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1 Jéssica Couto- 3º P TUTORIA 6- DPOC E SÍNDROME DA IMOBILIDADE 1- Compreender a DPOC CONCEITO: Progressiva obstrução ao fluxo de ar, em grande parte irreversível, normalmente com aparecimento clínico. Todos os pacientes com diagnóstico clínico de DPOC têm a destruição do espaço aéreo (ou seja, enfisema) e alterações patológicas das vias aéreas de condução consistentes com bronquite crônica. Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é a limitação do fluxo de ar provocada por resposta inflamatória a toxinas inalatórias, frequentemente fumaça de cigarro. A DPOC é o estreitamento (bloqueio ou obstrução) persistente das vias aéreas, que ocorre com enfisema, bronquite obstrutiva crônica ou ambos os distúrbios. EPIDEMIOLOGIA: Em pessoas de meia-idade ou idosos com um histórico de consumo de cigarros ETIOLOGIA: As causas da DPOC são as exposições inalatórios (como tabagismo) e Fatores genéticos. Exposição inalatória: Tabagismo é o principal fator de risco na maioria dos países. A fumaça proveniente de cozimento ou aquecimento (como a madeira) em ambientes internos é um importante fator causador em países em desenvolvimento. Também contribuem para o risco de DPOC o baixo peso corporal, doenças respiratórias infantis, exposição passiva à fumaça do cigarro, poluição aérea e exposição ocupacional a pós (como pó de mineral ou de algodão) ou a substâncias químicas inalatórias (como cádmio). Fatores genéticos: A principal doença genética causadora é a deficiência de alfa-1 antitripsina, que causa enfisema em não tabagistas e aumenta acentuadamente a suscetibilidade à doença em fumantes. Vários fatores causam a limitação do fluxo aéreo e outras complicações da DPOC: Inflamação: exposições inalatórias deflagram uma resposta inflamatória nas vias respiratórias e nos alvéolos, que desencadeia a doença. Suas causas são agentes irritantes cronicamente inalados, como o fumo e poluentes atmosféricos, que causam inflamação das vias aéreas e do parênquima pulmonar acarretando em alterações estruturais, clínicas e funcionais. No processo inflamatório estão presentes Linfócitos (linfócitos T CD8 e outros componentes imunológicos levam a maior produção de citocinas e elastases que causam lesão do parênquima pulmonar), Macrófagos, Neutrófilos (contribui para a hipersecreção brônquica) e Células epiteliais. FATORES DE RISCO: Exposição a partículas: o Fumaça do cigarro; o Poeira ocupacional, orgânica e inorgânica; 2 Jéssica Couto- 3º P o Poluição aérea intradomiciliar; o Aquecimento e fogão por biomassa em moradias com pobre ventilação; o Poluição ambiental; ➔ Genética; ➔ Desenvolvimento e crescimento pulmonar; ➔ Stress oxidativo; ➔ Gênero: sexo masculino é maior a incidência; ➔ Idade; CLASSIFICAÇÃO: A DPOC envolve: • Bronquite obstrutiva crônica (determinada clinicamente) Bronquite: definida clinicamente como tosse persistente e produção de expectoração e patologicamente como o alargamento anormal das glândulas mucosas no seio das vias aéreas centrais cartilaginosas. A bronquite crônica era considerada um elemento- chave na patogênese da obstrução crônica ao fluxo aéreo, mas sabe-se agora que o aumento da resistência ao fluxo de ar em pacientes com DPOC pode ser atribuído principalmente a uma variedade de alterações patológicas nas vias aéreas distais do pulmão (“doença das pequenas vias aéreas”). Bronquite obstrutiva crônica: é a bronquite crônica com obstrução das vias respiratórias. A bronquite crônica é definida como tosse produtiva na maioria dos dias da semana, com duração total de pelo menos 3 meses em 2 anos consecutivos. A bronquite crônica torna-se bronquite obstrutiva crônica se houver o desenvolvimento de evidências, no exame de espirometria, de obstrução das vias respiratórias. Enfisema pulmonar: é a destruição do parênquima pulmonar (tecido que constitui o pulmão, formado por alvéolos), acarretando a perda da retração elástica dos septos alveolares e da tração radial das vias respiratórias, o que aumenta a tendência ao colapso destas. É sucedido por hiperinsuflação pulmonar, limitação do fluxo aéreo e aprisionamento de ar. Os espaços aéreos dilatam-se e com o tempo desenvolvem vesículas ou bolhas. Considera-se a obliteração das pequenas vias aéreas a lesão que precede o desenvolvimento do enfisema. Classificação MRC (Medical Research Council) ➔ Grau 0: sem dispnéia, a não ser durante exercícios extenuantes; ➔ Grau 1: dispnéia correndo no plano ou subindo uma inclinação leve; ➔ Grau 2: devido à dispnéia, caminha no plano mais vagarosamente do que pessoas da mesma idade ou, quando andando no plano em seu próprio ritmo, tem que interromper a marcha para respirar; ➔ Grau 3: interrompe a marcha para respirar após caminhar em torno de 100 metros ou após andar poucos minutos no plano; ➔ Grau 4: a dispnéia impede a saída de casa ou apresenta dispnéia ao vestir-se ou despir-se; FISIOPATOLOGIA: 3 Jéssica Couto- 3º P Em pacientes com DPOC, a ativação de neutrófilos e de outras células inflamatórias libera proteases como parte do processo inflamatório, a atividade da protease supera a atividade da antiprotease, resultando em destruição tecidual e hipersecreção de muco. A inibição das antiproteases causam broncoconstrição, edema de mucosa e hipersecreção. Infecção respiratória: pode amplificar a progressão da destruição do pulmão. As bactérias colonizam as vias respiratórias inferiores em cerca de 30% dos pacientes com DPOC. O tabagismo e a obstrução das vias respiratórias acarretam o comprometimento da depuração (limpeza) do muco das vias respiratórias, o que predispõe à infecção. Limitação do fluxo de ar: provocada por estreitamento e/ou obstrução das vias respiratórias, perda de retração elástica ou ambas. Estreitamento e obstrução são causados por inflamação mediada pela hipersecreção de muco, tamponamento de muco, espasmo brônquico, fibrose peribrônquica e remodelação das pequenas vias respiratórias ou uma combinação desses mecanismos. Os septos alveolares são destruídos, reduzindo as inserções do parênquima nas vias respiratórias, facilitando assim o fechamento delas durante a expiração. O aumento da resistência das vias respiratórias aumenta o trabalho de respiração. Hiperinsuflação pulmonar, embora diminua a resistência das vias respiratórias, também aumenta o esforço respiratório. O aumento do trabalho respiratório pode levar à hipoventilação alveolar com hipóxia e hipercapnia, embora hipóxia e hipercarbia também possam ser causadas pelo desequilíbrio entre ventilação e perfusão (V/Q) → shunt (bronquite). ENFISEMA PULMONAR: Doença caracterizada por dilatação permanente dos espaços aéreos distais ao bronquíolo terminal acompanhada por um processo destrutivo do estroma septal, sem fibrose evidente. Ácino pulmonar: porção de parênquima distal e um bronquíolo terminal, constituído por bronquíolo respiratório, ducto, saco alveolar e alvéolos. O conjunto de 3 a 5 bronquíolos terminais junto aos ácinos, constituem o lóbulo pulmonar. O enfisema é classificado de acordo com a distribuição anatômica das lesões, como: • Centroacinar (tabagismo): A porção central do ácino pulmonar, junto ao bronquíolo respiratório está acometida, poupando os alvéolos mais distais. Há presença de pigmento antracótico. Na fase avançada, há acometimento de todo o ácino, com dificuldade de distinção com o panacinar. • Panacinar (deficiência de α1-AT): Alargamento de todo o ácino, relacionado à deficiência de alfa 1 antitripsina. Há difícil distinção entre alvéolo e ducto alveolar. Perde elasticidade. • Parasseptal/acinardistal (fibrose, atelectasia→colapso): Porção distal do ácino é acometida, ao longo dos septos interlobulares e nas regiões adjacentes à pleura. 4 Jéssica Couto- 3º P Surge em áreas adjacentes de fibrose ou atelectasia. É a causa frequente depneumotórax espontâneo em jovens. • Irregular (cicatrizes): Paracicatricial e assintomático. Envolve o ácino de forma irregular e está associado à cicatrizes de processo inflamatório antigo. Neutrófilos e macrófagos alveolares são as principais fontes de enzimas proteolíticas e estão presentes em maior número em pulmões de fumantes (pois se acumulam nos alvéolos). O mecanismo de lesão do enfisema ocorre através da atividade de células inflamatórias e da ação lesiva de agentes oxidantes. Há uma associação de células endoteliais e neutrófilos na lesão, levando ao recrutamento de células da circulação para o local da inflamação, com aderência de neutrófilos ao endotélio. O fumo contém abundante espécies de oxigênio reativas (radicais livres) os quais reduzem os mecanismos antioxidantes naturais do pulmão, que geram agressão direta aos componentes da mecânica ventilatória e redução da eficiência do sistema antiprotease por inibição da α-1 AT. Com isso diminui também a concentração de antiproteases nativas, resultando em deficiência funcional de α1-AT. Há uma destruição da parede pulmonar, dilatação de alvéolos, sacos e ductos e perda do componente elástico. Assim, há alterações que limitam o fluxo aéreo e uma redução do fluxo expiratório devido à redução da elasticidade pulmonar e deformidades brônquicas BRONQUITE CRÔNICA A bronquite crônica é um representante da DPOC, caracterizada por obstrução crônica do fluxo aéreo em qualquer nível da árvore respiratória. As manifestações clínicas são tosse persistente com produção excessiva de muco em um período de 3 meses (mais intensa pela manhã e inverno), por pelo menos 2 anos consecutivos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: A DPOC leva anos para se desenvolver e progredir, mas os sintomas progridem rapidamente em pacientes que continuam a fumar. A tosse produtiva é o sintoma inicial, e a dispneia é caracterizada por ser progressiva, persistente e com surgimento em idosos. Os sinais de DPOC incluem sibilos, fase expiratória prolongada, hiperinsuflação pulmonar e aumento do diâmetro anteroposterior do tórax (tórax em barril). Pacientes com enfisema avançado perdem peso e desenvolvem perda muscular (pela imobilidade) e hipóxia. Sinais da doença avançada envolvem respiração com lábios cerrados, uso de músculos respiratórios acessórios, movimento paradoxal da caixa torácica durante a inspiração, onde a caixa e o abdome se movem para lados opostos (sinal de Hoover), cianose e cefaleia matinal (sinaliza hipercapnia ou hipoxemia noturnas). Pink Puffers: Sopradores róseos. É o estereótipo do enfisematoso. Na inspeção, nota-se a pletora facial (vermelhidão) e o tórax em tonel, magro, dispneia expiratória, sem sinais de ''cor pumonale'' (insuficiência cardíaca direita por congestão pulmonar) e hipoxemia significativa. Na ausculta, há diminuição dos murmúrios vesiculares, sem ruídos adventícios. Blue Bloaters: Inchados azuis. É o estereótipo do bronquítico grave. Paciente obeso, com síndrome da apneia do sono, distúrbio grave de trocas gasosas, hipoxemia e cianose. Há sinais de ''cor pumonale'' e manifestações de insuficiência ventricular direita e congestão sistêmica. Na ausculta pulmonar encontram-se ruídos 5 Jéssica Couto- 3º P adventícios. Enfisema: aumento anormal dos espaços aéreos, devido à destruição e deformação das paredes alveolares. A gravidade do enfisema pode variar muito em pacientes com DPOC com graus semelhantes de obstrução ao fluxo aéreo. As manifestações clínicas do enfisema são Dispnéia, Tosse, Chiado, Perda de peso, Expiração forçada/prolongada, Tórax em tonel. As principais complicações são: Insuficiência respiratória: Redução do fluxo aéreo expiratório leva à dificuldade de chegada do ar inspirado ao alvéolo devido ao ar residual (recolhimento elástico), gerando redução da superfície de troca por destruição da parede alveolar. • Hipertensão pulmonar: Destruição septal com redução do leito capilar, gera vasoconstrição pulmonar decorrente da hipóxia e hipercapnia. As manifestações podem ocorrer de formas diferentes: • Pink puffers: pacientes com predomínio de enfisema panacinar, em geral acima de 50 anos, dispneia acentuada, aumento da frequência respiratória, pCO2 normal. Sopradores rosados não tem cianoses, por causa da boca semicerrada que ajuda na respiração, que utiliza dos musculos acessórios Blue bloaters: Paciente com predomínio de bronquite crônica associada a enfisema centroacinar apresentam quadro clínico mais precoce (40 a 45 anos), cianose, tosse, expectoração, infecções bacterianas de repetição, diminuição do volume corrente e aumento do espaço morto, retenção de CO2 (hipercapnia; hipóxia, cianose). Hipercapnia→ broncoconstrição e vasoconstrição (hipertensão pulmonar). Bronquite crônica simples: os pacientes apresentam tosse produtiva sem sinais de obstrução do fluxo aéreo. Bronquite crônica obstrutiva: cerca de 20% dos fumantes desenvolvem obstrução crônica ao fluxo aéreo, geralmente associado a enfisema. A principal característica é a hipersecreção de muco das grandes vias aéreas associada a hipertrofia das glândulas submucosas. Além de: • Espessamento da parede da árvore brônquica • Acúmulo de secreção esbranquiçada ou de aspecto purulento (as glândulas submucosas são a principal fonte de hipersecreção) • Aumento do número de células caliciformes → liberam mucinas que se transformam em muco. • Hipertrofia das glândulas submucosas • Metaplasia escamosa • Alterações displásicas do epitélio A avaliação da hipertrofia glandular ocorre através do Índice de Reid (normalmente é menor do que 0,4, mas na bronquite é 0,7 ou mais). A complicação dessa doença está relacionada à infecção, por comprometimento do mecanismo de perda de células ciliadas DIAGNÓSTICO COMPLICAÇÕES: 6 Jéssica Couto- 3º P Além da limitação do fluxo aéreo e da insuficiência respiratória, as complicações às vezes incluem Hipertensão pulmonar, Infecção respiratória, Perda ponderal e outras comorbidades. TRATAMENTO Tratamento farmacológico: o Beta 2-agonistas: ▪ Ação curta; ▪ Ação longa; o Anticolinérgicos: ▪ Ação curta; ▪ Ação longa; o Metilxantinas; o Corticoides: ▪ Inalatórios; ▪ Sistêmicos; o Inibidores da Fosfodiesterase-4 ➔ Ação: broncodilatadora, melhora os sintomas; ➔ Ação: anti-inflamatória, melhora a doença; Corticoides: o A relação entre dose/resposta e da segurança a longo prazo do uso dos corticoides inalados ainda é desconhecida; o Uso crônico de corticoides sistêmicos deve ser evitado, a relação risco/benefício é sempre desfavorável. (Evidência A); o Usa-se corticoide inalatório quando o VEF1 pós broncodilatador seja < 50% ou quando o paciente tem 2 ou mais exacerbações no ano; ➔ Inibidores da Fosfodiesterase 4: o Ex: Roflumilaste Todas as medidas devem visar a redução dos sintomas e riscos; ➔ Principal fator de risco é parar de fumar, pois é a mais simples e efetiva intervenção em reduzir o risco de desenvolver a DPOC e reduzir a sua progressão. ▪ Indica essa classe quando o paciente é muito secretivo, apresenta exacerbações frequentes, GOLD 3 e 4, pois ajuda na redução da exacerbação; ➔ Broncodilatadores: o Curta: ▪ Fenoterol; ▪ Salbutamol; ▪ Terbutalina; ▪ Brometo de Ipratrópio; o Longa: ▪ Indacaterol; ▪ Formoterol; ▪ Salmeterol; ▪ Brometo de Tiotrópio; o Metilxantinas: ▪ Aminoflina; ▪ Teofilina; ▪ Bamifilina; OBS: Em pacientes com DPOC vacinas anti-influenza podem reduzir exacerbações graves (Evidência A); OBS: Vacina antipneumocócica é recomendada para pacientes com DPOC e mais de 65 anos, e para pacientes de menos de 65 anos com VEF1 < 40% predito (Evidência B); Objetivos do tratamento : 7 Jéssica Couto- 3º P ➔ Aliviar sintomas; ➔ Melhorar tolerância ao exercício; ➔ Melhorar o estado de saúde; ➔ Prevenir progressão da doença; ➔ Prevenir e tratar exacerbações; ➔ Reduzirmortalidade. 2- DESCREVER AS ÚLCERAS: CONCEITO: Úlcera é qualquer interrupção na solução de continuidade do tecido cutâneo- mucoso, acarretando alterações na estrutura anatômica ou função fisiológica dos tecidos afetados. a úlcera por pressão é definida como uma lesão localizada na pele e/ou no tecido subjacente, normalmente sobre uma proeminência óssea, em resultado da pressão ou de uma combinação entre esta e forças de cisalhamento e fricção. CLASSIFICAÇÃO: -Cirúrgicas -Não cirúrgicas; Segundo o tempo de reparação, em agudas e crônicas, Com a profundidade, em relação à extensão da parede tissular envolvida (epiderme, derme, subcutâneo e tecidos mais profundos, como músculos, tendões, ossos e outros), em graus, i, ii, iii e iv. o Grau I: ocorre um comprometimento da epiderme; a pele se encontra íntegra, mas apresenta sinais de hiperemia, descoloração ou endurecimento. o Grau II: ocorre a perda parcial de tecido envolvendo a epiderme ou a derme; a ulceração é superficial e se apresenta em forma de escoriação ou bolha. o Grau III: existe comprometimento da epiderme, derme e hipoderme (tecido subcutâneo). o Grau IV: comprometimento da epiderme, derme, hipoderme e tecidos mais profundos. O sistema de classificação das úlceras por pressão é utilizado para ajudar a descrever a extensão dos danos na pele e nos tecidos que se apresentam sob a forma de úlcera por pressão. Verificar se o eritema branqueia ou não é por vezes difícil de observar. Pode ser difícil distinguir o eritema branqueável do não branqueável, particularmente se o tempo de enchimento vascular é curto. Pele intacta com eritema não branqueável de uma área localizada, normalmente sobre uma proeminência óssea; descoloração da pele, calor, edema, tumefação ou dor podem também estar presentes. Em pele escura pigmentada pode não ser visível o branqueamento. A área pode ser dolorosa, firme, suave, mais quente ou mais fria comparativamente com o tecido adjacente. 8 Jéssica Couto- 3º P A categoria I pode ser difícil de identificar em indivíduos com tons de pele escuros. Pode ser indicativo de pessoas “em risco”. Perda parcial da espessura da derme que se apresenta como uma ferida superficial (rasa) com leito vermelho-rosado sem crosta. Pode também apresentar-se como flictema fechado ou aberto preenchido por líquido seroso ou sero-hemático. Apresenta- se como uma úlcera brilhante ou seca, sem crosta ou equimose. Esta categoria não deve ser usada para descrever fissuras da pele, queimaduras por fita adesiva, dermatite associada a incontinência, maceração ou escoriação. Perda total da espessura tecidual. Pode ser visível o tecido adiposo subcutâneo, mas não estão expostos os ossos, tendões ou músculos. Pode estar presente algum tecido desvitalizado (esfacelo). Pode incluir descolamento e túneis. A profundidade de uma úlcera de categoria III varia com a localização anatômica. A asa do nariz, as orelhas, a região occipital e os maléolos não têm tecido subcutâneo (adiposo), e uma úlcera de categoria III pode ser superficial. Em contrapartida, em zonas com tecido adiposo abundante podem se desenvolver úlceras de pressão de categoria III extremamente profundas. Os ossos/tendões não são visíveis ou diretamente palpáveis. Grau 4- perda total dos tecidos: Perda total da espessura dos tecidos com exposição óssea dos tendões ou músculos. Pode estar presente tecido desvitalizado (esfacelo) e/ou necrótico. Frequentemente inclui descolamento e túneis. A profundidade de uma úlcera de pressão de categoria IV varia com a localização anatômica. A asa do nariz, as orelhas, a região occipital e os maléolos não têm tecido subcutâneo (adiposo), e estas úlceras podem ser rasas (superficiais). Uma úlcera de categoria IV pode atingir as estruturas de suporte (p. ex., fáscia, tendão ou cápsula articular) tornando a osteomielite e a osteíte prováveis de acontecer. Existe osso/músculo exposto visível ou diretamente palpável. Perda total da espessura dos tecidos na qual a profundidade base da úlcera está coberta por tecido necrótico (amarelo, acastanhado, cinza, esverdeado ou castanho) e/ou escara (acastanhado, castanho ou preto) no leito da ferida, até que seja removido tecido necrótico suficiente para expor a base da ferida, a verdadeira profundidade não pode ser determinada, mas é, no entanto, uma úlcera de categoria III ou IV. Nos calcâneos, uma escara estável (seca, aderente, intacta e sem eritema ou flutuação) serve como cobertura natural (biológica) corporal e não deve ser removida. Área localizada de pele intacta de coloração púrpura ou castanha, ou flictema, preenchida com sangue, devido a dano no tecido mole, decorrente de pressão e/ou cisalhamento. A área pode apresentar um tecido mais doloroso, endurecido, amolecido, esponjoso e mais quente ou frio comparativamente ao tecido adjacente. Pode ser de difícil detecção em indivíduos com a pele de tonalidades mais escuras. A evolução pode incluir um pequeno flictema sobre o leito escurecido da ferida. A lesão pode evoluir, ficando coberta por uma fina camada de tecido necrótico (escara). A sua evolução pode ser rápida com exposição de camadas tissulares adicionais mesmo com o tratamento adequado. ETIOLOGIA: Por ser a pressão o principal agente para a formação de UP, recomenda-se a adoção da expressão úlcera por pressão na documentação do agravo. As UP podem desenvolver-se em 24 h ou levar até 5 dias para se manifestar. Portanto, todos os 9 Jéssica Couto- 3º P profissionais de saúde responsáveis pela prevenção do agravo devem estar familiarizados com os principais fatores de risco para formação de UP. A observação das condutas profiláticas para a eliminação de pressão contínua, cisalhamento ou fricção é essencial para evitar a formação de UP. -As úlceras por pressão podem ser ocasionadas por fatores extrínsecos e intrínsecos. → Extrínseco: Estão relacionados ao mecanismo de lesão, influenciando a tolerância tissular pela obstrução da circulação sobre a superfície da pele; refletem o grau em que a pele é exposta (intensidade e duração): A pressão do fechamento capilar é de aproximadamente 32 mmHg para as arteríolas e 12 mmHg para as vênulas. Quando a pressão aplicada externamente excede 32 mmHg prejudica o fluxo sanguíneo para área e, com a pressão não aliviada, a isquemia tecidual ocorre e resíduos metabólicos acumulam-se no tecido intersticial, levando à anoxia tissular e à morte celular. É importante correlacionar a intensidade da pressão com a duração da pressão. Existe um relacionamento inverso entre a duração e a intensidade da pressão para aparecimento da isquemia tecidual. Os danos podem ocorrer com: pressão de baixa intensidade durante longo período de tempo e pressão de intensidade elevada durante curto período de tempo. Originada pela força de duas superfícies, esfregando-se uma na outra. Sua capacidade de danos está restrita à epiderme e à derme, resultando em abrasão e aparecimento de bolhas. A fricção geralmente ocorre em pacientes agitados ou em transferências mal executadas. A umidade piora o efeito da fricção. ● Resultante da combinação da gravidade e fricção. Exerce uma força paralela à pele; a gravidade empurra o corpo para baixo, mas a pele resiste ao movimento devido à fricção entre o paciente e a superfície de suporte, provocando danos aos tecidos mais profundos. A força gerada é suficiente para obstruir, lacerar ou estirar os vasos sanguíneos. Isto ocorre em consequência da movimentação ou posicionamento incorreto, quando a cabeceira da cama é elevada acima de 30° ou na posição sentada. Pesquisas indicam que as forças de cisalhamento são responsáveis pela alta incidência de úlcera por pressão. ● A umidade altera a resistência da epiderme para forças externas, tornando os efeitos da fricção mais significativos. É o resultado da incontinênciaurinária e/ou fecal, sudorese, banho e drenagem de feridas. INTRÍNSECOS: São correlacionados com a vulnerabilidade do estado físico do paciente, que influencia tanto a constituição e integridade da pele, as estruturas de suporte ou os sistemas vascular e linfático que servem à pele e às estruturas internas, quanto o tempo de cicatrização. ● Muitas alterações ocorrem com o envelhecimento, como: achatamento da junção entre derme e epiderme, menor troca de nutrientes, menor resistência à força de cisalhamento, diminuição da capacidade de redistribuir a carga mecânica da pressão. ● Está associada a isquemia tecidual; com baixa pressão arterial o corpo desvia o sangue do sistema vascular periférico em direção aos órgãos vitais. Nível de pressão diastólica abaixo ou igual a 60 mmHg indica um paciente em alto risco para desenvolver úlcera por pressão. 10 Jéssica Couto- 3º P ● A mobilidade diminuída compromete a capacidade do paciente de se mover em resposta à pressão, predispondo ao cisalhamento e à fricção no momento da transferência. Outro fator importante são as cirurgias prolongadas nas quais o paciente permanece um grande período imóvel em superfície rígida e no pós-operatório imediato, em que a mobilidade fica reduzida pelos efeitos da anestesia, da dor, da analgesia. ● A diminuição da massa corporal expõe as proeminências ósseas, deixando-as vulneráveis à pressão. Por outro lado, os pacientes obesos são mais difíceis de mobilizar, o que aumenta os riscos das forças de cisalhamento e de fricção. Outro fator importante é que o tecido adiposo é pouco vascularizado e não é elástico, tornando-se mais frágil à pressão e propenso a romper. ● Sedativos, hipnóticos, ansiolíticos, antidepressivos, analgésicos opiáceos e anti- histamínicos podem causar sonolência excessiva, diminuindo a mobilidade e a percepção sensorial. Alguns medicamentos, como esteroides e quimioterápicos, reduzem a capacidade do organismo de promover a resposta inflamatória adequada. Substâncias vasoativas inotrópicas diminuem a perfusão periférica e aumentam o risco de lesão tissular em áreas predispostas. - Nutrição: A deficiência nutricional está intimamente ligada ao desenvolvimento de úlcera por pressão. As vitaminas A, C e E têm papel importante, pois atuam na síntese do colágeno, na imunidade e na integridade epitelial. O zinco, o cobre e o selênio são benéficos no processo cicatricial por apresentarem propriedades antioxidantes. A hipoalbuminemia altera a pressão oncótica, desencadeando formação de edema, comprometendo a difusão tissular de oxigênio e de nutrientes, o que predispõe à hipoxia e à morte celular. A anemia também afeta o transporte de oxigênio para os fibroblastos, diminuindo a formação do colágeno. A deficiência de proteínas interfere no processo cicatricial, por ser responsável pela revascularização, formação de tecidos e síntese de colágeno. ● Ainda não está bem esclarecido, mas pode estar relacionada com o aumento da demanda de oxigênio. A pele pode ficar exposta à maceração devido à sudorese. FATORES DE RISCO: Insuficiência cardíaca, doença vascular periférica, diabetes, demência, neoplasias, depressão, doença terminal, contraturas, doença da tireoide, insuficiência renal, desidratação, doença pulmonar obstrutiva crônica, alterações neurológicas, dor, tabagismo. 3- Elucidar as síndromes da imobilidade; CONCEITO A síndrome da imobilidade (SI) é definida como um conjunto de repercussões deletérias ao organismo acamado por um período prolongado. Sendo muito prejudicial principalmente para os indivíduos que apresentam idade superior aos 60 anos. As causas desta imobilidade são variadas, porém as mais predominantes são afecções neurológicas e músculo-esqueléticas. De modo geral, os idosos são mantidos no leito devido à imobilidade acabam adquirindo outras complicações. A síndrome da imobilidade para muitos idosos representa a última fase de vida. Isso porque muitas das vezes faltam recursos para manter as muitas necessidades do idoso que se apresenta contraturado, disfágico, usando sonda para alimentação, duplamente incontinente, caquético, demente grave e com úlceras necrosadas. A síndrome de imobilização, 11 Jéssica Couto- 3º P apesar de ser muito citada e estar presente em muitos idosos, não é bem definida com clareza nas literaturas. Isso traz dificuldades na hora de avaliar sua prevalência em asilos, hospitais ou comunidades. Para definir SI é necessário entender a definição de síndrome e imobilidade. Síndrome: trata-se de um conjunto ou complexo de sinais e sintomas que ocorrem ao mesmo tempo, que individualizam uma entidade mórbida e podem ter diversas etiologias. Imobilidade: trata-se do ato ou efeito que é resultado da supressão de todos os movimentos de uma ou mais articulações em detrimento do declínio das funções motoras, impedindo a mudança de posição ou translocação corporal. Síndrome da imobilização: complexo de sinais e sintomas resultantes da supressão de todos os movimentos articulares, que, por conseguinte, prejudica a mudança postural, compromete a independência, leva à incapacidade, à fragilidade e à morte. DIAGNÓSTICO Não podemos dizer que todo paciente confinado no leito tenha SI. Existe uma classificação temporal que denomina de “repouso” a permanência no leito de 7 a 10 dias; “imobilização de 10 a 15 dias” e “decúbito de longa duração – mais de 15 dias”. Para caracterizar a SI, devemos usar critérios que nos orientem para fazer um diagnóstico específico da síndrome e que tenham características próprias. O critério maior seria déficit cognitivo médio a grave e múltiplas contraturas. No critério menor consideramos sinais de sofrimento cutâneo ou úlcera de decúbito, disfagia leve a grave, dupla incontinência e afasia. Define-se um paciente com SI quando ele tem as características do critério maior e pelo menos duas do critério menor. ETIOLOGIA: Diversas são as patologias que levam o idoso à imobilidade, as quais podem evoluir para a SI. É necessário conhecê-las para estabelecer o tratamento adequado e prevenção de suas complicações. O resultado de todos esses problemas seria, em última instância, equilíbrio precário, quedas, limitação da marcha, perda da independência, imobilidade no leito e, finalmente, suas complicações – a SI. Independentemente da causa da imobilidade, mesmo por curtos períodos de tempo, a imobilização resulta em modificações para pior dos sistemas cardiovascular, osteomuscular, respiratório e do metabolismo. O estado psíquico também pode se ressentir do imobilismo, sendo frequentes depressão, apatia, déficit cognitivo e ansiedade. Na prática, não se observa uma linha divisória nítida entre imobilidade e SI, mas sim um largo espectro que iria de casos leves até os mais graves. EPIDEMIOLOGIA: Os indivíduos que chegam à SI, são, em geral, idosos fragilizados que, por necessidade, internam-se em hospitais ou vivem em instituição onde o ambiente não familiar, o repouso prolongado e forçado, a desnutrição, a iatrogenia e a comorbidade transformam o ancião em um ser dependente. Por vezes, cura-se a doença de base, mas sua independência e mobilidade estão irremediavelmente comprometidas. Uma variedade de “síndromes geriátricas” (complexos de problemas médicos com causas múltiplas) está associada a declínio funcional, sendo que 25 a 50% dos idosos perdem sua independência física, ficando confinados ao leito após tratamento hospitalar prolongado. Não há dados específicos da prevalência da SI, mas, 12 Jéssica Couto- 3º P baseando-se no número de idosos que se tornam incapacitados e perdem sua independência, conclui-se que a prevalência seja alta. Esses idosos necessitam de dieta especial por sonda, usam antibióticos de última geração para tratamento de infecção do trato urinário (ITU), pneumonias e úlceras e requerem curativos especiais,o que eleva sobremaneira os custos de manutenção. Estudos controlados mostram alta taxa de mortalidade entre os idosos imobilizados no leito – em torno de 50%. A causa mortis é quase sempre devido à falência múltipla de órgãos, mas, por vezes, uma causa específica pode ser encontrada, sendo a pneumonia, a embolia pulmonar e a septcemia as mais comuns. Quadro Clínico: Como o envelhecimento, infelizmente para os idosos, é uma fase de maior fragilidade e dependência, o repouso ou confinamento no leito passou a ser, de maneira errônea, uma prática ou conduta universal que prevalece ainda hoje, seja na comunidade ou na instituição. O que se vê, então, são idosos capazes e fisicamente estáveis passarem dias sem sair do leito. Isso acontece porque os cuidadores impedem que o paciente permaneça útil e ativo, induzindo- o ao repouso prolongado, sendo esse o ponto de partida para a mudança de comportamento e má qualidade de vida, com rápido e grave desgaste. Após essa fase, tirá-los do leito torna-se difícil, pois eles choram, gritam e agridem diante de qualquer tentativa. Foi descrita recentemente a síndrome de desadaptação psicomotora (PDS), a qual se caracteriza por desequilíbrio para trás (backward), seja na posição sentada ou de pé, hipertonia reacional, alterações na reação postural, modificação na marcha e medo de cair 13 Jéssica Couto- 3º P SINTOMATOLOGIA Os sistemas mais comumente afetados são: musculoesquelético, sistema cardiovascular, sistema endócrino, sistema gastrointestinal, sistema geniturinário e sistema respiratório. Sistema Musculoesquelético: Este é o sistema onde as repercussões são mais percebidas pelos profissionais da saúde. Os pacientes podem apresentar osteoporose, fibrose, contraturas, atrofia muscular, consequentemente fraqueza e diminuição da resistência muscular, pois os músculos não mantém a integridade de suas funções em decorrência da inatividade. Sistema Tegumentar: Durante a restrição prolongada ao leito é comum encontrarmos atrofia de pele, com epiderme fina, e úlceras de decúbito. Essas úlceras são definidas como locais que apresentam ulcerações com necrose celular causada por isquemia. A isquemia acontece quando uma pressão externa sobre o tegumento é maior que a pressão capilar, o que faz diminuir o fluxo sanguíneo para região, a oxigenação dos tecidos e seu aporte nutricional. As úlceras de pressão causam dor e desconforto ao paciente, além de prolongar a doença, retardo de alta hospitalar e deixar o indivíduo mais suscetível a quadros infecciosos, devido à descontinuidade da pele, e à umidade e calor aumentados no local. Causam também o aumento da mortalidade dos indivíduos acometidos, por septicemia por pseudomonas aeruginosas estreptococos, estáfilococos e escherichia coli, tanto local quanto e sistemicamente. Influências da ulceração: Pressão do corpo no leito. Umidade da pele. Idade do paciente. Estado nutricional. Edema (pele fica fina). Colchão impróprio. Higiene corporal inadequada. 14 Jéssica Couto- 3º P Sistema Cardiovascular: Nesta síndrome há uma deficiência do retorno venoso, levando a um acúmulo sanguíneo nos membros inferiores, que além de agravar o edema destes membros, promove um enchimento incompleto do ventrículo esquerdo, levando Estes eventos desencadeiam um mecanismo compensatório, com objetivo de manter os níveis adequados de irrigação sanguínea. Faz parte deste mecanismo: Aumento da frequência cardíaca de repouso, onde há o aumento de um batimento por minuto a cada dois dias. Elevação da pressão arterial sistólica causado pela resistência periférica aumentada e o tempo de ejeção sistólico absoluto e de diástole é encurtado, diminuindo o volume sistólico. Sistema Endócrino: Com o imobilismo ocorrem várias alterações hormonais, tais como: Aumento do paratormônio no sangue, possivelmente relacionado à hipercalemia devido ao aumento da atividade osteoclástica da imobilização. Diminuição dos níveis de hormônio do crescimento, ACTH e da produção de adrenalina e noradrenalina. Sistema Gastrointestinal: Ocorrem alterações em todo o Trato gastrointestinal (TGI), como, anorexia, diminuição do peristaltismo intestinal, ocasionando diminuição da absorção de nutrientes e constipação, que é agravada pela desidratação e redução do volume plasmático. Ocorre também incontinência fecal. Sistema Geniturinário: O decúbito dorsal compromete o esvaziamento da bexiga, por causa da dificuldade de gerar pressão intra-abdominal nessa posição. A fraqueza muscular atinge também os músculos 15 Jéssica Couto- 3º P abdominais, o que dificulta. Ocorre enfraquecimento dos músculos abdominais, restrição nos movimentos diafragmáticos e relaxamento incompleto do assoalho pélvico, provocando a retenção urinária parcial. Há também um aumento da excreção de cálcio e incontinência urinária. Sistema Respiratório: As complicações que ocorrem neste sistema são preocupantes devido à alta mortalidade. A função pulmonar fica comprometida, em torno de 25% no imobilismo Há uma redução da capacidade pulmonar total, do volume corrente, volume minuto, volume residual e volume expiratório forçado. Em decorrência da perda de força muscular, os movimentos do diafragma e dos músculos intercostais ficam debilitados, tornando a respiração mais superficial. Esta superficialização da respiração, associada ao aumento relativo do dióxido de carbono, aumenta a frequência cardíaca. Há também o acúmulo de secreções, pois o paciente, a função ciliar, a expansão torácica e a força muscular estão prejudicados. A tosse, nessas condições também se encontra menos efetiva. O paciente torna-se, então, mais suscetível a infecções respiratórias e atelectasias. 4- Entender as medidas paliativas e seus princípios. CONCEITO: “Uma abordagem voltada para a qualidade de vida tanto dos pacientes quanto de seus familiares frente a problemas associados a doenças que põem em risco a vida. A atuação busca a prevenção e o alívio do sofrimento, através do reconhecimento precoce, de uma avaliação precisa e criteriosa e do tratamento da dor e de outros sintomas, e das demandas quer física, quer psicossocial ou espiritual.” A continuação de tais cuidados pode simplesmente impor mais sofrimentos para o paciente terminal. O sofrimento tem que ser cuidado em quatro dimensões fundamentais: (1) dimensão física – no nível físico, a dor funciona como um claro alarme de que algo não está bem no funcionamento normal do corpo; (2) dimensão psíquica – surge frequentemente ao enfrentar-se a inevitabilidade da morte; perdem-se as esperanças e os sonhos com a necessidade de redefinir o mundo que está para deixar; (3) dimensão social – é a dor do isolamento, que surge do ser obrigado a redefinir relacionamentos e a necessidade de comunicação; (4) dor espiritual – surge da perda do sentido, do objetivo de vida e da esperança. Todos necessitam de um horizonte de sentido, uma razão para viver e uma razão para morrer. -O cultivo dessa perspectiva holística é fundamental para se proporcionar cuidados humanizados que resgatem a dignidade da vida. -Os cuidados paliativos são uma modalidade de assistência cujo foco principal é a pessoa e não a doença ou o órgão comprometido. Buscam o alívio do sofrimento e a melhora da qualidade de vida e de morte. As intervenções requerem profundo conhecimento da fisiopatologia da doença de base e de suas complicações previsíveis. 16 Jéssica Couto- 3º P - Os pacientes geriátricos apresentam comorbidades que dificultam a abordagem terapêutica. Deve-se ter em mente que os sintomas precisam ser priorizados e só se intervém naqueles que realmente causam desconforto ou angústia. -É importante ressaltar que os cuidados paliativos não rejeitam a biotecnologia atual: são um tratamento intervencionistaque se vale, por exemplo, das avançadas propostas da farmacologia para a efetividade do controle de sintomas. - Os cuidados ao fim da vida são uma parte importante dos cuidados paliativos, referindo-se à assistência que um paciente deve receber durante a última etapa de sua vida, a partir do momento em que se torna claro o seu estado de declínio progressivo e inexorável, aproximando-se da morte. - É de se lamentar que pessoas com indicação precisa de paliação ainda sejam encaminhadas tardiamente para essa intervenção. Na maioria das vezes, cuidados paliativos ainda são oferecidos nos últimos dias ou instantes de vida, favorecendo a marginalização dos cuidados paliativos e a percepção de que se confundem com os cuidados ao fim da vida. Equipe: - Para atender às necessidades essenciais de uma pessoa com doença em fase avançada, é indicada a constituição de equipe multiprofissional com dinâmica de atuação interdisciplinar. Todos os seus componentes devem ter sólida formação nos princípios do tratamento paliativo e agir rigorosamente de acordo com os preceitos da ética profissional. 17 Jéssica Couto- 3º P -Os cuidados paliativos devem ser prestados por uma equipe bem articulada, com conhecimento do controle de sintomas e que tenha à sua disposição os medicamentos necessários: analgésicos não narcóticos, opioides, anti-inflamatórios esteroides e não esteroides, antieméticos, antipsicóticos, anticonvulsivantes, antidepressivos, psicoestimulantes, ansiolíticos, antibióticos, protetores de mucosa gástrica e laxativos. O respeito ao corpo da pessoa doente e a utilização de técnicas paliativas requerem competência técnica, rigor ético e alta sensibilidade. - Capacidade de compreensão, empatia e bom humor são características adicionais que complementam a boa prática da paliação. Os integrantes de uma equipe podem ser: médico, enfermeiro, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, nutricionista, psicólogo, terapeuta ocupacional, assistente social, musicoterapeuta, assistente espiritual, farmacêutico e odontólogo. Todos precisam trabalhar em sintonia e desenvolver uma linguagem comum, para atingir objetivos de cuidado e proteção, ou seja, identificar e tratar as intercorrências, otimizar o uso de fármacos, manter o estado nutricional e a mobilidade enquanto possível, oferecer apoio psicológico ao paciente e à família, providenciar apoio espiritual se for desejado e maximizar o funcionamento do paciente nas suas atividades habituais. Essa modalidade assistencial visa oferecer maior conforto à pessoa com doença em fase avançada e segurança e tranquilidade aos familiares. Encontrar um discurso harmônico da equipe, construir uma rede de respeito e acolhimento mútuos e abdicar de vaidades pessoais é um processo gradual, trabalhoso e, por vezes, sofrido, mas que gera os melhores resultados. Principais sintomas: Fadiga, dor de forte intensidade, anorexia, dispneia, constipação intestinal, náuseas e vômito, tosse, confusão mental, tristeza – depressão, ansiedade, agitação – insônia, disfagia, hemorragia, emagrecimento, diarreia e feridas. Após identificação dos sintomas presentes, existem medidas de tratamento farmacológico e não farmacológico apropriadas para tentar controlá-los. A postura paliativista exige do profissional médico uma intervenção rápida, intensiva, dinâmica e resolutiva no uso dos fármacos e das técnicas específicas de paliação. O reconhecimento preciso dos sintomas é o ponto inicial do correto tratamento paliativo. Com a evolução da doença para a fase final, novos problemas podem advir, sendo um deles a não aceitação dos fármacos pela via oral (VO). Nesse momento, a via de eleição para a administração dos fármacos é a subcutânea (SC). A hipodermóclise é o método mais indicado, após a VO, para a reposição de fluidos e de medicamentos para pacientes com doença avançada, devendo ser utilizada pelo baixo risco de complicações, por ser indolor e eficaz. A vascularização do tecido subcutâneo permite que medicamentos dados por essa via sejam bem absorvidos, atingindo concentrações séricas adequadas e com tempo de ação prolongado. Além disso, o acesso é rápido e permite maior mobilidade do paciente. A hipodermóclise é uma técnica simples e segura, desde que obedecidas as normas de administração, volume e qualidade dos fluidos e medicamentos infundidos. →Fim da vida: -O bom cuidado aos idosos no fim da vida significa mais do que suspender certas medidas de tratamento. Inclui o desenvolvimento de um plano de cuidados individualizados, que contemple as demandas particulares da pessoa como um ser biográfico e único e atenda aos limites impostos pela doença. 18 Jéssica Couto- 3º P -O prognóstico do fim da vida nem sempre é uma tarefa simples. Nas doenças crônicas, o processo final pode ocorrer lentamente, com uma sucessão de eventos levando a múltiplas falências orgânicas. Não é de surpreender que a maioria das mortes ocorra em pessoas de mais de 65 anos, mais vulneráveis a doenças incuráveis. -Os idosos têm necessidades especiais, com problemas múltiplos e geralmente mais complexos que aqueles dos mais jovens. Frequentemente, os problemas que muitos idosos experimentam no último ano de vida são decorrentes das consequências naturais do envelhecimento. Como é mais difícil prever o curso de doenças crônicas que acometem os idosos, os cuidados paliativos devem se basear nas necessidades dos pacientes e dos seus familiares, e não no prognóstico. Câncer e demência ilustram esse ponto, por serem situações clínicas diretamente relacionadas com o envelhecimento. →O processo de morrer: -A intenção de melhorar a qualidade de vida, da comunidade ou do indivíduo em particular, em última instância, é uma modalidade de regulação de políticas públicas e ações privadas. Avanços na área da saúde são responsáveis pelos ganhos mais significativos de qualidade de vida no passado recente: é fato observável que os indivíduos (em média) estão vivendo mais e com mais saúde. Mas “qualidade de morte” é outra questão. -A inevitabilidade da morte não livra o ser humano da angústia diante do seu próprio fim, angústia que se espraia e alcança todos os implicados em uma cena de final de vida. Nas demandas do fim da vida, quando é improvável que o paciente se recupere, compete ao médico, em primeiro lugar, reconhecer esse momento e, então, dedicar-se aos cuidados capazes de proteger o paciente e minimizar o seu sofrimento à medida que a morte se aproxima. Essa é a orientação dos cuidados paliativos, modalidade de assistência ainda raramente presente. -De acordo com a Aliança Mundial de Cuidados Paliativos (AMCP), mais de 100 milhões de pessoas se beneficiariam com os cuidados paliativos e os hospices, por ano, incluindo familiares e cuidadores que precisam de ajuda e orientação. Entretanto, menos de 8% têm acesso a esses cuidados. -Nos idosos, a morte pode acontecer associada a várias doenças que comprometem a independência e a autonomia. A multiplicidade de sintomas que ocorrem, dependendo da doença de base, será determinante para o maior ou menor grau de sofrimento do paciente idoso. -O adequado atendimento a esses pacientes, visando aliviar qualquer sintoma desgastante, é um ponto fundamental para a boa prática da geriatria. Nos idosos, a trajetória para a morte costuma ser lenta e com sofrimento físico, emocional, social e espiritual, configurando a “dor total” descrita por Saunders (2006). -Em geral, o paciente nutre o medo de como e onde será a sua morte. Não é incomum existir um medo maior de como será o processo de morrer do que da morte propriamente dita: medo da dor, de sufocação, da perda do controle, de perda da dignidade, de morrer só, de ser enterrado vivo, de sobrecarregar seus familiares. -É importante criar uma comunicação com o paciente, ouvi-lo nas suas expectativas, incentivá-lo a protagonizaro momento final da sua vida, ajudando-o nos enfrentamentos e na tomada de decisões. É preciso acreditar nas possibilidades 19 Jéssica Couto- 3º P desse encontro, que cria uma relação em que acontece a emergência da angústia, com suas significações ameaçadoras e letais, quando é possível encarar não só os limites, mas também quaisquer potencialidades que venham a se dimensionar em alguma significação vitalizadora, no processo de morrer. O avanço da tecnologia propicia as tentativas obstinadas de medicalização da morte, ocultando a realidade da morte como parte do processo natural da vida. -Morrer passa a ser uma falha técnico-profissional, desconsiderando o processo inevitável do ciclo vital. A medicalização da morte pode causar culpa no profissional que, frustrado por não ter conseguido bloquear o curso da terminalidade do paciente, abala o exercício competente da sua prática profissional. Isso talvez seja um dos grandes responsáveis pela temida distanásia. Nas mudanças inevitáveis que ocorrem no fim da vida, alguns tratamentos acabam por se tornar absolutamente irrelevantes. -O uso de anti-hipertensivos, hipoglicemiantes e quimioterápicos, por exemplo, deve ser reavaliado, pois esses fármacos podem não ter mais indicação alguma para uma pessoa idosa que está em sua fase final. Novos sintomas, como a inquietação, a confusão mental e o desconforto respiratório precisam ser imediatamente aliviados. -Em casos refratários e selecionados com critério, recomenda-se sedação paliativa, com o uso de levomepromazina ou midazolam. -O reconhecimento da morte iminente é feito por meio da observação da mudança do sensório, da ocorrência recente de confusão mental, de fadiga intensa, da flutuação dos sinais vitais sem uma causa aparente, da descompensação hemodinâmica e da não aceitação de alimentos por via oral. Esses sintomas aumentam em intensidade e número nos últimos dias de vida. A intervenção nesse processo não é relevante, pois a doença de base é irreversível. -A importância recai no ser humano, um ser biográfico e social, que merece morrer com conforto e com seus entes queridos próximos em um ambiente tranquilo e amigável. Ao início do processo de morrer, didaticamente podem ser apontadas duas possibilidades de percurso. -O “caminho usual”, com delirium hipoativo, é o da redução progressiva do nível de consciência com desinteresse crescente pelo ambiente, seguido de coma e, então, da morte que se aproxima como “um sono cada vez mais profundo”. As intervenções farmacológicas nesse percurso limitam-se ao controle meticuloso de sintomas que causam algum desconforto. -Por outro lado, no “caminho difícil”, a pessoa fica cada vez mais inquieta, com agitação psicomotora e alucinações, sendo indicada a contenção química. Uma intervenção inadequada pode ter consequências desastrosas, prolongando o processo de morrer. Lamentavelmente, apesar do conhecimento já difundido pela medicina paliativa, muitos idosos ainda estão sujeitos a procedimentos invasivos incompatíveis com o momento final da vida, o que converte o “caminho usual” de morte em um desnecessário e sofrido “caminho difícil”
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