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30.4 Fluxos de investimentos 670 30.5 Métodos de elaboração 671 30.5.1 Método direto 672 30.5.1.1 Identificação de recebimentos e pagamentos 673 30.5.2 Método indireto 673 30.6 Fluxos de caixa em moeda estrangeira 677 30.7 Juros e dividendos 677 30.8 Imposto de Renda e contribuição social sobre o lucro líquido 677 30.9 Transações que não envolvem caixa ou equivalentes de caixa 677 Exercícios 678 Questões comentadas 680 Capítulo 31 Demonstração do valor adicionado 31.1 Conceitos 685 31.2 Aspectos legais 685 31.3 Modelo proposto pela CVM 686 Questões comentadas 688 Bibliografia e páginas da internet 691 Introdução Capítulo 1 Introdução 1.1 Conceito O estudo organizado de qualquer assunto deve começar por sua definição. Desse modo, torna-se inevitável perguntar: O que é Contabilidade? A palavra contabilidade deriva do latim computare (contar, computar, calcular)1. Apesar disso, não se deve confundir contabilidade com matemática. O contabilista não precisa conhecer matemática com profundidade. Na maioria das vezes, bastam-lhe os conhe cimentos matemáticos básicos necessários a qualquer profissional. Portanto, quem não gosta de matemática não precisa necessariamente detestar contabilidade. A definição adequada da Contabilidade exige a sua divisão em duas áreas: Contabi lidade Teórica e Contabilidade Prática. Contabilidade Teórica - Quando abordamos a Contabilidade como teoria, procura mos definir aquilo de que ela trata, estudamos seus princípios e suas possíveis apli cações. Ou seja, a Contabilidade como teoria estabelece princípios e regras de con duta a serem seguidas pelos profissionais da área contábil, com o objetivo de apri morar e uniformizar os procedimentos por eles adotados. Em sua abordagem teórica, dizemos que a Contabilidade é uma ciência, ou seja, um conjunto organizado e aprofundado de conhecimentos sobre determinado assunto. Diferente da Matemática, a Contabilidade não é uma ciência exata. Logo, para que as técnicas contábeis sejam aplicadas de maneira uniforme, faz-se necessário fixar princípios e regras a serem observados por todos os profissionais da área contábil. Abordada pela perspectiva teórica, a Contabilidade pode ser definida assim: Ciência que estuda o patrimônio do ponto de vista econômico e financeiro, bem co mo os princípios e as técnicas necessárias ao controle, à exposição e à análise dos elementos patrimoniais e de suas modificações. O 1o Congresso Brasileiro de Contabilidade, realizado em 1924, definiu a Contabili dade como: "A ciência que estuda e pratica as funções de orientação, de controle e de registro dos atos e fatos de uma administração econômica”. 1 A origem da palavra "contabilidade" para designar esta disciplina parece estar vinculada ao fato de se usar contas nos registros contábeis, e não de se fazer cálculos. 1 Capítulo 1 Contabilidade Básica Portanto, no Brasil, oficialmente, a Contabilidade é uma ciência. Contabilidade Prática - Envolve o uso de técnicas ou procedimentos por meio dos quais a Contabilidade Teórica e seus princípios são postos em prática. A Contabili dade como prática compreende o registro das operações de uma entidade em livros mantidos com essa finalidade. Sua função é controlar o patrimônio de uma determi nada pessoa ou organização, com o objetivo de fornecer informações sobre ele ao público interessado. Contabilista pode ser a pessoa que se dedica ao estudo da ciência contábil (Contabi lidade Teórica) ou o profissional que atua na prestação de serviços contábeis (Con tabilidade Prática), denominado contador, no caso de ser bacharel em ciências con tábeis, ou técnico em contabilidade, se a sua formação é de nível médio. 1.2 Objeto da Contabilidade O objeto é o assunto do qual a ciência cuida. Qual é o objeto da Contabilidade? O objeto ou assunto do qual trata a Contabilidade é o património. Por intermédio daOontabilidade, o administrador de uma empresa, ou até mesmo de uma residência, pode, por exemplo, gerenciar melhor os recursos disponíveis, obter informações úteis ao planejamento de suas atividades, saber o custo do que é pro duzido ou consumido, apurar o lucro ou prejuízo, controlar e reduzir despesas, au mentar receitas e prevenir e identificar erros e fraudes. Em resumo, por meio da Contabilidade, podemos ter o controle e o conhecimento detalhado do estado em que se encontra um patrimônio e acompanhar sua evolução, seja na exploração de um determinado negócio, seja em nossa própria residência. 1.3 Finalidade A Contabilidade é mantida com a finalidade de fornecer às pessoas interessadas informações sobre um patrimônio determinado. 1.4 Pessoas interessadas nas informações contábeis As pessoas que têm interesse na divulgação das informações contábeis podem ser divididas em dois grupos: 1 “ público interno - os administradores e os acionistas ou sócios controladores: 2 - público externo - os acionistas ou sócios não controladores, bancos, fornecedo res, governo, entre outros. Os administradores necessitam das informações contábeis para melhor desempenhar as funções de gestão do patrimônio. Para eles, essas informações podem ser úteis ao planejamento, ao controle, à tomada de decisões. A Contabilidade pode informar ao Ricardo J. Ferreira 2 Introdução administrador qual é o produto mais rentável, quanto custa produzir um bem ou servi ço, qual será o resultado provável num determinado nível de produção e venda etc. Uma das principais preocupações da legislação que rege as sociedades anônimas é a proteção aos acionistas não controladores. Os controladores têm o poder de no mear os administradores, que irão agir de acordo com os interesses daqueles. Ocor re que muitas vezes os interesses dos controladores são conflitantes com os dos não controladores. Para estes as informações contábeis são um instrumento importante na fiscalização da atuação dos controladores. Com base nesta ótica, a Lei das Socie dades por Ações (Lei n° 6.404/76) exige das sociedades anônimas a elaboração e publicação de certas demonstrações contábeis. Em relação ao público externo, os bancos, fornecedores e financiadores em geral querem saber se a empresa apresenta situação económico-financeira que lhe permi ta assumir e saldar dívidas; os clientes precisam verificar se ela tem condições de realizar adequadamente o fornecimento de bens ou serviços; e o governo deve fisca lizar se o pagamento dos tributos está sendo feito da maneira correta. 1.5 Funções da Contabilidade Entre as funções da Contabilidade, temos: 1 - função administrativa - controlar o patrimônio; 2 - função econômica - nas empresas, consiste em apurar o lucro ou prejuízo, ou seja, calcular o resultado econômico. 1.6 Identificação dos aspectos patrimoniais A identificação dos elementos que compõem o patrimônio (bens, direitos e obriga ções) diz respeito ao seu aspecto qualitativo. Já a mensuração desses elementos, a sua identificação em valores monetários, é relativa ao aspecto quantitativo. A Conta bilidade se ocupa dos dois aspectos: da identificação dos elementos patrimoniais (aspecto qualitativo) e da mensuração, da indicação do valor em moeda desses ele mentos (aspecto quantitativo). 1.7 Áreas ou ramos da Contabilidade Para efeitos didáticos, a Contabilidade normalmente é dividida em áreas ou ramos, o que tem por objetivos o aprimoramento das técnicas aplicadas a determinadas ativi dades ou pessoas e o estudo de aspectos específicos dessa ciência. As áreas da Contabilidade podem ser estudadas de forma autônoma. No entanto, não são matérias independentes, pois têm o mesmo objeto que a Contabilidade, ou seja, tratam do mesmo assunto: o patrimônio. Assim, a Contabilidade pode ser dividida em Contabilidade Geral, Contabilidade de Custos, Contabilidade Bancária, Contabilidade Pública, Contabilidade de Seguros, Análise das Demonstrações, Auditoria etc. 1.8 Campo de aplicação da Contabilidade £Lprincipal camoo de aplicação da Contabilidade são as aziendas. 3 Capítulo 1 Contabilidade BásicaAzienda é o patrimônio considerado juntamente com a pessoa que tem sobre ele poderes de administração e disponibilidade. Seu conceito reúne o patrimônio ~e a pessoa que o administra. Azienda = Patrimônio + Gestão Gestão é o ato de administrar, de gerir os bens, direitos e obrigações, além dos re cursos humanos. Considerado o patrimônio de uma determinada empresa, a partir do momento em que passe a ser administrado, com o objetivo de lucro, ele irá sofrer modificações significa tivas. Surge, então, a Contabilidade como instrumento necessário ao controle e à in formação dos efeitos provocados pelos fatos decorrentes da gestão patrimonial. O patrimônio pode ser administrado com finalidade econômica ou social. Na adminis tração com fins econômicos, o objetivo é o lucro. As pessoas jurídicas com finalidade econômica são denominadas “sociedades", “sociedades empresárias” ou “empresas”. Já as pessoas jurídicas com finalidades sociais (filantrópicas, científicas, religiosas) são designadas “associações”. “Empresa” e “azienda” têm significados diferentes: a primeira é uma espécie da se gunda. Empresa é uma azienda com finalidade lucrativa. A Contabilidade também é aplicada às entidades sem finalidade lucrativa, como é o caso da União, dos estados, dos municípios, das autarquias. Trata-se de pessoas jurídicas de direito público, às quais se aplica a Contabilidade Pública. Para entender a diferença entre azienda e patrimônio, imagine um patrimônio que não estivesse sendo administrado. Por ele não estar sofrendo alterações significati vas, de pouca importância seria o trabalho do contabilista. Entretanto, quando esse patrimônio começa a ser gerido com uma finalidade qualquer, temos a azienda. Em razão das diversas modificações a que o patrimônio fica sujeito, o trabalho do conta bilista ganha destaque, pois é por intermédio dele que as alterações patrimoniais serão controladas e informadas. Apesar de o patrimônio poder ter como titular pessoa física ou jurídica, trataremos quase que exclusivamente das jurídicas, especialmente das que têm finalidade lucra tiva: as sociedades empresárias. Na prática, apenas as pessoas jurídicas obrigadas por lei mantêm registros contábeis regulares. 1.9 Titular do patrimônio O titular do patrimônio pode ser pessoa física ou jurídica. Pessoa Física - A pessoa natural ou física é o ser humano, sem distinção de sexo, idade, raça. A partir do momento em que nasce com vida, a pessoa natural pode ser titular de um patrimônio, quer dizer, é capaz para adquirir bens e direitos e contrair obrigações, in clusive por herança. Com a morte, natural ou presumida, o patrimônio é transferido aos sucessores (herdeiros ou legatários - aqueles que recebem bens por testamento). Ricardo J. Ferreira 4 Introdução No direito romano, não se reconhecia personalidade ao escravo, que era tratado como bem e integrava o patrimônio de seu senhor. Pessoas Jurídicas - Além de reconhecer a personalidade da pessoa natural, a lei também atribui personalidade à pessoa juridica (ente moral). Em regra, as pessoas jurídicas são resultantes da união de duas ou mais pessoas, físicas e/ou jurídicas, para o desenvolvimento de atividades de interesse comum. Quando o objetivo é econômico, quer dizer, se há finalidade lucrativa, a pessoa jurí dica é denominada “sociedade” ou “sociedade empresária”. Se não há fins lucrativos, “associação”. Nèm sempre a pessoa jurídica é formada pelo agrupamento de duas ou mais pesso as. A Lei n° 6.404/76, art. 251, admite a constituição de pessoa jurídica (subsidiária integral), mediante escritura pública, tendo como único acionista uma sociedade bra sileira. Há também a fundação. Para criá-la, seu fundador, por instrumento público ou tes tamento, deve destinar bens livres para esse fim e especificar a que ela se destina. O fundador pode declarar, se quiser, a maneira como a fundação deverá ser adminis trada. A pessoa jurídica adquire personalidade a partir da inscrição de seus atos constitutivos no registro estabelecido pela legislação. Quer dizer, para ser iegalmente reconhecida como titular de um patrimônio, ela deve ter uma cópia do seu contrato ou estatuto social regularmente arquivada em entidade responsável pelo registro de pessoas jurídicas. O distrato (desfazimento da sociedade) também depende de registro. As sociedades sem contrato ou estatuto validamente registrado são sociedades irre gulares ou de fato, constituindo-se num agrupamento de bens, direitos e obrigações sem personalidade jurídica. Não obstante, elas têm capacidade processual e são representadas ativa e passivamente em juízo pela pessoa a quem cabe a adminis tração de seus bens. O patrimônio da pessoa juridica não se confunde com o patrimônio de seus titulares. Os bens, direitos e obrigações são d£ sociedade e não de seus sócios. Assim, quan do um empregado da sociedade reclama na Justiça seus direitos trabalhistas, a prin cípio a ação deve ser proposta contra a pessoa jurídica. As sociedades são representadas ativa e passivamente por seus administradores. Empresário e Sociedade Empresária - O titular do patrimônio explorado com finalidade econômica pode ser “empresário” ou “sociedade empresária”. Trata-se do titular do em preendimento, ou melhor, da pessoa que desenvolve a atividade ou empresa. Uma atividade pode ser explorada por meio de empresa individual ou de empresa coletiva. A primeira tem como titular pessoa física (empresário), que a explora em seu próprio nome, e não se confunde com pessoa jurídica. A pessoa física titular da empresa individual responde com seu patrimônio, de forma ilimitada, pelas obriga ções assumidas na exploração da atividade. O empreendimento explorado por pessoa jurídica é denominado empresa coletiva. 5 Capítulo 1 Contabilidade Básica Resumo do capítulo 1 Definição - Contabilidade é a ciência que estuda o patrimônio do ponto de vista eco nômico e financeiro, bem como os princípios e as técnicas necessárias ao controle, à exposição e à análise dos elementos patrimoniais e de suas modificações. O 1o Congresso Brasileiro de Contabilidade, realizado em 1924, definiu a Contabili dade como: “A ciência que estuda e pratica as funções de orientação, de controle e de registro dos atos e fatos de uma administração econômica”. Objeto - O assunto do qual trata a Contabilidade é o patrimônio. Por intermédio da Contabilidade, podemos ter o controle e o conhecimento detalhado da situação patrimonial, além de acompanhar a sua evolução. Finalidade - A Contabilidade é mantida com a finalidade de fornecer informações sobre o patrimônio de uma determinada pessoa. Essas informações são destinadas aos públicos interno e externo. Funções - Entre as funções da Contabilidade, temos: 1 - função administrativa - controlar o patrimônio; 2 - função econômica - nas empresas, a função econômica consiste em apurar o lucro ou prejuízo, ou seja, calcular o resultado econômico. Aspectos Patrimoniais - A Contabilidade se ocupa da identificação dos elementos patrimoniais (aspecto qualitativo) e da mensuração, da indicação do valor em moeda desses elementos (aspecto quantitativo). Áreas - As áreas da Contabilidade podem ser estudadas de forma autônoma, dividi das em Contabilidade Geral, Contabilidade de Custos, Contabilidade Bancária, Con tabilidade Pública, Contabilidade de Seguros, Análise das Demonstrações, Auditoria etc. Campo de Aplicação - O principal campo de aplicação da Contabilidade são as azien- das (o patrimônio considerado juntamente com a pessoa que tem sobre ele poderes de administração e disponibilidade). O conceito de azienda reúne o patrimônio e a pessoa que o administra: Azienda = Patrimônio + Gestão. Titular do Patrimônio - Pode ser pessoa física ou jurídica. Dissolução, Liquidação e Extinção - Para que uma sociedade seja extinta, é neces sário que haja a sua dissolução, caracterizada pelo início da liquidação - realização do ativo e pagamento do passivo exigível. O ativo remanescenteé rateado entre os sócios, de acordo com a participação de cada um. Aprovadas as contas do liquidan- te, encerra-se a liquidação e a pessoa jurídica é extinta. Ricardo J. Ferreira 12 Patrimônio Capítulo 2 Patrimônio 2.1 Conceito Estão compreendidas no campo de atuação do contabilista as atividades de estudo, controle, exposição e análise do patrimônio, de maneira a poder informar a situação patrimonial em determinado momento, suas variações e a natureza das operações que o afetaram. O que é patrimônio? E o conjunto de bens, direitos e obrigações de uma pessoa, física ou jurídica, que pos sam ser avaliados em dinheiro. Do ponto de vista contábil, não são considerados os bens, direitos e obrigações sem valor econômico, quer dizer, não mensuráveis em moeda. O contabilista pode controlar o dinheiro, os imóveis, as mercadorias, as contas a receber, as dívidas e demais bens, direitos e obrigações avaliáveis economicamente. Todavia, ele não se ocupará das relações familiares ou de amizade, do caráter, da dignidade e de outros valores que não se traduzam em dinheiro. O patrimônio é composto por elementos positivos e negativos. Os bens e direitos representam o aspecto positivo patrimonial. As obrigações, o aspecto negativo. Ain da que as dívidas superem os bens e direitos, o patrimônio existe. Os bens e direitos formam o ativo. As obrigações, o passivo exigível (ou simplesmen te passivo). Ativo = Bens + Direitos Passivo Exigível = Dívidas O patrimônio pode ser considerado do ponto de vista estático ou dinâmico. Sob a ótica daquele, a Contabilidade estuda, controla, expõe e analisa os elementos patrimoniais. Do ponto de vista dinâmico, ela estuda, controla, expõe e analisa as modificações ocorri das no patrimônio, principalmente em razão das atividades desempenhadas na sua gestão. 2.2 Bens Contabilmente, só nos interessam os bens de natureza patrimonial (avaliáveis em moe da). Bens são todos os elementos materiais e imateriais que integram o patrimônio. Segundo a Economia, bens são coisas que servem para satisfazer uma necessidade humana. 13 Capítulo 2 Contabilidade Básica Por definição jurídica, bem é tudo aquilo que pode ser objeto de direito e está sujeito a utilização e apropriação. Quando dizemos que algo é um bem patrimonial, isso significa que ele pode ser avaliado em dinheiro e que integra o patrimônio de alguém, vale dizer, que é de propriedade de uma pessoa. Bens Corpóreos - São bens materiais, quer dizer, têm existência física. Podem ser tocados e vistos. São exemplos de bens corpóreos, também denominados bens ma teriais ou tangíveis: - Dinheiro - Edificações - Terrenos - Veículos - Móveis e utensílios de escritório - Equipamentos de informática - Máquinas e equipamentos industriais - Instalações elétricas e hidráulicas - Ferramentas - Estoques de: Material de escritório Mercadorias * Matérias-primas Produtos em fabricação Produtos acabados Bens Incorpóreos - Não existem fisicamente. Embora não sejam visíveis ou palpá veis, também podem ser traduzidos em moeda. No caso de um programa de compu tador, por exemplo, o relevante não é o CD ou meio que o contém, e sim a produção intelectual de quem o elaborou. Ao se depararem com produtos idênticos, é de acordo com a marca que alguns con sumidores decidem qual deles irão comprar. Nesse caso, o que importa é o nome do tênis ou a etiqueta da calça, mesmo que custem mais caro. Ainda que os produtos sejam iguais em termos de qualidade, a marca pode transmitir ao consumidor a sensação de mais status ou de confiança naquilo que adquire. Por tanto, em relação à marca, o que está em evidência não são as características mate riais ou físicas de um produto, mas certos aspectos psicológicos. Conhecedoras disso, as empresas investem na criação ou aquisição de marcas que possam ajudá-las a conquistar o consumidor e a aumentar os lucros. São exemplos de bens incorpóreos, também denominados bens imateriais ou intan gíveis: - Programas de computador - Marcas e signos de propaganda - Patentes de fabricação Ricardo J. Ferreira 14 Patrimônio - Propriedade literária - Propriedade científica - Ponto comercial - Concessões obtidas para a exploração de serviços públicos1 - Linhas telefônicas Um comerciante põe seu estabelecimento à venda por 30.000. Os bens materiais e os direitos que ele pretende transferir são os seguintes: - mercadorias para revenda - móveis e utensílios de uso - óontas a receber de clientes 10.000 5.000 2.000 17.000 O comerciante não tem dívidas. Apesar de os bens materiais e os direitos relacionados à atividade do comerciante serem avaliados em 17.000, o preço desejado para a transferência do estabeleci mento é de 30.000. Quer dizer, o comerciante incluiu, no preço de venda, 13.000 pela cessão dos bens incorpóreos relacionados ao estabelecimento. Para chegar a este valor, ele considerou que (1) sua clientela continuará a comprar no estabeleci mento mesmo que haja a mudança de dono e (2) o local onde está situado o estabe lecimento é de grande circulação de pessoas, potenciais compradores. Dessa forma, no preço de transferência do estabelecimento, o comerciante computou: Bens materiais e direitos: - mercadorias para revenda - móveis e utensílios de uso - contas a receber de clientes 10.000 5.000 2.000 17.000 Bens imateriais: - clientela e ponto comercial 13.000 Critério para Registro dos Bens - Em regra, são demonstrados pela Contabilidade como integrantes do patrimônio de uma pessoa os bens de sua propriedade.2 Transmissão de Bens Móveis - A aquisição da propriedade de bens móveis se dá pela tradição, ou seja, pela entrega feita pelo transmitente ao adquirente. Por isso, quando compramos mercadoria ou qualquer outra coisa móvel, somente adquirimos a sua propriedade no momento em que o vendedor nos faz a entrega do bem. Mesmo que a venda seja a prazo, o comprador já será o proprietário da mercadoria a partir do instan te em que recebê-la do vendedor. Por outro lado, ainda que o pagamento tenha sido à vista, enquanto não houver a tradição, o comprador não será o dono do bem. 1 Os direitos sobre bens de propriedade de terceiros são classificados como bens incorpóreos. 2 Conforme a Estrutura Conceituai para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis, “ao avaliar se um item se enquadra na definição de ativo, passivo ou patrimônio líquido, deve-se atentar para a sua essência e realidade econômica e não apenas sua forma legal”. 15 Capítulo 2 Contabilidade Básica Todavia, nem sempre a entrega do bem opera a transmissão da propriedade. Na locação, por exemplo, ainda que esteja servindo ao uso do locatário, o bem perma nece no patrimônio do locador, por ser de sua propriedade. Transmissão de Bens Imóveis - No caso de imóveis, a propriedade depende do re gistro do documento de aquisição do bem (escritura de compra e venda, escritura de doação) no Registro de Imóveis. Não basta efetuar o pagamento, receber as chaves ou estar ocupando o imóvel. O que prova a propriedade é o registro. Em resumo, à Contabilidade interessam os bens corpóreos ou incorpóreos, móveis ou imóveis, desde que avaliáveis economicamente. 2.3 Direitos Em sentido contábil, direitos representam créditos. São valores a receber ou a recupe rar nas transações com terceiros. Em regra, os direitos são representados por títulos e documentos. Por que são emitidos títulos e documentos? Se uma empresa efetuar a venda à vista de mercadorias, será necessário emitir ape nas a nota fiscal para a entrega dos bens. O dinheiro será recebido no ato da tradição, sem hecessidadè de um documento para posterior cobrança. Nota Fiscal - A exigência de emissão de nota fiscal decorre da legislação tributária. Mesmo quando não há incidência de tributos, os contribuintes são obrigados a emitir nota fiscal para as operações que realizam, sob pena de apreensão das mercadorias e multa. Fatura - Se a venda for a prazo, haverá necessidade de um documento que sirva co mo prova da existênciado valor a receber para posterior cobrança. A nota fiscal não cumpre essa função, uma vez que o seu objetivo é permitir ao Fisco a verificação do correto recolhimento dos tributos incidentes nas operações com as mercadorias. Des sa maneira, na venda a prazo, além da nota fiscal, o comerciante precisa emitir um documento que sirva especificamente para a cobrança de seu crédito: a fatura. Fatura comercial é um documento que lista as mercadorias vendidas, indicando sua quantidade, qualidade, espécie, preço, nomes e endereços do vendedor e comprador, data da sua emissão e da remessa das mercadorias, entre outras informações. Caso a reconheça como representativa de dívida sua, o comprador deve assinar a fatura e devolvê-la ao vendedor. De posse da fatura, caso o comprador se recuse, após o vencimento, a pagá-la, o vendedor terá como provar judicialmente que a venda a prazo foi efetuada e que as mercadorias foram entregues. Logo, o crédito existe. Duplicata - Além da fatura, que é de emissão obrigatória nas vendas a prazo, o co merciante pode emitir duplicata. Apesar de não ser exigida por lei, sua emissão é comum nas vendas a prazo. Ricardo J. Ferreira 16 Patrimônio O que leva o vendedor a emitir duplicata para a cobrança, se já existe a fatura com a mesma finalidade? São as vantagens que a duplicata proporciona em termos de circulação e cobrança judicial. Ao contrário da fatura, a duplicata é um título de crédito. Por isso, pode ser transferi da por endosso e tem força executiva (serve como prova para instruir a ação judicial de execução contra o devedor). Um comerciante que tenha duplicata para recebimento em certo prazo pode conver tê-la em dinheiro imediatamente, mediante desconto bancário. Para isto, o título deve ser transferido ao banco, por meio de endosso. O desconto bancário só pode envol ver títulos de crédito, deixando de fora a fatura. Caso tenha de cobrar ao devedor na Justiça, o comerciante, que disponha apenas da fatura deverá ingressar num processo ordinário, que segue o rito comum. Neste ca so, há um ritual demorado a ser observado. Ciente dos argumentos do credor, o juiz chama o devedor, para que este apresente suas alegações, e decide se realmente a dívida existe e deve ser paga. Transitada em julgado a sentença (quando não cabe mais nenhum recurso) favorável ao credor, se mesmo assim o devedor não quiser efetuar o pagamento, o credor poderá propor a ação executiva. Desta vez, diante de dívida líquida e certa já reconhecida por decisão judicial transitada em julgado, o juiz citará o devedor para que pague o valor dentro de 3 dias, sob pena de ter bens pe nhorados para garantir o pagamento. No entanto, se dispuser de uma duplicata aceita pelo comprador, em vez de ingres sar com a ação ordinária, o credor irá direto para a fase de execução. De forma idêntica a uma sentença transitada em julgado, os títulos de crédito têm força executiva, isto é, servem para que o credor proponha ação de execução contra o devedor. Ordem de Emissão dos Documentos - Quando da venda a prazo, o vendedor emite a nota fiscal, a fatura e a duplicata, nessa ordem. Nota Fiscal —> Fatura —> Duplicata Aceite - A duplicata é remetida ao comprador para que a aceite. O aceite é o reconhecimento da dívida representada pelo título de crédito, mediante a assinatura do devedor. Quando o comerciante vende a prazo e emite duplicatas, elas representam direitos. São duplicatas a receber. Se ele compra a prazo e aceita duplicatas, traduzem obri gações. São duplicatas a pagar. As duplicatas de nossa emissão são contas a receber. As duplicatas de nosso aceite, contas a pagar. 17 Capítulo 2 Contabilidade Básica Nota Fiscal-Fatura e Fatura-Duplicata - Um mesmo documento pode reunir os ele mentos necessários à emissão da nota fiscal e da fatura. Trata-se da nota fiscal- fatura. Também é admissível a emissão de fatura-duplicata. Operações com Mercadorias ~ Por determinação da lei, nas operações com merca dorias, para documentar o saque do vendedor pela importância faturada contra o comprador, não se admite a emissão de nenhuma outra espécie de título de crédito que não seja a duplicata. O que é mercadoria? Nas empresas comerciais, mercadoria é coisa móvel adquirida para a revenda. Em relação ao comprador, não são mercadorias os bens adquiridos para uso ou con sumo. Um bem imóvel pode ser mercadoria? Segundo a legislação brasileira, ainda que destinados á revenda, os imóveis não são mercadorias. Concluímos, então, que, nas operações imobiliárias, não é admissível a emissão de duplicata, uma vez que não há transação com mercadoria. Qs bancos também não se dedicam á compra e venda de mercadorias (mercancia). Logo, não emitem duplicatas. Nota Promissória - Apesar de não poderem emitir duplicata, as sociedades imobiliá rias, os bancos e as demais pessoas que não operam com mercadorias podem emitir outros títulos de crédito, igualmente sujeitos a endosso e com força executiva. É o caso da nota promissória. Para vender um imóvel a prazo, o proprietário pode condicionar a transação à emis são de nota promissória pelo devedor. A nota promissória é uma promessa de pagamento feita pelo devedor em favor de seu credor. O emitente assina uma declaração de que pagará, na data combinada, certa quantia ao credor indicado no título. De posse do título de crédito, o credor poderá exigir o pagamento a partir da data de vencimento. Ao contrário da duplicata, quem emite a nota promissória é o próprio devedor. Não há necessidade de aceite na nota promissória, uma vez que, ao emitir o título, o devedor já reconhece a dívida. As notas promissórias emitidas por uma empresa representam contas a pagar. As notas promissórias emitidas por terceiros em favor da empresa são contas a receber desta. Cheque - Apesar de legalmente ser uma ordem de pagamento à vista, que deve ser paga pelo banco no momento da sua apresentação pelo beneficiário, na prática o cheque é largamente utilizado como se fosse uma promessa de pagamento, de for ma idêntica à nota promissória. Ricardo J. Ferreira 18 Patrimônio Se a empresa recebe cheques pré-datados de terceiros, eles representam direitos. Os cheques pré-datados emitidos pela empresa implicam obrigações. Além dos direitos representados por títulos de crédito, existem os traduzidos por contratos e outros documentos. 2.4 Obrigações As obrigações patrimoniais são representadas por contas a pagar ou a compensar nas transações com terceiros. Entre as dívidas mais comuns de uma empresa, temos as decorrentes de: - compra a prazo de mercadorias e bens para uso; - empréstimos e financiamentos bancários ainda não pagos; - salários a pagar aos empregados; - impostos e demais tributos devidos e não pagos; - adiantamentos recebidos de clientes por conta de bens e serviços ainda não entre gues ou prestados. Quando compramos um bem a prazo, ele se integra ao nosso patrimônio a partir do momento em que nos é entregue pelo fornecedor. Temos uma obrigação com o ven dedor, representada por uma conta a pagar equivalente ao preço do bem. A compra a prazo de mercadorias (bens móveis destinados à revenda) aumenta, simultanea mente, o ativo e o passivo exigível. O bem recebido na compra aumenta o ativo, enquanto a dívida contraída aumenta o passivo exigível. Quando do pagamento da dívida da compra a prazo, ocorrerá a redução simultânea do passivo exigível e do ativo. A dívida será quitada, mas também haverá a diminui ção dos bens numerários da empresa. Determinada pessoa física resolveu fazer um levantamento de seu patrimônio e constatou que tinha: - um veículo; ~ uma casa; - móveis e utensílios domésticos; - dinheiro em espécie; - saldo em conta corrente bancária; - contas a receber da sogra e do cunhado (mais adiante, falaremos da provisão para devedores duvidosos); - saldo em caderneta de poupança; - prestações a pagar do financiamento obtido para a compra da casa; - prestações a pagar do financiamento obtido para a compra do veículo.O patrimônio dessa pessoa pode ser dividido da seguinte forma: Bens: - veículo; - casa; 19 Capítulo 2
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