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GEOGRAFIA DA FOME: o problema alimentar e a questão agrária Jonh Macleully B. Santos Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Departamento de Geografia, Natal, RN, Brasil jonhmacleuyyy@gmail.com Harrison Hascile Henri Hilton Vale Aráujo Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Departamento de Geografia, Natal, RN, Brasil harrison_hilton@hotmal.com Vitor William Abrantes Rocha Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Departamento de Geografia, Natal, RN, Brasil vitorw23@gmail.com Davyson Rikelme Souza de Medeiros Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Departamento de Geografia, Natal, RN, Brasil DavysonRKM@outlook.com Resumo Este trabalho tem o objetivo de analisar o discurso Geográfico da obra de Josué de Castro “A Geografia da Fome”, suas principais características sobre a má alimentação, a fome no Brasil e a questão agrária. Além disso, o artigo tenta destacar as soluções destacadas pelo autor para resolver esses problemas que foram perpetuados na história Brasileira desde a época colonial. Palavras-chave: Josué de Castro. Fome. Questão agrária. Problema alimentício. Agricultura. 2 SUMÁRIO Origem e Formação 3 O problema alimentar brasileiro 6 Alimentação na região amazônica 6 Alimentação no nordeste açucareiro 7 Alimentação no sertão nordestino 8 Alimentação na região centro-sul 9 Questão agrária 9 Conclusão 11 REFERÊNCIAS: 12 3 Origem e Formação de Josué de Castro Em análise a origem e a formação do nosso pensador do flagelo da fome, como era definido Josué de Castro, é possível ter um interpretação sucinta sobre as suas motivações para estruturação de um trabalho voltado ao estudo da fome no Brasil do século XX, o qual afirmava que existiam seres humanas que ainda enfrentavam os graves problemas alimentícios. Josué acreditava que a fome era um fenômeno fabricado, como podemos explanar com suas próprias palavras “A fome não é um fenômeno natural e sim um produto artificial de conjunturas econômicas defeituosas. Um produto da criação humana e, portanto, capaz de ser eliminado pela vontade do próprio homem.”. Ele foi uma homem interessado no espetáculo do mundo, que observou, interpretou e contribuiu para o entendimento das deficiências humanas. Josué Apolônio de Castro, nasceu no bairro de madalena, em Recife, em 5 de setembro de 1908, sendo essa uma área que abrange locais de mangue, enfoque importante, para compreensão do autor. Aos 4 anos de idade, Josué passou a morar somente com a sua mãe, Josefa Carneiro de Castro, visto que seu pai Manoel Apolônio de Castro , se separou da família. Sua mãe era professora e dava aulas em casa, mesmo enfrentando grandes dificuldades financeiras. Já seu pai era de origem rural, proprietário de uma vacaria. Durante as férias Josué ia para casa do pai. O menino Josué, se caracterizava como os demais garotos pobres do seu tempo, era de brincar descalço na rua, jogando pião e castanha e tomando banho de rio. Sob a rígida disciplina do primeiro colégio que estudou em Recife, Josué constantemente enfrentava os duros castigos, devido as suas desobediências como aluno. Situação que encontrou um ponto final quando ele foi estudar no Instituto Carneiro Leão, coordenado pelo temido educador Pedro Augusto Carneiro Leão, a qual Josué passou a ter grande respeito e admiração. As mudanças iniciaram-se a partir de então, as notas alavancaram e Josué chegou a tirar a melhor nota da sua turma do Colégio. Dessa forma, Josué transformou-se em um aluno dedicado aos estudos, chegando, inclusive, a ingressar no curso de medicina na faculdade da Bahia, com apenas quinze anos de idade, transferindo-se depois para faculdade do Rio de Janeiro. Josué costumava escrever para revistas e jornais sobre inúmeros assuntos. era 4 conhecedor e admirador dos astros de Hollywood. Em 1929, Josué concluiu o curso de medicina no Rio. Ele foi eleito presidente do Centro Universitário Latino-Americano, para chefiar uma delegação de acadêmicos ao méxico. Durante a viagem, ele desenvolveu estudos sobre a cultura asteca. Tempo depois, ele retornou a Recife, e iniciou uma carreira profissional de sucesso. Ele abriu a primeira clínica do nordeste, especializada em nutrição, no centro da cidade. Em 1932 ele foi aprovado no concurso para livre docência da cadeira de Fisiologia da Faculdade de Medicina de Recife. Ainda no ano de 1932, ele escreveu obras importantes, como O ciclo do caranguejo e O problema fisiológico da alimentação no Brasil, este último foi contestado por Gilberto Freyre, na sua obra Casa Grande & Senzala. No ano de 1933 escreveu o 1º inquérito brasileiro sobre as condições de vida dos operários. Já 1934. Josué de Castro, retornou ao Rio de Janeiro, onde se casou com Glauce Rego Pinto, com quem teve três filhos. Em 1940, Josué de Castro passou a ter uma importante atividade nas políticas públicas, chegando a participar de movimentos a favor do estabelecimento do salário mínimo, a qual foi revigorado pelo presidente Getúlio Vargas no presente ano. No ano de 1942 ele foi convidado pelo governo argentino e outros países, como o Estados Unidos, para estudar os problemas da má alimentação e da nutrição. Com todo o seu embaçamento sobre os dilemas da fome, ele produziu em 1946 o livro A geografia da fome, livro marcante devido seu cunho científico. Sua obra foi o reflexo das suas observações, a qual ele encontrou na sua própria realidade os fenômenos do descaso, principalmente, nos mangues do Capibaribe e nos bairros miseráveis de Recife. Na década de 1950, Josué de Castro foi eleito presidente do Conselho da Food and Agricultural Organization (FAO), transitando entre diversos países para visualizar os problemas da fome, com ênfase nos países subdesenvolvidos, resultando na sua obra Geopolítica da Fome, em 1952. Entre os anos 1954 a 1962, Josué de Castro foi deputado federal, pelo partido dos trabalhadores, chegando a ser embaixador do Brasil na Conferência Internacional de desenvolvimento, em Genebra, na Suíça, cargo que perdeu em 1964, após ter seus direitos cassados. Teve que se exilar em Paris, onde conseguiu em 1969 o posto de professor de Geografia da Universidade de Vincennes, local onde pode desenvolver seus trabalhos. Foi indicado em 1970 ao prêmio nobel da 5 paz e em 1972 Ajudou a organizar a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, reunida em Estocolmo (Suécia). Josué de Castro morreu aos 65 anos, na cidade de Paris, no dia 24 de setembro de 1973, vítima de um ataque cardíaco. Josué de Castro (1963) Fonte: Centro Josué de Castro, 2008. 6 O problema alimentar brasileiro Analisando o livro Geografia da Fome, de Josué de Castro, identifica-se uma visão majoritariamente possibilista que tentou desvendar o motivo da perpetuação da miséria e da Fome sobre a população brasileira e a necessidade de uma reforma agrária para resolver o problema alimentício. Uma visão que vai contra o pensamento determinista pregado por uma elite atrasada, uma elite que tenta naturalizar a fome como se fosse apenas um produto das condições climáticas. Josué de Castro expressa claramente que as condições climáticas apesar de potencializarem o sofrimento, não são os principais responsáveis pela fome. A fome é um produto direto da falta de organização estruturada da sociedade que impede o desenvolvimento econômico e social que são fundamentais para sanar os problemas relacionados à miséria e moradia. Para compreender a linha de raciocínio que visa caracterizar a situação da Amazônia, do Nordeste e o Centro-Sul do País, o artigo descreve a situação alimentar de cada zona e a questão agrária que é vista como um complemento da solução ao problema da fome no Brasil. Alimentação na região amazônica Josué de Castro, ao analisar as deficiências alimentares de cada região do brasil, inicia sua observação através de uma visão geral da natureza local e como os habitantes da área utilizam desta natureza para suprir suas necessidades. No capítulo inicial sobre a regiãoda Amazônia, podemos ver a análise do autor, que mostra as limitações das formas de produção da área. Primeiramente, a agricultura em larga escala necessita de um considerável esforço, uma vez que há uma vegetação densa e alta impossibilita o plantio. As soluções mostradas pelo autor, inicialmente utilizadas pelas tribos locais são as queimadas, onde o resultado seria uma área limpa, e o melhor de tudo, fértil. Esta técnica, porém, consistia em uma atividade seminômade, pois era necessária uma nova área quando a colheita fosse realizada. 7 Dentre outras atividades, destaca- se a pesca, onde se formam pequenas comunidades nas margens de rios, vivendo da pesca. Um dos principais argumentos do autor é de que a organização do local é mal realizada, com estas comunidades localizadas muito distantes entre si, não havendo assim uma interação entre as mesmas. O fator natural ainda permanece, com enchentes devastando as moradias locais. O autor também observa o fluxo de trabalhadores para o local, com o mercado da borracha em alta, consequentemente, criando novas comunidades, formas de exploração e sobrevivência. Como a abordagem de Josué de Castro é mais voltada para a área de nutrição, ele analisa a alimentação e os costumes destes trabalhadores, notando que o consumo de produtos enlatados e álcool de forma excessiva causam doenças e consequências de forma geral para a área. É importante contextualizar a análise do autor ao processo de colonização do brasil, no qual a desorganização da área se deu pela ocupação excessiva do litoral devido ao mercado do açúcar, fazendo com que o adentramento dos povos na Amazônia fosse irregular e principalmente dos povos indígenas que ocuparam a área fugindo das regiões de influência portuguesa. Ainda nesse contexto, o grande fluxo de trabalhadores que se deslocaram para a região amazônica com o objetivo de atender o mercado da borracha, fundamentou-se primariamente de moradores da área do sertão, buscando fugir das secas e conseguir oportunidades de trabalho. Estas migrações se encaixam no processo de êxodo rural, pois além dos trabalhadores, muitos dos residentes sertanejos adentraram o país em busca de melhores condições de vida Alimentação no nordeste açucareiro O Nordeste brasileiro tem um problema alimentício que teve alicerce na colonização Brasileira, na implementação de uma estrutura econômica baseada na monocultura de exportação, mão-de-obra escrava e concentração de vastas extensões de terras nas mãos de poucos proprietários. A monocultura acabou causando um déficit 8 nutricional, pois a oferta de produtos alimentícios acabou sendo bastante reduzida e isto afetou as vastas extensões de terra, sendo os derivados da cana de açúcar os alimentos mais consumidos daqueles que viviam ao redor dos canaviais. O problema não é relacionado a falta de alimentos, e sim na falta de uma variedade de commodities agrícolas que resulta em uma pobreza nutricional tanto para os escravos quanto para a família do senhor de engenho. Ao analisar esta área, o autor não só aplica seus conhecimentos na área de nutrição, mas também relaciona muitos dos problemas presentes na área resultantes do sistema local implantado. Um exemplo de considerável relevância é a permanência de alguns costumes de alimentação dos escravos africanos, como ervas ou plantas cultivadas em segredo que hoje compõem a alimentação brasileira. Embora a grande maioria destas iguarias se concentre nas regiões de forte influência africana, como a Bahia, esta cultura de alimentação se dissipou pela região brasileira. Esta influência é fortemente notada na obra de Gilberto Freyre, “Casa grande e Senzala”, que mostra a sociedade do latifúndio e como os senhores interagiam com os escravos, ao mesmo tempo que considera este mesmo latifúndio como um universo subsistente, não interagindo com outras propriedades. A relação das duas obras é que o sistema de monocultura latifundiária gerou de forma direta e indiretamente todos os problemas alimentícios estudados na obra, um fator que será mais aprofundado ao se analisar as outras áreas do brasil. Alimentação no sertão nordestino A análise de Josué de Castro sobre o sertão brasileiro inicialmente aborda as condições ambientais presentes no local. O principal foco do autor na sua análise, além da deficiência alimentar, é a adaptação dos sertanejos à região. O primeira ponto a ser notada é a forma de sobrevivência. Embora a agricultura esteja presente, não é sustentável o suficiente para servir de consumo primário. Desta forma, através dos acontecimentos no litoral, principalmente a migração do gado para as regiões mais internas do país, o sertanejo aprendeu a viver da criação de gado. A partir 9 daí, surge toda uma cultura baseada no animal, que se representa na forma da culinária, vestimenta, festas e crenças, além do comportamento diário. Com o foco do autor na alimentação, sua análise parte para a adaptação neste aspecto, com a ingestão primária de carne, na grande maioria das vezes seca, tratada de modo a se manter comestível por uma quantidade considerável de tempo. A cultura também apresenta o aspecto de aproveitar tudo do gado, carne, vísceras, couro, onde os sertanejos utilizam as partes rapidamente perecíveis do animal em “paneladas” antes de consumir a carne em si. Alimentação na região centro-sul O sul do país, apesar de ter um desenvolvimento superior comparado com o restante do Brasil, apresenta uma variedade alimentar bastante interessante, mas que ainda não acaba com todas as carências nutricionais. Além disto, a região sul foi beneficiada com a distribuição de terras para imigrantes na política de branqueamento da população e que apesar de utilizarem terras roxas, terras férteis que são ricas em basalto, também viviam em condições precárias. Este fato, aguça a ideia de que algumas regiões brasileira foram mais privilegiadas que outras, e que políticas de assistências para melhoria da população já existentes aqui foram totalmente negligenciadas. Questão agrária Continuando na época colonial, pode-se identificar que a necessidade de aumentar o fornecimento de gado, possibilitou o início da colonização do interior Brasileiro que acabou aumentando as posses dos latifundiários e instalando povoados dispersos pelo extenso sertão nordestino que cuidavam dos animais. Ou seja, as melhores terras eram ocupadas pelas elites e as piores pelos mestiços e escravos brasileiros. Com a chegada da “liberdade", aqueles que permaneceram no sertão foram abandonados em uma organização social e econômica fadada ao fracasso, onde as 10 únicas opções de sobrevivência deslizavam entre migrar para outras regiões, ou entregar as suas próprias liberdades por uma porção de mantimentos e moradia, onde até mesmo as técnicas agrícolas eram ultrapassadas. Ao analisar o Brasil como um todo, Josué de castro percebe que existem carências alimentares em todas as regiões do país por diversos motivos, que podem ser identificados como consequências de uma colonização sem planejamento. A exploração de recursos desenfreada, visando apenas o lucro, como a monocultura do litoral, que por sua vez, influenciou o estabelecimento das sociedades do couro no sertão, também a exploração de ouro na região de Minas Gerais, que, ao esgotada, transformou-se em uma área de agricultura de subsistência, pois a economia do ouro decaiu. Com esta análise, a conclusão do autor sobre a condição do país na questão alimentícia volta para a questão de reforma agrária, pois a existência de grandes extensões de terra pertencendo à latifundiários, primariamente voltadas para a economia (uma característica do período colonial) fazem com que tal economia continue centrada nos indivíduos, no chamado “monopólio da terra”. Assim, o autor mostra que os métodos primitivos que ainda permanecem da época colonial, de produção de baixa efetividade, que ocupa grande parcela da agricultura do país, são um dos principais fatorespara o atraso do Brasil, o que o autor considera como uma “armadura” contra o avanço. A conclusão final do autor sobre essa questão é a reforma dos métodos de produção agrícola, pois as grandes extensões de terra mal administrada, que apresentam baixo grau de produtividade necessitam de uma modernização e a elaboração de uma reforma agrária, uma distribuição de terras improdutivas para aqueles que precisam de uma propriedade para viver, além de um oferecimento, por parte do governo, de incentivos à produção da agricultura para o bem coletivo. Assim sendo, as reformas permitiriam uma melhor distribuição dos recursos produzidos no mercado interno. 11 Conclusão Nestas regiões, os maiores problemas não estão relacionados aos tipos de solos, na dificuldade de criar gado por causa das matas densas ou frutos que prejudicam o metabolismo por causa do excesso de calorias. O problema está relacionado a falta de utilização das possibilidades naturais para fomentar o desenvolvimento econômico. Um problema que é produto direto da falta de núcleos demográficos organizados que poderiam sanar o problema relacionado à produção de alimentos, solucionar o problema da alimentação com a criação de uma rede de sistemas de estruturas fixas e fluxos de serviços organizados que iriam potencializar a industrialização e a melhoria da infraestrutura, além de estruturar uma regularização do solo e da agricultura que culminaria em um melhor suporte na distribuição de ofertas alimentícias. Existe uma limitação para a implementação desses objetivos por causa do atraso econômico e a falta de mobilidade nas regiões com uma densidade demográfica irregular, tudo causado por um atraso histórico de desenvolvimento. 12 REFERÊNCIAS: FREYRE, Gilberto. Casa grande & senzala, Formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. Fundação Gilberto Freyre. Global Editora. Recife, Brasil, 2003. WANDERLEY, Teresa Cristina; MELO, Marcelo Mário. Josué de Castro. 1.ed. Brasília: Plenarium, 2007. 323 p. CUNHA, Euclides da. Os Sertões. São Paulo: Três, 1984. CARLI, Caetano De'. Sonhos de Abril. A luta pela terra e a reforma agrária no Brasil e em Portugal - os casos de Eldorado dos Carajás e Baleizão. Tese (Doutoramento em Pós-colonialismos e Cidadania Global) - Universidade de Coimbra, FEUC /Coimbra, 2014. MIRALHA , Wagner. Questão agrária brasileira: origem, necessidade e perspectivas de reforma hoje. revista nera, São Paulo, n 8. 2006.
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