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Kokama - Povos Indígenas no Brasil

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Kokama - Povos Indígenas no Brasil
Habitantes do Solimões, o contato dos Kokama com a sociedade não-indígena
remonta às primeiras décadas da colonização. Os aldeamentos e deslocamentos
forçados, impostos primeiramente pelas missões e depois pelas frentes
extrativistas, acabaram criando um contexto tão adverso de reprodução física e
cultural desses grupos, que lhes suscitou a negação da identidade indígena por
muitas décadas. Desde os anos de 1980, porém, a identidade Kokama vem sendo
cada vez mais valorizada no contexto de suas lutas políticas – que incluem
outros povos indígenas do Solimões – por terras e acesso a programas
diferenciados de saúde, educação e alternativas econômicas.
Localização e população
Em 2005, a população Kokama conhecida no Brasil era de 786 pessoas (Cimi,
2005), distribuída por comunidades localizadas no alto e médio rio Solimões, no
estado do Amazonas, principalmente nos municípios de Tabatinga, São Paulo de
Olivença, Benjamim Constant, Amaturá, Santo Antonio do Içá, Tonantins, Fonte
Boa, Tefé e Jutaí. Por outro lado o CGTT – Conselho Geral da Tribo Ticuna, que
foi conveniado com a Funasa – Fundação Nacional de Saúde, no tratamento da
saúde indígena na região do Alto Solimões, diz que os Kokama somam 9.000
índios, dados de 2003.
No Peru, o montante desse povo é muito maior, somando cerca de 19 mil em
2003 (Cf. Ramos). Já na Colômbia somam 792 (Unesco, 2004).
Veja no menu à direita as Terras Indígenas (TIs) habitadas pelos Kokama em
território brasileiro.
Língua
A língua Kokama foi classificada como parte da família Tupi-Guarani, tronco
Tupi. É muito semelhante à língua dos Omágua (Kambeba). Estudos posteriores
indicaram que sua origem estaria ligada às várias migrações de grupos Tupi do
Brasil para regiões peruanas em tempos pré-contato. Supõe-se que seja uma
língua produto da interação de alguns grupos indígenas na região do alto
Marañón, nas proximidades dos rios Huallaga, Napo e Ucayali, sendo que a
língua Tupinambá teria sido a principal fonte lingüística do idioma Kokama,
com aproximadamente 60% do vocabulário.
No Peru, cerca de 2,5% de uma população de 19 mil Kokama se expressam na
língua nativa. No Brasil, são poucos os que possuem fluência e não há casos
narrados de comunidades que usem o Kokama, ainda que como segunda língua
(Ramos, 2003).
História
 As primeiras referências aos Kokama, fornecidas por exploradores e
missionários nos séculos XVI e XVII, situam os seus principais assentamentos no
médio e baixo rio Ucayali, afluente meridional do Amazonas peruano. No início
do século XVI, os Kokama que viviam nessa região mantêm contato com Juan de
Salinaso, primeiro europeu a alcançá-los. A expedição de Ursua e Aguirre ao
http://pib.socioambiental.org/pt/c/terras-indigenas/introducao/o-que-sao-terras-indigenas
http://pib.socioambiental.org/pt/c/terras-indigenas/introducao/o-que-sao-terras-indigenas
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Kambeba
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Kambeba
Amazonas no período 1560-1, narrada pelo capitão Altamirano, informa o
encontro com esses índios na foz do Ucayali. Na região próxima ao alto rio
Amazonas, incluindo o Marañón, baixos Huallaga e Ucayali e o rio Napo, a
conquista missionária já havia atingido os Omágua (Kambeba) e Kokama desde
1547.
A frente missionária jesuítica estabelece-se na Amazônia de forma mais
contundente, através da atuação dos padres Samuel Fritz e Richler, que deram
início aos trabalhos de catequese junto aos Omágua, Assuare, Ibanoma, Taumã,
Xebeco e Kokama. Em território brasileiro a missão de San Joaquin de Omágua,
coordenada por Fritz, estabeleceu-se no Putamayo (Içá) e 27 outras foram
fundadas durante as décadas seguintes. Por largo espaço de tempo os jesuítas
detiveram uma posição privilegiada na formulação e execução da política
indígena nos territórios da América, assim como foram os principais
responsáveis, nesse momento, pela concentração dos diferentes grupos étnicos
nos aldeamentos missionários.
Em fins do século XVII e início do XVIII, os portugueses avançam rumo ao rio
Amazonas. Com a transmissão de poder das missões jesuítas espanholas para os
carmelitas portugueses, em 1710 inicia-se o período das chamadas “Tropas de
Resgate” portuguesas que, por meio de incursões devastadoras, penetram na
zona das missões, provocando o seu abandono e a retirada dos sobreviventes.
No século XIX, a legislação imperial permanece anti-indígena, estabelecendo
proibições formais, incentivos oficiais para a escravização dos índios e a
organização de ações armadas destinadas ao alargamento da colonização nas
áreas por eles ocupadas. No período de 1750-1850, todas as informações
disponíveis sobre a situação das povoações do alto Amazonas são concordantes
em relatarem a instabilidade dos núcleos indígenas, que sofreriam bruscas
variações populacionais.
O processo de extração da borracha introduziu na região novos interesses,
técnicas e modos de ser. A situação posterior a 1870 implica novas formas de
pressão sobre os grupos indígenas do alto Amazonas. Seringueiros e
castanheiros, nesse momento, ocupavam áreas cada vez mais extensas, chegando
às regiões onde viviam grupos indígenas que até então viviam de acordo com sua
economia tradicional, baseada na agricultura, caça e pesca.
O processo extrativo necessitava da incorporação de novas áreas de terra e do
alargamento da mão-de-obra disponível, já bastante escassa após a abolição da
escravatura em 1888, e a região próxima ao rio Solimões constituía-se em um
razoável reservatório natural de seringa. No entanto, com a queda dos preços
internacionais da borracha no início do século XX, os patrões da borracha
passam a utilizar a mão-de-obra indígena na extração de madeira, na
agricultura, na produção de farinha, na caça de animais com peles de valor
comercial e na pesca.
No princípio do século XX, a população Kokama que habitava o Amazonas
peruano, nas proximidades da cidade de Caballocha, começa um movimento
continuado de migração rumo ao alto Solimões, no Brasil. Mas a maior parte do
grupo, certamente, ainda permaneceu no território de origem, sendo citados em
1936 aldeamentos kokama localizados no Ucayali entre as cidades de Iquitos e
Contamana, bem como no baixo curso do rio Tapiche. Segundo documento de
1943, aqueles que haviam imigrado para o território brasileiro ao longo do
Solimões fixavam-se, entre outros locais, nos paranás de Tauaré, das Panelas e
da Floresta.
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Kambeba
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Kambeba
Assim, fatores externos, como a inserção nas missões, em um primeiro momento
da história do contato, aliada às frentes extrativistas que se instalaram na região
do alto Amazonas alguns séculos depois, desencadearam o deslocamento de
muitos grupos indígenas de suas áreas tradicionais. É também em decorrência
das realidades sociais impostas que, em fins do XIX, parte dos Kokama desloca-
se do Peru e Colômbia ao Brasil, inserindo-se no esquema de exploração da
seringa.
A Irmandade da Santa Cruz
Outra importante motivação para posteriores migrações kokama rumo ao Brasil
foi o movimento messiânico que ficou conhecido como Irmandade da Santa
Cruz. Entre 1971 e 1987 numerosas famílias Kokama emigraram da cidade de
Nauta, no Peru, e de diversas habitações às margens do rio Marañón (próximo à
sua confluência com o Ucayali) até o interior da floresta. Chamavam us aos
outros de “irmãos” e passaram a formar novas comunidades, enquanto
esperavam o iminente fim do mundo. Então empreenderam uma marcha até
uma cidade santa no rio Juí, afluente do Iça (continuação do Putumayo), em
território brasileiro.
O líder do movimento era um profeta brasileiro, provavelmente mestiço,
conhecido como Francisco da Cruz. Ele visitou comunidades dos principais rios
da Amazônia peruana (Ucayali, Amazonas, Marañón), onde foi pregando sua
doutrina sobre a última reforma do cristianismo e o fim do mundo. Contam que
curava enfermos, ensinava técnicas agrícolas, plantava cruzes e fundava novas
comunidades religiosas, assimcomo ditava as normas da vida para aqueles que
seriam seus seguidores.
Seguido de uma multidão de adeptos – em sua maioria indígenas –, o irmão
Francisco chega então às cidades peruanas de Pucallpa, Nauta e Iquitos, onde
procura contatar as autoridades civis e católicas com a intenção de ser
reconhecido oficialmente como o último reformador do cristianismo.
Finalmente, desce o rio Amazonas com a intenção de entrar na Colômbia, mas é
detido na fronteira, acusado de “comunista” e preso pelas autoridades
brasileiras. Ao cabo de alguns dias é libertado devido à pressão de seus
seguidores, mas firma o compromisso de ficar restrito ao interior da floresta. O
irmão Francisco decide, então, subir novamente o rio Iça (Putumayo) e funda
ali, em um de seus afluentes, o Juí, sua residência definitiva e sede central do
movimento. Ali ficou com seus adeptos até 1982, quando morre e deixa como
sucessor um índio de origem tupinambá que posteriormente tomará o nome de
Francisco Neves da Cruz (Agüero, 1994: 7).
 As relações de parentesco são o fundamento principal da organização interna
dos Kokama e há uma relação estreita entre proximidade física e genealógica na
disposição das casas. Uma comunidade é formada essencialmente por grupos de
parentes e entre eles há fortes vínculos.
Todas as aldeias estão organizadas segundo os mesmos critérios de disposição
espacial das casas: enfileiradas e próximas entre si, com as suas frentes voltadas
para os cursos d’água e seus fundos para as áreas de mata. Há partes cultivadas
nos fundos e nas laterais das casas. Estas são construídas sobre estacas, de tal
forma que nas cheias somente seus pilares ficam submersos (Ramos, 2003).
Antigamente, suas casas eram baixas e com teto de “duas águas” (de modo que o
teto chegava quase até o solo), apoiado em pilares e cobertos de folhas de
palmeira assentadas sobre varas (Agüero, 1994).
No que diz respeito à organização social Kocama em período anterior ao contato
mais intenso com os não-indígenas, esta não foi muito documentada. Mas alguns
dados indicam que viviam em malocas agrupados em famílias extensas (um pai
com seus filhos e genros). A regra de residência pós marital era, provavelmente,
patrilocal, assim como a descendência era patrilinear (Aguero, 1994:44).
A organização política Kocama é tradicionalmente acéfala e descentralizada. Os
chefes circunscreviam sua autoridade ao grupo doméstico ou família extensa, a
qual só poderia vir a se expandir no caso de guerra.
Tradicionalmente, os homens se ocupavam da pesca e da caça, a fabricação de
instrumentos como os arcos, flechas, anzóis etc. As mulheres se ocupavam da
preparação da comida e bebida, mas também ajudavam os maridos sobretudo
no cultivo da roça e o transporte de frutos até a casa.
Em relação à cultura material, tradicionalmente os homens Kocama se vestiam
– como os Omágua – com uma cushma, espécie de camisa que lhes chegava até
os joelhos com desenhos geométricos de cor roxa, azul, amarela, entre outras. As
mulheres usavam uma espécie de túnica de algodão amarrada à cintura e que as
cobria até o joelho, acompanhada de um xale sobre os ombros. Os kokama
usavam também enfeites de plumas, cinturões de algodão, pulseiras, braceletes e
tornozeleiras. Tradicionalmente ainda faziam, e nos dias de hoje continuam
fazendo, cestas cilíndricas com desenhos exagonais e peneiras confeccionadas
com folhas e cascas de árvore (Agüero, 1994:41).
Outro aspecto cultural contemporâneo a ser destacado é o ajuri, que consiste no
trabalho coletivo de diversos grupos familiares seguido de uma refeição
conjunta, e o consumo de sua bebida tradicional, o pajuaru, feita a partir da
fermentação da mandioca. Tal hábito é compartilhado com outros grupos
indígenas do Solimões, como os Kambeba e os Tikuna.
Cosmologia e xamanismo
Até o momento em que passaram a conviver intensamente com a sociedade não-
indígena, os Kokama constituíam um povo de tradição guerreira. Segundo fontes
históricas, saíam em expedições de 40, 60 ou mais canoas, ao encontro de seus
inimigos. Tinham o hábito, comum em outros grupos amazônicos, de cortar as
cabeças dos inimigos e com elas promover grandes festins (Figueroa, 1904 apud
Agüero, 1994:43).
Tradicionalmente, a vida após a morte era concebida pelos Kocama como um
estado desprovido de limitações e sofrimentos, em que se goza sem medida de
todos os bens corporais que são difíceis ou perigosos na vida na terra. Nessa
outra vida reencontram seus parentes e podem viver o ideal de comer, beber,
cantar e dançar com as cabeças de seus inimigos.
Ainda em vida, os xamãs são aqueles que têm acesso a esses outros patamares do
cosmos. O relato de um missionário (Figueroa, 1904 apud Aguerro, 1994: 48)
indica quatro classes de xamãs entre os Kocama: os sopradores, que eram
aqueles que curavam através de sopros no ar, em suas próprias mãos e na parte
infectada do corpo do paciente. Também sopravam a comida e a bebida, que em
seguida era dada como remédio ao doente. O tratamento se completava dando
ao enfermo uma bebida composta por tabaco, por vezes misturado a outras
ervas. Todos esses gestos eram acompanhados de invocações aos espíritos.
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Kambeba
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Kambeba
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Ticuna
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Ticuna
Outra modalidade era dos cantadores, que ficavam em um local próximo ao
enfermo entoando cânticos para chamar espíritos encarnados em aves ou em
outros animais e rogar para que a alma do enfermo não o abandonasse.
Outro tipo de xamã era o chupador, que curava pela sucção da parte afetada do
enfermo com o objetivo de tirar o feitiço. Finalmente, havia o jejuador, o qual se
valia de jejuns rigorosos, aos quais também deviam se submeter o enfermo e
seus parentes mais próximos, com o fim de descobrir a origem do mal.
Entre os xamãs mais célebres, havia aqueles que se separavam da comunidade e
se retiravam em uma choça, onde jejuavam e invocavam os espíritos durante
alguns dias, ao cabo dos quais voltavam com a mensagem que haviam recebido
dos espíritos sobre a causa dos danos. A outra classe, que é mais conhecida até o
presente, fazia uso de plantas alucinógenas, em particular a ayahuasca, também
chamada soga. Os rituais de consumo da ayahuasca duravam toda a noite e
envolviam muitos participantes (Agüero, 1994: 49).
Logo que começava a beber ayahuasca, o xamã invocava em voz alta e se debatia
com o espírito para que o escutasse. Em um segundo momento, caía
desvanecido e o espírito se apossava de seu corpo. Finalmente, sua alma
realizava um vôo e o espírito falava por sua boca. Em outros casos, a alma do
xamã realizava o vôo, abandonando o corpo, e em seu regresso contava por onde
havia passado e com quem havia interagido. Este xamã é hoje conhecido entre
os Kocama peruanos como “banco”, porque os espíritos se sentam sobre ele.
Atualmente, os Kokama conservam a denominação Sume para o xamã, que se
comunica com o mundo sobrenatural através da ayahuasca. O deus Ini Jará,
depois de criar a Terra e os homens, subiu ao céu, de onde cuida dos homens. O
Sume é seu representante na terra (: 50)
Economia e ambiente
 Os Kokama são fundamentalmente pescadores e agricultores. Praticam uma
economia de subsistência em que a unidade produtiva é o grupo doméstico, que
corresponde, na maioria das vezes, à família nuclear, composta por pai, mãe e
filhos solteiros. Entretanto, o grupo doméstico pode estar temporariamente
composto pela família extensa ou parentela.
A mandioca é o produto agrícola mais consumido e produzido. A farinha, além
de ter importante papel na dieta diária, figura como um dos principais
instrumentos de trocas internas e de comercialização. Regionalmente, além da
farinha, os produtos que possuem valor de mercado são madeira, mel de
jandaíra, castanha, banana, peixes, galinhas e porcos, além de frutas cultivadas
ou coletadas. Outras fontes de renda são as aposentadorias que alguns idosos
possuem, os salários pagos pelos respectivos municípios aos professorese
agentes de saúde indígenas e a parceria com regionais na criação de gado
(Ramos, 2003).
A maioria dos Kokama habitam áreas com predominância do ecossistema de
várzea, podendo ser em “várzea alta” e ou “várzea baixa”. A primeira classe de
várzea é inundada esporadicamente, quando ocorrem grandes enchentes. Nela,
os índios plantam culturas perenes e semi-perenes, como cacaueiro, goiabeira,
coqueiro, açaizeiro, limoeiro, bananeira etc., cuja produção destina-se à
subsistência das famílias da aldeia. Ao passo que na área de várzea baixa, que é
submersa periodicamente com a subida das águas do rio Solimões, os índios
plantam culturas de ciclo curto, como melancia, milho, feijão e abóbora, cuja
produção é comumente destinada ao consumo interno e o excedente à
comercialização no mercado regional. É importante enfatizar a importância das
culturas tuberosas (macaxeira, mandioca, cará e batata doce), as quais são
plantadas nos dois tipos de várzeas.
Em média, os Kokama utilizam menos de ½ ha para a abertura de novas roças.
O sistema de trabalho para a preparação do solo e o plantio das culturas é divido
em duas etapas: na primeira, as famílias indígenas aglutinam-se de forma
coletiva no ajuri (trabalho coletivo seguido de refeição conjunta) para a limpeza
do terreno. Na etapa seguinte, os trabalhos agrícolas são realizados pelos
componentes de cada unidade familiar, procedendo-se então o plantio, tratos
culturais, colheita e “beneficiamento” (como a produção de farinha).
A pesca é a atividade econômica fundamental para a obtenção de proteínas,
sendo parte indissociável dos hábitos alimentares. É também uma relevante
fonte de renda monetária através da venda do pescado no mercado regional. Os
instrumentos usados para pescar são o espinhel, flecha e curico, sendo utilizado
como o timbó. Essa atividade é exclusivamente masculina. As espécies mais
apreciadas e consumidas são o pirarucu, o tambaqui, o curimatã, o pacu, o
matrinchã, pirapitinga, a sardinha, a piranha, o surubim, o carauaçu e o
tucunaré.
A caça apresenta uma fonte suplementar de proteínas para os Kokama,
principalmente no período das enchentes, quando o peixe se torna escasso.
Caçam aves como o mutum, nambu, maguari e mergulhão, e animais como o
jacaré e os macacos preto, prego e de cheiro. Atualmente, a obtenção desses
animais é realizada predominantemente com armas de fogo (espingardas). Além
disso, os Kokama também costumam criar animais domésticos como patos,
galinhas e porcos para consumo, e ainda cachorros que auxiliam na busca da
caça quando necessário.
A coleta é também uma atividade assiduamente praticada pelo grupo,
principalmente nas proximidades da aldeia. Os recursos mais utilizados são
frutas e raízes, além de madeiras, palhas, cipó-titica e imbé, utilizados na
construção de casas e outros artefatos. Os frutos silvestres que os Kokama
apreciam são açaí, bacaba, bacuri, ingá, camucamu, urucum e buruti, entre
outros.
Fontes de informação
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tupi-cocama o la subversión del ordem simbolico. Lima : CAAAP ; Quito :
Abya-Yala, 1994. 259 p. (Biblioteca Abya-Yala, 9)
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among the Tupi-Cocama of the Peruvian Amazonia. Uppsala : Uppsala
University, 1971. 135 p. (Tese de Doutorado)
• CABRAL, Ana Suelly. Contacta-induced language change in the Western
Amazon : the non-genetic origin of the Kokama language. Pittsburg :
Univer. of Pittsburg, 1995. 415 p. (Tese de Doutorado)
• FAULHABER BARBOSA, Priscila. O lago dos espelhos : etnografia do
saber sobre a fronteira Tefe/Amazonas. Belém : MPEG, 1998. 215 p.
(Coleção Eduardo Galvão).
• FIGUEROA, Francisco. Relación de las misiones de la Companhia de Jesús
em el país de los Maynas. Madrid : Libreria General de Victoriano Suárez,
1904.
• FREITAS, Antonio Braga & COUTINHO Jr., Walter. Relatório de
identificação e delimitação da Terra Indígena Acapuri de Cima. Brasília :
Funai, 1999.
• GOW, Peter. "Ex-Cocama" : identidades em transformação na Amazônia
Peruana. Mana, Rio de Janeiro : Museu Nacional/PPGAS, v. 9, n. 1, p.
57-79, 2003.
• PEREIRA, Henrique dos Santos. Castanha ou farinha : balanço energético
comparativo das atividades agrícola e extrativista dos Kokamas. In:
EMPERAIRE, Laure (Ed.). A floresta em jogo : o extrativismo na
Amazônia central. São Paulo : Unesp, 2000. p. 69-78.
. Castanha ou farinha : bilan énergétique comparé des activites extractiviste et
agricole chez les Kokama. In: EMPERAIRE, Laure (Ed.). La forêt en jeu :
l’extractivisme en Amazonie centrale. Paris : Orstom/Unesco, 1996. p. 63-72.
(Latitudes, 23)
• RAMOS, Luciana Maria de Moura. Relatório circunstanciado de
identificação e delimitação da Terra Indígena São Domingos do Jacapari e
Estação. Brasília : Funai, 2003.
• RIVAS, Roxani. La mujer cocama del bajo Ucayali : matrimonio, embarazo,
parto y salud. Amazonía Peruana, Lima : CAAAP, v. 12, n. 24, p. 227-42,
jun. 1994.
• SOARES, Marília Lopes da Costa Facó. A perda da nasalidade e outras
mutações vocálicas em Kokama, Asurini e Guajajara. Rio de Janeiro :
UFRJ, 1979. (Dissertação de Mestrado)
• VICTER, Rogério Santos. Carisma e rotina na sucessão de uma liderança
religiosa : a participação dos índios Cocama na renovação da Irmandade
de Santa Cruz. Rio de Janeiro : UFRJ, 1992. 176 p. (Dissertação de
Mestrado).
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