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Autor: Prof. Cassio Marcos Vilicev Anatomia Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Professor conteudista: Cassio Marcos Vilicev Doutor em Ciências pela Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo (2013). Mestre em Ciências pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (2005). Possui especialização em Educação a Distância pela Universidade Paulista – UNIP (2012) e especialização em Didática do Ensino Superior pela Universidade Sant’Anna (1999). Possui graduação em Educação Física pela Universidade de Mogi das Cruzes (1989) e graduação em Fisioterapia (1998) pela Universidade Bandeirante de São Paulo. Sua carreira profissional começou como professor de Educação Física em escolas particulares de São Paulo, onde permaneceu de 1990 a 1998. Dedica‑se à UNIP e à Faculdade Santa Rita de Cássia, como professor titular dos cursos de Odontologia, Fisioterapia, Enfermagem, Nutrição e Educação Física, desde 2004, em nível de graduação e pós‑graduação. É líder das disciplinas de Anatomia Humana, Cinesiologia e Semiologia desde 2006. Tem vários trabalhos publicados em diversas áreas das Ciências Biomédicas. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Z13 Zacariotto, William Antonio Informática: Tecnologias Aplicadas à Educação. / William Antonio Zacariotto ‑ São Paulo: Editora Sol. il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2‑006/11, ISSN 1517‑9230. 1.Informática e tecnologia educacional 2.Informática I.Título 681.3 ? Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Carla Moro Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Sumário Anatomia APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................ 10 Unidade I 1 BREVE HISTÓRIA DA ANATOMIA ............................................................................................................... 13 1.1 A primeira fase: os precursores....................................................................................................... 13 1.1.1 A Mesopotâmia e o Egito .................................................................................................................... 15 1.1.2 A China ........................................................................................................................................................ 16 1.1.3 O período grego ....................................................................................................................................... 16 1.1.4 O Império Romano ................................................................................................................................. 19 1.2 A segunda fase: a Idade Média ....................................................................................................... 21 1.2.1 A contribuição do povo islame ......................................................................................................... 21 1.3 A terceira fase: o Renascimento .................................................................................................... 22 1.3.1 Mondino de Luzzi ................................................................................................................................... 23 1.3.2 Jacopo Berengario de Carpi ................................................................................................................ 23 1.3.3 Jacobus Dubois Sylvius ......................................................................................................................... 24 1.3.4 Michelangelo di Ludovico Buonarroti Simoni ............................................................................ 24 1.3.5 Leonardo da Vinci ................................................................................................................................... 24 1.3.6 Andreas Vesalius ...................................................................................................................................... 25 1.3.7 Matteo Realdo Colombo ...................................................................................................................... 27 1.3.8 Gabrielle Fallopius .................................................................................................................................. 28 1.3.9 Miguel Servet ........................................................................................................................................... 29 1.3.10 Girolamo Fabrizio ab Acquapendente .......................................................................................... 29 1.3.11 William Harvey ....................................................................................................................................... 29 1.4 A quarta fase: ciências contemporâneas.................................................................................... 30 2 BASES GERAIS DA ANATOMIA ................................................................................................................... 31 2.1 Divisão da anatomia: o(s) estudo(s) da anatomia .................................................................. 32 2.1.1 Anatomia macroscópica ...................................................................................................................... 32 2.1.2 Anatomia microscópica ........................................................................................................................ 32 2.1.3 Anatomia artística .................................................................................................................................. 33 2.1.4 Anatomia comparativa ......................................................................................................................... 33 2.1.5 Anatomia do desenvolvimento ou embriologia ......................................................................... 33 2.1.6 Anatomia nepiológica ou nepioanatomia .................................................................................... 33 2.1.7 Anatomia do adulto ............................................................................................................................... 34 2.1.8 Anatomia gerontológica ......................................................................................................................34 2.1.9 Anatomia radiológica ............................................................................................................................ 34 2.1.10 Anatomia de superfície ...................................................................................................................... 34 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 2.2 Conceitos gerais de anatomia sistêmica e topográfica ........................................................ 35 2.2.1 Anatomia sistêmica................................................................................................................................ 35 2.2.2 Anatomia topográfica ........................................................................................................................... 37 2.3 Conceito de normal e variações anatômicas ............................................................................ 38 2.4 Fatores gerais de variação anatômica ......................................................................................... 40 2.4.1 Sexo .............................................................................................................................................................. 40 2.4.2 Idade ............................................................................................................................................................ 40 2.4.3 Raça .............................................................................................................................................................. 41 2.4.4 Biotipo ......................................................................................................................................................... 42 2.4.5 Evolução ..................................................................................................................................................... 42 2.4.6 Meio Ambiente ........................................................................................................................................ 42 2.4.7 Biorritmos .................................................................................................................................................. 43 2.4.8 Gravidade ................................................................................................................................................... 43 2.4.9 Esportes....................................................................................................................................................... 44 2.4.10 Trabalho .................................................................................................................................................... 44 2.5 Anomalias ................................................................................................................................................ 45 2.6 Monstruosidade .................................................................................................................................... 48 2.7 Divisão do organismo humano ....................................................................................................... 49 2.8 Posição anatômica ............................................................................................................................... 50 2.9 Planos de delimitação do organismo humano ........................................................................ 50 2.10 Planos de secção do organismo humano ................................................................................ 51 2.11 Termos de posição e direção .......................................................................................................... 53 2.12 As cavidades corporais .................................................................................................................... 54 2.13 Regiões do abdome e da pelve .................................................................................................... 56 2.14 Princípios gerais de construção do organismo humano ................................................... 58 2.14.1 Antimeria ................................................................................................................................................. 58 2.14.2 Metameria ............................................................................................................................................... 59 2.14.3 Paquimeria .............................................................................................................................................. 59 2.14.4 Segmentação ......................................................................................................................................... 59 2.14.5 Estratimeria ou estratificação ......................................................................................................... 59 3 APARELHO ÓSTEO‑ARTICULAR .................................................................................................................. 60 3.1 A estrutura esquelética ...................................................................................................................... 60 3.2 Os principais papéis do esqueleto ................................................................................................. 61 3.3 Arquitetura óssea ................................................................................................................................. 62 3.4 O Periósteo e o Endósteo .................................................................................................................. 64 3.5 Vascularização Óssea .......................................................................................................................... 65 3.6 Inervação Óssea .................................................................................................................................... 65 3.7 Morfologia Óssea .................................................................................................................................. 66 3.8 Características Anatômicas de Superfície dos Ossos ............................................................. 67 3.9 Fatores de Variação Anatômica dos Ossos ................................................................................. 71 3.10 Divisão do Esqueleto ........................................................................................................................ 72 3.10.1 O Esqueleto da Cabeça ....................................................................................................................... 72 3.10.2 O esqueleto do pescoço ..................................................................................................................... 78 3.10.3 O esqueleto do tronco ........................................................................................................................ 79 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 3.10.4 A cintura escapular .............................................................................................................................. 86 3.10.5 O membro superior .............................................................................................................................. 87 3.10.6 A cintura pélvica ................................................................................................................................... 89 3.10.7 O membro inferior ............................................................................................................................... 93 3.11 Artrologia ...............................................................................................................................................96 3.11.1 Articulações fibrosas ............................................................................................................................ 97 3.11.2 Articulações cartilagíneas ...............................................................................................................100 3.11.3 Articulações sinoviais ........................................................................................................................101 4 SISTEMA MUSCULAR ...................................................................................................................................106 4.1 Tipos de músculos ..............................................................................................................................106 4.2 Componentes macroscópicos dos músculos estriados esqueléticos.............................108 4.3 Nomenclatura dos músculos estriados esqueléticos ...........................................................109 Unidade II 5 O CORAÇÃO .....................................................................................................................................................115 5.1 Volumes e pesos do coração ..........................................................................................................116 5.2 Localização do coração ....................................................................................................................117 5.3 Limites do coração .............................................................................................................................118 5.4 Configuração externa do coração ...............................................................................................118 5.5 Configuração interna do coração ................................................................................................121 5.6 Tipos de Circulação do Sangue .....................................................................................................128 5.6.1 A Circulação Sistêmica e Pulmonar ............................................................................................. 128 5.6.2 A Circulação Portal .............................................................................................................................. 129 5.6.3 A Circulação Cardíaca ........................................................................................................................ 130 5.6.4 A Circulação Fetal ................................................................................................................................ 132 5.6.5 A Circulação Colateral ........................................................................................................................ 133 5.7 Aparelho Valvar do Coração...........................................................................................................133 5.8 Esqueleto Fibroso do Coração .......................................................................................................137 5.9 Microanatomia ....................................................................................................................................137 5.10 Pericárdio .............................................................................................................................................138 5.11 Complexo Estimulador do Coração ...........................................................................................139 5.12 Características Morfofuncionais das Artérias e das Veias ...............................................140 6 ANATOMIA DO SISTEMA VASCULAR .....................................................................................................145 6.1 Circuito Sistêmico ..............................................................................................................................145 6.2 Aorta e os seus ramos ......................................................................................................................146 6.3 Ramos da parte ascendente da aorta ........................................................................................146 6.4 Ramos do arco da aorta ..................................................................................................................146 6.5 Ramos da parte torácica da aorta ...............................................................................................147 6.6 Ramos da parte abdominal da aorta ..........................................................................................148 6.7 Tronco pulmonar ................................................................................................................................150 6.7.1 Artérias pulmonares ........................................................................................................................... 150 6.8 Irrigação da cabeça e do pescoço................................................................................................150 6.9 Irrigação dos membros superiores ..............................................................................................151 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 6.10 Irrigação da região pélvica ...........................................................................................................153 6.11 Irrigação dos membros inferiores ..............................................................................................154 7 SISTEMA LINFÁTICO ......................................................................................................................................156 7.1 Vasos linfáticos, linfonodos e ductos linfáticos .....................................................................156 7.2 O baço .....................................................................................................................................................157 7.3 O timo .....................................................................................................................................................157 7.4 As tonsilas .............................................................................................................................................158 8 SISTEMA RESPIRATÓRIO .............................................................................................................................158 8.1 Nariz.........................................................................................................................................................159 8.2 A Cavidade Nasal ................................................................................................................................160 8.3 Os seios paranasais ............................................................................................................................163 8.3.1 Os seios frontais ................................................................................................................................... 164 8.3.2 Os seios maxilares ................................................................................................................................ 164 8.3.3 Os seios esfenoidais ............................................................................................................................ 164 8.3.4 As células etmoidais ........................................................................................................................... 165 8.4 A Faringe ................................................................................................................................................165 8.4.1 Dimensões ............................................................................................................................................... 165 8.4.2 Cavidades da faringe ..........................................................................................................................166 8.4.3 Parte nasal da faringe ........................................................................................................................ 166 8.4.4 Parte oral da faringe ........................................................................................................................... 167 8.4.5 Parte laríngea da faringe .................................................................................................................. 167 8.4.6 Os músculos da faringe ..................................................................................................................... 168 8.5 A Laringe ................................................................................................................................................168 8.5.1 Papéis da laringe .................................................................................................................................. 169 8.5.2 Esqueleto da laringe ........................................................................................................................... 169 8.5.3 Cartilagem tireoidea ............................................................................................................................170 8.5.4 Cartilagem epiglote .............................................................................................................................170 8.5.5 Cartilagem cricoidea ............................................................................................................................171 8.5.6 Cartilagens pares da laringe ............................................................................................................ 173 8.5.7 Compartimentos da Laringe ............................................................................................................ 173 8.5.8 Músculos da Laringe ........................................................................................................................... 174 8.6 A Traqueia ..............................................................................................................................................174 8.7 Os Brônquios ........................................................................................................................................177 8.8 Os pulmões ............................................................................................................................................178 8.9 A segmentação broncopulmonar ................................................................................................179 8.10 A pleura ................................................................................................................................................180 9 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 APRESENTAÇÃO A anatomia humana é uma ciência dinâmica e em evolução, com uma profunda e intrigante herança, que estuda a organização estrutural do organismo humano baseada na Terminologia Anatômica. Nossos objetivos serão discutir alguns dos principais acontecimentos históricos na ciência da anatomia humana; definir anatomia; fazer uma relação das fases históricas nas quais foram usadas cadáveres para entender a anatomia humana; denominar os diferentes níveis de organização estrutural que compõem o corpo humano e elucidar suas relações; definir anatomia; compreender porque a maioria dos termos anatômicos são vocábulos de origem grega e latina; descrever a posição anatômica; relacionar os sistemas de órgãos do corpo, identificar seus componentes e explicar brevemente os principais papéis de cada sistema; descrever a posição anatômica; usar corretamente os termos descritivos e de direção que se relacionam ao corpo humano; situar e denominar as principais cavidades do corpo e suas subdivisões e elencar os principais órgãos contidos dentro delas; denominar as nove regiões do organismo humano e os quadrantes da cavidade abdominal e pélvica; elencar os órgãos que elas compreendem; e descrever os princípios de construção do corpo humano. Estudaremos o aparelho locomotor composto pelos ossos, articulações e músculos. Os nossos objetivos serão identificar os ossos dos esqueletos axial e apendicular; conceituar articulação; conceituar e classificar os diferentes tipos de músculos; assinalar os diferentes papéis do sistema esquelético; identificar os ossos dos esqueletos axial e apendicular; detalhar a anatomia macroscópica dos ossos; indicar as localizações e os papéis da medula óssea vermelha e amarela, da cartilagem articular, do periósteo e do endósteo; classificar os ossos de acordo com a sua morfologia; citar a relevância funcional dos detalhes ósseos; identificar os ossos do crânio em suas diferentes vistas; descrever as regiões da coluna vertebral as suas curvaturas; indicar os papéis da coluna vertebral e dos discos intervertebrais; diferenciar as vértebras atípicas e típicas e descrever as características regionais das vertebras cervicais, torácicas e lombares; citar os ossos do tórax; diferenciar as costelas verdadeiras das falsas; identificar os ossos que compõem as cinturas dos membros superiores e inferiores; citar os ossos dos membros superiores e inferiores; citar as regiões ósseas que compõem o osso do quadril; descrever as diferenças entre as pelves masculina e feminina; conceituar articulação; classificar os tipos de articulação do corpo quanto ao tipo de tecido interposto; classificar e identificar os componentes de uma articulação sinovial; conceituar e classificar os diferentes tipos de músculos; definir os papéis dos músculos; identificar os componentes musculares; reconhecer as diferentes classificações dos músculos esqueléticos. Um sistema cardiovascular eficaz é necessário para manter a vida de um organismo complexo pluricelular. A estrutura do coração possibilita que ele sirva como um sistema de bomba aspirante premente que conserva o sangue circulando ininterruptamente através dos vasos de sangue pelo organismo. Assim, temos como objetivo descrever os papéis do sistema cardiovascular; descrever a localização do coração em relação a outros órgãos da cavidade torácica e as suas membranas serosas associadas; descrever a estrutura e o papel da microanatomia do coração; descrever as cavidades e as valvas cardíacas; identificar os principais vasos de sangue que entram no coração e que dele saem; descrever os tipos de circulação de sangue; descrever e localizar os componentes do complexo estimulador do coração. A estrutura das artérias e das veias possibilita transportar o sangue do coração para os capilares e dos capilares de volta para o coração, assim descreveremos a estrutura e os papéis das artérias e das veias. A aorta emerge do ventrículo esquerdo se ramificando em quatro partes 10 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 principais, e os ramos da aorta nutrem todos os tecidos do organismo humano. Os objetivos propostos para esse tema serão identificar as artérias que nutrem os membros superiores e inferiores; identificar as principais artérias da cabeça e do pescoço; identificar as artérias principais do tórax do abdome e da pelve. Ainda no sistema cardiovascular, estudaremos o sistema linfático formado por vasos linfáticos de diversos tecidos e órgãos linfáticos, que auxiliam na manutenção do equilíbrio líquido dos tecidos e absorvem gorduras do canal alimentar. Também participam do sistema de defesa do corpo contra micro‑organismos patógenos. Nossos objetivos serão, ainda, descrever os componentes, a localização e os papéis dos órgãos linfáticos, descrever a organização dos vasos linfáticos e a circulação da linfa. Por fim, estudaremos o sistema respiratório, que pode ser dividido em vias aéreas superiorese inferiores. Os nossos objetivos serão explanar os papéis do sistema respiratório; identificar os limites da cavidade nasal e a relação com os seios paranasais; descrever as três partes da faringe e reconhecer as principais estruturas anatômicas localizadas em cada uma; descrever a anatomia da laringe; descrever a anatomia da traqueia e dos brônquios. Os alvéolos pulmonares são as unidades funcionais dos pulmões onde acontecem as trocas gasosas. Os pulmões direito e esquerdo estão separadamente contidos em membranas pleurais. Nossos objetivos relacionados aos pulmões serão descrever a localização dos pulmões; diferenciar morfofuncionalmente os pulmões direito e esquerdo; e descrever as pleuras. INTRODUÇÃO Você está começando um estudo fascinante sobre o corpo humano. Iniciaremos com um breve histórico da anatomia e com uma perspectiva histórica de como a anatomia se desenvolveu no decorrer dos séculos. Estabeleceremos um vocabulário básico que nos possibilita dialogar sobre o corpo de forma semelhante àquela utilizada pelos cientistas e pelos profissionais das áreas de saúde. Como a Anatomia é o estudo das estruturas normais, discutiremos os conceitos de normalidade, de variação, anomalia e monstruosidades, bem como os fatores de variação anatômica. Além disso, também veremos os princípios de construção do corpo humano. Apresentaremos os sistemas esquelético, articular e muscular, que formam o aparelho locomotor. Compreenderemos que os ossos, apesar de sua aparência simples, são tecidos vivos complexos e dinâmicos. Cada osso individualmente é considerado um órgão por ser composto de diversos tecidos diferentes que funcionam em conjunto, compondo o esqueleto. Já sobre as articulações, ou junturas, entenderemos que elas são pontos de união entre os ossos, entre as cartilagens e os ossos, ou ainda, entre os dentes e os ossos. Compreenderemos como os músculos produzem distintos movimentos, onde se localizam e os seus respectivos nomes. No sistema cardiovascular, veremos o coração, os vasos de sangue e o sistema linfático. Entenderemos que o coração realiza contrações e relaxamentos, sendo que o lado esquerdo bombeia sangue ao longo de diversos vasos de sangue que se ramificam pelo organismo humano. O lado direito do coração bombeia o sangue para os pulmões, possibilitando capturar O2 e liberar CO2. Veremos que os vasos de sangue compõem caminhos circulatórios fechados para o sangue fluir do coração aos órgãos do 11 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 corpo e retornar ao coração. Assim, os vasos de sangue colaboram para a homeostase dos demais sistemas do organismo humano, transportando e distribuindo o sangue para todo o corpo, levando materiais nutritivos como o O2 e glicose, além de hormônios, e retirando os resíduos. Já a manutenção da homeostase no organismo humano requer uma batalha constante contra os agentes maléficos do nosso meio ambiente. Estudaremos o sistema linfático e os mecanismos de defesa contra os invasores. Por fim, perceberemos que quase todas as células do organismo usam ininterruptamente o O2. Para isso, o sistema respiratório, que se compõe de nariz, faringe, laringe, traqueia, brônquios e pulmões terá esse papel. Além disso, esse sistema também auxilia a regular o pH do sangue; possui receptores para o sentido da olfação; filtra, aquece e umedece o ar inalado; produz o som; e ajuda no controle da temperatura corporal. 13 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA Unidade I 1 BREVE HISTÓRIA DA ANATOMIA “Ao te curvares com a rígida lâmina de teu bisturi sobre o cadáver desconhecido, lembra‑te que este corpo nasceu do amor de duas almas, cresceu embalado pela fé e pela esperança daquela que em seu seio o agasalhou. Sorriu e sonhou os mesmos sonhos das crianças e dos jovens. Por certo amou e foi amado, esperou e acalentou um amanhã feliz e sentiu saudades dos outros que partiram. Agora jaz na fria lousa, sem que por ele se tivesse derramado uma lágrima sequer, sem que tivesse uma só prece. Seu nome, só Deus sabe. Mas o destino inexorável deu‑lhe o poder e a grandeza de servir à humanidade. A humanidade que por ele passou indiferente” Rokitansky, 1876. O começo da anatomia em geral retrocede às origens da existência humana e pertence à Pré‑história. A anatomia pode ser dividida em três fases principais. A primeira fase pertence à Antiguidade, aos precursores. A segunda sobreveio com o declínio do Império Romano, o que afetou as ciências, as artes e também a anatomia. A terceira é a fase da restauração, a partir da data do Renascimento das Ciências na Itália. A anatomia pode ser acompanhada através das civilizações chinesa, egípcia, grega e romana. Além das fases citadas, podemos descrever ainda uma quarta, conhecida como ciência contemporânea, que abrange os séculos XIX, XX e XXI. 1.1 A primeira fase: os precursores O que se sabe sobre os humanos pré‑históricos são palpites obtidos por meio de dedução lógica a partir de informações extraídas das cavernas, de artefatos, de animais abatidos, de sacrifícios e de fósseis. Inicialmente foram observações isoladas, feitas sem qualquer intenção de conhecer os órgãos. A anatomia só tomou um caráter de ciência quando ela se aliou à necessidade médica, ou seja, à arte de curar. 14 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I Figura 1 – Pintura em caverna, Período Pré‑Histórico Diversos crânios trepanados localizados em sítios arqueológicos exibem vestígios de reossificação, o que sugere que muitos indivíduos submetidos a esse arriscado ato cirúrgico sobreviviam. A trepanação baseava‑se na perfuração de um orifício ou a remoção de uma parte de osso do crânio. A trepanação era supostamente utilizada como um ritual para expulsar maus espíritos, ou para diminuir a pressão intracraniana em consequência de ferimentos na cabeça. Os primeiros relatos de estudos de anatomia foram realizados por civilizações do antigo Oriente Médio. As informações eram insuficientes e grosseiramente equivocadas em razão da influência do subjetivismo místico, que delimitava a violação de cadáveres humanos. Figura 2 – A arte da cirurgia da trepanação era praticada por algumas culturas pré‑históricas. Surpreendentemente, muitos indivíduos sobreviveram a essa provação, como ficou evidenciado pela ossificação ao redor das margens ósseas do ferimento 15 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA Saiba mais A obra a seguir mostra os eventos e as revelações que auxiliaram o desenvolvimento daquilo que se entende como Medicina, mostra também seus pioneiros e precursores, como Hipócrates, o pai da Medicina. Contudo, não deixa de registrar todas as vezes que a ciência e as crendices geraram tratamentos que atualmente parecem ficção ou comédia. GORDON, R. A assustadora história da medicina. São Paulo: Nova Fronteira, 2002. 1.1.1 A Mesopotâmia e o Egito A Mesopotâmia era o nome dado à longa e pequena cunha de terra entre os rios Tigre e Eufrates, que nos dias de hoje faz parte do Iraque. Nessa época, a preocupação dos indivíduos era saber qual órgão estava relacionado com a alma. Assim, o fígado, exaustivamente observado em animais sacrificados, foi considerado o “guardião da alma e dos sentimentos que nos fazem homens”. Esta era uma hipótese consistente por causa do tamanho do órgão e de sua associação com o sangue, que era considerado indispensável para a vida. Acreditava‑se que os egípcios possuíssem conhecimento da anatomia em razão das cirurgias bem‑sucedidas que, certamente,remontam há 5000 anos. Foram demonstrados vários trabalhos sobre a anatomia no Egito Antigo, entre eles, o primeiro manual de anatomia registrado por Menés, durante a primeira dinastia egípcia em 3400 a.C. Os meios egípcios de embalsamento poderiam ter contribuído grandemente para a ciência da anatomia se existissem documentos. Nitidamente, os embalsamentos, não eram bem vistos pela população do Egito Antigo. Na prática, os embalsamadores eram constantemente caçados, até mesmo apedrejados e mortos. Embalsamar era uma arte simbólica mais relacionada com a religião do que com a ciência. Figura 3 – Múmia exposta em museu egípcio 16 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I 1.1.2 A China Na China Antiga, a atenção pelo corpo humano era, em particular, filosófica. Pensamentos sobre a anatomia estavam apoiados em suposições em lugar de dissecações ou observações diretas. Os chineses respeitavam o corpo humano e execravam sua mutilação. Porém, a exceção ocorria com a prática de “apertar” os pés das meninas, e das mulheres jovens, como tentativa de deixá‑los mais majestosos. O entendimento dos órgãos internos acontecia puramente por meio de feridas ou de lesões. Somente em tempos contemporâneos foram permitidas dissecações de cadáveres nas escolas médicas chinesas. Ao Imperador Huang‑Ti (2697 a.C.) assume a autoria do Neiching, o cânon da Medicina. No Neiching está mencionado que todo o sangue do corpo se encontra sob a influência do coração; o sangue flui em círculo contínuo, e nunca para. Isso foi mencionado 4300 anos antes de William Harvey descobrir a circulação sanguínea. No Neiching, a fisiologia é extravagante. O coração é o rei; os pulmões são os seus ministros executivos; o fígado o seu general; a vesícula biliar, o seu procurador‑geral; o baço, que monitora os cinco paladares, além dos “três lugares queimantes”, que eram o tórax, o abdome, e a pelve, responsáveis pelo “sistema de esgoto do corpo”. Saiba mais No link a seguir é possível conhecer um pouco mais sobre a História da Anatomia e o Museu de Anatomia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. BRASIL. Uma breve história da anatomia humana. Porto Alegre: UFCSPA, [s.d.]. Disponível em: <http://www.ufcspa.edu.br/index.php/ historia‑da‑anatomia‑humana>. Acesso em: 6 jul. 2016. 1.1.3 O período grego Foi na Grécia Antiga que a anatomia alcançou maior aprovação como ciência. Até aquele momento, a Medicina era uma “arte sagrada” ligada à magia, astrologia e religião. Os atenienses apresentavam cuidados com os seus mortos. Certa vez, condenaram à morte um dos seus generais bem‑sucedidos após uma batalha, pois, na busca pelos inimigos, deixou seus soldados mortos para trás, sem sepultamento. Era uma obrigação religiosa entre os gregos e os romanos cobrir com terra qualquer osso humano encontrado por casualidade. Apenas os condenados e os suicidas poderiam ficar sem enterro. Entre os gregos existia a crença de que as almas dos mortos vagariam pelas margens do rio Styx, o “rio da imortalidade”, até que seus corpos tivessem sido enterrados. Alcméon de Cróton Alcméon de Cróton (535 a.C.?), discípulo de Pitágoras, escreveu a primeira obra de anatomia. Para Alcméon, o ser humano é um ser pneumático, cujas fontes de vida são quatro órgãos: cérebro, 17 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA coração, umbigo e genitais. Em dissecções de animais, Alcméon observou os nervos ópticos e as tubas auditivas, garantindo que as cabras respiravam pelas orelhas. Reconheceu o encéfalo como a sede da vida intelectiva do ser humano e como receptor da visão e da audição; o cérebro é o centro da vida e da inteligência, e não o coração e o diafragma, como se afirmava anteriormente. Alcméon acreditava que o espermatozoide era parte do cérebro do homem desde os 14 anos de idade. Hipócrates de Cós Hipócrates de Cós (460‑370 a.C.), reconhecido como o “Pai da Medicina”; na área da anatomia nada realizou de relevante. Possivelmente foi o pioneiro do estudo da anatomia constitucional. Expôs o pericárdio como uma capa lisa, envolvendo o coração e contendo um líquido semelhante à urina. Na coleção hipocrática existem registros sobre o coração, no qual são descritos os átrios e as valvas atrioventriculares. Admite o cérebro como o mensageiro do pensamento. Hipócrates foi o primeiro a estabelecer uma relação entre o cérebro e a doença sagrada, a epilepsia. Figura 4 – Hipócrates de Cós Embora Hipócrates, supostamente, tivesse tão somente restrita orientação em dissecções humanas, ele foi bem conduzido na afamada teoria humoral de organização do corpo. Através dessa teoria eram identificados quatro humores no corpo, e cada um deles era agregado com um órgão em especial: sangue com o fígado; cólera, ou bile amarela, com a vesícula biliar; fleuma com os pulmões; e melancolia, ou bile preta. Acreditava‑se que um indivíduo teria um equilíbrio dos quatro humores. Observação Os quatro humores fazem parte de nossa linguagem e da clínica médica nos dias atuais. Melancolia é um termo utilizado para descrever depressão ou desânimo de um indivíduo, enquanto melano se alude a um semblante obscuro ou pálido. O prefixo “melano” significa preto. Cólera é 18 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I uma patologia intestinal que causa diarreia e vômito. Fleuma no interior do sistema respiratório é sinal de diversas doenças pulmonares. Aristóteles Aristóteles (384‑322 a.C.), discípulo de Platão, era escritor ilustre, filósofo e zoologista. Era também professor conceituado, contratado pelo Rei Filipe da Macedônia para ensinar seu filho, Alexandre, que posteriormente ficou conhecido como Alexandre, o Grande. Aristóteles é o primeiro a utilizar a palavra anatomé, termo grego que significa cortar ou dissecar. Aristóteles não dissecou cadáveres humanos, imaginava que os apontamentos em animais eram correspondentes aos homens, o que designou anatomia aristotélica. Ele cita as meninges e afirma que o cérebro possui cavidades; reconheceu a aorta e diferenciou as artérias das veias. Aristóteles é reconhecido como o fundador da anatomia comparada. Entretanto, ele publicou algumas teorias erradas referentes à anatomia. Por exemplo, Platão havia demonstrado que o cérebro era a “moradia do sentimento e do pensamento”, mas Aristóteles discordou. Ele determinou a sede da inteligência no coração, e interpretou que a função do cérebro, que era mergulhado em um líquido, tão somente seria resfriar o sangue bombeado pelo coração, conservando assim, a temperatura corpórea. Figura 5 – Aristóteles (seta). Detalhe de Escola de Atenas, afresco de Rafael, 1509. Herófilo da Macedônia O ano de 334 a.C. marca o início do Período Alexandrino na história da Grécia. Alexandre Magno fundou a cidade de Alexandria aproximadamente entre os anos 331‑323 a.C. Além de uma vasta biblioteca, havia também uma escola de medicina em Alexandria. O estudo da anatomia progrediu porque eram permitidas as dissecções de cadáveres e as vivissecções. Infelizmente, as colaborações sábias e o desenvolvimento científico de Alexandria não permaneceram. O desaparecimento da maioria dos registros aconteceu quando a vasta biblioteca foi queimada pelos romanos que invadiram a cidade em 30 a.C. 19 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA Herófilo é visto como o “açougueiro de homens”, pois ele realizava vivissecção em criminosos da prisão real. Estima‑se que ele dissecou mais de 6000 seres humanos, muitas vezes em demonstrações públicas(“sem dúvida, o melhor método para aprender”, escreveu Celsius, consentindo). Apesar de desumana, essa metodologia dava à anatomia uma base verdadeiramente precisa. Ele expôs descrições fantásticas do crânio e dos olhos. Duas obras extraordinárias de Herófilo são designadas de Sobre a Anatomia e Dos Olhos. Erasístrato de Chio Erasístrato (304‑250 a.C.) interessava‑se mais pelas funções do corpo humano do que pela estrutura e, muitas vezes, é designado “Pai da Fisiologia”. Aperfeiçoou os dados sobre o cérebro e o cerebelo, considerando esses órgãos como a sede da alma. Entre suas diversas descrições, ele determinou a substância cerebral, e não a dura‑máter, como a origem dos nervos cranianos; estabeleceu o cérebro e o cerebelo como órgãos parenquimatosos e descreveu os ventrículos encefálicos. Juntamente com Herófilo, determinou que o número de giros está relacionado com a inteligência humana. Entretanto, o esplendor das descobertas anatomopatológicas de Herófilo e Erasístrato tombou em infortúnio após a suspeita de que escravos e condenados a morte haviam sido dissecados vivos com a autorização de Ptolomeu I. Cita uma passagem em Machado de Assis – “Contos Alexandrinos”, a história de dois filósofos: Stroibus e Pítias. Tinham sido escalpelados cerca de cinquenta réus, quando chegou à vez de Stroibus e Pítias. Vieram buscá‑los; eles supuseram que era para a morte judiciária, e encomendaram‑se aos deuses. De caminho, furtaram uns figos, e explicaram o caso alegando que era um impulso da fome; adiante, porém, subtraíram uma flauta, e essa outra ação não a puderam explicar satisfatoriamente. Todavia, a astúcia do larápio é infinita, e Stroibus, para justificar a ação, tentou extrair algumas notas do instrumento, enchendo de compaixão as pessoas que os viam passar, e não ignoravam a sorte que iam ter. A notícia desses dois novos delitos foi narrada por Herófilo, e abalou a todos os seus discípulos (ASSIS, 1994, p. 41). Os anatomistas pretendiam saber se “nervo do furto” residia na palma das mãos. Pelo que se diz, Herófilo dissecou primeiro Stroibus e, a seguir, Pítias, durante oito dias. 1.1.4 O Império Romano Em muitos aspectos, o Império Romano inclui os progressos científicos e as bases para a Idade do Obscurantismo. O questionamento científico perfaz a teoria pela prática durante esse período. Foram realizadas algumas dissecções de cadáveres humanos, mas para determinar a razão da morte em casos criminais. A medicina não era preventiva, contudo limitava‑se, quase sem exceção, ao tratamento de soldados lesados em combates. Nos últimos tempos da história romana, as leis eram postas evidenciando a autoridade da Igreja na prática médica. De acordo com as leis romanas, por exemplo, nenhuma gestante morta poderia ser sepultada sem a retirada do feto do útero de maneira que pudesse ser batizado. Dois anatomistas romanos foram relevantes: Celsius e Galeno. 20 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I Cornelius Celsius A maior parte do que se sabe atualmente sobre a escola médica da Alexandria fundamenta‑se nos registros do enciclopedista romano Celsius (30 a.C.‑30 d.C.). Ele reuniu os dados em um trabalho de oito volumes: Deremedicina. Contudo, Celsius teve o crédito meramente restrito a sua própria época, provavelmente devido à utilização do latim em lugar do grego. Claudius Galeno Galeno (130‑201 d.C.) nasceu em Pérgamo, cidade grega da Ásia menor, médico de Marcus Aurelius Antoninus e Imperador de Roma. Foi médico da Escola de Esgrima e exerceu a medicina em Roma. Como a dissecação humana era banida, Galeno não dissecava cadáveres humanos, mas humanizava por aproximação, talvez a causa de seus erros anatômicos. Em seres humanos, ele fazia pesquisas observando feridas profundas ou estudando cadáveres de indigentes que eram encontrados eventualmente. Seus tratados nos apresentam descrições detalhadas de dissecações executadas em macacos, porcos, cães e ursos. Aos 28 anos, Galeno se tornou cirurgião de gladiadores e sugeriu com êxito novos tratamentos para lesões de tendões e nervos. As principais descrições de Galeno encontram‑se no campo do sistema nervoso. Os nervos medulares foram divididos segundo as regiões, e os nervos cranianos em número de nove pares: óptico, oculomotor, troclear, trigêmeo, palatino, acústico, facial, auditivo e hipoglosso. Já conhecia o infundíbulo da hipófise, que ele cria comunicar‑se com a cavidade nasal. Descreve o esterno com sete peças, tanto como as costelas com as quais se articula; e a cartilagem tireóidea com o nome de Chondros thyreoides, semelhante ao escudo cretense. Em nenhum tempo, o status de um homem prevaleceu de maneira tão profunda em uma ciência como a de Galeno na medicina. Suas inspirações prorrogam‑se pelos próximos 13 séculos através da Idade Média até o século XVI, sendo que as obras de Galeno determinam os princípios dos dados anatômicos. Figura 6 – Xilogravura do artista renascentista Francesco Salviati (1510‑1563) com base na obra De Fascius, de Galeno, do primeiro século d.C. A xilogravura mostra uma cirurgia do ombro, proporcionando uma conexão direta com a prática cirúrgica hipocrática, que continua por todo o período Bizantino. 21 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA Saiba mais Se você quiser aprofundar seus conhecimentos sobre esses temas, leia: KICKHÖFEL, E. H. P. A lição de anatomia de Andreas Vesalius e a ciência moderna. Scientiæ Studia, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 389‑404, jul./set. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid =S1678‑31662003000300008>. Acesso em: 6 jul. 2016. ALVES, M. V. A medicina e a arte de representar o corpo e o mundo através da anatomia. Portugal: FCSH, [s.d.]. p. 31‑50. Disponível em: <http:// www.fcsh.unl.pt/chc/pdfs/nature4.pdf>. Acesso em: 6 jul. 2016. CHEREM, A. J. Medicina e arte: observações para um diálogo interdisciplinar. Revista Acta Fisiátrica, v. 12, n. 1, p. 26‑32, 2005. Disponível em: <http://www.actafisiatrica.org.br/detalhe_artigo.asp?id=240>. Acesso em: 6 jul. 2016. CHIARELLO, M. Sobre o nascimento da ciência moderna: estudo iconográfico das lições de anatomia de Mondino a Vesalius. Scientiae Studia, São Paulo, v. 9, n. 2, p. 291‑317, 2011. Disponível em: <http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678‑31662011000200004>. Acesso em: 6 jul. 2016. 1.2 A segunda fase: a Idade Média Pode ser chamada de fase da ciência árabe, que durou quase 1000 anos até Constantinopla ser conquistada pelos turcos em 1453. A dissecção de cadáveres ficou completamente estagnada durante a Idade Média, e a violação de cadáver era considerada um ato criminoso, frequentemente punido com a pena de morte. Durante a peste negra no século XVI, todavia, foram realizadas algumas dissecções na esperança de determinar a causa da apavorante doença. Durante as Cruzadas Religiosas, os soldados cozinhavam os ossos de seus parceiros mortos, de modo que os soldados pudessem regressar para as suas moradias e ter um enterro digno. Entretanto, até mesmo esse ato foi considerado uma profanação e duramente criticado pela Igreja. 1.2.1 A contribuição do povo islame Os povos de língua árabe deram intensas colaborações à história da Anatomia de uma maneira incomum. Foi o mundo islâmico que preservou grande parte da cultura ocidental das ruínas do Império Romano, da exploração da Igreja Cristã, e das perseguições da Idade Média. Com a expansão do Islame pelo Oriente Médio e Norte da África durante o século VIII, os documentos remanescentes de Alexandria foram trazidos para os países árabes e traduzidos do grego para o árabe. Quando a Idade do Obscurantismo imperava na Europa, a Igreja Cristãbuscou reprimir qualquer declaração cultural ou dado 22 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I profano que não fosse aceito pelos dogmas cristãos. A exploração do corpo humano foi considerada herege, e a Igreja proibiu as escritas sobre anatomia. Tão somente no século XIII que as traduções árabes voltaram à Europa e, por seu lado, foram traduzidas para o latim. Dessa maneira, os médicos árabes, cujas habilidades são hoje redescobertas, tinham introduzido mudanças sábias nas ideias galênicas. O persa Ibn Sina, conhecido no ocidente como Avicena (980‑1037 d.C.), organizou e sistematizou os saberes de Aristóteles, Hipócrates e Galeno em um compêndio de Medicina, uma obra majestosa que ficou marcada como Cânon. Este foi publicado pela primeira vez apenas em 1492 e é uma mistura de saberes médicos islâmicos e gregos. O Cânon foi o primeiro livro médico a mostrar a reparação de tendões em um período em que esse tratamento era equivocadamente contraindicado. 1.3 A terceira fase: o Renascimento A fase conhecida como Renascimento foi determinada pela vida nova das ciências. O Renascimento foi introduzido nas grandes universidades europeias localizadas em Bolonha, Salerno, Pádua, Montpellier e Paris. Somente no Renascimento seriam aceitos, ainda que com certa cautela e dignidade, os procedimentos de violação do corpo por meio de estudos de cadáveres. O interesse elevado pelo estudo da anatomia durante o Renascimento fez com que a aquisição de cadáveres para a dissecção se tornasse um problema grave. Estudantes de medicina invadiam sepulturas para saqueá‑las, até que um decreto oficial foi expedido e permitiu utilizar os corpos de criminosos executados como espécimes. Em consequência da rápida putrefação de um cadáver, os livros de Anatomia do início do Renascimento eram arrumados de forma que as partes mais perecíveis do corpo fossem descritas primeiramente. As dissecções começavam pela cavidade abdominal, e a seguir: tórax, cabeça, e por fim os membros superiores e inferiores. Uma dissecção durava, em média quatro dias. As aulas de anatomia aconteciam num “teatro anatômico”. Ele deveria ser vasto e arejado, com bancos organizados em círculos, como os do Coliseu Romano, possibilitando a posição de muitos alunos sem importunar os movimentos do Maestro, o cirurgião. O cadáver era colocado em uma mesa no centro do teatro, e os instrumentos em outra, próxima à primeira. Os professores de anatomia pronunciavam as suas aulas de cátedras um pouco distante do local do cadáver. A frase: “eu não devo tocá‑lo com uma vara de 10 pés” possivelmente originou‑se durante esse período em menção ao odor de um cadáver em deterioração. Saiba mais Para saber um pouco mais sobre o teatro anatômico, leia o artigo: PIAZZA, M. J. Palazzo del Bó e o teatro anatômico. Femina, v. 40, n. 5, p. 235‑236, 2012. Disponível em: <http://www.febrasgo.org.br/site/ wp‑content/uploads/2013/05/235.pdf>. Acesso em: 6 jul. 2016. 23 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA 1.3.1 Mondino de Luzzi O ensino da anatomia humana com demonstração dos órgãos realizada em cadáveres pelo próprio professor iniciou‑se em Bolonha, em 1315, com Mondino de Luzzi, designado o restaurador da anatomia. Figura 7 – Página título da edição do comentário de Mondino por Martin von Mellerstadt (Leipzig, 1493) 1.3.2 Jacopo Berengario de Carpi Entre os primeiros livros de anatomia a serem impressos estava o de Jacopo Berengario de Carpi (1470‑1530) professor de cirurgia em Bolonha e Paris durante 25 anos, antecedendo Vesalius. Conta a história que Berengario de Carpi dissecou mais de 100 cadáveres. Ele descreveu diversas estruturas anatômicas, por exemplo, o apêndice vermiforme, timo, membrana do tímpano, comunicação do seio esfenoidal com o meato nasal superior e laringe. Descrevou a medula espinal, terminando no adulto ao nível de L2. Figura 8 – Da edição do comentário do texto de Mondino por Berengario de Carpi (Veneza, 1935) 24 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I 1.3.3 Jacobus Dubois Sylvius O estudo da anatomia floresceu em Paris, com Jacobus Dubois Sylvius (1478‑1555). Sylvius foi professor de anatomia e cirurgia no Colégio da França. Foi o primeiro a dar uma boa descrição dos músculos, que receberam nomes conforme a sua forma e a sua situação. Sylvius falava perfeitamente o latim, o grego e o hebraico. Deve‑se a Sylvius uma reconsideração da nomenclatura equivocada, tendo passado do árabe para o grego. Manteve os enganos de Galeno contra Vesalius seu discípulo. Chegou a garantir que um erro de Galeno estava fora de objeção. Dizia que a espécie humana estava se alterando e sofrendo uma “degenerescência”, por exemplo, o encurtamento do esterno, quando escreveu que ele apresentava sete partes, conforme Galeno. 1.3.4 Michelangelo di Ludovico Buonarroti Simoni Em uma das mais apreciadas imagens plásticas do Renascimento, “A Criação do Homem”, pintada na Capela Sistina por Michelangelo (1475‑1564) entre 1508 e 1512, encontra‑se a imagem das mãos aproximadas, como sendo as mãos de Adão e de Deus. Ao analisar essa pintura que integra o teto da capela, é possível observar que o pintor apresentava informações bem definidas da musculatura de antebraços. Figura 9 – A Criação do Homem 1.3.5 Leonardo da Vinci Em seu tratado de anatomia nunca terminado, planejado para ser escrito em cooperação com o jovem professor de anatomia Marcantonio Della Torre (1481‑1512), Leonardo da Vinci (1452‑1519) revelou que ajudou a dissecar 30 cadáveres em escolas de medicina. A escrita invertida é uma característica das observações do canhoto Da Vinci. No desenho nomeado “Coito”, Leonardo, embasado em Galeno, acreditava que a parte ativa, ou seja, a reprodutiva e densa do espermatozoide, responsável pela nova vida a ser gerada no ventre feminino, seria produzida na medula espinal. 25 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA Figura 10 – Coito, Leonardo da Vinci Ele ponderou o homem como o centro do universo, distendendo a figura humana em duas formas geométricas, uma em relação ao quadrado, e a outra em relação ao círculo, sendo que a unidade melodiosa seria dada pelo conjunto. Seu ponto de partida foram os escritos do arquiteto e engenheiro militar Marco Vitrúvio, que constituíra no século I a.C. a doutrina que relacionava a proporcionalidade da soberba arquitetura com as do homem de boa conformação. Figura 11 – O Homem Vitruviano, Leonardo da Vinci 1.3.6 Andreas Vesalius Andreas Vesalius (1514‑1564), médico flamengo, de Flandres, região da Bélgica e França, foi professor de anatomia em Pádua, Itália. Vesalius foi o responsável por uma revolução ao fundar a moderna ciência da Anatomia, publicando sua extraordinária obra intitulada De Humani Corporis Fabrica Libri Septem, em 1543. 26 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I Figura 12 – Frontispício do De Humani Corporis Fabrica Libri Septem de Vesalius (imagem estampada na edição de Basileia de 1543). Vesalius baseou‑se nos ensinamentos de Galeno, resumidos no pensamento “dissecar e observar”. Porém, essa proposta levou Vesalius a enfraquecer a anatomia galênica, já que esta era fundamentada em dissecção de animais. A indignação contra Galeno e a sua anatomia provocou ondas de críticas. Vesalius foi profundamente reprovado pelos seus mais proeminentes concorrentes, Sylvius, seu mestre, e Bartolomeu Eustáquio. A cobiça e a aversãode Sylvius eram tão grandes que ele chamou Vesalius de “Vesano” – “o Louco”. Vesalius viveu em um período em que o pensamento e a inovação eram graves, quando muitos tiveram que pagar com a vida a liberdade intelectual. Não resta dúvida de que Vesalius foi o primeiro pensador anatômico que ousou criticar Galeno, contestando seus erros. Figura 13 – Imagem estampada na primeira edição da Fabrica, de 1543 27 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA Conta a história que Vesalius caiu em infortúnio perante a corte e o clero. O Imperador Carlos V, utilizando a sua reputação, foi capaz de subtrair Vesalius dos suplícios da Inquisição. Vesalius, então, realizou uma jornada pela Terra Santa. O crime praticado por Vesalius era irredimível: ele estava ocupado em dissecar um cadáver humano de um nobre cavaleiro da corte do rei ferido em duelo, quando um de seus assistentes testemunhou o coração bater. Aos 50 anos de idade, em 1564, Vesalius retornava à Itália após uma andança a Jerusalém quando foi acometido por um naufrágio em Zante, ilha da Grécia. Ali faleceu de fome e fadiga depois de errar solitário durante três dias. As práticas e as informações indicadas por Vesalius foram tão relevantes que, no século seguinte, seus estudos ganharam visibilidade em telas, por exemplo, Lição de Anatomia do Dr. Tulp, pintada por Rembrandt em 1632. Dr. Tulp não era cirurgião nem anatomista, mas um médico preocupado em distinguir as sequelas dos incômodos nos diversos órgãos do corpo humano. Entretanto, o ensino como demonstração, legado do Renascimento, sugere a relevância da anatomia no ensino médico. Figura 14 – Rembrandt, Anatomia do Dr. Tulp 1.3.7 Matteo Realdo Colombo Após muitos séculos de marasmos profundos, decadência e omissão das ciências, diversos anatomistas surgiram, deixando seus legados em nome da história da anatomia e da medicina. O sucessor de Vesalius, em Pádua, foi Matteo Realdo Colombo (1516‑1559), que viu a concomitância entre a sístole e a expansão arterial e a diástole com a contração arterial. Confirmou a ausência de poros no septo interatrial e no septo interventricular, assim como a teoria de Servet, no livro De Re Anatomica, publicado em 1559, pouco depois de sua morte. 28 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I Figura 15 – Frontispício do De Re Anatomica de Realdo Colombo, imagem estampada na edição veneziana de 1559 1.3.8 Gabrielle Fallopius Realdo Colombo foi sucedido por Gabriele Fallopius (1523‑1562), para quem Vesalius era “um médico esplêndido e professor divino”. Fallopius, conhecido pela sua versatilidade, um scholar no sentido dos anglo‑saxônicos, era considerado um professor diversificado de anatomia e maravilhado pelas abundantes colaborações realizadas a quase todos os sistemas e aparelhos do corpo humano. Foi professor de anatomia em Pisa e Pádua, onde acumulou as cadeiras de anatomia e cirurgia. Diversas colaborações relevantes para a anatomia foram descritas por Fallopius, entre elas a tuba uterina, clitóris, hímen, vagina e a placenta, Conta a história que Fallopius, em Pisa, realizou pesquisas sobre a medicação de venenos em criminosos condenados. Observação Vários anatomistas imortalizaram seus nomes criando uma série de epônimos, ou seja, diversas estruturas anatômicas receberam denominações em homenagem aos primeiros anatomistas que as descreveram. Epônimo é o termo anatômico gerado a partir do nome de uma pessoa. O epônimo visava a homenagear o cientista que descobrisse ou primeiro descrevesse determinada estrutura anatômica. Assim, temos como exemplos o polígono de Willis e a trompa de Eustáquio. As glândulas de Bartholin, o fundo de 29 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA saco de Douglas e as trompas de Falópio, por exemplo, são as seguintes estruturas anatômicas: as glândulas vestibulares, a escavação retouterina e as tubas uterinas, respectivamente. 1.3.9 Miguel Servet Fallopius, por sua vez, teve como contemporâneo Miguel Servet (1509‑1555), nascido na Espanha, estudou medicina em Paris. A Servet também foi atribuída a descoberta da circulação pulmonar. Condenou impetuosamente os mandamentos cristãos, atacando os católicos e os protestantes, exaltando uma religião naturalista. De tal modo, Servet obteve uma soberba reputação de herege, sendo duramente perseguido. Aos 42 anos de idade foi queimado vivo, em 1555, por determinação do arcebispo de Viena, João Calvino. 1.3.10 Girolamo Fabrizio ab Acquapendente Fallopius teve discípulos excelentes, entre os quais, um dos mais brilhantes anatomistas de todos os tempos: Girolamo Fabrizio, ab Acquapendente (1533‑1619), cidade onde nascera na região de Piemonte. Fabrizio, médico e cirurgião excepcional, de rara habilidade, cuidou dos mais ricos personagens da república vienense, recusando‑se sempre a aceitar qualquer pagamento em dinheiro. Fabrizio concentrou todo o conhecimento de Fallopius e chegou a ultrapassá‑lo. Ele recebeu a condecoração máxima, Professor Supraordinarius, da Universidade de Pádua, e se diferenciou, também, por fazer jus ao mais alto salário pago, “em peças de ouro”, a um professor de anatomia. 1.3.11 William Harvey O estudo da anatomia tinha se tornado bem determinado no final da Renascença. No final do século XVIII, o encanto na anatomia sofreu um abatimento. A atenção da maioria dos estudiosos se voltou para o estudo da patologia, embriologia e anatomia comparada. A nova anatomia do Renascimento demandou uma revisão da ciência. O médico inglês William Harvey, educado em Pádua, associou a tradição anatômica italiana com a ciência experimental que eclodia na Inglaterra. William Harvey (1578‑1657) iniciou um marco histórico com a publicação do seu trabalho Exercitatio Anatomica de Motu Cordis et Sanguinis in Animalibus ao organizar os princípios da circulação sanguínea. De jeito, sarcástico nos comentários e nas contestações que se seguiram, a palavra latina circulator era utilizada, pelos rivais, como difamador, com o significado de charlatão. Demonstrou de forma definitiva, por meio de observação direta da circulação de animais de laboratório, que o sangue oriundo do ventrículo direito seguia pela artéria pulmonar em direção aos pulmões, e retornava ao coração por meio das veias pulmonares. Suas observações enterraram dogmaticamente a teoria da presença de poros interventriculares. Entretanto, Harvey desconhecia a fisiologia da circulação pulmonar: a dissipação de CO2 e absorção de O2. 30 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I Saiba mais Sobre William Harvey, leia os seguintes artigos: RAMOS, C. William Harvey: vida e obra (1ª parte). Acta Médica Portuguesa, n. 5, p. 507‑512, 1992. Disponível em: <http:// www.actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/ download/4505/3528>. Acesso em: 6 jul. 2016. RAMOS, C. William Harvey: vida e obra (2ª parte). Acta Médica Portuguesa, n. 5, p.559‑563, 1992. Disponível em: <http:// www.actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/ viewFile/3291/2617>. Acesso em: 6 jul. 2016. 1.4 A quarta fase: ciências contemporâneas As contribuições para a ciência anatômica durante o século XX não foram tão magníficas quanto no período em que pouco se sabia sobre a estrutura do corpo humano. O estudo da anatomia se aperfeiçoa cada vez mais por meio das especializações, e as pesquisas se tornaram mais minuciosas e mais complexas. Infelizmente, um ponto negativo ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, período em que as polêmicas bioéticas,abrangendo as experiências com seres humanos, tomavam corpo com o processo de Nuremberg, onde anatomistas alemães foram denunciados por utilizar corpos de vítimas do holocausto para as pesquisas anatômicas. Ainda, ocorreram diversas acusações sobre a presença da suástica nazista nas páginas de alguns atlas anatômicos do período. A partir de 1977, uma nova técnica de preparação de peças anatômicas foi elaborada. Essa descoberta foi realizada pelo médico e professor da universidade de Heidelberg na Alemanha, Gunther Von Hagens, que se intitula “Vesalius do século XXI”. Ele inventou e desenvolveu o processo batizado por Gunther de plastinação (ver figura a seguir), que incide numa maneira moderna de mumificação, fazendo com que os cadáveres tenham uma elevada resistência. Assim, a plastinação é outro aspecto que envolve polêmicas bioéticas, onde os “espécimes” inodoros, secos, e quase eternos, estão sendo vastamente utilizados como modelos de anatomia em exposições e faculdades de medicina. Milhões de desconhecedores já testemunharam corpos dissecados em uma das “fantásticas” exposições de anatomia pelo mundo, e um novo mercado on‑line de “espécimes” humanos plastinados está aumentando. A anatomia humana sempre será uma ciência relevante. Não tão somente aperfeiçoa nosso entendimento individual do funcionamento do corpo humano, mas também é fundamental no diagnóstico clínico e no tratamento das doenças. A anatomia humana já não está mais restringida à observação e à 31 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA descrição das estruturas isoladamente, porém se ampliou para compreender as complexidades de como o corpo humano age como um todo integrado. A ciência da anatomia é dinâmica e permanecerá ativa porque os dois aspectos do corpo humano, a estrutura e a função, são inseparáveis. Saiba mais Conheça as novas técnicas de preservação de peças anatômicas: ANDREOLI, A. T. et al. O aprimoramento de técnicas de conservação de peças anatômicas: a técnica inovadora de plastinação. Revista EPeQ/Fafibe on‑line, 4. ed., p. 81‑85, 2012. Disponível em: <http://www.unifafibe.com. br/revistasonline/arquivos/revistaepeqfafibe/sumario/24/20112012215831. pdf>. Acesso em: 6 jul. 2016. KIM, J. H. Exposição de corpos humanos: o uso de cadáveres como entretenimento e mercadoria. Mana, v. 18, n. 2, p. 309‑348, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid =S0104‑93132012000200004>. Acesso em: 6 jul. 2016. 2 BASES GERAIS DA ANATOMIA A anatomia humana é considerada a disciplina mais antiga da medicina, tanto que, no começo, ambas se confundiam. Pelo menos no princípio, em tempos antiquíssimos, era possível saber anatomia ou, pelo menos, ter alguns conhecimentos anatômicos para poder praticar a medicina. Desde aquele tempo começou a ser oportuno o pensamento Nulla Medicina sine Anatomia, ou seja, “Não há Medicina sem Anatomia”. Ramo seco da Biologia, Ciência dos mortos, Ciência dos fósseis, A Anatomia morreu! Esses são os “versos” cantados aos quatro ventos por aqueles que julgam – quase – desnecessário o estudo da Anatomia. Para demonstrar este mal um caso pitoresco ocorreu no Brasil, quando um laureado com prêmio Nobel foi convidado a fazer conferências científicas e educacionais sobre “Atualização do Currículo Médico” o famoso professor, com toda a autoridade que um ganhador de prêmio Nobel pode ter, brindou a plateia com a seguinte mimosidade: “uma grande redução no currículo poderia ser feita à custa da Anatomia, pois para conhecer a anatomia dos homens, bastaria conhecer a anatomia do rato”. A grande vantagem que ele antevia era que a dissecação de um mamífero pequeno poderia ser feita em três dias, e não nos três anos necessários para dissecar o homem. Na discussão que se seguiu, um dos participantes da plateia perguntou: “se o orador fosse acometido por uma apendicite aguda, ele escolheria o cirurgião que tivesse dissecado um rato, ou um que tivesse dissecado um cadáver humano?” O orador fez uma longa pausa e honestamente confessou que ele escolheria o 32 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I cirurgião que tivesse estudado anatomia no homem. O professor que fizera a pergunta retomou a palavra e parabenizou o orador pela sua excelente escolha, acrescentando: principalmente por que o rato não tem apêndice vermiforme (DI DIO, 1998, p. 28). O termo anatomia, etimologicamente, tem origem grega (anatomé): Ana (distributivo, em partes) e Tomé (corte, por exemplo, tomos de um Tratado) ou Temnein (cortar). A agregação das palavras significa dissecação, ou dissecção. Dissecação procede do termo latino dissecare (dis: em partes; secare: cortar, incisar) e corresponde ao termo anatomia. A anatomia divulga as bases da forma e da estrutura do corpo humano são e de seus órgãos. A forma descreve a morfologia externa do indivíduo, de seus membros e órgãos. A estrutura respeita a organização interna dos órgãos e de seus componentes nos níveis macroscópico, microscópico, submicroscópico e molecular; o termo estrutura inclui a função. A anatomia determina, juntamente com a fisiologia e a bioquímica, a base para a profilaxia, o diagnóstico, a terapia e a reabilitação de patologias. Nota clínica Homeostase é a preservação de um ambiente interno moderadamente contínuo e adaptado para a sobrevivência das células e dos tecidos do corpo. Defeitos na preservação das circunstâncias homeostáticas indicam patologias. Os processos das patologias podem atingir primeiramente um tecido, um órgão ou um sistema específico, porém, em última instância, conduzirão a modificações de função ou na estrutura das células do corpo. Algumas patologias podem ser recuperadas pelas defesas corporais. Outras exigem tratamento. Por exemplo, quando acontece um trauma e existe sangramento excessivo ou lesão de órgãos internos, o tratamento cirúrgico pode ser indispensável para resgatar a homeostase e impossibilitar problemas potencialmente letais. 2.1 Divisão da anatomia: o(s) estudo(s) da anatomia Além dos aproveitamentos na Medicina e das diversas formas de estudo da Anatomia, há uma leitura anatômica nas várias áreas da atividade humana. 2.1.1 Anatomia macroscópica Anatomia macroscópica refere‑se às estruturas com dimensões maiores do que um milímetro, isto é, as estruturas que podem ser identificadas a olho nu ou com auxílio de uma lupa. A figura a seguir mostra a anatomia macroscópica de cadáver conservado com técnica MAR V. 2.1.2 Anatomia microscópica A anatomia microscópica parte para além das estruturas analisadas a olho nu, permitindo uma subdivisão mais detalhada do corpo. Visualiza estruturas com dimensões menores do que um milímetro. A anatomia microscópica divide‑se em citologia, estudo da estrutura e função da célula; e histologia, estudo dos tecidos e anatomia microscópica dos órgãos. 33 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA 2.1.3 Anatomia artística A anatomia artística se presta ao estudo das proporções dos segmentos naturais do corpo humano, à configuração exterior, relacionando‑a principalmente com ossos e músculos, estática e dinamicamente, para finalidades de escultura e pintura. Como exemplo de anatomia artística, a pintura de Mona Lisa, também conhecida como A Gioconda, a mais notável obra de Leonardo da Vinci. Figura 16 – Mona Lisa. Pintura a óleo sobre madeira de álamo. Museu de Louvre, em Paris. 2.1.4 Anatomia comparativa A anatomia comparativa compara e inclui os planos estruturais de diferentes representantes do reino animal e busca regras relacionadas à forma. Outra função da anatomiacomparativa é o confronto entre seres humanos e outros animais, com o intuito de encontrar formas homólogas, iguais entre as espécies, e as heterólogas, diferentes entre as espécies. 2.1.5 Anatomia do desenvolvimento ou embriologia Aborda o crescimento e a diferenciação do organismo desde o ovo celular até o nascimento. Quando aplicada à história da vida de um indivíduo é designada ontogenia. É impossível perceber com nitidez todas as estruturas encontradas no corpo adulto sem alguma noção de embriologia. Visto que embriões humanos, particularmente os que estão nos estágios mais iniciais, são de difícil aquisição para estudo, grande parte dos conhecimentos tem sido obtido em animais, isto é, por meio da embriologia comparativa. 2.1.6 Anatomia nepiológica ou nepioanatomia É o estudo da anatomia da primeira infância. Constitui uma ligação entre o estudo de embriologia e da anatomia de crianças, adolescentes e adultos jovens. 34 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I Observação Nepio ou nípio (do grego) e infans (do latim), que significa “o que não fala”. 2.1.7 Anatomia do adulto Estuda a estrutura do corpo humano após o seu completo desenvolvimento. É subdividida em masculina (entre 25 e 60 anos de idade) e feminina (entre 21 e 50 anos idade). 2.1.8 Anatomia gerontológica É o estudo da morfofisiologia do indivíduo idoso (acima de 60 anos de idade). Não deve ser confundida a anatomia gerontológica, que corresponde ao estudo do idoso normal, com a geriátrica, pois esta estuda o idoso doente e faz parte, portanto, da anatomia patológica. 2.1.9 Anatomia radiológica A anatomia radiológica estuda os órgãos, quer no vivo, quer no cadáver, por meio de dos raios X. Leitura obrigatória Leia o livro Anatomia humana, Capítulo 1 – Introdução à Anatomia (p. 55‑57), anatomia seccional e tecnologia clínica, em: MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLISTSCH, R. B. Anatomia humana: coleção Martini. Porto Alegre: Artmed, 2009. Disponível em: <https://online. minhabiblioteca.com.br/#/books/9788536320298/cfi/3!/4/4@0.00:14.6>. Acesso em: 26 jul. 2016. 2.1.10 Anatomia de superfície A anatomia de superfície é a anatomia do indivíduo e limita a superfície do corpo humano. A experiência adquirida durante o estudo anatômico é aplicada aos métodos clássicos do exame clínico. A anatomia de superfície proporciona uma sensacional relevância nos cursos de investigação clínica. Os métodos clássicos de investigação clínica abrangem a inspeção, eficaz para a percepção de mudanças patológicas externas que insinuem a patologia do paciente ou até aceitem um “diagnóstico visual”; a palpação, isto é, a percepção pelo tato e que consente a avaliação de alterações estruturais ou volumétricas, especialmente de órgãos internos, e da sensibilidade à dor de alguma região, que indicam processos patológicos; a percussão, ou seja, golpes leves e desferidos pelos dedos sobre a superfície do corpo provocam uma sonoridade na projeção dos órgãos internos. O som gerado difere, dependendo 35 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA da consistência (conteúdo aéreo ou líquido) dos tecidos postos abaixo da pele, e provê dados para a avaliação da posição e da projeção dos órgãos; a ausculta, que normalmente é realizada com o auxílio de um estetoscópio e permite a percepção de sons originados pela respiração e pelos batimentos cardíacos e os movimentos intestinais; as provas funcionais adicionais que são, notadamente, executadas durante o exame do aparelho locomotor e do sistema nervoso. 2.2 Conceitos gerais de anatomia sistêmica e topográfica 2.2.1 Anatomia sistêmica Para os estudantes que iniciam o estudo da anatomia humana, é justificável a ideia da construção do corpo dos animais, adicionando a espécie humana, comparando‑a à construção de um edifício. Em linhas gerais, seria a simples relação entre a anatomia e a arquitetura, saindo das “unidades”, como as menores partes, e chegando, pela sua agregação progressiva ao todo, ao corpo e ao edifício, concomitantemente. A comparação entre a construção de um animal e de um edifício inicia‑se pelas suas unidades. As unidades de um edifício são os tijolos, e as de um animal, no caso o ser humano, são as unidades biológicas ou células – microscópicas. Tijolos semelhantes são arranjados de maneira a formar uma parede, e células semelhantes são arranjadas de maneira a formar um tecido. Cada tecido pode ser interpretado como um conjunto de células idênticas para exercer a mesma função geral. As paredes são arranjadas de maneira a compor uma sala ou um quarto, e os tecidos são agrupados de maneira a compor um órgão. Cada órgão é interpretado como “um instrumento de função”, sendo diferenciado pela origem, sede (situação), forma, estrutura e relações. O corpo pode ser designado organismo, e sua fábrica, composta de órgãos, designa‑se organização. Os quartos são compostos de maneira a formar um apartamento, e os órgãos estão agrupados para estabelecer um sistema. Cada sistema é interpretado como um conjunto de órgãos que tem as mesmas origens e estrutura, cujas funções especiais são unidas para a atuação de funções complexas. Os apartamentos são adjacentes ou verticalmente superpostos para constituir um edifício, e os sistemas estão agrupados de maneira a formar o organismo. Lembrete O estudo do organismo pode ser realizado por sistemas ou regiões. O organismo é interpretado como uma união de sistemas (orgânicos), podendo‑se concluir, com as devidas notas, que a vida básica é a somatória das funções dos sistemas integrados. Por conseguinte, a anatomia sistêmica envolve o estudo indutivo macroscópico dos sistemas orgânicos analisados separadamente. Portanto, podemos enumerar os seguintes sistemas, do ponto de vista da anatomia sistêmica: o sistema esquelético, que compreende o estudo dos ossos, as cartilagens e as uniões entre os 36 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I ossos, às articulações; o sistema muscular, composto pelos músculos esqueléticos e cutâneos, tendões, aponeuroses, retináculo e fáscias musculares; o sistema cardiovascular, que abrange o coração, vasos sanguíneos, vasos linfáticos, baço, timo e linfonodos; o sistema respiratório, constituído pelos pulmões e as vias aéreas (faringe, laringe, traqueia e brônquios); o sistema digestório, representado pelo canal alimentar (boca, faringe, esôfago, intestino delgado, intestino grosso, reto e ânus) e órgãos anexos (glândulas salivares, dentes, língua, fígado, vesícula biliar e pâncreas); o sistema urinário, que entre seus constituintes estão os rins, ureteres, bexiga urinária e uretra; o sistema genital composto pela genitália externa (pênis e escroto) e a genitália interna (testículos, epidídimo, ducto deferente, ducto ejaculatório, glândula seminal, glândulas bulbouretrais e próstata); o sistema genital feminino composto pela genitália externa (vulva ou pudendo) e a genitália interna (ovários, tubas uterinas, útero e vagina); o sistema nervoso cujos componentes são o encéfalo, medula espinal, nervos, gânglios e órgãos dos sentidos; o sistema tegumentar representado pelo tegumento (pele) e seus anexos (unhas, pelos e glândulas) e a tela subcutânea; os órgãos endócrinos representados pelo conjunto de órgãos sem ductos, isto é, órgãos de secreção interna. Figura 17 – O estudo da anatomia em diferentes escalas. A quantidade de detalhes reconhecidos depende do método de estudo e do grau de ampliação Leitura obrigatória Neste livro, no Capítulo 1 – Introdução ao Corpo Humano, p. 4‑7, leia o Quadro 1.2: Os Sistemas do Corpo Humano.As informações contidas nele levarão o leitor a compreender os componentes e as funções dos sistemas do corpo humano. 37 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA TORTORA, G. J. Princípios de anatomia humana. 12. ed. São Paulo: Guanabara Koogan, 2013. Disponível em: <https://online.minhabiblioteca. com.br/#/books/978‑85‑277‑2301‑5/cfi/0!/4/4@0.00:0.00>. Acesso em: 26 jul. 2016. Os aparelhos são formados por grupos de dois ou mais sistemas com funções semelhantes: o aparelho ósteo‑articular formado pelos sistemas esquelético e articular; o aparelho locomotor constituído pelos sistemas esquelético, articular e muscular; o aparelho da nutrição composto pelos sistemas respiratório, digestório e endócrino; o aparelho urogenital compreende os sistemas urinário e genital masculino, o aparelho reprodutor formado pelos sistemas genital masculino, genital feminino e tegumentar; o aparelho neuroendócrino constituído pelo sistema nervoso e órgãos endócrinos; o aparelho cardiorrespiratório constituído pelos sistemas cardiovascular e respiratório; o aparelho gastropulmonar formado pelos sistemas digestório e respiratório; o aparelho mastigador composto pelos músculos, língua e dentes; o aparelho lacrimal, que compreende a glândula lacrimal, saco conjuntival palpebral, papila e os canalículos lacrimais, saco lacrimal e ducto nasolacrimal; o aparelho neurossensorial formado pelo sistema nervoso e os órgãos dos sentidos. Observação Como verificamos, vários aparelhos formam o organismo. O aparelho reprodutor é composto pelo sistema tegumentar, além dos sistemas genitais. O sistema tegumentar está envolvido com a reprodução, pois as mamas pertencem a esse sistema e, através da ejeção de leite materno estimulado pela ação do hormônio ocitocina, fornecem alimento para o bebê. 2.2.2 Anatomia topográfica A anatomia topográfica ou regional é o estudo das características anatômicas e das relações entre os diversos órgãos em cada região do organismo, por exemplo, as regiões do crânio e pelve. Saiba mais Veja o filme indicado a seguir, que mostra uma viagem submarina através do organismo em direção ao cérebro para a realização de uma perigosa cirurgia. Para derrotar os seres destruidores, a equipe é miniaturizada antes de começar uma aventura fantástica. VIAGEM Fantástica. Produção de Saul Davis. Estados Unidos: 20th Century Fox, 1966. 100 minutos. 38 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I <texto em destaque início> Terminologia anatômica Ao estudar anatomia, o aluno vai se defrontar com um grande número de palavras novas. Essas palavras são as terminologias usadas em anatomia para designar as partes do organismo e dos órgãos. A terminologia anatômica é um documento oficial que deve ser cumprido precisamente pelos professores e alunos. Para facilitar a descrição anatômica, pode‑se usar abreviaturas. As seguintes abreviaturas são mais utilizadas: a. – artéria; fasc. – fascículo; lig. – ligamento; m. – músculo; n. – nervo; r. – ramo; v. – veia, gl. – glândula; aa. – artérias; ligg. – ligamentos; mm. – músculos; nn. – nervos; rr. – ramos; e vv. – veias. A terminologia anatômica é essencial para a saúde. Os termos são oriundos do latim ou do grego e são utilizados no mundo todo. Figura 18 – A importância de um vocabulário correto. Você gostaria de ser esse paciente? 2.3 Conceito de normal e variações anatômicas A observação de um mesmo órgão em indivíduos distintos mostra que, apesar de morfologicamente semelhantes, não são rigorosamente idênticos. Os órgãos possuem pequenas distinções entre si. O ponto de vista considerado normal em anatomia é a situação morfológica mais comum. Os outros órgãos com características um pouco distintas do mais comum, mas que funcionam bem, apresentam as chamadas 39 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA variações anatômicas. Por exemplo, o testículo esquerdo é mais baixo do que o direito. Nesse caso, não há dano para a função. As variações anatômicas podem ser internas ou externas. As variações anatômicas internas evidentemente são aquelas que acontecem em órgãos internos, por exemplo, as variações na posição e no contorno do estômago em relação ao tipo constitucional. Já as variações anatômicas externas são observadas externamente, por exemplo, ao considerar dois indivíduos, um alto e outro baixo. Assim um indivíduo de 1,60 m de altura tem equilíbrio para andar da mesma maneira que um de 1,70 m de altura. Um mesmo órgão, em cada indivíduo, possui formas virtuosamente distintas. É necessário, então, determinar qual desses aspectos é classificado normal. Para que uma característica anatômica seja classificada como uma variação, é preciso levar em conta determinados fatores. Figura 19 – Variações na posição e no contorno do estômago em relação ao tipo constitucional • estômago hipertônico: paredes musculares contraídas em tempo relativamente maior. Portanto, a sua tonicidade é máxima. Típico da maioria das pessoas obesas; • estômago ortotônico: tonicidade normal. Portanto, considerado normalidade. • estômago hipotônico: tonicidade baixa, mas não ao extremo; • estômago atônico: tonicidade das paredes é quase “nula”, sendo que o estômago pode atingir até ao nível da pelve. Observação A forma da tonicidade do estômago é alterada conforme a estrutura muscular de suas paredes. Além das variações anatômicas conhecidas como individuais, o organismo possui variações pertinentes a fatores gerais de variação anatômica, por exemplo, sexo, idade, raça e biotipo. 40 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I 2.4 Fatores gerais de variação anatômica 2.4.1 Sexo O dimorfismo sexual é prontamente reconhecível além das características sexuais secundárias que se desenvolvem na puberdade, por exemplo, nas mulheres, presença de mamas e pelo corporal escasso; nos homens, o crescimento do pelo facial e os ombros mais largos do que a pelve. Há diferenças devidas ao fator sexo também em órgãos não genitais. Observação O popularmente conhecido “gogó”, cuja designação correta é proeminência laríngea, era antes denominado de pomo de Adão (homem, em hebraico) e não de Eva (mulher, em hebraico) porque se acreditava que existisse apenas no homem (seria o sinal da “maçã que ficara engasgada na garganta” por ocasião do pecado original). Sabe‑se hoje que a proeminência laríngea é mais comum no homem, mas há homens (gordos) que não a têm e há mulheres (magras) que a possuem. 2.4.2 Idade Observam‑se alterações anatômicas com o avançar da idade, portanto, nos vários períodos ou fases da vida intrauterina e da vida extrauterina. As fases de vida intrauterina são: ovo, embrião e feto. Na vida extrauterina, os períodos principais são: recém‑nascido e período neonatal, infância, meninice, pré‑puberdade, puberdade, pós‑puberdade, virilidade, velhice e senilidade. Em cada uma dessas fases, o organismo possui aspectos próprios, por exemplo, a pele das crianças é mais fina do que a dos adultos. Os idosos têm as características rugas faciais decorrentes do ressecamento geral da pele. Figura 20 – O envelhecimento da pele resulta em uma perda da elasticidade e o aparecimento de rugas 41 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA 2.4.3 Raça A raça (grupo étnico) menciona‑se, em sentido amplo, a um grupo de indivíduos que obedecem a uma divisão da espécie humana. Em sentido restrito, raça é umgrupo de indivíduos que apresentam características particulares em comum devido a uma descendência. Portanto, raça abrange os grandes grupos raciais (branco, negro e amarelo) e os seus graus de mestiçagem, responsáveis por diferenças morfológicas externas e internas. Os humanos são os únicos membros vivos da família dos hominídeos. O homo sapiens está incluído dentro dessa família, à qual pertencem todas as variedades ou grupos étnicos de humanos. Assim, há diferenças raciais em órgãos em todos os sistemas, além das bem conhecidas características morfológicas externas que diferenciam cada grupo racial. Possuem algumas características anatômicas diferentes entre si e próprias de cada grupo racial, por exemplo, as cores da pele, cabelos e olhos e os tipos de cabelo e nariz. Observação A anemia falciforme é uma patologia genética comum nos seres humanos. Trata‑se de uma patologia genética que não está ligada ao sexo, entretanto, em relação ao grupo racial, há um predomínio entre os negros, seguidos por pardos e por poucos brancos. Figura 21 – Principais raças humanas: (a) mongoloide (Tailândia), (b) caucasoide (norte da Europa), (c) negroide (África), (d) povo do subcontinente indiano (Nepal), (e) capoide (boximane do Kalahari) e (f) australoide (homem de Ngatatjara, oeste da Austrália). 42 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I 2.4.4 Biotipo O biotipo refere‑se ao tipo constitucional. Existem dois tipos extremos constitucionais quanto a esse critério, em que as diferenças anatômicas mais óbvias são os longilíneos e brevilíneos. Os indivíduos longilíneos são altos, magros com pescoço longo e membros compridos em relação ao tronco. Os indivíduos brevilíneos são baixos, gordos, com pescoço curto e membros curtos em relação ao tronco. Entre eles se situam os indivíduos mediolíneos, que não devem ser designados normolíneos, porque são tão normais quanto os dois outros tipos. Observação As propensões patológicas são diferentes nos tipos extremos. Os brevilíneos apresentam tendências a sofrer, por exemplo, de patologias cardiovasculares e renais, enquanto os longilíneos são mais suscetíveis a patologias respiratórias. 2.4.5 Evolução A evolução sempre aconteceu e continua a ocorrer em todas as espécies, abrangendo, naturalmente, o homo sapiens. Se o homem atual for confrontado com seus ancestrais, entre as alterações mais claras no processo evolutivo, assinala‑se que a capacidade do crânio e a sua estatura aumentaram, o arcabouço ósseo ficou menos encorpado e as arcadas ósseas supraorbitárias ficaram menos proeminentes. Figura 22 – Evolução humana no andar 2.4.6 Meio Ambiente O meio ambiente em que se vive pode ser responsável, direta ou indiretamente, por diferenças morfológicas e, portanto, variações anatômicas por meio do controle que pode gerar nos indivíduos. Essas alterações são claras quando se confrontam indivíduos que residem nas regiões equatorial, tropical e polar. 43 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA 2.4.7 Biorritmos Consiste no evento cíclico de atividades biológicas, ou seja, na alternância periódica de situações diversas em seres humanos e em outros animais. Um exemplo é a variação biológica circadiana (L.) circa, cerca ou aproximadamente; dies, dia, é um ritmo periódico com um ciclo de cerca 24 horas, empregado à repetição rítmica de determinados fenômenos que acontecem em seres vivos aproximadamente no mesmo tempo cada dia, por exemplo, na glândula pineal de animais. Observação Em torno das 19 horas, quando a luminosidade natural reduz, a retina envia uma mensagem para o hipotálamo de que escureceu. A mensagem chega ao ‘’relógio biológico’’, que fica na parte anterior do hipotálamo. É o sinal para o relógio processar o botão de liga e desliga (apelidado de sleep switch, interruptor do sono em inglês). O relógio comunica a glândula pineal para que ela inicie e libere a produção do hormônio melatonina, que facilita o começo do sono. Como a produção demora cerca de duas horas para atingir a seu ápice, o melhor horário para ir para a cama é a partir das 21 ou 22 horas. O botão também ativa outros mecanismos relacionados ao acúmulo de cansaço, avisando que chegou o período de descansar. O botão de liga e desliga do sono nada mais é do que um aglomerado de células designadas sonogênicas, que se localizam na parte anterior do hipotálamo. Elas se conectam com outras células que estão na parte posterior do hipotálamo, cuja função é contrária, ou seja, manter o corpo desperto. Saiba mais Continuando sua leitura sobre esse assunto, busque também: MARTINO, M. M. F.; CIPOLLA‑NETO, J. C. Repercussão do ciclo vigília‑sono e o trabalho em turnos de enfermeiras. Revista Ciências Médicas, Campinas, v. 8, n. 3, p. 81‑84, set./dez. 1999. Disponível em: <http:// periodicos.puc‑campinas.edu.br/seer/index.php/cienciasmedicas/article/ viewFile/1342/1316>. Acesso em: 27 jul. 2016. 2.4.8 Gravidade Gravitação é o fenômeno de atração entre corpos de grande massa. Os seres humanos estão subordinados a ela, ainda que seu controle passe, em geral, despercebida. A força da gravidade se cumpre pelo peso que o corpo deve suportar, por exemplo, quando o corpo está na posição vertical, ortostática ou ereta sobre as plantas dos pés, ou quando está deitado, em decúbito dorsal, sobre as 44 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I regiões occipital, posterior do tórax, as nádegas, as regiões posteriores da coxa e poplítea, a parte posterior da perna e do calcanhar. Observação A ausência de gravidade (weightlessness), que existe nos veículos espaciais, produz em astronautas, como já foi comprovado após viagens espaciais, alterações na arquitetura óssea sujeitas à falta de estímulos. Cuidados especiais são necessários nos casos de pacientes que permanecem períodos longos acamados em hospitais. A falta de gravidade leva a modificações nas trabéculas ósseas do calcâneo, que são principalmente verticais, devido à postura ereta do corpo. Assim, elas passam a ser transversais, porque a massa passa a ser conduzida em direção perpendicular. 2.4.9 Esportes A prática de exercícios físicos gera variações anatômicas que são com facilidade observadas. Elas podem ser elucidadas nos tenistas e nos esgrimistas, por exemplo, que se valem de um só membro superior, nos quais é possível notar sua preferência pela hipertrofia dos músculos dessa extremidade superior, gerando maior e mais clara assimetria bilateral. 2.4.10 Trabalho Os movimentos executados por trabalhadores, especialmente em profissões não sedentárias, são responsáveis, devido a sua repetição, por alterações morfológicas, mais comumente localizadas do que generalizadas no organismo. Saiba mais Sobre nossa relação com a informação, segue recomendação de artigo sobre o trabalho de enfermagem e a ergonomia: MARZIALE, M. H. P.; ROBAZZI, M. L. C. C. O trabalho de enfermagem e a ergonomia. Revista Latino‑Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 8, n. 6, p.124‑127, dez. 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0104‑116920000006000181>. Acesso em: 25 jul. 2016. 45 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA Lembrete O estudo da anatomia humana possibilita ao profissional de enfermagem distinguir a estrutura do corpo humano normal das variações anatômicas. 2.5 Anomalias Anomalia pode ser definida como qualquer modificação morfológica que causa dano funcional ao indivíduo, mas que é compatívelcom a vida. A maioria das anomalias é congênita. Contudo, algumas são adquiridas por causa de patologias graves contraídas durante o desenvolvimento do indivíduo, ou devido ao tipo ou à natureza do trabalho desenvolvido pela pessoa. Como exemplo de anomalias, temos as anomalias do crânio, as craniossinostoses, que consistem no fechamento prematuro das suturas cranianas, entre elas a escafocefalia, caracterizada pelo fechamento prematuro da sutura sagital. Figura 23 ‑ Escafocefalia. Sinostose sagital isolada (aumento do diâmetro anteroposterior) Figura 24 ‑ Escafocefalia. Sinostose sagital isolada (aumento do diâmetro anteroposterior) Entre as anomalias da face estão à fissura labiopalatal ou lábio leporino, que consiste na fissura do lábio superior semelhante com o de um coelho ou lebre. Já nas anomalias da coluna vertebral, se encontram a hipercifose, hiperlordose e a escoliose. Nas anomalias do tórax existem o tórax em funil ou “tórax de sapateiro” e o tórax em quilha ou tipo “peito de pombo”, desenvolvido em pacientes portadores de asma. 46 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I Figura 25 ‑ Pectus excavatum simétrico “agudo” Figura 26 ‑ Pectus carinatum superior Os membros superiores e inferiores são acometidos por anomalias como a focomelia, que consiste no membro reduzido do segmento distal e implantado no tronco; a sindactilia, condição na qual dois ou mais dedos estão fusionados; e a polidactilia, ou seja, dedos extranumerários. O sistema nervoso é acometido por anomalias, como a microcefalia, situação que o cérebro permanece anormalmente pequeno. Figura 27 – Sindactilia Nota clínica A transmissão vertical do Zika vírus (da gestante para o bebê) ainda é uma hipótese, pois não existem indícios científicos aceitáveis que confirmam que o Zika vírus pode ser transmitido da mãe para o feto. O vírus de fato já foi encontrado no líquido amniótico e no encéfalo de alguns fetos, sugerindo a microcefalia. Provavelmente, o vírus afete o desenvolvimento do sistema nervoso central a partir da vesícula encefálica primordial conhecida como prosencéfalo, que posteriormente formará o telencéfalo e o diencéfalo, sendo essas regiões do cérebro. 47 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA Por fim, dentre as anomalias do aparelho reprodutor estão as pessoas hermafroditas, a polimastia, ou seja, mamas extranumerárias, e a presença de pênis duplo (ver Figura 32). Figura 28 – Pênis duplo Saiba mais Se você quiser ler um pouco mais sobre os diferentes tipos de anomalias congênitas, acesse: COELHO, M. S.; GUIMARÃES, P. S. F. Pectus carinatum. Jornal Brasileiro de Pneumologia, São Paulo, v. 33, n. 4, p.463‑474, jul./ago. 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid =S1806‑37132007000400017>. Acesso em: 7 jul. 2016. COELHO, M. S.; GUIMARÃES, P. S. F. Pectus excavatum: abordagem terapêutica. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Rio de Janeiro, v. 34, n. 6, p. 412‑427, nov./dez. 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php? pid=S0100‑69912007000600011&script=sci_arttext>. Acesso em: 7 jul. 2016. SILVEIRA, A. R. J. et al. Talidomida: um fantasma do passado – esperança do futuro. Revista Virtual de Iniciação Acadêmica da UFPA, v. 1, n. 2, p. 1‑15, 2001. Disponível em: <www.cultura.ufpa.br/rcientifica/ed_anteriores/pdf/ ed_02_arjs.pdf>. Acesso em: 7 jul. 2016. SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFECTOLOGIA. Microcefalia e Zika vírus: tudo sobre o caso que colocou o Brasil em alerta, ano XIII, n. 52, p. 3‑5, out./nov./dez. 2015. Disponível em: <http://itarget.com.br/newclients/sbi/ newsletter/01‑11‑15/sbi.pdf>. Acesso em: 7 jul. 2016. 48 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I SPIRI, W. C.; LEITE, M. M. J. Convivendo com o portador de fissura labiopalatal: o vivencial da enfermeira. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 33, n. 1, p. 81‑94, 1999. Disponível em: <http://www. revistas.usp.br/reeusp/article/view/41088/0>. Acesso em: 7 jul. 2016. TRAD, C. S.; ROSIQUE, R. G. Craniossinostoses primárias: ensaio iconográfico. Revista de Radiologia Brasileira, São Paulo, v. 38, n. 5, p. 377‑380, set./out. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0100‑39842005000500013>. Acesso em: 7 jul. 2016. 2.6 Monstruosidade Monstruosidade é uma modificação morfológica muito ampla, a ponto de causar intensas perturbações na construção corpórea do indivíduo, sendo em geral incompatível com a vida. Além de doenças e hábitos deletérios, como o tabagismo e o alcoolismo, que atingem a gestação e os fetos, a própria medicina pode originar anomalias e monstruosidades. Exemplo típico de iatrogênese, ou seja, monstruosidade gerada por agentes terapêuticos, é o da talidomida. No final da década de 1950 e no início da década de 1960, na Europa, o medicamento era receitado para aliviar as náuseas matutinas de mulheres gestantes, especialmente as primigestas. Presentemente se utiliza a talidomida, com sucesso, para aliviar fortes dores agregadas com reações de lepra aguda. Naturalmente, a talidomida não deve ser utilizada quando a gestação for possível. Com o progresso atual da medicina, em especial das técnicas cirúrgicas, alguns tipos de deformações graves podem ser corrigidos cirurgicamente, com sobrevida do(s) indivíduo(s), como no caso dos xifópagos, gêmeos conectados pelo abdome (irmãos siameses). Outros exemplos de monstruosidades são a anencefalia, a ausência do cérebro e o ciclope. Figura 29 ‑ Xifópagos Figura 30 ‑ Anencefalia 49 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA 2.7 Divisão do organismo humano O organismo humano divide‑se em cabeça, pescoço, tronco e membros. A cabeça corresponde à extremidade superior do corpo. Encontra‑se unida ao tronco por uma parte estreitada, o pescoço. No pescoço encontram‑se órgãos consideráveis, como laringe, glândula tireoide, glândulas paratireoides, parte da traqueia e esôfago. O tronco abrange o tórax e o abdome com as referentes cavidades torácica e abdominal, separadas entre si pelo diafragma. A região do corpo entre o pescoço e o abdome é habitualmente reconhecida como tórax. O abdome está encontrado debaixo do tórax. Centralizado na frente do abdome, o umbigo é um evidente ponto de reparo. A cavidade abdominal estende‑se inferiormente na cavidade pélvica. Dos membros, dois são superiores e dois inferiores. Cada membro tem uma raiz pela qual está unido ao tronco, e uma parte livre. Na transição entre o braço e o antebraço há o cotovelo; entre o antebraço e a mão, o punho; entre a coxa e a perna, o joelho; entre a perna e o pé, o tornozelo. Figura 31 – Segmentos do organismo Lembrete Para simplificar seu estudo, o organismo humano é dividido em partes: cabeça, pescoço, tronco e membros. 50 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I 2.8 Posição anatômica Nesta posição, o indivíduo é observado de pé e ereto; com os membros superiores caídos naturalmente, próximos ao corpo, de cada lado do tronco; o olhar fixo voltado horizontalmente para frente, assim como as palmas das mãos com os dedos justapostos. Os membros inferiores, igualmente aos superiores, permanecem unidos, com os pés paralelos e as pontas dos dedos do pé também voltados para frente. Figura 32 – Posição Anatômica Para a descrição da posição anatômica e a situação dos órgãos, é necessário imaginar o organismo sempreem uma mesma posição, a posição anatômica, e utilizar os planos de delimitação e secção. 2.9 Planos de delimitação do organismo humano Na posição anatômica, o organismo humano pode ser delimitado por planos tangentes à sua superfície, os quais, com suas intersecções, geram a constituição de um sólido geométrico, um paralelepípedo. Apresentam‑se assim, para as faces desse paralelepípedo, dois planos verticais: um tangente ao ventre, designado plano ventral ou anterior; e outro tangente ao dorso, designado plano dorsal ou posterior. Estes e outros paralelos a eles também são denominados como planos frontais por serem paralelos à “fronte”. A denominação ventral e a denominação dorsal são destinadas ao tronco, enquanto a anterior e a posterior, aos membros. Os dois planos verticais tangentes aos lados do corpo são designados planos laterais direito e esquerdo. Os dois planos horizontais, um tangente à cabeça, é designado plano cranial ou superior; e o outro, à planta dos pés, é designado plano podálico (podos, pé) ou ainda, inferior. O tronco separado é limitado inferiormente pelo plano que incide pelo vértice do cóccix, ou seja, o osso que, no homem, é o vestígio da cauda de outros animais. Por essa razão, esse plano é designado caudal. 51 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA Observação Os planos apresentados auxiliam como referência para a utilização de termos de posição e direção, ao localizar os órgãos e denominar à suas partes. Figura 33 – Planos de delimitação do organismo humano 2.10 Planos de secção do organismo humano O plano que separa o organismo humano em metades direita e esquerda é designado plano mediano. Todo corte do corpo produzido por planos paralelos ao plano mediano é uma secção sagital, ou seja, corte sagital, e os planos de secção são também chamados de sagitais. O nome resulta do fato de que o plano mediano incide pela sagitta (L. seta) do crânio fetal. Figura 34 – Plano Mediano Os planos de cortes paralelos aos planos ventral e dorsal são designados frontais. Os planos frontais são planos verticais que incidem também da cabeça aos pés, porém que estão em ângulos retos com o 52 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I plano sagital. Mesmo que somente um deles incida perto pela sutura coronal do crânio, eles admitem também a designação planos coronais. Todo corte é também designado frontal ou secção frontal. Figura 35 – Plano Coronal Os planos transversais ou horizontais também são planos de cortes que incisam transversalmente o organismo humano em ângulos retos, com ambos os planos sagital e frontal. O corte é designado transversal ou secção transversal. Figura 36 – Plano Transversal Para se sustentar equilibrado, o organismo humano também assume determinadas posições com relação aos planos anatômicos, são elas: • ereto: posição em pé, na vertical; • supino: posição em decúbito dorsal, ou seja, a região das “costas” para baixo e face para cima; 53 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA • decúbito ventral: posição contrária ao supino, ou seja, a região do abdome e face para baixo; • decúbito lateral: posição deitado lateralmente sobre o lado esquerdo ou direito. 2.11 Termos de posição e direção Os termos de posição e direção são utilizados para encontrar as estruturas e as regiões do organismo humano concernentes à posição anatômica, temos então: • O termo proximal é a região dos membros mais próxima à raiz do membro, por exemplo, o joelho é proximal ao pé; enquanto o termo distal é a região dos membros mais distante da origem, por exemplo, a mão é distal ao cotovelo. • O termo anterior é aquele que está à frente de uma região ou estrutura do organismo humano, por exemplo, o umbigo está no lado anterior do corpo. Já o termo posterior refere‑se ao dorso de uma região ou estrutura do organismo humano, por exemplo, os rins são órgãos posteriores em relação aos intestinos. • O termo superior é a região, ou estrutura próxima, em direção à cabeça, por exemplo, o tórax é superior ao abdome. Já o termo inferior é a região ou estrutura do organismo humano localizada próxima ou em direção aos pés, por exemplo, as pernas são inferiores ao tronco. • O termo medial é a região do organismo humano ou estrutura mais próxima ao plano mediano, por exemplo, o coração é medial em relação aos pulmões. O termo lateral é a região ou estrutura do organismo humano mais afastada do plano mediano, por exemplo, as orelhas são laterais ao nariz. • O termo interno e o termo externo são utilizados para descrever a distância relativa de uma estrutura do centro de um órgão ou de uma cavidade, por exemplo, a artéria carótida interna é situada dentro da cavidade do crânio e a artéria carótida externa é situada fora da cavidade do crânio. • O termo ipsilateral refere‑se ao mesmo lado do corpo, por exemplo, a mão e o pé esquerdos são ipsilaterais. O termo contralateral refere‑se aos lados opostos do corpo, por exemplo, os músculos bíceps do braço esquerdo e reto femoral da coxa direita são contralaterais. • O termo superficial é usado para a estrutura localizada mais próxima à superfície corpórea, por exemplo, a pele é superficial em relação aos ossos. O termo profundo é usado para a estrutura localizada internamente ao corpo, longe da superfície, por exemplo, o músculo masseter é profundo em relação à pele. • O termo mediano refere‑se à estrutura que coincide com o plano mediano, por exemplo, o nariz. A seguir, exemplos de utilização dos termos de posição e direção. 54 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I Figura 37 ‑ Termos de Posição e Direção Figura 38 ‑ Termos de Posição e Direção • as linhas azuis nas figuras representam o plano mediano; • a estrutura representada em vermelho na figura 41 é considerada mediana, pois coincide com o plano mediano; • a estrutura representada pela letra “A” na figura 41 é considerada anterior, pois está mais próxima do ventre; • a estrutura representada pela letra “C” na figura 41 é considerada posterior, pois está mais próxima do dorso; • a estrutura representada pela letra “B” na figura 41 é considerada intermédia, pois está situada entre as duas anteriores; • a estrutura representada em “amarelo” na figura 42 é considerada medial, pois está mais próxima do plano mediano; • a estrutura representada em “vermelho” na figura 42 é considerada lateral, pois está mais distante do plano mediano; • a estrutura representada em “rosa” na figura 42 é considerada intermédia, pois está situada entre as duas anteriores. 2.12 As cavidades corporais As cavidades corporais são espaços internos do corpo que alojam órgãos ou vísceras. No organismo humano há cinco cavidades. A cavidade do crânio situa‑se no interior do crânio e abrange o encéfalo. Já o canal vertebral começa na base da cavidade do crânio e aloja a medula espinal. Essas duas cavidades constituem um espaço único contínuo. 55 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA A cavidade torácica localiza‑se no tórax, acima do diafragma, com o mediastino limitando‑a em lados direito e esquerdo. A cavidade torácica aloja o coração, vasos sanguíneos, esôfago, timo, traqueia, brônquios e pulmões. A cavidade abdominal começa logo após a cavidade torácica, na parte superior do abdome. Na cavidade abdominal encontram‑se o estômago, maior parte do intestino, fígado, vesícula biliar, baço, pâncrease rins. A cavidade pélvica envolve o interior da pelve. Está situada na parte inferior do abdome e aloja parte do intestino, bexiga urinária, uretra e órgãos genitais internos. Figura 39 – As cavidades corporais Além das grandes cavidades corporais fechadas do organismo, temos outras cavidades corporais menores. A maioria está localizada na cabeça e se abre para o exterior do organismo. São elas: • A cavidade oral e digestória. A cavidade oral, habitualmente designada boca, abrange órgãos anexos da mastigação, por exemplo, os dentes e língua. Ela é contínua com parte da cavidade dos órgãos que formam o canal alimentar, que se abre para o exterior no ânus. • A cavidade nasal está situada dentro e posteriormente ao nariz. A cavidade nasal forma parte das vias áreas superiores do sistema respiratório. • As cavidades orbitais no crânio abrigam os olhos e os apresentam em uma situação anterior. • As cavidades da orelha média estão situadas no crânio e medialmente ao tímpano. Estas cavidades abrangem ossículos que conduzem vibrações sonoras para os receptores auditivos nas orelhas internas. 56 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I • As cavidades sinoviais são cavidades articulares. Apresentam um líquido lubrificante que diminui o atrito quando os ossos se movimentam uns sobre os outros. 2.13 Regiões do abdome e da pelve Para tornar mais fácil a descrição da localização dos órgãos e da dor, a cavidade abdominal e pélvica é dividida regiões, usando linhas imaginárias. Elas podem ser divididas em quadrantes ou em nove regiões. As três regiões centrais são, de superior para inferior, o epigástrio, a região umbilical e o hipogástrio. Lateral a essas regiões, de superior para inferior, estão os hipocôndrios: direito e esquerdo; as regiões laterais: direita e esquerda; e as regiões inguinais: direita e esquerda. Figura 40 – Divisão em quadrantes Divisão em quadrantes: • Quadrante Superior Direito – QSD • Quadrante Superior Esquerdo – QSE • Quadrante Inferior Direito – QID • Quadrante Inferior Esquerdo – QIE 57 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA Figura 41 – Divisão em regiões Divisão em regiões: • Epigástrio – E • Região umbilical – RU • Hipogástrio – H • Hipocôndrio direito – HD • Hipocôndrio esquerdo – HE • Região lateral direita – RLD • Região lateral esquerda – RLE • Região inguinal direita – RID • Região inguinal esquerda – RIE Nota clínica Como vimos na clínica médica, é comum dividir as cavidades abdominal e pélvica em quadrantes ou regiões. Durante uma anamnese, determinado paciente relata hábitos etílicos há anos, presença de náuseas e febre. No exame físico, você percebe dificuldades na realização de flexão de quadril, e na palpação, o paciente sente fortes dores no quadrante inferior direito. Com base nas informações 58 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I colhidas e pelos seus conhecimentos voltados à anatomia clínica, você poderá começar a direcionar a provável hipótese para uma apendicite. 2.14 Princípios gerais de construção do organismo humano 2.14.1 Antimeria O plano mediano divide o organismo humano em duas partes semelhantes, direita e esquerda. Essas partes são designadas antímeros, que são semelhantes morfológica e funcionalmente, por isso o organismo humano é arquitetado conforme o princípio de simetria bilateral. Por exemplo, as hemifaces de um mesmo indivíduo não são iguais, como se observa na figura a seguir, as linhas que incidem pelas fendas palpebrais, bem como pelas comissuras labiais, não são horizontais, mas sim oblíquas; além disso, a linha mediana da face não é retilínea, mas convexa para um ou outro lado. Associando‑se esses três elementos, observa‑se que comumente a linha mediana da face é convexa para a direita e coincide com um eixo ocular oblíquo para cima e para a direita, e com um eixo bucal oblíquo para baixo e também para a direita. Isso sugere um maior desenvolvimento da metade direita da face. O pavilhão da orelha é, comumente, maior e mais alto à esquerda. Figura 42 – Assimetria da face Além disso, existem diversas diferenças morfológicas externas nos indivíduos, por exemplo, no tamanho das mamas e na altura dos testículos. Internamente, as diferenças são mais claras, como é o caso do coração que se apresenta mais reposicionado para a esquerda, designada situação levocárdica. Por outro lado, elas podem citar‑se à posição, como se observa nos rins, sendo o direito rotineiramente mais baixo do que o esquerdo, devido ao fígado que preenche quase completamente o lado direito, enquanto o baço está posto à esquerda da linha mediana. Porém, os pulmões apresentam apenas assimetria quanto à forma e não em relação à posição. 59 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA 2.14.2 Metameria Satisfaz a superposição longitudinal de segmentos semelhantes, referidos metâmeros. No adulto, os exemplos clássicos de metameria são a coluna vertebral, em que existe a superposição de vértebras, e a cavidade torácica, na qual as costelas estão superpostas longitudinalmente, permanecendo entre elas os espaços intercostais. 2.14.3 Paquimeria É o princípio pelo qual o segmento do organismo do indivíduo representado pela cabeça, pescoço e tronco é composto esquematicamente por dois tubos, designados paquímeros. Existem os paquímeros anterior ou ventral e o posterior ou dorsal. 2.14.4 Segmentação O princípio da segmentação ou da estrutura segmentar na construção do organismo humano é verificada no tipo de subdivisão dos órgãos de acordo com a distribuição dos seus vasos sanguíneos e linfáticos, nervos e, quando existir, ductos, canais ou tubos relacionados com sua função, por exemplo, brônquios, ductos bilíferos e vias urinárias. Nota clínica Em anatomia e cirurgia, o conhecimento da segmentação possibilita retirar tão somente a parte lesada ou patológica de um órgão. Por exemplo, o fígado pode ser considerado como a soma de oito segmentos anatomocirúrgico que representam “oito pequenos” fígados. Em caso de processo patológico localizado no fígado, no qual seja recomendada uma biópsia, está poderá ser realizada no segmento portal correspondente. 2.14.5 Estratimeria ou estratificação É o princípio segundo o qual o organismo humano é construído por camadas ou estratos que se superpõem. Como exemplo, temos a pele, na qual se caracteriza a camada superficial, a epiderme, e a camada profunda, a derme; a tela subcutânea, com suas três camadas fundamentais, procedendo a seguir a fáscia muscular, músculos e ossos. A estratificação acontece também em órgãos ocos, por exemplo, o intestino. As paredes desses órgãos são formadas por camadas superpostas. No coração, o pericárdio é a camada externa; o miocárdio, a média; e o endocárdio, a camada que forra internamente o coração. Lembrete O organismo humano é estruturado conforme determinados princípios que chamamos de planos gerais de construção. 60 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I 3 APARELHO ÓSTEO‑ARTICULAR O aparelho ósteo‑articular, como qualquer outro aparelho, é composto de dois ou mais sistemas. Assim, o aparelho ósteo‑articular é formado, em sentido limitado, por dois sistemas básicos: esquelético e articular. Ele compreende ligamentos, ossos, cartilagens, medula óssea e articulações. Os ossos integram a maior parte do esqueleto. No nível das superfícies articulares,o osso é recoberto por um revestimento branco nacarado e brilhante, a cartilagem articular. Sua composição é semelhante a de um osso, entretanto mais hidratada e elástica, cuja função é proteger o osso subjacente. Os ossos juntam‑se entre si por meio de zonas designadas articulações. Elas podem ser mais ou menos móveis. Os ligamentos unem dois ossos vizinhos e reforçam as articulações, possibilitando a execução de movimentos e, conjuntamente, limitando movimentos em outros sentidos. Os ligamentos são muito ricos em receptores nervosos sensitivos, que identificam: a velocidade, o movimento, a posição da articulação, tal como ocasionais estiramentos e dores. 3.1 A estrutura esquelética O esqueleto é o arcabouço resistente no qual o organismo humano está construído. Muito parecido à armação de um edifício, o esqueleto deve ser forte o suficiente para sustentar e proteger todas as estruturas anatômicas do corpo humano. A estrutura esquelética ordena nossa forma e tamanho. Ela pode também ser imensamente influenciada pela nutrição, nível de exercícios físicos e hábitos posturais. No esqueleto imaturo em desenvolvimento ou imaturo, a interferência do apoio de peso e forças musculares terá uma ação mais considerável na constituição do tamanho e formato dos ossos do que as mesmas forças aplicadas sobre um esqueleto maduro. Por esse motivo, é relevante dar valor extremo aos tipos de exercícios físicos e hábitos posturais de um pré‑adolescente. Um exemplo clássico de alteração no esqueleto imaturo é a presença de escoliose idiopática, uma curvatura lateral da coluna vertebral existente em aproximadamente 15 a 20% das meninas entre 10 e 12 anos de idade. Essa modificação seria porque as mulheres mais novas passam muito tempo mantendo a massa corporal sobre os saltos finos? Tem a ver com uma postura que compreende joelhos hiperestendidos e lordose? É simples supor sobre prováveis causas, porém ainda não há temas científicos cruciais. É sabido que o sistema esquelético é um sistema flexível que pode ser modelado e formado por meio da atividade. Agora você já sabe que os hábitos posturais ou aspectos sociais podem levar a modificações no esqueleto imaturo. Quando as meninas forem utilizar saltos finos, observe as consequências e faça a sua escolha. O esqueleto representa 20% da massa corpórea, ou seja, 14 quilogramas em um indivíduo de 70 quilogramas. O sistema esquelético desempenha um papel principal e vários papéis secundários para cooperar com outros sistemas em papéis substanciais. 61 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA O estudo dos ossos designa‑se osteologia. Saiba mais Você já leu algo sobre as contribuições dos cadáveres ao longo dos séculos? Por dois mil anos, os cadáveres estiveram envolvidos nas descobertas e pesquisas científicas. Neste livro você descobrirá como eram os laboratórios de anatomia, as farmácias medievais, as pesquisas de decomposição do século 19 até laboratórios de cirurgia plástica. ROACH, M. Curiosidade mórbida: a ciência e a vida secreta dos cadáveres. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. 3.2 Os principais papéis do esqueleto O esqueleto fornece as alavancas e os eixos de rotação sobre os quais o sistema muscular realiza os movimentos. Uma alavanca é uma máquina simples que eleva a força ou velocidade de movimento. As alavancas são inicialmente os ossos longos do corpo humano, e os eixos são as articulações nas quais os ossos se encontram. Um segundo papel relevante do sistema esquelético é servir de arcabouço e suporte para as partes moles do corpo humano. Os ossos dos membros inferiores, pelve e coluna vertebral suportam o corpo humano e são utilizados para a manutenção da postura ereta. Quase todos os ossos proveem suporte para os músculos e também apoio para os dentes. Há ainda outros papéis adicionais não associados exclusivamente com o movimento humano. Tecidos e órgãos vulneráveis são comumente protegidos por elementos do esqueleto. As costelas protegem o coração e os pulmões, o crânio aloja o encéfalo, as vértebras fornecem abrigo para a medula espinal e a pelve óssea acomoda órgãos digestórios e genitais. O osso é um depósito para minerais, especialmente cálcio e fósforo. O cálcio é o mineral mais farto no corpo humano. Um indivíduo apresenta aproximadamente 1 a 2 quilogramas de cálcio, dos quais mais de 98% estão armazenados nos ossos e nos dentes. Os minerais armazenados são liberados na circulação sanguínea quando há necessidade de distribuição a todas as partes do corpo humano. O cálcio é essencial para a contração muscular, para a coagulação do sangue e para a movimentação de íons através da membrana celular. O fósforo é essencial para as funções dos ácidos nucleicos DNA e RNA. Na hipótese de os minerais não se encontrarem na alimentação em quantidades satisfatórias, eles podem ser retirados dos ossos até serem compensados pela própria alimentação. Na realidade, os “depósitos” e “retiradas” de minerais para os ossos acontecem quase incessantemente. Os ossos são órgãos hematocitopoiéticos, ou seja, realizam a produção de células sanguíneas por meio da medula óssea vermelha. Estima‑se que uma média de 2,5 milhões de células sanguíneas vermelhas 62 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I são produzidas a cada segundo pela medula óssea vermelha para suprir aquelas que são excluídas e degradadas pelo fígado. Em uma criança, o baço e o fígado também produzem células sanguíneas. Com o passar da idade, a maior parte da medula óssea vermelha transforma‑se em medula óssea amarela, de maneira que no adulto encontra‑se medula óssea vermelha tão somente em alguns ossos, por exemplo, no esterno. A medula óssea amarela é formada basicamente de células adiposas que armazenam triglicerídeos. Os triglicerídeos armazenados são reservas potenciais de energia química. Por fim, temos os osteoblastos, células responsáveis pela síntese dos componentes orgânicos da matriz óssea, por exemplo, o colágeno, proteoglicanos e glicoproteínas. Eles também estão envolvidos no metabolismo, pois secretam osteocalcina, um hormônio que influencia na regulação de glicemia. 3.3 Arquitetura óssea Os ossos são peças duras e calcificadas, em número, coloração e formas variáveis. Eles são considerados órgãos, pois são compostos por diversos tipos de tecidos, entre eles, o fibroso, cartilagíneo, ósseo, nervoso e vascular. Apresentam matéria orgânica (1/3), e matéria inorgânica (2/3). A matéria orgânica atribui elasticidade aos ossos, enquanto a matéria inorgânica atribui rigidez e força. Observação Quão fortes são os ossos? Calcula‑se que, se for empregada carga vagarosamente sobre um crânio humano, ele é capaz de suportar três toneladas antes de se quebrar! As extremidades de um osso longo são chamadas de epífises, enquanto a parte média se chama diáfise. Durante o crescimento ósseo, as epífises são compostas por um material cartilagíneo designado placa de crescimento. Macroscopicamente, os ossos têm dois tipos diferenciados de substâncias ósseas, a esponjosa e a compacta. Os dois tipos podem aparecer de maneira simultânea, mas em quantidades variadas, num mesmo osso. 63 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA Figura 43 ‑ corte longitudinal da extremidade proximal de uma tíbia mostrando as substâncias ósseas Figura 44 ‑ corte longitudinal da extremidade proximal da diáfise de um fêmur mostrando a cavidade medular A substância óssea esponjosa é mais leve, o que diminui a massa total de um osso, de modo que o osso se mova com maior simplicidade quando tracionado pelo músculoestriado esquelético. Ela é porosa e se situa na parte interna dos ossos, constituindo as trabéculas ósseas (L.= “pequenos feixes”). As trabéculas ósseas suportam e protegem a medula óssea vermelha. Além disso, a presença da substância óssea esponjosa diminui a massa do esqueleto e colabora na mobilidade dos ossos pelos músculos. A substância óssea esponjosa é encontrada em grandes quantidades nas epífises dos ossos longos e nos ossos curtos, sendo recobertas por fina camada de substância óssea compacta. A substância óssea compacta caracteriza‑se por um revestimento externo denso e rijo. Ela sempre reveste completamente todo o osso e tende a variar de espessura. Assim, a substância óssea compacta predomina na diáfise dos ossos longos. Além disso, ela envolve uma cavidade designada cavidade medular, que contém a medula óssea. A medula óssea pode ser de dois tipos: a medula óssea vermelha ou rubra, e a medula óssea amarela ou flava. A medula óssea vermelha produz as células de sangue, por exemplo, eritrócitos, leucócitos e plaquetas. Ela está presente nos ossos em formação do feto, e em alguns ossos adultos, como os da pelve, o esterno, e as extremidades dos ossos e da coxa. A medula óssea vermelha encontrada na cavidade medular, a partir da adolescência, se transforma em medula óssea amarela, cujo papel é a reserva de gordura. O osso esponjoso localiza‑se profundamente no periósteo, compondo uma fina substância compacta, o córtex, que prossegue para o interior do osso, como substância esponjosa e composta de trabéculas ósseas. Entre as trabéculas ósseas e nas cavidades medulares situa‑se a medula óssea. 64 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I Saiba mais A estrutura de um osso pode ser analisada considerando‑se as partes de um osso longo. Como outros tecidos conjuntivos, o osso ou tecido ósseo contém uma matriz abundante de materiais intercelulares circundando as células amplamente separadas. Leia mais em: TORTORA, G. J.; GRABOWSKI, S. R. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia. 6. ed. São Paulo: Artmed, 2006. p. 117‑124. 3.4 O Periósteo e o Endósteo A superfície externa de um osso é comumente revestida pelo periósteo, exceto as superfícies articulares, que são recobertas por cartilagem do tipo hialina. O periósteo isola e protege o osso dos tecidos vizinhos; provê uma via e um local de união para o suprimento cardiovascular e nervoso; participa ativamente no crescimento ósseo em diâmetro e na reparação de fraturas. O periósteo não reveste os ossos sesamoides. No interior do osso, um endósteo celular reveste a cavidade medular. O endósteo está em atividade durante o crescimento e sempre que reparação e remodelamento da arquitetura óssea estiverem acontecendo. Leitura obrigatória Consulte o Capítulo 5 – O Sistema Esquelético: Tecido Ósseo e Estrutura do Esqueleto, p. 118. Leia a nota clínica: Formação Óssea Heterotrópica. MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLISTSCH, R. B. Anatomia humana: coleção Martini. Porto Alegre: Artmed, 2009. Disponível em: <https://online. minhabiblioteca.com.br/#/books/9788536320298/cfi/3!/4/4@0.00:14.6>. Acesso em: 26 jul. 2016. Consulte o Capítulo 5 – O Sistema Esquelético: Tecido Ósseo e Estrutura do Esqueleto, p. 123. Leia a nota clínica: Doenças Congênitas do Esqueleto. MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLISTSCH, R. B. Anatomia humana: coleção Martini. Porto Alegre: Artmed, 2009. Disponível em: <https://online. minhabiblioteca.com.br/#/books/9788536320298/cfi/3!/4/4@0.00:14.6>. Acesso em: 26 jul. 2016. Leia o Capítulo 6 – Tecido Ósseo: Formação do Osso (p. 173‑179), de: 65 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA TORTORA, G. J. Princípios de anatomia humana. 12. ed. São Paulo: Guanabara Koogan, 2013. Disponível em: <https://online.minhabiblioteca. com.br/#/books/978‑85‑277‑2301‑5/cfi/0!/4/4@0.00:0.00>. Acesso em: 26 jul. 2016. Lembrete O periósteo, o endósteo e a medula óssea são relevantes estruturas anatômicas pertinentes aos ossos. 3.5 Vascularização Óssea Os ossos são muito vascularizados, pois recebem amplo suprimento de sangue. De particular relevância são os vasos metafisários e os vasos epifisários. As artérias adentram nos ossos a partir do periósteo. As artérias periosteais acompanhadas por nervos adentram na diáfise e irrigam o periósteo e a parte externa da substância compacta. Próxima ao centro da diáfise, uma grande artéria nutrícia adentra no osso compacto por meio do forame nutrício. Ao adentrar na cavidade medular, a artéria nutrícia se ramifica em ramos proximal e distal, que irrigam a parte interna da substância óssea compacta da diáfise, substância óssea esponjosa e a medula óssea. Na tíbia há uma artéria nutrícia, enquanto no fêmur existem diversas artérias nutrícias. As extremidades dos ossos são irrigadas pelas artérias metafisárias e epifisárias. Tanto as artérias metafisárias como as artérias nutrícias irrigam a medula óssea vermelha e as substâncias ósseas da metáfise. As artérias epifisárias irrigam a medula óssea e as substâncias ósseas das epífises. Uma ou duas veias nutrícias seguem a artéria nutrícia na diáfise. Abundantes veias epifisárias e metafisárias saem das epífises com as suas relativas artérias. As veias periosteais saem do periósteo com as suas relativas artérias. Os vasos linfáticos dos ossos estão no periósteo, porém alguns podem adentrar no tecido ósseo. 3.6 Inervação Óssea Os nervos seguem as artérias que irrigam os ossos. O periósteo é rico em nervos sensitivos, responsáveis pela sensação de dor, por isso as dores consequentes de uma fratura, tumores ósseos ou de uma biópsia da medula óssea vermelha por meio de uma agulha. Microscopicamente, a medula óssea vermelha é avaliada em situações, como leucemias, linfomas e anemias aplásicas. Apresentam‑se dores à medida que a agulha adentra no periósteo. Assim que a agulha adentra e ultrapassa o periósteo há poucas dores. Leitura obrigatória Consulte o Capítulo 5 – O Sistema Esquelético: Tecido Ósseo e Estrutura do Esqueleto e leia o conteúdo: Fatores de Regulação do Crescimento Ósseo (p. 123‑124). 66 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLISTSCH, R. B. Anatomia humana: coleção Martini. Porto Alegre: Artmed, 2009. Disponível em: <https://online. minhabiblioteca.com.br/#/books/9788536320298/cfi/3!/4/4@0.00:14.6>. Acesso em: 26 jul. 2016. Lembrete Na maior parte dos casos os ossos são abundantemente vascularizados. Cada tipo de osso recebe suprimento de sangue e nervoso de forma característica. 3.7 Morfologia Óssea Os ossos podem apresentar diversos tamanhos e formatos. Por exemplo, o osso pisiforme da mão possui o tamanho e a forma de uma ervilha, enquanto o fêmur pode apresentar até 60 centímetros de comprimento em alguns indivíduos e uma cabeça arredondada em formato de bola. Desse modo, o fêmur suporta grande massa corporal e pressão, e a sua arquitetura de cilindro oco provê força máxima com peso mínimo. Na maioria dos casos, os ossos são classificados conforme sua forma geométrica aproximada em: longos, alongados, curtos, planos e irregulares. Existem, ainda, os ossos pneumáticos, sesamoides e acessórios. • Os ossos longos são formados por uma diáfise e duas epífises. Apresentam o comprimento maior em relação à largura e à espessura, que são equivalentes. Os ossos longos são encontrados tão somente no esqueleto apendicular. Eles proporcionam suporte ao organismo e também oferecem uma série de alavancas e elos que nos possibilitam criar movimento. • Os ossos alongados são achatados,sem epífises bem definidas, e não têm cavidade medular. As costelas são exemplos típicos de ossos alongados. • Os ossos curtos apresentam as três dimensões, comprimento, largura e espessura, equivalentes, as quais lhes conferem uma forma cúbica. Os exemplos de ossos classificados como curtos são os ossos carpos e os ossos do tarso, exceto o pisiforme que é um osso sesamoide e o osso calcâneo que é um osso irregular. Esses ossos apresentam um papel relevante na absorção de choque e transmissão de forças. • Nos ossos planos, a largura e o comprimento predominam sobre a espessura. Alguns exemplos de ossos planos são os ossos que formam a calvária e a escápula. Os ossos planos proporcionam proteção para o conteúdo interno e ampla superfície para a fixação muscular. • Os ossos irregulares não possuem formas geométricas bem definidas. As vértebras, os ossos da face e da base do crânio são exemplos de ossos irregulares. Oferece suporte de massa corporal, 67 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA dissipação de cargas, proteção da medula espinal, contribuição com os movimentos e locais de inserção muscular. • Os ossos pneumáticos são ocos, com cavidades cheias de ar e revestidas por mucosa, apresentando pequeno peso em relação ao seu volume. Os ossos pneumáticos compõem os seios da face, sendo eles: frontal, esfenoide, etmoide e maxila. • Os ossos sesamoides se assemelham a sementes de gergelim, localizados em regiões que alguns tendões cruzam epífises de ossos longos. Os ossos sesamoides se desenvolvem dentro dos tendões e os protegem de desgaste exorbitante junto ao osso. Também alteram o ângulo de inserção de um tendão. Os ossos sesamoides estão presentes no desenvolvimento fetal, mas não são considerados partes do esqueleto axial ou apendicular, exceto pelas patelas, que são os maiores ossos sesamoides. Os outros ossos sesamoides mais frequentes estão situados nas plantas dos pés e na base do primeiro metatarso. Nos membros superiores, os ossos sesamoides são frequentemente encontrados nos tendões próximos à superfície palmar e na base dos metacarpos. • Os ossos acessórios são raros e sua sede, as suas dimensões e o seu número podem ser muito variáveis. Acontecem mais comumente na superfície externa do que na superfície interna. Do ponto de vista da anatomia comparativa, alguns desses ossos correspondem aos que se encontram normalmente em outros vertebrados; outros não apresentam essa correspondência. A esses ossos acidentais dá‑se o nome de ossos suturais ou wormianos, que acontecem muitas vezes na sutura lambdoide, em crânios hidrocefálicos. Como exemplos de ossos acessórios podem ser mencionados ossos bregmático, obélico, ptérico e astérico. Observação Embora apresentem o comprimento maior que a largura, as costelas e a clavícula não têm canal medular, muito menos metáfises. Por esse motivo, são classificadas como ossos alongados. Nota clínica As lâminas das epífises dos ossos longos específicos ossificam em prazos previstos. Os médicos radiologistas comumente podem especificar a idade de um indivíduo jovem analisando as lâminas das epífises para observar se elas ossificaram. Uma diferença entre a idade dos ossos e cronológica pode sugerir alguma disfunção metabólica. 3.8 Características Anatômicas de Superfície dos Ossos Os ossos apresentam acidentes ósseos ou detalhes ósseos: as proeminências, as fossas, as depressões, os tubérculos, as eminências, os orifícios, os canais, as cavidades e os seios, para apresentar tão somente as características mais frequentes que compõem relevantes pontos de referência em anatomia, radiologia, ortopedia e antropologia física. A seguir, exemplos de características anatômicas da superfície dos ossos: 68 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I o forame (do latim, foramine = orifício) é uma abertura por meio da qual passam artérias ou nervos, como o forame magno do osso occipital; Figura 45 – Forame magno • a fossa (do latim, fossa = fenda, trincheira) é uma depressão rasa sobre um osso, como a fossa cerebelar do osso occipital; Figura 46 – Fossa cerebelar • o côndilo (do grego, Kondylo = elevação arredondada) é uma proeminência grande e arredondada que constitui uma união, como os côndilos medial e lateral do fêmur; 69 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA Figura 47 – Côndilos do fêmur • a cabeça é uma projeção arredondada que compõe uma união e é sustentada na constrição (colo) do osso, como a cabeça do úmero; Figura 48 – Cabeça do úmero • a tuberosidade é uma projeção grande e arredondada, frequentemente com uma superfície áspera, como a tuberosidade da tíbia; Figura 49 – Tuberosidade da tíbia 70 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I • a espinha é uma projeção aguda e delgada, oriunda da face de um osso, como a espinha da escápula; Figura 50 – Espinha da escápula • a crista é uma margem ou borda proeminente, comumente rugosa, como a crista ilíaca do quadril; Figura 51 – Crista ilíaca 71 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA • a incisura é uma chanfradura ou entalhe em uma margem óssea, como a incisura da mandíbula; Figura 52 – Incisura da mandíbula Lembrete O esqueleto pode ser dividido em esqueletos axial e apendicular. 3.9 Fatores de Variação Anatômica dos Ossos Existem 206 ossos no indivíduo adulto, médio e normal, excluindo‑se os ossos sesamoides e os ossículos da audição. O número de peças ósseas varia com a idade, existindo maior número no recém‑nascido do que na idade avançada. Por exemplo, no crânio de uma criança permanecem duas peças ósseas paramedianas ou hemifrontais que, com a sinostose da sutura, comporão o osso frontal. Na idade avançada, com as sinostose de todas as suturas, o crânio torna‑se uma esfera óssea. Figura 53 – Norma anterior do osso frontal: sutura metópica e parte anterior da fontanela anterior 72 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I 3.10 Divisão do Esqueleto Os ossos do esqueleto humano são divididos em três grupos: axial, apendicular e cinturas. O esqueleto axial compõe o eixo longitudinal do organismo e inclui os ossos do crânio, da coluna vertebral e da caixa torácica. Dessa forma, esses ossos estão mais diretamente relacionados à proteção, ao suporte ou à sustentação de outras partes do organismo. O esqueleto apendicular consiste nos ossos dos membros superiores e inferiores. Os ossos do esqueleto apendicular auxiliam na movimentação de um local a outro e na manipulação do ambiente ao nosso redor. As cinturas escapular e pélvica unem os esqueletos axial e apendicular. A figura a seguir apresenta uma visão geral do esqueleto humano. Figura 54 – Esqueleto humano 3.10.1 O Esqueleto da Cabeça O esqueleto da cabeça ou esqueleto cefálico abrange os ossos do crânio e os ossos da face ou viscerocrânio. Consiste, portanto, em uma sequência de ossos que na sua maioria estão unidos entre si por articulações imóveis, com exceção da mandíbula, que se articula com o osso temporal por articulação sinovial, a articulação temporomandibular. O esqueleto da cabeça é composto de 22 ossos divididos em duas partes: o neurocrânio e os ossos da face. O neurocrânio envolve os ossos relacionados à proteção dos órgãos do sistema nervoso central. Ele é formado pelos seguintes ossos: frontal, temporal,etmoide, esfenoide, parietal e occipital. Os ossos da face estão relacionados com os órgãos dos sentidos: o paladar, a visão e o olfato. Além disso, os ossos do viscerocrânio ancoram os músculos da expressão facial. Eles são formados pelos seguintes ossos: maxilas, mandíbula, palatinos, vômer, nasais, zigomáticos, lacrimais e conchas nasais inferiores. Exceto a mandíbula, os demais ossos do viscerocrânio se articulam com as maxilas, que servem de implantação dos dentes superiores. É relevante examinar a “geografia” básica do esqueleto da cabeça antes de descrever seus ossos 73 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA individualmente. Com a mandíbula retirada, o esqueleto da cabeça equipara‑se a uma esfera óssea desigual e vazia. Os ossos da face compõem sua norma anterior, e o neurocrânio constitui o resto do esqueleto da cabeça. O neurocrânio pode ser dividido em calota e base. A calota craniana, também chamada de calvária, compõe as normas superior, lateral e posterior do esqueleto da cabeça, do mesmo modo a região da fronte. A base do crânio, ou soalho, constitui a norma inferior do esqueleto da cabeça. Internamente, detalhes ósseos proeminentes dividem a base do crânio em três “andares” ou fossas: as fossas anterior, média e posterior do esqueleto da cabeça. O encéfalo aloja‑se plenamente nessas fossas, sendo envolvido pela calota craniana. Dessa maneira, o encéfalo preenche a cavidade craniana. Além da grande cavidade craniana, o esqueleto da cabeça apresenta diversas pequenas cavidades. Entre elas estão as cavidades da orelha média e da orelha interna, entalhadas na norma lateral da base do crânio e, anteriormente, a cavidade nasal e as órbitas. As órbitas abrigam os globos oculares. Exemplo de aplicação Enquanto você lê sobre os ossos do esqueleto da cabeça, identifique cada um deles nas diferentes normas (ver Figuras 59, 60, 61, 62, 63 e 64). Figura 55 ‑ Esqueleto da cabeça: norma anterior Figura 56 ‑ Esqueleto da cabeça: norma lateral 74 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I Figura 57 ‑ Esqueleto da cabeça: norma posterior Figura 58 ‑ Esqueleto da cabeça: norma inferior Figura 59 ‑ Esqueleto da cabeça: norma superior da base do crânio Figura 60 ‑ Esqueleto da cabeça: norma superior da base da calvária A maioria dos ossos do esqueleto da cabeça apresenta uma camada de osso esponjoso, a díploe, situada entre as duas lâminas de osso compacto, uma tábua óssea externa e uma tábua óssea interna A díploe possui uma sequência de canais ósseos, os canais diplóicos, que são alojados geralmente por veias diplóicas. Esses canais podem perfurar as tábuas ósseas e, dessa maneira, estabelecer a união entre veias internas e externas do esqueleto da cabeça. Figura 61 – Díploe 75 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA 3.10.1.1 Os ossos do neurocrânio O osso frontal é um osso plano, anterior, ímpar e mediano da calvária. O osso occipital é um osso plano, inferior, posterior, mediano, pertencente à base do crânio, perfurado por uma abertura ampla e oval, o forame magno, por meio do qual a cavidade craniana comunica‑se com o canal vertebral. O osso esfenoide é um osso irregular, ímpar, mediano e situa‑se na base do crânio anteriormente aos temporais e à parte basilar do osso occipital. O osso etmoide é um osso leve, esponjoso, irregular, ímpar, inferior e situa‑se na base do crânio. O osso parietal é um osso plano, par e compõe o teto do crânio. O osso temporal é um osso irregular, par e muito complexo. Possui três partes: a escamosa, a petrosa e a timpânica. A parte petrosa abrange o órgão vestibulococlear e cavidade timpânica que contém os três ossículos da audição. Os ossículos da audição estão situados na cavidade timpânica. Os nomes dos ossículos da audição são aqueles que melhor proclamam o formato de cada um deles: o martelo, a bigorna e o estribo, que estão dispostos nessa ordem, em sentido látero‑medial, para a transmissão de som. 3.10.1.2 Os ossos da face O osso zigomático, frequentemente chamado de “maçãs do rosto”, forma parte da parede lateral e assoalho da órbita. É um osso par e irregular. O osso nasal é um pequeno osso retangular, que forma, com o nasal do lado oposto, o dorso do nariz. A maxila é um osso plano, anterior e irregular. Forma quatro cavidades: o teto da cavidade oral, o soalho e a parede lateral do nariz, o soalho da órbita e o seio maxilar. Possui os alvéolos dentários para abrigar os dentes superiores. Nota clínica A fusão das maxilas esquerda e direita normalmente se completa antes do nascimento. Se essa fusão não acontecer, resulta uma condição conhecida como palato fendido, no qual o lábio superior está dividido. Dependendo da extensão e da posição da fenda, a fala e a deglutição podem ser comprometidas. Os cirurgiões buco‑maxilo‑faciais indicam o fechamento do lábio fendido durante as primeiras semanas de vida. O reparo do palato fendido é efetuado entre 12 e 18 meses de idade, teoricamente antes que a criança dê início à fala. Os resultados cirúrgicos na maioria das vezes são primorosos, para ambas as condições. O tratamento da fala pode ser indispensável, pois o palato é relevante para a pronúncia das consoantes. O tratamento ortodôntico é necessário para o alinhamento dos dentes. 76 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I Saiba mais Leia o seguinte artigo: OLIVEIRA, R. M. R. Uma abordagem sobre as dificuldades enfrentadas por mães na amamentação de crianças portadoras de fissuras labiopalatinas. Revista Brasileira de Educação e Saúde, Pombal‑PB, v. 4, n. 2, p. 1‑6, maio/ jun. 2014. Disponível em: <http://gvaa.com.br/revista/index.php/REBES/ article/view/3017>. Acesso em: 25 jul. 2016. O osso lacrimal é um pequeno osso, aproximadamente retangular, situado na parte medial da órbita. É o menor e mais frágil osso da face. O osso palatino é um osso irregular, localizado posteriormente à maxila. Forma a parte posterior do palato duro, parte do soalho e parede lateral da cavidade nasal e o soalho da órbita. O vômer é um osso ímpar, plano, de formato trapezoidal. Forma as partes posteriores e inferiores do septo nasal. A concha nasal inferior é um pequeno osso com o formato de uma placa delgada e alongada e com margens curvas. Situa‑se ao longo da parede lateral da cavidade nasal, separando os meatos nasais: médio e inferior. É a única concha nasal independente, pois as outras conchas, a superior e a média, pertencem ao etmoide. A mandíbula é um osso ímpar, móvel da cabeça, o maior e mais forte da face, onde tem situação anteroinferior. Apresenta o formato de uma ferradura e contêm os alvéolos dentários para abrigar os dentes inferiores. Figura 62 – A mandíbula 3.10.1.3 Os ossos do esqueleto da cabeça em conjunto A cefalometria A cefalometria, ou mensuração da cabeça, permite reconhecer crânios microcéfalos, mesocéfalos e macrocéfalos, ou seja, pequenos, médios e grandes, concomitantemente. Quando as dimensões são extrapoladas, esses tipos são ditos patológicos, por exemplo, o crânio hidrocéfalo, que possui descomunal hidrocefalia. 77 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA O esqueleto da cabeça do RN. Espaços Suturais e Fontanelas ou Fontículos As principais variações do esqueleto da cabeça do recém‑nascido em relação ao adulto residem na falta dos seios paranasais, por exemplo, do osso esfenoide e do osso frontal. As margens dos ossos dacalvária no feto de termo estão espaçadas, mas unidas por suturas membranáceas que possibilitam a diminuição de volume da cabeça fetal, muito relevante para a passagem pela vagina e vulva durante o parto. Ao nível dos ângulos dos ossos, sem ocorrida, ainda, a ossificação, deparam‑se as fontanelas do esqueleto da cabeça, a saber, as fontanelas medianas: a fontanela anterior e a fontanela posterior; e as fontanelas laterais: a fontanela anterolateral ou esfenoidal e a fontanela posterolateral ou mastoidea. À medida que a ossificação toma as áreas membranáceas, as fontanelas reduzem de dimensões até sumir. A última fontanela a realizá‑la é a fontanela anterior, que desaparece entre o 2º e o 3º ano de vida. Figura 63 ‑ Diferentes vistas das fontanelas em crânio desarticulado e reconstruído. Figura 64 ‑ Norma superior: fontanela anterior Figura 65 ‑ Norma lateral: fontanela anterolateral e posterolateral. Figura 66 ‑ Norma posterior: fontanela posterior. 78 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I O esqueleto da cabeça nos indivíduos senis Nos indivíduos senis, a elasticidade do esqueleto da cabeça reduz e as suturas somem, por sinostoses, após os 40 anos de idade. Segue uma relação de algumas suturas e o início de sua calcificação: por volta dos 22 anos de idade, a sutura sagital e a sutura esfenofrontal; 24 anos de idade, a sutura coronal; 26 anos de idade, a sutura lambdóidea e a sutura occipitomastóidea; 30 anos de idade, a sutura parietomastóidea; e 37 anos de idade, a sutura temporoparietal. O fechamento começa a acontecer vagarosamente e vai sofrer um surto na idade avançada. Tende a completar‑se após os 80 anos de idade. O esqueleto da cabeça e o dimorfismo sexual O esqueleto da cabeça da mulher é menor e mais leve em termos absolutos, mas, em relação ao resto do organismo, é mais volumoso e mais pesado do que o do homem. No esqueleto feminino da cabeça, as paredes são mais finas, a superfície é mais lisa, as saliências e os processos originados pelas inserções musculares menos acentuadas. Na mulher, a fronte é menos alta e mais estreita, contudo tende à verticalidade, enquanto a testa do homem tende à obliquidade. A mandíbula masculina é mais encorpada e sólida. No esqueleto da cabeça feminino, os seios frontais são menores. 3.10.2 O esqueleto do pescoço O esqueleto do pescoço é composto das vértebras cervicais (ver coluna vertebral) e, do ponto de vista topográfico, do osso hioide. O hioide é um osso ímpar, mediano, sesamoide e faz parte de um conjunto de estruturas anatômicas que une a base do crânio ao esqueleto do pescoço. Está localizado na parte anterossuperior do pescoço, superiormente à laringe e póstero‑inferiormente à mandíbula. Apresenta como função oferecer suporte para a língua, fornecendo locais de fixação para os músculos da língua, do pescoço e da faringe. Portanto, é um elemento relevante para a mastigação e para o ato de engolir. O hioide é um osso móvel e não se articula com mais nenhum osso. Figura 67 – O Osso Hioide 79 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA 3.10.3 O esqueleto do tronco O esqueleto do tronco abrange o tórax, as vértebras lombares, as vértebras sacrais, as vértebras coccígeas e a pelve óssea. O tórax é a parte do organismo localizada no tronco, entre o pescoço e o abdome, exatamente entre a abertura superior do tórax e o diafragma. O formato abobadado do tórax possibilita grande rigidez, tendo em vista o pouco peso de seus constituintes, e permite: • proteger das forças externas os órgãos internos torácicos e abdominais, sendo que a maioria deles é cheia de ar ou líquido; • resistir às pressões internas negativas produzidas pela retração elástica dos pulmões e pelos movimentos inspiratórios; • oferecer fixação para os membros superiores e sustentar a sua massa; • proporcionar a fixação de diversos músculos que se movem e sustentam a posição dos membros superiores em relação ao tronco, além de possibilitar fixação para os músculos do abdome, do pescoço, do dorso e da respiração. O formato do tórax depende da idade, do sexo e do biótipo. O tórax do feto é mais desenvolvido sagitalmente do que transversalmente, em virtude do maior desenvolvimento do coração, do timo e dos órgãos abdominais do que dos pulmões. Aos 18 anos de idade, o tórax assume seu formato definitivo, crescendo até os 35 anos de idade no sexo masculino, e 25 anos de idade no sexo feminino. No indivíduo senil, as costelas e as cartilagens costais perdem a flexibilidade, as articulações sofrem anquilose, e o tórax perde a elasticidade e a mobilidade. Com a ampliação da coluna vertebral, as costelas ficam mais próximas umas das outras. O tórax masculino é mais largo do que o feminino, com a máxima largura ao nível da VIII costela, com pequeno aperto inferior. O tórax feminino é mais curto e arredondado, com maior aperto inferior do que o masculino. No indivíduo longilíneo, cujo crescimento é mais dinâmico e há um maior desenvolvimento em altura, o tórax é longo e estreito, enquanto no indivíduo brevilíneo, cujo desenvolvimento transversal prevalece sobre o vertical, o tórax é mais curto e largo. 80 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I Figura 68 – Esqueleto axial 3.10.3.1 O esterno O esterno é um osso plano com aproximadamente 15 centímetros de extensão, mediano, ímpar, localizado medianamente na parede anterior do tórax. É um relevante osso hematocitopoiético. O esterno articula‑se com as clavículas e com as cartilagens das sete primeiras costelas. Possui três partes: o manúbrio do esterno, o corpo do esterno e o processo xifoide. Figura 69 – O esterno 3.10.3.2 As costelas Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar; e da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe‑a a Adão” (Gênesis 2: 21,22). Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada (Gênesis 81 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA 2: 23). A mulher foi tirada do lado de Adão, isto é, da sua costela, ela não foi tirada da cabeça, pois não é sua função dominá‑la; nem de seus pés, pois não foi criada para ser pisada por ele. A Bíblia nos relata o momento em que Deus criou a primeira mulher: Eva. Na realidade, essa passagem bíblica é tão somente uma metáfora, pois tanto homens quanto mulheres possuem 12 pares de costelas que protegem o coração, os pulmões, o fígado e o baço. Na medicina, diversas são as indicações cirúrgicas que retiram costelas com objetivos terapêuticos e reparadores. Em cirurgia torácica, deformidades relevantes do tórax, por exemplo, o pectus excavatum e o pectus carinatum, são reparados com a retirada parcial das cartilagens costais e o reposicionamento do esterno. Também não é incomum a necessidade de retirada de costelas após traumatismos torácicos ou em toracotomias muito extensas. De natureza igual, a retirada de costelas tem sido uma indicação frequente em cirurgia plástica para usá‑las como enxerto em processos reparadores de orelhas, nariz e outras cirurgias craniomaxilofaciais. As costelas são ossos em formato de semiarcos unindo as vértebras torácicas ao esterno. As costelas são classificadas em: costelas verdadeiras, I – VII, que se articulam diretamente ao esterno por intermédio das cartilagens costais; costelas falsas, VIII – X, que se articulam indiretamente com o esterno, unindo suas cartilagenscostais umas às outras; e, por fim, as costelas flutuantes, costelas XI e XII, que são curtas e livres e protegem o fígado e o estômago. Figura 70 – As costelas Logo abaixo do arco costal direito é possível palpar o fígado durante a inspiração. Abaixo do arco costal esquerdo situa‑se o estômago, não palpável, e o baço, que pode ser palpado no lado esquerdo, especialmente quando possui um aumento patológico. Uma costela típica apresenta a cabeça, o colo e o corpo. Com exceção das costelas I, XI, e XII, as outras podem ser consideradas costelas típicas, embora a VIII, IX, e X sejam mais curtas e cooperem para constituir a margem costal. A primeira costela é a costela mais curta entre as costelas verdadeiras. Além disso, ela é mais larga e plana do que as outras costelas, localizando‑se sob a clavícula anteriormente, o que dificulta sua palpação. A artéria subclávia e a veia subclávia sulcam na face posterior. 82 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I Nota clínica Excepcionalmente, pode existir uma costela cervical e uma costela lombar, que são consideradas costelas supranumerárias, geralmente, conectadas com a C7 e a L1, concomitantemente. 3.10.3.3 A coluna vertebral A coluna vertebral oferece um suporte axial para o tronco. Ela estende‑se desde o crânio até a pelve, onde o peso do tronco é transmitido aos membros inferiores. A coluna vertebral também protege a medula espinal, provendo ainda pontos de fixação para as costelas e para os músculos do dorso e do pescoço. No feto e na criança, a coluna vertebral é formada por 33 ossos separados, ou vértebras. Inferiormente, nove vértebras se fundem para compor dois ossos, o sacro e o cóccix. Os 24 ossos restantes permanecem como vértebras individuais separadas por discos intervertebrais. Figura 71 – Arranjo anatômico geral da coluna vertebral Observação Herófilo, e depois Vesalius, nomearam o osso como cóccix por sua semelhança, em conjunto, com o formato do bico do pássaro cuco. Jean Riolan dá outra explicação: declara que, na emissão de gases pelo ânus, o som “ecoa” no cóccix, o osso do “apito”. Curiosamente, devido ao costume do cuco fêmea em se apoderar dos ovos de outros pássaros e chocá‑los como seus, os gregos antigos utilizavam a palavra Kókkys como termo grosseiro às mulheres adúlteras. 83 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA Regiões e curvaturas A coluna vertebral mede aproximadamente 70 centímetros em um adulto, é responsável por 2/5 da massa corporal total e possui cinco regiões principais. São sete vértebras cervicais, doze vértebras torácicas, cinco vértebras lombares, cinco vértebras sacrais e de três a cinco vértebras coccígeas. Quando a coluna vertebral é vista lateralmente, observa‑se as quatro curvaturas responsáveis por seu formato sinuoso. As curvaturas cervical e lombar são côncavas posteriormente; as curvaturas torácica e sacral são convexas posteriormente. Essas curvaturas aumentam a elasticidade e a flexibilidade da coluna, possibilitando que ela trabalhe de maneira mais semelhante a uma mola do que a uma haste rija. Lembrete Curvaturas convexas na vista posterior são designadas cifoses e, na vista anterior, lordoses. Figura 72 – Curvaturas da coluna vertebral Elementos das vértebras As estruturas anatômicas são encontradas em quase todas as vértebras, exceto em C1 e C2, e servem como meio de diferenciação em relação aos demais ossos do esqueleto. Todas as vértebras têm sete elementos fundamentais: o corpo vertebral, o processo espinhoso, o processo transverso, os processos articulares, as lâminas, os pedículos e o forame vertebral. A C7 possui um processo espinhoso longo e proeminente. Nota clínica Na idade avançada, especialmente em mulheres, acontece uma redução de massa óssea, designada osteoporose. A desmineralização e a diminuição do número de trabéculas ósseas reduzem a resistência 84 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I dos corpos vertebrais que podem sofrer fraturas, mesmo na falta de traumas. A causa da osteoporose é, dentre outras, a falta de estrógenos, dependente da idade, e uma alimentação pobre em vitamina D e cálcio. As características regionais possibilitam a diferenciação das vértebras pertencentes a cada região. Diversos são os elementos de diferenciação. As vértebras cervicais apresentam um corpo pequeno, exceto a C1 e a C2. Geralmente possuem o processo espinhoso bífido e horizontalizado, e os seus processos transversos têm os forames transversários que permitem a passagem da artéria vertebral. Nas vértebras torácicas, o processo espinhoso não é bifurcado, apresenta‑se descendente e pontiagudo. As vértebras torácicas se articulam com as costelas; as superfícies articulares dessas vértebras são designadas fóveas e hemi‑fóveas. As fóveas podem estar situadas no corpo vertebral, no pedículo, ou nos processos transversos. O forame vertebral tem o formato circular. Nas vértebras lombares, os corpos vertebrais são maiores, pois suportam a massa corporal. O processo espinhoso é quadrilátero, além de estar disposto em posição horizontal. Apresenta o forame vertebral em formato triangular e os processos mamilares. Possui o processo transverso bem desenvolvido, designado de apêndice costiforme. Pode ser distinguido também por não possuir forame no processo transverso e nem a fóvea costal. As vértebras consideradas atípicas são C1, atlas, e C2, áxis ou epistrofeu. Figura 73 – Características regionais das vértebras Observação Atlas, gigante mitológico de força cavalar, filho de Iápeto e Clímene, após a derrota dos Titãs para os Deuses, foi condenado, por Júpiter, a amparar o mundo nos ombros. Dá nome à C1 que, por analogia, sustenta a cabeça. 85 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA Figura 74 – Atlas, Viena e Áustria A C1 apresenta como principal distinção em relação às outras vértebras não ter um corpo vertebral. Além disso, esta vértebra possui outras estruturas: o arco anterior do atlas, que constitui, aproximadamente, 1/5 do anel; o tubérculo anterior; a fóvea do dente, que se articula com o processo odontoide; o arco posterior do atlas, que constitui, aproximadamente, 2/5 do anel; e o tubérculo posterior. A C2 apresenta um processo ósseo forte designado processo odontoide. Lembrete C1 não possui corpo vertebral, nem processo espinhoso. O sacro tem o formato de uma pirâmide quadrangular com a base voltada para cima e o ápice para baixo. Articula‑se superiormente com L5 e inferiormente com o cóccix. Ele é diferente conforme o sexo. Assim, nas mulheres, o sacro é mais largo e curto do que nos homens e tem uma curva mais pronunciada, possivelmente relacionada com a forma do restante da pelve óssea feminina, adequada para a gestação. Os discos intervertebrais Os 23 discos intervertebrais conectam os corpos vertebrais vizinhos. A defasagem entre o número de vértebras e o número de discos intervertebrais deriva do fato de que os ossos das regiões sacral e coccígea não possuem disco intervertebral entre si e que C1 e C2 são conectadas através de articulações sinoviais. Observação As articulações da cabeça não apresentam discos intervertebrais. A falta dos discos entre o osso occipital, C1 e C2, possibilita a grande movimentação dessa região. 86 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I Os discos intervertebrais consistem em um anel fibroso externo que envolve umnúcleo pulposo interno. A pressão sobre o disco intervertebral gera uma expansão do núcleo pulposo, em todas as direções, uma vez que é abundante a presença de água e o disco não pode ser comprimido. Essa expansão determina uma força de tração no anel fibroso. Portanto, o disco intervertebral desempenha um papel de “almofada aquosa”. O esforço de compressão diário motiva uma diminuição reversível de água do núcleo pulposo, que implica a redução da altura dos discos intervertebrais e da estatura do corpo. Com a descompressão acontece uma reidratação, induzindo nutrientes ao disco intervertebral. Entretanto, os vasos de sangue estão presentes tão somente nas camadas mais externas do anel fibroso. Os discos intervertebrais representam um tecido com redução do metabolismo e mínima aptidão regenerativa. Nota clínica A herniação do núcleo pulposo para dentro do anel fibroso ou através dele é uma causa comum de lombalgia e, muitas vezes, é designada de ruptura ou deslizamento do disco intervertebral. Atividades físicas, como alongamentos, descomprimem os discos e aumentam a circulação de sangue geral, o que acelera a captação de O2 e de nutrientes pelos discos e a retirada de metabólitos. Variações no número das vértebras A maioria dos indivíduos apresenta 33 vértebras, porém alguns podem ter 32 ou 34 vértebras em razão de erros no desenvolvimento. As estimativas da frequência de números anormais das vértebras acima do sacro ficam entre 5% e 12%. As variações das vértebras são afetadas por diversos fatores de variação anatômica, como raça, sexo e ambientais. O aumento do número de vértebras é mais comum em homens e a diminuição do número é mais habitual em mulheres. Algumas raças expõem maior variação do número de vértebras. As variações do número de vértebras podem ser clinicamente relevantes. 3.10.4 A cintura escapular A cintura escapular é composta pela escápula e pela clavícula. A clavícula é um osso par que compõe parte da cintura escapular. Ele é um osso alongado, ou seja, embora comprido, nem sempre apresenta cavidade medular. Portanto, não é um osso longo típico por não possuir todos os atributos indispensáveis para assim ser comtemplado. A clavícula tem o formato curvado como um “S”, localizada quase que horizontalmente logo acima da I costela. A escápula é um osso par, plano e triangular. A escápula articula‑se com dois ossos: o úmero e a clavícula. 87 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA Figura 75 – A escápula Figura 76 – A clavícula Observação Curiosamente, escápula provém de uma palavra que significa “pá”, pois, em culturas antepassadas, as escápulas de animais eram usadas como pás. 3.10.5 O membro superior O membro superior dos seres humanos, ao passar da posição quadrúpede para a bípede, reduziu sua função de locomoção, mas ganhou mobilidade e preensão. Os ossos dos membros superiores podem ser divididos em três segmentos: o braço, o antebraço e as mãos. O úmero é o maior e mais longo osso do membro superior e está localizado no braço. Dois ossos longos paralelos, o rádio e a ulna, compõem o esqueleto do antebraço. Na posição anatômica, o rádio situa‑se lateralmente e a ulna medialmente. Figura 77 – O úmero Figura 78 – O rádio 88 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I Figura 79 – A ulna Observação Algumas vezes é pertinente utilizar recursos que auxiliem a lembrar de um novo dado. Tal ajuda é designada de dispositivo mnemônico ou “ativador da memória”. Para auxiliá‑lo a lembrar da localização da ulna em relação à mão, um mnemônico pode ser “m.u.” (o “mindinho” está no lado da ulna), ou ainda, o polegar é a “antena” do rádio. A mão preênsil representa, em companhia do encéfalo e da laringe, com seu comprometimento na capacidade da fala, um “órgão cultural” imprescindível para a evolução dos homens. É consenso que a evolução da mão, até atingir a aptidão de produção de ferramentas, aconteceu anteriormente ao avanço da fala. De qualquer maneira, a mão apresenta um papel relevante na comunicação não verbal, guiando a palavra proferida ou, ainda, como parte da linguagem corporal. As funções preênsil e tátil da mão são fundamentais e carecem das articulações dos dedos, com o polegar exibindo uma movimentação extraordinária e podendo ostentar uma posição de oposição em relação aos quatro outros dedos. Os papéis das articulações das mãos são inerentes ao uso e ao posicionamento adequado das mãos em relação ao antebraço. Para que os dedos ajam em afazeres mais concisos, por exemplo, manuseando artefatos pequenos, na escala de milímetros, os dedos têm que ser finos: não apresentam músculos e são movidos por longos tendões dos músculos do antebraço e dos músculos intrínsecos da mão. Coligado à visão, os humanos podem utilizar o sentido tátil da mão para o reconhecimento de um espaço tridimensional e de seus artefatos. A relevância da mão procedeu no uso da expressão “palpar” também para o entendimento de processos abstratos. A mão se divide em carpo, metacarpo e ossos dos dedos. O carpo é formado por oito ossos dispostos em duas fileiras: proximal e distal. A fileira proximal de lateral para medial inclui: o escafoide, o semilunar, o piramidal e o pisiforme. A fileira distal de lateral para medial inclui: o trapézio, o trapezoide, o capitato e o hamato. O metacarpo é composto por cinco ossos numerados de lateral para medial em I, II, III, IV e V metacarpos; e obedecem aos dedos da mão. Entre os ossos do metacarpo estão os espaços interósseos. Os cinco dedos da mão de lateral para medial são: o polegar (I), o dedo indicador (II), o dedo médio (III), o dedo anular (IV) e o dedo mínimo (V). Apresentam 14 falanges: em cada uma delas há uma base, um 89 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA corpo e uma cabeça. Do II ao V, os dedos apresentam três falanges: a falange proximal, a falange média e a falange distal. O I dedo possui duas falanges: a falange proximal e a falange distal. Tanto os ossos do metacarpo como as falanges são classificados morfologicamente como ossos longos. Figura 80 – A mão 3.10.6 A cintura pélvica Ao assumir a marcha ereta, e em similaridade à coluna vertebral, a pelve humana possui grandes desigualdades funcionais. A pelve humana é extraordinariamente maciça em comparação à pelve de quadrúpedes, uma vez que ampara grande parte da massa corporal, exceto dos membros inferiores. Na posição ereta, o peso das vísceras abdominais e das vísceras pélvicas é empregado especialmente sobre a pelve. A cintura pélvica, do latim, pélvis, bacia, é formada pelos ossos do quadril que se articulam entre si, pelo sacro e pelas vértebras coccígenas. O osso do quadril é classificado morfologicamente em plano ou irregular. A sua constituição inclui três ossos isolados: o ílio, o ísquio e o púbis. No homem, até a puberdade, as três peças ósseas que compõem o osso do quadril continuam conectadas umas às outras por cartilagem; a partir desse período, acontece a ossificação da cartilagem e o osso do quadril passa a ser único, apesar de permanecerem as designações das peças ósseas que o formam originalmente. 90 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I Figura 81 – O osso do quadril O estreito superior da pelve, no nível das linhas arqueadas, divide a pelve em: parte superior, a pelve maior, ou falsa; e parte inferior, a pelve menor, ou verdadeira. A pelve maior aloja os órgãos abdominais, enquanto a pelve menor aloja os órgãos do sistema genital e o final do sistema digestório.O conhecimento da pelve feminina apresenta relevância durante a gestação e o parto. As dimensões da pelve menor aumentam e a sínfise púbica se torna mais flexível nas gestantes à medida que os hormônios, no caso a relaxina, produzida pelo corpo lúteo e pela placenta, promovem o relaxamento dos ligamentos pélvicos. Observação No começo do trabalho de parto, a cabeça do recém‑nascido caracteristicamente entra na abertura superior da pelve com sua fronte voltada para o ílio de um lado e seu occipital voltado para o ílio do outro lado. O promontório, que é, sobretudo grande, pode prejudicar a entrada do bebê na pelve verdadeira. Comumente, após a cabeça do recém‑nascido passar pela abertura superior da pelve, ela gira, e então a sua fronte volta‑se posteriormente e o occipital anteriormente. De tal modo, durante o parto, a cabeça do recém‑nascido faz um quarto de volta para seguir as dimensões maiores da pelve verdadeira. Saiba mais O conhecimento dos tipos de parto e o papel a ser desempenhado pelo enfermeiro são de fundamental relevância. Assim, o artigo sugerido a seguir abordará o parto humanizado e a importância da equipe de enfermagem. DAMACENO, D. C. A importância do parto humanizado: atenção da equipe de Enfermagem. Facider. Mato Grosso, n. 7, p. 1‑13, 2015. Disponível em: <http://www.sei‑cesucol.edu.br/revista/index.php/facider/article/ view/132>. Acesso em: 14 jul. 2016. 91 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA As pelves femininas, pelo seu formato, são classificadas em quatro grupos: 1 – ginecoide: feminina verdadeira, circular, tipo normal; 2 – androide: tipo masculino, em formato de coração, gera complicações no parto; 3 – platipeloide: achatada, pelves anterior e posterior reduzidas; 4 – antropoide: tipo simiesco ou dos macacos, ovalada, com um longo diâmetro sagital no estreito superior da pelve. O fator sexo influencia na forma da pelve. Figura 82 – Classificação das pelves. A: ginecoide; B: androide Figura 83 – Classificação das pelves. A: antropoide; B: platipeloide A pelve feminina e a pelve masculina possuem peculiaridades distintas. A pelve feminina possui: • os ossos mais suaves e delgados, com as saliências e as depressões menos pronunciadas; • o promontório mais saliente; • a sínfise púbica e o sacro mais curtos; • a concavidade sacral mais funda; • as fossas ilíacas maiores, mais rasas, achatadas e horizontais; 92 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I • a inclinação pélvica apresenta 4° a mais; • o arco púbico mais ampliado; • os acetábulos mais separados; • o forame obturado é mais oval e mais circular; • os ossos fêmures mais oblíquos. Figura 84 – A pelve feminina Figura 85 – A pelve masculina 93 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA Lembrete A pelve representa um conjunto ósseo, em formato de anel, que transmite o peso da cabeça, do pescoço, dos membros superiores e do tronco, através de suas articulações até os membros inferiores. 3.10.7 O membro inferior O membro inferior dos seres humanos desenvolveu‑se, sobretudo, para a manutenção da massa corporal e para a locomoção. Portanto, tem a capacidade de movimentar‑se de um lugar para outro e sustentar o equilíbrio. Os ossos dos membros inferiores podem ser divididos em três segmentos: a coxa, a perna e os pés. Os membros inferiores são unidos ao tronco pela cintura pélvica. A marcha ereta dos humanos solicita adaptações morfológicas, não somente na pelve, mas também na parte livre do membro inferior, responsáveis por muitas diferenças entre os membros inferiores e os membros superiores. Em virtude da sustentação de massa corporal, o fêmur é um osso muito mais vigoroso do que o úmero. O acetábulo da articulação do quadril é expressivamente mais profundo do que a cavidade glenoide da articulação do ombro, ocasionando uma resistência maior contra luxações, mas possuindo uma movimentação mais restringida. O mesmo objetivo desempenha os ligamentos que são muito fortes, cujo arranjo possibilita a postura ereta, com um mínimo de empenho, em uma articulação do quadril em extensão. Os prestigiosos ligamentos do joelho não apenas resistem a luxações, mas também se exibem estendidos, transformando os membros inferiores em “colunas estáveis”, adequados para sustentar a massa corporal sem grande vigor muscular. A disposição assimétrica dos ligamentos da articulação do quadril e da articulação do joelho possibilita uma flexão máxima sincrônica durante a corrida. O fêmur é o mais longo e pesado osso do organismo humano. Influencia, de maneira significativa, a estatura de uma pessoa, em vida, que pode ser medida a partir do comprimento do fêmur, por exemplo, na arqueologia. O fêmur transmite o peso do tronco e da pelve para a tíbia. Figura 86 – O fêmur Nota clínica Em caso de fratura do fêmur acontece a perda de sangue, aproximadamente de 1 a 2 litros, isto é, há o risco de choque por hipovolemia. 94 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I A patela é um osso pequeno e triangular, situada anteriormente à articulação do joelho. É o maior osso sesamoide do corpo humano. É dividida em: base, ápice, face anterior e face articular. A face anterior é convexa, enquanto a posterior possui uma área articular lisa e oval. Figura 87 – A patela Depois do fêmur, a tíbia (ver Figura 92) é o maior osso no corpo humano que aguenta a massa corporal. Está situada medialmente na perna. A tíbia tem o papel de transferir o peso do fêmur para o tálus. Figura 88 – A tíbia Observação A fíbula, do latim, fíbula, significa espeto, agulha, prego. O termo estaria relacionado à “infibulação”, processo usado pelos romanos no qual uma agulha de prata era inserida no prepúcio de adolescentes a fim de evitar relações sexuais prematuras. A fíbula localiza‑se lateralmente e um pouco posterior à tíbia. Não possui a função de manutenção da massa corporal. Ela não contribui com à articulação do joelho e tão somente auxilia a estabilizar a articulação do tornozelo. Figura 89 – A fíbula 95 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA Lembrete A fíbula não transfere, de maneira significativa, o peso do fêmur para o pé. O pé se divide em: tarso, metatarso e falanges, que compõem o esqueleto dos dedos. Os pés são responsáveis pela sustentação e pela locomoção. O pequeno desenvolvimento dos ossos dos dedos dos pés acontece pelo fato de que, com a aquisição da postura ereta, os dedos dos pés humanos abandonaram o papel de órgãos de preensão, diferentemente de outros primatas. Figura 90 – O pé O tarso possui um número de sete ossos divididos em duas fileiras: a proximal e a distal. Os dois ossos da fileira proximal são: o calcâneo e o tálus. A fileira distal abrange o osso navicular, o osso cuboide, o osso cuneiforme medial, o osso cuneiforme intermédio e o osso cuneiforme lateral. Ele transmite a massa corpórea em dois sentidos: inferior e posterior, para o calcâneo; e inferior e anterior para o calcâneo e o osso navicular, os quais, por sua vez, o transmitem para os ossos da fileira distal e para os metatarsos. O calcâneo é um osso quadrangular que compõe o calcanhar, transferindo a massa corporal transmitida pelo tálus ao solo. É o mais volumoso dos ossos do tarso. O osso navicular está localizado 96 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on- 2 9/ 07 /1 6 Unidade I medialmente no pé. O osso cuneiforme medial apresenta o formato de “cunha”. O osso cuboide é o maior da fileira distal do tarso. Observação Na clínica médica usa‑se, comumente, outra divisão que define a região do antepé na divisão anatômica supracitada. O tálus e o calcâneo compõem o retropé. Os demais ossos do tarso e os ossos do metatarso formam o mediopé. O metatarso é composto por cinco ossos numerados de lateral para medial em I, II, III, IV e V. Esses ossos são longos e determinam a ligação entre o tarso e as falanges. Diferentemente das mãos em que o polegar possui enorme independência de movimentação, no metatarso, todos os ossos são paralelos e no mesmo plano. Os dedos dos pés de lateral para medial são: o hálux, ou I dedo, o II dedo, o III dedo, o IV dedo e o dedo mínimo ou V dedo. As falanges são ossos longos. Há três falanges: a falange proximal, a falange média e a falange distal em cada dedo, exceto o hálux, e, às vezes, o dedo mínimo possui tão somente duas falanges. Lembrete O esqueleto axial é composto pelos ossos da cabeça, pescoço e tronco. O esqueleto apendicular é formado pelos ossos dos membros superiores e inferiores. A cintura escapular é constituída pelos ossos escápula e clavícula. A cintura pélvica é formada pelos ossos do quadril, sacro e cóccix. 3.11 Artrologia É o capítulo da anatomia que estuda as articulações. O local onde dois ou mais ossos se encontram, existindo ou não movimento entre eles, é designado de articulações ou junturas. De acordo com a conformação e com o aspecto estrutural, as articulações são grupadas em três tipos principais: as articulações fibrosas, as articulações cartilagíneas e as articulações sinoviais. Os três tipos principais de articulações podem ser subdivididos em sinartroses e diartroses. As partes ósseas das sinartroses são conectadas por um “tecido de preenchimento”. Nas sinartroses encontram‑se as articulações fibrosas, cuja conexão óssea é constituída por tecido conjuntivo, e as articulações cartilagíneas, cuja conexão óssea é composta por cartilagem. As diartroses se caracterizam pela presença de uma cavidade articular entre os ossos articulados preenchida por líquido, o líquido sinovial. As articulações fibrosas e cartilagíneas são estabelecidas pela continuidade dos ossos articulantes por meio do tecido interposto. As articulações sinoviais se fazem por contiguidade. 97 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA 3.11.1 Articulações fibrosas Nas articulações fibrosas, os ossos são conectados entre si por fibras de tecido conjuntivo, o que permite muito pouco movimento. Consideram‑se os seguintes tipos de articulações fibrosas: as suturas, as sindesmoses, as gonfoses e as esquindileses. 3.11.1.1 Suturas Nas suturas existe um pequeno afastamento entre os ossos e, consequentemente, pequena quantidade de tecido conjuntivo interposto. As suturas da calota craniana são exemplos desse tipo de articulação. A morfologia dessas suturas difere. Distinguimos: a sutura serrátil, a sutura escamosa e a sutura plana. Na sutura serrátil, as margens apresentam dentículos que se engrenam, sendo simples, inicialmente, e podendo, mais tarde, apresentar a extremidade mais dilatada que a base, o que impede o afastamento dos ossos; a sutura escamosa apresenta as margens ósseas cortadas em bisel, à custa das faces opostas dos ossos. Na sutura plana, as margens ósseas são planas e lisas. Figura 91 Figura 92 98 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I Figura 93Figuras 91, 92 e 93 – Morfologia das suturas 3.11.1.2 Sindesmoses Essa articulação ocorre quando o afastamento entre os ossos é grande e há, consequentemente, grande quantidade de tecido conjuntivo interposto. Os dois ossos vizinhos são unidos por fibras colágenas de tecido conjuntivo, por exemplo, a membrana interóssea do antebraço encontrada entre os ossos rádio e ulna. Outro exemplo de sindesmose é a membrana interóssea da perna, localizada entre os ossos tíbia e fíbula, designada sindesmose tibiofibular. Por fim, os ossos unidos por fibras elásticas de tecido conjuntivo, por exemplo, as fibras encontradas nos ligamentos amarelos que estão entre os arcos de vértebras vizinhas. Figura 94 – Sindesmoses Figura 95 – Sindesmoses 3.11.1.3 Gonfoses É o modo pelo qual se processa a união das raízes de um dente com as paredes dos alvéolos dentários. As fibras colágenas de tecido conjuntivo conectam o periósteo do osso alveolar ao periodonto. 99 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA Figura 96 – Gonfoses 3.11.1.4 Esquindilese Acontece quando a margem óssea aguda é inserida em uma fenda, por exemplo, do corpo do esfenoide que se aloja em uma superfície em forma de fenda entre as asas do osso vômer (ver Figura 101). Figura 97 – Esquindilese Lembrete Nas articulações fibrosas, o movimento entre os ossos é reduzido. 100 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I 3.11.2 Articulações cartilagíneas A articulação cartilagínea conecta dois ossos por meio de cartilagem hialina ou fibrosa. Pode ser dividida em dois tipos: primária e secundária. Uma articulação primária, como acontece nas sincondroses, é aquela na qual os ossos são unidos por uma lâmina ou barra de cartilagem hialina. Desse modo, a união entre a epífise e a diáfise de um osso em crescimento, e aquela entre a primeira costela e o manúbrio do esterno, são exemplos de tal articulação. Na região da base do crânio localiza‑se a sincondrose esfenoccipital. Nenhum movimento é possível. Uma articulação cartilagínea secundária é aquela na qual os ossos são unidos por uma lâmina de fibrocartilagem, e as faces articulares dos ossos são cobertas por uma fina lâmina de cartilagem hialina. As articulações cartilagíneas são encontradas, por exemplo, na sínfise púbica (entre os ossos do quadril) e nos discos intervertebrais (entre os corpos das vértebras). Uma pequena quantidade de movimento é possível. Figura 98 Figura 99 101 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA Figura 100 – Articulações cartilagíneas Observação Algumas articulações cartilagíneas possibilitam pequenos movimentos entre os ossos. 3.11.3 Articulações sinoviais As articulações sinoviais possuem, em geral, grande mobilidade. Caracterizam‑se por um tecido conjuntivo vascular, que forma uma membrana sinovial. Essa membrana secreta a sinóvia ou líquido sinovial que lubrifica a articulação. A membrana sinovial é protegida, do lado de fora, por uma membrana fibrosa designada cápsula articular. O líquido sinovial encontra se em um espaço virtual conhecido como cavidade articular. Esse espaço é delimitado pela cápsula articular. A membrana fibrosa é mais resistente e pode estar reforçada em alguns pontos por feixes fibrosos designados ligamentos capsulares. Além destes, podem haver os ligamentos extracapsulares e os ligamentos intracapsulares. As cápsulas e os ligamentos, além de conservarem a junção entre os ossos, dificultam movimentos em sentidos indesejáveis e limitam a amplitude dos movimentos julgados normais. A cartilagem articular, formada de tecido conjuntivo, consiste em uma camada protetora de 1 a 5 milímetros de espessura desse material que reveste as extremidades dos ossos que se articulam nas articulações sinoviais. A cartilagem articular desempenha dois papéis relevantes: distribuir as cargas, difundindo‑asna articulação sobre uma área extensa para que a quantidade de estresse nos pontos de contato seja reduzida, e permitir o movimento dos ossos que se articulam com atrito e desgaste mínimo. 102 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I Durante o crescimento normal, a cartilagem articular em uma articulação sinovial, como o joelho, aumenta em volume conforme a criança vai ficando mais alta. Figura 101 Figura 102 – Articulações sinoviais Nota clínica É interessante notar que não há relação entre o aumento da cartilagem no joelho e mudanças na massa corporal. As crianças que realizam atividades esportivas vigorosas acumulam cartilagem articular de forma mais rápida que aquelas que não realizam as mesmas atividades, e os meninos tendem a adquirir cartilagem articular no joelho mais rapidamente que as meninas. Outra característica das articulações sinoviais é a presença de meniscos e discos articulares, que são formações fibrocartilagíneas que se encaixam as faces articulares com o papel de torná‑las harmônicas entre si e agir como um coxim amortecedor de choques mecânicos. Os meniscos articulares apresentam 103 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA forma de meia‑lua e estão localizados no joelho. Já́ os discos articulares possuem formato elipsoide, como é o caso do disco da articulação temporomandibular. Figura 103 – Disco articular As bolsas sinoviais são pequenas cápsulas revestidas por membranas sinoviais e preenchidas por líquido sinovial, que amortece estruturas separadas por elas. A maior parte das bolsas sinoviais separa os tendões do osso, reduzindo o atrito sobre os tendões durante o movimento articular. Algumas bolsas sinoviais, como a bolsa do olécrano na região do cotovelo, separam o osso da pele. Nota clínica Geralmente, a inflamação aguda ou crônica da bolsa, a bursite, é causada pela irritação decorrente do esforço excessivo e repetitivo de uma articulação. A condição também pode ser causada por traumatismo ou por uma infecção aguda ou crônica, como a sífilis e a tuberculose. Os sintomas abrangem: dor, edema, hipersensibilidade e limitação da amplitude de movimento. O tratamento pode englobar agentes anti‑inflamatórios orais e injeções de corticosteroides. As bainhas tendíneas são estruturas sinoviais em dupla camada que circundam os tendões posicionados em estreita associação com os ossos. Muitos dos tendões dos músculos longos que cruzam as articulações do punho e dos dedos estão protegidos por bainhas tendíneas. Lembrete As articulações mais numerosas no organismo são as articulações sinoviais. Elas apresentam cápsula articular, cavidade articular, cartilagem articular, membrana sinovial, líquido sinovial e ligamentos. 104 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I 3.11.3.1 Classificação das articulações sinoviais As superfícies articulares encontradas nas diferentes articulações do organismo alteram em tamanho e formato. Assim, elas são classificadas como: planas, dobradiças, pivôs, selares e esferoidais. Deslizantes não axiais (planas) Nessas articulações, as superfícies articulares ósseas são quase planas e o único movimento permitido é o deslizamento. Exemplos incluem as articulações intercarpais, intertarsais e intermetatarsais, além das facetas articulares das vértebras (ver Figura 108). Figura 104 – Articulações planas Dobradiças (gínglimo) As dobradiças contêm uma superfície óssea convexa e outra superfície côncava. Os ligamentos colaterais resistentes da região restringem o movimento a um deslocamento planar, como o de uma dobradiça. Exemplos incluem as articulações úmero‑ulnar e interfalangeanas (ver Figura 109). Figura 105 – Gínglimo 105 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA Pivôs (em formato de parafusos) Nessas articulações, a rotação é permitida ao redor de um eixo. Exemplos incluem a articulação atlantoccipital e as articulações radioulnar proximal e radioulnar distal. Figura 106 – Trocoide Selares (em sela) Nessas articulações, ambas as superfícies ósseas que se articulam têm o formato do assento de uma sela de equitação. Os movimentos permitidos são os mesmos que as elipsoides, porém a amplitude de movimento permitida é maior. Um exemplo é a articulação carpometacarpo do polegar. Figura 107 – Selares 106 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I Esferoidais (bola e soquete) Nessas articulações, as superfícies articulares são reciprocamente côncavas e convexas. É a mais móvel das articulações sinoviais. Exemplos incluem as articulações do ombro e do quadril (ver Figura 112). Figura 108 – Esferoidais Nota clínica A articulação do ombro é a articulação do organismo mais vulnerável a luxações; nela se manifestam mais de 50% de todos os casos, em razão à “falha” de um “guia ósseo” e às características de ligamentos moderadamente frágeis. 4 SISTEMA MUSCULAR Em conjunto, aproximadamente os 700 músculos do organismo controlados voluntariamente constituem o sistema muscular, sendo que eles variam de tamanho e formato. 4.1 Tipos de músculos Quando a contração de um músculo resulta de uma ação de vontade dizemos que esse é um músculo voluntário, mas quando a contração muscular escapa ao controle consciente do indivíduo, chamamos de um músculo involuntário. Os músculos voluntários diferenciam‑se histologicamente dos involuntários por possuírem estriações transversais, e, por isso, são designados estriados. Já́ os músculos involuntários não possuem estriações, logo, são ditos lisos. 107 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA Possuímos ainda outro tipo de músculo, o músculo cardíaco, que se semelha histologicamente ao músculo estriado, ainda que apresente uma ação involuntária. Podemos também distinguir os músculos estriados dos lisos pela topografia, já que os músculos estriados são, na maioria das vezes, fixados ao menos por uma de suas extremidades ao esqueleto. Já os músculos lisos são viscerais, isto é, são localizados na parede das vísceras de vários sistemas do organismo. O principal papel do tecido muscular estriado esquelético é movimentar o organismo ao executar tração sobre os ossos do esqueleto, permitindo‑nos diversas atividades, como andar, dançar ou tocar um instrumento musical. O músculo estriado cardíaco impulsiona o sangue para os vasos do sistema cardiovascular; o tecido muscular liso conduz líquidos e sólidos ao longo do canal alimentar e exerce papéis variados em outros sistemas. Papéis dos músculos estriados esqueléticos • Manutenção da postura e posicionamento do organismo: as contrações de músculos específicos sustentam a postura corporal, como conservar a cabeça em posição durante a leitura de um livro ou equilibrar a massa corporal sobre os pés ao caminhar. Sem a constante contração muscular, não seria possível sentar em postura ereta sem cair ou levantar sem tombar para frente. • Sustentação de tecidos moles: a parede abdominal e o soalho da cavidade pélvica consistem em camadas de músculo estriado esquelético. Esses músculos suportam o peso das vísceras e protegem os tecidos internos contra lesões. • Regulação da entrada e saída de materiais: aberturas ou orifícios do canal alimentar e das vias urinárias são circundados por músculos estriados esqueléticos. Esses músculos possibilitam o controle voluntárioda deglutição, defecação e micção. • Manutenção da temperatura corporal: a contração muscular necessita de energia e, sempre que o organismo usa energia, transforma parte dela em calor. A perda de calor pela contração muscular conserva nossa temperatura corporal dentro do intervalo indispensável para o seu funcionamento normal. • Reserva de nutrientes: os lipídios são armazenados nos músculos estriados esqueléticos como elementos de reserva e usados nas reações energéticas, e as substâncias minerais, como o sódio, potássio, cálcio, magnésio e fósforo influenciam as alterações químicas musculares e a sua contração. Além disso, o glicogênio é armazenado em grande quantidade nas células musculares, transformando‑se em glicose quando há necessidade de energia para as células. 108 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I Saiba mais A musculatura do períneo pode sofrer alterações em relação aos números de gestações. Isso pode influenciar, no futuro, situações que acarretem desconforto às mulheres, como a incontinência urinária. No artigo a seguir, você obterá informações interessantes sobre o assoalho pélvico e os partos vaginais. NAKAMURA, M. U. et al. Parturiente perineal distensibility tolerance assessed by EPI‑NO: an observational study. Einstein, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 22‑26, 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/eins/v12n1/ pt_1679‑4508‑eins‑12‑1‑0022.pdf>. Acesso em: 14 jul. 2016. 4.2 Componentes macroscópicos dos músculos estriados esqueléticos O músculo estriado esquelético possui uma parte “carnosa”, vermelha no vivente, designada ventre muscular, em que prevalecem as fibras musculares, sendo, portanto, a parte contráctil do músculo. Apresenta também extremidades que, quando são cilindroides ou têm forma de fita, designam‑se tendões; quando possuem aspecto laminar, são designados aponeuroses. Os tendões e as aponeuroses são estruturas esbranquiçadas e brilhantes, muito resistentes, formadas por tecido conectivo denso, rico em fibras colágenas e responsáveis pela fixação dos músculos ao esqueleto. Contudo, podem estar fixados também em cartilagens, cápsulas articulares, tendões de outros músculos e na derme. Os tendões possuem um ponto de fixação. Já as aponeuroses apresentam diversos pontos de fixação. Observação Qualquer músculo apresenta sempre duas partes: o ventre muscular e os tendões. Os músculos estriados esqueléticos podem ser envolvidos pela fáscia ou pela aponeurose; a fáscia está estruturada em camadas de tecido conjuntivo resistente, e a aponeurose pode ser uma membrana que reveste o músculo ou o liga ao tendão. A fáscia, o tendão e a aponeurose atuam como se fossem uma “meia elástica” e, dessa maneira, impedem desvios e rupturas durante a sua contração. Leitura obrigatória Acesse o link abaixo e leia no Capítulo 9: Sistema Muscular (p. 238‑251), os seguintes tópicos: tecido muscular estriado esquelético e organização muscular, anatomia macroscópica, anatomia microscópica das fibras 109 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA musculares estriadas esqueléticas, contração muscular, unidades motoras e controle muscular, nota clínica – rigor mortis, tono muscular e tipos de fibras musculares estriadas esqueléticas. MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLISTSCH, R. B. Anatomia humana: coleção Martini. Porto Alegre: Artmed, 2009. Disponível em: <https://online. minhabiblioteca.com.br/#/books/9788536320298/cfi/3!/4/4@0.00:14.6>. Acesso em: 26 jul. 2016. 4.3 Nomenclatura dos músculos estriados esqueléticos Os músculos estriados esqueléticos são designados conforme vários critérios, e cada um deles descreve o músculo de alguma forma. Prestando atenção a essas dicas, a tarefa de estudar os nomes dos músculos ficará mais fácil. Localização do músculo: alguns nomes de músculos lembram o osso ou a região do organismo com a qual o músculo está integrado, por exemplo, o músculo temporal localiza‑se sobre o osso temporal. Forma do músculo: alguns músculos são designados conforme a sua forma, por exemplo, o músculo pronador quadrado, que apresenta um formato que lembra essa figura geométrica. Tamanho relativo do músculo: termos como máximo, mínimo, longo e curto são comumente usados em nomes de músculos, por exemplo, músculo palmar longo. Direção das fibras musculares: os nomes de alguns músculos expõem a direção de suas fibras em referência a alguma linha imaginária, em geral, o plano mediano, por exemplo, o músculo transverso do abdome. Número de origens: quando bíceps, tríceps ou quadríceps compõem parte do nome de um músculo, pode‑se adotar que o músculo tem duas, três ou quatro origens, respectivamente, por exemplo, o músculo bíceps femoral. Localização de suas fixações: alguns músculos são nomeados conforme os seus pontos de origem e inserção. A origem é sempre o primeiro nome, por exemplo, o músculo esternocleidomastoideo tem duas origens, no esterno e na clavícula, e sua inserção é no processo mastoide do osso temporal. Ação: quando os músculos são designados pelas suas ações, são utilizadas palavras como flexor, extensor ou adutor no nome do músculo, por exemplo, o músculo extensor longo do hálux. A figura a seguir ilustra uma visão anterior e posterior dos principais músculos estriados esqueléticos. 110 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I Figura 109 – Principais músculos do organismo humano Os músculos da cabeça são responsáveis pela mímica, agem na movimentação da cabeça e da coluna vertebral e contribuem no processo da mastigação, por exemplo, o músculo orbicular dos olhos, os músculos escalenos e o músculo masseter, respectivamente. Os músculos do dorso são os que se estendem da coluna vertebral em direção à cintura escapular e ao úmero; participam dos movimentos do braço e da cabeça e da elevação da escápula, por exemplo, o músculo redondo maior. Outro grupo muscular composto pelos músculos do tórax se insere na coluna vertebral e nas costelas e tem função no equilíbrio estático e dinâmico do tórax. Os músculos do tórax que se estendem das costelas em direção à cintura escapular e ao úmero agem nos movimentos do membro superior e na mecânica torácica, por exemplo, o músculo peitoral maior. Existem outros músculos que se inserem nas costelas e agem de forma relevante na mecânica torácica, por exemplo, os músculos intercostais interno e externo situados entre as costelas. O diafragma separa o tórax do abdome, é um músculo forte que se insere nas costelas, no processo xifoide do esterno e na coluna vertebral. Possui algumas aberturas delimitadas por músculos tendíneos, 111 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA designados hiato aórtico, que permitem a passagem da aorta e o ducto torácico, e hiato esofágico, que possibilita a passagem do esôfago e do nervo vago. O abaixamento do diafragma para o abdome produz dois papéis relevantes: o aumento da capacidade torácica em se expandir, auxiliando a inspiração; e o aumento da pressão interna abdominal por diminuição da cavidade abdominal, interferindo nos papéis mecânicos das vísceras abdominais, principalmente na evacuação, na micção e no trabalho de parto. Os músculos do abdome compõem uma parede para proteger os órgãos abdominais, influem no equilíbrio estático e dinâmico das vísceras abdominais e agem na movimentação do tronco, por exemplo, o músculo reto do abdome. Os músculos da pelve estendem‑se da vértebra lombar até a pelve e o fêmur. Participam na sustentação do organismo e nos movimentosda coxa, da pelve e do tronco, por exemplo, o músculo glúteo máximo. Os músculos da coxa localizam‑se em torno do fêmur e agem na movimentação da coxa e da perna, por exemplo, o músculo reto femoral e o músculo sartório. Os músculos da perna apresentam longos tendões que podem se estender até os dedos do pé. Participam na movimentação do pé e da perna e têm papel relevante no ato de deambular, por exemplo, o músculo tibial anterior, o músculo fibular longo e o músculo tríceps da perna. O pé também possui músculos próprios, localizados no seu dorso, na planta do pé ou nas falanges. Esses músculos agem nos movimentos restritos dos artelhos e especialmente na manutenção da estabilidade interna da arcada do pé. Para os movimentos da articulação do ombro, é preciso a ação conjunta de três grupos musculares: os músculos do braço estendem‑se da escápula em direção ao úmero ou ao antebraço, ou do úmero aos ossos do antebraço. No antebraço, encontra‑se um número grande de músculos, compreendendo músculos superficiais e profundos, que apresentam participação relevante nos movimentos da mão como um todo e nos movimentos individuais dos dedos. Isso acontece porque esses músculos flexores e extensores do antebraço fixam‑se aos ossos do carpo e do metacarpo e às falanges por meio de tendões, por exemplo, os músculos flexores e extensores dos dedos. As ações musculares conjuntas dos músculos da mão e do antebraço possibilitam que a mão seja um órgão de preensão, especialmente o polegar, exerça os movimentos articulares simples e execute concomitantemente uma combinação de movimentos, por exemplo, ao escrevermos, o dedo flexiona‑se na articulação proximal e estica‑se nas articulações distais. Resumo A anatomia humana é a ciência que estuda a estrutura do organismo humano. A terminologia anatômica é descrita, em geral, com vocábulos de origem grega ou latina. A história da anatomia é similar à da medicina e também foi influenciada pelas diversas religiões. O interesse pré‑histórico pela 112 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 Unidade I anatomia foi indiscutivelmente limitado à observação e puramente baseado no misticismo. No Egito antigo desenvolveu‑se a técnica de mumificação. A anatomia encontrou grande aprovação como uma ciência, primeiramente, na Grécia antiga. Hipócrates é considerado o pai da medicina. Alexandria foi um centro de aprendizagem científica, local em que foram realizadas dissecções e vivissecções. Erasístrato é denominado o pai da fisiologia devido às suas observações sobre diversas funções do organismo. Durante o Império Romano, Galeno, um médico influente, fez alguns avanços relevantes em anatomia, mas, ao mesmo tempo, implantou erros graves na literatura que se tornaram incontestáveis durante séculos. No período da Idade Média, a anatomia sofreu forte repressão religiosa, e as dissecções de cadáveres humanos foram proibidas. Durante as Cruzadas, as escritas anatômicas foram levadas de Alexandria pelos árabes, que tiveram influência relevante nesse período. Diversas universidades se estabeleceram na Europa durante o Renascimento. O médico belga Andreas Vesalius é considerado o pai da anatomia. Em 1628, William Harvey descreveu perfeitamente a circulação do sangue. A plastinação é uma técnica anatômica que envolve polêmicas bioéticas, pois os cadáveres humanos são mostrados em exposições e faculdades de medicina. As células especializadas estão estrutural e funcionalmente integradas para constituir um organismo. O corpo humano é dividido em cabeça, pescoço, tronco e membros. Na posição anatômica, o indivíduo está ereto com os pés paralelos, olhar voltado para o horizonte e membros superiores junto ao tronco com as palmas das mãos voltadas para frente e os dedos das mãos dirigidos para baixo. Todas as descrições de posição ou localização partem da posição anatômica. As direções abrangem a superior, a inferior, a anterior, a posterior, a medial, a lateral, a proximal e a distal. Os planos que passam através do organismo humano são: o sagital, o coronal e o transverso. O organismo é formado por diversas cavidades. A cavidade anterior é subdividida em: torácica, abdominal e pélvica. A cavidade posterior é dividida em cavidades craniana e espinal. O organismo é constituído por diversos princípios de construção. O aparelho locomotor é composto pelo esqueleto, pelas articulações e pelos músculos. O esqueleto é dividido em esqueleto axial, que consiste no crânio, osso hioide, coluna vertebral e tórax. O esqueleto apendicular consiste em ossos dos membros superior e inferior. Há duas cinturas, a escapular e a pélvica. As funções do esqueleto abrangem a sustentação, a proteção, a produção de células de sangue e o armazenamento de gordura e minerais. 113 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 9/ 07 /1 6 ANATOMIA Os ossos podem ser classificados de acordo com a sua forma: longos, curtos, planos e irregulares. As superfícies externas dos ossos apresentam detalhes anatômicos, por exemplo, tuberosidades, fossas, forames e incisuras. Um típico osso longo possui diáfise, com um canal medular preenchido por medula óssea, epífises, periósteo e endósteo. O osso compacto é a parte densa externa; o osso esponjoso é a parte interna porosa e vascular. As articulações são formadas quando os ossos vizinhos se articulam. Elas são classificadas de acordo com o tecido interposto em fibrosas, cartilagíneas e sinoviais. As articulações fibrosas são de quatro tipos: suturas, sindesmoses, gonfoses e esquindileses. Os dois tipos de articulações cartilagíneas são as sínfises e as sincondroses. As articulações sinoviais com liberdade de movimentos apresentam estruturas anatômicas, como a cápsula articular, a membrana sinovial, o líquido sinovial, a cartilagem articular, os ligamentos, os meniscos e os discos articulares. As articulações sinoviais abrangem os tipos plana, gínglimo, pivô, selar e esferoide. Os músculos estriados esqueléticos possuem características macroscópicas, como o ventre muscular, os tendões, as aponeuroses e as fáscias musculares. Os nomes que os músculos estriados esqueléticos receberam foram baseados na forma, tamanho, direção das fibras, número de origens, localização de suas fixações e ações. Os músculos do esqueleto axial incluem aqueles responsáveis pela expressão facial, mastigação, parede abdominal e coluna vertebral. Os músculos do esqueleto apendicular incluem os músculos dos membros superiores e inferiores.