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CARDIOMIOPATIA CHAGÁSICA (ATS ll - Cardiologia – 2ª AF) THALLYS NOVAIS – MEDICINA CESMAC INTRODUÇÃO A miocardiopatia chagásica é conhecida como TRIPANOSSOMÍASE AMERICANA ou CHAGUISMO. Recebeu esse nome em homenagem ao Carlos Chagas, médico sanitarista que identificou pela primeira vez o protozoário Trypanossoma cruzi e o transmissor, o barbeiro. O T. cruzi é encontrado no sangue de animais silvestres, como tatu, gambá e em alguns tipos de macacos. A doença de Chagas é uma condição crônica negligenciada com elevada carga de morbimortalidade e impacto dos pontos de vista psicológico, social e econômico, apresentando uma elevada carga de morbimortalidade em países endêmicos, incluindo o Brasil. Representa um importante problema de saúde pública no Brasil, com diferentes cenários regionais. TRANSMISSÃO As vias de transmissão são: • Vetorial - barbeiro • Oral – mais comum nos dias atuais • Transfusão sanguínea • Transplante • Vertical TRANSMISSÃO VETORIAL A transmissão vetorial ocorre através da picada do barbeiro junto com as fezes, passando para a corrente sanguínea o T. cruzi. O sinal de Romanã é caracterizado pelo edema das pálpebras produzido pela picada do barbeiro, onde as fezes foram depositadas pelo inseto ou mesmo quando acidentalmente esfregadas para dentro do olho; é o marcador mais conhecido da fase aguda da doença de Chagas. TRANSMISSÃO ORAL Com o controle da transmissão vetorial da doença de Chagas no Brasil, vem se ampliando a transmissão oral, que ocorre de maneira esporádica por meio de alimentos contaminados com o parasita (a partir de triatomíneos ou de suas fezes), sendo o Amazonas o estado mais acometido. TRANSMISSÃO VERTICAL Não existem ainda medidas que evitem a transmissão vertical do parasita. A estratégia da infecção está direcionada ao diagnóstico precoce e tratamento imediato de crianças ao nascimento. Recomenda-se avaliação sorológica em todas as gestantes que vivem em áreas endêmicas ou que são procedentes dela já na primeira consulta pré-natal. O tratamento é obrigatório em todos os casos de forma congênita. Se iniciada antes de 1 ano de idade, já nas primeiras semanas de vida, tem alta taxa de cura. Obs: Não se pode fazer tratamento de Doença de Chagas em gestantes. DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO Os testes sorológicos são utilizados como um dos critérios para confirmação de suspeita clínica da Doença de Chagas. O diagnóstico sorológico é confirmado ou excluído pelo emprego de pelo menos dois testes sorológicos de princípios diferentes: • Teste de Elisa e imunofluorescência: sensibilidade > 99,5% e especificidade de < 97%. • Hemaglutinação (HAI): sensibilidade de 97 a 98% e especificidade > 99% Com os 2 testes acima evitam-se resultados falso falso-positivos ou falsos-negativos. Obs: O teste Machado Guerreiro (fixação de complemento) era o exame de escolha no passado, mas, por apresentar baixa sensibilidade (60%) e baixa especificidade, está em desuso. Fase aguda: Sorologia IgM. FASES DA DOENÇA É dividida em fase aguda e fase crônica. A fase aguda pode ser ou não sintomática, já a crônica pode se manifestar nas formas: indeterminada, cardíaca, digestiva ou cardiodigestiva. CARDIOMIOPATIA CHAGÁSICA (ATS ll - Cardiologia – 2ª AF) THALLYS NOVAIS – MEDICINA CESMAC FASE AGUDA Após a infecção inicial, a fase aguda da DC dura 6 a 8 semanas. O quadro clínico se assemelha aos sintomas de miocardite (dor torácica, cefaleia, febre, falta de apetite, dor à inspiração profunda na região precordial). A fase aguda pode ocorrer devido à infecção primária ou à reativação da fase crônica. • O sinal de Romanã é um excelente marcador para o diagnóstico na fase aguda: conjuntivite e edema palpebral; • O chagoma pode se localizar em qualquer região do corpo, tendo forma cutânea, endurecida, avermelhada e pouco dolorosa. Sintomas: • Febre prolongada (> 7 dias) • Cefaleia • Astenia • Mal-estar • Falta de apetite • Edema FASE CRÔNICA Engloba o período após a segunda semana de evolução da doença, podendo evoluir para uma das quatro situações citadas anteriormente. FASE CRÔNICA INDETERMINADA É a forma clínica de maior prevalência na doença de Chagas (60 a 80%), de caráter benigno. Essa forma apresenta sorologia e/ou exames parasitológicos positivos para Tripanossoma cruzi, mas NÃO manifesta sintomas, sinais físicos ou evidências de lesões orgânicas (cardíaca ou extracardíacas). Essa fase pode durar 30-40 anos ao cabo da qual uma fração igual a 30-40% dos pacientes desenvolvera a forma cardíaca. Critérios diagnósticos: • Sorologia reagente positivo para T. cruzi, mas que não apresentam síndrome clínica específica da doença; • Exames de ECG, estudo radiológico de tórax, esôfago e cólon normais. Tratamento e seguimento clínico: São orientados a não realizar doação de sangue, tecidos ou órgãos. Em virtude dessa benignidade, não se justifica a prática, ainda comum, de solicitação de exames sorológicos específicos para Doença de Chagas na avaliação pré-admissional para fins. Da mesma forma, nestes casos, não se recomenda o afastamento temporário ou definitivo das atividades laborais. FASE CRÔNICA CARDÍACA O dano cardíaco resulta das alterações fundamentais (inflamação, necrose e fibrose) que o T. cruzi provoca, direta ou indiretamente, no miocárdio contrátil, no tecido especializado de condução e no sistema nervoso intramural. A inflamação crônica, usualmente de baixa intensidade, mas incessante, provoca destruição tissular progressiva e fibrose extensa no coração. Disautonomia cardíaca: T. cruzi diminui células neurais, predominantemente do sistema parassimpático. Distúrbios microcirculatórios: causado diretamente pelo processo inflamatório decorrente do T. cruzi. As alterações microvasculares incluem formação de trombos, espasmo microcirculatório, disfunção endotelial e aumento da atividade plaquetária. A fase crônica cardíaca é dividida em “sem disfunção ventricular” e “com disfunção ventricular”: • Forma cardíaca sem disfunção ventricular: caracterizada por arritmias e distúrbios de condução intraventricular (BRD, BRE, HBASE, HBPI) e atrioventricular. o Bloqueios comuns: BRE e HBASE – NÃO É PATOGNOMÔNICO. o Sintomas: palpitação, tonturas, síncope, lipotimia e intolerância a exercício físico. • Forma cardíaca com disfunção ventricular: IC crônica habitualmente instala-se 20 anos ou mais após a infecção original. O quadro clínico depende da expressão de 3 distúrbios frequentemente coexistentes: IC, arritmias e tromboembolismo. Diagnóstico: Os testes parasitológicos não são utilizados devido à baixa parasitemia nessa fase. Assim, o diagnóstico é essencialmente sorológico com presença de anticorpos IgG: ELISA ou imunoflorescência indireta. CARDIOMIOPATIA CHAGÁSICA (ATS ll - Cardiologia – 2ª AF) THALLYS NOVAIS – MEDICINA CESMAC ELETROCARDIOGRAMA • Alterações inespecíficas da repolarização ventricular; • BAV, BR; • Sobrecarga de AD; • Baixa voltagem dos complexos QRS; • Taquicardia sinusal e FA. Se houver desvio para a esquerda, avalia as derivações Dll, Dlll e aVF. Se o QRS estiver negativo nessas derivações (r e S), há hemibloqueio anterossuperior esquerdo. RADIOGRAFIA DE TÓRAX Pode se apresentar normal ou pode evidenciar cardiomegalia em graus variáveis e derrame pleural. DIAGNÓSTICO ECOCARDIOGRAMA Pode apresentar algumas alterações: • Derrame pericárdico; • Aumento das dimensões das câmaras cardíacas; • Presença de trombos intracavitários; • Alterações da função sistólica ventricular esquerda. • Aneurisma apical do VE TRATAMENTO Na fase aguda ou em fase crônica recente, a meta é a negativação da sorologia, sendo feito com benzonidazol. Na fase crônica, muitas vezes persistem positivas as provas imunológicas, não se podendo falar em cura clínicadefinitiva. CHAGAS CONGÊNITA • Devem receber tratamento antiparasitário de preferência antes de 1 ano de idade; • Benzonidazol CARDIOPATIA CHAGÁSICA O tratamento vai depender da alteração cardíaca provocada. Manejo para insuficiência cardíaca: • IECA ou BRA • BB cardiosseletivos • Espironolactona • Diuréticos
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