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Uru-Eu-Wau-Wau - Povos Indígenas no Brasil

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Eu-Wau-Wau - Povos Indígenas no Brasil
Os Uru-eu-wau-wau, como eram conhecidos os Jupaú, apareceram com
frequência na mídia a partir do inicio da década de 1970, quando o avanço da
frente expansionista sobre suas terras e os conflitos causados pelas invasões
ganharam a atenção dos grandes jornais. A partir de 1980 foram iniciadas as
frentes de contato da Funai, para atração e pacificação, mas os conflitos
continuaram acontecendo pelo menos até 1985.
Identificação e demografia
O Jupaú Payajub. Foto: Adrian Cowell, 1981
Os Uru-Eu-Wau-Wau se autodenominam Jupaú e vivem na Terra Indígena Uru-
eu-wau-wau, onde vivem também os Amondawa, os Oro Win (que pertencem à
família linguística Txapakura), além de três grupos isolados: Yvyraparakwara,
Jururey e um cujo nome é desconhecido. Encontramse distribuídos em 6 aldeias
(Limão, Alto Jamari, Linha 621, Linha 623, Aldeia nova e Alto Jaru), nos limites
da Terra Indígena, por questões de proteção e vigilância.
http://pib.socioambiental.org/pt/c/politicas-indigenistas/orgao-indigenista-oficial/funai
http://pib.socioambiental.org/pt/c/politicas-indigenistas/orgao-indigenista-oficial/funai
https://img.socioambiental.org/d/296695-1/amondawa_2.jpg
https://img.socioambiental.org/d/296695-1/amondawa_2.jpg
http://ti.socioambiental.org/pt-br/#!/pt-br/terras-indigenas/3891
http://ti.socioambiental.org/pt-br/#!/pt-br/terras-indigenas/3891
http://ti.socioambiental.org/pt-br/#!/pt-br/terras-indigenas/3891
http://ti.socioambiental.org/pt-br/#!/pt-br/terras-indigenas/3891
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Amondawa
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Amondawa
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Oro_Win
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Oro_Win
Os Jupaú traduzem sua autodenominação como "os que usam jenipapo". Muitos
foram os nomes atribuídos aos Uru-Eu-Wau-Wau. As denominações Bocas 
Negras, Bocas-Pretas, Cautários, Sotérios e Cabeça Vermelha, são encontradas
na historiografia e estão relacionadas ao espaço geográfico ou a semelhanças
culturais e linguísticas dos Jupaú e Amondawa, ou a grupos Kawahib em geral.
Após o contato, no início dos anos 80, ocorreu um decréscimo populacional
significativo nesses grupos da região. A população passou de 250, em 1981, para
89 em 1993, particularmente entre o povo Jupaú. Cerca de 2/3 foram
eliminados em razão de conflitos e das sucessivas doenças que assolavam as
aldeias, principalmente as infecto-respiratórias. Nos anos seguintes a 1993
houve uma pequena retomada no crescimento populacional, em parte pela
demarcação, fiscalização e vigilância da TI.
O Jupaú Canindé. Foto: Adrian Cowell, 1981
As seis aldeias habitadas pelos Jupaú tinham, em 2015, um contingente
populacional de 85 pessoas. Na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau há ainda
quatro aldeias habitadas pelos Oro Win, uma dos Amondawa – a aldeia
Trincheira – , além de duas barreiras da Fundação Nacional do Índio:
Bananeira, da Frente Etnoambiental Uru-Eu-Wau-Wau, e Floresta, que foi
abandonada pelo órgão.
Localização
Tendo sido declarada de posse permanente dos índios em 1985 e revogada em
1990 pelo presidente José Sarney, a Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau foi
novamente homologada por decreto do então presidente Collor em 1991. A área
tem a extensão de 1.867.117 ha. e encontra-se sobreposta ao Parque Nacional de
Pacaás Novos, criado em 1979.
https://img.socioambiental.org/d/296698-1/amondawa_3.jpg
https://img.socioambiental.org/d/296698-1/amondawa_3.jpg
https://pib.socioambiental.org/pt/c/politicas-indigenistas/orgao-indigenista-oficial/funai
https://pib.socioambiental.org/pt/c/politicas-indigenistas/orgao-indigenista-oficial/funai
http://ti.socioambiental.org/pt-br/#!/pt-br/terras-indigenas/3891
http://ti.socioambiental.org/pt-br/#!/pt-br/terras-indigenas/3891
http://uc.socioambiental.org/uc/4885
http://uc.socioambiental.org/uc/4885
http://uc.socioambiental.org/uc/4885
http://uc.socioambiental.org/uc/4885
Terra Indígena Urueu-Wau-Wau representada pelos Jupaú.
Desenho: Djurip Jupaú Uru-Eu-Wau-Wau
A TI Uru-Eu-Wau-Wau é administrada pela Fundação Nacional do Índio através
da Coordenação Regional de Porto Velho. Possui seis Coordenações Técnicas
Locais (CTL), antigos postos indígenas e postos de vigilância: Comandante Ari,
Trincheira, Jamari, Alto Jaru (aldeia do Arimã), Linha 623 (aldeia do Paiajub)
Oro win. Há ainda um Posto Indígena não oficial chamado São Luiz, onde mora
a comunidade Oro-win, localizada na margem do rio de mesmo nome.
A terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau abrange parte da Serra dos Pacaás Novos e
da Serra dos Uopianes. A primeira se distingue por conter o ponto mais elevado
de Rondônia, o Pico do Tracoá, com 1.230 m de altitude; a segunda possui
altitudes não superiores a 600m. As paisagens são diversificadas e o relevo ora
se apresenta em forma de colinas com ou sem mata, ora sob forma de chapadas
tabulares e relevos residuais (inselbergs), muitas destas contendo cavernas.
https://img.socioambiental.org/d/296701-1/amondawa_4.jpg
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http://pib.socioambiental.org/pt/c/politicas-indigenistas/orgao-indigenista-oficial/funai
http://pib.socioambiental.org/pt/c/politicas-indigenistas/orgao-indigenista-oficial/funai
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Rio Jamari na aldeia de mesmo nome. Foto: Rogério Vargas, 2002.
A área detém uma rica diversidade biológica e espaços intocados. Também é o
berço das águas de pelo menos 12 sub-bacias hidrográficas de Rondônia. No
topo das serras, é comum a formação de campos e cerrados e outras formações
endêmicas, enquanto que no rebordo encontramos a floresta tropical aberta e
fechada sobre solos de maior profundidade. Os Rios são chamados na língua
Kawahib de paraná; os Igarapés são chamados de côo-via; os lagos de ipapê-
bua. A mata ciliar é chamada de paraná-capura
Histórico do contato
Urueu no Posto Indígena Alta Lídia recebendo brindes, ferramentas
e roupas. Foto: Jesco von Puttkamer/acervo IGPA-UCG, 1981.
Pelos indícios antropológicos descritos por Curt Nimuendajú, o Estado de
Rondônia possuiu um número razoável de “silvícolas” de diversas etnias que lá
habitavam. Além dos povos tradicionais, a ocupação em Rondônia pelos não
índios sempre foi motivada por interesses econômicos. O primeiro fluxo se deu
no século XVII em busca de mão-de-obra indígena escrava. O segundo, no
século XVIII, foi motivado pela busca de ouro. No final do século XVIII começa
o ciclo da borracha, que teve uma queda na década de 1910-1920. Após a II
Guerra Mundial houve uma revalorização da borracha juntamente com a
exploração mineral, cassiterita e ouro na Amazônia, trazendo um novo fluxo
migratório que ocupou a região, acarretando conflitos com dezenas de povos
indígenas.
Milhares de indígenas morreram em combates e/ou epidemias e tiveram suas
terras invadidas. A partir da década de 40 começaram os primeiros projetos de
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colonização governamentais. No início dos anos 60 inicia-se a abertura da
estrada, BR 364, que "rasga" o estado de sudeste a noroeste, executada pelo
Polonoroeste (Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil) e
financiada pelo Banco Mundial.
Seguindo o eixo da estrada, nos primeiros anos da década de 70 grandes
projetos de colonização do governo trazem milhares de agricultores do sul e
sudeste do Brasil, deslocando para lá o impasse político da reforma agrária.
Grupo de mulheres Urueu-Wau-Wau com uma enfermeira da Funai.
Foto: Jesco von Puttkamer/acervo IGPA-UCG, 1985.
No caso particular dos Uru-Eu-Wau-Wau, embora se tenham relatos desde 1909
sobre a ocupação indígena na região, inclusive registro de conflitos e localização
de aldeias, os registros oficiais são realizados somente a partir de 1976, quando
foram localizadas três malocas entre cabeceiras do Rio Branco do Cautário e
Sotério, próximo a serra dos Pacaás Novos, e uma próxima ao Igarapé SouzaCoutinho, na cachoeira do Mutum.
A área de ocupação Uru-Eu-Wau-Wau ia dos vales dos rios Madeira (ao norte),
Machado (a leste), Guaporé (ao sul) e avançava até o Mamoré (a oeste),
conforme os registros históricos disponíveis e os relatos orais dos índios. Desde
pelo menos o início do século XX, os Uru-Eu-Wau-Wau lutaram contra as
frentes expansionistas que foram invadindo a região.
Muito antes do contato oficial desses grupos, a primeira proposta concreta de
delimitação da reserva indígena deu-se em 1946, quando se informou ao
governo do Território de Rondônia sobre a ocupação indígena de toda a bacia do
rio Jamari e bacia do rio Floresta até a serra dos Pacaás Novos. De acordo com o
documento da época, o despacho foi favorável em 26 de novembro de 1946. “Em
1946, após o massacre provocado pelo senhor Manoel Lucindo às aldeias dos
Oro-Towati e os diversos contra-ataques por parte dos índios, o SPI (Serviço de
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https://pib.socioambiental.org/pt/c/politicas-indigenistas/orgao-indigenista-oficial/o-servico-de-protecao-aos-indios-(spi)
https://pib.socioambiental.org/pt/c/politicas-indigenistas/orgao-indigenista-oficial/o-servico-de-protecao-aos-indios-(spi)
Proteção aos Índios) decidiu interditar a área abarcada pelo Seringal São Luiz e
através do ofício 30/64, 32/64, 33/64, o ato foi comunicado ao senhor Manoel
Lucindo, ao Governo do território de Rondônia e ao Banco de Crédito do
Amazonas”.
Seguem várias interdições na área, até que, em 24 de Março de 1984, pela
portaria 176/E, o presidente da Funai institui um grupo de trabalho para o
estudo de identificação e definição da área indígena do Uru-Eu-Wau-Wau e
Uru-pa-In. Em 9 de julho de 1985, foi declarada de posse permanente dos
índios, através do decreto de 91.416. Em 1990, o presidente Sarney revogou a
terra, mas, em 29 de Outubro de 1991, o presidente Fernando Collor homologou
a demarcação administrativa da área indígena Uru-Eu-Wau-Wau.
José Apoena Soares Meireles (sertanista) e o chefe Canindé na frente
de contato da Funai, para atração e pacificação dos Uru-Eu-Wau-
Wau da região do Posto de vigilância Comandante Ary (antigo Posto
Indígena Alta Lídia). Foto: Jesco von Puttkamer/IGPA, 1982.
Os Uru-Eu-Wau-Wau foram contatados pela Funai a partir de 10/03/1981, em
Alta Lídia, hoje Comandante Ary. Na ocasião foram contatadas 250 pessoas. Em
1984 a Funai localizou três aldeias; mas em 1986 já eram um total de oito.
https://pib.socioambiental.org/pt/c/politicas-indigenistas/orgao-indigenista-oficial/o-servico-de-protecao-aos-indios-(spi)
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Naquela época o posto Comandante Ary já havia sido visitado por mais de 150
indígenas, tendo a Funai um cálculo de que os Uru-Eu-Wau-Wau fossem
aproximadamente 500 indivíduos.
Os Jupaú informam que existem outros três grupos ainda hoje não contatados,
que vivem na região do rio Muqui, Cautário e S. João do Branco. Consta no
relato da época a existência de várias aldeias ainda sem contato, onde se
calculavam aproximadamente de 1000 a 1200 índios isolados na Terra Indígena.
As pesquisas mostram que o grupo identificado como sendo Mamõa trabalhava
gratuitamente para os seringueiros; os Amondawa estavam cercados por
invasores e solicitavam a intervenção da Funai, que desconhecia onde ficavam
suas aldeias; uma jupaú identificado como Kanindé comentava que sua mãe e
irmã tinham sido raptadas pelo seringalista Alfredo. Seus descendentes contam
ainda hoje que sua mãe morrera e a irmã continuou no poder do invasor, e que a
mesma gostaria de voltar a morar na aldeia, mesmo não tendo sido criada com
os Jupaú.
O chefe de ajudância de Guajará Mirim, da Funai, conclui em relatório datado
de 03.05.1988 que não se deveria criar a reserva indígena no local de ocupação
dos índios, pois isto prejudicaria os seringalistas e seringueiros. Nessa época, e o
Incra já estava criando o Projeto Fundiário Costa Marques, com uma clara
posição a favor dos não índios. Porém o relatório alerta para a necessidade da
Funai enviar um sertanista à área para fazer o contato antes que os seringalistas
o fizessem.
Em 1980 foram localizados 11 tapiris e roças no rio Jamari e próximas aos
campos do Comandante Ary (Alta Lídia). Também foram encontrados
acampamentos à margem esquerda do Urupá, próximo à BR 429, e em 1984
uma aldeia no Urupá e outra em São Miguel; além de acampamentos na serra
do Tracoá, divisor Jamari/Candeias, no Ricardo Franco, Muqui, Igarapé Pombal,
Jarú, Cautário, São Miguel, Ouro Preto, Água Branca e na Serra dos
Pareci/Pacaás Novos (três aldeamentos com várias malocas no interior do
Parque Pacaás Novos, com distância de 7 km entre si).
Invasões
Na história da Terra Indígena, ocorreram sucessivas invasões, tanto por parte de
madeireiros e seringalistas, quanto por camponeses em busca de terras. As
invasões se intensificaram a partir dos anos 80 e persistem até hoje. A baixa
fiscalização dos órgãos públicos responsáveis e o isolamento da área
contribuíram muito para que o quadro se agravasse. Denúncias são freqüentes, a
despeito do governo de Rondônia ter firmado um acordo de fiscalização das
invasões na TI. Um exemplo é o ocorrido em abril de 2003 com a invasão de
5.000 não indígenas que se auto intitulavam como a “Liga dos Camponeses
Pobres”. Sua retirada se deu semanas depois e envolveu uma operação conjunta
de diversos órgãos públicos — Polícia Federal, Funai, Ibama, Incra, Batalhão de
Polícia Florestal e Secretaria de Segurança Pública do Estado de Rondônia — e a
ONG Kanindé.
Grande esplanada aberta para depositar madeira furtada ao sul da TI
Urueu, sendo 90% mogno, em local próximo a margem do rio
Jurupari.Foto: Rogerio Motta, 2002
Na segunda metade da década de 80, após a pavimentação da BR-364 ocorre a
intensificação do comércio de madeira com o sul do país. A exploração seletiva
de madeiras nobres no Estado de Rondônia tornou o estoque dessas espécies
reduzido nas propriedades particulares, ficando disponível apenas a longas
distâncias das indústrias beneficiadoras. Com isso, o furto de madeiras nas
Terras Indígenas, principalmente as madeiras nobres (mogno e cerejeira),
também se intensificou. Várias cidades com dezenas de serrarias estão
instaladas na periferia das TIs. Avalia-se que 90% do mogno e 80% da cerejeira
que chegam nas indústrias madeireiras de Rondônia são provenientes de Terras
Indígenas ou de Unidades de Conservação.
Somando-se a pressão do comércio da madeira, cresce a população do entorno
das Unidades de Conservação. Como estratégia eleitoral, foram criados muitos
municípios no Estado, parte destes sem infra-estrutura e com pequena
população, sem capacidade de arrecadação para sobrevivência. Em 1991 o
Estado de Rondônia possuía apenas 40 municípios, hoje tem 52. Vários
municípios criados incidem mais de 50% de sua área territorial dentro de Terras
Indígenas. Diante desta realidade, a tendência é haver cada vez mais pressão
antrópica nas Terras Indígenas.
https://img.socioambiental.org/d/296873-1/amondawa_11.jpg
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Material de garimpo apreendido ao sul da TI Urueu. Foto: Sergio
Cruz, 2000
Os Jupaú são historicamente hostis às frentes econômicas colonizadoras desde o
inicio do século XX, vivendo em conflito com os seringalistas e garimpeiros. Nas
três últimas décadas a luta é contra as invasões dos pecuaristas, agricultores,
garimpeiros e contra as ações das madeireiras que já furtaram, em uma década
mais de 500.000 metros cúbicos, principalmente de madeira nobre.
Nestes últimos dez anos foram realizados naterra indígena e no parque nacional
um grande número de fiscalizações. As ações que tiveram sucesso levaram a
abertura de dezenas de inquéritos policiais, com a apreensão de quase uma
centena de veículos, entre caminhões e tratores. As maiorias destes veículos
foram devolvidos aos infratores, de acordo com a legislação de deixar o próprio
réu como fiel depositário, enquanto tramita o processo na Justiça. Mas muitas
vezes os índios se revoltaram com a decisão dos juízes e queimaram os veículos
para que não fossem devolvidos. Muitos destes infratores retornaram e
continuam furtando madeira.
A área Litigiosa do Burareiro
Na história mais recente dos Jupaú, o Rio Floresta foi palco de um grande
conflito entre indígenas e não indígenas. Mesmo após a Funai ter notificado o
Incra de que a região estava interditada para os índios, este expediu 122 títulos
definitivos a agricultores no interior da área indígena Uru-Eu-Wau-Wau,
gerando um problema não resolvido até os dias de hoje, com perdas para os
indígenas, pois a área vem sofrendo esbulho.
No final da década de 70, o Departamento Geográfico do Exército Brasileiro foi
contratado pela Funai, para realizar a demarcação da terra indígena, devido à
complexidade dos conflitos na região e o tamanho da terra a ser demarcada. O
Exército sub-contratou uma empresa para realizar os trabalhos finais de
demarcação física.
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Passados vários meses desde a demarcação, a Funai não conferiu os limites.
Quando os sertanistas tentaram encontrar os marcos e picadas demarcatórias
não conseguiram. As aberturas da picada demarcatória não foram devidamente
feitas e as poucas placas colocadas foram arrancadas pelos invasores.
Em 08.11.80, o Incra concedeu 113 títulos indevidamente na parte sul do Projeto
Burareiro, localizado dentro da TI. O MIRAD-INCRA em 1985 reconhece que a
maioria das pessoas que receberam títulos não moravam nos lotes, que a
ocupação era precária devido à falta de estradas de acesso e que os
desmatamentos na região haviam apenas começado (Altamir Wolmann, 
MIRAD/INCRA, 04.06.85). Nesse ano, são finalmente definidos os limites por
decreto presidencial e era esperado que o INCRA reassentasse os titulados em
outra região, respeitando a terra indígena. Mas isso não ocorreu.
No Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia (PLANAFLORO) e em
sucessivas Ajudas Memoriais de missões do BIRD em Rondônia, foi constatada a
problemática do Burareiro, mas ao final da execução deste plano não foi dada
ênfase para resolver a situação.
A questão foi considerada como um problema jurídico a ser resolvido somente
pela Funai. Esta, tardiamente, em 1994 entrou com uma Ação Jurídica contra o
Incra para anulação dos títulos na terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau. O parecer
da Justiça em 1996 foi desfavorável aos índios, pois interpretou que a ação
movida pela Funai não deveria ser contra o Incra, mas sim contra cada um dos
122 proprietários de Títulos Definitivos. Como a maioria destes títulos já foram
vendidos a terceiros, isto acarretaria um grande número de ações judiciais a
serem movidas contra os detentores dos títulos, o que é inviável a curto ou
médio prazo.
Em 27/04/95, em reunião interinstitucional do Governo do Estado, fez-se uma
proposta para que a área remanescente (área de 39.000 ha proposta para ser
diminuída) da Terra Indígena Karipuna assentasse, além dos 184 invasores
locais, os invasores do Burareiro e os 40 da Terra Indígena Mequéns. A Funai
cumpriu o proposto, mas o Incra e Estado não retiraram os intrusos das terras
indígenas. Conseqüentemente, permaneceram as invasões e novas ocorreram na
área excluída dos Karipuna.
A decisão judicial, em 1996, relativa ao Burareiro, está sendo usada de forma
distorcida por empresários e políticos de má fé, dos municípios de Ariquemes e
Monte Negro, para incentivo de invasão. A Funai, Polícia Federal e Ministério
Público, com apoio da associação indígena Jupaú e a associação Kanindé
realizaram em 2001 a desintrusão do lado norte da terra indígena, sendo
conduzido dezenas de invasores para a penitenciária central em Porto Velho. Os
representantes de duas associações de invasores foram indiciados em processos
judiciais. Pela primeira vez conseguiu-se a reclusão de invasores profissionais de
terras indígenas em Rondônia. Essa área de litígio ainda permanece dentro da
Terra Indígena.
http://ti.socioambiental.org/pt-br/#!/pt-br/terras-indigenas/3723
http://ti.socioambiental.org/pt-br/#!/pt-br/terras-indigenas/3723
Mulher urueu e seus filhos junto ao pilão. Foto: Jesco von
Puttkamer/acervo IGPA-UCG, 1984.
Como os demais povos Kawahib, os Jupaú estão divididos em grupos de
parentesco, cada qual com um chefe, organizados em duas metades: Mutum e
Arara. Antes do contato possuíam grande mobilidade espacial, havendo
aldeamentos fixos em determinadas épocas do ano e acampamentos
temporários ou tapiris, espalhados por toda área de ocupação.
As aldeias eram construídas em pequenas clareiras abertas na mata. Em suas
roças plantavam milho, macaxeira, batata doce, cará e algodão. Produziam a
farinha e o cauim de macaxeira. Não utilizavam fumo e, conforme os registros,
um não índio que conviveu com eles na década de 40 conseguia tabaco com os
seringueiros (Costa, 1981). Antes do contato habitavam malocas retangulares,
com tetos de duas águas bastante altos, com saídas dos dois lados. Atualmente,
além das malocas (que são minoria), habitam em casas de madeira cobertas com
telhas de amianto, prática introduzida pela Funai.
Os Jupaú costumam reclamar que essas casas são muito quentes, preferindo
ficar nas malocas durante o dia, nas aldeias que ainda as mantêm. Fazem
pequenas tocaias de palha, para espreitar a caça, e se abrigam em tapiris de
palha, quando estão em longas viagens, no interior da terra indígena.
Casamento e Parentesco
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http://pib.socioambiental.org/pt/c/politicas-indigenistas/orgao-indigenista-oficial/funai
http://pib.socioambiental.org/pt/c/politicas-indigenistas/orgao-indigenista-oficial/funai
Mulher Jupaú e filhos. Foto: Jesco von Puttkamer/acervo IGPA-
UCG, 1985.
Os casamentos são tradicionalmente poligâmicos e se dão entre as duas
metades, de modo que Mutum só casa com Arara. Os matrimônios são
realizados entre primos cruzados: o rapaz casa com a filha do irmão da mãe. Nos
últimos anos, devido à escassez de mulheres e à influência do contato com os
não índios, as relações têm se tornado monogâmicas, havendo inclusive casos de
poliandria. Devido à essa solução os homens têm ido morar com as mulheres ao
se casarem.
Quando a criança nasce, já está prometida em casamento. As meninas, ao
desenvolverem os seios, já possuem permissão para namorar. Atualmente, por
vezes existe resistência em aceitar o marido prometido, acarretando conflito no
grupo familiar.
As pessoas de ambos grupos têm como prática mudar de nomes a cada
nascimento de um membro da família nuclear. Quando nasce um menino, este
recebe o nome do pai quando era bebê; conforme vai avançando a idade, ele vai
assumindo os nomes que o pai já teve.
Mortos e espíritos
Os Jupaú enterram seus mortos dentro das malocas, com todos seus pertences.
Quando precisam por alguma razão mudar, continuam voltando ao local para
visitar e limpar o local onde enterraram seus mortos, ou transportam os ossos
para a nova moradia.
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As covas são circulares e o morto é enterrado sentado com todos os seus
pertences, inclusive com um cocar de penas de gavião em cima do peito, que
assegura proteção no mundo dos espíritos.
Os Jupaú acreditam que existem vários espíritos na floresta, aos quais dão
diversas denominações e contam relatos sobre suas atuações e como estes
influenciam na vida da comunidade. Um desses espíritos é o Anhangá, que tema
aparência de um morcego grande e carrega as pessoas, chupando todo o seu
sangue.Contam que o neto do avô do Djurip (um Jupaú) foi carregado pelo
Anhangá. Seu avô foi procurar a criança, quando ouviu o barulho da
assombração, que estava perto de um pau; ele tentou cortá-lo com um terçado,
mas não conseguia, pois ele sumia. Ele viu a criança sendo levada embaixo das
asas. Quando tentou pegá-lo, ele virou atrás do pau e sumiu com a criança.
Segundo Moram Uru-Eu-Wau-Wau, o evento aconteceu nas cabeceiras do rio
Jamari.
Mitos
Abaixo, segue uma pequena amostra da rica mitologia desses dois povos
Kawahib.
O aparecimento da noite
O Bacurau falou para a onça abrir a boca, para ele ver o dente da
onça. Ela abriu, ele cagou na sua boca, e ela vomitou e quase morreu.
Ele voou e foi embora; aí a amiga da onça apareceu e falou: "O que
foi?". A onça contou. Sua amiga foi na maloca e queimou todas as
espécies de milho, enquanto a onça continuava vomitando. Quando
se encostou ao milho preto para queimar, a noite apareceu. A onça
ficou sem saber o que fazer; esperou aparecer o dia; tentou acender
o fogo mas não pegava. A noite durou uns três dias, a partir daí
surgiu um dia e uma noite sempre atrás da outra. A onça, que de
tanto vomitar tinha morrido, voltou a viver de novo. (narrado por
Djurip Uru-Eu-Wau-Wau).
A utilização do fogo na história do sapo e da cobra
Durante a enchente, o sapo e a cobra não tinham machado para
fazerem fogo e se aquecerem. Resolveram cruzar o rio para o outro
lado, com uma brasinha que tinham encontrado e que levaram nas
costelas, mas não conseguiam voltar para a margem.
O sapo pegou a brasinha e, quando chegou na metade do rio,
resolveu procurar um lugar estreito do rio. O sapo teimoso resolveu
cruzar o rio naquele lugar com a brasinha, dando saltos largos de
modo que conseguiu chegar do outro lado e fez fogo do outro lado,
com o qual se esquentou durante o período frio. A cobra, como não
sabia pular, ficou do outro lado, passando frio (narrado por Djurip e
Mora Uru-Eu-Wau-Wau).
Adornos e festas
Os Jupaú e Amondawa costumam cantar à noite para espantar os inimigos com
seus gritos ou lembrar os entes queridos mortos.
Também dançam em suas diversas festas. A festa do milho chama-se Ipuã e
outra festa bastante conhecida é o Yreruá. Nesta, os homens tocam taboca,
carregando suas flechas, onde os arcos são retesados como se fossem fazer o
lançamento das mesmas. As mulheres, em certo momento da festa, dançam
agarradas em seus braços. Em certos momentos são dados gritos que
tradicionalmente têm uma conotação guerreira.
Durante a dança, o "Chefe da Festa" fica no meio da roda, tocando a maior flauta
(Yrerua), e conduzindo o ritmo da dança com marcações feitas com os pés. Os
homens usam vários cipós enrolados na cintura, que ficam mais apertados nos
quadris e mais largos na altura do estômago, onde prendem seus facões.
Para celebrar a primeira menstruação, é realizada a festa da menina moça. A
menina fica presa na maloca durante um mês e meio no período de colheita da
castanha. Ela fica sem tomar banho e um óleo é esfregado em todo o seu corpo.
Ao menstruar novamente, ela avisa a mãe, que repassa ao pai, que espalha para
toda a aldeia. Ela sai da rede e é banhada pela tia, que tira todo o óleo do corpo.
As castanhas são expostas para os homens as quebrarem no final da tarde. Às
cinco horas da manhã, o pai levanta cantando e anunciando que está chegando o
dia do casamento. O pai, o tio, os irmãos, o marido e noiva vão até o rio, onde
pegam água para cozinhar a castanha. Os outros preparam suas flechas e
pinturas. Depois as mulheres, junto à menina, cozinham as castanhas.
A menina recebe vários presentes para se enfeitar (colar de dente de onça,
pulseiras e colar de dente de capivara). O marido recebe como presentes
cocares, flechas e colares de dente de gato selvagem e lontra. Os presentes não
podem ser repassados a outros. A menina tem que tomar banho todo o dia e
pegar chuva para tirar o cheiro do óleo de babaçu.
Cultura material
Meninos Uru-Eu-Wau-Wau adornados, Posto de vigilância
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Comandante Ary (antigo Posto Indígena Alta Lídia). Foto: Jesco von
Puttkamer, 1985.
Em momentos rituais, os índios pintam o corpo com urucum, e em guerra
pintam o peito com jenipapo num formato de "X", que se assemelha a um
pássaro com asas abertas. Tatuam a face, com um risco da boca à orelha em
volta dos lábios. Talvez por isso já tenham sido conhecidos com o nome de
"Boca-Preta". Os homens, além de tatuarem o rosto, tatuam no braço esquerdo
um peixe, feito com uma folha do mato. Esta tatuagem é feita no ritual da
transformação do menino para guerreiro, quando o menino tem
aproximadamente 13 anos.
As mulheres tatuam em volta da boca um desenho em formato circular, que
costumam dizer que é a representação de uma cobra grande. A tatuagem facial
de homens como de mulheres era tradicionalmente feita durante o ritual do
casamento. Diante, porém, de tantas transformações que vêm sofrendo os povos
Jupaú e Amondawa, os homens deixaram de se tatuar. As mulheres ainda o
fazem, pois acreditam estarem assim protegendo maridos e filhos durante as
caçadas.
Uru-Eu-Wau-Wau colocando o Tiki-uba em sua flecha. Foto: Jesco
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von Puttkamer, 1985.
Os cocares e flechas são confeccionados pelos homens com penas de papagaio,
arara e gavião real, sendo usados pelos homens (adultos e crianças). Alguns
cocares de penas de gavião são feitos para serem usados quando os homens
morrem, quando são colocados em cima do corpo do morto, sendo usados
durante as festas só para manter as penas belas.
O cocar é tido como uma dádiva aos espíritos em troca de proteção. A pena do
gavião é considerada como protetora porque o gavião tem a capacidade de sumir
rápido e é difícil de ser observado na mata. Esses cocares não podem ser
vendidos nem dados.
As mulheres costumam usar colar de dente de capivara e os homens de porcão.
As mulheres também confeccionam colares e anéis de coco de tucumã e dentes
de outros animais. Atualmente também utilizam, em alguns casos, tampinhas de
remédios, botões e outros adereços nos colares.
Tradicionalmente, faziam panela de barro e cestos para carregar caças, coletar
frutos e mel na floresta.
Atividades produtivas
Uru-Eu-Wau-Wau caçando. Foto: Jesco von Puttkamer, 1985.
A caça é uma atividade masculina e ocorre próxima às aldeias, em trilhas
habituais, em barreiros, numa distância de aproximadamente 3 a 5 Km.
Também são formados grupos para caçadas em locais mais distantes.
Em diversos pontos da floresta há locais em que os animais e aves vão cavar e
lamber o solo para extrair o sal que existe em maior concentração. Os
amazonenses dão a esses locais o nome de barreiros ou chupadores e os índios
denominam de Itiwawa. No tempo da seca (Kuaripé) é mais fácil encontrar a
caça do que na época das chuvas por motivos diversos: época de frutas e
igarapés mais rasos e sem o incômodo das chuvas. A caça é dividida entre toda a
comunidade da aldeia.
Inventário das técnicas de caça: * Fazem tocaias (tukai) com palha de babaçu
para abaterem principalmente o inambu (diversos) próximo das aldeias, em
lugares em que estão caindo frutas e na proximidade de barreiros.
• Imitam o som dos animais para atraí-los (caititu, anta), sendo que, em
alguns casos, imitam o filhote (veado e queixada).
• Rastreamento, técnica esta que consiste em caminhar, seguindo por horas
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pegadas de queixada ou anta. Quando o animal foi atingido e tem
hemorragia, os índios seguem-no acompanhando as gotas de sangue no
solo da floresta.
• O arco e flecha eram os mais importantes instrumentos de caça e guerra
dos Jupaú, atualmente utilizam espingardas de calibres diversos. Os
velhos,porém, continuam usando o arco e a flecha. São utilizados
diferentes tipos de flechas: Uywa - ponta de taquara para abate de animais
maiores; Miarakanga - ponta de osso de onça para abate de
principalmente de aves e eventualmente de peixes; Um´ywa - ponta de
pupunha para abate de peixe.
• O uso da Tikyguywa na ponta da flecha é outra técnica, como causador de
hemorragia nos animais caçados.
A pesca é uma atividade realizada tanto pelo homem quanto pela mulher. Os
homens utilizam arco e flecha, arpão e redes malhadeiras durante a pescaria. A
época de maior abundância de peixe é no tempo da seca, quando os rios estão
em menor volume de água. Mesmo com a introdução de novas técnicas, a pesca
tradicional é realizada com o arco e flecha. A flecha apropriada tem ponta de
pupunha ou de osso de onça. O uso do "timbó" (método que envolve o
envenenamento dos peixes) é bastante freqüente, principalmente em épocas do
ano quando a pesca fica difícil.
Há uma seleção dos peixes que podem ser comidos e moqueados, ou cozidos na
panela, ou ainda enrolados em folhas de pacovas e colocados direto no fogo
(mpoquiga). Fazem farofa (pirakuia) socando no pilão a carne moqueada do
peixe. Costumam extrair e armazenar a gordura do peixe cachorro para comer
com farinha.
O peixe predileto era a jatuarana (piawuhua), que desapareceu do rio Jamari
após a construção da hidrelétrica de Samuel. Já os peixes Cuiucuiu e o Jandia
apareceram após a construção desta hidrelétrica.
Agricultura
Toda a família é envolvida nas atividades de subsistência. Durante o ano, as
atividades agrícolas vão se intercalando com as extrativistas, a caça, pesca e a
vigilância dos limites da Terra Indígena.
Cultivam mandioca e macaxeira. A macaxeira pode ser comida assada ou, uma
vez assada, transformada em um mingau não fermentado. Também produziam
farinha moendo a mandioca, que depois era colocada sobre uma esteira no sol
por vários dias para secar e em seguida ser consumida. Mas atualmente as
etapas da fabricação da farinha são: descascamento das raízes, com a utilização
de facas, terçados, a ralagem com ralador manual; a maceração e fermentação;
mistura feita em cocho de madeira; a prensagem, feita em prensas de madeira; a
torrefação é feita em tachos de latão e aquecidos com lenha. É uma atividade
realizada por homens e mulheres. Após a torrefação é colocada em sacos para
consumo interno e um excedente é vendido com o apoio da Funai. Também
produzem farinha de milho (watikuia) no pilão; consomem o milho verde ou
seco; também fazem mingau (Kaminha), que é consumido sem a fermentação.
Conhecem diversas variedades de cará (cara), que são plantados em roças novas
e em tocos de árvores abatidas. Em parte do roçado ou lado das malocas,
plantam uma variedade de batata doce (ytyga). Cultivam ainda uma variedade
de taioba (mabaé), e consomem suas folhas cozidas com carne e farinha que
chamam de mbotawa. Próximo das moradias também plantam uma variedade
de algodão (amanjiju) e urucum. O algodão é utilizado na fiação de cordões. O
urucum é usado para pintura corporal e como repelente de insetos.
O mamão é uma planta cultivada ancestralmente, brotando muitas vezes em
velhos roçados que são reutilizados.
O espaço utilizado para a roça é um local próximo às aldeias, escolhido na
floresta para ser desmatado e queimado no sistema de derrubada e queimada,
"coivara". Esta técnica ainda é a que prevalece até hoje entre os índios e também
entre os regionais, sendo que atualmente utilizam ferramentas cortantes de
metal.
Antes do contato usavam o machado de pedra como instrumento de corte das
árvores, o que era muito dificultoso na tarefa de derrubar a floresta para fazer
uma roça. Faziam também o desmatamento e queimada na época da seca. Este
tipo de manejo da floresta é denominado de "agricultura migratória".
Após o plantio e colheita da roça, esta é abandonada e forma-se uma capoeira,
que pode ser reutilizada para a roça alguns anos depois. O trabalho de
derrubada da roça é praticado pelos homens. O plantio, a limpeza e a colheita
são praticados por toda a comunidade da aldeia.
Alimentação
Cabe aos homens caçar, limpar o animal, construir o moquém (no caso de
animais de grande porte) e fazer o fogo. As mulheres preparam os demais
alimentos, pescam e cuidam dos filhos, que são tratados carinhosamente por
seus pais.
A carne é sua principal fonte de proteína e abundante na Terra Indígena. Há
uma seleção rigorosa no consumo dos animais, conforme a tradição Kawahib.
No tratamento do animal abatido, não é retirado o couro e colocado no fogo para
sapecar o pelo. As carnes dos animais são assadas (mokaen) em moquéns,
permanecendo conservada por vários dias quando colocadas no calor do fogo e
embrulhadas em palhas e cestos para não serem depositados ovos de varejeiras.
Baiupá, filho mais novo do chefe Djaí Uru-Eu-Wau-Wau, com favos
de mel silvestre. Foto: Jesco von Puttkamer, 1985.
Quando fazem farofa (mbiarakuia), socam no pilão a carne assada (moqueada)
de diversos animais. As gorduras da anta são extraídas e armazenadas para o
consumo com farinha. Quando abatem uma anta com feto, comem este assado
geralmente na folha de pacova.
Além dos animais mencionados, a alimentação é enriquecida pelo consumo de
mel e alguns insetos.
A coleta de frutas para serem consumidas in natura é uma atividade bastante
apreciada e complementam a alimentação. A Terra Indígena é rica em fruteiras,
neste trabalho relacionamos as que são especialmente utilizadas pelos índios.
Os Jupaú e Amondawa possuem diversos tabus alimentares, entre os quais:
• Os pais de um recém-nascido não podem consumir alimento quente, senão
cai o cabelo da criança e ela geme;
• Veado roxo: o consideram como gente. Se for comido, a pessoa fica com
tonteira e vai sendo morta devagar;
• Macaco: faz a criança chorar e não dormir;
• Jacu: mesma situação do veado roxo;
• Jacamim: se a pessoa tiver dois filhos pequenos, choram o tempo todo;
• Curimba e Urumará: dá coceira no corpo;
• Paca: dá mancha preta no corpo.
Ambos os grupos mantêm o hábito de criar aves e animais, que são utilizados
pelas famílias como fonte de matéria-prima de seus produtos artesanais e como
animais de estimação das crianças. São criadas araras e Gaviões Reais para
retirada de penas para as flechas e adornos.
Outras criações da aldeia, voltadas sobretudo para brincadeira das crianças, são:
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Inambu galinha (Namburawa); Inambu Tona (Nambuteua); Jacamim
(Gwyryao); Mutum (Mutun´a); Saracura (Arakuria); Periquito (Kykykyia);
Curica (Karainha); Papagaio (Airuia Airuua); Filhote de caititu (Taitetua);
Filhote de queixada (taiahu).
Nota sobre as fontes
O verbete sobre os Uru-Eu-Wau-Wau e Amondawa foi elaborado a partir do
Diagnóstico Etnoambiental Uru-Eu-Wau-Wau, Realizado pela ONG Kanindé em
parceira com a Associação Indígena Uru-eu-wau-wau e Funai, com o apoio do
Ministério do Meio Ambiente, e sob a supervisão de Ivaneide Bandeira Cardozo.
O referido diagnóstico funciona como um mapeamento geral da área indígena
Uru-Eu-Wau-Wau, contemplando tanto os aspectos sociológicos (antropológicos
e jurídicos), quanto ecológicos, considerando que fora feita uma pesquisa
exaustiva sobre a dinâmica física da região. As informações repassadas no
verbete são de extrema confiabilidade devido a Kanindé possuir um profícuo
diálogo com os povos indígenas da área Uru-Eu-Wau-Wau, além de terem
realizado um trabalho de campo extenso, auxiliado por uma equipe técnica
altamente qualificada. As possíveis imprecisões que podem aparecer em alguns
dados, principalmente no que se refere aos aspectos culturais, são em grande
medida decorrentes do contato recente desses povos, que atravessam hoje em
dia muitas transformações, sendo difícil determinar com precisão em que estado
se encontram algumas instituições.
Além do recente trabalho da Kanindé, podemos encontrar a dissertação de
mestrado de Mauro Leonel Jr., defendida em 1988 sob orientaçãoda Professora
Carmem Junqueira e posteriormente publicada em livro (em 1995). O estudo
teve como objetivo traçar um diagnóstico dos problemas enfrentados pelos Uru-
Eu-Wau-Wau à luz de fatos históricos e contemporâneos à época,
principalmente aqueles ligados às invasões extratoras (madeira, minério e
borracha), à perda significativa que esse povo teve de suas terras e à redes de
relação social. Do mesmo autor, podemos encontrar um artigo, "A desmarcação
das terras Uru-Eu-Wau-Wau", incluído na publicação Povos indígenas no Brasil,
volume 1987-1990 do antigo CEDI (que deu origem ao ISA), no qual narra, sob
uma perspectiva jurídica de decretos e homologações, os problemas que a terra
Uru-Eu-Wau-Wau atravessou, desde sua criação, até as medidas tomadas pelo
governo Sarney de revogar a homologação.
Fontes de informação
• CARDOSO, Maria Lúcia de M. Parecer Antropológico sobre os limites
territoriais da área indígena urueu-wau-wau. Porto Velho: Secretaria de
Estado de Agricultura de Rondônia e Fundação Nacional do Indio, 1989
(in mimeo).
• LEÃO, Maria Auxiliadora Cruz de Sá et al. Relatório de identificação da TI
Uru-eu-wau-wau. Brasília : Funai, 1985. 59 p.
• LEONEL JÚNIOR, Mauro de Mello. A "desmarcação" das terras Uru-Eu-
Wau-Wau. In: RICARDO, Carlos Alberto (Ed.). Povos Indígenas no Brasil :
1987/88/89/90. São Paulo : Cedi, 1991. p. 418-22. (Aconteceu Especial, 18)
• --------. Etnodicéia Urueuauau : o endocanibalismo e os índios no centro
de Rondônia; o direito a diferença e a preservação ambiental. São Paulo :
PUC-SP, 1988. 284 p. (Dissertação de Mestrado)
• --------. Etnodicéia Uru-eu-au-au : o endocolonialismo e os índios no
centro de Rondônia, o direito a diferença e a preservação ambiental. São
Paulo : Edusp ; Iamá ; Fapesp, 1995. 224 p.
• --------. Onde se esconder? Carta, Brasília : Gab. Sen. Darcy Ribeiro, n. 9, p.
107-12, 1993.
• NASCIMENTO, Eloiza Elena della Justina et al (orgs.). Diagnóstico
etnoambiental Uru-eu-wau-wau. Porto Velho : Kanindé, 2002. 483 p.
• PAIVA, José Osvaldo de. O silêncio da escola e os Uru-Eu-Wau-Wau do
alto Jamari. São Paulo : USP, 2000. 153 p. (Dissertação de Mestrado)
• PEASE, Helen; BETTS, LaVera. Anotações sobre a língua uru-eu-wau-wau.
Brasília : SIL, 1991. 55 p. (Arquivo Lingüístico)
• SAMPAIO, Wany Bernadete de Araújo. Estudo comparativo sincrônico
entre o Parintintin (Tenharim) e o Uru-eu-wau-wau (Amondawa) :
contribuições para uma revisão na classificação das línguas tupi-kawahib.
Campinas : Unicamp, 1997. 94 p. (Dissertação de Mestrado)
• SIMONIAN, Lígia Terezinha Lopes. Direitos e controle territorial em áreas
indígenas amazônidas : São Marcos (RR), Urueu-Wau-Wau (RO) e Mãe
Maria (PA). In: KASBURG, Carola; GRAMKOW, Márcia Maria (Orgs.).
Demarcando terras indígenas : experiências e desafios de um projeto de
parceria. Brasília : Funai/PPTAL/GTZ, 1999. p.65-82.
• --------. "This bloodshed must stop" : land claims on the Guarita and Uru-
Eu-Wau-Wau reservations, Brazil. Nova York : City University of New
York, 1993. 530 p. (Tese de Doutorado)
• --------. Os Uru-Eu-Wau-Wau e os Amundáwa no início dos anos noventa.
In: RICARDO, Carlos Alberto (Ed.). Povos Indígenas no Brasil : 1987/88
/89/90. São Paulo : Cedi, 1991. p. 423-25. (Aconteceu Especial, 18)
• Na trilha dos Uru-Eu-Wau-Wau. Dir.: Adrian Cowell. Vídeo Cor, 50 min.,
1990. Prod.: Morrow Carter; UCG.
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