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TC Vanessa Camargo Dias. O DILEMA DAS PROTAGONISTAS DE ECA. O QUERER E O DEVER.

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UNIP – Universidade Paulista 
Campus: Limeira 
Curso: Letras Língua Portuguesa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O DILEMA DAS PROTAGONISTAS DE EÇA: O QUERER E O DEVER. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Vanessa Camargo Dias – 1916977 
 
 
 
 
Limeira 
2021 
Vanessa Camargo Dias 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O DILEMA DAS PROTAGONISTAS DE EÇA: O QUERER E O DEVER.” 
 
 
 
 
 
 
Trabalho Monográfico – Curso de Graduação – Licenciatura em 
Letras Língua Portuguesa, apresentado à comissão julgadora da 
UNIP – Limeira, sob a orientação da professora Camila C. Souza 
Lima. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Limeira 
2021 
Banca Examinadora 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Limeira 
2021 
 
Camargo Dias, Vanessa.
 O dilema das protagonistas de Eça : O querer e o dever / Vanessa Camargo
Dias. - 2021.
 39 f.
 Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) apresentado ao curso de Letras -
Português da Universidade Paulista, Limeira, 2021.
 Orientador: Prof. Camila C. Souza Lima.
 1. Realismo e Naturalismo. 2. Eça De Queirós e as Mulheres do Século XIX. 3.
Amélia e Luísa e seus Dilemas. I. C. Souza Lima, Camila (orientador). II. Título.
Elaborada de forma automática pelo sistema da UNIP com as informações fornecidas pelo(a) autor(a).
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Dedico esse trabalho à todas as pessoas que 
acham que a hora de tentar algo novo já passou. 
Nunca é tarde para se fazer aquilo que mais 
gosta. 
 
 
 
 
 
 
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AGRADECIMENTOS 
 
 
 
Agradeço primeiramente à Deus, pela saúde e sabedoria, por cuidar de mim em todos 
os momentos e me guiar ao caminho correto sempre que duvidei de minhas capacidades. 
Agradeço também ao meu namorado e ao meu melhor amigo por sempre me 
incentivarem de todas as formas possíveis, por aguentar todas as chateações e livros 
espalhados, por respeitar minhas ausências, por toda a paciência e principalmente por me 
mostrar que nunca é tarde pra se fazer algo que realmente gosta. Infinitos agradecimentos, 
sem eles eu não teria conseguido. 
Agradeço a Professora Camila C. Souza Lima por todo o cuidado com meu trabalho, 
e por toda a ajuda e carinho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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SUMÁRIO 
 
 
Resumo ................................................................................................................................. 5 
1. Introdução ......................................................................................................................... 7 
2. Capítulo I: Realismo e Naturalismo ................................................................................. 9 
2.1 Realismo e Naturalismo Europeu ................................................................................... 9 
2.2 Realismo e o Naturalismo em Portugal ........................................................................ 11 
2.3 Eça de Queirós, História e Obra ................................................................................... 13 
3. Capítulo II - Eça De Queirós e as Mulheres do Século XIX .......................................... 21 
3.1 – A Mulher Do Século XIX ......................................................................................... 21 
3.2 – A Visão Do Feminino Por Eça .................................................................................. 23 
4. Capítulo III – Amélia e Luísa e seus Dilemas ................................................................ 27 
4.1 – Amélia, Inocência E Desejo ...................................................................................... 27 
4.2 – Luísa, Ilusão Romântica ............................................................................................ 30 
5. Conclusão ....................................................................................................................... 33 
Referências Bibliográficas ................................................................................................. 35 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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RESUMO 
O tema principal de nosso trabalho é o estudo das protagonistas de Eça de Queirós, 
Amélia e Luísa, em suas primeiras obras no movimento realista e naturalista, O Crime do 
Padre Amaro e O Primo Basílio. 
Analisaremos a época e o contexto em que essas mulheres estão inseridas, divididas 
entre seus deveres como mulher, esposa, filha, perante a sociedade e a descoberta da 
possibilidade de realização de seus desejos. Buscamos também entender o quanto para o 
autor era importante vir a contramão, apresentando uma visão feminina realista. 
Para termos uma noção mais ampla, recorremos a estudos biográficos para 
compreender o autor, e estudaremos também o contexto da época, O Realismo e Naturalismo 
europeu, e o que o levou a criação dessas obras e a construção dessas personagens. 
O trabalho divide-se em três capítulos. O primeiro capitulo, denominado Realismo e 
Naturalismo, subdivide-se em três partes, duas voltadas ao estudo do contexto em que as 
obras estão inseridas, a origem do movimento realista e naturalista na Europa, e sua chegada 
em Portugal. A terceira parte é reservada ao autor das obras estudadas em nosso trabalho, 
Eça de Queirós, e podemos ver brevemente sobre sua vida pessoal, e seu processo evolutivo 
no ramo literário. 
O autor faz parte do título de nosso próximo capítulo, Eça De Queirós e as Mulheres 
do Século XIX. Capitulo esse em que podemos ver sobre a mulher oitocentista e as possíveis 
razões utilizadas por Eça para a construção das personagens Amélia e Luísa. O capitulo 
subdivide-se em duas partes, a primeira dedicada a Mulher Do Século XIX e a segunda a 
visão de Eça para o feminino. 
Finalizamos nosso estudo com o terceiro capítulo, Amélia e Luísa e seus Dilemas, e 
nele podemos observar separadamente as características de nossas protagonistas, seus 
dilemas e deveres como mulher, seus desejos e o que as movia. 
Vemos através dessa análise monográfica, a evolução feminina e a retratação da 
realidade que Eça busca nessas obras. 
 
 
Palavras chave: Realismo e Naturalismo; Mulher oitocentista; Crimes e Pecados. 
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ABSTRACT 
The main theme of our work is the study of the protagonists of Eça de Queirós, 
Amélia and Luísa, in their first works in the realist and naturalist movement, O Crime do 
Padre Amaro and O Primo Basílio. 
We will analyze the time and context in which these women are inserted, divided 
between their duties as a woman, wife, daughter, before society and the discovery of the 
possibility of fulfilling their desires. We also sought to understand how important it was for 
the author to go against the grain, presenting a realistic female vision.In order to have a 
broader notion, we resorted to biographical studies to understand the author, and we will 
also study the context of the time, European Realism and Naturalism, and what led him to 
create these works and build these characters. 
The work is divided into three chapters. The first chapter, called Realism and 
Naturalism, is divided into three parts, two dedicated to the study of the context in which the 
works are inserted, the origin of the realist and naturalist movement in Europe, and its arrival 
in Portugal. The third part is reserved for the author of the works studied in our work, Eça 
de Queirós, and we can see briefly about his personal life, and his evolutionary process in 
the literary field. 
The author is part of the title of our next chapter, Eça De Queirós and the Women of 
the 19th Century. In this chapter, we can see about nineteenth-century women and the 
possible reasons used by Eça for the construction of the characters Amélia and Luísa. The 
chapter is divided into two parts, the first dedicated to the Woman of the 19th Centuryand 
the second to Eça's vision for the feminine. 
We end our study with the third chapter, Amélia and Luísa and their Dilemmas, and 
in it we can separately observe the characteristics of our protagonists, their dilemmas and 
duties as a woman, their desires and what moved them. 
Through this monographic analysis, we see the female evolution and the portrayal of 
reality that Eça seeks in these works. 
 
 
Keywords: Realism and Naturalism; nineteenth century woman; Crimes and Sins. 
7 
 
1. INTRODUÇÃO 
O século XIX foi marcado por um período de puritanismo em relação às mulheres e 
foi justamente nessa época que floresceram na literatura as primeiras questões ligadas 
especificamente às mulheres como em Madame Bovary de Flaubert com Emma, e Amélia e 
Luísa de Eça de Queirós. Foi uma época onde surgiu a necessidade de dar voz às mulheres 
e começar a mostrá-las como realmente são, com suas fraquezas, opressões e anseios. 
Abordaremos em nosso estudo, os dilemas da mulher protagonista na obra romanesca 
de Eça de Queirós, perante seus deveres como mulher, esposa, filha, perante a sociedade e a 
descoberta da possibilidade de realização de seus desejos. Dentro dessa temática iremos 
analisar o papel desempenhado por Amélia de O Crime do Padre Amaro e Luísa de O Primo 
Basílio. Ambas obras realistas, onde podemos ver a forma como o autor representa as suas 
primeiras personagens femininas dentro desse novo movimento, diferentes do movimento 
romântico, que o antecede. 
A opção por este autor não foi uma escolha aleatória de escritores consagrados. Trata-
se, acima de tudo, de um apreço muito grande pelo estilo de Eça de Queirós e pela temática 
de suas obras. 
Para isso, é preciso situar o tempo e o contexto em que essas mulheres, divididas 
entre seus desejos e o cumprimento de seus deveres, se inserem. Estudaremos o autor e 
também o contexto da época, O Realismo e Naturalismo na Europa, e o que o levou a criação 
dessas obras e a construção das personagens 
Tendo em conta que um dos nossos objetivos é analisar a existência (ou não) de uma 
evolução da mulher retratada na linha temporal da obra queirosiana, o nosso estudo abrange 
as duas obras de Eça de Queirós, O Crime do Padre Amaro e O Primo Basílio, porem 
utilizaremos também de outras obras como objetos de estudo pontuais em alguns aspectos 
de confirmação das narrativas como leitura de alguns pensadores do século XIX que será 
fundamental para compreendermos os principais aspectos da sociedade portuguesa do século 
XIX: a família, a educação, o ócio e a ausência de papel social da mulher. Será necessário 
também recorrermos a alguns estudos biográficos para compreendermos a importância e o 
lugar que essas mulheres tiveram na vida do autor que justifique sua visão. 
8 
 
Os dois romances que serão objeto de estudo deste trabalho situam-se bem dentro da 
linha realista, segundo João Décio (2001) para a ALFA: Revista de Linguística: 
Romance de crítica social, de demonstração da existência de chagas morais na 
sociedade portuguesa. Romances com preocupação evidente de tese, com visível 
influência da teoria de Taine, do evolucionismo de Darwin e o pessimismo de 
Schopenhauer; romances, enfim, firmemente colocados no processo de renovação 
social e humanista de Portugal. 
A ideia da opressão feminina nos vem de imediato quando pensamos na mulher 
oitocentista. Um período marcado pelo medo e pelos sacrifícios femininos em prol dos bons 
costumes. A mulher bem vista era a mulher casta, casada, religiosa e qualquer coisa que 
destoasse disso era visto com maus olhos. 
Em contrapartida, o movimento realista vem para quebrar esse paradigma da mulher. 
Eça nos mostra em seus primeiros romances realistas o desafio que foi inserir características 
reais a suas protagonistas, expondo seus desejos, suas fraquezas e pecados. Em As 
personagens femininas e a ironia de Eça de Queirós, de Suely do Espirito Santo (2001) 
vemos uma colocação importante: 
Para compreender as mulheres ecianas era necessário compreender primeiro o 
seu tempo. Compreendendo o tempo, compreendia-se o homem, suas ideias e as 
influências que o contexto social exercia sobre ele. 
Os comportamentos femininos reais são exacerbados tanto na estética, e isso se 
percebe nas descrição das personagens, quanto nas descrições das suas personalidades. 
Outros parâmetros importantes são as análises perante o comportamento social das heroínas. 
A ingenuidade e beatice de Amélia que a leva a se apaixonar por Amaro e cometer o pecado 
da luxúria, mesmo acreditando ser um relacionamento abençoado por Deus e o adultério por 
exemplo, citado em O Primo Basílio, mostra uma mulher que tem desejos, e que passa por 
cima dos obstáculos morais para se satisfazer, ou seja, ambas vivem dualidade emocional. 
A presente pesquisa teórica empregará o método bibliográfico, através da pesquisa 
das obras de Eça de Queirós citadas como referência, bem como artigos publicados na 
Internet e a análise decorrerá de forma comparativa sempre que possível. Isto significa que 
é necessário procurar os pontos de contato entre as duas obras, vendo onde são semelhantes, 
mas também onde se distinguem. 
 
 
9 
 
2. CAPÍTULO I – REALISMO E NATURALISMO 
2.1 Realismo e Naturalismo Europeu 
O Realismo aparece na segunda metade do século XIX, na Europa. Movimento 
artístico-literário influenciado pelas transformações políticas, econômicas e científicas da 
época. Defende uma observação objetiva da vida, onde, do ponto de vista otimista, é possível 
melhorar a sociedade, porém, tenta livrar-se da tentação moral do romantismo. 
Economicamente o período vinha de um pós Segunda fase da Revolução Industrial, 
marcada pelo progresso material da burguesia industrial que experimentava em virtude das 
inovações científicas e tecnológicas esse novo modo de vida. 
Embora a burguesia tenha sido beneficiada pelo movimento, as condições sociais do 
proletariado seguiam cada vez piores. Influencias socialistas como de Karl Marx, Proudhon, 
Robert Owen e Friedrich Engels, trouxeram aos operários, desejos de organização política e 
consecutivamente a fundação de associações trabalhistas onde um dos principais objetivos 
era exigir melhores condições de trabalho. 
No entanto, podemos perceber que o Naturalismo diferencia-se do Realismo em 
traços bem concretos. Ainda que seja comum vermos os movimentos constantemente lado a 
lado, nas obras literárias há temáticas específicas às duas estéticas. 
O Realismo, centra-se em temáticas familiares como a educação, o adultério, de vida 
económica como a ambição, a censura, a opressão e em temas da vida cultural e social o 
formalismo, a política e o parlamentarismo. Os temas naturalistas são próximos dos realistas, 
mas acrescentam preocupações científicas incidindo como o alcoolismo, a histeria, o roubo, 
a homossexualidade ou a alienação mental. Esses traços naturalistas podem ser vistos em 
romances como Nana (1880) e L’ Assomoir (1876), ambas de Zola, a primeira abordando a 
prostituição, e a segunda, o alcoolismo. Através disso conseguimos identificar que o espaço 
social privilegiado pelo romance realista seja o burguês, enquanto o do naturalista é mais 
popular, o povo trabalhador, o marginal. 
A queda da aristocracia contraposto a ascensão da burguesia ao poder caracteriza um 
cenário onde vemos a burguesia com plenos poderes utilizando métodos administrativos 
aristocráticos, porém apresentando uma postura não tradicionalista. 
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Grandes movimentações aparecem no campo científico. A ciência era vista como 
única capaz de decifrar o Universo e a realidade, como podemos ver nos escritos de Auguste 
Comte, e seu Curso de Filosofia Positiva (publicado entre 1830 e 1842), o qual implica o 
Positivismo como sistema filosófico científico a fim de aplicar às ciências sociais princípios 
analíticos equivalentes aos das ciências naturais. Ele rejeita a Teologia e a Metafísica pornão serem ciências positivas, portanto desprovidas do instrumental necessário para a análise, 
experimentação e sistematização da realidade, Comte ambicionava criar uma física social 
(MOISES, 1994, p.97) ou seja, um estudo científico das leis fundamentais próprios dos 
fenômenos sociais. O positivismo do pensamento de Comte estende-se aos campos artísticos 
e sócio-político-econômicos. Hipólito Taine nos propõe em História da Literatura Inglesa 
(1864) e Filosofia da arte (1869) a teoria determinista, que nos diz que toda a obra de arte 
sofre a influência do meio, como raça, o meio social e o contexto histórico. 
Este frisson cientificista repercutiu nas artes, extinguindo o subjetivismo, o idealismo 
e a imaginação romântica. Surge então este novo movimento que, opondo-se ao idealismo 
etéreo dos românticos, se denomina realista, visando retratar a vida como ela é, buscando as 
causas determinantes das mazelas humanas e sociais. 
Os focos iniciais do movimento foram acabar com o idealismo romântico e seu 
emocionalismo exagerado, colocar na literatura essas ideias científicas, esmiuçar o 
comportamento psicológico e retratar a realidade de forma. A literatura romântica já não 
dava conta desse espírito e desse furor científico e os escritores sentiram necessidade de criar 
uma literatura em sintonia com esse novo momento artístico. 
As primeiras manifestações realistas, enquanto movimento estético, vêm da França. 
Já na década de 1830. Por volta de 1840, alguns críticos ligam Honoré de Balzac a uma 
“escola realista” em “A Comédia Humana de ser um historiador da sociedade 
contemporânea”. Os romances de Balzac, segundo Arnold Hauser, são "os primeiros livros 
voltados à nossa própria vida, nossos problemas vitais, a dificuldades e conflitos morais 
desconhecidos de gerações anteriores" (HAUSER, 1995, p.726). 
Os realistas usaram a literatura como arma de combate, como instrumento de reforma 
e ação social, a serviço de causas maiores. A poesia é vista com tom panfletário e polêmico, 
visando dar à literatura um estatuto de ciência. Segundo Zola (1983), o homem é produto 
passivo do meio, do momento, da herança. 
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Conforme dito, a estética realista aparece na Europa no século XIX como o oposto 
do romantismo e aparece na França em 1857 com a publicação do romance Madame Bovary 
(1856) de Flaubert que marcou de fato a virada para o pensamento realista. 
Ao publicar a obra Madame Bovary, Flaubert enfrentou repressão e chegou a ir a 
tribunal por conta de seu romance. Assim, o escândalo do público francês pode ser visto na 
perspectiva imoral de Madame Bovary diante do adultério da protagonista e todas suas 
exposições. 
Emma Bovary, personagem criada por Flaubert, lida com questões existenciais como 
o ócio, o tédio burguês e influenciada pela literatura dos romances, idealiza um marido 
perfeito, um herói, e obviamente se decepciona. Criar um marido fruto das ideias românticas 
a leva a buscar esse relacionamento perfeito em outros lugares, chegando a cometer 
adultério. Podemos observar a crítica do autor ao retratar essa mulher vítima do romantismo, 
sem saber seu papel na sociedade, totalmente perdida com fraquezas expostas. Característica 
que antes não víamos nos romances, que o realismo nos trouxe. 
 
2.2 Realismo e o Naturalismo em Portugal 
O movimento realista e naturalista demora um tanto para chegar até Portugal, e assim 
como aconteceu com o Romantismo em Portugal, também foram as influências do exterior 
que possibilitaram a revolução realista cultural portuguesa, sobretudo de obras vindas de 
França. 
A influência dá-se sobre um conjunto de estudantes de Coimbra, ávidos de novidade, 
e que configuram a Geração de 70. Sob a liderança de Antero de Quental, promoveram em 
1871 uma série de Conferências Democráticas denominada Cassino Lisbonense, cujo os 
temas debatidos eram diversos, tal como os conferencistas. O programa, divulgado no jornal 
A Revolução de Setembro, de 18 de Maio de 1871, era assinado pelas seguintes figuras: 
Adolfo Coelho, Antero de Quental, Augusto Soromento, Augusto Fuschini, Eça de Queirós, 
Germano Vieira de Meireles, Guilherme de Azevedo, Jaime Batalha Reis, Oliveira Martins, 
Manuel de Arriaga, Salomão Sáragga e Teófilo Braga. 
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A quarta conferência é a que nos leva ao ambiente deste trabalho foi proferida por 
Eça de Queirós, intitulada “A Literatura Nova (O Realismo como nova expressão da arte)”, 
onde o conferencista define o realismo da seguinte forma: 
É a negação da arte pela arte; é a proscrição do convencional, do enfático e do 
piegas. É a abolição da retórica considerada arte de promover emoção, usando 
da inchação do período, da epilepsia da palavra, da congestão dos tropos. É a 
análise com o fito na verdade absoluta. Por outro lado, o realismo é uma reacção 
contra o romantismo: o romantismo era a apoteose do sentimento; o realismo é a 
anatomia do carácter, é a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos 
próprios olhos – para condenar o que houve de mau na nossa sociedade. 
Esta conferência marca o início do Realismo como escola literária em Portugal, 
consolidado três anos mais tarde pela publicação da primeira narrativa realista, da autoria de 
Eça de Queirós “Singularidades de uma Rapariga Loura”, conto protagonizado por uma 
misteriosa mulher que se vem a revelar uma ladra e que vem a lume no suplemento cultural 
do Diário de Notícias. 
A segunda obra literária realista também recebe a assinatura de Eça. O romance O 
Crime do Padre Amaro, que teve três versões, sendo a primeira publicada em 1875, em 
folhetins, na Revista Ocidental. A segunda versão, como afirma Carlos Reis em Eça de 
Queirós: do Romantismo à superação do Naturalismo (p. 176), representa uma viragem no 
sentido do naturalismo. Interpretando o movimento em que procurava filiar-se de forma 
excessivamente rígida e doutrinária, Eça recompõe a ação e sobretudo a caracterização das 
personagens”. Já a terceira versão pode considerar-se mais amadurecida como resultado da 
demorada elaboração a que Eça a submeteu. 
Este romance retrata a temática do Realismo e do Naturalismo, a crítica à influência 
do catolicismo clerical sobre a sociedade portuguesa através das personagens de clérigos 
corruptos, mas também de beatas e de devotas submissas àqueles, cegas pela ilusão de 
santidade, de que tudo que é feito em nome de Deus, é bom. O Primo Basílio (1878) é outro 
romance considerado por Carlos Reis como naturalista. O tema abordado nessa narrativa é 
o adultério de Luísa, que, num ambiente de ociosidade burguesa e de leituras românticas, 
acaba por ter um caso com Basílio, o primo referido no título. Nestes dois romances é visível 
a tese naturalista da influência determinista do meio e da educação sobre o destino das 
personagens. O afastamento de Eça em relação ao Naturalismo acentua-se nos romances 
seguintes. Em 1888, Eça de Queirós publica a sua obra Os Maias. Desta vez o romance 
afasta-se já em vários aspetos da estética naturalista, pois a excelente educação inglesa a que 
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o protagonista Carlos da Maia é submetido não o impede de cair na ociosidade e no incesto 
(voluntário) com a irmã Maria Eduarda. 
 
2.3 Eça de Queirós, História e Obra 
Eça de Queirós é considerado o grande mestre do romance português moderno e com 
certeza o mais popular entre os escritores de Portugal do século XIX, figura principal do 
Realismo-Naturalismo português. Vivenciou diversas transformações literárias tanto da 
postura estética quanto ideológica. Dessa forma, sua produção literária não se limita aos 
moldes do Romantismo nem do Realismo e Naturalismo, uma vez que o escritor português 
sempre procurou acompanhar as grandes mudanças culturais da Europa do seu tempo. 
José Maria Eça de Queirós nasceu no ano de 1845, na Póvoa do Varzim, no dia 25 
de novembro. De família abastada, era filho do magistrado José Maria de Almeida Teixeira 
de Queiroz e de D. CarolinaAugusta Pereira de Eça. Seus primeiros anos de vida foram 
passados em Vila do Conde ao cuidado de uma ama oriunda de Pernambuco, Ana Joaquina 
Leal de Barros, e do seu marido, um alfaiate. Mesmo quando a ama faleceu, Eça não foi 
morar com os pais; foi para Verdemilho morar para casa dos seus avós paternos. 
Quanto aos estudos, Eça começou a aprender as primeiras letras com o Padre António 
Gonçalves Bartolomeu. Após o falecimento de sua avó foi matriculado no Colégio da Lapa, 
no Porto, dirigido pelo pai de Ramalho Ortigão, onde permaneceu até ingressar na 
universidade. 
Matriculou-se em 1861 no primeiro ano da Faculdade de Direito de Coimbra, onde 
fez amizade com Teófilo Braga, Antero de Quental, entre outros nomes futuramente 
importantes na literatura portuguesa. Seis anos mais tarde, Eça formou-se em Direito e foi 
morar para Lisboa com os pais e os irmãos, com o título de advogado no Supremo Tribunal 
de Justiça. 
A vida literária de Eça iniciou-se em 1867 como tradutor. Seu primeiro trabalho foi 
como tradutor na peça de Joseph Bouchardy, Filidor, para o Teatro D. Maria I. Iniciou no 
ramo jornalístico também em 1867 com a publicação de folhetins na Gazeta de Portugal. No 
fim desse ano, partiu para Évora para assumir a redação, direção e administração do jornal 
da oposição, Distrito de Évora, fundado por um grupo de políticos que se opunham ao 
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governo de tendência regeneradora. No fim de 1867, formou-se o Cenáculo, onde se discutia 
arte, filosofia, política, entre outros assuntos, do qual o romancista foi um dos primeiros 
membros. 
Este grupo foi denominado Geração de 70. Dois anos depois foram publicados os 
primeiros versos de Carlos Fradique Mendes, espécie de heterônimo queirosiano, na 
Revolução de Setembro e no Primeiro de Janeiro. Em 1870, Eça publica no Diário de 
Notícias os relatos da viagem que tinha feito pelo Egito e pelo Canal do Suez. Ainda nesse 
ano, publicou no mesmo diário em colaboração com Ramalho Ortigão, O Mistério da Estrada 
de Sintra. Além disso, foi nomeado administrador do concelho de Leiria, o que interfere 
diretamente na escrita de O Crime do Padre Amaro, onde boa parte se passa nesta cidade. 
Nos anos 70, Eça de Queirós foi membro integrante da mais importante geração do 
século XIX português, a Geração de 70, juntamente com Antero de Quental, Ramalho 
Ortigão, Oliveira Martins, Teófilo Braga e Guerra Junqueiro, entre outros. Paralelo a 
participação de Eça e de Ramalho Ortigão na Geração de 70 portuguesa, começaram a 
publicar As Farpas, cujo primeiro número é datado de 1871. Nesse mesmo ano as 
Conferências Democráticas do Casino Lisbonense foram realizadas, onde Eça proferiu o 
discurso A Literatura Nova (ou O Realismo como Nova Expressão de Arte), inaugurando 
assim o realismo em Portugal, teoricamente. 
Três anos mais tarde publica aquele que é considerado o primeiro texto realista 
português, o conto Singularidades de uma Rapariga Loura, que apareceu no Brinde aos 
senhores assinantes do Diário de Notícias. Ao longo de 1875, Eça publicou em fascículos na 
Revista Ocidental o primeiro romance realista português, O Crime do Padre Amaro. A obra 
teve três versões distintas do livro, sendo a primeira de 1876, a segunda de 1880 e a terceira 
datando de 1889. 
Em 1878, Eça inicia sua colaboração num jornal do Rio de Janeiro, a Gazeta de 
Notícias. Dois anos mais tarde, foi publicada a novela O Mandarim em O Atlântico e no 
Diário de Portugal, e os contos Um Poeta Lírico e No Moinho, em O Atlântico. Em 1886, 
Eça de Queirós casou-se com Emília de Castro Pamplona, após um noivado de um ano. 
Nessa altura Eça contava 41 anos. 
Eça de Queirós concorreu em 1887 com A Relíquia ao prémio D. Luís da Academia 
Real das Ciências. O romance foi publicado em livro ainda neste ano. Em 1888, foi publicada 
15 
 
aquela que é considerada a sua obra-prima, Os Maias. Nesse ano formou-se em Lisboa o 
grupo Vencidos da Vida, com reuniões no Hotel Bragança. Eça só começou a fazer parte 
deste grupo em 1889, na quarta formação do grupo, porque no ano anterior havia sido 
nomeado cônsul em Paris, mudando-se para lá. Por outro lado, Eça exerceu idênticas funções 
diplomáticas em outros pontos do mundo, como Havana, Newcastle e Bristol, e foi distante 
de “casa”, com um olhar mais no estrangeiro que Eça escreveu a maioria da sua obra 
romanesca. 
Eça de Queirós tinha falecido, após doença prolongada, a 16 de agosto de 1900 em 
Neuilly, Paris. Quando Machado de Assis, escritor brasileiro que iniciou o realismo no 
Brasil, soube da morte de Eça, escreveu em uma carta para Henrique Chaves: 
Meu caro H. Chaves. – Que hei de eu dizer que valha esta calamidade? Para os 
romancistas é como se perdêssemos o melhor da família, o mais esbelto e o mais 
válido. […] Por mais esperado que fosse este óbito, veio como repentino. Domício 
da Gama, ao transmitir-me há poucos meses um abraço do Eça, já o cria 
agonizante. Não sei se chegou a tempo de lhe dar o meu. 
Percebe-se a admiração de Machado por Eça, ainda que de começo tenha o criticado 
após as publicações de O Crime do Padre Amaro e O Primo Basílio. 
A obra romanesca de Eça de Queiroz não terminou após sua morte. Temos 
publicações semi póstumas como A Ilustre Casa de Ramires (1900) e A Correspondência de 
Fradique Mendes (1900), e também póstumas, como A Cidade e as Serras (1901), A Capital 
(1925), O Conde d’Abranhos (1925) e A Tragédia da Rua das Flores (1980). 
Ainda que não seja tão abordado pela crítica ou pela didática, Eça de Queirós também 
teve uma fase romântica, correspondente aos seus primeiros escritos: Prosas Bárbaras (1903, 
póstumo), conjunto de crônicas e contos intitulados e organizados por Batalha Reis, e O 
Mistério da Estrada de Sintra (1870), este escrito em colaboração com Ramalho Ortigão, em 
cartas e folhetins, no Diário de Notícias. É ainda na sua fase romântica que Eça nos apresenta 
sua invenção, o poeta satânico Carlos Fradique Mendes, que irá reaparecer mais tarde em 
outra obra. Ainda nesta fase, Eça desenvolve uma visão poética do mundo, bastante 
romântica, mas afetada pelas doutrinas panteístas que se cultivavam no seu tempo. 
Podemos notar as influências românticas em alguns dos seus romances realistas e 
naturalistas, como afirma Carlos Reis: 
16 
 
[…] n‘O Primo Basílio o Romantismo constitui um crucial elemento temático, n‘ 
O Crime do Padre Amaro ele reaparece ainda. O ambiente dos serões em casa da 
S. Joaneira, «adornado» com a guitarra de Artur Cauceiro e a poesia de Soares 
dos Passos, mostra que, mesmo no provinciano unário cultural de Leiria, o 
Romantismo manifesta a sua presença, embora de forma menos incisiva do que 
n‘O Primo Basílio. 
A obra de Eça divide-se em quatro fases. Vamos observá-las segundo as análises do 
crítico literário Carlos Reis. 
 
Primeira Fase: “Aprendizagem Da Escrita” (1866-1871) 
A primeira fase das obras de Eça de Queirós, “Aprendizagem da Escrita” (1866- 
1871), abrange os tempos da Universidade, momento em que Eça participa da agitação da 
Coimbra romântica e boêmia dos anos 60. Em uma carta dirigida a Carlos Mayer, que está 
integrada nas Prosas Bárbaras, Eça evoca sua passagem pela Universidade: 
Havia entre nós todas as teorias e todas as seitas: havia republicanos bárbaros, 
e republicanos poéticos; havia místicos que praticavam as éclogas de Virgílio; 
havia materialistas sentimentais e melancólicos que proclamavam a matéria com 
uma meiga languidez nos olhos, e falavam da força vital, quase de joelhos, com 
as mãos amorosamente postas; havia pagãos que lamentavam as suas penas de 
amor, castamente, sob a névoa luminosa dos astros. Tudo havia, e também a 
serena amizade incorruptível, o fecundo amor do dever, e a ingenuidade risonha 
de tudo o que desperta. (QUEIROZ, 2000, p. 87- 88). 
A figura de Antero de Quental se sobressai como o grande mentor intelectual de uma 
geração de jovens dispostos a acolher as correntes estéticas e ideológicasvindas do exterior. 
E é Antero um dos protagonistas do primeiro sinal de renovação literária e ideológica da 
época: a Questão Coimbrã. Trata-se de um conflito de gerações, uma polêmica importante, 
pois revela ao público vultos intelectuais que mais tarde fariam parte da chamada Geração 
de 70. 
Tal discussão colocou em debate o conceito de escritor e sua função, assinalando o 
que seria a literatura realista e seu papel social. Eça não atuou diretamente na polêmica, mas 
realizou uma análise do que foi a Questão Coimbrã em alguns de seus escritos. Nessa 
chamada primeira fase, Antero de Quental e Teófilo Braga são referências fundamentais na 
vida de Eça de Queirós. 
Ainda dentro da primeira fase queirosiana, Carlos Reis lembra o retorno de Eça a 
Lisboa, período que o escritor inventou juntamente com Antero e Batalha Reis a figura de 
17 
 
Carlos Fradique Mendes. Este surge pela primeira vez nas páginas da Revolução de 
Setembro de 29 de agosto de 1869 e posteriormente em outras obras e com outros autores. 
Ao final de 1869, Eça viaja para Oriente com a finalidade de assistir à inauguração 
do canal de Suez, essa viagem deixa um longo rastro em sua obra e dentre eles a obra A 
Relíquia. Carlos Reis acredita que tanto a invenção de Fradique Mendes quanto a 
composição de O Mistério da Estrada de Sintra prolonguem ainda mais o tom e a temática 
romântica, que caracterizam este Eça inserido no chamado tempo de aprendizagem literária. 
 
Segunda Fase: “Escrita Do Real” (1871-1880) 
A segunda fase de produção literária de Eça de Queirós, denominada “Escrita do 
Real”, determina que esse período envolve as obras surgidas entre 1871 e 1880, segundo 
Carlos Reis. O Carlos assinala a confirmação da estética realista na escrita queirosiana, já 
visível previamente em As Farpas. São as chamadas Conferências do Casino (1871) que 
marcam a vida literária de Eça de Queirós e de sua geração e consolida-se o espírito 
revolucionário da Geração de 70, iniciado com a Questão Coimbrã. 
Nas conferências, debatem-se diversos temas, todos girando em torno da ideia de 
“Regeneração”. Existe uma atenção especial por parte dos autores aos mais diversos aspectos 
que formam a sociedade portuguesa: padres, políticos, pescadores, jornalistas, nada passa 
despercebido aos seus olhares minuciosos. Essa preocupação com o real, com os fatos 
contemporâneos continuará presidindo a escrita dos trabalhos romanescos realista-
naturalistas de Eça de Queirós. Durante sua passagem pelo estrangeiro, Eça não deixou de 
criticar a vida pública portuguesa. Nesse tempo, Eça tinha em mente um projeto intitulado 
As Cenas Portuguesas (ou Cenas da Vida Portuguesa), cujo principal objetivo era realizar 
uma ampla crônica de costumes envolvendo um conjunto de narrativas. O escritor português 
comenta esse projeto em uma carta endereçada a Teófilo Braga: 
A minha ambição seria pintar a Sociedade portuguesa, tal qual a fez o 
Constitucionalismo desde 1830 – e mostar-lhe, como num espelho, que triste país 
eles formam, eles e elas. É o meu fim nas Cenas da Vida Portuguesa. É necessário 
acutilar o mundo oficial, o mundo sentimental, o mundo literário, o mundo 
agrícola, o mundo supersticioso – e com todo o respeito pelas instituições que são 
de origem eterna, destruir as falsas interpretações e falsas realizações que lhes 
dá uma sociedade podre. (QUEIROZ, 1951, p.52-53) 
 
18 
 
Para Reis, o essencial da “Escrita do Real” é a publicação e revisão de romances com 
essência realista-naturalista: O Crime do Padre Amaro (com três versões, 1875, 1876 e 1880) 
e O Primo Basílio (1878). No programa realista, a personagem é caracterizada socialmente, 
isto é, uma espécie de síntese de traços coletivos e individuais. A história de O Crime do 
Padre Amaro é longa e possui várias etapas, uma vez que o romance tem três versões 
conhecidas. A primeira versão é lançada em 1875 na Revista Ocidental, por uma iniciativa 
de Antero de Quental e Jaime Batalha Reis e se assemelha aos moldes românticos. Já a 
segunda versão demonstra uma aproximação da doutrina Naturalista, onde há mais 
influência do meio sobre as personagens. Na terceira versão de O Crime do Padre Amaro 
comprova-se o esmiuçador trabalho de composição realizado por Eça de Queirós, como 
resultado a obra se encontra mais madura e equilibrada. O Crime do Padre Amaro faz uma 
crítica dos costumes eclesiásticos, busca comprovar duas teses: o sacerdócio sem vocação, 
seja por obrigação ou por interesse leva o padre à perda dos valores morais e o fanatismo 
religioso da mulher acarreta pode cegá-la. 
O segundo romance a integrar a fase “Escrita do Real”, estabelecida por Carlos Reis, 
é O Primo Basílio (1878). Obra fundamental do Realismo Naturalismo português, o livro 
inova nos oferecendo uma crítica dos costumes da pequena burguesia de Lisboa. Eça 
promove uma crítica a uma das instituições tidas como mais sólidas: o casamento. 
Eça de Queirós explora temas como o adultério, o erotismo, situações dramáticas 
geradas a partir de sentimentos fúteis e mesquinhos, diferente dos textos românticos. Tudo 
o que o narrador faz tem por objetivo despertar o interesse e ao mesmo tempo atacar a 
sociedade lisboeta. 
O Primo Basílio nos apresenta a reflexão do autor sobre o atraso da sociedade 
portuguesa em um mundo profundamente transformado pela revolução Industrial e pelo 
desenvolvimento tecnológico. 
Em um artigo de 1883, “Positivismo e Idealismo”, Eça de Queirós reflete sobre o 
Realismo-Naturalismo. Nota-se no artigo que há um afastamento de Eça dos modelos 
literários realistas: 
Em literatura, estamos assistindo ao descrédito do naturalismo. O romance 
experimental, de observação positivista, todo estabelecido sobre documentos 
findou (se é que jamais existiu, a não ser em teoria), e o próprio mestre do 
naturalismo, Zola, é cada dia mais épico, à velha maneira de Homero. A simpatia, 
o favor, vão todos para o romance de imaginação, de psicologia sentimental ou 
19 
 
humoristica, de ressureição arqueológica (e pré-histórica!) e até de capa e 
espada, com maravilhosos embróglios, como nos robustos tempos de Artagnan. 
(QUEIRÓS, 1951, p.251). 
 
Terceira Fase: “Outros Mundos” (1880-1888) 
Eça de Queirós continua longe de Portugal por motivo da atividade profissional de 
cônsul e próximo dos mais importantes centros de difusão cultural do mundo, Londres e 
Paris, o que o torna consciente das mudanças enfrentadas pela arte europeia. Entende que a 
doutrina Naturalista passava por uma crise desde os finais dos anos 80. Entretanto, a 
distância do solo português não o torna menos preocupado com a realidade portuguesa. 
No ano de 1887, Eça de Queirós publica A Relíquia, regresso ficcional ao Egito e à 
Terra Santa. Com a Relíquia, Eça concorre a um prêmio da Academia. Após um longo 
trabalho, chega finalmente à publicação de Os Maias (1888) e as influências das mudanças 
artísticas dos grandes centros são notadas na obra. Nos romances naturalistas há um forte 
condicionamento do meio sobre as personagens, diferente de em Os Maias, onde observa-se 
uma relação inversa, ou seja, uma influência que vai das personagens para o meio. 
Diferentemente do que ocorre em O Crime do Padre Amaro e em O Primo Basílio, na história 
da família Maia ocorre uma valorização do destino. 
No ano em que Eça realiza o grande sonho de ser cônsul em Paris, propõe a Oliveira 
Martins o reaparecimento de Fradique Mendes. Com isso, está encerrada a fase “Outros 
Mundos Possíveis” (1880-1888). 
 
Quarta Fase: “Eterno Retorno” (1888-1900) 
A última fase da escrita de Eça de Queirós descreve-se como um retorno a temas, 
valores e processos, que aparentemente se encontravam superados na produção queirosiana. 
O escritor português dedica-se à atividade de cônsul e retoma Fradique Mendes. 
Nesse período, surgem novas cartas de Fradique Mendes e algumas obras ganham 
novas edições: O Crime do Padre Amaro e O Mandarim.20 
 
Eça de Queirós mostra-se em uma posição mais conservadora do que aquela vista 
vinte anos atrás. 
Além das cartas de Fradique, Eça escreve As Cidade e as Serras e manda para A 
Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro suas impressões enquanto cronista. Nessa fase, "Eterno 
Retorno” (1888-1900) – as obras queirosianas são marcadas pela evocação de um passado 
retocado pelo imaginário do ficcionista. 
Eça vive em Neuilly, tem uma existência familiar cada vez mais recolhida, o que não 
o faz deixar de pensar em novos projetos, como a revista O Serão. Além da Correspondência 
de Fradique Mendes, os grandes romances finais de Eça resumem-se em: A Ilustre Casa de 
Ramires e A Cidade e as Serras. Tais romances comprovam o retorno do escritor à história 
de seu país e ao cenário rural. 
Em 1900, depois de Eça falecido, A Ilustre Casa de Ramires sai publicada em volume 
e é nessa obra que notamos a dialética entre tradição e renovação. Eça de Queirós afasta-se 
da temática puramente estática e nostálgica. Para concretizar seu objetivo, o escritor cria 
duas histórias que se articulam ao longo do romance. No primeiro nível, é relatada a vida 
monótona de um autêntico fidalgo português, Gonçalo Mendes Ramires que busca um lugar 
de destaque na sociedade. No segundo nível, aparece um episódio histórico, no passado 
medieval. Gonçalo relata fatos ocorridos com seu antepassado, Tructesindo Ramires, cuja 
personalidade se define pela lealdade e honra. Há um contraste entre o comportamento de 
Tructesindo dos personagens. 
Já em A Cidade e as Serras, vemos como espaço primeiramente Paris e depois o 
Douro. Também possui ambiguidades expostas pela situação narrativa. Cabe ao narrador, 
Zé Fernandes, assumir o papel de observador da trajetória de Jacinto. No romance, há 
preocupações fundamentais surgidas em finais do século XIX. 
 
 
 
 
21 
 
3. CAPÍTULO II - EÇA DE QUEIRÓS E AS MULHERES DO SÉCULO XIX 
3.1 – A Mulher Do Século XIX 
O puritanismo feminino retratado no movimento romântico perde sua força no século 
XIX. Gustave Flaubert, em 1857, recebeu inúmeras críticas e respondeu processos por 
escrever Madame Bovary, romance considerado escandaloso para a época por colocar em 
plano principal o tema do adultério. Foi nessa época que podemos observar a abordagem de 
questões cotidianas e reais ligadas a mulher, como podemos notar em personagens como 
Emma Bovary (Flaubert), Capitu de Dom Casmurro (Machado de Assis), e as personagens 
ecianas (Luísa, Amélia) que são o objeto principal de nossa pesquisa. 
Durante séculos, a figura feminina foi interpretada e propagada como símbolo de 
submissão pela sociedade, tornando-a peça chave na propagação da superioridade 
masculina. 
Havia uma necessidade de dar voz a essas mulheres à medida que a questão da 
feminilidade surgia no cenário social dessa época, e através da literatura isso foi possível. A 
sensibilidade dos autores pode colocá-las em questão e estabelecer visões sobre a posição 
dessas mulheres na sociedade oitocentista. 
Ângelo Agostini, em 1886, citou em um artigo na Revista Ilustrada chamado “Com 
as damas”. Onde podemos notar a imprensa dando seus primeiros tons, mesmo que irônicos, 
a voz feminina, e a forma como a mulher era vista. 
Não será da nossa parte que as legítimas aspirações do sexo gentil, da mais 
simpática e metade do gênero, encontrarão qualquer embaraço, por mais 
insignificante que seja, à sua justa expansão. Confiamos muito no bom senso e na 
inteligência servida pela educação para recear que as mães, as irmãs e as 
esposas, abandonando a serenidade dos lares, se atirem à política e aos meetings, 
obrigando-nos a velar pela cozinha e pelos recém-nascidos. Não! A mulher 
manter-se-á na órbita que lhe convém e, se alguma exceção houver, estamos 
certos que esse papel ficará reservado às sogras. (SOIHET, 2004:14) 
Vista como personagem principal na proposta de construção da família burguesa, a 
mulher era vítima de críticas nos inúmeros jornais e revistas publicadas ao longo dos séculos 
XIX e início dos XX. 
A emancipação feminina era vista de forma caricata, e constantemente ridicularizada. 
Crônicas e charges sobre a inversão dos papéis, ridicularizando o movimento e até 
caricaturas maldosamente desenhadas sobre tipos feministas eram assunto frequente. 
22 
 
O ideal de liberdade feminina era visto como incompatível com o ideal de beleza, 
meiguice e resignação, características tomadas como naturais da mulher. As palavras de 
Freyre, podem nos servir de exemplo para ilustrar o que se esperava de uma mulher fosse 
ela solteira ou casada, sobretudo: 
(...) não se queria ouvir a voz na sala, entre conversas de homem, a não ser 
pedindo vestido novo, cantando modinha, rezando pelos homens; quase nunca 
aconselhando ou sugerindo o que quer que fosse de menos doméstico, de menos 
graciosos, de menos gentil; quase nunca metendo-se em assuntos de homem. 
(Ibidem: 224) 
Vemos como primeiras formas de resistência, a mulher submissa e ociosa dando voz 
a mulher que não se cala perante maus tratos do cônjuge, que também busca trabalho fora 
de casa e que não se perturba com os julgamentos da sociedade. Deve-se ressaltar que as 
duas primeiras formas de resistência descritas acima são percebidas principalmente nos 
setores subalternos. O que traz discordância com um sistema que legitimava a subordinação 
feminina. 
O estereótipo do marido dominador e da mulher submissa, característicos, naquela 
época, às classes dominantes não se aplicava totalmente às demais camadas da sociedade. 
Nas ruas, nos cortiços, trabalhando em “casas de família”, podia-se verificar uma presença 
ampla de mulheres fora do padrão estabelecido na época, não aceitando a tradicional postura 
subordinada e passiva, recusando-se a suportar situações humilhantes. Destacando a 
ascensão da indústria, importante fato da época, podemos destacar a importante mão-de-obra 
de mulheres e crianças, como descrito por C.C.Andrews, em 1882: 
No Rio, uma fábrica de algodão e lã emprega sessenta mulheres e quarenta e sete 
crianças como operárias. Algumas outras empregam somente mulheres. São 
também empregadas em fábricas de botas e sapatos. Provavelmente duas mil 
mulheres estão empregadas nos estabelecimentos fabris da cidade. (Andrews. 
Apud LEITE, 1981:123) 
Ainda longe de alcançar a igualdade no campo profissional, a mulher sai de casa e 
começa a se destacar no campo profissional em outros setores. Além das operárias, outras 
profissões também se tornaram “trabalho de mulher”, como é o caso do magistério. O 
feminino começou, então, a fazer-se presente em profissões antes nunca imaginadas, as 
chamadas profissões liberais, como vemos no trecho de um relato de 1889 de Marie 
Robinson Wright (apud LEITE 1981:138): 
Existem algumas mulheres profissionais que, sem qualquer ostentação de “idéias 
avançadas” estão, pouco a pouco, abrindo seu caminho na dianteira. São Paulo 
tem uma médica bem sucedida e existem duas, com boa clientela, no Rio de 
23 
 
Janeiro. Na carreira jurídica, existem promotoras que gozam de posição 
assegurada entre os melhores (...). 
O século XIX foi muito produtivo com relação à literatura feminina, tanto na Europa 
quanto nas Américas. Inúmeros exemplos podem ser citados como Nísia Floresta Brasileira 
Augusta, pseudônimo adotado por Dionísia de Faria Rocha, escritora de Direito das 
Mulheres e Injustiça dos Homens, de 1832, entre outros que se utiliza da escrita para 
reivindicar igualdade e educação para as mulheres. A escritora em questão, por exemplo, diz 
que “certamente o Céu criou as mulheres para um melhor fim, que para trabalhar em vão 
toda a sua vida.” (TELLES, 2008:406) 
O sentimento de virilidade, afetado em decorrência da evidência da mulher, passa a 
ser questionado. A figura da mulher desejante, dona de si, retratada nas obras desse período, 
trazia sérios medos à classe masculina. 
 
3.2 – A Visão Do Feminino Por Eça 
Aligação de Eça à geração de 70, citada no capítulo anterior, e a sua relação com o 
Realismo e Naturalismo nos permite através da análise de suas obras, entender um pouco do 
comportamento feminino da época, e do que se buscava mostrar sobre a mulher oitocentista. 
O adultério, tema explícito em O Primo Basílio, nos leva imediatamente a uma crítica 
direta à instituição do casamento. Ao enlace por interesse, por conveniência, o que na época 
era um ato comum entre as famílias, onde em sua grande maioria, acontecia sem direito de 
opinião da mulher, ou por pura aceitação de um destino traçado pela família. Na obra vemos 
com nitidez o quanto a protagonista Luísa foi preparada para esse destino, e por isso, 
conformada, era de certo modo feliz cumprindo seu dever, até certa parte de sua história. 
Tanto que críticos como Vianna Moog e João Gaspar Simões analisam a traição de Luísa 
como algo bobo, sem motivo, uma vez que ela se via casada com um jovem bonito e 
apaixonado por ela. 
[..] Mas era o seu marido; era novo, era forte, era alegre; pôs-se a adorá-lo [..]-
Olhava muito para o marido das outras, comparava, tinha orgulho nele. Jorge 
envolvia-a em delicadezas de amante, ajoelha-se aos seus pés, era muito 
dengueiro[.]. Era seu tudo, a sua força, o seu fim, o seu destino, a sua religião, o 
seu homem! (QUEIROS, 1998, p.24) 
24 
 
Segundo eles, o que levou Luísa a tal ato foi seu caráter construído a partir de suas 
leituras “cor de rosa”, de seus romances da vida. Uma mulher instruída, bem criada, porém 
com mente fraca e vazia, restrita aos pensamentos domésticos e aos bons costumes. 
Eça escrevia sobre mulheres e para mulheres, falando sobre fantasmas emocionais 
da época, como traições, incesto, frustrações femininas e amorosas. Através da crítica de 
Eça a Luísa, que era uma jovem instruída em leituras românticas, alienada aos problemas 
reais, recebemos como argumento que a mulher deveria sim receber instruções não somente 
da vida doméstica, mas também de todo o resto, inclusive tendo direito às escolhas, ao amor 
e a liberdade. 
Em sua maneira de ver a sociedade, Eça escolheu tipos e grupos sociais que a seu 
ver, mereciam atenção e análise. Em “O Crime do Padre Amaro” notamos fortemente a 
crítica à igreja, que dominava a vida de seu país. 
Segundo Antero de Quental, sem sua segunda conferência no Cassino Lisbonense 
cujo o tema eram as Causas das Decadências dos Povos Peninsulares, que abordou o atraso 
econômico, intelectual, social e político da Península e apontava como principal causa de 
todos esses males a Igreja, considerando a religião opressora de um povo que era por 
natureza religioso, de uma religiosidade “ardente, e exaltada e exclusiva” (QUENTAL, 
1974, p.142). 
Desde o confessionário ao íntimo da vida familiar a influência do clero era 
praticamente total. Os padres eram como membros da família, orientadores espirituais e 
morais, com forte domínio da família portuguesa. Devido essa intimidade, posição de 
influência e poder exercido pelos padres, alguns deles sem vocação a vida de santidade, 
utilizavam da sua posição para satisfazer suas curiosidades e tomar conhecimento dos 
segredos íntimos, principalmente das mulheres que viam na figura do padre, um apoio 
espiritual e de orientação. 
A mulher oitocentista era figura cúmplice da Igreja. Sua religiosidade representava 
um papel de extrema importância. Livre da repressão e de qualquer tipo de comentário 
maldoso, a mulher religiosa exerce diversos papéis para a Igreja, e era uma ocupação de 
extremo respeito perante a sociedade. 
25 
 
Georges Duby, historiador francês, nos diz em “História das Mulheres no Ocidente” 
(1990) que o papel social da mulher católica daquela época era secundário, destinado apenas 
aos afazeres de mãe e esposa. Segundo ele, o marido era visto como uma dádiva de Deus 
que conduz a mulher à santidade. 
Segundo Eça de Queirós, as mulheres eram destinadas aos estudos das prendas 
domésticas que as preparavam para a vida limitada do lar e a religião era vista como veículo 
de educação moral. O que não lhes dava direito a mais nada, nenhuma reflexão lhes era 
ensinada, apenas uma prática robótica. Qualquer manifestação sexual que se desvinculasse 
do propósito de perpetuação da espécie, e ou não atreladas ao casamento, era visto como um 
ato pecaminoso, principalmente oriundo de alguma mulher. 
As beatas na obra de Eça tem suas características caricatas, sempre são feias, 
esquisitas, e possuem grandes desvios de caráter. Desse modo Eça nos mostra a repressão 
sexual que essas limitações causam no corpo e na alma feminina. As aparências sempre 
descritas com traços tristes, secos, trajes negros, presados nos escancarando o lado doentio 
da pratica religiosa. 
Nota-se que o intuito de Eça nessas obras era de criticar a hipocrisia e os falsos 
valores das instituições fundamentais da época. A Religião, a Família e o Casamento 
recebem críticas diretas como em O Crime do Padre Amaro onde a vida eclesiástica do 
jovem Amaro sem vocação é esmiuçada ao leitor, a falsa religiosidade, e o poder do clero, e 
em O Primo Basílio onde vemos o casamento por conveniência, o adultério, e a necessidade 
de liberdade da mulher. 
Vemos também a liberdade masculina em jogo, onde o homem pode fazer o que bem 
entende, sem julgamentos, e a mulher sempre prejulgada, fadada ao universo recluso 
familiar. 
A mulher oitocentista tinha um papel familiar bem definido. Responsável por cuidar 
da casa, do marido, educar os filhos. Devia obediência e submissão. Esse comportamento 
era implementado desde a infância, onde as meninas já aprendiam a priori a submissão e 
passividade para depois poderem desempenhar com sucesso seus papéis como boas donas-
de-casa. Eça via esse modelo de educação da mulher como empobrecedor e dizia que essa 
falta de papel social da mulher se deve a pobreza espiritual reflexo dessa condição. 
26 
 
Outro fator contribuinte desse empobrecimento cultural feminino era a literatura 
romântica disponível na época. Notamos isso quando nas características de Luísa em O 
Primo Basílio, Eça nos mostra seus livros e menciona “Dama das Camélias”, clássico 
romance e nos incita que as jovens se interessavam por esse tipo de leitura para fugir do 
tédio e da monotonia e para se transportar para um mundo fantasioso, cheio de aventura e 
amores impossíveis. O que gerava insatisfação ao perceberem sua realidade totalmente 
diferente daquelas páginas. 
A falta de papel social, imaginação fértil e ociosidade eram os ingredientes perfeitos 
que levavam ao adultério, e ainda segundo Eça, a oportunidade de dar voz a mulher e 
entender suas insatisfações seria um ponto chave para a mudança de comportamento da das 
mulheres, para que elas se libertem do claustro doméstico, tendo direito a amar, ser amada e 
à liberdade. 
O adultério feminino era visto claramente como ato diferente do adultério masculino. 
A lei era implacável com as mulheres que poderiam até acabar por serem mortas por seus 
maridos que eram passíveis a tudo para limpar a honra. Para as damas desonradas só 
restavam duas opções: a Morte ou a Fuga. E em ambas as situações o destino não lhe 
reservava coisas boas. 
Mas as personagens ecianas não passam ilesas as punições por seus atos. Mesmo 
dando certo incentivo, Eça as mostra em profunda desgraça como punição por seus crimes e 
pecados como o adultério e o sexo fora do casamento, cometidos por Luísa e Amélia, e após 
um longo período de conflitos e sofrimento, acabam pagando com sua própria vida. 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
4. CAPÍTULO III – AMÉLIA E LUÍSA E SEUS DILEMAS 
 
4.1- Amélia, Inocência E Desejo 
Em O Crime do Padre Amaro, as críticas de Eça são voltadas às práticas religiosas, 
a corrupção do clero e o atraso mental de seus praticantes. O ambiente onde se situa nossa 
história é a pequena cidade de Leiria, interior de Portugal, fortemente influenciada por um 
clero corruptoe corruptor, cercada de falsos interesses e hipocrisia política e social. 
Basicamente todos os personagens da obra possuem características negativas 
enfatizadas, como a inveja, curiosidade, indolência, preguiça, gula, luxúria, enfim, 
características vistas como falhas humanas que tornam os personagens bem realistas. 
Luxúria e gula são os vícios centrais da obra, são pecados vistos no decorrer da 
narrativa em diversos pontos. Eça desenvolve a gula como características marcante na 
maioria dos personagens eclesiásticos, sempre atrelando-o a outros pecados como a luxúria, 
comum em meios eclesiásticos. As comilanças em abundância, o tintilar dos copos, refeições 
descritas em meio a assuntos importantes trazem essa atmosfera. 
Enquanto os padres se fartavam em banquetes, ficava claro o cinismo com que os 
mais necessitados eram tratados. 
- Muita pobreza por aqui, muita pobreza! - dizia - o abade. O Dias, mais 
este bocadinho de asa! 
- Muita pobreza, mas muita preguiça- considerou duramente o Natário 
- Em muitas fazendas sabia ele que havia falta de jornaleiros, e criam-se 
marmanjos, rijos como pinheiros, e choramingar Padre-nossos pelas 
portas. 
- Súcia de mariolas resumiu. 
- Deixe lá, Padre Natário, deixe lá! - disse o abade. Olhe que há pobreza 
deveras. 
Por aqui há famílias, homens, mulher e cinco filhos, que dormem no 
chão como porcos e não comem senão ervas. 
- Então que querias tu que eles comessem? - exclamou o cônego Dias 
lambendo os dedos depois de ter esburgado a asa do capão 
-Queria que comessem peru? Cada um como quem é! 
O bom abade puxou, repoltreando-se, o guardanapo para o estômago, e 
disse com afeto: 
- A pobreza agrada a Deus Nosso Senhor. 
Ai. Filhos! Acudiu o Libaninho num tom choroso-se houvesse só 
pobrezinhos, isto era o reininho dos céus! (QUEIROS, 1933, p.121). 
28 
 
Em Amaro, vemos qualidades das mais indesejáveis que se pode encontrar em um 
sacerdote como a preguiça, era cheio de caprichos, e sua sexualidade aguçada que procurava 
contar nos tempos de seminarista, é vista a todo momento, principalmente após conhecer 
Amélia. 
Aos poucos o autor nos mostra mais lados obscuros de Amaro, como sua 
personalidade obsessiva e lubrica. O fato de Amaro não ser padre por vocação e sim por 
conveniência o limita nos aspectos de santidade. Ele apenas respeita as leis de Deus até certo 
ponto, por medo dos castigos de Deus, como sua castidade por exemplo, mas seus desejos 
continuam a assombrá-lo sempre. 
A influência política que leva Amaro a conseguir sua transferência para Leiria nos 
mostra as articulações políticas da época onde as influências determinavam quem deveria 
ficar e onde. E a facilidade com que Amaro consegue essa colocação mesmo sem a devida 
experiência nos leva a refletir sobre essas questões. 
Em Amélia, Eça deposita um papel de coadjuvante, como se ela servisse apenas como 
complemento para o desenvolvimento de Amaro. O que conecta a ficção à realidade, pois a 
mulher do século XIX era vista dessa forma, sem autonomia. 
Podemos notar em O Crime do Padre Amaro uso de analogias inversas onde vemos 
Amélia como a mulher de frente ao pecado original ao invés de um homem e Amaro como 
a serpente tentadora, masculino, seduzindo e corrompendo a jovem antes pura e ingênua. 
Com essa inversão Eça nos mostra que qualquer humano pode ser corrompido pelo ócio e a 
decadência moral e que o meio onde vive influencia seu comportamento e não 
necessariamente é algo inato. A cidade de Amaro, o corrompeu e o campo de Amélia, a 
permitiu pureza e inocência. 
A aproximação de Amaro com Amélia acontece de forma natural. Amaro sente-se 
confortável com a vida que leva em Leiria, na casa de D. Joaneira, mãe de Amélia, onde 
recebe tratamento de membro da família, e todas as regalias que se pode imaginar. 
A sexualidade de Amélia nos é apresentada logo no início de sua vida, aos quinze 
anos, sinalizado pela troca de beijos, onde após uma desilusão amorosa com o rapaz, 
resolveu dedicar-se às leituras e práticas religiosas, limitando-se ao convívio com os párocos, 
e ao mundo religioso, que levou-a a conhecer Amaro. Amaro empresta a jovem sua leitura 
29 
 
favorita: Cânticos de Jesus, uma visão erotizada da religião, e mais uma vez vemos a 
influência da leitura romanceada, agindo de forma negativa. 
A leitura foi transformadora para Amélia, que a partir da leitura, associava amores 
românticos a frades e freiras e prazeres sexuais à adoração religiosa como sugerido no livro 
indicado por Amaro. Amélia passa então a desejar Amaro, e via esse sentimento como santo, 
abençoado por Deus, projetando toda sua sexualidade a Amaro e a Igreja. 
“...sentia um vago amor físico pela Igreja. Desejaria abraçar, com pequeninos 
beijos demorados, o altar, o órgão, o missal, os santos, o céu, porque não os 
distinguia bem de Amaro, e aprecia-lhe dependências de sua pessoa” (QUEIRÓS, 
1933, p. 109) 
Aos poucos essa adoração se transforma em desejo sexual, e com as investidas sutis, 
porém não menos insistente de Amaro, aos poucos a jovem se entrega ao sacerdote. A troca 
de olhares diários, a proximidade por dividirem o mesmo lar, os contatos físicos e a 
confiança em Amaro de que todo aquele sentimento que os cercam era correto, era santo, 
levou Amélia diretamente para os braços do padre. 
Amélia apaixonada, chega a pensar em possibilidades de viver esse amor longe do 
pecado e das críticas. Pensa em fugir com seu amado, viver uma vida simples, e feliz, porém 
Amaro deixa muito claro seu completo desinteresse em deixar a vida confortável de 
sacerdote, o que frustra Amélia. 
Suely do Espirito Santo descreve a cena da entrega de Amália a Amaro como uma 
orgia espiritual, onde todos os sentidos são estimulados. Eça nos apresenta um recurso 
literário que nos remete a passagens românticas – um temporal. Temporal esse que faz com 
que Amélia e Amaro se refugiem juntos, o que inspira romantismo, porém a descrição do 
autor é bem realista e nada românica, Amaro avança em Amélia “calado, com os dentes 
cerrados, soprando como um touro” (QUEIRÓS, 1933, p.263). Amélia nesse momento se 
mostra submissa, passiva. Sua sexualidade é reflexo da sexualidade de Amaro, assim como 
sua luxúria. 
Amélia carrega o estigma do pecado, e como punição, foi condenada ao sofrimento 
e à morte. Grávida de Amaro e abandonada, é isolada e após longo sofrimento, morre no 
parto sem nem sequer ver o bebê. Na obra a punição cai toda sobre Amélia, semelhante a 
Luísa, que também tem seu final trágico. Amélia, mesmo ingênua, se mostra corajosa, talvez 
30 
 
por sua inocência e fé, ela buscava alternativas, mesmo que passivamente, diferente de Luísa 
que aceita toda a tragédia inerte. 
Amaro não se vê afetado por toda a trajetória de dor e sofrimento que Amélia passou 
e ao fim da obra, o encontramos muito bem disposto, bem instalado. 
As obras realistas de Eça não são pessimistas e nem otimistas, são apenas realistas e 
nos trazem a reflexão que a vida das pessoas continua, e muitas vezes, elas nem sabem o que 
se passa no íntimo de cada um. Como exemplo podemos citar a história de Amélia, que 
passou por tudo praticamente sozinha, pois obviamente a sociedade da época não aceitaria 
sua situaçãoe seus pecados. 
 
4.2 – Luísa, Ilusão Romântica 
Bovarismo, termo utilizado para designar a intervenção desastrosa de idéias 
românticas na vida real, e o destino dessas pessoas que são educadas nesses ideais como 
Emma Bovary, nossa triste heroína em Madame Bovary de Flaubert, é de inevitável 
decepção e consequente ressentimento. E notamos influências desse comportamento em 
Luísa, protagonista de O Primo Basílio. Luísa sonhava encontrar um herói romântico como 
os de suas leituras românticas, para amar e ser amada: 
Era a "Dama das Camélias". Lia muitos romances; tinha uma assinatura, na 
baixa, ao mês. Em solteira, aos dezoito anos, entusiasmara-se por Walter Scott e 
pela Escócia; desejara então viver num daqueles castelos escoceses, que têm sob 
as ogivas os brasões do clã, mobilados com arcas góticas e troféus de armas, 
forrados de largas tapeçarias, onde estão bordadas legendas heróicas, que o 
vento agita e faz viver: [..] mas agora era o moderno que a cativava; Paris, as 
suas mobílias, as suas sentimentalidades. [..] e os homens ideais apareciam-lhe 
de gravata branca, nas umbreiras das salas de baile, com um magnetismo no 
olhar, devorados de paixões, tendo palavras sublimes. [..]. Foi com duas lágrimas 
que acabou as páginas de "Dama das Camélias*. (QUEIROS, 1963, p.18-19). 
Emma e Luísa tiveram motivações semelhantes para cometer o adultério, suas 
leituras românticas, o ócio e o tédio, pois em ambos os casos, tinham bons casamentos, não 
lhes faltava nada, possuíam empregados que as serviam constantemente acabava por torná-
las seres improdutivos, sem utilidade que acabaram por preencher esse vazio com essas 
aventuras românticas. 
31 
 
Eça nos entrega um romance de observação social, e tinha como objetivo retratar a 
mulher lisboeta e o conceito de vida social a partir da observação da família tradicional com 
todas suas fraquezas. Ele revela em uma de suas cartas a Teófilo Braga em 12 de março de 
1878, seu desejo e mostrar esse ambiente familiar e social, definindo a “burguesinha da 
baixa” como arrasada de romance, ociosa, mal-educada, sentimental e isenta de disciplina 
moral. 
Luísa aparentemente era feliz em seu mundo. Sua relação com Jorge, seu marido, era 
feliz, ela sentia grande admiração e atração por ele, mesmo se casando sem amá-lo. Não de 
começo, como citado na obra onde é dito que ela não gostava de homens Barbados. 
A sexualidade de Luísa aparece de diferentes formas no decorrer da obra. Em relação 
ao marido, vimos uma Luísa amena, sentindo em Jorge seu porto seguro. Em outro ponto, 
vemos a sua relação com a amiga Leopoldina, que a despertava sensações. Luísa a admirava 
além da amizade. Admirava seu corpo, mesmo com seu jeito “indecente”, ela via muita 
beleza que quase lhe inspirava sensações físicas. Eça, ao nos mostrar esse lado de Luísa, toca 
em um ponto delicado sugerindo a existência de um homossexualismo feminino em meio ao 
forte puritanismo da época. Uma mulher que assumisse uma forma diferente de amar, 
desvinculada do casamento e da procriação era considerada suja, doentia, uma aberração 
para a época. 
Mas o que mais encantava Luísa era a “liberdade” de Leopoldina, que mesmo casada, 
tinha seus amantes, suas ideias, era impetuosa, com histórias cheias de emoção, essa vida 
com paixão despertava uma pontinha de inveja em Luísa. 
[..] E aquela grande palavra (paixão), faiscante e misteriosa, de onde a felicidade 
escorre como a água de uma taça muito cheia, satisfazia Luisa como uma 
satisfação suficiente: quase lhe parecia uma heroína, e olhava com espanto como 
se consideram os que chegam de alguma viagem maravilhosa e dificil, de 
episódios excitantes. (QUEIROS, 1963, p.16). 
Acredita-se que o que levou Luísa ao adultério seria seu temperamento imaginativo. 
Movida por falsas ideias que fazia das pessoas, por expectativas criadas em sua cabeça com 
relação a Jorge, esperando atitudes passionais de um homem pacato, idealizando um homem 
que não existe. Com a chegada de Basílio, essa idealização automaticamente se torna 
realidade, o que a faz se encantar logo de cara por suas histórias, suas aventuras, pelo charme 
e seus cortejos O fascínio de Luísa por seu estimado primo, o qual já havia tido um breve 
romance na adolescência, era visível e a comparação com Jorge tornara-se inevitável. Ela 
32 
 
desejava que Jorge fosse como Basílio e isso a decepciona, como ela mesmo diz: Jorge era 
caseiro, tão lisboeta!”. 
- Que vida interessante a do primo Basílio - pensava. O que ele tinha visto! Se ela 
pudesse também fazer as suas malas, partir, admirar aspectos novos e 
desconhecidos, a neve nos montes, cascatas reluzentes! Como desejaria visitar os 
países que conhecia dos romances - a Escócia e os seus lagos taciturnos, Veneza 
e os seus palácios trágicos; aportar às baías, onde um mar luminoso e faiscante 
morre na areia fulva; e das cabanas dos pescadores, de teto chato, onde vivem as 
Grazielas, ver azularem-se ao longe as ilhas de nomes sonoros! E ir a Paris 
(Paris, sobretudo)! (QUEIROS, 1963, p.61). 
A comparação dos dois traz dúvidas a Luísa. Jorge era sinônimo de estabilidade, uma 
vida calma e feliz com conforto e segurança. Mas as aventuras ao lado de Basílio a levaram 
para outros pontos que antes ela julgava impossíveis como a liberdade, a paixão e o amor 
romântico. Essa dualidade lhe trazia insegurança e indecisão, mas por preguiça, comodidade 
acaba que Luísa fica à mercê de Basílio, que como ele mesmo previu, seria uma presa fácil. 
Com isso Eça nos mostra que o ócio está implícito também em atitudes como o hábito 
de não reagir a nada, inclusive as investidas do primo sedutor, somado ao medo e curiosidade 
do desconhecido, se permite levar a qualquer influência, como a tentação de ter uma vida 
como a da amiga ou a vontade de viver as emoções junto com o primo, buscando tudo que 
sempre idealizou em um homem. 
Nossa heroína Luísa, imatura e insegura, com pensamentos fracos, influenciáveis e 
ingratos, teve até seu fim às punições por seu crime. E essas punições são descritas pouco a 
pouco durante o desenrolar da obra. O desespero ao ser chantageada por Juliana, sua 
empregada, que lhe traz desespero e aflição, o abandono de Basílio, que só a via como mais 
uma de suas conquistas, e as decepções com o mesmo, onde para conquistá-la, foi capaz de 
tudo, de pegar em seus pontos fracos e a ludibriar com palavras e atos. O seu triste fim, 
acamada, arrependida, desprezada. 
Eça recebeu críticas por retratar Luísa tão inerte a tudo, porém ele justifica essas 
características como as mais realistas possíveis, com anseios e sensações de um perfil fútil 
como o de Luísa. Ele via as adúlteras como mulheres levianas, reflexo da visão social 
masculina do século XIX. Em Luísa, Eça pintou vários defeitos, reflexos da sociedade, do 
ser humano, e por isso talvez, tenha sido tão criticado e sua personagem tão desprezada. 
 
33 
 
5. CONCLUSÃO 
Amélia e Luísa nos foram apresentadas por Eça como exemplos de pecado e culpa, 
e o que as levou a tal, bem como as punições apresentadas para cada uma das personagens, 
como retratos extremos do comportamento da sociedade oitocentista. 
Embora a culpa de Amélia esteja atrelada a sua falta de conhecimento do mundo, e 
seja reflexo de sua devoção, que a deixava cega, e por um lado, poderíamos vê-la até com 
certa inocência, não enxergando o erro de seus atos e acreditando em Amaro cegamente, 
recebeu suas punições por seus pecados de modo severo. Os castigos se apresentam de várias 
formas, primeiramente com o descaso de Amaro para com seus sentimentos, posteriormente, 
com o julgamento de Josefa, enquanto estava em seu exílio para esconder a gravidez de 
todos, onde em troca de abrigo, passou por uma série de humilhações e tristezas. Os 
pesadelos constantes a atormentavam dia e noite, com o sentimento de culpa que a levavam 
a sonhar com seu parto, com o nascimento de seu filho de forma monstruosa.O sofrimento 
não acaba quando após o parto Amélia morre, ao vermos seu filho ser entregue pelo próprio 
pai, o Padre Amaro, a uma tecedeira de anjos, onde a criança tem seu final. 
Eça nos mostra que embora seus erros sejam graves, Amélia era uma jovem de 
coragem, em momento algum a vemos pensando em desistir de sua vida, ou de um futuro 
digno, mesmo com suas chances de sucesso quase nulas. Ainda nutria bons sentimentos, 
acreditava na vida. 
Por sua vez, Luísa comete o pecado do adultério, e sua punição foi tão severa quanto 
a de Amélia. Após sua decepção com a partida de Basílio, e com todo o descaso que sofreu, 
Luísa se vê refém das chantagens de sua empregada Juliana, que transforma as vida em um 
verdadeiro inferno, repleto de humilhações, obrigando-a a exercer as atividades domésticas 
no lugar de Juliana, o que para Luísa não poderia existir pior castigo, já que era retratada 
como uma típica dondoca preguiçosa e mimada. Fora isso, o medo de que Jorge descobrisse 
sua traição, a tirava do eixo, roubava seu sono, e seus sonhos. Não conseguia ter paz nem 
adormecida, e após um longo sofrimento físico e mental, Luísa acaba por falecer. Diferente 
de Amélia, Luísa sempre demonstrou fraqueza, inerente aos acontecimentos. Suas 
motivações foram mais carnais, sem uma grande justificativa, por puro capricho, ao contrário 
de Amélia que justifica seus atos com o amor que sentia por Amaro, e pela religião. 
34 
 
A grande sacada de Eça, foi nos trazer a visão social de forma crítica, nos mostrando 
que ao contrário da punição severa que as personagens femininas receberam, os homens 
permanecem ilesos a qualquer crítica e punição social. Amaro teve seu fim de forma 
satisfeita, feliz e muito bem instalado em sua nova paróquia, totalmente despreocupado. 
Demonstra que não sente qualquer tipo de arrependimento em virtude de tudo que Amélia 
passou por ele. 
O caso de Basílio é semelhante, que ao saber da morte da prima, apenas lamenta não 
o fato de tê-la perdido, apenas se chateia por não ter mais seu divertimento, afinal ele se 
referia a ela como “um trambolho” —Para um ou dois meses que eu estivesse em Lisboa 
(QUEIRÓS, 1963, p. 460). 
O que podemos notar é que a grande mensagem que Eça nos deixa é que mesmo após 
a morte de nossas heroínas, a vida continua sem maiores alterações ou mudanças. Amaro 
mesmo cita que “Tudo passa”, e no caso deles, Amaro e Basílio, tudo manteve-se bem. 
Ao fim de nossa pesquisa, podemos observar que Eça de Queirós, autor realista do 
século XIX, nos mostra uma visão triste e amarga da mulher oitocentista, reflexo da 
sociedade da época. Uma visão pessimista, triste e opressora, porém realista. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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