelecer entre os mitos, a religião e a 
fi losofi a?
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SÓcrates/Platão/AristÓteles
Fazer justiça a essas três fi guras, no sentido de expor por completo seu 
pensamento, com a importância histórica que têm, é impossível. Dos três, 
Sócrates é o mais controverso. Pelo fato de não haver escrito suas ideias, que 
preferia discutir na rua, na praça, no mercado, não se sabe exatamente quais eram 
seus ensinamentos. A principalfonte sobre suas ideias são os diálogos escritos 
por Platão, nos quais Sócrates é sempre a personagem principal, o mais sábio, o 
mais profundo, entre os personagens. Segundo as diversas fontes, Sócrates era 
pessoa simples, costumava andar descalço e debater longamente as questões 
fi losófi cas com as pessoas nos espaços públicos.
O estilo dos textos de Platão é o diálogo. Para isso ele cria um 
cenário, ao que se sabe são lugares reais, com acontecimentos que 
efetivamente ocorreram, mas as “conversas fi losófi cas” escritas por 
Platão são uma forma de ele expor sua própria fi losofi a. O modo 
como descreve os personagens, as coisas que cada um diz, é 
tudo criação de Platão. Como Xenofontes, Aristófanes e Aristóteles 
também escrevem sobre Sócrates, percebe-se que o Sócrates dos 
diálogos de Platão é muito mais uma personagem das novelas 
(diálogos) platônicos do que uma descrição fi el do homem histórico 
que viveu em Atenas entre 469 a.C. e 399 a.C.
38
Temas e teorias da fi losofi a
Das ideias de Sócrates pode-se destacar sua centralidade nas 
questões relativas à alma do homem. Aquilo que distingue o homem 
dos outros seres vivos é justamente sua alma. Nesse sentido, dizia 
que a essência (o que é essencial) do homem é sua alma. É da alma 
que se deve ocupar a fi losofi a. Ela deve nos ajudar a ter uma alma 
boa, justa e bela. Para tal deve-se buscar a sabedoria; reconhecer a 
própria ignorância já é o primeiro passo. Perguntar, duvidar, questionar 
é o segundo passo. A ocupação cotidiana com a sabedoria da alma 
é o caminho para uma vida bela, justa e feliz. Só sei que nada sei, 
este parece ter sido o lema com o qual Sócrates perseguia a sabedoria. 
Conhece-te a ti mesmo e cuida das coisas importantes para tua vida 
(cuidado de si), não enquanto esteticismo da aparência, mas como sabedoria 
interior, substância e dignidade do homem. O método utilizado por Sócrates, em 
sua busca pela sabedoria, é chamado de maieûtica, o que signifi ca fazer vir à 
luz a sabedoria que as pessoas têm em seu interior. Para chegar-se a ela, deve-
se passar pela ironia, ou seja, ironizar, depurar-se dos saberes superfi ciais e 
aparentes da vida em sociedade. Ir mais a fundo, ampliar seus horizontes, abrir 
novas perspectivas, buscar os fundamentos do próprio saber.
A segunda destas três fi guras é a que maiores infl uências deixou para a 
cultura ocidental como um todo e para a religiosidade (cristã e até mesmo espírita) 
em particular: Platão. Nasceu em Atenas, na Grécia, em 427 e morreu em 347 na 
mesma cidade. Foi discípulo de Sócrates, fez longas viagens, indo até o Egito, 
inclusive. Fundou a primeira escola (centro de estudos científi cos e fi losófi cos) 
da história, a chamada Academia. Era fi lho de família rica, não precisou trabalhar. 
Sua família também tinha tradição na política.
Com Platão começa propriamente o que chamamos, no Ocidente, de Filosofi a. 
Ele fundou o modelo metafísico do pensamento. Toda estrutura do pensamento 
de Platão é dualista, ou seja, parte do pressuposto de que há duas substâncias a 
partir das quais o real é criado: uma substância física, sensível, e uma substância 
suprafísica (meta-física), suprassensível, que só é apreendida pelo pensamento. 
Portanto, há também dois mundos, um mundo material, que nós percebemos 
através dos nossos órgãos sensoriais, onde tudo está constantemente mudando, 
se transformando, e um mundo das ideias, que só “vemos” através do olho da 
mente, da alma. Neste mundo (suprassensível) estão as essências ou modelos a 
partir dos quais os seres materiais, animais, plantas, etc. foram feitos.
Metafísica é a parte da fi losofi a dedicada ao estudo do Ser, 
ou seja, aquilo que as coisas são em sua essência. A Metafísica 
pergunta-se não se uma ação específi ca é boa, mas pergunta-se o 
que é o Bem, a partir do qual podemos classifi car as ações como 
boas ou más. Pergunta-se não sobre as partes que constituem 
um corpo e o modo de seu funcionamento, mas o que é, em sua 
Das ideias de 
Sócrates pode-
se destacar sua 
centralidade nas 
questões relativas 
à alma do homem. 
Aquilo que 
distingue o homem 
dos outros seres 
vivos é justamente 
sua alma. 
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RAÍZES DA FILOSOFIACapítulo 2
essência, um corpo, de que modo os corpos vieram a existir, quais 
suas causas primeiras; qual a origem e a que se destina o homem?. 
Se o homem não é só um corpo, a Metafísica quer conhecer com 
precisão o que é a parte não física (meta-física) do homem.
O homem, para Platão, seguindo o princípio de Sócrates, é feito 
de matéria (nosso corpo) e da substância suprassensível (nossa alma 
inteligente). Nossa alma não faz parte do corpo, para Platão. Ela é 
encarnada no corpo. Na morte ela novamente desencarna, devendo 
fazer o caminho de volta ao mundo superior, da ideias, onde não há 
matéria nem mudança, apenas beleza, perfeição. A alma vivia lá antes 
de encarnar. Mas, por haver-se apaixonado pelo corpo, recebeu por 
castigo ter que viver pelo menos uma vida prisioneira no corpo. Caso 
a conduta da pessoa não for adequada, a alma pode ser obrigada a 
reencarnar. Se, após várias reencarnações, a alma não se purifi car, 
através do desapego aos prazeres materiais, empenhando-se a amar a 
sabedoria, a justiça, o bem, a Beleza Superior, ela pode ser condenada 
a viver eternamente na região das sombras, sem nunca mais ver a 
beleza das ideias perfeitas. Pode-se perceber o quanto a fi losofi a de Platão serviu 
ao Cristianismo. Em grande medida nossas ideias de religião e de moral, bem 
como o modo como concebemos o ser humano, provêm da fi losofi a de Platão.
A teoria do conhecimento de Platão (2003) também é metafísica: através dos 
órgãos sensoriais nós conhecemos o mundo físico que, para ele, é um mundo de 
sombras (veja-se a esse respeito a Alegoria da Caverna, descrita por Platão no 
Livro VI de A República), no qual só podemos ter opiniões sobre a aparência das 
coisas. O conhecimento verdadeiro, a verdadeira ciência, é puramente intelectual, 
provém unicamente da alma, sem nenhuma colaboração do mundo empírico. 
Platão era um grande matemático e acreditava (da mesma forma que Pitágoras, 
do qual aprendeu muito) que os números existiam realmente, bem como toda 
ordem matemática. A matemática, para ele, é um estágio intermediário entre nosso 
mundo e o mundo superior das ideias puras. As verdades, as quais a fi losofi a 
busca, estão acima da matemática. As principais Ideias citadas por Platão são: 
justiça, beleza e bondade – o Justo, o Belo e o Bem. O Bem é a ideia superior a 
todas as demais; ela as ilumina e as nutre, semelhante ao sol no nosso mundo. 
Embora todas as almas sejam oriundas do mesmo mundo suprassensível, só os 
que têm uma alma fi losófi ca, depois de muito exercício, longos anos de estudo e 
de treino da alma é que conseguem conhecer as ideias superiores.
Já sabemos que Platão detestava a democracia. Agora se pode entender por 
que ele supõe que só os sábios (fi lósofos) devem fazer as leis e governar: só eles, 
depois de mais de 40 anos de estudo e treino, conhecem a Verdade, a Justiça, a 
O homem, para 
Platão, seguindo 
o princípio de 
Sócrates, é 
feito de matéria 
(nosso corpo) e 
da substância 
suprassensível 
(nossa alma 
inteligente). Nossa 
alma não faz parte 
do corpo, para 
Platão. 
40
Temas e teorias da fi losofi a
Beleza e o Bem; portanto, só eles estão em condições de administrar a cidade com 
justiça, cuidando para que todos os cidadãos sejam felizes. Assim, vemos que o 
dualismo de Platão fundamenta seu Idealismo. O idealismo de Platão mostra-se 
na total desqualifi cação dos dados empíricos para fundamentar o conhecimento. 
A verdade não resulta da experiência, ela provém unicamente das ideias da 
razão. Platão acredita que as Ideias realmente existem e só nelas o homem pode 
encontrar a Verdade que o liberta das sombras, das opiniões, da ideologia, da 
escravidão dos sentidos. A fi losofi a, em seu idealismo, é o culto às ideias. Para ele, 
a forma mais nobre, a única que realmente agrada aos deuses,

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