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Definição: Cardiopatia congênita com repercussão hemodinâmica expressa por estreitamento da aorta desde a aorta transversa até a bifurcação da ilíaca. Entretanto, é mais comumente encontrada no local de inserção do canal arterial (justaductal). Fisiopatologia A malformação vascular responsável pela coarctação é um defeito na média vascular, dando origem a uma inflexão posterior proeminente, que pode estender-se em torno de toda a circunferência da aorta. A lesão é muitas vezes discreta, mas pode ser longa, segmentar ou tortuosa. Mais de 70% dos pacientes com coarctação aórtica tem válvula aórtica bivalvular. É mais comum em meninos. Apresentação Clínica Anamnese Quadro clínico: Constitui cerca de 5 a 10% das cardiopatias em geral, sendo uma das malformações cardiovasculares mais frequentes. Existem bebês e crianças assintomáticos e sintomáticos. Enquanto não apresentaram nenhuma complicação, muitos pacientes permanecem sem o diagnóstico por falta de rotina médica em aferir os pulsos e registrar a pressão arterial (PA) nos membros superiores e inferiores. Algumas crianças em idade pré-escolar e escolar são acompanhadas como tendo sopro inocente quando, na verdade, o ecocardiograma revela a coarctação. Neonatos ou lactentes com coarctação de aorta grave: Podem ter sinais de insuficiência cardíaca (ex.: dificuldade na amamentação, dispneia, cianose, baixo ganho ponderal, choque cardiogênico e/ou insuficiência respiratória), hipertensão pulmonar, hipoperfusão de membros inferiores e acidose. Crianças assintomáticas ou pouco sintomáticas: Geralmente, têm diagnóstico do quadro de forma tardia na infância ou até mesmo na fase adulta. Podem queixar-se de dor ou fraqueza em membros inferiores após atividade física. Marcadores de gravidade: Vários recém-nascidos recebem alta da maternidade sem o diagnóstico e retornam ao hospital uma a duas semanas depois em franca insuficiência cardíaca, complicada por pneumonia ou insuficiência respiratória. Esse quadro confere alto risco para que seja realizado qualquer procedimento terapêutico. Exame Físico Ao exame físico, é possível notar: ● Diminuição dos pulsos distais à obstrução (femorais, poplíteos, tibiais posteriores e pediosos); ● Diferença entre as PA registradas nos membros superiores e inferiores (em pessoas hígidas, as PA em membros inferiores são a 10 a 20 mmHg superiores a de membros superiores; já nos pacientes com coarctação de aorta, registramos PA bem menores em MMII comparando com MMSS); ● Pode ter ritmo de galope na presença de insuficiência cardíaca; ● Hiperfonese da 2ª bulha nas áreas aórtica e mitral, traduzindo a hipertensão no território sistêmico; ● Estalido protossistólico aórtico, principalmente na área mitral, pela dilatação da aorta ascendente; ● Sopro ocupando a meso-telessístole e avançando até a proto-mesodiástole, na região do dorso esquerdo, causado pela turbulência no local da coarctação. Abordagem Diagnóstica ● Durante o pré-natal: É possível fazer o diagnóstico dessa cardiopatia congênita a partir do ecocardiograma fetal; ● Após o nascimento: O diagnóstico de coarctação geralmente pode ser feito com base no exame físico. O diferencial de PA e a diminuição do pulso distal à obstrução são patognomônicos; ● Exames como radiografia de tórax, eletrocardiograma e ecocardiograma são complementares e confirmatórios de um diagnóstico presuntivo já estabelecido; ● A radiografia de tórax pode mostrar em bebês sintomáticos sinais de cardiomegalia importante, sinais de congestão pulmonar e venosa; ● O eletrocardiograma pode ser normal ou revelar sinais de hipertrofia de ventrículo esquerdo; ● O ecocardiograma pode mostrar a localização da coarctação da aorta, sua extensão e se há lesões associadas; ● Não são necessários exames laboratoriais específicos para esse diagnóstico; ● Pode ser solicitada esofagografia de bário, que revela "sinal de E" clássico, representando a compressão da artéria subclávia esquerda dilatada e dilatação pós-estenótica da aorta descendente, principalmente nos pacientes com mais idade. Diagnóstico Diferencial ● Estenose aórtica; ● Interrupção do arco aórtico; ● Síndrome do coração esquerdo hipoplásico Acompanhamento Indicações de internação: Pacientes com insuficiência cardíaca congestiva (ICC), que podem ter quadro de dispneia, insuficiência respiratória, dificuldade de alimentação e choque circulatório. Os sinais de descompensação pela não correção da coarctação devem ser tratados internados. Indicações de alta: Após compensação do quadro/correção cirúrgica da obstrução mecânica. Escore prognóstico: Os pacientes que não são tratados por coarctação da aorta podem atingir a idade de 35 anos, e menos de 20% sobrevivem aos 50 anos de idade. Se a coarctação for reparada antes dos 14 anos de idade, a taxa de sobrevivência de 20 anos é de 91%. Se a coarctação for reparada após a idade de 14 anos, a taxa de sobrevivência de 20 anos é de 79%. Abordagem Terapêutica Não há medicamentos específicos para tratar coarctação da aorta, porque é uma obstrução mecânica que deve ser corrigida. Nos recém-nascidos com coarctação grave: É necessário oferecer suporte ventilatório com intubação. Iniciar infusão de Prostaglandina E1 (Alprostadil) 0,05-0,1 micrograma/kg/minuto EV contínuo para manter o canal arterial aberto, além de dar suporte inotrópico para melhorar os sintomas de ICC (dose de acordo com idade). Nos casos menos graves, fora do período neonatal: É possível administrar Digoxina e diuréticos para pós-carga cronicamente aumentada e sinais de ICC. É preciso adiar a intervenção cirúrgica ou a dilatação com balão até o paciente estar hemodinamicamente estável. Está indicada intervenção nos casos de coarctação significativa ou recoarctação da aorta com: Hipertensão crônica com ou sem sintomas; estenose aórtica hemodinamicamente significativa; paciente do sexo feminino contemplando gravidez. Os tipos de cirurgias usados variam, sendo os principais: 1. Nos casos de coarctação aórtica com hipoplasia do arco aórtico transverso e da região ístmica, realização de ampliação do arco e da região ístmica com retalho cirúrgico. 2. Nos neonatos e lactentes com coarctação aórtica isolada, resseção da estenose e anastomose terminoterminal. Guia de Prescrição Tratamento Hospitalar Recém-nascidos (RN) com Coarctação Grave 1.Dieta e hidratação: ● Dieta zero inicialmente; ● Avaliar possibilidade de nutrição parenteral; ● Avaliar necessidade de hidratação venosa e correção de acidose. 2. Se necessário: intubação orotraqueal e suporte ventilatório invasivo. 3. Alprostadil (Prostaglandina E) (500 microgramas/mL) com dose inicial de 0,05-0,1 microgramas/kg/minuto EV. A dose deve ser aumentada diante de resposta inadequada e diminuída até dose mínima efetiva, conforme resposta do paciente. Dose de manutenção 0,01-0,4 micrograma/kg/minuto EV. Se insuficiência cardíaca: 4. Dobutamina (solução injetável 12,5 mg/mL, ou seja, 12.500 microgramas/mL). Neonatal: dose inicial 0,5-1 micrograma/kg/minuto, titular até resposta desejada com dose de manutenção usual de 2-20 microgramas/kg/minuto. ● 5.Furosemida (10 mg/mL, solução injetável): Furosemida intermitente: EV (via de escolha se paciente grave)/ VO - idade gestacional (IG) ≤ 31 semanas: Dose habitual 1 mg/kg/dose de 24/24 horas, com variação de 0,5-2 mg/kg/dose de 24/24 horas; ● Furosemida intermitente: EV (via de escolha se paciente grave)/ VO - IG ≥ 31 semanas: Dose habitual 1 mg/kg/dose de 12/12 ou 24/24 horas, com variação de 0,5-2 mg/kg/dose de 12/12 ou 24/24 horas; ● Furosemida infusão contínua: RN a termo: bólus 1-2 mg/kg/dose EV, seguido por infusão contínua de 0,1-0,4 mg/kg/hora EV, com titulação conforme débito urinário horário e balanço hídrico. Se necessário e for possível, o uso do trato gastrointestinal: 6. Espironolactona (solução oral: 2,5 mg/mL - pouco disponível; comprimido: 25 ou 50 mg/cp) 1-3,3 mg/kg/dia VO de 12/12 ou 24/24 horas. Para atingir efeito diurético, ela é associada à Hidroclorotiazida, ou com poupador de potássiona ausência de insuficiência renal. Hidroclorotiazida (25 ou 50 mg/cp) 1-3 mg/kg/dia VO de 12/12 ou 24/24 horas. É necessário diluir o comprimido para atingir a dose desejada e dar apenas fração da solução. 7. Dipirona 25 mg/kg/dose EV até de 6/6 horas. Em caso de dor ou febre ≥ 37,8ºC. 8. Tratamento cirúrgico ou endovascular com cateter, de acordo com o caso. Coarctação Menos Grave e Fora do Período Neonatal 1. Dieta própria para idade, de acordo com as condições clínicas 2. Avaliar necessidade de hidratação venosa e correção de acidose. 3. Furosemida (solução oral pouco disponível - 2 mg/mL; 40 mg comprimido oral - diluir o comprimido, se outra apresentação não estiver disponível, para alcançar dose desejada; solução injetável 10 mg/mL EV): ● EV/VO idade gestacional (IG) < 31 semanas: Dose habitual 1 mg/kg/dose de 24/24 horas, com variação de 0,5-2 mg/kg/dose de 24/24 horas; ● EV (via de escolha se paciente grave)/ VO IG ≥ 31 semanas: Dose habitual 1 mg/kg/dose de 12/12 ou 24/24 horas, com variação de 0,5-2 mg/kg/dose de 12/12 ou 24/24 horas. Se necessário e for possível o uso do trato gastrointestinal: 4.Espironolactona (solução oral: 2,5 mg/mL - pouco disponível; comprimido: 25 ou 50 mg/cp) 1-3,3 mg/kg/dia VO de 12/12 ou 24/24 horas. Para atingir efeito diurético, é associada à Hidroclorotiazida ou como poupador de potássio na ausência de insuficiência renal. Hidroclorotiazida (25 ou 50 mg/cp) 1-3 mg/kg/dia VO de 12/12 ou 24/24 horas. É necessário diluir o comprimido para atingir dose desejada e dar apenas fração da solução. 5. Dipirona 25 mg/kg/dose EV até de 6/6 horas. Em caso de dor ou febre ≥ 37,8ºC. 6. Tratamento cirúrgico ou endovascular com cateter, de acordo com o caso.
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