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Recusava-se a olhar para outras mulheres, até que, furiosas por terem sido desprezadas, um grupo de mu- lheres selvagens e frenéticas, chamadas Mênades, ataca-o atirando dardos. Os dardos de nada valiam contra a sua música, mas elas, abafando sua música com gritos, conseguiram atingi-lo e o mataram. Depois despe- daçaram seu corpo e jogaram sua cabeça cortada no rio Hebro, que flutuava cantando “Eurídice! Eurídice!”. As nove musas, Calíope e suas irmãs, reuniram seus pedaços e os enterraram no monte Olimpo, e desde então os rouxinóis cantaram mais docemente que os outros, pois assim Orfeu, na morte, se uniu à sua amada Eurídice. Às Mênades, que tão cruelmente mataram Orfeu, não foi concedida a misericórdia da morte. Quando elas bateram os pés na terra em triunfo, sentiram seus dedos entrarem no solo. Quanto mais tentavam tirá-los, mais profundamente eles se enraizavam, até que elas se transformaram em silenciosos carvalhos. E assim permaneceram pelos anos, batidas pelos ventos furiosos que antes se emocionavam ao som da lira de Orfeu. Disponível em: <http://eventosmitologiagrega.blogspot.com/search/label/Mito%3A%20Orfeu%20e%20Eur%C3%ADdice%20e%20a%20imprud%C3%AAncia >. Acesso em: 18 jun. 2019. Vinicius de Moraes – importante poeta, dramaturgo e compositor brasileiro – produziu, em 1954, uma peça teatral chamada Orfeu da Conceição, baseada no mito de Orfeu e Eurídice. A trilha sonora fez bastante sucesso e foi lançada posteriormente por uma importante gravadora da época, contando com melodias de Tom Jobim. Anos mais tarde, a peça inspirou o filme Orfeu Negro (1959), o qual ganhou importantes prêmios do cinema, como a Palma de Ouro no Festival de Cannes (1959) e o Oscar e o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro (ambos em 1960). Você consegue perceber o quanto essa história mitológica inspirou outras criações artísticas e atravessou países e épocas, permanecendo viva entre nós? GOTAS DE SABER 9 10 11 1 Vimos que a mitologia é uma ferramenta para entender a cultura de um povo. a) Diante da atividade exercida por Orfeu, que carac- terística dos gregos fica evidente? A valorização da arte, em especial a poesia e a música. b) Considerando a forma como Orfeu convenceu Caron- te e Hades, que ensinamento o mito nos oferece? O de que a arte tem a capacidade de comover até as criaturas mais rudes e insensíveis. 2 Partindo do princípio de que a mitologia é simbólica e, por isso, ajuda-nos a entender a natureza humana, o que significaria a atitude de Orfeu ao olhar para trás, se levarmos em conta que ele e Eurídice viveriam uma nova vida depois de voltarem do Mundo dos Mortos? O que aprendemos com isso? Significaria o apego ao passado. Esse mito ensina que sempre devemos seguir em frente, para o futuro, esquecendo o que já passou. 3 Se a mitologia é o agrupamento e o estudo dos mitos, o que a presença de tantos outros elementos mitológicos no mito de Orfeu e Eurídice nos revela em relação a um direcionamento para analisarmos os mitos? A quantidade de outros elementos mitológicos referidos nessa única história, a de Orfeu e Eurídice, aponta que os próprios mitos podem ser uma fonte de estudo e constituem uma linha de raciocínio bem produtiva. Portanto, conhecer as histórias e os seres mitológicos mencionados nesse e em outros mitos é pré-requisito para o total entendimento dessas narrativas. 166 PR O D UÇ Ã O D E T EX TO M Ó D UL O 2 PH_EF2_7ANO_PT_CAD1_160a170_MOD02_CA.indd 166 9/16/19 10:10 AM Texto 2 Eros e Psiquê, um amor acima das suspeitas Psiquê era a mais nova de três filhas de um rei e era extremamente bela. Sua beleza atraía muitos admiradores que lhe rendiam homenagens. Ofendida e enciumada, Afrodite enviou seu filho Eros para fazê-la apaixonar-se por alguém, assim todas as homenagens seriam apenas para ela. Porém, ao ver sua beleza, Eros apaixonou-se profundamente por Psiquê. O pai de Psiquê foi consultar o oráculo de Delfos, pois suas outras filhas haviam encontrado maridos e Psiquê permanecia sozinha. Manipulado por Eros, o oráculo aconselhou que Psiquê deveria ser deixada numa solitária montanha onde seria desposada por um terrível monstro. A jovem, aterrorizada, foi levada ao pé do monte e abandonada por seus pesarosos parentes e amigos. Conformada com seu destino, Psiquê foi tomada por um profundo sono e conduzida pela brisa gentil de Zéfiro a um lindo vale. Quando acordou, caminhou por um jardim até chegar a um magnífico castelo. Parecia que lá morava um deus, tal a perfeição em cada detalhe. Tomando coragem, entrou no deslum- brante palácio onde todos os seus desejos foram atendidos por ajudantes invisíveis. À noite Psiquê foi conduzida a um quarto escuro onde pensava que encontraria seu terrível esposo. Quando sentiu que alguém entrava no quarto, Psiquê tremeu de medo, mas logo uma voz acalmou-a e sentiu os carinhos de alguém. O amante misterioso embalou-a em seus braços. Quando Psiquê acordou, já havia amanhecido e seu misterioso amante havia desaparecido. Isso se repetiu por várias noites. As irmãs de Psiquê queriam saber seu destino, mas o amante misterioso alertou-a para não responder aos seus chamados. Porém Psiquê, sentindo-se solitária em seu castelo-prisão, implorou ao amante para deixá-la ver as irmãs. Finalmente ele atendeu ao pedido, mas impôs a condição de que, não importasse o que falassem as irmãs, ela nunca deveria tentar conhecer sua identidade; caso isso ocorresse, ela nunca mais o veria novamente. Psiquê estava grávida e ela deveria guardar segredo para que seu filho fosse um deus; porém, se ela revelasse a alguém, ele se tornaria um mortal. Quando suas irmãs entraram no castelo e viram tanta abundância de beleza e maravilhas, foram tomadas de inveja. Notando que o esposo de Psiquê nunca aparecia, perguntaram maliciosamente sobre sua identidade. Embora advertida por seu esposo, Psiquê viu a dúvida e a curiosidade tomarem conta de seu ser, aguçadas pelos comentários de suas irmãs. Ao receber novamente suas irmãs, Psiquê contou-lhes que estava grávida e que sua criança seria de origem divina. Suas irmãs ficaram ainda mais enciumadas com sua situação, pois, além de todas aquelas riquezas, ela era a esposa de um lindo deus. Assim, elas convenceram Psiquê a descobrir a identidade do esposo, pois, se ele estava escondendo seu rosto, poderia ser um horrível monstro. Assustada com o que haviam dito suas irmãs, Psiquê levou uma lamparina para o quarto, decidida a conhecer a identidade do marido. Esquecendo os avisos do seu amante, enquanto Eros descansava à noite a seu lado, Psiquê aproximou a lamparina para ver o seu rosto. Para sua surpresa, ela viu um jovem de extrema beleza e, admirada, não percebeu a inclinação da lamparina, que deixou uma gota de óleo quente cair sobre o ombro de Eros. Eros acordou assustado e voou pela janela do quarto dizendo: “Tola Psiquê, é assim que retribui meu amor? Depois de haver desobedecido às ordens de minha mãe e tornado-a minha esposa, tu me julgavas um monstro? Vá, volte para junto de suas irmãs, cujos conselhos preferiste ouvir. Não lhe imponho outro castigo, senão de deixá-la para sempre. O amor não pode conviver com a suspeita”. No mesmo instante, o castelo, as belezas e os jardins desapareceram. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 167 PR O D U« √ O D E T EX TO M ” D UL O 2 PH_EF2_7ANO_PT_CAD1_160a170_MOD02_CA.indd 167 9/16/19 10:10 AM Inconsolável, Psiquê passou a perambular pelos bosques tentando encontrar Eros novamente. As irmãs fingiram pesar, mas elas também pensavam em conquistar Eros. Mas o deus vento Zéfiro, as- sistindo àquele fingimento, as lançou em um despenhadeiro. Resolvida a reconquistar o amor de Eros, Psiquê chegou ao templo de Afrodite. Porém, a deusa impôs que ela cumprisse muitas tarefas antes de se encontrar com Eros. Primeiro ela deveria separar os milhares de grãos de trigo, cevada, feijões e lentilhas que estavammisturados, um serviço que iria demorar toda a vida para terminar. Psiquê ficou assustada diante de tanto trabalho, porém as formigas a ajudaram e ela finalizou rápido a tarefa. Na segunda tarefa, Afrodite pediu lã dourada dos ferozes carneiros. Psiquê foi até as margens de um rio onde carneiros de lã dourada pastavam e estava disposta a cruzar o rio, quando um junco ajudou-a e disse-lhe para esperar que os carneiros dormissem, assim não seria atacada por eles. Psiquê esperou, depois atravessou o rio e retirou a lã dourada. Na terceira tarefa, Afrodite pediu água que jorrava de uma fonte da montanha. Porém ali havia um dragão que guardava a fonte, mas ela foi ajudada por uma águia, que voou baixo próximo à fonte e encheu a jarra. Vendo que Psiquê conseguia completar as tarefas, Afrodite impôs que ela descesse ao mundo inferior e pedisse um pouco da beleza de Perséfone e a guardasse em uma caixa. Psiquê não sabia como entrar no mundo de Hades estando viva e pensou em atirar-se de uma torre. Mas a torre murmurou instruções, ensinou-lhe como driblar os diversos perigos da jornada, como passar pelo cão Cérbero, e deu-lhe uma moeda para pagar a Caronte pela travessia do rio Estige, advertindo-a: “Quando Perséfone lhe der a caixa com sua beleza, não olhe dentro da caixa, pois a beleza dos deuses não cabe aos olhos mortais”. 10 11 12 Junco: tipo de planta que habita lugares úmidos. Gloss‡rio 13 14 Seguindo as instruções, Psiquê conseguiu o precioso tesouro. Porém, tomada pela curiosidade, abriu a caixa para olhar. Ao invés de beleza havia apenas um sono terrível que dela se apossou. Eros voou ao socorro de Psiquê e conseguiu colocar o sono novamente na caixa, salvando-a. Lembrando-lhe que a extrema curiosidade pode ser fatal, Eros conseguiu que Afrodite concordasse com o seu casamento com Psiquê. Em pouco tempo, Eros e Psiquê tiveram um filho, Voluptas (Volúpia), que se tornou o deus do prazer. Disponível em: <http://eventosmitologiagrega.blogspot.com/ search/label/Mito%3A%20Eros%20e%20Psiqu%C3%AA%20um% 20amor%20acima%20das%20suspeitas>. Acesso em: 18 jun. 2019. 15 Psiquê reanimada pelo beijo do amor, de Antonio Canova, 1793. Nessa escultura, que se encontra no Museu do Louvre, em Paris, vemos Eros resgatando Psiquê. Já imaginou a sensação de estar diante dessa obra de arte compreendendo-a em detalhes devido ao conhecimento do mito por trás dela? p s e u d o lo n g in o /S h u tt e rs to ck ao conhecimento do mito por trás dela? p s e u d o lo n g in o /S h u tt e rs to ck 168 PR O D UÇ Ã O D E T EX TO M Ó D UL O 2 PH_EF2_7ANO_PT_CAD1_160a170_MOD02_CA.indd 168 9/16/19 10:10 AM 4 O culto à beleza é uma característica da sociedade grega muito explorada nos mitos. De que forma o mito de “Eros e Psiquê” exemplifica isso? O mito menciona Afrodite, a deusa da beleza e do amor, que se incomoda com a beleza humana, na figura de Psiquê, afrontando a sua própria imagem. Além disso, a jovem era tão bela que conquistou à primeira vista o deus da paixão, Eros. 5 Considere o conhecimento que temos de Cupido, nome romano de Eros, e responda: Como o deus, ordenado por Afrodite, poderia ter feito Psiquê se apaixonar por alguém? Que referências atuais remetem a esse fato? Ele poderia ter flechado Psiquê para que ela fosse tomada por uma paixão imediata e inexplicável por alguém. Hoje em dia, são comuns imagens de corações flechados, assim como frases e filmes que mencionam o “amor à primeira vista”, além de músicas que citam o Cupido flechando o eu lírico. 6 Os mitos lidos evidenciam o teor moralizante típico dessas histórias e a superioridade da vontade divina. a) “Orfeu e Eurídice” nos ensina a não olhar para o passado e a seguir em frente. E “Eros e Psiquê”? Esse mito nos ensina a confiar no amor e no parceiro e a respeitar uma ordem, um pacto. b) Como essa supremacia, isto é, essa necessidade de obediência às ordens dos deuses, se verifica em cada um dos mitos? No caso de “Orfeu e Eurídice”, era necessária a permissão de Hades para que Eurídice voltasse à Terra com Orfeu. Já no mito “Eros e Psiquê”, a jovem precisou cumprir todas as tarefas ordenadas por Afrodite para que seu amor triunfasse. c) Ambos os mitos são exemplos de um comporta- mento humano atemporal. Qual? Cite outra história mitológica muito conhecida no Ocidente em que também se verifica esse comportamento. O comportamento de desrespeitar ordens, regras ou valores, pois Orfeu, contrariando a exigência de Hades, olhou para trás para conferir se Eurídice estava vindo e Psiquê contrariou a ordem que lhe foi dada, pois, tomada pela curiosidade, abriu a caixa com a beleza de Perséfone. Esse mesmo comportamento é citado na mitologia criacionista (hebraica, bíblica) ao analisarmos o Pecado Original (comer do único fruto proibido), o mito de Adão e Eva. 7 A expressão “tarefa hercúlea” refere-se a algo muito di- fícil de realizar. De fato, o herói Hércules só ascendeu ao monte Olimpo. tornando-se imortal, depois de realizar doze difíceis tarefas e se sacrificar ao final. O le g S e n k o v /S h u tt e rs to ck a) Que relação podemos traçar entre esse mito e o de “Eros e Psiquê”? Psiquê realizou todas as tarefas exigidas por Afrodite e só alcançou o direito ao amor de Eros ao final de tudo. b) Hércules obteve ajuda nas suas provações. E Psiquê? Podemos dizer que isso revela uma visão dos deuses como fenômenos da natureza? Explique sua resposta. Psiquê também foi ajudada em todas as suas árduas tarefas por animais e outros elementos naturais. Isso mostra a interação dos seres humanos com a natureza de forma submissa e uma manifestação viva dos elementos naturais. 169 PR O D UÇ Ã O D E T EX TO M Ó D UL O 2 PH_EF2_7ANO_PT_CAD1_160a170_MOD02_CA.indd 169 9/16/19 10:10 AM DESENVOLVENDO HABILIDADES 1 No primeiro filme da série Harry Potter, identificamos uma referência às mitologias grega e romana, o cão Cér- bero, que é vencido por Harry e seus amigos no início da busca pela Pedra Filosofal. Agora entendemos que a função básica desse personagem mitológico, explorada em Harry Potter e citada no mito lido, é: a) matar homens que desrespeitam a soberania dos deuses. b) proteger os deuses de ameaças externas. c) ser um empecilho para forças superiores adentrarem o mundo humano. d) proteger a passagem entre dois mundos. 2 Os dois mitos lidos confirmam a importância da civili- zação grega para a cultura ocidental e serviram de base para uma obra muito importante para nós, Romeu e Julieta, que dialoga com os mitos porque nela: a) a vontade divina sobrepôs-se aos seres humanos. b) o final é trágico. c) o amor vai além da morte. d) o amor triunfou sobre as provações. 3 Já entendemos que os deuses gregos e romanos repre- sentavam a natureza e o Universo. Consulte a lista de equivalência entre as nomenclaturas gregas e romanas e marque a alternativa que analisa corretamente a pre- sença e o reconhecimento dos nomes gregos e romanos entre nós hoje. a) Reconhecemos a maioria dos deuses pelos nomes romanos. b) Os nomes romanos estão presentes na nomeação dos planetas. c) Os nomes gregos não são os escolhidos para repre- sentar os deuses em livros e filmes. d) Não identificamos os nomes romanos em nada do nosso cotidiano. 4 A referência ao barqueiro Caronte em ambos os mitos mostra que, nas mitologias grega e romana: a) não existia esse personagem na mitologia romana, porque só há um nome para ele. b) não existia ritual de passagem, porque em cada si- tuação esse personagem age de forma diferente. c) existe uma equivalência entre as nomenclaturas Ca- ronte e Hermes para designar aquele que transporta as pessoas até os Campos Elíseos, que representa o paraíso no Mundo dos Mortos. d) havia um personagem que efetivava o ritual de pas- sagem para o Hades, por mais que as narrativasmi- tológicas mostrem pequenas diferenças nas versões. R e fl u o /S h u tt e rs to ck L o g a n 8 1 /S h u tt e rs to ck Deuses do Egito.Direção de Alex Proyas. Produção: Alex Proyas e Basil Iwanyk. Estados Unidos: Paris Filmes, 2016. 1 DVD. Como você viu neste módulo, existem outras mitologias além da grega e da romana. Um filme recente bastante interessante que nos permite conhecer um pouco a mitologia egípcia é Deuses do Egito. Vale a pena assistir! R e p ro d u ç ã o /P a ri s F ilm e s 170 PR O D UÇ Ã O D E T EX TO M Ó D UL O 2 PH_EF2_7ANO_PT_CAD1_160a170_MOD02_CA.indd 170 9/16/19 10:10 AM
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