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FILOSOFIA INTEGRADA - Livro-Texto

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Autora: Profa. Regina Rossetti
Colaboradores: Prof. Renato Bulcão
 Profa. Ronilda Iyakemi Ribeiro
 
Filosofia Integrada
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Professora conteudista: Regina Rossetti
Doutora em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de 
São Paulo (PUC‑SP), onde também se graduou em Filosofia. Docente do Programa de Pós‑Graduação em Comunicação da 
Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). Tem experiência na área de comunicação, com ênfase em epistemologia, 
filosofia e teorias da comunicação. Atua na investigação interdisciplinar entre comunicação e filosofia contemporânea, 
pesquisando os seguintes temas: comunicação e inovação, esfera pública, e comunicação de interesse público.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
R829f Rossetti, Regina.
Filosofia Integrada / Regina Rossetti. – São Paulo: Editora Sol, 2019.
112 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXV, n. 2‑024/19, ISSN 1517‑9230.
1. Origem da filosofia. 2. Mitologia e filosofia. 3. Filosofia 
integrada. I. Título.
CDU 1
U500.40 – 19
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Ricardo Duarte
 Elaine Pires
 
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Sumário
Filosofia Integrada
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 O QUE É FILOSOFIA ............................................................................................................................................9
2 ORIGEM DA FILOSOFIA .................................................................................................................................. 11
3 MITOLOGIA E FILOSOFIA ............................................................................................................................... 17
4 INTEGRAÇÃO, SEGUNDO BERGSON ........................................................................................................ 27
4.1 Concepção ontológica da realidade: o todo virtual ............................................................... 31
4.2 Psique e linguagem: eu profundo e eu superficial ................................................................. 34
4.3 Interação social: Mead e Bergson .................................................................................................. 36
4.4 Integração ontológica como condição da comunicação ..................................................... 37
4.5 Itinerário epistemológico da comunicação: intuição pura, imagem 
mediadora e linguagem ............................................................................................................................ 40
Unidade II
5 FILOSOFIA INTEGRADA AO CINEMA ........................................................................................................ 47
5.1 Platão e o cinema ................................................................................................................................. 47
5.2 Bergson e o mecanismo cinematográfico .................................................................................. 49
5.3 Deleuze e a inversão cinematográfica ......................................................................................... 55
6 FILOSOFIA INTEGRADA À IMAGEM E AO SOM .................................................................................... 56
6.1 Bachelard e a comunicação poética ............................................................................................. 56
6.2 Nietzsche e a música .......................................................................................................................... 62
6.3 Foucault e o discurso .......................................................................................................................... 64
7 FILOSOFIA INTEGRADA À PSICOLOGIA ................................................................................................... 69
7.1 Intensidade dos estados psicológicos .......................................................................................... 69
7.2 Natureza qualitativa dos estados psicológicos ........................................................................ 87
7.3 Crítica ao determinismo psicológico ............................................................................................ 92
8 TEMPO E ESPAÇO ............................................................................................................................................ 95
8.1 Confusão entre tempo e espaço .................................................................................................... 95
8.2 Uma nova concepção de tempo .................................................................................................... 97
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APRESENTAÇÃO
A filosofia examina a realidade, reflete sobre o pensamento, constrói conceitos. O objeto dela é não 
só a realidade que nos circunda, aquilo que se chama de real, mas também o que imaginamos, isto é, 
a realidade imaginada.
Animais, plantas, pedras e coisas fabricadas pelo homem são reais e podem ser investigados pela 
filosofia. O mesmo pode ser feito com sonhos, mitos e ideias. Logo, tudo pode ser objeto do pensamento 
humano. Nesse sentido, a filosofia se integra, por meio do pensamento, a cada uma das realidades 
preexistentes ou criadas pelo homem.
Filosofar é indagar o que, como, onde, quando e por quê. Essas perguntas aplicam‑se a qualquer 
coisa, a qualquer pessoa e a qualquer ideia. Mais do que o assunto da filosofia, interessa o método 
filosófico, que é o método do questionamento.
O ensino da filosofia deve ser sempre crítico. O aluno precisa aprender a duvidar de tudo o que está diante 
dele; a compreender a realidade a partir de uma postura questionadora; a não aceitar o que a sociedade, 
a mídia, a família e os amigos lhe dizem sem antes perguntar‑se: “Mas será que as coisas são assim mesmo? 
Será que meus ouvidos não estão me enganando? Será que as pessoas realmente sabem o que dizem?”.
A partir desse primeiro momento de questionamento, o aluno deve ir em busca de uma compreensão 
mais aprofundada da realidade que o cerca.
INTRODUÇÃO
Inicialmente, veremos o conceito de filosofia, a origem da filosofia e a diferença entre filosofia e 
mitologia. Depois, discutiremos o queé uma filosofia integrada. Faremos isso com base nos conceitos de 
interação e integração do pensador francês Henri Bergson.
A seguir, examinaremos a relação entre comunicação e filosofia, apontando alguns momentos 
em que a comunicação foi objeto de reflexão filosófica. A ideia é mostrar, na história do pensamento 
ocidental, momentos em que filósofos se ocuparam do tema da comunicação, a fim de sugerir um 
tratamento interdisciplinar de questões ligadas a essa área.
Depois, consideraremos a filosofia integrada à psicologia. Analisaremos o livro Ensaio sobre os 
Dados Imediatos da Consciência, de Henri Bergson, em que se fala não do tempo em geral, mas do 
tempo interno, vivido no interior da consciência. A abordagem partirá da análise crítica da psicologia 
determinista da época de Bergson.
Neste livro‑texto, você encontrará ideias de diferentes autores sobre os assuntos discutidos, o que favorecerá 
o desenvolvimento de seu senso crítico. Tenha em mente que o aprendizado de filosofia relaciona‑se a ler e 
refletir sobre o que foi lido. Por esse motivo, é fundamental fazer todas as leituras recomendadas.
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FILOSOFIA INTEGRADA
Unidade I
1 O QUE É FILOSOFIA
A palavra filosofia é composta de dois termos gregos: philo, que significa “amizade”, “amor fraterno”, 
e sophia, que quer dizer “sabedoria”. Exprime, portanto, amizade pela sabedoria, amor pelo saber. Filósofo é 
aquele que ama a sabedoria, que deseja saber.
Atribui‑se ao filósofo grego Pitágoras de Samos (século VI a.C.) a invenção da palavra filosofia. 
Ele teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem 
desejá‑la ou amá‑la, tornando‑se filósofos.
Figura 1 – Pitágoras (c. 570 a.C‑490 a.C.)
A filosofia surge na Grécia Antiga, por volta do século VI a.C., como uma aspiração ao conhecimento 
racional, lógico e sistemático da realidade natural e humana, das origens e causas do mundo, das ações 
humanas e do próprio pensamento.
Em termos conceituais, a filosofia não é um conjunto de saberes ou um conjunto de conhecimentos; 
é uma atitude diante do mundo; é tomar distância do cotidiano e interrogar a si mesmo, desejando 
conhecer o porquê de crenças, sentimentos, ações e pensamentos; é buscar os motivos e razões 
da realidade e da existência das coisas e das ideias. Segundo Marilena Chauí (2004, p. 17), uma 
primeira resposta à pergunta “O que é filosofia?” poderia ser:
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Unidade I
A decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as ideias, os fatos, 
as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; 
jamais aceitá‑los sem antes havê‑los investigado e compreendido.
De acordo com a autora, a atitude filosófica é crítica, reflexiva e sistemática.
O aspecto crítico tem uma fase negativa e outra positiva. A fase negativa corresponde a dizer não ao 
senso comum, aos pré‑conceitos, aos pré‑juízos, aos fatos e às ideias da experiência cotidiana. A fase positiva 
diz respeito a interrogar o que são as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os comportamentos e os valores; 
a questionar o porquê disso tudo e de nós mesmos. As indagações fundamentais da atitude filosófica são:
• O que é: a filosofia se interessa pela realidade (ou natureza) e pela significação de uma coisa, uma 
ideia ou um valor.
• Como é: a filosofia procura a estrutura e as relações que constituem uma coisa, uma ideia ou um valor.
• Por que é como é: a filosofia investiga a origem (ou causa) de uma coisa, de uma ideia ou de um valor.
O aspecto reflexivo relaciona‑se ao debruçar‑se do pensamento sobre si mesmo. A filosofia realiza‑se 
como reflexão.
Reflexão significa movimento de volta sobre si mesmo ou movimento de 
retorno a si mesmo. A reflexão é o movimento pelo qual o pensamento 
volta‑se para si mesmo, interrogando a si mesmo. A reflexão filosófica é 
radical porque é um movimento de volta do pensamento sobre si mesmo 
para conhecer‑se a si mesmo, para indagar como é possível o próprio 
pensamento (CHAUÍ, 2004, p. 20).
O aspecto sistemático, por sua vez, mostra‑se no trabalho com enunciados precisos e rigorosos, na 
busca de encadeamento lógico entre os enunciados, na operação com conceitos ou ideias obtidos por 
procedimentos de demonstração e prova, na exigência de fundamentação racional do que é enunciado 
e pensado. Somente assim a reflexão filosófica pode fazer com que a experiência cotidiana, as crenças e 
as opiniões alcancem uma visão crítica de si mesmas.
 Lembrete
Filosofar é interrogar o quê, o como e o porquê de uma coisa, uma ideia ou 
um valor.
A filosofia tem várias definições. Chauí (2004) apresenta as seguintes:
• Visão de mundo: a filosofia corresponderia ao conjunto de ideias, valores e práticas pelos quais 
uma sociedade apreende e compreende o mundo e a si mesma.
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FILOSOFIA INTEGRADA
• Sabedoria de vida: a filosofia seria identificada com a definição e a ação de algumas pessoas 
que pensam sobre a vida moral, dedicando‑se à contemplação do mundo, para aprender com ele 
a controlar e a dirigir a vida de modo ético e sábio.
• Concepção racional do universo: a filosofia se distinguiria da religião e até se oporia a ela. 
Ambas considerariam o mesmo objeto, o universo, mas por métodos diferentes, a primeira pelo 
esforço racional, e a segunda pela fé numa revelação divina.
• Fundamentação teórica e crítica de conhecimentos e práticas: a filosofia abordaria as 
condições e os princípios do conhecimento que se pretende racional e verdadeiro; a origem, 
a forma e o conteúdo dos valores éticos, políticos, artísticos e culturais; a compreensão das 
causas e das formas da ilusão e do preconceito no plano individual e coletivo; as transformações 
históricas dos conceitos, das ideias e dos valores.
2 ORIGEM DA FILOSOFIA
A fim de compreender o que é filosofia, temos que buscar sua origem. Para isso, são necessárias 
algumas considerações gerais acerca do pensamento ocidental anterior a Sócrates, contexto em que 
surge a filosofia. Visando apresentar o pano de fundo em que a filosofia se constitui, adotaremos uma 
divisão entre sabedoria e filosofia, e consequentemente entre sábios e filósofos.
 Observação
Sábios, aqui, são os pensadores pertencentes ao período do pensamento 
grego denominado sabedoria. Não se faz qualquer referência aos sete sábios 
da Antiguidade grega, os quais, segundo Jean‑Pierre Vernant (1973, p. 49), 
não passam “de uma mistura de dados puramente lendários, de alusões 
históricas, de sentenças políticas e de chavões morais”.
A filosofia antiga estende‑se do século VI a.C. ao século VI d.C. e compreende quatro grandes períodos 
da filosofia greco‑romana:
• Período pré-socrático: ocupa‑se da origem do mundo e das causas das transformações na natureza.
• Período socrático: investiga as questões humanas – a ética, a política e as técnicas –, ou seja, 
 é um período antropológico.
• Período sistemático: busca reunir e sistematizar o que foi pensado antes, interessando‑se em 
mostrar que tudo pode ser objeto do conhecimento filosófico, desde que as leis do pensamento e 
suas demonstrações estejam firmemente estabelecidas para oferecer os critérios da verdade e da 
ciência. É o período de Platão e Aristóteles.
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Unidade I
• Período helenístico: aborda especialmente as questões da ética, do conhecimento humano e das 
relações entre o ser humano e a natureza e de ambos com Deus, quando adentra o cristianismo. 
Nesse período, encontram‑se as escolas epicurista, estoica, cínica e neoplatônica.
Sócrates, Platão e Aristóteles são os filósofos mais importantes e influentesdo período antigo.
Figura 2 – A Escola de Atenas (1509‑1511), Rafael Sanzio
Os filósofos não são sábios; são amigos da sabedoria. Essa é a linha de interpretação de Giorgio Colli 
(1996) acerca do nascimento da filosofia, baseada na perspectiva de Nietzsche sobre a origem da tragédia 
grega, centrada na figura de dois deuses gregos: Dionísio e Apolo. De acordo com esse ponto de vista, quando 
tratamos do pensamento anterior a Sócrates, estamos no domínio da sabedoria, fonte da qual posteriormente 
surge a filosofia. Buscar as origens da filosofia grega, e portanto do pensamento ocidental, é ir ao encontro da 
sabedoria, em cuja direção os amigos da sabedoria, isto é, os filósofos, olham com reverência.
Platão olha reverente o passado, um mundo em que existiram os verdadeiros 
sábios. Por outro lado, a filosofia é apenas a continuação, um desenvolvimento da 
forma literária introduzida por Platão. Ela surge como fenômeno de decadência, 
na medida em que “amor à sabedoria” está mais abaixo da “sabedoria” 
(COLLI, 1996, p. 9).
A passagem da sabedoria à filosofia é a passagem do pensamento envolto no enigma e no mistério para 
um pensamento mais abstrato, racional e discursivo.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/49/%22The_School_of_Athens%22_by_Raffaello_Sanzio_da_Urbino.jpg
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/49/%22The_School_of_Athens%22_by_Raffaello_Sanzio_da_Urbino.jpg
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FILOSOFIA INTEGRADA
Os ensinamentos da sabedoria, como as revelações dos mistérios, pretendem 
transformar o homem no íntimo, elevá‑lo a uma condição superior, fazer 
dele um ser único, quase um deus […]. [A sabedoria] exprime certamente o 
segredo, formula‑o em palavras, mas o povo não pode apreender seu sentido 
(VERNANT, 1973, p. 40‑41).
O pensamento enigmático é aquele que acena para a verdade através de um enigma que precisa ser 
decifrado, numa intuição primordial e imediata daquele que sabe. O pensamento filosófico busca fundar‑se 
no lógos, na palavra que é pensamento, no discurso. Isso não significa que sabedoria e filosofia sejam 
antitéticas; são na verdade fases sucessivas do mesmo fenômeno fundamental da busca do conhecimento.
Se a origem da sabedoria grega está na mania, na exaltação pítica, numa 
experiência mística e dos mistérios, então como se explica a passagem desse 
fundo religioso para a elaboração de um pensamento abstrato, racional, 
discursivo? (COLLI, 1996, p. 61).
Segundo Colli (1996), a passagem da sabedoria à filosofia aconteceu com o surgimento da dialética, 
entendida como discussão racional, cuja primeira expressão são os diálogos de Platão. Nesse sentido, 
a filosofia começa com Platão.
 Lembrete
A filosofia antiga divide‑se em quatro grandes períodos: pré‑socrático, 
socrático, sistemático e helenístico.
Os sábios que iniciaram no Ocidente o movimento que deu origem à filosofia tornaram‑se conhecidos 
como pensadores pré-socráticos. Todavia, não devemos enxergar neles um grupo homogêneo. 
Antes, são pensadores com ideias distintas e intuições originais, que serviram de fonte para o pensamento 
filosófico posterior.
Os pré‑socráticos constituíram, desde Aristóteles, o problema histórico e 
o fundamento sistemático da filosofia ática clássica, isto é, o platonismo. 
Nos últimos tempos, essa conexão histórica teve uma tendência a 
passar a segundo plano devido ao desejo de compreender cada um 
daqueles pensadores em si mesmo, na sua própria individualidade, como 
filósofo original, assim destacando melhor sua verdadeira importância 
(JAEGER, 1995, p. 191).
Como os pré‑socráticos não são um grupo coeso, não existe, a rigor, uma problemática filosófica 
única, a questão filosófica pré‑socrática. Pensadores como Tales, Anaximandro e Pitágoras constituem, 
na verdade, a fonte da problemática filosófica, que somente será posta pelos filósofos posteriores – 
Aristóteles, por exemplo.
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Figura 3 – Retrato de vinte filósofos antigos (1825), J. W. Cook. De cima para baixo, da esquerda para a direita: Tales, Pítaco, Heráclito, 
Zenão, Crísipo, Sócrates, Demócrito, Platão, Aristipo, Antístenes, Aristóteles, Aristômaco, Diógenes, Carnéades, Dionísio, Posidônio, 
Sêneca, Apuleio, Apolônio e Rústico
O acesso às ideias dos pré‑socráticos é problemático por alguns motivos:
• Naquela fase da história, privilegiava‑se a transmissão oral em detrimento da escrita.
• Restaram apenas fragmentos de seus pensamentos, cujas lacunas permitem inúmeras 
interpretações.
• A tradução do grego arcaico para línguas modernas pode gerar muitos desentendimentos.
Diante de tal cenário, se não podemos afirmar a fidedignidade do pensamento que se atribui a esses 
sábios, podemos levantar questionamentos e suposições a respeito dele.
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FILOSOFIA INTEGRADA
Do contexto geral em que surge o movimento que dá origem ao pensar filosófico, destaca‑se 
o ser que busca o saber, que parte espontaneamente do primado de sua própria existência, sem ao 
menos questionar a razão da procura, a razão do que procura – sem questionar sua própria razão. 
Nesse momento pré‑filosófico, o ser humano está no âmbito da sabedoria, do saber originário, no qual 
perguntas acerca do conhecer ainda não foram propostas.
A questão sobre o que é o universo apresenta‑se naturalmente desde que o homem começa a refletir. 
Por meio da observação e da especulação quanto ao que está em seu entorno, ele põe‑se a buscar aquilo 
que há em todos os planos da natureza, isto é, põe‑se a buscar a essência das coisas.
Os primeiros a fazer isso voltaram‑se para o sentido do ser, indagando sobre o que é. Entre todas as 
indagações, essa é espontaneamente a primeira, a mais original.
Assim, num primeiro momento, a totalidade do real, phýsis, foi vista 
como cosmo, e portanto o problema filosófico por excelência foi o 
problema cosmológico: como surge o cosmo? Qual o seu princípio? 
Quais as fases e os momentos de sua geração? etc. É essa a problemática 
que, essencial ou, pelo menos, prioritariamente, absorve toda a primeira 
fase da filosofia grega (REALE, 1995, v. 1, p. 32).
Figura 4 – O Início da Ciência (1906), Veloso Salgado
O que perguntavam os primeiros filósofos
Por que os seres nascem e morrem? Por que os semelhantes dão origem aos semelhantes, 
de uma árvore nasce outra árvore, de um cão nasce outro cão, de uma mulher nasce uma 
criança? Por que os diferentes também parecem fazer surgir os diferentes: o dia parece fazer 
nascer a noite, o inverno parece fazer surgir a primavera, um objeto escuro clareia com o 
passar do tempo, um objeto claro escurece com o passar do tempo?
Por que tudo muda? A criança se torna adulta, amadurece, envelhece e desaparece. 
A paisagem, cheia de flores na primavera, vai perdendo o verde e as cores no outono, até 
ressecar‑se e retorcer‑se no inverno. Por que um dia luminoso e ensolarado, de céu azul 
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Unidade I
e brisa suave, repentinamente, se torna sombrio, coberto de nuvens, varrido por ventos 
furiosos, tomado pela tempestade, pelos raios e trovões?
Por que a doença invade os corpos, rouba‑lhes a cor, a força? Por que o alimento que 
antes me agradava, agora, que estou doente, me causa repugnância? Por que o som da 
música que antes me embalava, agora, que estou doente, parece um ruído insuportável?
Por que o que parecia uno se multiplica em tantos outros? De uma só árvore, quantas 
flores e quantos frutos nascem! De uma só gata, quantos gatinhos nascem!
Por que as coisas se tornam opostas ao que eram? A água do copo, tão transparente e 
de boa temperatura, torna‑se uma barra dura e gelada, deixa de ser líquida e transparente 
para tornar‑se sólida e acinzentada. O dia, que começa frio e gelado,pouco a pouco, se 
torna quente e cheio de calor.
Por que nada permanece idêntico a si mesmo? De onde vêm os seres? Para onde vão 
quando desaparecem? Por que se transformam? Por que se diferenciam uns dos outros? 
Mas também por que tudo parece repetir‑se? Depois do dia, a noite; depois da noite, o dia. 
Depois do inverno, a primavera, depois da primavera, o verão, depois deste, o outono, e 
depois deste, novamente o inverno. De dia, o sol; à noite, a lua e as estrelas. Na primavera, 
o mar é tranquilo e propício à navegação; no inverno, tempestuoso e inimigo dos homens. 
O calor leva as águas para o céu e as traz de volta pelas chuvas. Ninguém nasce adulto ou 
velho, mas sempre criança, que se torna adulto e velho.
Foram perguntas como essas que os primeiros filósofos fizeram e para elas 
buscaram respostas.
Sem dúvida, a religião, as tradições e os mitos explicavam todas essas coisas, mas suas 
explicações já não satisfaziam aos que interrogavam sobre as causas da mudança, da 
permanência, da repetição, da desaparição e do ressurgimento de todos os seres. Haviam 
perdido força explicativa, não convenciam nem satisfaziam a quem desejava conhecer a 
verdade sobre o mundo.
Fonte: Chauí (2004).
 Saiba mais
O diretor Roberto Rossellini retratou muito bem a origem da filosofia 
como um exercício de indagar. Confira:
SÓCRATES. Dir. Roberto Rossellini. Itália; França; Espanha: Orizzonte 
2000; RAI; ORTF; TVE, 1971. 120 minutos.
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FILOSOFIA INTEGRADA
3 MITOLOGIA E FILOSOFIA
Neste capítulo, vamos realizar a leitura de trechos do livro Convite à Filosofia, de Marilena Chauí. 
No primeiro deles, apresentado a seguir, a autora discorre sobre o nascimento da filosofia.
O nascimento da filosofia
Os historiadores da filosofia dizem que ela tem data e local de nascimento: final do século 
VII e início do século VI antes de Cristo, nas colônias gregas da Ásia Menor (particularmente 
as que formavam uma região denominada Jônia), na cidade de Mileto. O primeiro filósofo 
foi Tales de Mileto.
Além de ter data e local de nascimento e de ter seu primeiro autor, a filosofia também tem 
um conteúdo preciso ao nascer: é uma cosmologia. A palavra cosmologia é composta de duas 
outras: cosmos, que significa “mundo ordenado e organizado”, e logia, que vem da palavra lógos, 
que significa “pensamento racional”, “discurso racional”, “conhecimento”. Assim, a filosofia nasce 
como conhecimento racional da ordem do mundo ou da natureza, donde, cosmologia.
Apesar da segurança desses dados, existe um problema que, durante séculos, vem 
ocupando os historiadores da filosofia: o de saber se a filosofia – que é um fato especificamente 
grego – nasceu por si mesma ou dependeu de contribuições da sabedoria oriental (egípcios, 
assírios, persas, caldeus, babilônios) e da sabedoria de civilizações que antecederam à grega, 
na região que, antes de ser a Grécia ou a Hélade, abrigara as civilizações de Creta, Minos, 
Tirento e Micenas.
Durante muito tempo, considerou‑se que a filosofia nascera por transformações 
que os gregos operaram na sabedoria oriental (egípcia, persa, caldeia e babilônica). 
Assim, filósofos como Platão e Aristóteles afirmavam a origem oriental da filosofia. 
Os gregos, diziam eles, povo comerciante e navegante, descobriram, através das viagens, a 
agrimensura dos egípcios (usada para medir as terras, após as cheias do Nilo), a astrologia 
dos caldeus e dos babilônios (usada para prever grandes guerras, subida e queda de reis, 
catástrofes como peste, fome e furacões), as genealogias dos persas (usadas para dar 
continuidade às linhagens e dinastias dos governantes), os mistérios religiosos orientais 
referentes aos rituais de purificação da alma (para livrá‑la da reencarnação contínua e 
garantir‑lhe o descanso eterno) etc. A filosofia teria nascido pelas transformações que os 
gregos impuseram a esses conhecimentos.
Dessa forma, da agrimensura, os gregos fizeram nascer duas ciências: a aritmética 
e a geometria; da astrologia, fizeram surgir também duas ciências: a astronomia e a 
meteorologia; das genealogias, fizeram surgir mais outra ciência: a história; dos mistérios 
religiosos de purificação da alma, fizeram surgir as teorias filosóficas sobre a natureza e o 
destino da alma humana.
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Unidade I
Todos esses conhecimentos teriam propiciado o aparecimento da filosofia, isto é, da 
cosmologia, de sorte que a filosofia só teria podido nascer graças à sabedoria oriental.
Essa ideia de uma filiação oriental da filosofia foi muito defendida oito séculos depois de 
seu nascimento (durante os séculos II e III depois de Cristo), no período do Império Romano. 
Quem a defendia? Os pensadores judaicos, como Filo de Alexandria, e os Padres da Igreja, 
como Eusébio de Cesareia e Clemente de Alexandria.
Por que defendiam a origem oriental da filosofia grega? Pelo seguinte motivo: a filosofia 
grega tornara‑se, em toda a Antiguidade clássica, e para os poderosos da época, os romanos, 
a forma superior ou mais elevada do pensamento e da moral.
Os judeus, para valorizar seu pensamento, desejavam que a filosofia tivesse uma origem 
oriental, dizendo que o pensamento de filósofos importantes, como Platão, tinha surgido no 
Egito, onde se originara o pensamento de Moisés, de modo que haveria uma ligação entre 
a filosofia grega e a Bíblia.
Os Padres da Igreja, por sua vez, queriam mostrar que os ensinamentos de Jesus eram 
elevados e perfeitos, não eram superstição, nem primitivos e incultos, e por isso diziam que 
os filósofos gregos estavam filiados a correntes do pensamento místico e oriental e, dessa 
maneira, próximos do cristianismo, que é uma religião oriental.
No entanto, nem todos aceitaram a tese chamada orientalista, e muitos, sobretudo no 
século XIX da nossa era, passaram a falar na filosofia como o milagre grego.
Com a palavra milagre, queriam dizer várias coisas:
• que a filosofia surgiu inesperada e espantosamente na Grécia, sem que nada anterior 
a preparasse;
• que a filosofia grega foi um acontecimento espontâneo, único e sem par, como é 
próprio de um milagre;
• que os gregos foram um povo excepcional, sem nenhum outro semelhante a eles, 
nem antes nem depois deles, e por isso somente eles poderiam ter sido capazes de 
criar a filosofia.
O pensamento filosófico em seu nascimento tinha como traços principais:
• Tendência à racionalidade, isto é, a razão e somente a razão, com seus princípios e 
regras, é o critério de explicação de alguma coisa.
• Tendência a oferecer respostas conclusivas para os problemas, isto é, colocado 
um problema, sua solução é submetida à análise, à crítica, à discussão e 
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FILOSOFIA INTEGRADA
à demonstração, nunca sendo aceita como verdade se não for provado 
racionalmente que é verdadeira.
• Exigência de que o pensamento apresente suas regras de funcionamento, isto é, o 
filósofo é aquele que justifica suas ideias, provando que segue regras universais do 
pensamento. Para os gregos, é uma lei universal do pensamento que a contradição 
indica erro ou falsidade. Uma contradição acontece quando afirmo e nego a mesma 
coisa sobre uma mesma coisa (por exemplo: “Pedro é um menino, e não um menino”, 
“A noite é escura e clara”, “O infinito não tem limites e é limitado”). Assim, quando uma 
contradição aparecer numa exposição filosófica, ela deverá ser considerada falsa.
• Recusa de explicações preestabelecidas e, portanto, exigência de que, para cada 
problema, seja investigada e encontrada a solução própria exigida por ele.
• Tendência à generalização, isto é, mostrar que uma explicação tem validade para 
muitas coisas diferentes, porque, sob a variação percebida pelos órgãos de nossos 
sentidos, o pensamento descobre semelhanças e identidades.
Por exemplo, para meus olhos,meu tato e meu olfato, o gelo é diferente da neblina, 
que é diferente do vapor de uma chaleira, que é diferente da chuva, que é diferente da 
correnteza de um rio. No entanto, o pensamento mostra que se trata sempre de um mesmo 
elemento (a água), passando por diferentes estados e formas (líquido, sólido, gasoso), por 
causas naturais diferentes (condensação, liquefação, evaporação).
Reunindo semelhanças, o pensamento conclui que se trata de uma mesma coisa que 
aparece para nossos sentidos de maneiras diferentes, e como se fosse coisas diferentes. 
O pensamento generaliza porque abstrai (isto é, separa e reúne os traços semelhantes), ou 
seja, realiza uma síntese.
E o contrário também ocorre. Muitas vezes nossos órgãos dos sentidos nos fazem 
perceber coisas diferentes como se fossem a mesma coisa, e o pensamento demonstrará 
que se trata de uma coisa diferente sob a aparência da semelhança.
No ano de 1992, no Brasil, jovens estudantes pintaram a cara com as cores da bandeira 
nacional e saíram às ruas para exigir o impedimento do presidente da República.
Logo depois, candidatos a prefeituras municipais contrataram jovens para aparecer na 
televisão com a cara pintada, defendendo tais candidaturas. A seguir, as Forças Armadas 
brasileiras, para persuadir jovens a servi‑las, contrataram jovens caras‑pintadas para aparecer 
como soldados, marinheiros e aviadores. Ao mesmo tempo, várias empresas, pretendendo 
vender seus produtos aos jovens, contrataram artistas jovens para, de cara pintada, fazer a 
propaganda de seus produtos.
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Unidade I
Aparentemente, teríamos sempre a mesma coisa – os jovens rebeldes e conscientes, de 
cara pintada, símbolo da esperança do País. No entanto, o pensamento pode mostrar que, 
sob a aparência da semelhança percebida, estão diferenças, pois os primeiros caras‑pintadas 
fizeram um movimento político espontâneo, os segundos fizeram propaganda política para 
um candidato (e receberam para isso), os terceiros tentaram ajudar as Forças Armadas a 
aparecer como divertidas e juvenis, e os últimos, mediante remuneração, estavam transferindo 
para produtos industriais (roupas, calçados, vídeos, margarinas, discos, iogurtes) um símbolo 
político inteiramente despolitizado e sem nenhuma relação com sua origem.
Separando as diferenças, o pensamento realiza, nesse caso, uma análise.
Fonte: Chauí (2004).
A filosofia é racional e sucede outra forma de compreender o mundo: o pensamento mitológico. 
O mito é uma narrativa sobre a origem de algo. Por exemplo, o mito de Eros (ou Cupido, para os 
romanos) apresenta a origem do amor. A mitologia existe em qualquer cultura. Há mitos europeus, 
asiáticos, africanos, indígenas etc. A mitologia também se relaciona à religião. Disso decorrem várias 
histórias sobre a origem do mundo e da humanidade. Nesse sentido, a narrativa judaico‑cristã sobre a 
origem da humanidade, com Adão e Eva, pode ser considerada mitológica do ponto de vista filosófico.
O mito não significa uma interpretação falsa ou mentirosa da realidade. É apenas outro modo de 
explicá‑la, fazendo uso de relatos sobre seres divinos e realidades supranaturais.
Figura 5 – Júpiter acompanhado pela Justiça e pela Piedade (c. 1671), Noël Coypel
No fragmento de Convite à Filosofia exposto a seguir, Marilena Chauí aborda especificamente a 
questão do mito.
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FILOSOFIA INTEGRADA
Mito e filosofia
Resolvido esse problema, temos agora outro que também tem ocupado muito os 
estudiosos. O novo problema pode ser assim formulado: a filosofia nasceu realizando uma 
transformação gradual dos mitos gregos ou nasceu por uma ruptura radical com os mitos?
O que é um mito?
Um mito é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa (origem dos astros, da Terra, dos 
homens, das plantas, dos animais, do fogo, da água, dos ventos, do bem e do mal, da saúde 
e da doença, da morte, dos instrumentos de trabalho, das raças, das guerras, do poder etc.).
A palavra mito vem do grego, mythos, e deriva de dois verbos: de mytheyo (contar, 
narrar, falar alguma coisa para outros) e mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, 
designar). Para os gregos, mito é um discurso pronunciado ou proferido para ouvintes que 
recebem como verdadeira a narrativa, porque confiam naquele que narra; é uma narrativa 
feita em público, baseada portanto na autoridade e na confiabilidade da pessoa do narrador. 
Essa autoridade vem do fato de que ele ou testemunhou diretamente o que está narrando, 
ou recebeu a narrativa de quem testemunhou os acontecimentos narrados.
Quem narra o mito? O poeta‑rapsodo. Quem é ele? Por que tem autoridade? Acredita‑se 
que o poeta seja um escolhido dos deuses, que lhe mostram os acontecimentos passados 
e permitem que ele veja a origem de todos os seres e de todas as coisas para que possa 
transmiti‑la aos ouvintes. Sua palavra – o mito – é sagrada porque vem de uma revelação 
divina. O mito é, pois, incontestável e inquestionável.
Como o mito narra a origem do mundo e de tudo o que nele existe?
De três maneiras principais:
• Encontrando o pai e a mãe das coisas e dos seres, isto é, tudo o que existe decorre 
de relações sexuais entre forças divinas pessoais. Essas relações geram os demais 
deuses, os titãs (seres semi‑humanos e semidivinos), os heróis (filhos de um deus 
com uma humana ou de uma deusa com um humano), os humanos, os metais, as 
plantas, os animais, as qualidades (como quente e frio, seco e úmido, claro e escuro, 
bom e mau, justo e injusto, belo e feio, certo e errado) etc.
A narração da origem é, assim, uma genealogia, isto é, uma narrativa da geração dos 
seres, das coisas, das qualidades, por outros seres, que são seus pais ou antepassados.
Tomemos um exemplo de narrativa mítica.
Observando que as pessoas apaixonadas estão sempre cheias de ansiedade e de 
plenitude, inventam mil expedientes para estar com a pessoa amada ou para seduzi‑la e 
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também serem amadas, o mito narra a origem do amor, isto é, o nascimento do deus Eros 
(que conhecemos mais com o nome de Cupido).
Houve uma grande festa entre os deuses. Todos foram convidados, menos a deusa Penúria, 
sempre miserável e faminta. Quando a festa acabou, Penúria veio, comeu os restos e dormiu com o 
deus Poros (o astuto engenhoso). Dessa relação sexual nasceu Eros (ou Cupido), que, como sua mãe, 
está sempre faminto, sedento e miserável, mas, como seu pai, tem mil astúcias para se satisfazer 
e se fazer amado. Por isso, quando Eros fere alguém com sua flecha, esse alguém se apaixona e 
logo se sente faminto e sedento de amor, inventa astúcias para ser amado e satisfeito, ficando ora 
maltrapilho e semimorto, ora rico e cheio de vida.
• Encontrando uma rivalidade ou uma aliança entre os deuses que faz surgir alguma 
coisa no mundo. Nesse caso, o mito narra ou uma guerra entre as forças divinas, ou 
uma aliança entre elas para provocar alguma coisa no mundo dos homens.
O poeta Homero, na Ilíada, que narra a guerra de Troia, explica por que, em certas 
batalhas, os troianos eram vitoriosos e, em outras, a vitória cabia aos gregos. Os deuses 
estavam divididos, alguns a favor de um lado e outros a favor do outro. A cada vez, o rei dos 
deuses, Zeus, ficava com um dos partidos, aliava‑se com um grupo e fazia um dos lados – ou 
os troianos, ou os gregos – vencer uma batalha.
A causa da guerra, aliás, foi uma rivalidade entre as deusas. Elas apareceram em sonho 
para o príncipe troiano Páris, oferecendo a ele seus dons, e ele escolheu a deusa do amor, 
Afrodite. As outras deusas, enciumadas, o fizeram raptar a grega Helena, mulher do general 
grego Menelau, e isso deu início à guerra entre os humanos.
• Encontrando as recompensas ou os castigos que os deuses dão a quem os desobedece 
ou a quem os obedece.
Como omito narra, por exemplo, o uso do fogo pelos homens? Para os homens, 
o fogo é essencial. Com ele, diferenciam‑se dos animais, porque tanto passam a cozinhar os 
alimentos, a iluminar os caminhos na noite, a se aquecer no inverno quanto podem fabricar 
instrumentos de metal para o trabalho e para a guerra.
Um titã, Prometeu, mais amigo dos homens que dos deuses, roubou uma centelha de 
fogo e a trouxe de presente para os humanos. Prometeu foi castigado (amarrado num 
rochedo para que as aves de rapina, eternamente, devorassem seu fígado) e os homens 
também. Qual foi o castigo dos homens?
Os deuses fizeram uma mulher encantadora, Pandora, a quem foi entregue uma caixa 
que conteria coisas maravilhosas, mas nunca deveria ser aberta. Pandora foi enviada aos 
humanos e, cheia de curiosidade e querendo dar a eles as maravilhas, abriu a caixa. Dela 
saíram todas as desgraças, doenças, pestes, guerras e, sobretudo, a morte. Explica‑se, assim, 
a origem dos males no mundo.
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Vemos, portanto, que o mito narra a origem das coisas por meio de lutas, alianças e relações 
sexuais entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos homens. Como os 
mitos sobre a origem do mundo são genealogias, diz‑se que são cosmogonias e teogonias.
O termo gonia vem de duas palavras gregas: do verbo gennao (engendrar, gerar, fazer 
nascer e crescer) e do substantivo genos (nascimento, gênese, descendência, gênero, espécie). 
Portanto, quer dizer “geração”, “nascimento a partir da concepção sexual e do parto”. 
Cosmos, como já vimos, quer dizer “mundo ordenado e organizado”. Assim, cosmogonia é 
a narrativa sobre o nascimento e a organização do mundo, a partir de forças geradoras (pai 
e mãe) divinas.
Teogonia é uma palavra composta de theós, que em grego significa “coisas divinas”, 
“seres divinos”, “deuses”. A teogonia é, portanto, a narrativa da origem dos deuses, a partir 
de seus pais e antepassados.
Qual é a pergunta dos estudiosos? É a seguinte: a filosofia, ao nascer, é, como já dissemos, 
uma cosmologia, uma explicação racional sobre a origem do mundo e sobre as causas das 
transformações e repetições das coisas; para isso, ela nasce de uma transformação gradual 
dos mitos ou de uma ruptura radical com os mitos? Continua ou rompe com a cosmogonia 
e a teogonia?
Duas foram as respostas dadas.
A primeira delas foi dada nos fins do século XIX e no começo do século XX, quando reinava 
um grande otimismo sobre os poderes científicos e as capacidades técnicas do homem. 
Dizia‑se, então, que a filosofia nasceu por uma ruptura radical com os mitos, sendo a primeira 
explicação científica da realidade produzida pelo Ocidente.
A segunda resposta foi dada a partir de meados do século XX, quando os estudos dos 
antropólogos e dos historiadores mostraram a importância dos mitos na organização social 
e cultural das sociedades e como os mitos estão profundamente entranhados nos modos de 
pensar e de sentir de uma sociedade. Por isso, dizia‑se que os gregos, como qualquer outro 
povo, acreditavam em seus mitos e que a filosofia nasceu, vagarosa e gradualmente, do 
interior dos próprios mitos, como uma racionalização deles.
Atualmente consideram‑se as duas respostas exageradas e afirma‑se que a filosofia, percebendo 
as contradições e limitações dos mitos, foi reformulando e racionalizando as narrativas míticas, 
transformando‑as em outra coisa, numa explicação inteiramente nova e diferente.
Quais são as diferenças entre filosofia e mito? Podemos apontar três como as mais 
importantes:
• O mito pretendia narrar como as coisas eram ou tinham sido no passado imemorial, 
longínquo e fabuloso, voltando‑se para o que era antes que tudo existisse tal 
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como existe no presente. A filosofia, ao contrário, se preocupa em explicar como 
e por que, no passado, no presente e no futuro (isto é, na totalidade do tempo), 
as coisas são como são.
• O mito narrava a origem através de genealogias e rivalidades ou alianças entre forças 
divinas sobrenaturais e personalizadas, enquanto a filosofia, ao contrário, explica a 
produção natural das coisas por elementos e causas naturais e impessoais. O mito 
falava em Urano, Ponto e Gaia; a filosofia fala em céu, mar e terra. O mito narra a 
origem dos seres celestes (astros), terrestres (plantas, animais, homens) e marinhos 
pelos casamentos de Gaia com Urano e Ponto. A filosofia explica o surgimento desses 
seres por composição, combinação e separação dos quatro elementos ‑ úmido, seco, 
quente e frio, ou água, terra, fogo e ar.
• O mito não se importava com contradições, com o fabuloso e o incompreensível, 
não só porque esses eram traços próprios da narrativa mítica como também 
porque a confiança e a crença no mito vinham da autoridade religiosa do 
narrador. A filosofia, ao contrário, não admite contradições, fabulação e coisas 
incompreensíveis, mas exige que a explicação seja coerente, lógica e racional; além 
disso, a autoridade da explicação não vem da pessoa do filósofo, mas da razão, que 
é a mesma em todos os seres humanos.
Fonte: Chauí (2004).
Figura 6 – Pandora (1896), John William Waterhouse
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FILOSOFIA INTEGRADA
Ao contrário do mito, a filosofia é temporal, ou seja, está no tempo, tem uma história. Na sequência, 
vamos ver quais foram as condições históricas concretas que deram origem à filosofia na Grécia Antiga.
Condições históricas para o surgimento da filosofia
Resolvido esse problema, temos ainda um último a solucionar: o que tornou possível 
o surgimento da filosofia na Grécia no final do século VII e no início do século VI antes de 
Cristo? Quais as condições materiais, isto é, econômicas, sociais, políticas e históricas, que 
permitiram o surgimento da filosofia?
Podemos apontar como principais condições históricas para o surgimento da filosofia 
na Grécia:
• Viagens marítimas: permitiram aos gregos descobrir que os locais que os mitos 
diziam habitados por deuses, titãs e heróis eram, na verdade, habitados por outros seres 
humanos, e que as regiões dos mares que os mitos diziam habitados por monstros e 
seres fabulosos não tinham nem monstros nem seres fabulosos. As viagens produziram 
o desencantamento ou a desmistificação do mundo, que passou assim a exigir uma 
explicação sobre sua origem, explicação que o mito já não podia oferecer.
• Invenção do calendário: é uma forma de calcular o tempo segundo as estações 
do ano, as horas do dia, os fatos importantes que se repetem, revelando, com isso, 
uma capacidade de abstração nova, ou uma percepção do tempo como algo natural, 
e não como um poder divino incompreensível.
• Invenção da moeda: permitiu uma forma de troca que não se realiza através das 
coisas concretas ou dos objetos concretos trocados por semelhança, mas uma troca 
abstrata, uma troca feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas diferentes, 
revelando, portanto, uma nova capacidade de abstração e de generalização.
• Surgimento da vida urbana: com predomínio do comércio e do artesanato, dando 
desenvolvimento a técnicas de fabricação e de troca, e diminuindo o prestígio das 
famílias da aristocracia proprietária de terras, por quem e para quem os mitos 
foram criados. Além disso, o surgimento de uma classe de comerciantes ricos, que 
precisava encontrar pontos de poder e de prestígio para suplantar o velho poderio da 
aristocracia de terras e de sangue (as linhagens constituídas pelas famílias), fez com 
que se procurasse o prestígio pelo patrocínio e o estímulo às artes, às técnicas e aos 
conhecimentos, favorecendo um ambiente em que a filosofia poderia surgir.
• Invenção da escrita alfabética: como a do calendário e a da moeda, revela o 
crescimento da capacidade de abstração e de generalização, uma vez quea escrita 
alfabética ou fonética, diferentemente de outras escritas – como os hieróglifos dos 
egípcios ou os ideogramas dos chineses –, supõe que não se represente uma imagem 
da coisa que está sendo dita, mas a ideia dela, o que dela se pensa e se transcreve.
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• Invenção da política: introduz três aspectos novos e decisivos para o nascimento 
da filosofia:
— A ideia da lei como expressão da vontade de uma coletividade humana, que 
decide por si mesma o que é melhor para si e como ela definirá suas relações 
internas. O aspecto legislado e regulado da cidade – da pólis – servirá de modelo 
para a filosofia propor o aspecto legislado, regulado e ordenado do mundo como 
um mundo racional.
— O surgimento de um espaço público, que faz aparecer um novo tipo de palavra 
ou de discurso, diferente daquele que era proferido pelo mito. Neste, um 
poeta‑vidente, que recebia das deusas ligadas à memória (a deusa Mnemosine, 
mãe das Musas, que guiavam o poeta) uma iluminação misteriosa ou uma 
revelação sobrenatural, dizia aos homens quais eram as decisões dos deuses que 
eles deveriam obedecer.
Agora, com a pólis, isto é, a cidade política, surge a palavra como direito de cada 
cidadão de emitir em público sua opinião, discuti‑la com os outros, persuadi‑los a 
tomar uma decisão proposta por ele, de tal modo que surge o discurso político como 
palavra humana compartilhada, como diálogo, discussão e deliberação humana, isto é, 
como decisão racional e exposição dos motivos ou das razões para fazer ou não fazer 
alguma coisa.
A política, valorizando o humano, o pensamento, a discussão, a persuasão e a decisão 
racional, valorizou o pensamento racional e criou condições para que surgisse o discurso ou 
a palavra filosófica.
— A política estimula um pensamento e um discurso que não procuram ser formulados por 
seitas secretas de iniciados em mistérios sagrados, mas que procuram, ao contrário, ser 
públicos, ensinados, transmitidos, comunicados e discutidos. A ideia de um pensamento 
que todos podem compreender, comunicar e transmitir é fundamental para 
a filosofia.
Fonte: Chauí (2004).
 Lembrete
A filosofia surgiu a partir de condições históricas específicas da Grécia 
Antiga. Não se trata de acaso ou milagre, mas do despertar do espírito de 
indagação em condições propícias para a discussão de ideias.
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FILOSOFIA INTEGRADA
4 INTEGRAÇÃO, SEGUNDO BERGSON
Interação e integração são tópicos tratados pelo filósofo francês contemporâneo Henri Bergson. 
Na visão dele, interação e integração são movimentos opostos e essenciais da própria realidade, que 
implicam concepções diferentes de comunicação: uma social e outra intuitiva.
Figura 7 – Henri Bergson (1859‑1941)
Tudo está integrado a tudo, e essa base ontológica leva a uma tendência natural no ser humano de 
agir no sentido da interação com o outro e com o mundo. Essa tendência impele o homem a buscar, 
constantemente, novas formas de interação, novos modos de estar junto, novas tecnologias que 
facilitem e intensifiquem a comunicação no âmbito social.
Integração e interação acontecem em dois planos: um mais profundo e metafísico, e outro mais 
superficial e social.
No nível profundo e interno da existência, há uma integração ontológica total, que somente pode 
ser alcançada por um esforço da intuição, da qual a linguagem não faz parte. Nesse plano profundo da 
realidade, em que os seres já se encontram comunicados, não é necessária uma ação comunicativa que 
gere interação.
No movimento oposto, porém, no sentido da exteriorização, quanto mais se emerge rumo à superfície, 
mais fraturas e separações surgem na integração, antes coesa e absoluta. Esse processo de exteriorização 
e aparente separação do todo provoca no ser humano um sentimento de estranhamento e inadequação, 
que força uma tendência quase irresistível de retorno à integração primordial. Entretanto, quando já se 
está no plano da superfície e da sociabilidade, a interação com vistas à integração somente é possível 
por meio da linguagem. A comunicação com o outro é um movimento natural no ser humano, que 
busca suturar a fratura ocorrida no processo de materialização e espacialização das relações.
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Unidade I
Antes de tratar especificamente do tema da integração, é importante retomar alguns marcos 
fundamentais do pensamento bergsoniano. Para isso, leia a seguinte entrevista concedida pelo filósofo 
francês Pierre Montebello, estudioso da obra de Bergson, à Revista do Instituto Humanitas Unisinos.
Bergsonismo, uma filosofia do futuro, do tempo, da transformação
IHU: Quais são os aspectos mais atuais da filosofia bergsoniana?
PM: O melhor representante da modernidade da filosofia de Bergson terá sido, sem dúvida, 
o filósofo francês Gilles Deleuze. Ele nos fez redescobrir Bergson, de cuja filosofia tirou o mais 
interessante e moderno: uma compreensão da relação entre consciência e universo, entre 
percepção subjetiva e cosmo. Bergson faz‑nos entrever nossa participação num movimento 
criador do universo, do qual não somos nem a origem nem o fim. Essa ideia de um universo 
aberto, criador, que em nada corresponde àquele que a metafísica grega ou clássica descreveu, 
exerce hoje uma grande influência. O bergsonismo é uma filosofia do futuro, do tempo, da 
transformação. Outra ideia é de que a filosofia não deve abandonar a ontologia, de que ela 
não deve contentar‑se com a fenomenologia, que só descreve o mundo a partir da consciência 
humana, mas que é preciso tentar descrever o mundo tal como ele é e tentar captar de que 
modo matéria, vida e consciência se comunicam fora de nós.
IHU: Quanto à obra A Evolução Criadora, qual é sua representatividade na filosofia 
contemporânea, cem anos após sua publicação?
PM: Cem anos após sua publicação, A Evolução Criadora continua sendo um livro 
realmente assombroso. Ele é hoje relido e estimado em seu justo valor. Esse livro deslocou 
integralmente o questionamento filosófico. Depois que a filosofia de Husserl e de Heidegger 
dominou o cenário francês, nós nos damos conta de que esse livro trouxe algo totalmente 
novo. Ele é um dos raros livros de filosofia contemporânea que retoma as grandes questões 
deixadas em suspenso após a crítica kantiana da metafísica: a psicologia, a biologia, 
a cosmologia etc. Esse livro não se contenta em dizer que o eu, a vida, o cosmo são 
incognoscíveis. Essa filosofia traça um caminho, o mais próximo possível da experiência 
que temos de nós mesmos e do conhecimento que as ciências nos trazem, para desenhar 
uma imagem plausível do que quer dizer consciência, vida, matéria, universo, evolução 
etc. É um livro riquíssimo. Deve‑se comparar essa obra ao grande livro de Schopenhauer, 
O Mundo como Vontade e como Representação. São duas trovoadas no céu das ideias, dois 
questionamentos da visão demasiado intelectualista que a filosofia nos deu do mundo.
IHU: Quanto ao conceito bergsoniano de intuição, qual é sua relevância para que 
possamos entender o livre‑arbítrio?
PM: A intuição bergsoniana é um método. Ela consiste em situar‑nos no próprio 
movimento das coisas, em pensar em duração quando temos tendência a forjar conceitos 
demasiado estáticos. A intuição opõe‑se à inteligência. Não que a inteligência seja inútil. 
Ela serve para fabricar. É principalmente geométrica, técnica. O mundo tecnológico é sua obra. 
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FILOSOFIA INTEGRADA
A intuição, porém, não serve para agir, mas para compreender. Não se compreende nada da 
vida quando se pensa através de conceitos que são destinados a agir sobre a matéria (conceitos 
matemático‑físicos). É preciso partir da intuição, da experiência de ser vivo, do movimento da 
própriavida. E isso vale para todas as coisas. A intuição é, pois, um método de conhecimento, 
e também de libertação, já que sem ela somos condenados a viver apenas num mundo útil. 
Ora, a intuição nos desvela que o movimento das coisas é criador: o universo é um movimento 
de expansão, a vida é uma evolução criadora, a personalidade psíquica consiste em produzir atos 
livres. É esse plano criador que a intuição nos faz encontrar.
IHU: Como pode a filosofia desse pensador ajudar‑nos a repensar a liberdade e a 
eticidade no mundo contemporâneo?
PM: Repensar a liberdade e a ética hoje em dia é pôr o mundo ante o homem, e não o 
homem ante o mundo. Os desastres de nossos dias vêm daquilo que Espinosa viu tão 
bem: o homem se crê um imperador num império. Mas o homem não é o centro de nada. 
Seu passado e seu futuro são o próprio universo. A filosofia, diz Bergson, deveria ser um 
esforço para superar a condição humana. Bergson nos faz compreender que somos nós 
que pertencemos a um todo, e não o contrário. Essa tomada de consciência é fundamental. 
Ela nos convida a reconsiderar nosso lugar no seio do todo, do universo e dos viventes. 
A filosofia de Hans Jonas prolonga essa reflexão, sem no entanto conhecer ou citar Bergson.
IHU: Se, como afirmava Bergson, o que existe é não o tempo real, mas um continuum 
de tempo num fluxo constante, então o que existe são mecanismos mentais que 
compartimentam nossas experiências sensoriais? Ao tomar consciência disso, como pode o 
ser humano ter sua consciência afetada?
PM: O tempo real existe para Bergson. Sua filosofia é uma filosofia da duração e, por 
conseguinte, do tempo. Mas não é o tempo da física, não é um tempo matematizado e 
dividido em instantes. É um movimento contínuo, que traz o passado e gera o futuro no 
presente. Todas as coisas são ritmos de duração, matéria, vida, consciência, maneiras de 
gerar um futuro no presente recolhendo o passado. Mesmo a matéria, que parece ser pura 
repetição, é um movimento contínuo de expansão, uma transformação, uma evolução 
cósmica. Creio que a física não pode contestá‑lo, ela que delineia uma história do cosmo 
a partir do big bang. O tempo é, pois, a própria realidade, o próprio estofo das coisas e do 
mundo. A filosofia de Bergson, como a de Heidegger, faz o tempo passar ao primeiro plano. 
Ela recusa o substancialismo, que define as coisas por uma essência estável. A metafísica 
clássica, dirá Bergson, não se deu conta do tempo. O homem deve tomar consciência de que 
ele também age no tempo, de que a criação se faz no tempo. Não repetir, mas criar – tal é o 
sentido do ser que a existência humana deve reencontrar. Caso contrário, ela se encerra em 
sociedades estáticas, sociedades fechadas, sem criação artística, sem movimento espiritual, 
sem exigência de futuro.
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Unidade I
IHU: Há nessas ideias influências de Heráclito e de Kant, embora isso possa, de certa 
maneira, soar contraditório, já que Heráclito foi inspirador de Platão, e Kant foi um aristotélico?
PM: Há pouca influência de Heráclito sobre Bergson. Sua concepção do tempo é 
moderna. Ela se apoia nos conhecimentos modernos da física, embora procure separar‑se dela, 
e sobretudo nas teorias da evolução (transformismo de Lamarck e evolucionismo de Darwin), 
que são tão importantes no século XIX. Não se trata simplesmente de dizer que as coisas 
estão em movimento. É preciso mostrar como elas se movimentam, e na filosofia moderna 
isso cruza com questões sobre a matéria (ciências físicas), sobre a vida (ciências biológicas) 
e sobre a consciência (ciências psicológicas). Heráclito teve uma intuição. Bergson dá 
consistência a essa intuição. Ele trabalha com os utensílios e os conhecimentos modernos. 
A influência de Kant sobre a filosofia moderna é evidentemente essencial. No entanto, desde 
Schopenhauer, aparece uma filosofia que encara Kant ao reverso. Schopenhauer, Nietzsche 
e Bergson tornam possível uma nova filosofia da natureza, como vontade, vontade de poder 
e duração. Eles constroem uma nova imagem da natureza, que não é mais aquela das ciências 
físicas. A metafísica da natureza de Kant não é senão a fundamentação do mecanicismo nas 
categorias de compreensão do sujeito transcendental. Esses três autores mostram, ao contrário, 
que o mecanicismo é insuficiente para pensar a natureza. Aliás, não basta mais dizer que o eu, a 
alma e Deus são indetermináveis. É preciso compreender de que modo matéria, vida, consciência e 
universo se comunicam e estão em relação.
IHU: Ainda nessa linha de raciocínio, qual é a influência de Kant sobre o pensamento 
bergsoniano, considerando que o filósofo de Königsberg afirmava que a coisa é em 
si incognoscível?
PM: A relação com Kant é complexa. Ele censura Kant por ter acreditado que a 
metafísica é impossível. Ele quer, pois, restaurar a metafísica. Bergson está convencido de 
que nós tocamos o absoluto nele mesmo. Em A Evolução Criadora, ele retoma uma frase de 
São Paulo: “No absoluto [São Paulo diz ‘em Deus’], nós estamos e nós nos movemos”. Para 
Bergson, nós podemos conhecer de modo absoluto, e é por isso que sua filosofia propõe 
um conhecimento da matéria, da vida, do conhecimento. Enquanto somos entes materiais, 
vivos e conscientes, como poderia escapar‑nos tal conhecimento? Mas é preciso empregar 
o método adequado. Não se deve aplicar à realidade meios dos quais a inteligência se serve 
para agir sobre a matéria. Kant permaneceu num conhecimento demasiado intelectual. Ele 
não colocou o tempo nas coisas, e sim as tornou incompreensíveis. Ele acreditou, então, que 
não se podia conhecê‑las, que elas eram incognoscíveis. Mas a inteligência não é feita para 
conhecer, segundo Bergson, e sim para agir sobre a matéria, fixando as coisas num espaço e 
num tempo matemáticos. Em lugar do entendimento, é preciso recorrer à intuição, que nos 
situa na duração e no movimento criador do universo. O projeto bergsoniano é antikantiano 
neste nível: restituir vida à possibilidade da metafísica.
IHU: De que modo a ideia bergsoniana de seleção natural de informações nos ajuda a 
compreender a singularidade das concepções do sujeito moderno?
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FILOSOFIA INTEGRADA
PM: Não há uma ideia bergsoniana de seleção da informação. Essa ideia é darwinista, 
e Bergson contesta o modelo darwiniano de seleção das pequenas diferenças. É um esquema 
que não toma em conta as tendências da vida, segundo ele. Mas há em Bergson uma teoria 
do sujeito moderno, reconciliado com o universo e com a natureza, e não transcendendo 
o universo e a natureza. É mesmo essencial ao bergsonismo fazer‑nos compreender que o 
sujeito não tem valor em si, que ele faz parte de um todo, que é aparentado a esse todo. 
Ele escreve, assim, que o eu é da mesma natureza que o todo. O bergsonismo luta contra a 
ideia de uma superioridade da consciência humana sobre o todo. O sujeito é apenas uma 
parte do todo que se comunica com ele.
IHU: De que maneira a filosofia de Bergson e a de Deleuze se cruzam? O que têm elas 
em comum e, sobretudo, em que elas diferem?
PM: A filosofia de Deleuze é bastante inspirada pela filosofia de Bergson. Ela mantém seus 
aspectos essenciais: primado do universo sobre o sujeito, luta contra a fenomenologia (que 
separa o sujeito da natureza e postula sua transcendência), crítica dos falsos problemas e das 
ilusões que provêm do fato de fazer do homem um imperador num império, pensamento do 
movimento criador como aberto, que não cessa de criar e de transformar. Deleuze faz passar 
Bergson para uma filosofia ainda mais livre, assubjetiva em seu fundo, um reservatório de 
hecceidades. Ele se serve disso para fazer surgir o paradoxo de um aparecer em si, de uma 
luz/universo que precede o sujeito. Para ele, como para Bergson, a filosofia deve ser um 
efeito para ultrapassar a condição humana. O universo na ausência do homem, eis oque 
se deve pensar, e não o universo visto pelo homem, pois o homem desfigura tudo quanto 
ele reconduz a si. O que é o universo quando se faz o esforço de pensá‑lo sem preconceitos 
antropomórficos e sem dogmas teológicos, sem mim e sem Deus? Tal é a questão que 
Deleuze quer levantar e que se assemelha também ao questionamento de Nietzsche. Que 
o homem não é o centro do todo, Deleuze o exprimirá retendo esta fórmula de Primo Levi: 
“A vergonha de ser um homem”.
Fonte: Montebello (2007).
4.1 Concepção ontológica da realidade: o todo virtual
A fim de compreender a perspectiva bergsoniana sobre integração e interação na comunicação, 
é necessário expor, mesmo que em linhas gerais, a concepção ontológica que dá fundamento a sua 
visão de realidade.
Segundo Deleuze (1989, p. 103), Bergson considera que a realidade é um todo virtual, em que 
coexistem vários níveis de tensão e distensão. Para entender o que está em jogo, é necessário distinguir 
o virtual do possível. Deleuze afirma que a virtualidade tem uma realidade que a possibilidade não tem. 
O possível se opõe ao real, enquanto o virtual (que é real) se opõe ao atual. Dessa maneira, não se pode 
dizer que o virtual se realiza, pois ele já é real; em vez disso, o virtual se atualiza.
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Unidade I
Essa atualização é sempre criadora. De acordo com Deleuze, o que Bergson propõe é um todo virtual 
real e em constante processo de atualização de suas virtualidades. Esse processo não é mera repetição da 
virtualidade correspondente. Como tudo está em constante mudança, a atualização do virtual implica 
criação e invenção. O virtual se transforma a cada atualização.
Embora o todo virtual seja uma unidade, nele coexistem todos os graus de diferenciação da realidade 
em pleno movimento, uma multiplicidade infinita de graus que, quando se atualizam, mudam e, assim, 
inventam novas formas de ser. O atual nunca é exatamente igual ao virtual que ele encarna. No plano da 
existência, o todo virtual se atualiza diferenciando‑se em psique, vida e matéria. Seguindo linhas divergentes, 
que correspondem aos graus múltiplos que coexistem na totalidade virtual, cada grau (psique, vida e matéria) 
representa a atualização do todo em certa direção: ou na direção do espírito ou na direção da matéria.
Figura 8
Bergson (1971) explica em termos biológicos como o processo de atualização do virtual ocorreu na evolução 
da vida. Quando o elã original atravessou a matéria para fazer surgir a vida, ele atualizou diferentes níveis de 
contração e distensão de seu próprio movimento, níveis que já coexistiam e faziam parte do todo primordial.
 Observação
O elã vital é o impulso original de vida que, atravessando a matéria, 
deu origem à existência. É também chamado de duração em geral ou 
tempo ontológico.
Consequentemente, tanto a vida quanto a matéria coexistem como níveis de contração e distensão de um 
todo maior. O ser humano, como todo ser vivo, participa do mesmo processo de tensão e distensão, o psíquico 
como o grau mais intenso do movimento vital e a matéria do corpo físico como o grau mais distendido.
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FILOSOFIA INTEGRADA
Num âmbito mais geral, no movimento de atualização da virtualidade, é possível encontrar dois sentidos 
opostos: o espírito e a matéria. De um lado, o grau mais intenso de contração da duração ontológica, 
o espírito; do outro, seu grau máximo de relaxamento, a matéria – como uma escala de realidades mais 
densas ou menos densas (JANKÉLÉVITCH, 1989). Não há aqui um dualismo, com duas partes separadas; 
há uma passagem gradual de um extremo ao outro. De uma ponta à outra do movimento da existência, 
é possível acompanhar, num sentido, a materialização do espírito e, no outro, a espiritualização da matéria.
Indo do espírito à matéria, da consciência ao mundo físico, pode‑se ver que a matéria está numa 
direção de movimento contrária à do espírito, como uma inversão do fluxo contínuo da duração 
– como se a duração fosse um movimento ascendente e a matéria um movimento descendente 
(THIBAUDET, 1923).
Ao descer com o movimento, no sentido do seu alentar‑se, o que se vê é o fluxo dele cristalizar‑se, 
enrijecer‑se, tornar‑se quase inerte. Assim surge a matéria, que “é um afrouxamento do inextenso em 
extenso” (BERGSON, 1971, p. 222). Por outro lado, ao entrar em simpatia com o movimento ascendente, 
o que se vê é a intensificação e a intuição do movimento essencial da realidade em sua totalidade. 
Existe, então, um mesmo movimento, mas com sentidos contrários (JANKÉLÉVITCH, 1989). Nessa metáfora, 
o movimento ascendente corresponde ao aprofundamento, e o movimento descendente à superficialização. 
Trata‑se, portanto, de duas direções opostas de um único movimento, em que encontramos, num extremo, 
o psíquico e, no outro, o físico (TROTIGNON, 1968). Quando o movimento se contrai, leva ao psíquico, 
à vida, ao espírito; quando o movimento se distende, leva à matéria e às coisas físicas.
A matéria faz parte do todo da duração ontológica, como seu grau máximo de relaxamento e 
distensão, embora nunca chegue à inércia total. Isso porque também na matéria é possível encontrar 
vestígios, ainda que muito tênues, de duração. A esse respeito, Bergson (1971, p. 208) diz: “Assim, no 
fundo da ‘espiritualidade’ por um lado, e por outro no da ‘materialidade’ com a intelectualidade, haveria 
dois processos de direção oposta, e passar‑se‑ia do primeiro ao segundo por via de inversão”.
Em resumo, partindo‑se do princípio de que a totalidade da existência é um movimento, e que esse 
movimento se apresenta de várias maneiras mesmo sendo único, pode‑se considerar que a totalidade 
tem graus de intensificação e distensão que, levados ao extremo, resultam em matéria e espírito.
Num extremo desse imenso fluxo que constitui a realidade, está a vida psíquica, e com ela o espírito, 
como o maior grau de contração do movimento total. No outro extremo, está a matéria, como o grau 
mais distendido do movimento de duração cósmica, quase chegando à inércia total, mas sem nunca 
alcançar a paralisação absoluta.
A duração apresenta ritmos diferentes de movimento. Bergson (1990, p. 171) afirma:
Em realidade, não há um ritmo único da duração; são possíveis muitos 
ritmos diferentes, os quais, mais lentos ou mais rápidos, mediriam o grau 
de tensão ou de relaxamento das consciências, e desse modo fixariam seus 
respectivos lugares na série dos seres.
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Unidade I
Para o autor, no universo tudo dura porque o movimento é único, embora nem tudo dure da mesma 
maneira, pois o todo comporta múltiplas expressões, o que permite ver duas direções contrárias, o espírito 
e a matéria, num único e mesmo movimento que constitui a essência de toda a realidade. Esse movimento 
pode ser identificado no ser humano: de um lado, em sua psique profunda, integrada ao todo; de outro, 
em sua sociabilidade, sua linguagem, sua capacidade comunicativa e sua interação social.
4.2 Psique e linguagem: eu profundo e eu superficial
O acesso privilegiado ao movimento de tensão e distensão da realidade acontece pela psique humana. 
Por meio da consciência humana, esse movimento do todo virtual é intuído e compreendido. A consciência 
psíquica pressupõe a existência de um eu, que para Bergson, seguindo o movimento da realidade em geral, 
tem duas direções: uma mais superficial e outra mais profunda. “Haveria, pois, dois eus diferentes, sendo um 
como que a projeção do outro, a sua representação espacial, por assim dizer social” (BERGSON, 1988, p. 159).
Cabe salientar que são apenas duas direções distintas, o que não destrói a unidade da vida psíquica. 
Embora com duas dimensões, uma mais superficial e exterior, outra mais profunda e interior, a psique continua 
una. O eu superficial, como o aspecto do eu total queaparentemente não dura porque adere à realidade 
exterior, é somente a crosta rígida da psique, que encobre o eu mais autêntico e verdadeiro, o eu profundo 
(TROTIGNON, 1968).
Como se trata de níveis distintos, mas interligados, é possível passar gradativamente de um ao 
outro. Caminhando‑se da superfície à profundidade, na direção do espírito, escavando‑se por baixo da 
superfície de contato com as coisas exteriores, penetra‑se nas profundezas da consciência e chega‑se ao 
eu profundo, que vive na pura duração: “É, por sob estes cristais bem recortados e este congelamento 
superficial, uma continuidade que se escoa de maneira diferente de tudo o que já vi escoar‑se” (BERGSON, 
1984, p. 16). O eu profundo é capaz de intuir a realidade, é criativo e livre: “O eu interior, o que sente e se 
apaixona, o que delibera e decide, é uma força cujos estados e modificações se penetram intimamente” 
(BERGSON, 1988, p. 88).
Figura 9 – Psique Contemplando o Amor (1906), Auguste Rodin
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FILOSOFIA INTEGRADA
No caminho oposto, da profundidade da consciência à superfície de contato com o mundo 
exterior, chega‑se ao eu superficial. Este pode manipular os objetos físicos, relacionar‑se socialmente 
e expressar‑se pela palavra, ou seja, pode interagir com o outro e com o mundo. O eu superficial é 
aquele que fala, que conceitua; é aquele que, através da linguagem, estabelece limites e distingue as 
coisas, a fim de comunicar‑se. Para isso, ele precisa fixar a mobilidade do real e colocá‑lo no domínio da 
multiplicidade quantitativa e do tempo homogêneo (BERGSON, 1988).
O eu superficial é impessoal porque solidifica nossas impressões para exprimi‑las, generaliza nossas 
sensações para comunicá‑las. Sem a exteriorização do eu, não haveria linguagem nem técnica, e o 
homem não se libertaria do instinto por meio da inteligência (PRADO, 1989).
Do ponto de vista psicológico, a linguagem surge porque, no eu superficial, nossos estados internos 
se justapõem como se fossem as coisas exteriores, perdendo a mobilidade e a vida, tornando‑se inertes 
e estáticos, fáceis de traduzir em palavras.
Ainda que a linguagem force uma homogeneização da realidade para poder expressá‑la em 
conceitos e palavras, não se pode esquecer que sensações nunca são idênticas e que impressões 
mudam constantemente pelo acréscimo contínuo de novas impressões. Por exemplo, se eu provar 
novamente um sabor experimentado na infância, minha sensação será diferente. Isso porque, no devir 
do meu ser, meus sentidos mudam a todo instante, o que torna cada sensação única e irreproduzível. 
No entanto, se cristalizo a sensação e acredito em sua invariabilidade é porque, nas duas ocasiões, eu 
a denomino pelo mesmo nome, em razão de sua causa comum.
As sensações, como estados psicológicos definidos e simbolizados, caem no domínio da linguagem, 
que busca forçosamente identificar o que cada sentimento único tem aparentemente em comum com 
outro para poder chamá‑los pelo mesmo nome. De acordo com Bergson, a linguagem tem dificuldades 
para dar conta do que nossa alma experimenta.
Assim, cada um de nós tem sua maneira de amar e de odiar, e esse amor, esse 
ódio refletem nossa personalidade inteira. Contudo, a linguagem designa 
esses estados com as mesmas palavras em todos os homens; por isso, só 
pode fixar o aspecto objetivo e impessoal do amor, do ódio, dos inúmeros 
sentimentos que agitam a alma (BERGSON, 1988, p. 115).
Em suma, para o autor, numa direção da vida psíquica, está o eu profundo, que se move livremente, 
longe da estabilidade e da imobilidade da exterioridade material. Na outra direção, está o eu superficial, 
que toca o mundo exterior pela superfície, que entra em contato direto com as causas externas das 
sensações, conservando delas algo de sua exterioridade.
Portanto, o eu profundo é integrado e o eu superficial interage. Ambos são capazes de comunicação, 
mas somente o eu superficial tem linguagem.
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Unidade I
 Saiba mais
Alguns filmes que ajudam a refletir sobre o papel do inconsciente são:
MATRIX. Dir. Lana Wachowski e Lilly Wachowski. EUA: Warner Bros.; 
Village Roadshow Pictures; Groucho Film Partnership; Silver Pictures, 1999. 
136 minutos.
A ORIGEM. Dir. Christopher Nolan. EUA; Reino Unido: Warner Bros., 
Legendary Entertainment; Syncopy, 2010. 148 minutos.
4.3 Interação social: Mead e Bergson
Embora conhecido como um filósofo da consciência, Bergson manteve um diálogo profícuo com 
o pragmatismo, em especial, com William James. Temas ligados ao eu superficial, como sociedade e 
linguagem, remetem a questões da vida prática e social, amplamente discutidas pelo pragmatismo, que 
tem no filósofo norte‑americano George Herbert Mead um de seus maiores expoentes.
Figura 10 – George Herbert Mead (1863‑1931)
Para Bergson, o eu superficial é o eu social, aquele que interage socialmente com o outro e que vive 
em sociedade. É nesse sentido que o pensamento dele se aproxima do pensamento de Mead, para quem 
“todo ato social é uma interação, uma ação partilhada, levada a termo em conjunto”, e “ato é um todo, 
formado de partes, e o todo é anterior às partes” (FRANÇA, 2008, p. 84). De acordo com Mead, o eu social 
é um organismo que emerge em estreito contato com o contexto social circundante.
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FILOSOFIA INTEGRADA
A teoria social de Mead baseia‑se na interpretação dos eus envolvidos numa trama orgânica. O autor 
tenta explicar um progresso social incessante por meio de uma ação social criadora, e seu estudo da 
linguagem procura entender como o indivíduo interage com o ambiente social.
Ainda que esses dois pensadores, que foram contemporâneos, tratem de temas comuns, como 
espírito, consciência do indivíduo e sociedade, as relações que estabelecem entre tais conceitos são 
distintas: para Bergson, a categoria fundadora e explicativa do eu e da sociedade é o espírito; para Mead, 
a categoria fundadora e explicativa do self e do espírito é a sociedade.
No entanto, ambos encontram na comunicação uma forma de superar os dualismos existentes em 
suas propostas de compreensão da realidade. Um comentário de França (2008, p. 75) a respeito de Mead 
aplica‑se igualmente a Bergson: “É a comunicação que permite a superação dos dualismos contra os 
quais se batia: indivíduo e sociedade, interior e exterior, mente e conduta”.
Segundo França, a palavra interação remete à ideia de ação conjunta, reciprocamente 
referenciada. O ato interativo é uma globalidade com fases imbricadas, e a comunicação não 
existe senão no todo do qual faz parte e que ajuda a realizar. Nesse sentido, comunicação e ato 
interativo são indissociáveis.
Os indivíduos ou os grupos envolvidos na ação comunicativa estão o tempo todo implicados, 
pois trata‑se de um processo com articulações e afetações mútuas. Mead afirma que o todo 
social é constituído pelas intersecções entre indivíduo e sociedade. “Ele fala da comunicação 
como momento de costura, de construção, de transição. A comunicação, portanto, é da ordem do 
movimento” (FRANÇA, 2008, p. 90).
A ideia da comunicação como uma costura remete a uma das sugestões mais interessantes de 
Bergson para o estudo da comunicação: a de que esta seria uma tentativa de reunir o que foi separado, 
de suturar uma fratura, de costurar o rasgo de um tecido primordialmente íntegro – ou seja, haveria 
uma integração ontológica que, em algum momento, apresentou rupturas.
4.4 Integração ontológica como condição da comunicação
O eu superficial impõe ao ser humano a ilusão de que ele está de fato separado e individualizado 
em relação a outro ser humano. A ideia de seres isolados, que justapostos formariam o conjunto social, 
vem da aplicação da representação espacial de corpos materiais à estrutura da sociedade (IDE, 2008). 
Trata‑se na verdade

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