Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Mas a pirâmide de macacos desmoronou e todos caíram, menos o que teve a ideia, que ficou pendurado na Lua. Ela deu a mão a ele e o ajudou a subir. Gostou tanto dele que lhe deu um presente… era um tamborzinho. O macaquinho ficou muito contente e se manteve lá olhando o mundo do alto e tocando tambor, até que começou a sentir saudades de casa e resolveu pedir à Lua se poderia voltar. A Lua, muito amiga, concordou e disse que soltaria um enorme fio de luar por onde ele desceria amarrado ao tamborzinho. Ela apenas pediu a ele que não tocasse antes de chegar à Terra e, assim que chegas- se, tocasse bem forte para que ela ouvisse, cortasse o fio e ele chegasse em segurança. O macaquinho aceitou o combinado, despediu-se da Lua e foi descendo feliz da vida, mas, na metade do caminho, não resistiu e tocou o tambor. Ao ouvir o som do tambor, a Lua pensou que o macaquinho tivesse chegado à Terra e cortou a corda. O maca- quinho caiu e bem nessa hora estava passando uma mulher. Antes de morrer, o pequeno macaquinho de nariz branco pediu a ela que levasse aquele instrumento ao povo de seu país, pois ele traria muita felicidade. A moça foi logo contar a todos sobre o ocorrido. Vieram pessoas de todo o país e, naquela terra africana, eram ouvidos os primeiros sons de tambor. Autoria desconhecida. 1 Como vimos no Módulo 8 nas histórias “Arranca-Lín- guas” e “Cobra Honorato”, as lendas abordam aspectos da realidade de certa comunidade, assumindo impor- tante função cultural e social. Após a leitura de “O tam- bor” e empregando seus conhecimentos sobre a África, o que você pode deduzir sobre as culturas africanas com base nessa lenda? Pode-se deduzir que o tambor é um instrumento importante na África, pois a lenda fantasia sua origem, o que expõe sua importância cultural para as comunidades africanas. 2 A história da origem do tambor é uma lenda africana. Porém, considerando as noções que você tem sobre a cultura brasileira, explique por que também é possível relacionar essa lenda a ela. O Brasil tem como principal manifestação musical o samba, que faz uso, primordialmente, de instrumentos de percussão, como pandeiro e tamborim, associados a instrumentos de corda. Isso mostra, portanto, que essa lenda também explica, fantasiosamente, a origem das tradições brasileiras. 3 Vimos anteriormente que a força da natureza é muito respeitada pelos africanos e que faz parte da cultura e do olhar deles sobre o mundo; por essa razão, ela é frequentemente abordada nas lendas e nas literaturas da região. Como esse aspecto foi explorado na lenda do tambor? O apreço pela natureza e o respeito à sua força aparecem na lenda do tambor por meio da figura da Lua e dos macaquinhos de nariz branco, tendo em vista que se trata de um astro e de animais que, juntos, dão origem ao tambor na Terra. M ar am or os z/ S hu tt er st oc k Provavelmente, você já conhece a lenda que lerá a seguir. Trata-se de uma lenda afro-cristã, criada no século XIX no sul do Brasil, muito divulgada no final do século pelos que eram contra a escravidão. Leia-a para responder às questões 4 a 8. O Negrinho do Pastoreio Reza a lenda que, nos tempos da escravidão, havia um estancieiro malvado com negros e peões. Em um dia de inverno muito frio, o fazendeiro mandou que um menino negro de quatorze anos pastoreasse cavalos e potros que ele tinha acabado de adquirir. Quando o menino voltou ao final do dia, o estancieiro disse que faltava um cavalo baio. Pegou o chicote e deu uma surra tão grande no menino que ele ficou muito machucado. O estancieiro lhe disse: “Você vai me dar conta do baio, ou verá o que acontece”. O me- nino saiu preocupado e amedrontado à procura do animal, e, em pouco tempo, achou o cavalo pastando. Laçou-o, mas a corda se partiu e o cavalo fugiu de novo. Estancieiro: fazendeiro. Peão: vaqueiro. Baio: castanho. 106 PR O D UÇ Ã O D E T EX TO M Ó D UL O 9 PH_EF2_7ANO_PT_099a109_CAD2_MOD09_CA.indd 106 11/27/19 15:36 O estancieiro, ainda mais irritado, quando ele chegou, bateu novamente no menino e o amarrou em cima de um formigueiro. No dia seguinte, quando ele foi ver o estado de sua vítima, levou um susto. O menino estava lá, mas de pé, com a pele lisa, sem nenhuma marca das chicotadas, como se nada tivesse aconteci- do. Ao lado dele, a Virgem Nossa Senhora, e mais adiante, o baio e os outros cavalos. O estancieiro se jogou no chão arrependido, pedindo perdão, mas o Negrinho nada respondeu. Ele apenas beijou a mão da Santa, montou no baio e partiu comandando os animais. A partir disso, entre os andarilhos, tropeiros, mascates e carreteiros da região, todos comentavam sobre ter visto passar um conjunto de cavalos manchados tocado por um Negrinho, montado em um cavalo baio. Desde então, quando qualquer cristão perdia uma coisa, fosse qualquer coisa, à noite o Negrinho procurava e achava, mas só entregava a quem acendesse uma vela, cuja luz ele levava para pagar a do altar de sua madrinha, a Virgem Nossa Senhora, que o livrou do cativeiro e deu-lhe os cavalos, que ele conduz e pastoreia, sem ninguém ver. Quem perder coisas no campo deve acender uma vela abaixo dos ramos das árvores, para o Negrinho do Pastoreio, e dizer “Foi por aí que eu perdi… Foi por aí que eu perdi…”. Se ele não achar, ninguém mais acha. Autoria desconhecida. 4 A expressão “Reza a lenda que”, presente na história lendária “O Negrinho do Pastoreio”, deve-se tanto às tradições africanas quanto à estrutura do gênero. Ex- plique essa afirmação. A expressão demonstra o caráter oral dessa história, que é passada informalmente por gerações, e essa é uma forte tradição africana que perdura até hoje. 5 Aprendemos que as lendas misturam aspectos da reali- dade e da fantasia. Tendo isso em mente, responda ao que se pede a seguir. a) Que acontecimento(s) da realidade pode(m) ser per- cebido(s) nessa lenda? A escravização de negros na história do Brasil, a humilhação e agressão a eles e, mais tarde, sua libertação. b) O que, nessa lenda, pertence à fantasia popular? O episódio sobrenatural do aspecto intacto do Negrinho, mesmo após ser chicoteado e deixado em um formigueiro, bem como a atribuição dessa cura e da sua libertação à Nossa Senhora. 6 Considerando o personagem central dessa lenda e os seus conhecimentos sobre a relação histórica entre o Brasil e o continente africano, explique por que essa narrativa é representativa de ambas as culturas. O Negrinho do Pastoreio era escravizado, e a escravidão é um episódio da história pertencente tanto aos africanos – pois grande parte de sua população foi trazida para cá para ser explorada – quanto aos brasileiros. 7 De que forma essa lenda carrega e estimula o senti- mento de negritude, presente na literatura e nas ma- nifestações culturais afrodescendentes? Essa lenda tem um caráter otimista, ao abordar a escravidão associada à liberdade e à proteção de Nossa Senhora. Além disso, o estancieiro pede perdão, mostrando uma mudança de posição, o que proporciona um sentimento de orgulho da etnia e a valorização de sua história de superação. 8 O que há em comum entre essa lenda e os textos de Castro Alves, a exemplo do trecho do poema “O navio negreiro”, que você analisou na página 103? Ambos mostram, em um tom sensível e poético, a situação dos africanos escravizados e apresentam-se favoráveis à causa abolicionista, estimulando a adesão dos leitores/ouvintes a ela. Andarilho: pessoa que não tem morada certa, viajando constantemente. Tropeiro: condutor de cavalos e mulas. Mascate: comerciante, mercador. Carreteiro: pessoa que conduz uma carreta (carroça), em geral puxada por cavalos ou bois. Il u s tr a C a rt o o n /A rq u iv o d a e d it o ra 107 PR O D UÇ Ã O D E T EX TO M Ó D UL O 9 PH_EF2_7ANO_PT_099a109_CAD2_MOD09_CA.indd 107 11/27/19 15:36 DESENVOLVENDO HABILIDADES 1 As opçõesapresentadas na sequência reúnem possíveis tratamentos dados aos afrodescendentes. Entre eles, o único que não é preconceituoso, e sim ético, consiste em: a) referir-se a eles usando a palavra que designa sua cor no diminutivo. b) citar alguma qualidade deles como forma de com- pensação de sua cor. c) identificá-los por outras características ou por adje- tivos neutros e respeitosos. d) generalizar padrões de comportamento por meio de sua cor. 2 Leia a tirinha a seguir e reflita sobre seu conteúdo para responder ao que se pede. O objetivo da tirinha é: a) defender a ideia de que as religiões de origem africa- na, denominadas pejorativamente como macumba, são melhores que o cristianismo. b) promover uma reflexão sobre o fato de que símbolos religiosos, seja uma comida de oferenda, seja uma cruz, não têm valor algum. c) defender a ideia de que é normal rir do desrespeito a símbolos religiosos incomuns à nossa cultura, mas devemos respeitar a religião oficial. R e p ro d u ç ã o /< h tt p :/ /m a is q u e u m c ri m e .b lo g s p o t. c o m .b r> d) promover uma reflexão sobre a naturalização do pre- conceito com as religiões afro-brasileiras da perspec- tiva de uma suposta religião oficial. Leia a letra da canção a seguir, da rapper MC Soffia, nascida em 2004. Menina preti nha Menina pretinha, exótica não é linda Você não é bonitinha Você é uma rainha Devolva minhas bonecas Quero brincar com elas Minhas bonecas pretas, o que fizeram com elas? Vou me divertir enquanto sou pequena Barbie é legal, mas eu prefiro a Makena africana Como história de griô, sou negra e tenho orgulho da minha cor Africana, como história de griô, sou negra e tenho orgulho da minha cor Menina pretinha, exótica não é linda Você não é bonitinha Você é uma rainha O meu cabelo é chapado, sem precisar de chapinha Canto rap por amor, essa é minha linha Sou criança, sou negra Também sou resistência Racismo aqui não, se não gostou, paciência MC SOFFIA. Menina pretinha. Disponível em: <www.letras.mus.br/mc-soffia/ menina-pretinha/>. Acesso em: 27 ago. 2019. 108 PR O D UÇ Ã O D E T EX TO M Ó D UL O 9 PH_EF2_7ANO_PT_099a109_CAD2_MOD09_CA.indd 108 11/27/19 15:37 R e p ro d u ç ã o /E d it o ra P a n d a B o o k s 3 O rap em questão defende o empoderamento negro e mostra uma mudança no comportamento da geração atual porque: a) a letra promove uma revolta contra a sociedade, que privilegia o branco. b) a letra mostra que toda a comunidade afrodescen- dente atual aceita-se e é aceita socialmente como é. c) a autora, sendo uma artista tão jovem, influencia a comunidade afrodescendente a ignorar a presença do branco, o que fica evidente no último verso. d) a autora mostra que não se deixa abater pelos pa- drões estéticos da sociedade e representa a voz de toda a comunidade afrodescendente. 4 Qual a única afirmação que n‹o podemos fazer sobre a canção diante da referência às bonecas? a) As mercadorias dirigidas ao público infantil contri- buem para o estereótipo de beleza construído so- cialmente. b) Crianças brancas devem brincar com a Barbie e crian- ças negras devem brincar com a Makena africana. c) As crianças negras têm infância como qualquer outra, mas isso havia sido roubado delas. d) O mercado de brinquedos ainda é restrito a uma oferta de bonecas brancas, o que reflete certo preconceito. Sugerimos aos alunos que acessem a letra da canção “Bonecas pretas”, de Larissa Luz, disponível em: <www. youtube.com/watch?v=Qk3-0qaYTzk>, acesso em: 9 set. 2019. Nela, é possível observar o diálogo com a letra de “Menina pretinha” de Mc Soffia. Marcelo Camargo/Agência Brasil MC Soffia. ANOTAÇÕES SACRANIE, Magdalene. O amuleto perdido e outras lendas africanas. São Paulo: Panda Books, 2010. Esta coletânea de contos populares, fábulas e lendas de vários países da África traz um rico panorama de histórias que povoam o imaginário dos africanos. Vale a pena viajar por esse universo encantado! 109 PR O D UÇ Ã O D E T EX TO M Ó D UL O 9 PH_EF2_7ANO_PT_099a109_CAD2_MOD09_CA.indd 109 11/27/19 15:37
Compartilhar