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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MINEIROS - UNIFIMES CURSO DE MEDICINA TUTORIA 6ª ETAPA ALBERT MYULLER FERREIRA COIMBRA BRENDA SEABRA YACOUB GABRIELA DE LIMA REZENDE GABRIELA PEREIRA VALADARES GIOVANNA CASAGRANDE MORELI HÉLIO SOUZA CORTEZ HENRIQUE POLIZELLI PINTO NETO JOÃO OTÁVIO LEAL FARINA KÉSSIA GOMES PINTO LUIZ FERNANDO YABUMOTO MARIA JOSÉ ALVES MACEDO MATHEUS CARNEIRO PARANHOS SITUAÇÃO PROBLEMA 2 – “PIOR QUE INFARTO DO MIOCARDIO!” MINEIROS- GO 2020 2 ALBERT MYULLER FERREIRA COIMBRA BRENDA SEABRA YACOUB GABRIELA DE LIMA REZENDE GABRIELA PEREIRA VALADARES GIOVANA CASAGRANDE MORELI HÉLIO SOUZA CORTEZ HENRIQUE POLIZELLI PINTO NETO JOÃO OTÁVIO LEAL FARINA KÉSSIA GOMES PINTO LUIZ FERNANDO YABUMOTO MARIA JOSÉ ALVES MACEDO MATHEUS CARNEIRO PARANHOS SITUAÇÃO PROBLEMA 2 – “PIOR QUE INFARTO DO MIOCARDIO!” Relatório referente à aula de Tutoria do 6º período do curso de Medicina do Centro Universitário de Mineiros-UNIFIMES, como requisito parcial para formação de nota, sob orientação do professor Felipe Pinheiro. MINEIROS- GO 2020 3 SUMÁRIO INTRODUÇÃO......................................................................................................................4 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM....................................................................................5 DISCUSSÃO..........................................................................................................................6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................28 REFERENCIAS...................................................................................................................29 4 INTRODUÇÃO O caso dessa semana aborda a situação de um paciente diagnosticado com hipertensão arterial, hipercolesterolemia e diabetes mellitus. O paciente não estava adepto ao tratamento, sendo negligente quanto a medicação, atividade física e mudança de hábitos alimentares. Com esse histórico de doenças crônicas e a falta de disciplina quanto ao seu tratamento, o paciente veio a óbito devido a fortes dores no peito que provocou um escorregão, fazendo com que ocorresse um traumatismo cefálico. Nesse relatório iremos discutir sobre diabetes mellitus, hipertensão arterial e dislipidemias, suas possíveis complicações e também sobre a formação de trombos e êmbolos. Além de discutirmos a situação da saúde pública e o sistema único de saúde (SUS). 5 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM OBJETIVOS ESPECÍFICOS: 1. Relacionar hipertensão arterial sistêmica, diabetes e dislipidemia com o desenvolvimento de placas de ateroma e suas possíveis complicações. 2. Descrever como ocorre a formação do trombo arterial, quais os seus componentes e os seus fatores predisponentes. 3. Explicar fisiopatologicamente as alterações clínicas do caso apresentado. 4. Explicar a gênese de distúrbios homeostáticos relacionados a placas de ateroma. 5. Diferenciar trombo e êmbolo. 6. Caracterizar a importância e a indicação da realização da necropsia médico legal nos casos semelhantes ao paciente apresentado. 7. Compreender a importância do desenvolvimento de competências clínicas e educativas do médico, para pacientes com doenças crônicas não transmissíveis (DCNT/OMS), especialmente as cardiovasculares, objetivando a redução da morbidade e da mortalidade das mesmas. 6 DISCUSSÃO 1. Relacionar hipertensão arterial sistêmica, diabetes e dislipidemia com o desenvolvimento de placas de ateroma e suas possíveis complicações. As placas de ateroma são manifestações da aterosclerose, doença inflamatória crônica e progressiva que acomete artérias de calibre grande e intermediário, e que resulta de múltiplas respostas celulares e moleculares específicas que geram obstrução arterial. Em 1958, a aterosclerose foi definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma afecção resultante do acúmulo focal de lipídios, hidratos de carbono, sangue e produtos sanguíneos, tecido fibroso e depósito de cálcio (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1958). Localiza-se preferencialmente na aorta abdominal, nas artérias coronárias, no segmento arterial ílio-femoral e na região encefálica; nas artérias carótidas internas e nas artérias do polígono de Willis, poupando as artérias dos membros superiores, as mesentéricas e renais, à exceção dos seus óstios (BECKSTROM et al., 2007). A localização mais frequente no sector cerebrovascular é no nível da bifurcação carotídea e origem da carótida interna (bulbo carotídeo), onde a formação de placas de ateroma tende a limitar o fluxo sanguíneo, causando estenose. Os fenômenos embólicos a partir de placas de ateroma da bifurcação carotídea constituem um dos principais mecanismos causadores de acidente vascular cerebral (FERNANDES et al., 1992). A aterogênese é caracterizada pelo desenvolvimento de placas gordurosas, denominadas placas ateromatosas, na superfície interna das paredes arteriais. Os cristais de colesterol, juntamente com a proliferação celular, podem ocasionar a projeção da placa para o lúmen arterial, causando redução acentuada do fluxo sanguíneo podendo gerar oclusão completa do vaso (BECKSTROM et al., 2007). Fatores que predispõem ao desenvolvimento da placa de ateroma incluem avanço da idade, hipertensão arterial, hipercolesterolemia, tabagismo, diabetes mellitus, obesidade, radioterapia de cabeça e pescoço e doença arterial coronariana. São ainda fatores de risco para o desenvolvimento da placa de ateroma a herança genética, o sedentarismo e o estresse (KAWAMORI et al., 1992; BECKSTROM et al., 2007). Mais recentemente, outros fatores de risco foram reconhecidos, como a homocisteinemia aumentada, anticorpos anticardiolipina elevados e função plaquetária alterada (PICCINATO; CHERRI; MORIYA, 2001). 7 Áreas específicas possuem maior risco ao desenvolvimento das placas, sendo as zonas de baixa tensão mais predispostas, assim como as áreas de separação do fluxo e estase, devido à diminuição da velocidade do fluxo sanguíneo, aumentando a exposição a partículas aterogênicas, o que, na presença de hiperlipidemia, aumenta o risco de formação das placas (ROSS, 1999). De maneira geral, algumas lesões ateromatosas irão se desenvolvendo com o passar do tempo e os homens são mais afetados do que as mulheres, sobretudo quando são mais jovens (SAITO et al., 2002). Teorias que justificam o desenvolvimento da placa de ateroma atribuem sua formação a uma resposta inflamatória crônica da parede arterial iniciada por lesão endotelial (ROSS, 1999). Sua formação segue sequência de eventos em que os fatores de risco agem sobre o endotélio vascular desencadeando uma diminuição na produção de anticoagulantes, aumento da produção de pró-coagulantes e moléculas vasoativas. Um processo inflamatório caracteriza essa resposta, sendo observado aumento da permeabilidade vascular e da aderência de leucócitos e plaquetas. Há ainda liberação de monócitos e linfócitos T, e proliferação de células musculares lisas levando ao espessamento da parede arterial e consequente processo de remodelação que visa melhorar a luz do vaso para melhor irrigação distal à lesão. Essa lesão passa a apresentar uma cápsula fibrosa com núcleo de tecidos necrosados e lipídios, levando assim a lesão a estágios mais avançados (FRIEDLANDER; ALTMAN, 2001; BECKSTROM et al., 2007). Portanto, a placa de ateroma é formada por depósitos de gordura, principalmente de colesterol, na camada íntima da artéria e que tem sua formação iniciada por injúrias no endotélio decorrentes dos fatores de risco aos quais o indivíduo está exposto. Umaumento da espessura da camada íntima é observado, podendo sofrer deposição de sais de cálcio, produzindo diferentes graus de calcificação distrófica que recebem o nome de ateromas (SUNG; FRIEDLANDER; KOBASHIGAWA, 2004). A placa ateromatosa cresce lentamente, diminuindo o fluxo sanguíneo, e pode bloquear completamente a artéria. Os depósitos de colesterol associados à proliferação celular podem se tornar grandes ao ponto da placa projetar-se para o lúmen da artéria, reduzindo acentuadamente o fluxo sanguíneo e causando oclusão completa do vaso. Mesmo sem oclusão, os fibroblastos presentes na placa depositam tecido conjuntivo denso, 8 aumentando a rigidez das artérias sendo comum posteriormente haver precipitação de sais de cálcio e colesterol, resultando em calcificações duras como osso, o que caracteriza um estágio de arteriosclerose. A formação de núcleo necrótico resultante da morte de células propicia instabilidade à placa, até que macrófagos ativados produzam enzimas de degeneração que ataquem a capa fibrosa e a placa se torne completamente instável, podendo se romper e expor seu conteúdo ao plasma sanguíneo, gerando um coágulo e bloqueando o fluxo de sangue, causando efeitos como infarto ou AVC (RODRIGUES; GOTTSCHALL, 1992). Os tecidos distais à oclusão experimentam isquemia, embora sua atividade dependa da localização e da extensão do processo oclusivo, assim como do desenvolvimento de rede colateral. O fluxo sanguíneo aos tecidos distais geralmente é mantido à custa da rede colateral. Na maioria dos casos o processo é gradual, sendo que a rede colateral desenvolve-se adequadamente e permite a viabilidade dos tecidos mais distais. Se a oclusão ocorrer de forma abrupta, os sintomas surgem de forma aguda (PICCINATTO et al., 2001). Embora inúmeros fatores de risco possam contribuir para o desenvolvimento da placa de ateroma, a hipertensão arterial e a diabetes mellitus destacam-se em função da sua alta incidência, assim como pelas graves complicações observadas nos pacientes acometidos (KANNEL et al., 1974). A elevação da pressão arterial danifica o revestimento das artérias e acelera o desenvolvimento de ateromas por inúmeras disfunções arteriais, sendo um importante fator de risco para doença arterial coronária (PALATINI; JULIUS, 1999). O regime pressórico persistente elevado ao longo do tempo, mesmo nos indivíduos assintomáticos, resulta em importante morbidade e mortalidade decorrentes de doenças cardiovasculares. Observam- se ainda, alterações degenerativas do sistema vascular, de natureza aterosclerótica, agravadas ou aceleradas pela hipertensão arterial. Parece claro que a hipertensão arterial desempenha papel central nesse processo, uma vez que o processo aterosclerótico raramente ocorre em segmentos do sistema circulatório com baixo regime pressórico, tais como artérias pulmonares ou veias (SIMÕES; SCHMIDT, 1996; KANNEL et al., 1974). O endotélio atua como sinalizador, registrando alterações hemodinâmicas e traduzindo-as em sinais que influenciam a reatividade do sistema vascular. Ao longo dos 9 anos, a hipertensão arterial não-tratada pode se tornar crônica, atrapalhando a atividade normal e contribuindo para aumento de moléculas de adesão assim como maior susceptibilidade para infiltração endotelial celular e macromolecular, dando início ao processo de mudanças inflamatórias aterogênicas (CARVALHO et al., 2001). A hipertensão pode promover uma disfunção endotelial, aumentando a secreção de citocinas sintetizadas pelo endotélio arterial, estimulando a produção de moléculas de adesão e favorecendo assim o recrutamento e adesão de monócitos à superfície do endotélio. Há ainda um aumento da pressão intravascular em hipertensos, o que aumenta a permeabilidade das paredes endoteliais a fluidos e macromoléculas, causando aumento do fluxo de substâncias da circulação para a parede vascular (GOTTLIEB; BONARDI; MORIGUCHI, 2005). O risco de formação das placas de ateroma e da aterosclerose, assim como suas sequelas, aumentam progressivamente com o aumento da pressão arterial (CASIGLIA et al., 2002), sendo que, na maioria da vezes, a hipertensão é acompanhada por outros fatores de risco como diabetes mellitus, tabagismo e obesidade (CANTOS et al., 2004). O revestimento dos vasos sanguíneos, denominado endotélio, exerce funções anticoagulantes e antiinflamatórias que são fundamentais para manter a homeostasia. O endotélio tem função protetora contra o desenvolvimento de lesões vasculares, mantendo a vasodilatação e inibindo a adesão leucocitária e a proliferação de células musculares lisas, sendo essas ações exercidas principalmente pelo óxido nítrico, prostaciclina e fator hiperpolarizante derivado do endotélio. Existem também os fatores contráteis do endotélio, dentre esses as endotelinas, a angiotensina II, as prostaglandinas e espécies reativas de oxigênio são os principais (CARVALHO et al., 2001). Em condições fisiológicas, há um equilíbrio entre a liberação e produção desses fatores contráteis e relaxantes. No entanto, em condições patológicas, como na hipertensão arterial e indiretamente na diabetes mellitus, ocorre um desequilíbrio entre os fatores e uma consequente diminuição dos efeitos de vasodilatação endotelial, levando a um processo denominado disfunção endotelial que pode resultar no desenvolvimento de placas de ateroma (SIMÕES; SCHMIDT, 1996; CARVALHO et al., 2001; PICCINATO; CHERRI; MORIYA, 2001). O diabetes mellitus é um importante fator de risco para o desenvolvimento da doença aterosclerótica independentemente do nível glicêmico observado (PICCINATO; CHERRI; MORIYA, 2001). É uma das principais síndromes de evolução crônica, sendo 10 que mais da metade da população brasileira com a doença possui risco de desenvolver complicações vasculares, renais, cardíacas, oftalmológicas, neurológicas e infecciosas (GU; COWIE; HARRIS, 1998; GROENEVELD et al., 1999; BELFORT; OLIVEIRA, 2001). A prevalência do diabetes mellitus para todos os grupos etários foi estimada em cerca de 2,8% da população mundial no ano 2000, com valor estimado de 4,4% da população mundial em 2030, de acordo com as previsões da OMS (WILD et al., 2004; ROGLIC et al.,2005; COSTA, 2009). Diversos estudos sugerem existir maior mortalidade, menor sobrevida e expectativa de vida na população diabética em relação à não-diabética. As causas deste aumento da mortalidade não são totalmente conhecidas, mas parecem estar em parte relacionadas às suas complicações cardiovasculares e à sua associação com outras morbidades como hipertensão arterial, dislipidemia e obesidade (GU; COWIE; HARRIS, 1998; GROENEVELD et al., 1999; BELFORT; OLIVEIRA, 2001). A hipertensão é muito frequente em pacientes obesos diabéticos tipo 2, estando presente mesmo na ausência de lesões renais (ZANELLA et al., 1992). A hiperinsulinemia pode levar à hipertensão e a alterações no perfil lipídico, predispondo à formação de placas de ateroma e à aterosclerose vascular. A elevação da insulina plasmática pode elevar a pressão arterial por diversos mecanismos, incluindo ativação do sistema nervoso simpático e retenção de sódio (LANDSBERG, 1992; NOSADINI et al., 1993). A hiperglicemia induz a um grande número de alterações nos tecidos vasculares que potencialmente promovem a aterosclerose, caracterizada pela formação de placas de ateroma, podendo ocorrer em ambas as formas de diabetes - tipo 1 e tipo 2 (ARONSON; RAYFIELD, 2002; AIR et al., 2007; COSTA, 2009). Nessa síndrome metabólica, a camada íntima da artéria é significativamente mais espessa do que em indivíduos saudáveis não-diabéticos, acreditando-se numa associação com o desenvolvimento de quadros hipertensivos. Os pacientes com diabetes tipo 2 tem maior média da espessura da camada íntima da carótida e estão em risco de aterosclerose generalizada, o que pôde ser observado em estudo realizado porAl-Nimer e colaboradores (2009). Esse aumento de espessura é frequentemente associado ao desenvolvimento de acidentes vasculares cerebrais. Embora a pressão arterial seja o fator mais importante para o aumento na espessura da camada intima da artéria carótida, maiores espessuras foram observadas em pacientes diabéticos do que nos pacientes livres da síndrome metabólica, mesmo na ausência de hipertensão arterial. 11 Novos estudos prospectivos são recomendados para demonstrar a regressão dessa camada arterial com o controle glicêmico dos pacientes diabéticos (AL-NIMER; HUSSEIN, 2009). Estudos investigaram a associação entre o uso de medicações para o controle da diabetes, como a Pioglitazona e a Metformina utilizadas no tratamento da diabetes mellitus tipo 2, e o desenvolvimento de aterosclerose, observando-se ausência de associação com a utilização da Pioglizona, enquanto o aumento na extensão da placa foi observado no grupo de pacientes tratados com a Metformina (KANAZAWA et al., 2010). Outro estudo realizado por Uurtuya e colaboradores (2010), verificou uma associação entre hipertensão e diabetes mellitus, com o desenvolvimento de placas aterosclerosas e consequentemente doenças cardiovasculares (UURTUYA et al., 2010). As doenças cardiovasculares são um grave problema de saúde pública, apresentando elevados índices de morbidade e mortalidade. Segundo registros do Ministério da Saúde, a mortalidade proporcional devido a doenças do aparelho circulatório é de 32,3%, liderando as causas de óbito no Brasil (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1999). Nos Estados Unidos há uma alta incidência de mortes por doenças vasculares, sendo que 12,6 milhões de indivíduos vivem com o diagnóstico de doença arterial coronariana e 4,6 milhões sofrem os efeitos de um acidente vascular cerebral. Na gênese de ambos os transtornos está a formação das placas ateroscleróticas bloqueando parcialmente ou completamente o fluxo sanguíneo para os tecidos distais a obstrução. Apesar da enorme evolução da cardiologia nas últimas décadas, com o crescente conhecimento da fisiologia da aterosclerose, com ênfase na placa do ateroma e suas complicações, o lançamento de novas drogas no arsenal terapêutico (ZANCHETTI, 1997; SAITO et al., 2002), o advento da biologia molecular, a engenharia genética, até o momento não se conseguiu minimizar de forma satisfatória as consequências da doença arterial coronariana (SAITO et al., 2002). Embora a patogênese da placa de ateroma esteja consolidada e não apresente grandes controvérsias, a participação dos agentes etiológicos tem sido tema de inúmeras investigações científicas. Associações são observadas entre a hipertensão arterial e o diabetes mellitus com a formação de placas ateromatosas, porém resultados divergentes observados na literatura ressaltam a necessidade de novas pesquisas. Uma vez reconhecida essa associação, é importante a manutenção do controle da pressão arterial e dos níveis 12 glicêmicos, diminuindo assim os riscos de danos às artérias que podem ocasionar doenças severas, incluindo as cardiovasculares como o AVC. 2. Descrever como ocorre a formação do trombo arterial, quais os seus componentes e os seus fatores predisponentes. Na trombose arterial, as plaquetas e as anormalidades da parede do vaso desempenham um papel essencial na oclusão vascular. O trombo arterial forma-se por meio de uma série de etapas sequenciais, nas quais as plaquetas aderem à parede do vaso, plaquetas adicionais são recrutadas, e a trombina é ativada (Fig. 142.1). FIGURA 142.1 Ativação das plaquetas e trombose. As plaquetas circulam em uma forma inativa na rede vascular. Lesão do endotélio e/ou estímulos externos ativam as plaquetas, que aderem ao fator de von Willebrand e ao colágeno subendoteliais expostos. Essa adesão leva à ativação da plaqueta, alteração de sua forma e síntese e liberação de tromboxano (TxA2), serotonina (5-HT) e difosfato de adenosina (ADP, de adenosine diphosphate). Os estímulos plaquetários causam uma mudança na conformação do receptor de integrina glicoproteína (GP) IIb/IIIa das plaquetas, resultando em ligação de alta afinidade do fibrinogênio e formação de um trombo plaquetário estável. Adesão plaquetária 13 A formação de um trombo é iniciada pela adesão das plaquetas à parede do vaso lesionado. A lesão expõe componentes subendoteliais responsáveis por deflagrar a reatividade das plaquetas, incluindo colágeno, fator de von Willebrand, fibronectina e outras proteínas de adesão, como a vitronectina e a trombospondina. A resposta hemostática pode variar, dependendo da extensão da lesão, das proteínas específicas expostas e das condições de fluxo. Certas proteínas são expressas na superfície da plaqueta, que subsequentemente regulam a adesão plaquetária induzida pelo colágeno, em particular em condições de fluxo, e incluem a glicoproteína (GP) IV, a GPVI e a integrina α2β1. O receptor de adesão do complexo GPIb-IX-V da plaqueta é fundamental tanto para a adesão plaquetária quanto para a iniciação da ativação das plaquetas. A lesão da parede do vaso sanguíneo expõe o fator de von Willebrand e o colágeno subendoteliais ao sangue circulante. O complexo GPIb-IX-V liga-se ao fator de von Willebrand exposto, causando a aderência das plaquetas (Fig. 142.1). Além disso, a associação do complexo GPIb-IX-V ao ligante induz vias de sinalização que levam à ativação das plaquetas. O complexo GPIb- IX-V ligado ao fator de von Willebrand promove uma mudança de conformação dependente de cálcio no receptor GPIIb/IIIa, que passa de um estado inativo de baixa afinidade para um estado ativo de alta afinidade como receptor para o fibrinogênio. Ativação das plaquetas A ativação das plaquetas é controlada por uma variedade de receptores de superfície, que regulam diversas funções no processo de ativação. Os receptores plaquetários controlam muitos processos distintos e são estimulados por uma ampla variedade de agonistas e proteínas de adesão, resultando em graus variáveis de ativação. A estimulação dos receptores plaquetários deflagra: (1) a ativação de vias de sinalização internas, que levam a uma maior ativação das plaquetas e à liberação dos grânulos, e (2) a capacidade de ligação da plaqueta a outras proteínas de adesão/plaquetas. Ambos os processos contribuem para a formação de um trombo. A estimulação de receptores não trombóticos resulta em adesão ou interação das plaquetas com outras células vasculares, incluindo células endoteliais, neutrófilos e células mononucleares. São encontradas muitas famílias e subfamílias de receptores nas plaquetas, que regulam uma variedade de funções plaquetárias. Entre elas, destaca-se a família de receptores transmembrana heptaélicos, a qual constitui a principal família de receptores estimulados por agonistas. Vários receptores transmembrana heptaélicos são encontrados nas plaquetas, incluindo receptores de ADP, receptores de prostaglandinas, receptores de lipídeos e receptores de quimiocinas. 14 Os receptores para trombina compreendem os principais receptores transmembrana heptaélicos encontrados nas plaquetas. Entre este último grupo, o primeiro a ser identificado foi o receptor ativado por protease 1 (PAR1, de protease activation receptor 1). A classe de receptores PAR possui um mecanismo distinto de ativação, que envolve a clivagem específica da extremidade N-terminal da trombina, que, por sua vez, atua como ligante do receptor. Outros receptores PAR estão presentes nas plaquetas, incluindo o PAR2 (não ativado pela trombina) e o PAR4. Os receptores de adenosina são responsáveis pela transdução de eventos de sinalização induzidos por ADP, que são iniciados pela ligação do ADP a receptores purinérgicos na superfície das plaquetas. Existem vários receptores de ADP distintos, classificados como P2X1, P2Y1 e P2Y12. A ativação de ambos os receptores P2Y12e P2Y1 é essencial para a agregação plaquetária induzida pelo ADP. O clopidogrel e o prasugrel, que são derivados tienopiridínicos, são inibidores clinicamente utilizados da agregação plaquetária induzida pelo ADP. Agregação plaquetária A ativação das plaquetas resulta em uma rápida série de eventos de transdução de sinais, incluindo a ativação da tirosina-quinase, da serina/treonina-quinase e da lipídeo- quinase. Nas plaquetas não estimuladas, a principal integrina plaquetária, GPIIb/IIIa, é mantida em uma conformação inativa e atua como receptor de adesão de baixa afinidade para o fibrinogênio. Essa integrina é singular, visto que ela apenas é expressa nas plaquetas. Após estimulação, a interação entre o fibrinogênio e a GPIIb/IIIa forma conexões intercelulares entre as plaquetas, resultando na formação de um agregado plaquetário (Fig. 142.1). Uma alteração da conformação sensível ao cálcio no domínio extracelular da GPIIb/IIIa possibilita a ligação de alta afinidade do fibrinogênio plasmático solúvel em consequência de uma complexa rede de eventos de sinalização de dentro para fora. O receptor de GPIIb/IIIa atua como canal bidirecional, com ocorrência de sinalização (de fora para dentro) mediada por GPIIb/IIIa imediatamente após a ligação do fibrinogênio. Isso leva a uma sinalização intracelular adicional, que estabiliza ainda mais o agregado plaquetário e transforma o processo reversível da agregação plaquetária em um processo irreversível (de dentro para fora). As anormalidades básicas que levam à trombose são (1) lesões endoteliais, (2) estase ou fluxo sanguíneo turbulento e (3) hipercoagulabilidade do sangue (conhecidas como tríade de Virchow) (Fig. 4-12). 15 Se um paciente sobrevive à trombose inicial, nos dias e semanas subsequentes os trombos sofrerão combinações dos quatros eventos seguintes: • Propagação. Os trombos acumulam plaquetas e fibrinas adicionais • Embolização. O trombo se desaloja e viaja para outros locais da rede vascular • Dissolução. A dissolução é o resultado da fibrinólise, que pode resultar em rápida diminuição e total desaparecimento de trombos recentes. Em contrapartida, nos trombos mais antigos, a extensa deposição e polimerização da fibrina os tornam mais resistentes à lise. • Organização e recanalização. Os trombos antigos tornam-se organizados pela proliferação de células endoteliais, células musculares lisas e fibroblastos, sobre e para dentro do trombo. Ocasionalmente, há formação dos canais capilares que tentam restabeler, embora não completamente, a continuidade da luz original do vaso. A recanalização, com o tempo, transforma o trombo em uma massa de tecido conjuntivo que se incorpora à parede vascular. Finalmente, com a remodelação e a contração dos elementos mesenquimais, apenas uma massa fibrosa pode permanecer, marcando o local original do trombo. Fatores predisponentes: idade, imobilização, neoplasia, quimioterapia, doença cardiovascular, trombose previa, obesidade, aterosclerose, gestação, uso de 16 anticoncepcionais, politrauma, fatores hematológicos, doença inflamatória intestinal, AVC, IAM. Existem algumas situações clínicas que favorecem a formação de trombos: − Placas ateroscleróticas ulceradas ➢ Turbulência ➢ Exposição da matriz extra- celular (MEC); − Aneurismas ➢ Dilata ções anormais que criam estase local ➢ Formação de trombos; − Infarto agudo do miocárdio ➢ Estase local devido a foco de miocárdio não contrátil; − Estenose da válvula mitral com refluxo (ex: febre reumática) ➢ A dilatação do átrio esquerdo propicia estase acentuada; − Síndrome de hiperviscosidade (ex: policitemia vera) ➢ Estase nos vasos de menor calibre pelo aumento no número de hemácias; − Anemia falciforme ➢ As hemácias defeituosas causam obstrução vascular e estase sanguínea. Consequências Clínicas. Os trombos são significativos, pois eles provocam a obstrução de artérias e veias e são fontes de êmbolos. O efeito predominante depende do local que ocorre a trombose. Os trombos venosos podem causar congestão venosa e edema em leitos vasculares distais a uma obstrução, mas eles são muito mais importantes pela sua capacidade de embolizar-se nos pulmões e levar ao óbito. De forma inversa, apesar de os trombos arteriais embolizarem-se e causarem infartos, uma oclusão trombótica em um local crítico (p. ex., uma artéria coronária) pode apresentar consequências clínicas mais importantes. 3. Explicar fisiopatologicamente as alterações clínicas do caso apresentado. 17 Definição A dissecção da aorta é um evento patológico agudo, caracterizado pela delaminação da camada média, a partir de uma ruptura da íntima, e criação de um falso lúmen por onde o sangue corre paralelamente ao lúmen verdadeiro por extensão variada. A ruptura da camada íntima ocorre principalmente nos pontos de fixação do vaso onde a tensão superficial é maior, isto é, na junção sinotubular e no istmo da aorta. São fatores de risco conhecidos: • Insuficiência cardíaca: acometimento da raiz da aorta com insuficiência aórtica aguda; • IAM: habitualmente, com comprometimento do óstio da artéria coronária direita pela dissecção (2-3% das dissecções proximais); • AVC: acometimento de tronco braquiocefálico ou artéria carótida comum esquerda (até 7% dos aneurismas de aorta torácica); • Paraplegia: por isquemia medular secundária à dissecção (1-3%); • Dor abdominal: por isquemia mesentérica (1-2%); • Hematúria, insuficiência renal/infarto renal: por acometimento de artéria renal (4-8%); • Isquemia aguda de membros inferiores (15%); • Tamponamento cardíaco: resultante de ruptura da aorta e sangramento para dentro do pericárdio; • Sincope: decorrente de reação vaso vagal à dor, tamponamento cardíaco, obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo pela falsa luz ou hipovolemia, nos casos de sangramento para tórax (derrame pleural esquerdo) ou retroperitônio. Classificações O tempo de início do evento da dissecção determina sua classificação em aguda ou crônica. Quando o início do evento ocorre em menos de 2 semanas, define-se como dissecção aguda, e processos mais tardios, como dissecção crônica (mais que 14 dias). Classificações levando em consideração o segmento da aorta acometido também foram propostas. A primeira foi proposta por DeBakey et al. A dissecção é do tipo I quando houver acometimento da aorta ascendente com a delaminação estendendo-se pelo arco aórtico e aorta descendente por extensões variadas. Será do tipo II quando a delaminação se restringir à aorta ascendente, e do tipo III quando a delaminação se 18 estender a partir da artéria subclávia esquerda em direção ao diafragma (IIIa) ou até o abdome (IIIb). Outra conhecida classificação foi descrita por Daily et al. que definem como Stanford tipo A quando ocorrer o comprometimento da aorta ascendente e Stanford tipo B quando o acometimento for a partir da artéria subclávia esquerda. Quando a delaminação acometer o arco aórtico, sem o comprometimento da aorta ascendente, classifica-se como Stanford tipo B, diferentemente do que se fazia anteriormente. A dissecção aórtica é dividida segunda DeBakey em três tipos: • tipo I: com origem na aorta ascendente, estendendo-se pelo menos até o arco aórtico e à aorta descendente; • tipo II: quando se restringe à aorta ascendente; • tipo III: quando se restringe à aorta descendente. A classificação de Stanford divide as dissecções em tipo A, quando há acometimento da aorta ascendente; e, tipo B, quando acomete a aorta descendente. Fisiopatologia A doença da média da aorta, com a degeneração do colágeno e da elastina medial, representa o fator predisponente mais comum para a dissecção aórtica. Pacientes com síndrome de Marfan têm uma clássica degeneração cística da média e estão sob risco particularmente alto de dissecção aórtica em uma idade relativamentejovem. A dissecção aórtica classicamente começa com qualquer ruptura na íntima da aorta, expondo, desta forma, a camada média doente à pressão sistêmica do sangue dentro do vaso, ou com o hematoma intramural e ruptura subsequente da íntima sobrejacente. Este hematoma pode propagar-se longitudinalmente ao longo de um comprimento variável da aorta. Se a camada intima permanecer intacta, o hematoma não se comunicará com o lúmen aórtico; entretanto, se a comunicação aberta ocorrer, o resultado é igual à da dissecção que começa com a ruptura intima. A divisão da camada média em dois leitos longitudinais constitui um falso lúmen dentro da parede aórtica. Este falso lúmen se propaga distalmente (ou muitas vezes retrogradamente) em uma distância variável ao longo da aorta desde o local de ruptura da íntima. A dissecção aórtica está muito relacionada a uma tríade de condições: patologias da parede da aorta, hipertensão arterial sistêmica e lesão intima. A hipertensão arterial é o fator mais comum, estando presente em até 80% dos pacientes. Doenças que afetam a parede da aorta muitas vezes estão relacionadas à DA. Como exemplos podemos citar a 19 síndrome de Marfan (mutação no cromossomo 15, que regula a síntese de fibrilina, essencial para estabilidade da parede aórtica), síndrome de Ehlers-Danos, síndrome de Turner. Outras condições são a presença de aneurisma de aorta prévio, ectasia anuloaórtica, arterites, valva aórtica bicúspide, terceiro trimestre da gestação, trauma, cirurgia cardíaca prévia, uso da droga conhecida como crack. A dissecção geralmente é iniciada por uma lesão por meio da qual o sangue delamina suas camadas, preferencialmente em sentido anterógrado, ocorrendo nos pontos onde há maior energia cinética, sendo mais comum na convexidade da aorta ascendente, logo acima das comissuras da valva aórtica e na aorta descendente após a origem da artéria subclávia esquerda. Ao longo da dissecção, poderá ocorrer obstrução da emergência de vasos, que pode determinar isquemia nos territórios correspondentes. A pressão na falsa luz e parede aórtica enfraquecida podem causar ruptura livre ou para o pericárdio, sendo esse o principal mecanismo de morte. 4. Explicar a gênese de distúrbios homeostáticos relacionados a placas de ateroma. As placas ateromatosas são lesões elevadas compostas por centro mole e grumoso de lipídios (principalmente colesterol e ésteres de colesterol, com restos necróticos), recobertas por uma cápsula fibrosa. As placas ateroscleróticas podem obstruir mecanicamente o lúmen vascular e se romper, evoluindo para trombose catastrófica dos vasos. Essas também enfraquecem a média subjacente e levam à formação de aneurisma. Historicamente, houve duas teorias dominantes relacionadas com a aterogênese; uma enfatiza a proliferação celular da íntima em resposta à injúria endotelial e a outra a formação e organização repetida dos trombos. No entanto, a visão contemporânea da aterogênese adota elementos de ambas as teorias e também integra os fatores de risco. Denominada hipótese da resposta à lesão, o modelo considera a aterosclerose como uma resposta inflamatória crônica da parede arterial à lesão endotelial. A progressão da lesão envolve a interação de lipoproteínas modificadas, macrófagos, macrófagos derivados de monócitos, linfócitos T e constituintes celulares da parede arterial. De acordo com esse modelo, a aterosclerose é produzida pelos seguintes eventos patogênicos: 20 • Lesão endotelial — e consequente disfunção endotelial causando aumento da permeabilidade, adesão leucocitária e trombose; • Acúmulo de lipoproteínas (principalmente LDL oxidada e cristais de colesterol na parede dos vasos) • Adesão plaquetária ; • Adesão de monócitos ao endotélio, migração para a íntima e diferenciação em macrófagos e células espumosas; • Acúmulo de lipídios no interior dos macrófagos, com liberação de citocinas inflamatórias; • Recrutamento de células musculares lisas devido aos fatores liberados pela ativação de plaquetas, macrófagos e células da parede vascular; • Proliferação de células musculares lisas e produção de MEC. Lesão Endotelial. A lesão de células endoteliais é o pilar da hipótese da resposta à lesão. A perda endotelial decorrente de qualquer tipo de lesão — induzida experimentalmente por desnudamento mecânico, forças hemodinâmicas, deposição de imunocomplexos, irradiação ou produtos químicos — promove o espessamento da íntima; na presença de dietas ricas em lipídios, resulta na formação de ateromas típicos. No entanto, as lesões ateroscleróticas iniciais na espécie humana começam em locais intactos, mas com disjunção endotelial. A disjunção das células endoteliais apresenta aumento da permeabilidade e da adesão plaquetária, e alteração na expressão genética, sendo todos esses fatores contribuintes para o desenvolvimento da aterosclerose. Acredita-se que estímulos desencadeadores das lesões ateromatosas iniciais incluam hipertensão, hiperlipidemia, toxinas da fumaça do cigarro, homocisteínas e até mesmo agentes infecciosos. As citocinas inflamatórias (p. ex., fator de necrose tumoral [TNF]) também podem estimular a expressão gênica dos padrões proaterogênicos nas células endoteliais. Entretanto, as duas causas mais importantes de disjunção endotelial são os distúrbios hemodinâmicos e a hipercolesterolemia. Desequilíbrio Hemodinâmico. A importância dos fatores hemodinâmicos na aterogênese é ilustrada pela observação de que as placas tendem a ocorrer nos óstios de saída dos vasos, nos pontos de 21 ramificações e ao longo da parede posterior da aorta abdominal, onde há fluxo sanguíneo turbulento. Estudos in vitro demonstraram, ainda, que o fluxo laminar não turbulento resulta na indução de genes endoteliais que produzem fatores protetores contra a aterosclerose. Tais genes “ateroprotetores” poderiam explicar a localização não aleatória das lesões inicias da aterosclerose. Lipídios. Os lipídios são tipicamente transportados na corrente sanguínea ligados a apoproteínas específicas (formando complexos de lipoproteína). As dislipoproteinemias podem se originar de mutações genéticas que codificam as apoproteínas ou os receptores de lipoproteínas, ou outras doenças que provocam danos no metabolismo lipídico, por exemplo, síndrome nefrótica, alcoolismo, hipotireoidismo ou diabetes melito. As anormalidades das lipoproteínas são comuns na população em geral e incluem: (1) aumento dos níveis de colesterol LDL, (2) diminuição dos níveis de colesterol HDL e (3) elevação dos níveis de lipoproteína (a). Inflamação. A inflamação contribui para iniciação, progressão e complicação das lesões ateroscleróticas. Os vasos em condições normais não se ligam às células inflamatórias. No estágio da aterogênese, no entanto, as células endoteliais disfuncionais expressam moléculas de adesão que promovem adesão leucocitária; a molécula de adesão de célula vascular I (VCAM-1), em particular, liga-se a monócitos e linfócitos T. Após a adesão no endotélio, os leucócitos migram para dentro da íntima sob a influência de quimiocinas produzidas localmente. • Os monócitos diferenciam-se em macrófagos e englobam avidamente as lipoproteínas, inclusive a LDL oxidada e pequenos cristais de colesterol. Os cristais de colesterol parecem ser importantes estimuladores da inflamação através da ativação do inflamassoma e subsequente liberação de IL-1. Macrófagos ativados também produzem es- pécies tóxicas de oxigênio que levam à oxidação da LDL e à síntese de fatores de crescimento que estimulam a atividade proliferativa das células musculares lisas. • Os linfócitos T são recrutados para a íntima e interagem com macrófagos, contribuindo para o estado de inflamação crônica. Entretanto, não está claro se as células T respondem a antígenos específicos (p. ex., antígenos virais ou bacterianos,proteínas de choque térmico [adiante] ou constituintes da parede arterial e lipoproteínas modificadas) 22 ou se são inespecificamente ativados pelo ambiente inflamatório local. Todavia, as células T ativadas em lesões crescentes na íntima produzem citocinas inflamatórias (p. ex., INF-a), que podem estimular macrófagos, células endoteliais e musculares lisas. • Como consequência do quadro inflamatório crônico, os leucócitos ativados e a liberação de fatores de crescimento pelas células da parede vascular promovem a proliferação das células do músculo liso e a síntese de MEC. Infecção. Existem evidências de associação de infecções com aterosclerose. O herpesvírus, o citomegalovírus e a Chlamydia pneumoniae têm sido detectados em placas ateroscleróticas, e estudos soroepidemiológicos mostraram aumento dos títulos de anticorpos para Chlamydia pneumoniae em pacientes com aterosclerose mais intensa. As infecções por esses organismos, no entanto, são extremamente comuns (como a aterosclerose), tornando-se difícil tirar conclusões sobre a causalidade. É importante destacar que a aterosclerose pode ser induzida em camundongos livres de germes, indicando que a infecção não é um fator etiológico obrigatório para o desenvolvimento da doença. Proliferação das Células do Músculo Liso e Síntese de Matriz. A proliferação de células do músculo liso da íntima e a deposição de MEC convertem a lesão inicial, ou seja, as estrias gordurosas, em ateroma maduro, contribuindo para o crescimento progressivo das lesões ateroscleróticas. Células do músculo liso da íntima podem se originar da média ou de precursores circulantes; entretanto, independentemente de sua origem, possuem fenótipo proliferativo e sintético distinto daquelas subjacentes às células musculares lisas da média. Diversos fatores de crescimento estão envolvidos na proliferação de células musculares lisas e na síntese de MEC, incluindo fator de crescimento derivado de plaquetas (liberado por plaquetas localmente aderentes, macrófagos, células endoteliais e células musculares lisas), fator de crescimento fibroblástico e TGF-a. As células musculares lisas recrutadas sintetizam MEC (principal- mente o colágeno), que estabilizam as placas ateroscleróticas. No entanto, células inflamatórias ativadas nos ateromas também podem causar apoptose das células musculares lisas da íntima e desintegrar a matriz, formando placas instáveis. 23 5. Diferenciar trombo e êmbolo. Trombo: É uma massa sólida formada pela coagulação (rica em plaquetas) do sangue. Portanto, coágulo anormal que se desenvolve no interior do vaso sanguíneo. Os trombos podem desenvolver-se em qualquer parte do sistema cardiovascular (câmaras cardíacas, válvulas, artérias, veias ou capilares). O tamanho e a forma dos trombos dependem do 24 local de origem e da sua causa. A parte propagadora de um trombo está frequentemente pouco fixada e, portanto propensa a fragmentação e embolização. Os trombos arteriais são frequentemente oclusivos. As localizações mais comuns, em ordem decrescente de frequência, são as artérias coronárias, cerebrais e femorais. Eles normalmente consistem em uma malha friável de plaquetas, fibrina, glóbulos vermelhos e leucócitos degenerados. Embora os trombos sejam, em geral, sobrepostos em uma placa aterosclerótica rompida, outras lesões vasculares (vasculite e trauma) podem ser a causa de base. Tem início em locais de turbulência ou lesão endotelial, sendo que vão em sentido retrógrado em relação a circulação. A trombose venosa (flebotrombose) é quase invariavelmente oclusiva, com o trombo formando um longo trajeto no lúmen. Como esses trombos formam-se na circulação venosa lenta, eles tendem a conter mais eritrócitos (e relativamente poucas plaquetas) e, portanto, são conhecidos como trombos vermelhos ou de estase. Tem início em locais de estase, sendo que vão em sentido do fluxo sanguíneo. Trombos vermelhos ou de coagulação ou de estase: ricos em hemácias, mais frequentes em veias (flebotrombose). Trombos brancos ou de conglutinação: constituídos basicamente de plaquetas e fibrina, estão geralmente associados às alterações endoteliais, sendo mais frequentes em artérias. Trombos hialinos: constituídos principalmente de fibrina, estão geralmente associados ás alterações na composição sanguínea, sendo mais frequentes em capilares. Trombos mistos: são os mais comuns. Formados por estratificações fibrinosas (brancas), alternadas com partes cruóricas (vermelhas). São alongados e apresentam 3 partes: -Cabeça: trombo branco, pequeno, fixado no endotélio; -Colo: porção estreita intermediária, na qual se configuram as linhas de zahn, resultantes da alternância de zonas brancas e avermelhadas; -Cauda: trombo vermelho. Destino do trombo: 25 Se um paciente sobrevive à trombose inicial, nos dias a semanas posteriores, os trombos são submetidos a alguma combinação dos quatro eventos seguintes: -Propagação: os trombos acumulam plaquetas e fibrinas adicionais; -Embolização: os trombos desalojam-se e percorrem outros locais; -Dissolução: a dissolução é o resultado da fibrinólise, que pode conduzir a uma rápida diminuição e desaparecimento total dos trombos recentes; -Organização e recanalização: os trombos mais velhos tornam-se organizados pela entrada de células endoteliais, células do músculo liso e fibroblastos. Ocasionalmente, há formação dos canais capilares que reestabelecem, embora em grau variável, a continuidade do lúmen. Êmbolo: É uma massa intravascular solta, sólida, líquida ou gasosa, que é transportada pelo sangue para um local distante do seu ponto de origem. Quase todos os êmbolos representam uma parte de um trombo desalojado, por isso o termo tromboembolismo é frequentemente utilizado. As formas raras de êmbolos incluem as gotículas de gordura, as bolhas de nitrogênio, os detritos ateroscleróticos (êmbolos de colesterol), os fragmentos de tumor, os fragmentos da medula óssea ou até mesmo corpos estranhos. Contudo, a menos que especificados de outra forma, os êmbolos devem ser considerados de origem trombótica. De maneira inevitável, os êmbolos se alojam em vasos muito pequenos para permitir uma passagem adicional, causando oclusão parcial ou total. Uma consequência importante é a necrose isquêmica (infarto) do tecido distal. Dependendo de onde são originados, os êmbolos podem se alojar em qualquer parte da estrutura vascular e os resultados clínicos são mais bem compreendidos com base em se o êmbolo se aloja na circulação pulmonar ou sistêmica. De forma simplificada, o coágulo no sítio de formação (vasos ou cavidades cardíacas) é chamado de trombo, já o coágulo que se desprende do seu ponto de fixação e é arrastado pela corrente sanguínea é chamado de êmbolo. 26 6. Caracterizar a importância e a indicação da realização da necropsia médico legal nos casos semelhantes ao paciente apresentado. Existem três indicações clássicas previstas em lei para a necropsia no IML: morte violenta (por acidente de trânsito ou de trabalho, homicídio, suicídio etc.); morte suspeita ou morte natural de pessoa não identificada. A Tanatologia Forense é o ramo das ciências forenses que partindo do exame do local, da informação acerca das circunstâncias da morte, e atendendo aos dados do exame necrópsico, procura estabelecer: - A identificação do cadáver - O mecanismo da morte - A causa da morte - O diagnóstico diferencial médico-legal (acidente, suicídio, homicídio ou morte de causa natural). À Tanatologia Forense interessa desde logo o exame do local, as circunstâncias que rodearam a morte, interessa também uma informação clínica mais detalhada possível com referência ao resultado de exames complementares, interessa o estudo minucioso do cadáver e os exames complementares que se entendam realizar no decurso da autópsia, por forma a poderseelaborar um relatório que será enviado à autoridade judicial que requisitou a autópsia. A autópsia anatomo-clínica tem objetivos diferentes da autópsia médico-legal. Nestes casos, o cadáver tem uma causa de morte natural, há um diagnóstico clinico provável ou certo que carece de um melhor esclarecimento durante a autópsia. A autópsia anatomo-clínica nunca pode ser realizada em casos de morte violenta ou de suspeita de morte violenta. De modo diferente do que ocorre na autópsia médico-legal, nas autópsias clínicas é obrigação do médico que tratava o indivíduo que, entretanto, faleceu, abordar a família ou o seu representante legal e depois de explicar os objetivos da autópsia anatomo- clínica, pedir autorização para a sua realização. Se possível essa autorização deverá ser escrita e ficar junto ao processo clínico. Essas autópsias decorrem nos serviços de anatomia patológica dos hospitais. A morte indeterminada que se reveste de interesse médico-legal é a morte que pelas circunstâncias em que ocorre pode levantar suspeita de ter havido a atuação de um agente externo. Todas as outras situações que não verifiquem estes pressupostos não devem ser submetidas a autópsia médico-legal. 27 7. Compreender a importância do desenvolvimento de competências clínicas e educativas do médico, para pacientes com doenças crônicas não transmissíveis (DCNT/OMS), especialmente as cardiovasculares, objetivando a redução da morbidade e da mortalidade das mesmas. As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) caracterizam-se por ter uma etiologia múltipla, muitos fatores de risco, longos períodos de latência, curso prolongado, origem não infecciosa e também por associarem-se a deficiências e incapacidades funcionais. Sua ocorrência é muito influenciada pelas condições de vida, pelas desigualdades sociais, não sendo resultado apenas dos estilos de vida. As DCNT requerem ainda uma abordagem sistemática para o tratamento, exigindo novas estratégias dos serviços de saúde. A vigilância de DCNT é uma ação de grande relevância em saúde pública, pois é uma ferramenta que possibilita conhecer a distribuição, a magnitude e a tendência dessas doenças e de seus fatores de risco na população e identificar seus condicionantes sociais, econômicos e ambientais, com o objetivo de subsidiar o planejamento, a execução e a avaliação da prevenção e do controle. Portanto, o médico deve saber abordar essas patologias incentivando não só o tratamento farmacológico, mas também a mudança de estilo de vida do paciente. 28 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesse relatório foram discutidos vários assuntos a cerca de hipertensão arterial, diabetes mellitus e dislipidemias, suas complicações, trombos e êmbolos. Podemos ver a importância da adequação do tratamento e também sobre a necessidade de um atendimento prioritário e mais rápido nesses quesitos. 29 REFERÊNCIAS [1]AIR, E.L.; KISSELA, B.M. Diabetes, the metabolic syndrome, and ischemic stroke: epidemiology and possible mechanisms. Diabetes care, v.30, n.12, p.3131-3140, 2007. [2]AL-NIMER, M.S.; HUSSEIN, I.I. Increased mean carotid intima media thickness in type 2 diabetes mellitus patients with non-blood pressure component metabolic syndrome: A preliminary report. Int. J. Diabetes Dev. Ctries, v.29, n.1, p.19-22, 2009. [3]ARONSON, D.; RAYFIELD, E.J. How hyperglycemia promotes atherosclerosis: molecular mechanisms. Cardiovasc. Diabetol., v.1, n.1, 2002. [4] KUMAR, V.; ABBAS, A.; FAUSTO, N. Robbins e Cotran – Patologia – Bases Patológicas das Doenças. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010; [5]DIAS, Ricardo Ribeiro. Doenças da Aorta Torácica. Disponível em: http://www.sbccv.org.br/residentes/downloads/area_cientifica/doencas_aorta_toracica.pdf. Acesso em: 03 out. 2020. [6] C. Lopes. Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. MEDICINA LEGAL E TANATOLOGIA FORENSE, 2004 [7] KASPER, Dennis L.. Medicina interna de Harrison. 19 ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2017. 1 v, .
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