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LICENCIAMENTO AMBIENTAL (PGE-SE 2017) *APA. *Infração ambiental. *Unidade de Conservação (zona de amortecimento). DOUTRINA LEGISLAÇÃO JURISPRUDÊNCIA IMPORTANTE _____ x ______ “ (...) o art. 2.º da Resolução CONAMA 001/1986 expõe o rol (não taxativo) de atividades para as quais é exigível a apresentação de EIA (...)” _______ Art. 25 da Lei n.º 9.985/2000; art. 10 da Lei n.º 6.938/1981; art. 20 da LC n.º 140/2011; art. 225, § 1.º, inc. IV da CF; art. 2.º da Resolução CONAMA 001/1986. _____________ Questão 01 Determinado proprietário de terras, depois de instalar um empreendimento — modesta criação de animais silvestres de pequeno porte para o abate e consumo humano — no entorno de uma área de proteção ambiental, foi autuado por órgão fiscal ambiental, que argumentou estar o produtor rural desenvolvendo atividade econômica em imóvel localizado na zona de amortecimento daquela unidade de conservação, o que é vedado. Considerando a situação hipotética apresentada acima e a legislação pertinente sobre o assunto, elabore um texto dissertativo, respondendo, de modo fundamentado, aos seguintes questionamentos. 1 Há base legal para que subsista a autuação imposta ao proprietário com o fundamento utilizado pelo órgão de fiscalização ambiental? [valor: 4,75 pontos] 2 Dada a natureza do empreendimento, seriam necessárias a obtenção de licenciamento ambiental prévio e a apresentação de estudo de impacto ambiental? [valor: 9,50 pontos] PADRÃO DE RESPOSTA CESPE: 1 A autuação não possui fundamento legal, por força do disposto no art. 25 da Lei n.º 9.985/2000, que determina a obrigação de as unidades de conservação possuírem uma zona de amortecimento, com exceção da área de proteção ambiental e da reserva particular do patrimônio natural. Assim, para a referida unidade de conservação, não existe zona de amortecimento, razão pela qual fica sem fundamento a autuação. 2 É necessária a obtenção de prévio licenciamento ambiental, conforme disciplina o art. 10 da Lei n.º 6.938/1981 (ou art. 20 da Lei n.º 140/2011, que alterou o art. 10 da Lei n.º 6.938/1981), uma vez que a atividade utiliza recursos ambientais e(ou) é capaz de causar degradação ambiental. A exigência de apresentação de estudo de impacto ambiental (EIA) é providência que só deve ocorrer quando a atividade puder causar significativa degradação ambiental (art. 225, § 1.º, inc. IV da CF – apesar de meramente elucidativa, o art. 2.º da Resolução CONAMA 001/1986 expõe o rol (não taxativo) de atividades para as quais é exigível a apresentação de EIA), o que não é o caso da hipótese descrita. COMPLEMENTAÇÃO *Dispositivos legais citados pelo espelho: **Art. 2º da Resolução 01/1986 CONAMA. Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental - RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do SEMA em caráter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como: I - Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento; II - Ferrovias; III - Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos; IV - Aeroportos, conforme definidos pelo inciso 1, artigo 48, do Decreto- Lei nº 32, de 18.11.66; V - Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgotos sanitários ; VI - Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV; VII - Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barragem para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação de cursos d'água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias, diques; VIII - Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão); IX - Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de Mineração; X - Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou perigosos; Xl - Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária, acima de 10MW; XII - Complexo e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos, siderúrgicos, cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de recursos hídricos); XIII - Distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI; XIV - Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100 hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental; XV - Projetos urbanísticos, acima de 100ha. ou em áreas consideradas de relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e estaduais competentes; XVI - Qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade superior a dez toneladas por dia. **Art. 25 da Lei 9.985/2000. As unidades de conservação, exceto Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural, devem possuir uma zona de amortecimento e, quando conveniente, corredores ecológicos.(Regulamento) **Art. 10 da Lei 6.938/1981. A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental dependerão de prévio licenciamento ambiental. (Redação dada pela Lei Complementar nº 140, de 2011) § 1o Os pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão serão publicados no jornal oficial, bem como em periódico regional ou local de grande circulação, ou em meio eletrônico de comunicação mantido pelo órgão ambiental competente. (Redação dada pela Lei Complementar nº 140, de 2011) **Art. 225 da CF. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; (Regulamento) *Dispositivos legais pertinentes: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4340.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp140.htm#art20 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp140.htm#art20 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp140.htm#art20 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp140.htm#art20 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11105.htm **Art. 2o da Lei 9.985/2000. Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - unidade de conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção; XVIII - zona de amortecimento: o entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade; **Art. 15 da Lei 9.985/2000. A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivosbásicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.(Regulamento) § 1o A Área de Proteção Ambiental é constituída por terras públicas ou privadas. § 2o Respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada localizada em uma Área de Proteção Ambiental. § 3o As condições para a realização de pesquisa científica e visitação pública nas áreas sob domínio público serão estabelecidas pelo órgão gestor da unidade. § 4o Nas áreas sob propriedade privada, cabe ao proprietário estabelecer as condições para pesquisa e visitação pelo público, observadas as exigências e restrições legais. § 5o A Área de Proteção Ambiental disporá de um Conselho presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes dos órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população residente, conforme se dispuser no regulamento desta Lei. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4340.htm . **Tabelas @magis2toga: . LICENCIAMENTO AMBIENTAL Licença Prévia (LP) Concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação Prazo de validade de até 05 anos Licença de Instalação (LI) Autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante Prazo de validade de até 06 anos Licença de Operação (LO) Autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operação. Prazo de validade que varia entre 04 e 10 anos Licença Simplificada Poderão ser estabelecidos procedimentos simplificados para as atividades e empreendimentos de pequeno potencial de impacto ambiental, que deverão ser aprovados pelos respectivos Conselhos de Meio Ambiente RENOVAÇÃO DO LICENCIAMENTO A renovação de licenças ambientais deve ser requerida com antecedência mínima de 120 dias da expiração de seu prazo de validade, fixado na respectiva licença, ficando este automaticamente prorrogado até a manifestação definitiva do órgão ambiental competente. @magis2toga AÇÃO SUPLETIVA DOS ENTES FEDERATIVOS AÇÃO SUBSIDIÁRIA DOS ENTES FEDERATIVOS Art. 15. Os entes federativos devem atuar em caráter supletivo nas ações administrativas de licenciamento e na autorização ambiental, nas seguintes hipóteses: I – inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado ou no Distrito Federal, a União deve desempenhar as ações Art. 16. A ação administrativa subsidiária dos entes federativos dar- se-á por meio de apoio técnico, científico, administrativo ou financeiro, sem prejuízo de outras formas de cooperação. Parágrafo único. A ação subsidiária deve ser solicitada pelo ente originariamente detentor da atribuição nos termos desta Lei administrativas estaduais ou distritais até a sua criação; II – inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Município, o Estado deve desempenhar as ações administrativas municipais até a sua criação; e III – inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado e no Município, a União deve desempenhar as ações administrativas até a sua criação em um daqueles entes federativos. Complementar. @magis2toga *Material E3C online (apoio prova oral MPE-PB): . Repartição de Competência em Matéria Ambiental Segundo a maioria dos doutrinadores brasileiros, a repartição de competências é o tema mais controvertido de Dir. Ambiental, pelos seguintes motivos: a) pela primeira vez, nossa Constituição (de 1988) distinguiu, em matéria ambiental, competências administrativas e legislativas (anteriormente quem legislava era quem tinha o poder de atuar); b) a CR/88, ao estabelecer referidas competências, estabeleceu rol de competências tanto comuns (administrativas) quanto concorrentes (legislativas), sem fixar, com segurança, onde começa e termina a atuação de cada ente, gerando superposição de competências; c) o legislador constituinte utilizou-se de conceitos jurídicos indeterminados como “interesse local” e “normas gerais”, bem como a doutrina e a jurisprudência também os utiliza, sem definir precisamente seu conteúdo, a exemplo do que seria “predominância de interesse”; d) os bens tutelados pelo Dir. Ambiental têm natureza difusa, cabendo a todos (Poder Público e coletividade) sua proteção; e) apenas 23 anos após a vigência da CR/88 houve a promulgação da Lei Complementar que regulamenta a repartição de competências administrativas em matéria ambiental que, por sua vez, já está sendo impugnada no Supremo por supostas inconstitucionalidades, confirmando, assim, as controvérsias a respeito. A repartição da competências nas Federações é matéria reservada à Constituição, sendo emanação direta da própria estruturação do Estado Federal, caracterizado pela divisão do poder político em diversas esferas, notadamente no Brasil onde o Município é ente federativo. Para José Afonso da Silva, “competência é a faculdade juridicamente atribuída a uma entidade, ou a um órgão ou agente do Poder Público para emitir decisões. Competências são as diversas modalidades de poder de que se servem os órgãos ou entidades para realizar suas funções”. O que norteia a repartição de competências é a predominância do interesse, segundo o qual caberá à União aquelas matérias de predominante interesse geral, nacional, ou regional (quando ultrapassem mais de um Estado), ao passo que aos Estados tocarão as matérias e assuntos de predominante interesse regional (rectius: estadual), e aos Municípios os predominantes interesses locais. Assim, Terence Dornelles Trennepohl aconselha que, “diante da dúvida em responder um quesito sobre competência, verifique sempre a qual ente da federação é mais condizente a defesa do meio ambiente em questão. Metade da questão estará respondida!”. A Constituição de 88 busca o equilíbrio federativo (Federalismo cooperativo) através de uma repartição de poderes que se fundamenta na técnica da enumeração de poderes da União, dos poderes remanescentes para os Estados e poderes definidos indicativamente para os Municípios. Também verificamos áreas comuns de atuação paralela e setores concorrentes entre União e Estados, em que se outorga à primeira as normas gerais e aos últimos as normas específicas (CR, art. 24, §§ 1º e 2º), bem como, e ainda, suplementação pela legislação municipal nos casos de interesse local (CR, art. 30, I e II). Assim, nos artigos 21 e 23 da CR (artigos ímpares) temos as competências administrativas, enquanto que nos arts. 22 e 24 (artigos pares) temos as competências legislativas. Competência Legislativa A CR/88 atribuiu competência legislativa concorrente sobre assuntos do meio ambiente à União, aos Estados e ao Distrito Federal, conforme dispõe o art. 24, VI e VII, sendo que à União caberá legislar sobre normas gerais, enquanto os Estados e DF deverão suplementar essas normas. A concorrência ensejaa possibilidade de iniciativa na área da legislação ambiental para os Estados e DF se a União se mantiver inerte. Entretanto, essa competência, chamada “plena” (chamada também de COMPETÊNCIA SUPLETIVA), não pode exorbitar da peculiaridade ou interesse do próprio Estado (limite qualitativo) e terá que se ajustar ao disposto em norma federal superveniente (limite temporal), a qual suspenderá a legislação estadual no que for incompatível. A competência concorrente poderá exercer-se não só quanto à elaboração de leis, mas de decretos, resoluções e portarias. Aos Municípios também é atribuída competência legislativa, porém ela é suplementar supletiva, determinando o art. 30, II, competir a eles suplementar a legislação federal e a estadual no que couber. Em suma: À União cabe a fixação de pisos mínimos de proteção ao meio ambiente, enquanto aos Estados, DF e Municípios, atendendo aos interesses regionais e locais, a de um “teto” de proteção. Assim, os Estados, DF e Municípios JAMAIS PODERÃO LEGISLAR DE MODO A OFERECER MENOS PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE DO QUE A UNIÃO, nas normas que forem nacionais, e não nas federais. Pode-se concluir que a competência legislativa em matéria ambiental estará sempre privilegiando a maior e mais efetiva preservação do meio ambiente, independentemente do ente político que a realize, porquanto todos receberam da Carta Constitucional aludida competência. Sobre o tema, sem contrariar a Constituição: Lei nº 6.938/81 Art. 6º [...] § 1º Os Estados, na esfera de suas competências e nas áreas de sua jurisdição, elaborarão normas supletivas e complementares e padrões relacionados com o meio ambiente, observados os que forem estabelecidos pelo CONAMA. § 2º Os Municípios, observadas as normas e os padrões federais e estaduais, também poderão elaborar as normas mencionadas no parágrafo anterior. Competência Material Competência material é a competência administrativa propriamente dita, que atribui a uma esfera de poder o direito de fiscalizar e impor sanções em caso de descumprimento da lei. Em regra, o policiamento de determinada atividade é da atribuição da pessoa de Direito Público interno dotada de competência legislativa sobre a mesma. Contudo, observa Terence Dornelles, que “a Constituição atribuiu, pela primeira vez, separadamente, competências administrativas, as quais eram, até então, automaticamente incluídas nas competências legislativas correspondentes. (...) Depois da entrada em vigor do art. 23, qualquer ente público tem competência para aplicar a legislação ambiental, ainda que a norma não tenha sido de autoria do ente que a aplica. O art. 23, VI e VII, da CR dispõe que os três níveis da federação têm competência para tomar medidas em prol da defesa do meio ambiente, da flora e fauna, contra poluição etc., ficando agora ao critério das prefeituras executar também normas federais ou estaduais, quando necessário”. A proteção do meio ambiente está adaptada à competência material comum, ou seja, é atribuída a todos os entes federados que, em pé de igualdade, exercem-na, sem, todavia, excluir a do outro, porquanto cumulativa. É prevista no art. 23 da CR/8813. Por vezes, o fato de a competência ser comum a todos os entes federados poderá tornar difícil a tarefa de discernir qual norma administrativa será a mais adequada a uma determinada situação. Os critérios que deverão ser verificados para tal análise são: 1. O critério da predominância do interesse; 2. O critério da colaboração ou cooperação entre os entes federados, conforme prevê o p. único do art. 23. Desse modo, deve-se buscar, como regra, privilegiar a norma que atenda de forma mais efetiva ao interesse comum. A Lei complementar prevista no art. 23, p. único da CR/88, deve ter como fundamento a mútua ajuda dos entes federados. Essa lei não visa e não pode visar à diminuição da autonomia desses entes, despojando-os de prerrogativas e de iniciativas que constitucionalmente possuem, ainda que não as exerçam, por falta de meios ou de conscientização política. Essa Lei Complementar foi editada (LC nº 140/11). Os trabalhos de proteção e cooperação relativos ao meio ambiente já vêm sendo feitos conjuntamente pelos órgãos federais e estaduais com a formulação do SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente, concebido pela Lei nº 6.938/8115. O CONAMA, através da Resolução nº 237/97, procurou partilhar a competência ambiental administrativa, dispondo sobre o licenciamento ambiental a ser feito pelo IBAMA (art. 4º), estabelecendo as competências dos Estados e DF (art. 5º), determinando a área de competência dos Municípios (art. 6º) e estabelecendo que os empreendimentos e atividades serão licenciados em um nível de competência (art. 7º). Sobre a atuação do CONAMA em matéria de licenciamento, há o preceito no art. 8º, I da Lei nº 6.938/81, que diz que compete ao CONAMA “I - estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e critérios para o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a ser concedido pelos Estados e supervisionado pelo IBAMA”. O inciso é claro, mostrando que instituir normas e critérios para o licenciamento não se confunde com atribuir competência aos entes federados, verificando-se explícita invasão de competência e quebra de hierarquia administrativa, acarretando vício de inconstitucionalidade e ilegalidade aos artigos da resolução supra citada. Leis infraconstitucionais não podem repartir ou atribuir competências, a não ser que a própria Constituição da República tenha previsto essa situação, como fez expressamente no art. 23, p. único, quando previu que a competência comum estabelecendo normas de cooperação será objeto de lei complementar. A Lei Complementar nº 140/11 Nesse item não será feita análise aprofundada de cada dispositivo da lei, o que é feito no curso desse resumo. Apenas tratarei de questões mais polêmicas e estruturais. A Lei Complementar 140, consagrando o federalismo cooperativo, em atendimento ao disposto no parágrafo único do art. 23 da CR/88, veio fixar normas, para ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum de TODOS OS ENTES DA FEDERAÇÃO relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora (são alguns dos incisos do art. 23 que tratam de matéria ambiental). Há muito essa Lei era esperada, justamente por ser o tema certamente o mais controvertido e gerador de conflitos no Direito ambiental, pelas razões já expostas no início do resumo. Importante ressaltar que referida LC está sendo impugnada por meio de Ação Direta de Inconstitucionalidade no STF – ADI 4757 – proposta em abril de 2012 e pendente de julgamento. Eis os principais argumentos da ADI: a) A LC deveria apenas prever mecanismos de cooperação, nos termos do parágrafo único do art. 23 da CR, mas, ao invés, estabeleceu competências privativas, impedindo a atuação dos órgãos federais, que antes era irrestrita. b) A segregação das atribuições seria tão grande que afetaria a própria competência comum. Assim, agride o art. 225, CR, que impõe que a proteção do meio ambiente é dever do Poder Público (o que abrangeria todos os entes). c) Atribuem-se poderes normativos irrestritos à Comissão Tripartite, que poderá impor obrigações e deveres por meio de “proposição”, fixando direitos e deveres sem previsão legal, violando o art. 5º e inc. II e art. 37 da CR. A titularidade da ADI é da Associação dos Servidores do IBAMA. As atribuições do CONAMA foram reduzidas substancialmente, tendo esse Conselho perdido poder. Surge, assumindo parte de suas atribuições, a Comissão Tripartite Nacional. Destaca-se, ainda, a escassez de material sobre o assunto, já que – além da recenticidade daLei –, como ainda não houve manifestação do Supremo sobre a ADI, muitos autores ainda não atualizaram suas obras. A LC 140 traz considerável mudança em relação ao licenciamento ambiental. Vejamos. O art. 10 da Lei nº 6.938/81 estabelecia de forma ampla e irrestrita a atuação do IBAMA, mesmo indicando em alguns pontos que essa atuação seria supletiva. Essa atuação supletiva era mais entendida como “complementar” do que suplementar. Ou seja, os agentes do Instituto sempre entenderam que cabia ao IBAMA, órgão licenciador federal, complementar a atuação estadual ou municipal em matéria de licenciamento ambiental sempre que se entendesse necessário ou conveniente. Ademais, previa o § 2º do citado artigo que o CONAMA poderia fixar as hipóteses em que o licenciamento dos demais órgãos estaria sujeito à homologação da Autarquia Federal. Já o § 1º do art. 11 previa que a fiscalização e controle da qualidade ambiental seriam exercidos pelo IBAMA, em caráter supletivo da atuação do órgão estadual e municipal competentes. Tais disposições faziam com que o órgão federal fosse visto por muitos como Corregedor dos demais órgãos ambientais, o que não se pode mais deduzir depois das mudanças perpetradas pela Lei Complementar. A LC 140, dando nova redação ao art. 10 da Lei 6.938/81, retirou toda e qualquer menção ao IBAMA e sua atuação supletiva. Além disso, conceituou ação supletiva como aquela que SUBSTITUI o ente competente, dispondo, ainda, que só caberá essa ação supletiva no caso de inexistência ou incapacidade técnica do órgão ambiental competente, inexistência do conselho de meio ambiente no ente federado ou decurso do prazo de licenciamento sem a expedição da licença pelo ente competente (arts. 14 e 15 da LC 140). Ressaltou, ainda, a nova legislação, que o licenciamento ambiental será feito apenas por um único ente federativo. Ou seja, há o claro intuito de “desfederalizar” em muitos casos o licenciamento ambiental. Por outro lado, o § 4º do art. 10 da Lei nº 6.938/81 previa a competência do IBAMA para licenciar sempre que as atividades e obras tivessem significativo impacto ambiental, de âmbito nacional ou regional. O licenciamento ambiental seguia a lógica da predominância do interesse. Tal critério mudou, com a revogação do § 4º. Segundo a Orientação Jurídica Normativa (OJN) nº 33/2012, da Procuradoria Federal do IBAMA, de 26/04/2012, a LC 140 acolheu, em regra, a localização como critério para definição do órgão competente. Assim, se os impactos ambientais de um empreendimento ultrapassar os limites estaduais, mas o empreendimento estiver localizado integralmente no interior de um único Estado, seu licenciamento ambiental será de competência do órgão estadual, e não do IBAMA, como acontecia anteriormente. Ao lado do critério geográfico, em relação à União, temos ainda o critério da atividade (para atividade militar e com energia nuclear) e uma via aberta, que é a definição por ato do Poder Executivo Federal segundo proposta do Conselho Tripartite. Dessa forma, o critério que era subjetivo (abrangência do impacto ambiental) passou a ser, via de regra, objetivo (localização do empreendimento ou atividade). O aumento da segurança jurídica sobre o tema foi significativo. O Ibama não terá mais competência para licenciar empreendimento apenas em razão da abrangência do seu impacto ambiental. No momento, ainda que atividade tenha potencial poluidor de âmbito nacional ou regional, o Ibama não será competente para licenciar, a não ser que esteja configurada uma das hipóteses previstas nas alíneas do inciso XIV do art. 7º, que estabelece apenas critério de localização e de tipo de atividade. Para o licenciamento ambiental, ao lado do critério da predominância do interesse, que era informado pelo critério da abrangência do impacto ambiental (se o impacto era local, o interesse também o seria, e assim sucessivamente...), havia também, segundo alguns autores, o critério da dominialidade do bem (se bem federal, seria do IBAMA a competência para licenciar) e, ainda, o critério supletivo, previsto apenas para a entidade federal. Como vimos, desapareceu o critério genérico da predominância do interesse pela abrangência do impacto (apenas se pode considerar objetivamente os casos dispostos no art. 7º da LC, que, em sua maioria, são informados pela localização geográfica do empreendimento). Em relação ao critério da dominialidade, acreditamos que ele não foi adotado em nenhum momento, conforme julgados citados abaixo mais adiante (na verdade, doutrina minoritária defendia esse critério). No que se refere à supletividade, veremos que houve a restrição da atuação supletiva, reservada apenas para os casos expressamente previstos. Nada impede, porém, que ato do poder executivo federal, por proposta da Comissão Tripartite, adote os mesmos ou outros critérios para atividades não previstas expressamente na LC, adotando, por exemplo, o critério da predominância do interesse para outras atividades. Por fim, o STJ e alguns regionais já se manifestaram no sentido de que a dominialidade (titularidade do bem) não é critério definidor da competência para o licenciamento ambiental (STJ, Resp. 2003/0159754-SC; TRF5, AC 327.022; TRF1, AG 2007.01.00.000782-5/BA). Contudo, em matéria de impugnação judicial de licenciamento por outro ente, o critério da dominialidade é utilizado como parâmetro para definição da legitimidade ativa da União e do IBAMA, notadamente em ações civis públicas que possuem como fundamento possíveis ilegalidades no licenciamento ambiental, insuficiência da atuação do órgão estadual de meio ambiente ou dano a bem de domínio da União (REsp 769753 / SC) Referida Lei modifica também o entendimento que vinha sendo adotado acerca da imposição de multas. Pelo art. 70, §§ 1º e 3º, da Lei 9.605/98, todos os entes federados seriam competentes para lavrar autos de infração em matéria ambiental. Para evitar a duplicidade de punição pelo mesmo fato (já que todos eram considerados competentes para lavrar o auto) e eventual conflito de atribuições entre os entes, existiam alguns dispositivos que estabeleciam regras definidoras de competência, entre os quais o art. 14, I e § 2º da Lei nº 6.938/81 e art. 76 da Lei nº 9.605/98. Este último artigo reza que o pagamento da multa imposta pelos Estados, Municípios ou DF substitui a multa federal. Agora não é mais assim: prevalece, em caso de dupla lavratura de auto de infração, a multa do órgão ambiental competente. Cabe observar uma distinção dentro da competência material realizada pela doutrina e jurisprudência entre (1) competência de licenciar e (2) competência de fiscalizar. A LC adotou essa sistemática. Notícia veiculada no Informativo 392 do STJ explica a diferença: “IBAMA. FISCALIZAÇÃO. OMISSÃO. ORGÃO ESTADUAL. O nosso pacto federativo atribuiu competência aos entes da Federação para a proteção do meio ambiente, o que se dá mediante o poder de polícia administrativa (art. 78 do CTN). Esse poder envolve vários aspectos, entre eles, o poder de permitir o desempenho de certa atividade (desde que acorde com as determinações normativas) e de sancionar as condutas contrárias à norma. Anote-se que a contrariedade à norma pode ser anterior ou superveniente à outorga da licença, portanto a aplicação da sanção não está necessariamente vinculada àquele ato administrativo. Isso posto, não há que se confundir a competência do Ibama de licenciar (caput do art. 10 da Lei n. 6.938/1981) com sua competência para fiscalizar (§ 3º do mesmo artigo). Assim, diante da omissão do órgão estadual de fiscalização, mesmo que outorgante da licença ambiental, o Ibama pode exercer seu poder de polícia administrativa, quanto mais se a atividade desenvolvida pode causar dano ambiental em bem da União. Precedente citado: REsp 588.022-SC, DJ 5/4/2004. AgRgno REsp 711.405-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 28/4/2009.” Ou seja, apenas o ente competente tem a atribuição de lavrar o auto, mas todos podem fiscalizar. Entretanto, havendo perigo iminente ou atual ao meio ambiente os demais entes federados estão autorizados a agir cautelarmente e/ou existindo omissão e inércia do ente originalmente atribuído da competência para licenciar, fica o ente diverso autorizado a agir com base no poder de polícia, fiscalizando o particular e tomando medidas cabíveis (a lei não estabelece que medidas seriam essas). Contudo, existe uma questão que tem intrigado quem se debruça sobre a LC 140. O caput do art. 17 diz que só o ente competente pode lavrar auto de infração (para aplicação de multa, por exemplo). Porém, o § 3° do mesmo artigo afirma que todos os entes podem fiscalizar e, em caso de dupla multa, prevalecerá o auto de infração lavrado pelo órgão que detenha a atribuição de licenciar. Quer dizer, ao disciplinar que todos podem fiscalizar e que prevalecerá o auto do ente competente, está admitindo a possibilidade de dupla lavratura de auto. Com a nova disciplina dada pela LC 140/11, houve a ampliação da mens legis do art. 76 da Lei nº 9.605/98 e do parágrafo único do art. 12 do Decreto nº 6.514/08, prevalecendo para a mesma infração ambiental todo o auto de infração do ente competente, abarcando quaisquer sanções previstas no art. 72 da Lei 9.605/98 e não apenas a sanção única da multa estadual ou municipal (o art. 76 só dizia que o pagamento da multa municipal ou estadual substituía a multa Federal). Eis as demais infrações possíveis, que agora podem ser substituídas de acordo com auto de infração do ente competente: “Art. 72. As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções, observado o disposto no art. 6º: I - advertência; II - multa simples; III - multa diária; IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração; V - destruição ou inutilização do produto; VI - suspensão de venda e fabricação do produto; VII - embargo de obra ou atividade; VIII - demolição de obra; IX - suspensão parcial ou total de atividades; X - (VETADO) XI - restritiva de direitos.” Igualmente, houve a previsão de situação não abarcada pela literalidade do aludido art. 76: a possibilidade de um auto federal posterior substituir um auto estadual ou municipal, desde que o ente competente para o licenciamento ambiental seja a União Federal. Havia também entendimentos que afirmam que o pagamento da multa municipal ou estadual, sendo menor que a federal, não impedia a cobrança da diferença em relação à multa federal. De todo modo, a LC 140/11 veio a disciplinar o assunto de uma forma mais técnica, corrigindo lacunas nas diversas leis, decretos e resoluções, sepultando de vez a tese de que a multa estadual apenas substituiria a federal até o limite de seu valor. Assim, mesmo que a multa federal seja maior, se o ente competente para licenciar for estadual ou mesmo municipal, a multa desses últimos prevalecerá mesmo que menor, não cabendo a cobrança de quaisquer diferenças em relação à multa federal. Por outro lado, previu a possibilidade de atuação do órgão federal no caso de incapacidade técnica do Município e, concomitantemente, do Estado, bem como o poder de fiscalizar e tomar “outras medidas”. Como visto, a LC só se aplica para empreendimento futuros. Entretanto, havendo necessidade de licenciamento corretivo, em caso de mudança da titularidade da competência, o órgão competente doravante é quem cuidará do licenciamento. Observação final: a Lei fala ainda que a competência para fiscalizar e controlar a atividade é do ente a quem for cometida a atribuição de licenciar ou autorizar. O licenciamento envolve estudo de impacto ambiental, enquanto que a autorização é para atividades simples como, por exemplo, o corte de uma árvore. MAIORES MÉRITOS DA LC 140: - Enfim, após 23 anos da CR/88 instituiu a repartição de competências ambientais. - Procura, conforme objetivo expresso da lei, harmonizar as políticas e ações administrativas para evitar a sobreposição de atuação entre os entes federativos, de forma a evitar conflitos de atribuições e garantir uma atuação administrativa eficiente; - Estabeleceu que as atividades e empreendimentos serão licenciados por apenas um ente federativo. - sepultou de vez entendimento de parte da doutrina que afirmava não ter o município competência para licenciar (tal posição era fruto da interpretação do art. 10 da Lei 6.938/81, que tornou obrigatório o licenciamento ambiental, que previa apenas o licenciamento por órgãos estaduais e federais – outra parte da doutrina justifica a não previsão à época, da competência municipal, em razão de o município só ter sido alçado à condição de ente federativo em 1988). Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) Os estudos de impacto ambiental foram previstos na Convenção das Nações Unidas para o Meio Ambiente – Declaração do Rio de Janeiro /92, no princípio 17: A avaliação de impacto ambiental, como instrumento nacional, deve ser empreendida para as atividades planejadas que possam vir a ter impacto negativo considerável sobre o meio ambiente, e que dependam de uma decisão de autoridade nacional competente. Estudos ambientais são todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentado como subsídio para a análise da licença requerida. Impacto ambiental é qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e/ou biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia humana que, direta ou indiretamente, afetem: a) A saúde, segurança e bem estar da população; b) As atividades sociais e econômicas; c) A biota; d) As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e) A qualidade dos recursos ambientais. Conceito de EIA/RIMA – Fundamentos Constitucionais e Históricos Trata-se de instrumentos formais que precedem a licença ambiental, dela fazendo parte, sendo de inteira responsabilidade do interessado no empreendimento a sua elaboração, assim como os custos, sempre que pretender realizar alguma das atividades para cujo exercício a lei os exija. No caso brasileiro existe, como regra, a obrigatoriedade do prévio estudo de impacto ambiental para a implantação de projetos potencial ou efetivamente poluidores. Tal exigência encontra-se prevista no art. 225, § 1º da CRFB. Todavia, a experiência jurídica nacional demonstra que a norma constitucional tem suscitado muitas dúvidas e divergências no que se refere à sua correta compreensão. Sabe-se, outrossim, que a constitucionalização dos Estudos de Impacto Ambiental não foi acompanhada de uma legislação ordinária apta a concretizar a determinação constitucional no plano da prática diária administrativa. Em verdade, a norma constitucional é considerada aberta e necessita que o Poder Executivo defina os parâmetros e critérios capazes de estabelecer, com certa margem de segurança, qual é o conceito de atividade que efetiva ou potencialmente possa ser causadora de significativa degradação ambiental. Atualmente, com a finalidade de suprir eventual lacuna legislativa, a matéria encontra-se regulada por resoluções administrativas do CONAMA. No ano de 1972 realizava-se a Conferência de Estocolmo que, apesar da inexistência de obrigatoriedade para os países participantes, trouxe uma série de influências. Para o Brasil, pode-se dizer que, a partir da referida Conferência, constatou-se o início de uma legislação moderna e engajada na proteção ao meio ambiente. Durante este período, já na década de70, a história da legislação nacional dava conta do surgimento do estudo de impacto ambiental, que teria vindo à lume através da edição do Decreto-Lei nº 1.413/75. Já a partir deste novel conjunto de leis, as empresas que tencionassem instalar seus parques industriais deveriam, primeiramente, providenciar equipamentos capazes de diminuir ou impedir a poluição produzida por suas atividades . Neste ponto, o vetusto Decreto reclamava uma avaliação ou estudo dos impactos ambientais que pudessem atingir o meio ambiente a ser explorado. Para as empresas que já estivessem em operação, o Decreto em questão presumia que estas observassem a nova legislação, o que não impedia fiscalização do empreendimento. Além disso, para as empresas instaladas que não estivessem cumprindo com o DL, far-se-ia necessária adequação à nova ordem normativa. De fato, toda a legislação posterior ao DL 1.413 de 1975 cuidava de impedir ou reconhecer o “direito de poluir”, sendo, portanto, sensível à realidade jurídica da época, no sentido de que as mudanças ocorreriam de forma gradual. A Lei nº 6.938/81 representou, em certa medida, uma mudança qualitativa no sistema legal de proteção ambiental, pois buscou criar um sistema estruturado e organicamente coerente de medidas a serem adotadas para o alcance dos objetivos fixados já a partir do DL 1.413 de 1975. Vale lembrar que a Lei nº 6.938/1981 elevou a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) à categoria de instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Outrossim, é importante ressaltar que, mesmo com a Lei nº 6.938/1981, os arts. 9º e 10º da Lei nº 6.803/1980 ainda continuam em vigor, eis que completamente coerentes com a Lei nº 6.938 de 1981. No que tocam às avaliações de estudo de impacto ambiental, temos que a resolução mais importante é a número 1, de 23 de janeiro de 1986 (alterada pela de nº 237/97). Esta Resolução buscou dar uma regulamentação, a mais completa possível, sobre o assunto, muito embora diversos assuntos pertinentes ao tema remanescessem carentes. A mais importante de todas as inovações operadas diz respeito ao fato de resolução 1/1986 ter inovado no instituto definido pelo art. 9º, III da Lei 6.938/1981, pois a Avaliação de Estudo de Impacto Ambiental era efetivada através da realização de EIA e dos respectivos Relatórios de Impacto Ambiental – RIMA. Posteriormente, a denominação Estudo de Impacto Ambiental acabou se popularizando. Hoje, bem se sabe que a exigência de estudos de impacto ambiental, ou de qualquer outra forma de avaliação de impacto ambiental, é medida tipicamente administrativa e, portanto, praticada pelo Poder Executivo. Além disso, a Avaliação de Impacto Ambiental – AIA coloca-se como mecanismo de realização do desenvolvimento sustentável. Mas afinal, o que é a AIA? Tendo em vista que qualquer projeto de desenvolvimento interfere no meio ambiente, mas, igualmente, sendo certo que o crescimento socioeconômico é um imperativo, deve haver mecanismos que conciliem tais fatores, minimizando os impactos ecológicos negativos. Um desses mecanismos é a AIA. Importante não incidir no equívoco reducionista de entender a AIA como apenas o EIA. A AIA pode ser implementada tanto para projetos que envolvam execução física de obras e processo de transformação como para políticas e planos que contemplem diretrizes programáticas, limitadas ao campo das ideias, neste caso denominada Avaliação Ambiental Estratégica. Já o EIA é apenas uma ferramenta do licenciamento ambiental. Nos termos da Resolução CONAMA nº 237/9716, A AIA, POR ELA DENOMINADA DE “ESTUDOS AMBIENTAIS”, É GÊNERO DO QUAL SÃO ESPÉCIES TODOS OS ESTUDOS PARA ANÁLISE DA LICENÇA AMBIENTAL, TAIS COMO: relatório ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área degradada e análise preliminar de risco. Essas outras espécies de Estudos Ambientais (ou AIAs), poderão ser requisitadas na hipótese de não se exigir o EIA. Estudo de Impacto Ambiental – EIA O EIA é um dos instrumentos da PNMA, previsto no art. 225, § 1º, IV, CR/88 e no art. 9º, III, da PNMA. A PNMA concedeu ao CONAMA a competência de estabelecer normas e critérios para o licenciamento (e não licenciar) de atividade efetiva ou potencialmente poluidora. Não invade a competência dos Estados o estabelecimento dessas normas, desde que gerais, já que a competência para legislar sobre meio ambiente é concorrente. Esse órgão assim o fez, por meio da Resolução CONAMA 001/86 – a qual regulamenta o EIA, sendo exigido como condição de licenciamento em obras, atividades ou empreendimentos potencialmente causadores de significativa degradação ambiental. O EIA pode ser definido como a análise prévia das prováveis modificações ambientais em decorrência da implantação de uma obra ou atividade potencialmente nociva. Entretanto, existe outro conceito trazido pela Resolução nº 1/86 do CONAMA, anotando que é o estudo (procedimento administrativo) que visa a antecipar “qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, que, direta ou indiretamente, afetem a saúde, segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente, e a qualidade dos recursos ambientais”, com o escopo de permitir seja verificada a viabilidade ambiental de obra ou atividade potencialmente causadora de degradação, bem assim as medidas mitigatórias que deverão ser adotadas visando à redução do mencionado impacto. Ou ainda: é um mecanismo administrativo preventivo e obrigatório de planejamento visando à preservação da qualidade ambiental. Possui natureza jurídica de pré-procedimento administrativo, vinculado ao licenciamento ambiental, de natureza constitucional (CR, art. 225, § 1º, IV), destinado a avaliar impactos e definir medidas mitigadoras e/ou compensatórias pela introdução de atividade significativamente degradante. O EIA é feito antes da concessão da licença prévia, como uma condição à expedição desta. O caráter do EIA é preventivo e obrigatório. A CR exige o estudo prévio de impacto ambiental para as atividades potencialmente poluidoras. É norma de caráter absoluto, que não comporta exceção (STF, ADI 1.086/SC). O EIA deve: a) Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos do projeto; b) Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em implantação na área de influência do projeto, e sua compatibilidade; c) Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização do projeto, confrontando-as com a hipótese de não executar o projeto; d) Identificar e avaliar os impactos ambientais do projeto; e) Apresentar estudos detalhados da área em que o projeto será instalado; f) Indicar as medidas para corrigir os impactos ambientais desfavoráveis; g) Demonstrar como serão distribuídos socialmente os ônus e os benefícios do projeto. Lembrar que o art. 69-A da Lei nº 9.605/98 estabelece que é crime apresentar ou elaborar, no licenciamento ambiental, laudo ou relatório ambiental falso ou enganoso, seja total ou parcialmente, inclusive por omissão. Relatório de Impacto no Meio Ambiente – RIMA Já o RIMA é o documento final que reúne os dados do EIA, apresentado ao órgão ou entidade de meio ambiente, geralmente do Estado-membro no qual se localiza/se pretende localizar a atividade. Por ser documento final, deve ser elaborado após encerrado o EIA. Ele sistematiza os estudos realizados, trazendo de forma concatenada todas as informações obtidas, as discussões da equipe multidisciplinar, suas conclusões e as propostas decorrentes dos levantamentos efetuados na fase de estudo, inclusive quanto a “alternativas tecnológicas e de localização do projeto”.Ele deverá conter as conclusões deste e demonstrar, no mínimo: a) Os objetivos e justificativas do projeto; b) A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação da atividade; c) A descrição dos efeitos esperados das medidas mitigadoras etc. Atividades que exigem o EIA/RIMA O art. 2° da Resolução nº 1/86 estabelece o rol das atividades ou obras cujo licenciamento não prescindem da realização do EIA. Paulo de Barros defende que “somente para as atividades expressamente enumeradas pelo CONAMA podem tais instrumentos ser exigidos, face a sujeição da Administração Pública ao princípio da legalidade”. Entretanto, esse parece não ser (e não é) o melhor entendimento. Essa Resolução estabeleceu, na verdade, um mínimo obrigatório, que pode ser ampliado, jamais reduzido. Há, nessas atividades abaixo listadas, verdadeira presunção absoluta17 de que são potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente. Assim, poderão todos os entes aumentar este rol em suas legislações. Entretanto, o que não pode, acredito, é haver a imposição da realização do EIA sem expressa previsão normativa que o determine. Serão exigidos tanto para obras públicas quanto particulares. São as seguintes as hipóteses EXEMPLIFICATIVAS de exigência: a) Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento; b) Ferrovias; c) Portos e terminais de minérios, petróleo e produtos químicos; d) Aeroportos; e) Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgotos sanitários; f) Linhas de transmissão de energia elétrica acima de 230 kW; g) Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos; h) Extração de combustíveis fósseis; i) Extração de minérios; j) Usinas de geração de eletricidade; k) Aterros sanitários; l) Complexo e unidades industriais e agroindustriais; m) Distritos industriais; n) Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100 ha; o) Qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade superior a 10 toneladas por dia; p) Projetos agropecuários que contemple áreas acima de 1.000 ha; q) Instalações nucleares, centrais nucleares e outros reatores nucleares. Competência para análise do EIA/RIMA A competência para traçar regras básicas para a realização do EIA/RIMA é, como visto, do CONAMA. O ente público responsável pela exigência do EIA/RIMA será aquele responsável pelo licenciamento ambiental da atividade. No estado federativo, “o ponto fundamental que deve ser considerado é que o licenciamento é basicamente uma atividade a ser exercida pelo Poder Público estadual. As autoridades federais somente podem atuar em casos definidos ou supletivamente à autoridade estadual. Os Municípios poderão complementar, no que couber, as exigências dos órgãos estaduais para atender necessidades locais” (Paulo de Bessa Antunes. Direito Ambiental. 2ª ed. Lúmen Júris, 1998). Um dos critérios primordiais que foi estabelecido para o licenciamento e análise do EIA/RIMA é o da área de influência direta do projeto. A atribuição administrativa de analisar o EIA/RIMA será dada de acordo com as atribuições conferidas nos arts. 8º a 9º da LC nº 140/11. Nesse sentido: Art. 13. Os empreendimentos e atividades são licenciados ou autorizados, ambientalmente, por um único ente federativo, em conformidade com as atribuições estabelecidas nos termos desta Lei Complementar. § 1º Os demais entes federativos interessados podem manifestar-se ao órgão responsável pela licença ou autorização, de maneira não vinculante, respeitados os prazos e procedimentos do licenciamento ambiental. § 2º A supressão de vegetação decorrente de licenciamentos ambientais é autorizada pelo ente federativo licenciador. § 3º Os valores alusivos às taxas de licenciamento ambiental e outros serviços afins devem guardar relação de proporcionalidade com o custo e a complexidade do serviço prestado pelo ente federativo. Art. 14. Os órgãos licenciadores devem observar os prazos estabelecidos para tramitação dos processos de licenciamento. § 1º As exigências de complementação oriundas da análise do empreendimento ou atividade devem ser comunicadas pela autoridade licenciadora de uma única vez ao empreendedor, ressalvadas aquelas decorrentes de fatos novos. § 2º As exigências de complementação de informações, documentos ou estudos feitas pela autoridade licenciadora suspendem o prazo de aprovação, que continua a fluir após o seu atendimento integral pelo empreendedor. § 3º O decurso dos prazos de licenciamento, sem a emissão da licença ambiental, não implica emissão tácita nem autoriza a prática de ato que dela dependa ou decorra, mas instaura a competência supletiva referida no art. 15. § 4º A renovação de licenças ambientais deve ser requerida com antecedência mínima de 120 (cento e vinte) dias da expiração de seu prazo de validade, fixado na respectiva licença, ficando este automaticamente prorrogado até a manifestação definitiva do órgão ambiental competente. Dispensa do EIA/RIMA e Relatório Ambiental Simplificado A Constituição da República não oferece qualquer margem de discricionariedade para se dispensar o EIA/RIMA em casos de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente. Qualquer lei ou ato administrativo que assim dispuser será fatalmente inquinado de vício de inconstitucionalidade, por excepcionar onde o constituinte não o fez. Quanto ao tema, importante trazer importante esclarecimento doutrinário: “Empreendedores e Administração Pública têm na relação do art. 2º da Resolução 1/86-CONAMA a indicação constitucional de atividades que podem provocar significativa degradação do meio ambiente [...] A Resolução 1/86 do CONAMA, na realidade, estabeleceu um mínimo obrigatório, que pode ser ampliado, mas jamais reduzido. Há verdadeira presunção absoluta de que as atividades previstas na referida resolução são potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente” (MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 18ª Ed. revi. atual. e ampl. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 239-240) Veja, no entanto, que se o empreendimento não for potencialmente causador de significativo impacto ambiental, caberá à Administração determinar se será necessário ou não o EIA/RIMA. Nesse sentido: Resolução CONAMA nº 237/1997: Art. 3º- A licença ambiental para empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação do meio dependerá de prévio estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA), ao qual dar-se-á publicidade, garantida a realização de audiências públicas, quando couber, de acordo com a regulamentação. Parágrafo único. O órgão ambiental competente, verificando que a atividade ou empreendimento não é potencialmente causador de significativa degradação do meio ambiente, definirá os estudos ambientais pertinentes ao respectivo processo de licenciamento. Assim, quando o empreendedor solicitar o licenciamento, o órgão ambiental pode: 1) flexibilizar a sequência desse licenciamento e, 2) flexibilizar a exigência dos estudos ambientais, se contentando com o relatório ambiental simplificado, porque a atividade não é potencialmente causadora de significativa degradação ambiental. Procedimento Inicialmente, o empreendedor realiza uma consulta ao órgão ambiental, o qual emite instruções normativas e termo de referência, que deverá conter os itens a serem observados para a elaboração do EIA/RIMA; o empreendedor, então, licita, contrata ou providencia a realização do EIA/RIMA; o EIA/RIMA é elaborado por equipe multidisciplinar; o empreendedor submete os estudos ao órgão ambiental; aceitos os estudos e o relatório, o órgão os colocaà disposição do público, designando a audiência pública; realizada a audiência, o órgão ambiental elabora a Ata, finaliza a análise do EIA/RIMA e emite o parecer técnico; após, o órgão ambiental faz exigências, concedendo ou negando a licença ambiental. Publicidade e Audiências Públicas Deve ser dada publicidade ao EIA e ao RIMA, por disposição constitucional. Entretanto, a publicidade deve dar o devido respeito às matérias de sigilo industrial; não obstante, cabe ao requerente invocar e demonstrar que o sigilo deve ser preservado. De acordo com a Resolução nº 1/86 do CONAMA, qualquer interessado poderá obter cópia desses instrumentos. Já as audiências públicas visam a permitir a participação de terceiros no processo de licenciamento ambiental, os quais poderão apresentar dúvidas/críticas/sugestões acerca do projeto apresentado, além de ser um instrumento de publicização do processo. Nem sempre elas ocorrerão . Elas serão obrigatórias apenas se previstas na lei do ente ou se ocorrer as seguintes hipóteses previstas na Resolução nº 9/87, do CONAMA: a) Requeridas pelo Ministério Público; b) Requerida por entidade civil com assento no Conselho Estadual do Meio Ambiente – COSEMA; c) Solicitada por mais de 50 cidadãos (e não pessoas). Vinculação ao EIA/RIMA A realização do EIA/RIMA NÃO CONFERE DIREITO AO DEFERIMENTO DA LICENÇA ao empreendedor por parte dos órgãos técnicos, já que é apenas uma etapa no processo de licenciamento da obra ou atividade. As conclusões do EIA não vinculam o órgão ambiental. Isso é óbvio, já que o EIA/RIMA é elaborado no interesse do empreendedor que solicita a licença. O que é vinculativo é sua feitura, nas hipóteses em que a lei ou a Administração o exigirem. O objetivo do estudo é orientar a decisão da Administração e informá-la sobre as consequências ambientais de um determinado empreendimento. Para acolher ou deixar de acolher as diretrizes do EIA/RIMA, o órgão ambiental deverá fundamentar a sua decisão. Não se exige do órgão ambiental que faça um estudo de impacto paralelo ou um contraestudo, mas que aprecie em profundidade o estudo do impacto apresentado. Certo é que o EIA/RIMA não pode vincular a Administração, já que ele será elaborado pelo particular, em interesse próprio. Ele é apenas subsídio para a análise pelo órgão competente, que deve cuidar de seu teor, verificando se realmente confere com a realidade e tomando as conclusões sobre o licenciamento prévio do empreendimento. O EIA atua no plano da motivação do ato administrativo relativo ao licenciamento. Assim, sempre que o administrador decidir de maneira divorciada da solução proposta no EIA, ele deverá motivar a decisão e expor as razões que o levaram a optar por outra solução. Essa motivação poderá ser examinada pelo Judiciário. ENTRETANTO, CASO O EIA/RIMA SEJA APROVADO PELO ÓRGÃO AMBIENTAL COMPETENTE, SERÁ OBRIGATÓRIA A EXPEDIÇÃO DA LICENÇA AMBIENTAL. Cabe somente à Administração fixar o prazo para se manifestar sobre o EIA/RIMA, o qual, em qualquer caso, será contado a partir de seu recebimento pelo órgão competente. EIA/RIMA e Estudo de Impacto de Vizinhança – EIV O Estatuto da Cidade introduziu na legislação federal o chamado Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), com vistas a analisar os impactos na qualidade de vida da população do entorno que possam advir de EMPREENDIMENTOS URBANOS. O EIV, embora guarde semelhança com o EIA/RIMA, com ele não se confunde. Aquele tem a finalidade de verificar o impacto do empreendimento no Município, como o aumento do trânsito, a valorização/desvalorização urbana etc. Já o segundo busca aferir o impacto no meio ambiente. A lei municipal deverá estabelecer quais empreendimentos precisarão do EIV para obter as licenças de construção, ampliação ou funcionamento. Ele será obrigatório, sendo condição para a obtenção do alvará de construção. Logo, somente se pode exigir EIV se houver lei municipal que o preveja. . **DIVERSOS: . O QUE SE ENTENDE SOBRE FUNÇÃO PLURIFUNCIONAL DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL? O licenciamento ambiental é plurifuncional, pois se presta a diversas funções: a) objetiva o controle de atividades potencialmente poluentes; b) operacionaliza os princípios da precaução, prevenção e poluidor- pagador; c) impõe medidas mitigadoras e compensatórias para a degradação ambiental; d) possibilita inserir determinada atividade na programação e planificação do desenvolvimento econômico nacional, regional ou local; e e) instrumento de direito econômico, pois importa no planejamento e na tomada de decisões sobre o que preservar e o que degradar. O QUE É O EIA E QUAIS SUAS CONDICIONANTES? QUAL É SUA NATUREZA JURÍDICA? EIA é “um estudo das prováveis modificações nas diversas características socioeconômicas e biofísicas do meio ambiente que podem resultar de um projeto proposto”. O estudo afere se os benefícios sociais oriundos do projeto se sobrepõem aos danos ambientais que serão causados. Natureza jurídica: Trata-se de procedimento administrativo preventivo, cujo objeto é antever os eventuais efeitos prejudiciais ao meio ambiente que poderão ser causados pela implementação de uma obra ou atividade potencialmente degradatória, permitindo a adoção de medidas mitigadoras ou compensatórias dos danos dela decorrente. O EIA está sujeito a três condicionantes (T-C-M): Transparência administrativa – o EPIA é divulgado publicamente, respeitado o sigilo industrial; Consulta aos interessados – possibilidade de efetiva participação e fiscalização da atividade administrativa por parte da comunidade, que pode exprimir suas dúvidas e preocupações; Motivação da decisão ambiental – quando a Administração opta por uma das alternativas apontadas pelo EPIA que não seja ambientalmente a melhor, ou quando deixa de determinar sua elaboração por inexistência de “significativa degradação”, deve fundamentar sua decisão, inclusive para possibilitar seu questionamento futuro perante o Judiciário. . **Mais (E3C): . Unidades de Uso Sustentável Trata-se de UC’s cujo objetivo básico é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de PARCELA dos seus recursos naturais. Mais explicitamente, visam a conciliar a exploração do ambiente à garantia da perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável. Tem clara ligação com o princípio do desenvolvimento sustentável. Classificam-se nesse grupo as seguintes categorias: Art. 14. Constituem o Grupo das Unidades de Uso Sustentável as seguintes categorias de unidade de conservação: I - Área de Proteção Ambiental; II - Área de Relevante Interesse Ecológico; III - Floresta Nacional; IV - Reserva Extrativista; V - Reserva de Fauna; VI – Reserva de Desenvolvimento Sustentável; e VII - Reserva Particular do Patrimônio Natural. Área de Proteção Ambiental (APA): Segundo o art. 15, é uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. A APA é constituída por terras públicas ou privadas, podendo ser estabelecidas normas e restrições para a utilização das propriedades privadas, respeitados os limites constitucionais. As APAS, por prescindirem de desapropriação de áreas particulares para sua implementação, são as mais comuns entre as UC’s. Lembrar que nela podem ser cultivados OGMs, desde que observando as regras da CTNBio. Elasnão possuem corredores ecológicos e nem zonas de amortecimento.
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