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Universidade de Ribeirão Preto Faculdade de Direito Laudo de Camargo Curso de Direito A Influência dos Valores Éticos no Esperado Comportamento do Profissional da Área Jurídica MARIA EDUARDA CASTRO CORRÊA RIBEIRÃO PRETO 2021 A INFLUÊNCIA DOS VALORES ÉTICOS NO ESPERADO COMPORTAMENTO DO PROFISSIONAL DA ÁREA JURÍDICA RESUMO Este presente trabalho acadêmico tem como finalidade tratar sobre a influência dos valores éticos no esperado comportamento do profissional da área jurídica. Para tanto serão abordados breves conceitos doutrinários e jurisprudenciais sobre o tema, a fim de proporcionar maior elucidação. 1. INTRODUÇÃO O estudo sobre a ética atribui ao ser humano a capacidade de discernir entre aquilo que se configura como bem ou mal, proporcionando a este um “guia” intrínseco para tomada de decisões. À vista disso, o estudo da ética é de suma importância em todos os ramos da sociedade, como no cenário profissional, a fim de se garantir a boa conduta do indivíduo. A advocacia foi a profissão pioneira quanto a preocupação com a ética profissional. A ética profissional do advogado equivale, portanto, a constante busca pela adequação de sua conduta aos princípios fundamentais dos valores culturais de sua incumbência, em todos os setores da atividade. Em decorrência disso, a conduta ética dos advogados foi regulamentada, em sua essência, no Código de Ética e Disciplina da OAB. Essa regulamentação sintetiza os deveres dos profissionais, que conforme o art. 133 da Constituição Federal, são essenciais à administração da justiça. O advogado é responsável pela defesa do Estado democrático de direito, da justiça, cidadania, paz social, moralidade, e demais direitos humanos e garantias fundamentais. Logo, devido tamanha importância é evidente a necessidade da influência dos valores éticos no comportamento do profissional. Nesse sentido, o presente trabalho abordará inicialmente o conceito de ética, bem como, de deontologia jurídica, para posteriormente adentrar na importância da ética como influencia no comportamento do profissional da área jurídica, mais especificamente a figura do advogado. 2. DESENVOLVIMENTO 2.1 Conceito de Ética Ética é uma ciência que abrange o comportamento moral dos indivíduos em sociedade. O objeto principal da ética é a moralidade positiva, isto é, “o conjunto de regras de comportamento e formas de vida através das quais tende o homem a realizar o valor do bem”1 Segundo Stukart (2003, p.14): “A ética não analisa o que o homem faz, como a psicologia e a sociologia, mas o que ele deveria fazer. É um juízo de valores, como virtude, justiça, felicidade, e não um julgamento da realidade”. 2 Etimologicamente, o termo ética tem origem no vocábulo grego “ethos”, que significa “modo de ser” ou “caráter”. A reiteração de determinados hábitos moldam o “modo de ser” do indivíduo, o tornando virtuoso ou não. Nesse sentido, o caráter seria uma segunda natureza adquirida mediante a reiteração da conduta. Por isso, moral e ética possuem significados semelhantes e muitas vezes são usadas como sinónimos. Mas, conforme observado, ética é a ciência dos costumes, enquanto a moral é o objeto da ciência. A ética é uma disciplina normativa que vai além da moral, por isso sua supremacia. Se ocupa a descobrir e elucidar normas, a fim de apresentar ao indivíduo valores e princípios que devem nortear sua existência. Aprimora e desenvolve o sentido moral do comportamento, influenciando a conduta humana. 3 2.2 Deontologia Jurídica 1 Eduardo García Máynez, Ética – Ética empírica. Ética de bens. Ética formal. Ética valorativa, p. 12. 2 STUKART, Herbert Lowe – Ética e Corrupção – Os benefícios da conduta ética navida pessoal e empresarial São Paulo - Editora Nobel – 2003; 3 Nicolai Hartmann, Ethik, 2. ed., Berlin, p. 34, apud Eduardo García Máynez, op. cit., p. 15. Como visto acima, o estudo da ética no âmbito profissional é extremamente importante, tendo em vista que, no cotidiano o profissional da área jurídica enfrentará inúmeras situações, as quais requererão um mínimo de formação moral a fim de se direcionar no sentido da justiça. A expressão deontologia originasse do vocábulo grego deontos, que significa “dever”, e logos, que quer dizer “tratado”. Desse modo, deontologia é a ciência dos deveres, direitos e princípios de cada grupo profissional. Assim, existe a chamada deontologia jurídica, estudada como filosofia do direito, que traça as prerrogativas que o operador do direito deve se ater no desempenho de sua função. Na obra Curso de Deontologia Jurídica, o autor Luiz L. Langaro, menciona o quão importante é o estudo desta ciência para o profissional, vejamos: Daí a necessidade e a importância e do conhecimento da Deontologia. Ela constitui, na verdade, a fonte da moralidade profissional. Mesmo que o bacharel traga do berço uma aprimorada educação moral, uma conveniente orientação religiosa, mesmo assim, isso não lhe será suficiente para orientar sua especial atividade, no cumprimento das obrigações e deveres especiais, deveres e direitos legais e profissionais (grifo nosso) (LANGARO, p, 12, 2011). Percebe-se que, o operador do direito deve aprofundar, por meio da deontologia, os estudos quanto à ética no comportamento de sua profissão. Mesmo que tenha adquirido moralidade no cotidiano de suas condutas sociais, apenas isto não basta para a formação de um bom profissional. Sem dúvidas é necessária uma preparação específica para cada área, garantindo assim o correto exercício da profissão, bem como, a preservação não apenas da figura do profissional, mas também de toda sua classe. O Código de Ética Profissional do advogado estabelece o comportamento esperado por este profissional. Trata-se de um dispositivo jurídico dotado de obrigatoriedade, e não uma mera recomendação, por isso, é dever do advogado observar tais regras. Eventuais descumprimentos são suscetíveis a sansão disciplinar proferida pelo Tribunal de Ética da OAB. Nessa perspectiva, menciona LEAL: A ética profissional impõe-se ao advogado em todas as circunstâncias e vicissitudes de sua vida profissional e pessoal que possam repercutir no conceito público e na dignidade da advocacia. Os deveres éticos consignados no Código não são recomendações de bom comportamento, mas normas jurídicas dotadas de obrigatoriedade que devem ser cumpridas com rigor, sob pena de cometimento de infração disciplinar punível com a sanção de censura (art. 36 do Estatuto) se outra mais grave não for aplicável. Portanto, as regras deontológicas são regras providas de força normativa; a lei (o Estatuto), o Regulamento Geral, o Código de Ética e Disciplina e os provimentos são suas fontes positivas, às quais se agregam, como fontes secundárias, a tradição, a interpretação jurisprudencial e administrativa, a doutrina, os costumes profissionais. (grifo nosso) As normas deontológicas fundamentais dotadas de força normativa instituem condutas compatíveis com as normas do Código, do Regulamento Geral, do Estatuto da OAB, Provimentos, dentro outros princípios morais. 2.4 Ética na Atividade Profissional do Advogado Conforme previsão constitucional, do artigo 133, “o advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei”. É axiomático que a profissão do advogado simboliza um múnus social, ou seja, existe um grande comprometimento deste com a sociedade, de modo que cabe ao profissional prestar assistência jurídica gratuita aos hipossuficientes, defender os direitos dos indivíduos de forma imparcial, e sobretudo, exercer a função com base na ética e na verdade. Com base nisso, sendo a ética a ciência da moral, e tendo as instituiçõeso dever em defender a boa conduta, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), institui o Código de Ética e Disciplina, com normas que orientam o comportamento do advogado, vejamos: Proceder com lealdade e boa fé em suas relações profissionais; empenhar- se na defesa das causas confiadas ao seu patrocínio; comportar-se com independência e altivez, defendendo com o mesmo denodo humildes e poderosos; aprimorar-se no culto dos princípios éticos e no domínio da ciência jurídica; exercer a advocacia com senso profissional, jamais permitindo que o anseio de ganho material sobreleve à finalidade social do seu trabalho; agir, em suma, com a dignidade das pessoas de bem e com a correção dos profissionais que honram e engrandecem a sua classe, resultando, portanto, numa maneira íntegra de agir. (grifo nosso). Observa-se que a ética é uma das maiores ferramentas do advogado, visto que o protege e orienta em direção a dignidade profissional, se tornando algo intrínseco ao exercício do direito, na medida que não se trata apenas do respeito ao Código, e sim um ato imperativo da consciência, que torna a advocacia uma das profissões mais integras e respeitadas na atualidade. O artigo 34 do Estatuto dos Advogados enumera várias condutas determinadas como infrações disciplinares, sendo grande parte delas oriundas de condutas consequentes de atos da esfera profissional. Contudo, o parágrafo único do referido artigo explicita condutas praticadas no âmbito pessoal do advogado, como embriagues ou jogos de azar, que interferem diretamente a imagem do profissional, desonrando a advocacia. Vejamos duas decisões do Tribunal de Ética da OAB que tratam sobre a violação de preceitos: “EMENTA: Advogado. Infração ético-disciplinar. Locupletamento. Recusa na prestação de contas. Ausência de contrato de prestação de serviços com cláusula para compensação ou retenção de honorários. 1. Conforme previsto nos incisos XX e XXI do art. 34 da Lei 8.906/94, constitui infração ética, punível nos termos dos incisos mencionados, a falta de repasse ao cliente de valores recebidos em processos judiciais ou em confiança . 2. De igual forma, constitui infração a retenção de valores destinados ao pagamento de honorários quando ausente contrato escrito ou autorização prévia, em afronta ao § 2º. do art. 35 do CED. Decisão: Representação conhecida e julgada procedente, aplicando-se ao representado à pena base de suspensão do exercício profissional em todo o território nacional pelo período de 180 (cento e oitenta) dias, perdurando até que preste contas ao seu constituinte, cumulada com a pena de multa no valor correspondente de 06 (seis) anuidades, nos termos do voto do juiz relator. P. E. D. n.º 4.378/2001. V. U. Presidente da 3ª Turma do TED/OAB/GO - Dr. Isaque Lustosa de Oliveira. Relator – Juiz Henrique Marques da Silva. 31.08.2006.” REPRESENTAÇÃO DISCIPLINAR. ADVOGADO QUE COBRA IMODERADAMENTE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS A QUALQUER TÍTULO. LOCUPLETAMENTO DE QUALQUER MODO AS CUSTAS DO CLIENTE. INFRAÇÃO ÉTICA CONFIGURADA. - Infringe o artigo 34, Incisos XX da Lei n. 8.906/94. E o Artigo 36 do CED/ OAB, advogado que cobra valores abusivos de honorários advocatícios. Conduta prejudicial à dignidade da advocacia, impondo-se a aplicação da suspensão do advogado pelo prazo de 120 (cento e vinte) dias. (Processo: 6.924/2010. Rel. Décio Cristiano Piato. J. 15.02.14). Com base nisso, o advogado deve comportar-se de forma que o torne digno de respeito e colabore para a reputação da classe da advocacia, seguindo rigorosamente as normas instituídas no Código de Ética e Disciplina e demais regulamentos. 3. CONCLUSÃO Com base no que foi apresentado, pode-se observar que a ética e o instituto do direito devem manter uma relação próxima, a fim de se atingir a harmonia e a ordem social. Para tanto é necessário a colaboração de cada indivíduo que integra a sociedade. Apenas dessa maneira os profissionais da área jurídica, mais especificamente os advogados, atuando conforme os preceitos éticos norteando sua vida pessoal de maneira congruente com a profissional, cooperara de forma ativa na construção sociedade democrática. Tendo em vista que, os profissionais do direito ao se desviarem da conduta ética estabelecida no Código de Ética e Disciplina e demais regulamentos, estarão depreciando a profissão, desprestigiando a imagem da categoria, e ainda, estão sujeitos a sanções disciplinares. Para que o advogado cumpra sua função com honestidade, dignidade e prestígio, é necessário colocar em prática o seu conhecimento influenciado dos valores éticos, evidenciando o seu comprometimento com a justiça social. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988 NALINI, José Renato. Ética geral e profissional [livro eletrônico]. 5. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020. STUKART, Herbert Lowe. Ética e Corrupção. Os benefícios da conduta ética na vida pessoal e empresarial São Paulo. Editora Nobel. 2003;
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