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ASPECTOS-CULTURAIS-E-BIOPSICOSSOCIAIS-DO-ENVELHECIMENTO-DIAGRAMADA (6)

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Aspectos Culturais 
e Biopsicossociais 
do Envelhecimento 
 
 02 
 
 
1. A Cultura como Análise dos Significados 4 
A Significação Cultural da Velhice 5 
 
2. Os Mitos e Preconceitos da Velhice 8 
 
3. Cultura, Memória e Valorização da Experiência 
do Idoso 13 
Sociedades Primitivas 14 
Os Mitos e Rituais de Regeneração 15 
Sociedades Capitalistas 17 
 
4. Quem tem mais Medo de Envelhecer: O Homem 
ou a Mulher? 20 
Envelhecer - Um desafio 25 
Envelhecimento Social 26 
 
5. Aspectos Psicológicos do Envelhecimento 29 
Mudanças nas Funções Cognitivas 33 
Aprendizagem 34 
Funcionamento Intelectual 35 
Criatividade 35 
Linguagem 35 
Outras Alterações 36 
 
6. Referências Bibliográficas 42 
 
 
 03 
 
 
 
 
 
 4 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
1. A Cultura como Análise dos Significados 
 
 
Fonte: BBC1 
 
azer uma análise antropológica 
da cultura é interpretar os di-
versos significados simbólicos cria-
dos pelos diferentes grupos huma-
nos sobre vários temas. Neste traba-
lho, os significados que se está que-
rendo descobrir dizem respeito ao 
velho tema, velhice. 
O conceito de cultura que bus-
ca avaliar os significados é essencial-
mente semiótico e é definido pela 
perspectiva hermenêutica da Antro-
pologia, que tem como um dos seus 
maiores representantes o antropó-
logo Clifford Geertz. Esse autor pro-
põe um conceito semiótico de cultu-
ra, pois acredita “como Max Weber, 
 
1 Retirado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-52425735 
que o homem é um animal amarrado 
a teias e significados que ele mesmo 
teceu, assumindo a cultura como 
sendo essas teias e a sua análise; 
portanto, não como uma ciência ex-
perimental em busca de leis, mas 
como uma ciência interpretativa à 
procura de significado”. 
A proposta de Geertz é que o 
antropólogo deve fazer uma etno-
grafia e esta, por sua vez, implica a 
realização de uma descrição densa. 
Tudo isso, nos termos do próprio au-
tor, revela o seguinte: “O ponto a en-
focar agora é somente que a etnogra-
fia é uma descrição densa. O que o 
etnógrafo enfrenta, de fato - a não 
F 
 
 
5 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
ser quando está seguindo as rotinas 
mais automatizadas de coletar da-
dos - é uma multiplicidade de estru-
turas conceituais complexas, muitas 
delas sobrepostas ou amarradas 
umas às outras, que são simultanea-
mente estranhas, irregulares e inex-
plícitas, e que ele tem que, de algu-
ma forma, primeiro apreender e de-
pois apresentar. E isto é verdade em 
todos os níveis de atividade no seu 
trabalho de campo, mesmo o mais 
rotineiro: entrevistar informantes, 
observar rituais, deduzir os termos 
de parentesco, traçar as linhas de 
propriedade, fazer o censo domésti-
co, escrever seu diário. Fazer a etno-
grafia é como tentar ler (no sentido 
de construir uma leitura de) um ma-
nuscrito estranho, desbotado, cheio 
de elipses, incoerências, emendas 
suspeitas e comentários tendencio-
sos, escritos ou não com os sinais 
convencionais do som, mas com 
exemplos transitórios do comporta-
mento modelado”. 
Enfatiza Geertz, em outro mo-
mento de seu texto: “A cultura con-
siste em estruturas de significados 
socialmente estabelecidas, nos ter-
mos das quais as pessoas fazem cer-
tas coisas”. 
Resumindo o pensamento de 
Geertz, tem-se que a cultura não é 
um poder, alguma coisa à qual se 
possa atribuir os acontecimentos so-
ciais, as instituições, os comporta- 
mentos ou processos. A cultura 
apresenta-se como sistemas entrela-
çados de signos interpretáveis. A 
cultura é um contexto, no qual os 
acontecimentos, as instituições e os 
processos podem ser descritos de 
forma inteligível, isto é, descritos 
com densidade. 
 
A Significação Cultural da 
Velhice 
 
Na nossa sociedade, ser velho 
significa na maioria das vezes estar 
excluído de vários lugares sociais. Um 
desses lugares, densamente valori-
zado, é aquele relativo ao sistema pro-
dutivo, o mundo do trabalho. Estar 
alijado ao sistema produtivo quase 
que inteiramente define o “ser velho”. 
O alijamento do mundo produtivo - 
extremamente valorizado, na nossa 
cultura - espalha-se, criando barrei-
ras impeditivas de participação do ve-
lho nas outras tantas e diversas di-
mensões da vida social. 
Assim, a partir da argumenta-
ção precedente, uma primeira avalia-
ção do significado de ser velho, na 
nossa cultura, deve, sem dúvida, levar 
em conta a análise do mundo econô-
mico, do trabalho, das ideias de pro-
dutividade/improdutividade e como 
esses mesmos elementos são simboli-
camente constituídos para os sujeitos 
- velhos, não velhos, homens, mulhe-
res, classes sociais, etc. - que vivem 
nesta sociedade. 
 
 
6 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
É importante apontar que uma 
ampliação do significado de produ-
tor está sendo discutida e, cada vez 
mais, utilizada pelos profissionais, 
sejam os que diretamente trabalham 
com o segmento idoso, sejam aque-
les que são responsáveis pelo dese-
nho de uma política social para este 
mesmo segmento. Esta ampliação 
significa não mais somente medir a 
produtividade econômica e, conse-
quentemente definir o produtor a 
partir desse único critério, mas alar-
gar o significado de produtor na di-
reção das outras esferas da vida so-
cial, passando assim a classificar de 
modo a incluir o velho como “produ-
tivo” e/ou “produtor social”. 
Outros significados aparecem 
ligados à ideia de velho quando se 
estuda identidade social desses su-
jeitos. Com certeza, a análise da 
construção das identidades sociais é 
um campo vasto e rico de possibili-
dades de desvendamento de signifi-
cados criados pela nossa sociedade, 
ou setores da mesma, para explicar 
o que é, ou quem é velho. 
Na construção da identidade 
de velho evidencia-se a existência de 
um jogo de contrastes de identida-
des sociais, que aponta para o con-
junto das mesmas - identidades - 
formando um sistema e criando uma 
estratégia de diferenças. Partindo 
dessa concepção se tem clara a ideia 
de que a identidade do “eu” é cons-
truída pela oposição à identidade do 
“outro”. 
Assim, na nossa sociedade, a 
identidade de idosos se constrói pela 
contraposição à identidade de jovem 
e, como consequência, se tem tam-
bém a contraposição das qualidades: 
atividade, força, memória, beleza, 
potência e produtividade como ca-
racterísticas típicas e geralmente 
imputadas aos jovens e as qualida-
des opostas a estas últimas, presente 
nos idosos. 
Estes significados levantados 
sobre “velho” na nossa sociedade re-
presentam uma pequena amostra de 
um número muito maior de outros 
significados elaborados a respeito 
dos sujeitos idosos. 
 
 
 
 
 
 
 
 8 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
2. Os Mitos e Preconceitos da Velhice 
 
 
Fonte: UOL2 
 
s pessoas individualmente e a 
sociedade em geral olham o en-
velhecer com muitas restrições e 
ideias preconcebidas, como se essa 
fase fosse um período tempestuoso e 
cinzento, de total decrepitude e até 
mesmo castigo. Veem a velhice co-
mo sinônimo de senilidade. 
A ideia de envelhecimento é 
um processo pessoal, multidimensi-
onal e multivariado. Diverge de pes-
soa para pessoa, de grupo para gru-
po e de época para época. 
 
2 Retirado em https://www.uol.com.br/vivabem/stories/conheca-9-mitos-sobre-o-envelhecimento/ 
Na opinião dos estudiosos, 
não há “velhice” (teórica ou abstra-
ta) e sim pessoas que envelhecem de 
modo essencialmente personalizado 
e original. É uma experiência única e 
diferenciada. 
Gaiarsa, no seu livro Como en-
frentar a velhice, diz com muita ên-
fase: “Ser velho, além de um fato, é 
um conjunto de convenções sociais 
da pior espécie. Não sei o que pesa 
mais sobre os velhos, se é a idadeou 
a ideia que fazem de si mesmos, mo- 
A 
 
 9 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
vidos pelo modo como são tratados, 
levados pelas ideias tantas vezes vin-
gativas que orientam o comporta-
mento da maioria deles”. 
Podemos constatar o trata-
mento que a sociedade dá aos seus 
velhos porque, sob esta ótica, é uma 
parcela da população marginalizada, 
fruto de muitos preconceitos incoe-
rentes e inconsequentes. 
São falsas várias ideias lança-
das sobre o velho, sempre salientan-
do os aspectos negativos, decaden-
tes, e não os aspectos positivos da 
sua personalidade, como: mais sabe-
doria, mais discernimento, mais se-
gurança, mais liberdade, mais gene-
rosidade e mais experiência. 
São aspectos negativos eviden-
ciados como as perdas, a decadência 
e a decrepitude. Isso como a esclero-
se e a senilidade fossem inevitáveis. 
Sobre o velho, jogam-se mui-
tos mitos: 
Mito da Inutilidade: “O velho não 
produz, logo pensam que deve ser 
eliminado da sociedade”. Num siste-
ma capitalista e consumista, só tem 
valor quem produz e quem consome, 
gerando lucros. O velho é conside-
rado improdutivo. Porém, não é ob-
servado que a experiência e a visão 
ampla do velho podem quantificar a 
produção e acima de tudo qualificá-
la. Não é só o jovem que produz e 
consome, o velho pode fazer outras 
atividades também produtivas e se 
tiver recursos também vai consumir, 
não apenas em remédios. 
Mito do Antiquado: Julgam o ve-
lho inoportuno, superado, desatuali-
zado, inadequado, quando não até 
ridículo, têm-no como sinônimo de 
“velharia descartável”. 
É evidente que a evolução in-
dustrial e a tecnologia cresceram ra-
pidamente e as gerações mais anti-
gas não conseguiram acompanhar 
todo seu avanço. Porém, todo desen-
volvimento aconteceu graças aos ex-
perimentos empíricos ou pouco ci-
entíficos por eles realizados. 
O ideal é unir a força, o dina-
mismo e o vigor do jovem com a ex-
periência e a prudência dos mais vi-
vidos, resultando num melhor cami-
nho para o progresso. 
Mito da Fealdade: As aparências 
e a beleza exterior são supervaloriza-
das em nossa sociedade: “Tudo o 
que é novo e belo, tudo o que é velho 
e feio”. Isto é uma maneira simplista 
e superficial de encarar a vida. Até 
nos meios de comunicação social, na 
literatura, no teatro e mesmo no am-
biente familiar e social o jovem é o 
galã, o mocinho, o bem-sucedido; 
restando para o velho a fealdade e o 
ridículo. A fada aparece sempre co-
mo uma bela jovem e a dona bruxa é 
uma velha horrenda. Isso não é dis-
criminação? 
Os meios de comunicação 
eventualmente divulgam e elogiam 
 
 10 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
os movimentos, programas e ativi-
dades para idosos, mas paradoxal-
mente expõe o velho ao ridículo em 
novelas, programas humorísticos, 
charges, etc. 
Mito da Esclerose: Identificam o 
velho como alguém que perdeu a 
memória, o raciocínio e até a lógica, 
como se isso fosse reservado somen-
te aos velhos e, obrigatoriamente, a 
todos os velhos. Não percebem que o 
jovem também esquece, também se 
engana e ainda age muitas vezes de 
maneira ilógica. 
Mito da Impotência: Não apenas 
para o trabalho, mas, sobretudo a in-
capacidade sexual, basta ver o apelo 
da mídia da TV e do cinema. Esse é 
o mito mais acentuado e o pior, e por 
pura ignorância da realidade orgâni-
ca e psicológica do ser humano nor-
mal. Hoje os médicos, os psicólogos 
e sexólogos já desmistificaram esse 
assunto tão importante para a pes-
soa idosa em todas as etapas as sua 
existência. A ideia hoje é comum: “O 
corpo muda, a sexualidade continua, 
a sensibilidade fica mais refinada e 
mais bela”. 
Mito de que a Velhice é doença: 
Não é verdade, há muitos meios de 
prevenir e de preservar a saúde física 
e mental. Há doenças que são atri-
buídas aos velhos, no entanto, os jo-
vens também podem ser acometidos 
de muitas delas que tiveram início 
na infância e se agravaram no decor-
rer da vida. Velhice é uma questão 
para a Gerontologia, doença é uma 
questão para a Medicina Geriátrica. 
Mito da Alienação: Aqui a socie-
dade cria um estereótipo de pessoa 
desligada do real, desengajada. Su-
bestima a capacidade de pensar, de 
opinar, de participar, de pessoas 
aposentadas ou não, com a idade 
avançada. O velho é rejeitado e mar-
ginalizado, até dentro do próprio lar. 
Assim discriminado, o velho, 
por imposições - veladas ou declara-
das - recolhe-se em seus aposentos 
(aposentado), dentro de seu pijama, 
numa cadeira de balanço e de frente 
para a televisão. Quanto mais isola-
do tanto mais alheio, perdendo, as-
sim, seu referencial, a sua identida-
de e o seu papel. 
Para a sociedade indiferente, 
quanto mais calado e alheio, tanto 
melhor. Ele se acomoda, não reivin-
dica seus direitos, desativa sua atua-
ção social, priva-se da sua participa-
ção política e morre socialmente 
antes da morte física. 
No entanto, quando o idoso é 
aceito, valorizado e motivado pres-
ta significativa contribuição. A par-
ticipação na vida familiar, na vizi-
nhança e na comunidade é sempre 
uma oportunidade de integração e 
de vida. 
 
 
 11 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
O mito da Inflexibilidade: Para 
não permitir a participação do velho 
nas decisões importantes, taxam-no 
de inflexível, teimosos e até fanático, 
o que não é verdade. Ele é prudente 
e experimentado na faina da vida, 
mas cede quando percebe a raciona-
lidade. 
Assim citamos alguns mitos e 
principais tabus que são atribuídos 
aos velhos. Estes terminam aceitan-
do-os e sofrendo pela própria retra-
ção e consequente isolamento. 
O que se faz necessário, e com 
a máxima brevidade, é que o próprio 
idoso assuma seu papel inalienável 
na sociedade e não aceite ser sub-
misso ao que lhe impõe. 
Sartre, na sua sapiência, já 
afirmava: “O pior não é aquilo que os 
outros fazem de nós. O pior é aquilo 
que nós fazemos daquilo que os ou-
tros fazem de nós”. 
Vale ressaltar que o idoso que 
se recolhe em seu pijama, não por si 
mesmo, mas por imposições da soci-
edade. Aposentado - recolhido a 
seus aposentos. 
Muitos são os limites impostos 
à terceira idade pela sociedade capi-
talista, sob o pretexto de que já pas-
sou o seu tempo e que agora deve 
acomodar-se, “descansar e dar lugar 
para os mais jovens”. 
Sem os mitos e preconceitos 
sociais, a velhice poderia ser enfren-
tada com mais coragem e menos so-
frimento, pois como alguém já afir-
mou com muita sabedoria e lucidez: 
“A velhice é o domingo da vida”. 
A vida humana é um processo, 
tem seus altos e baixos, mais vai acu-
mulando experiências, sentimentos, 
vivências que enriquecem a cami-
nhada e somam-se os êxitos e os fra-
cassos como estímulo para novas 
conquistas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 13 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
3. Cultura, Memória e Valorização da Experiência do 
Idoso 
 
 
Fonte: Parceiros do Futuro3 
 
envelhecimento não é um fenô-
meno biológico, fisiológico so-
bre o qual podemos meramente, 
agregar os aspectos sociais, culturais 
e psicológicos. Todos estes elemen-
tos estão intrinsecamente relaciona-
dos e em recíproca inter-relação. As 
alterações e modificações que afe-
tam o funcionamento físico ou psí-
quico do organismo humano, con-
forme o contexto social e cultural, 
podem ser ou não valorizadas e con-
ferir ou não posição de destaque ao 
 
3 Retirado em https://parceirosdofuturo.com.br/ 
seu portador. Em todas as socieda-
des, os seres humanos, enquanto ca-
racterístico universal da espécie nas-
cem, ficam adultos, envelhecem e 
morrem, mas o que é variável é o mo-
do como as diversas sociedades e cul-
turas trabalham com esses momentos 
da vida. São diversos os modos como 
se constrói e se percebe essas etapase, como decorrência, vamos ter inú-
meras formas de percepção não só da 
velhice como também de outros mo-
mentos de nossa existência. 
O 
 
 14 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
A organização social vai deter-
minar para cada época um estatuto 
diferencial para a idade. O momento 
histórico que irá trazer grandes mo-
dificações para aquelas pessoas que 
foram enquadradas na classe ou gru-
po de pessoas velhas, será aquele em 
que as sociedades passam a se estru-
turar por meio de contradições com 
relação à acumulação de bens, ri-
quezas e propriedades. Os destinos 
das pessoas de idade passam a de-
pender da acumulação privada de 
bens, que vão determinar a miséria 
de uns e a possibilidade para outros 
de uma vivência protegida e cercada 
pelos laços familiares. Nesse mo-
mento, a equivalência entre acumu-
lação de experiência e conhecimento 
sociais, que nas sociedades “primiti-
vas” está ligada à progressão da pes-
soa nas etapas do ciclo vital e que, 
em muitos casos, proporciona uma 
posição de destaque no sistema de 
status, é rompida. Esse rompimento 
colocará de forma diferenciada, em-
bora cada vez de modo mais claro, à 
medida que a propriedade e acumu-
lação passam a determinar mais e 
mais os destinos e a valorização so-
cial das pessoas. 
Para examinar a realidade e o 
significado da velhice, é necessário 
conhecer em diferentes épocas e lu-
gares, no conjunto daquela socieda-
de, qual o lugar nela atribuído aos 
velhos. 
 Conforme Magalhães, nas cul-
turas tradicionais o idoso sempre foi 
visto como sendo símbolo de sabe-
doria, através do ato de lembrar e 
dar expressão a suas lembranças: “O 
papel da memória é tradicional-
mente valorizado entre os mais ve-
lhos, assim como suas lembranças 
constituem o patrimônio coletivo, 
expresso e revivido permanente-
mente no contato com as novas ge-
rações, sejam crianças ou adultos. 
Ao velho e ao antigo cabem, na soci-
edade tradicional, papéis e padrões 
comportamentais apoiados no valor 
da respeitabilidade”. 
 
Sociedades Primitivas 
 
Em muitas sociedades a expe-
riência e os conhecimentos acumu-
lados constituem um trunfo para os 
velhos, mas, em algumas delas, em 
algumas circunstâncias, não é sufici-
ente para lhes garantir um lugar 
abrigado que lhes permita morrer 
nela amparado pelos demais. 
Frazer aponta para a tendên-
cia de toda a sociedade: VIVER E 
SOBREVIVER. Nesta posição ela 
exalta o vigor e a fecundidade asso-
ciados no ciclo de vida à juventude, 
enquanto teme o desgaste, a esterili-
dade da velhice. Em comunidades 
onde o chefe é a encarnação da di-
vindade, muitas vezes ao manifestar 
 
 15 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
sinais de declínio ele deve pronta-
mente ser sacrificado e novo chefe 
deve ser investido de poder e prestí-
gio, pois se as forças da divindade se 
esgotarem com ele, o mundo rapida-
mente pereceria. 
Entre os Dinda, segundo Fra-
zer, algumas pessoas idosas em uma 
tribo são responsáveis por fenôme-
nos e atividades consideradas essen-
ciais à coletividade - a chuva, a caça, 
a pesca, etc. Se mostrarem sinais de 
fraqueza são enterrados vivos - ceri-
monial ao qual eles se prestam vo-
luntariamente - pois estão transmi-
tindo a outros, antes que declinem, 
poderes necessários à sobrevivência 
da coletividade. As cerimônias fúne-
bres nestes casos representam, pois 
uma festividade, um rejuvenesci-
mento do princípio vital. 
 
Os Mitos e Rituais de Regene-
ração 
 
Inúmeros ritos têm por objeti-
vo apagar o tempo decorrido e reini-
ciar uma existência livre do peso dos 
anos. As festas de passagem de ano e 
Ano Novo são o nosso rito atual. Nas 
monarquias europeias existe o: “O 
rei está morto. Viva o rei”. No culto 
Xintoísta no Japão os templos de-
vem ser reconstituídos a cada 20 
anos; sua decoração e mobiliário 
mudados. É uma demonstração de 
ligação do indivíduo ao mundo todo: 
reconstituindo o edifício fortalecem-
se os laços dos homens com as divin-
dades. Algumas comunidades simu-
lam expulsar os idosos de seu seio, 
protegendo-o da deterioração da ve-
lhice e fazendo aliança com a juven-
tude (serrar a velha - bonecos). 
Como se vê, para muitas co-
munidades o passar do tempo pode 
provocar o desgaste da natureza. 
Não vislumbram um porvir diferen-
te, mas procuram se apegar a um 
passado reverenciado, segundo o 
qual se modela o presente. 
Quando o velho não significa o 
envelhecimento do grupo, não existe 
razão para supri-lo. Ele terá um sta-
tus de acordo com as circunstâncias. 
Em uma sociedade que cultua a pro-
dutividade, se ele se torna improdu-
tivo, também se torna um fardo. 
Mas, ao decretar o destino do velho, 
o adulto estará determinando seu 
próprio futuro e, portanto, também 
deverá levar em conta seu interesse 
a longo prazo. 
Entre os mitos engendrados 
por uma coletividade e seu compor-
tamento pode haver muita coinci-
dência e pode haver muita distância. 
No campo que se refere ao trata-
mento dado aos velhos, muitas soci-
edades primitivas enaltecem a ve-
lhice e o velho enquanto, na realida-
de seu tratamento não condiz com 
estes prepostos ideais. Há deuses 
muito velhos, muito sábios, ou que 
 
 16 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
inventaram culturas agrícolas, pe-
cuárias ou artesanatos da maior im-
portância para a nação e como tal 
são consagrados nos mitos e lendas. 
Mas muitas vezes as condições pre-
cárias de vida, a imprevidência, o cli-
ma, trazem a urgência do presente, e 
então passado e futuro desapare-
cem, permanecendo apenas a neces-
sidade de sobrevivência no presente. 
Sociedades nômades, coletoras, vi-
vem geralmente sob estas condições, 
onde o xamanismo e a magia predo-
minam. As condições de extrema 
miséria sufocam os sentimentos. 
Quando a sobrevivência de uma co-
letividade depende dos mais aptos, 
os mais fracos são deixados à mín-
gua ou mesmo sacrificados. 
Muitas sociedades respeitam 
as pessoas idosas enquanto estas se 
mantém robustas, lúcidas e desem-
baraçadas, não tendo, porém escrú-
pulos em se livrar delas quando se 
tornam decrépitas e caducas. Para 
muitas destas comunidades a pessoa 
velha e doente está mais perto da 
morte e, portanto está em perigo e 
ameaça aos demais. Ao se livrarem 
dela estão ajudando a manter a coe-
são da comunidade, definindo o 
mundo dos vivos e o dos mortos. 
Para a maioria destas comunidades 
primitivas, ao indivíduo que enve-
lhece, é negado por exemplo, o aces-
so a determinados lugares, o conví-
vio com o sexo oposto. 
A mulher não mais fértil e o 
homem impotente, podem passar 
para outra categoria, diferente do 
adulto, onde obrigações anteriores 
não mais existem e novas atividades 
e atributos estão ao seu alcance. Mas 
o progressivo envelhecimento ou às 
vezes o abuso dos velhos podem le-
var os jovens a desejarem se livrar 
deles. 
Há também, no entanto, algu-
mas sociedades que apesar de vive-
rem nas mesmas precárias condi-
ções, reservam para os idosos posi-
ções de prestígio e tratamento dife-
renciado. Há mesmo uma ênfase em 
preservar o poder através da posse e 
através da autoridade sobre familia-
res e mesmo sobre outros membros 
do grupo. Na interpretação da escri-
tora Simone de Beauvoir, estas cole-
tividades estão agindo desta manei-
ra porque avaliam sua própria posi-
ção e tratamento na velhice e, por-
tanto, estão sendo prudentes em 
matéria de organização social, ga-
rantindo seu futuro tanto individual 
como coletivo. Também em algumas 
comunidades o velho é abrigado e 
respeitado por seus conhecimentos 
essenciais (artesãos, caçadores, 
agricultores, etc.), à manutenção e 
sobrevivência do grupo. Vivendo em 
ambientes hostis ou escasso de re-
cursos, o conhecimento que os mais 
velhos podem transmitir passa a ser 
 
 17 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAISDO ENVELHECIMENTO 
de vital importância. Em outras cul-
turas, aos velhos compete tarefas 
importantes como a marcação do 
tempo, nomear as crianças que nas-
cem, recitar a genealogia para indi-
car adequadamente o papel e o lugar 
do indivíduo dentro de seu mundo, 
transmitir as lendas, e mitos e todo 
um conjunto que mantém a identi-
dade daquele povo. Em algumas co-
munidades este poder pode ser tão 
grande que eles não ensinam, tendo 
reservado para si alguns segredos 
que só são transmitidos na hora 
morte. É uma maneira de se preser-
var evitando a destituição do poder. 
 Nas sociedades primitivas os 
velhos são pouco numerosos e, por 
isso mesmo, em muitas delas, eles 
são preciosos e respeitados por sua 
experiência, principalmente pelo fa-
to de serem eles que, frequentemen-
te, detêm o saber social e o conheci-
mento místico, sendo inclusive, te-
midos por sua proximidade com os 
ancestrais. Todavia, apesar disso, é 
variável o “status” ocupado por 
aqueles que são definidos como ve-
lhos. Existem sociedades em que as 
pessoas enquadradas na classe ou 
grupo de idade dos anciãos são po-
derosas na África, as quais alguns 
autores não hesitam em classificar 
em “gerontocráticas”. Em outras pa-
lavras, os velhos, além de não terem 
poder, podem ser até abandonados 
em situações em que o grupo enfren-
ta como fome, penúria etc. 
 
Sociedades Capitalistas 
 
Eclea Bosi, ao analisar a velhi-
ce na sociedade industrial, fornece-
nos um bom material para que pos-
samos refletir sobre esta questão. A 
sociedade capitalista é que promove 
a degradação da força de trabalho, 
desgasta-a e consome-a. A idade é 
utilizada como critério de desvalori-
zação social. A sociedade justifica a 
opressão na qual os idosos são sub-
metidos através de vários mecanis-
mos, como por exemplo: a produção 
de pesquisas pseudocientíficas que 
atestam a incompetência social do 
velho e que encontram uma preten-
sa fundamentação a nível natural e 
biológico para desvalorizá-lo; o des-
pojamento do velho através de me-
canismos psicológicos que colabo-
ram para construir uma autoima-
gem negativa; os asilos que lhe tiram 
toda a criatividade e força-os a um 
comportamento padronizado; a re-
cusa ao diálogo e a reciprocidade por 
parte das pessoas mais novas, etc. 
Observemos o seguinte texto 
da autora: 
 
Quando as mudanças históricas 
se aceleram e a sociedade extrai 
sua energia da divisão de clas-
ses, criando uma série de ruptu- 
 
 
 18 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
ras nas relações entre os ho-
mens e na relação dos homens 
com a natureza, todo sentimen-
to de continuidade é arrancado 
de nosso trabalho. Destruirão 
amanhã o que construirmos ho-
je. A sociedade rejeita o velho, 
não oferece nenhuma sobrevi-
vência à sua obra. Perdendo a 
força de trabalho ele já não é 
produtor nem reprodutor. Se a 
posse, a propriedade, consti-
tuem, segundo Sartre, uma de-
fesa contra o outro, o velho de 
uma classe favorecida defende-
se pela acumulação de bens. 
Suas propriedades o defendem 
da desvalorização de sua pes-
soa. A noção que temos de ve-
lhice decorre mais da luta de 
classes que do conflito de gera-
ções. 
 
O livro de Eclea Bosi abre um 
caminho fecundo para os trabalhos 
sobre a memória. As lembranças, as 
memórias dos velhos tornam-se, as-
sim, um material de extrema impor-
tância dentro de uma sociedade co-
mo a nossa, com brutal concentra-
ção de capital e aceleração das forças 
produtivas, o sentido de continuida-
de é arrancado de nossas vidas. Este 
ângulo não escapa à Marilena Chaui 
a qual. 
 
[...] por que temos de lutar pe-
los velhos? Porque são a fonte 
onde jorra a essência da cultu-
ra, ponto onde o passado se 
conserva e o presente se prepa-
ra, pois, como escrevera Benja-
mim, só perde o sentido aquilo 
que no presente não é percebi-
do como visado pelo passado... 
A função social do velho é lem-
brar e aconselhar - memini mo-
meo - unir o começo e o fim, li-
gando o que foi e o por vir. Mas 
a sociedade capitalista impede 
a lembrança, usa o braço servil 
do velho e recusa os seus conse-
lhos... A sociedade capitalista 
desarma o velho mobilizando 
mecanismos pelos quais opri-
me a velhice, destrói os apoios 
da memória e substitui a lem-
brança pela história oficial cele-
brativa. 
 
No capitalismo, portanto, a 
acumulação de bens constitui-se a 
marca que pesa sobre os destinos 
humanos. 
O papel de memória da comu-
nidade e de transmissor da cultura 
em geral apareceu mais nas socieda-
des que preservam seus velhos. 
Não são razões econômicas, 
nem o fato de ser mais primitiva ou 
mais elaborada uma cultura, o que 
leva a tratar os velhos desta ou da-
quela maneira. 
 
O que define o sentido e o valor 
da velhice é o sentido atribuído 
pelos homens à existência, é o 
seu sistema global de valores. 
Se quisermos desvendar este 
segredo, muitas vezes cuidado-
samente oculto, devemos aten-
tar para o modo como esta soci-
edade trata seus velhos. (Simo-
ne de Beauvoir) 
 
19 
 
 
 
 20 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
4. Quem tem mais Medo de Envelhecer: O Homem 
ou a Mulher? 
 
 
Fonte: Ada Tina4 
 
ntes de passarmos à reflexão 
propriamente dita acerca das 
variáveis que influenciam a caracte-
rização do grupo etário idoso mascu-
lino como minoritário, necessário se 
faz situar este grupo no contexto da 
população brasileira. 
Embora o envelhecimento seja 
um processo extremamente indivi-
dual e condicionado à história de 
vida de cada pessoa, a organização 
Mundial da Saúde define como idosa 
a população de mais de 60 anos, en-
tendendo-se este patamar como o 
momento em que um número signi- 
 
4 Retirado em https://blog.adatina.com/envelhecimento-da-pele-do-homem-e-diferente-da-pele-da-mulher/ 
ficativo de pessoas passa a apresen-
tar as características biopsicossoci-
ais que definem o envelhecimento. 
O aumento da expectativa de 
vida e o crescimento demográfico da 
população idosa no Brasil são fatos 
recentes, razão pela qual somente 
nos últimos 20 anos tem sido discu-
tida, em termos de realidade brasi-
leira, a questão social da velhice. 
Pouquíssimos estudos e pes-
quisas a respeito desse grupo etário 
foram até hoje realizados entre nós, 
razão pela qual praticamente os úni-
cos dados de que dispomos são 
A 
 
 21 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
aqueles fornecidos pelos censos de-
mográficos e ainda assim com pou-
cas referências especificas à popula-
ção de mais de 60 anos. 
Do ponto de vista social, a po-
pulação idosa, tanto masculina co-
mo feminina, apresenta baixo grau 
de associativismo e reduzida partici-
pação política, profissional ou religi-
osa, exceção feita às poucas associa-
ções de aposentados, predominante-
mente masculinas, e aos grupos de 
lazer, predominantemente femini-
nos, que muito recentemente vêm 
sendo criados e multiplicados, e se 
constituem nas primeiras tentativas 
de rompimento do isolamento e da 
marginalização social da velhice. 
Para este quadro desalentador 
é que se encaminham, num processo 
irreversível e biologicamente deter-
minado, as pessoas que envelhecem. 
Numa perspectiva individual - 
e vale a pena ressaltar uma vez mais 
o caráter extremamente pessoal do 
processo de envelhecimento, o ser 
ou estar velho traz, portanto, uma 
série de consequências que afetam 
de forma mais ou menos intensa as 
pessoas, segundo as suas condições 
individuais, sejam elas homens ou 
mulheres. 
No que diz respeito ao homem 
velho, alguns fatores culturais tor-
nam muito difícil a adaptação a essa 
nova fase da vida, biologicamente 
determinada e socialmente imposta, 
caracterizada pelo esvaziamento de 
papéis sociais e por perdas significa-
tivas. 
O médico Claude Nahun, em 
seu artigo "A velhice da pessoa", 
afirma que trabalho eamor são antí-
dotos para a patologia da velhice. 
Realmente, a cessação do trabalho 
pela aposentadoria, a redução das 
oportunidades de expressão da afe-
tividade e as alterações da sexualida-
de, decorrentes do envelhecimento 
biológico, são os fatos que afetam de 
maneira mais efetiva a identidade 
masculina. 
Podemos dizer que com as 
mulheres, o mesmo não ocorre, pois 
mesmo que se aposentem, o papel 
de dona de casa, o papel social, con-
tinuam, além de aceitar melhor as 
alterações da sexualidade. Muitas 
podem até ter a “crise do ninho va-
zio” mas logo conseguem substituir 
por outros afazeres: Faculdade de 
Terceira Idade, rodas de amigas, etc. 
Na moderna sociedade capita-
lista em que vivemos, ser homem 
significa - e é valorizado como tal - 
estar engajado no mercado de traba-
lho, ser qualificado e reconhecido 
como produtor de bens ou serviços, 
e ter poder aquisitivo para ser um 
bom consumidor desses mesmos 
bens e serviços; em decorrência des-
sas condições, ser homem é também 
exercer autoridade a nível familiar, 
desempenhar os papéis de marido e 
 
 22 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
pai de família, bem como o de ma-
cho; reprodutor ou não, através de 
uma intensa vida sexual, dentro e 
fora do casamento. 
A partir desse enfoque, o de-
sengajamento do mercado de traba-
lho pela aposentadoria, nem sempre 
desejada, muito mais que um prê-
mio pelo esforço empreendido ao 
longo de uma vida, é vivenciado co-
mo um processo de desvalorização 
social que afeta profundamente o 
equilíbrio emocional daquele que o 
sofre. A este respeito assim se ex-
pressa o sociólogo Paul Bastíde em 
seu artigo "A ideia do tempo e o en-
velhecimento": “A dureza da socie-
dade onde vivemos, dominada por 
uma exigência de produção e de efi-
ciência, contribui para agravar o 
peso do envelhecimento”. 
Esta exigência manifesta-se 
brutalmente quando o limite de 
idade obriga a aposentadoria. “Essa 
constatação da incapacidade para a 
produção e da exclusão do ciclo da 
rentabilidade equivale para muitos, 
a uma condenação sem apelo a mor-
te social, o homem percebe que foi 
apenas um instrumento de trabalho, 
sem jamais ter tido tempo de gostar 
do que fazia e de fazer aquilo que 
gostava". 
A aposentadoria implica ne-
cessariamente no retorno a casa, a 
um convívio familiar intenso com 
pessoas das quais o homem perma-
neceu afastado a maior parte do seu 
tempo, voltado até então predomi-
nantemente ao trabalho, Nesse re-
torno, a grande maioria dos homens 
constata que o seu papel de provedor 
da família ficou bastante abalado pe-
la redução de renda que a aposenta-
doria acarreta e diminuiu, assim, de 
forma considerável a sua autoridade 
doméstica. Ele percebe também que 
seu papel de pai ficou bastante esva-
ziado: os filhos cresceram, torna-
ram-se adultos e donos da sua pró-
pria vida; com frequência julgam o 
pai ultrapassado e implicante, difi-
cilmente aceitando os conselhos que 
dele venham por entendê-los inade-
quados; constata então o homem o 
desaparecimento da sua autoridade 
paterna, Para as mulheres, hoje com 
mais de 60 anos, e que, em sua gran-
de maioria, permaneceram exclusi-
vamente dedicadas aos afazeres do-
mésticos, a presença do homem apo-
sentado em casa é, muitas vezes, 
perturbadora da ordem até então 
por elas estabelecida; essa situação é 
geradora de conflitos, os quais, ape-
nas eventualmente, são bem soluci-
onados através de uma redistribui-
ção de tarefas: e a reafirmação, a ní-
vel doméstico, da sua inutilidade, o 
relacionamento familiar, que se 
constituía muito frequentemente 
em fonte geradora de afetividade, 
 
 23 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
passa a exercer função exatamente 
inversa. 
Quase sempre, o único papel 
social que a família oferece ao ho-
mem aposentado é o de avô, muitas 
vezes confundido com o de "babá" 
dos netos, papel este que, embora 
possa ser exercido com muita afeti-
vidade, não deixa de acentuar a sua 
condição de velho, aumentando a 
sensação de inutilidade e ameaçan-
do profundamente a sua virilidade. 
Em face desta situação, o homem 
aposentado sente-se um "estranho 
no ninho", Vê decretada muitas ve-
zes a sua "solidão em família" e bus-
ca então nos bares, nos bancos de 
praça ou em visitas aos poucos ami-
gos que restaram, a possibilidade de 
viver das recordações do seu pas-
sado. 
A estes sentimentos de solidão 
e inutilidade vem se juntar, e é até 
por eles agravada, uma enorme inse-
gurança quanto ao desempenho se-
xual, um dos aspectos mais impor-
tantes da afirmação da masculinida-
de. O desconhecimento do processo 
biológico do envelhecimento e os ta-
bus que cercam a sexualidade na ve-
lhice, precipitam o fim de uma vida 
sexual que poderia ser gratificante 
até os últimos dias. Sobre esse as-
pecto do envelhecimento, assim se 
expressam Robert Butler e Myrna 
Lewis, em seu livro "Sexo e Amor na 
Terceira Idade": "Os homens são as 
principais vítimas de uma vida intei-
ra de ênfase excessiva no desempe-
nho físico. A masculinidade é equi-
parada à proeza física. Os homens 
mais velhos se julgam e são julgados 
pela comparação da frequência e po-
tência do seu desempenho sexual 
com as de um homem mais jovem. 
Estas comparações raramente valo-
rizam a experiência e a qualidade do 
sexo. Quando medidos por padrões 
essencialmente atléticos, os homens 
mais velhos são naturalmente consi-
derados inferiores". No, entanto, es-
tudos e pesquisas (realizados no 
campo da sexualidade humana) 
comprovam que sexo e velhice po-
dem caminhar juntos: é apenas uma 
questão de ritmo, habilidade e utili-
zação dos recursos existentes. 
Evidentemente o comporta-
mento da companheira pode agra-
var ou aliviar o quadro de tensão 
emocional que se instala, quando do 
surgimento das primeiras dificulda-
des decorrentes do envelhecimento 
dos órgãos sexuais, razão pela qual, 
nessa fase da vida, o diálogo entre o 
casal sobre sua vida sexual assume 
uma importância extraordinária, Da 
mesma forma, alguma doenças po-
dem trazer consequências a nível de 
desempenho sexual mas, com pou-
cas exceções, não incapacitam per-
manentemente e podem ser resolvi-
das ou minimizadas com os recursos 
de que dispõe a geriatria. 
 
 24 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
Estas considerações todas 
conduzem â conclusão de que não é 
fácil envelhecer na nossa sociedade, 
tanto para o homem como para a 
mulher. Nem é agradável, em prin-
cípio, passar a compor este segmen-
to minoritário da população consti-
tuído pelos velhos. 
Podemos dizer que, e princi-
palmente ao homem, nunca nos foi 
permitido o direito ao lazer. Sempre 
estamos preocupados com o PO-
DER, com o TER, esquecendo-nos 
muitas vezes do SER. 
Na terceira idade, na velhice, 
ou ainda na aposentadoria, o indiví-
duo na maioria das vezes deixa seu 
trabalho remunerado, mas não dei-
xa de “fazer”, de “produzir”. Essa ne-
cessidade continua, pois é constan-
te, é dinâmica, é evolutiva. 
Vários fatores bloqueiam ou 
dificultam o desempenho natural 
desse “fazer” nesse período. Os fato-
res podem ser: sociais, psicoemocio-
nais, físicos, etc. 
Acreditamos que se o lazer for 
visto como algo importantíssimo no 
desenvolvimento do ser humano, 
desde cedo a pessoa passará a execu-
tá-lo, para mais tarde, quando apo-
sentado ou idoso, saber usar o “tem-
po” sem sentir-se “culpado”, “premi-
ado”. Infelizmente nossa sociedade 
ainda não nos permite enxergá-lo de 
modo como “direito” e não um “cas-
tigo”, um “pecado”. 
Somos preparados para o tra-
balho e rendimento, muitas vezes, só 
nos dando o devido descanso e lazer, 
quando ficamos doentes, onde não 
temos outra opção. 
Cada pessoa é única e especial, 
desenvolve seu próprio processo de 
envelhecimento e o envelhecimento 
entre os sexos tempesos e valores 
diferentes. 
A mulher tem medo de enve-
lhecer, mais em relação a estética, 
pois ela está sempre preparada para 
atividades sociais, com trabalhos ca-
seiros ou não, ou então, vão em bus-
ca de algo para se realizarem, pois 
muitas vezes chegou a chance de tor-
narem-se donas de seu tempo, seu 
tempo livre, de lazer. 
O homem, após aposentado, 
dificilmente busca outra atividade. 
Se sente, conforme diz o texto, real-
mente “aposentado”, como se ti-
ves-se que ficar dentro dos aposen-
tos da casa. Dificilmente, ele busca 
algo que o realize, percebem que 
seu tempo livre é “seu”, mas está 
tão condicionado ao trabalho, que 
não se permite. 
Acredito que em termos de 
estética, a mulher tem mais medo 
ou preocupação, pois já pesquisei 
junto a meninas e meninos, crian-
ças e adolescentes, e veem a ima-
gem de “FICAR VELHA É FICAR 
FEIA”. 
 
 25 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
Quanto ao homem, é o medo 
de perder a virilidade, o papel de 
provedor e o deslocamento social. 
Saber quem tem mais medo de 
envelhecer entre os sexos, acredito 
ser difícil de medir, pois cada indiví-
duo é único, tem e dá o seu valor pa-
ra a velhice ou envelhecimento. 
 
Envelhecer - Um desafio 
 
Viver bem a idade que se tem é 
uma sábia aventura. 
Saber envelhecer com tranqui-
lidade é um desafio salutar e perma-
nente. A velhice é uma importante 
etapa do ciclo vital, uma fase natural 
do desenvolvimento da vida huma-
na. Pode não ser a melhor, mas cer-
tamente não será a pior; é mais uma. 
Sabe-se que é privilégio de poucos, 
daí a importância de enfrenta-la 
com alegria e otimismo. 
Envelhecer é um processo vital 
e único, por isso cada um constrói o 
seu próprio roteiro, é ator e diretor 
da sua existência, por isso pode pro-
gramar um “final feliz”. E mais, já 
que a morte é inevitável, por que não 
esperá-la vestida de gala, como para 
uma grande festa, o coroamento de 
uma bela caminhada terrena? 
O idoso, na verdade, não é 
apenas um idoso, é uma pessoa do-
tada de prerrogativas próprias. É um 
ser a “vir a ser”, sempre em transfor-
mação. 
Difícil é enfrentar os estigmas 
que lhe são impostos. Ao invés de in-
divíduos, as pessoas passam a ser 
apenas: mulher, negro, deficiente, 
carente, excepcional, mendigo ou 
velho. São olhados apenas pela ótica 
do estigma. Porém, muito pior do 
que o estigma social é o estigma que 
o indivíduo carrega, ele próprio, a 
respeito da sua condição estabele-
cida. 
Como já nos referimos anteri-
ormente, Sartre já constatava essa 
acomodação da pessoa em aceitar 
todas as imposições feitas pelos ou-
tros. O velho introspecta esses estig-
mas e já não reage, talvez por julgar 
natural ou por sentir-se muito só 
para uma batalha tão feroz e até 
cruel. 
Em nossa sociedade há três 
preconceitos básicos: a cor, o sexo e 
a idade, sendo este último mais 
acentuado e profundo. 
Em se tratando do idoso, (car-
regado de idade), essa carga é extre-
mamente agravada, pois ele se sente 
fragilizado ao acumular idade e acei-
ta passivamente o que o meio lhe im-
põe. 
A velhice representa, para 
muitos, uma ameaça à vida, um ca-
minho que aproxima, a cada dia, a 
chegada à morte, o desgaste da vida. 
Diz a Dra. Mônica Rebouças - 
Geriatra, Coordenadora do Centro 
Geriátrico das Obras Sociais Irmã 
 
 26 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
Dulce, BA: “Ao contrário do que se 
pensa, a decadência física não é o 
problema maior para as pessoas, o 
espelho incomoda, mas não assusta 
as pessoas. O medo da morte é real”. 
E nós acrescentamos: e cruel. 
Se a pessoa que envelhece for 
bem aceita, sem preconceitos, certa-
mente terá novas e salutares expec-
tativas para o seu futuro. Além disso, 
dará ainda uma perspectiva alvissa-
reira e otimista para seus pósteros. 
Por isso é procedente afirmar: 
“Quem investe nos idosos investe no 
futuro da juventude”. 
 
Envelhecimento Social 
 
Além do envelhecimento pes-
soal, acontece também o envelheci-
mento social, hoje talvez com um 
acentuado tom de melancolia e an-
gústia. 
Pesquisas científicas, um tanto 
recentes, revelaram que boa parte 
das modificações mentais e compor-
tamentais verificadas nos velhos não 
representam efeitos biológicos do 
envelhecimento, mas sim conse-
quência das mudanças e até imposi-
ções de papéis na sociedade. 
Eis algumas situações que se 
evidenciam no estudo da problemá-
tica do idoso: 
Progressiva diminuição nos 
contatos sociais: Os familiares 
vão diminuindo - a viuvez, os con-
temporâneos se ausentam, dimi-
nuem também as chamadas telefô-
nicas, as cartas, as visitas, etc. O es-
critor Tristão de Atayde escreveu um 
dia: “Mais um companheiro que des-
ce, antes do tempo e antes de mim...” 
Isso assusta a qualquer um. 
Distanciamento social: As gera-
ções mais novas, a cada ano, estão 
realizando mais cedo o que era pri-
vilégio dos mais velhos, e, por vezes, 
o fazem com maior eficácia e perfei-
ção - a tecnologia e a informática -is-
so propicia o afastamento das gera-
ções. 
Quem pode garantir que quem 
se afasta dos próprios grupos con-
siga integrar- se e adaptar-se a ou-
tros grupos? Mudança de emprego, 
aposentadoria, mudança de residên-
cia? 
Progressiva perda do poder de 
decisão: Quando adultos, homens 
e mulheres aprenderam a analisar 
possíveis alternativas para as situa-
ções que enfrentavam, aprenderam, 
sobretudo, a decidir sobre o que lhes 
parecia mais acertado; desejavel-
mente, tornaram-se capazes de en-
frentar os resultados positivos ou 
negativos das escolhas feitas. Com o 
passar do tempo, os mais jovens, 
progressivamente, começam a “re-
solver” a vida dos velhos. Muitas ve-
zes os filhos passam a fazer o papel 
 
 27 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
dos pais, decidem e até superprote-
gem os mesmos. 
Progressivo esvaziamento dos 
papéis sociais: Intimamente liga-
do à perda de poder de decisão e, 
quase simultaneamente, como causa 
e consequência está o progressivo 
esvaziamento dos papéis sociais. 
Os velhos passam a ser valori-
zados pelo que “foram” - “meu avô 
foi” - e aí os idosos assumem e dizem 
“eu fazia”, “eu costumava dizer”, “no 
meu tempo”, vivem no passado, mas 
ainda estão vivos, isso é terrível. 
Corrói a própria identidade. 
Alterações no processo de co-
municação: Uma das possíveis 
consequências da perda de autono-
mia é a preocupação dos jovens em 
esconder os velhos fatos que eles, os 
mais jovens, acham que trariam pre-
ocupação, emoção. Tais atitudes 
aceleram o envelhecimento social e 
dão lugar a ressentimentos para com 
essas pessoas quando descobrem 
que lhe ocultaram alguma notícia, e 
o levam à solidão e à desconfiança. 
Crescente importância do pas-
sado: O passado aos poucos se tor-
na mais importante que o presente, 
pois o sujeito da ação, antigamente, 
era ele, o idoso de hoje. Pelo fato de 
ele ter, na atualidade, menor preo-
cupação (a sua participação foi dis-
pensada), ele pensa na morte, com 
muita frequência, pois perdeu o seu 
papel na família e na comunidade. 
Isto é a morte social que acelera a 
morte física. 
Concluindo, podemos afirmar 
que pelo fato de o homem ser um ser 
essencialmente social, o natural é 
que o mesmo se integre na sua co-
munidade e ali possa trocar experi-
ências, fazendo acontecer a realiza-
ção pessoal e a dos seus semelhan-
tes. 
Cabe à sociedade organizar-se 
de tal forma que possa assegurar um 
padrão mínimo de sobrevivência 
digna aos que nos precederam e 
construíram, com seu esforço e dedi-
cação, o mundo que aí está. Prosse-
guir no seu aprimoramento depende 
de todos. 
O compromisso é bilateral. As-
sim como a pessoa é responsável 
pela sociedade, esta também é res-
ponsável pelos seus componentes. 
Quanto mais afinada a relação, tanto 
maior será a harmonia e o bem-es-
tar. 
Aquimuito bem cabe aquela 
assertiva: “Ninguém é tão pobre que 
nada tenha a dar, como ninguém é 
tão rico que nada tenha a receber”. 
O idoso, que contribuiu para a 
construção da sua comunidade e do 
seu mundo, merece respeito e re-
compensa por sua doação, pela con-
tribuição que acrescentou ao muti-
rão humano. 
 
28 
 
 
 
 29 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
5. Aspectos Psicológicos do Envelhecimento 
 
 
Fonte: Cuidar dos Pais em Casa5 
 
interesse pela psicologia do en-
velhecimento começou no iní-
cio do século XX, quando alguns tex-
tos foram publicados por volta de 
1922, pelo americano Stanley Hall, 
porém, como é sabida no início do 
século passado, a transição demo-
gráfica das populações de modo ge-
ral eram bem distintas do que se 
percebe hoje. 
A velhice é um conceito abs-
trato considerado como uma etapa 
da vida. A psicologia do desenvolvi-
mento, os autores tem denominado 
velhice como a última das etapas do 
 
5 Retirado em https://cuidardospaisemcasa.com.br/aspectos-emocionais-e-psicologicos-envelhecimento/ 
ser humano: infância, adolescência, 
idade adulta e velhice. Mas, assim 
como está claro de que a infância co-
meça quando se inicia a vida fora do 
útero materno, a adolescência quan-
do começam os primeiros embates 
da puberdade e a idade adulta quan-
do o indivíduo se torna independen-
te, assim fica a pergunta: Em qual a 
idade que começa a velhice? 
Algumas pessoas acreditam 
que a velhice não está necessaria-
mente associada à idade e que são 
outros fatores como perder a ilusão 
pela vida ou as transformações físi- 
O 
 
 30 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
cas e mentais que marcam seu iní-
cio. Outros consideram uma deter-
minada idade cronológica como a 
fronteira da velhice. A resposta não 
está clara nem para as pessoas co-
muns, nem para os estudiosos, pois 
não existe uma idade que suceda al-
go de concreto que faça o indivíduo 
entrar na velhice. 
Como a idade cronológica não 
é um bom identificador da velhice, 
alguns autores tem se ocupado do 
conceito de “idade funcional” como 
o preditor obtido de diferentes indi-
cadores sobre o funcionamento bio-
lógico, social e psicológico (o biopsi-
cossocial) do indivíduo. Assim, por 
exemplo, a idade funcional seria ob-
tida por indicadores como a desem-
penho do indivíduo nos aspectos bi-
ológico, psicológico e social. 
Como se pode constatar, não é 
tarefa fácil operacionalizar quanto 
ao marco da velhice. É interessante 
mencionar ainda que em países de-
senvolvidos, podemos considerar 
hoje que a velhice é aquela etapa da 
vida em que o indivíduo se aposenta, 
ou seja, deixa suas funções laborais. 
No entanto, ao considerarmos indi-
víduos que ingressaram cedo no tra-
balho, vamos concluir que os mes-
mos se aposentarão cedo também, 
alguns até mesmo antes dos 50 anos 
de idade. 
Finalmente, uma distinção 
que se faz necessário realizar é que 
pode se estabelecer entre o processo 
de envelhecimento que ocorre ao 
longo da vida e a velhice como um 
estado que começa em um momento 
não muito bem definido, já que faz 
parte do ciclo da vida. Na realidade, 
esse processo começa quando se ini-
cia a vida, de maneira que não existe 
vida orgânica sem envelhecimento. 
Assim, pode- se dizer que o envelhe-
cimento é vida e viver leva, necessa-
riamente, ao envelhecimento e nesse 
processo se produzem alguns pa-
drões de mudanças e de estabilida-
de, assim como de desenvolvimento 
e declínio. 
Algo que é considerado velho é 
algo que já existe há muito tempo. 
No entanto, esse tempo não ocorre 
da mesma forma para todas as pes-
soas. O envelhecimento é, portanto, 
um processo individual e, por isso 
mesmo é uma experiência diferente 
para cada indivíduo. 
Em 1963, Erik Erikson, um 
dos pioneiros nos estudos sobre o 
desenvolvimento humano, com a 
formulação da Teoria do Desenvol-
vimento durante toda a vida, explici-
tava que o desenvolvimento se pro-
cessa ao longo da vida e que o sen-
tido da identidade de uma pessoa se 
desenvolve através de uma série de 
estágios psicossociais durante toda a 
vida. 
Esta teoria compõe-se de oito 
estágios, sendo o período da vida 
 
 31 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
adulta (após 41 anos) denominado 
de integridade do ego versus deses-
pero, sendo que a integridade do ego 
é caracterizada por fatores intrínse-
cos à velhice como: dignidade, pru-
dência, sabedoria prática e aceitação 
do modo de viver, e desespero se-
riam possivelmente medo da morte. 
Erikson, através destes estudos, 
contribuiu significativamente para a 
compreensão das transformações 
ocorridas na velhice, salientando-se 
o que, até então, nenhum outro au-
tor na área da psicologia havia feito: 
dado ênfase ao estágio do desenvol-
vimento humano contemplando a 
vida adulta. 
A teoria de Erikson colaborou 
no sentido de oferecer sínteses sobre 
o desenvolvimento cognitivo e da 
personalidade, sobretudo na vida 
adulta. Após o desenvolvimento des-
ta teoria, passaram-se décadas na 
psicologia sem a formulação de ou-
tra teoria do desenvolvimento da vi-
da adulta. 
Em 1978, outra teoria, desen-
volvida por Gould, enfatiza os pro-
cessos do desenvolvimento da velhi-
ce, seguindo uma abordagem simi-
lar a de Erikson, propondo também 
estágios de desenvolvimento. Estas 
teorias desencadearam, dentro da 
Psicologia do Desenvolvimento, re-
levância a este estágio do desenvol-
vimento humano, pois neste período 
já era despertado, em várias áreas do 
conhecimento, sobretudo a Geron-
tologia, o interesse em conhecer me-
lhor os fenômenos peculiares ao 
processo de envelhecimento e à ve-
lhice. 
Denota-se, com os avanços dos 
estudos da Psicologia do Envelheci-
mento, a busca da velhice bem-suce-
dida, e, para tanto, alia-se a experi-
ência de vida que os idosos possuem 
e os fatores da personalidade para 
que estes possam desenvolver meca-
nismos que contribuam para uma 
boa saúde física e mental, autono-
mia e envolvimento ativo com a vida 
pessoal, a família, os amigos, o ócio, 
o tempo livre e as relações interpes-
soais (Neri, 2004). 
A psicologia do envelhecimen-
to é hoje a área que se dedica à in-
vestigação das alterações comporta-
mentais que acompanham o gradual 
declínio na funcionalidade dos vá-
rios domínios do comportamento 
psicológico, nos anos mais avança-
dos da vida adulta. 
Ela se refere à forma como o 
sujeito percebe a realidade e a inter-
preta, como se sente e valoriza esta 
relação com os demais e com o seu 
ambiente e acima de tudo como se 
comporta. 
O envelhecimento psicológico 
é o ponto de vista da ação e do efeito 
do tempo sobre as distintas funções 
psicológicas a respeito de tópicos 
tais como: personalidade, as funções 
 
 32 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
cognitivas, a capacidade perceptiva, 
de aprendizagem e criatividade, a 
comunicação, a interação social com 
seus semelhantes e a afetividade e 
como os principais componentes do 
ser humano em qualquer momento 
de seu ciclo vital. 
O relacionamento do idoso 
com o mundo se caracteriza pelas di-
ficuldades adaptativas, tanto emoci-
onais quanto fisiológicas; seu de-
sempenho ocupacional e social, o 
pragmatismo, a dificuldade para 
aceitação do novo, as alterações na 
escala de valores e a disposição geral 
para outros relacionamentos. No re-
lacionamento com sua história o 
idoso pode atribuir novos significa-
dos a fatos antigos e os tons mais 
maduros de sua afetividade passam 
a colorir a existência com novos ma-
tizes: alegres ou tristes, culposas ou 
meritosas, frustrantes ou gratifican-
tes, satisfatórias ou sofríveis. Por tu-
do isso a dinâmica psíquica do idoso 
é exuberante, rica e ao mesmo tem-
po complicada. 
O médico Freud afirmava,com notável sabedoria, que os de-
terminantes patogênicos envolvi-
dos nos transtornos mentais pode-
riam ser divididos em duas partes: 
 Aqueles que a pessoa traz 
consigo para a vida; 
 Aqueles que a vida lhe traz. 
 
Na senilidade isso fica mais 
evidente ainda, de um lado os fato-
res que o indivíduo traz consigo em 
sua constituição e, de outro, os fato-
res trazidos a ele pelo seu destino. O 
equilíbrio psíquico do idoso depen-
de, basicamente, de sua capacidade 
de adaptação à sua existência pre-
sente e passada e das condições da 
realidade que o cercam. 
Segundo o psiquiatra Ajuria-
guerra, ao afirmar que "envelhece-se 
como se viveu", certamente estava se 
referindo aos traços pessoais de nos-
sa constituição que acabam ficando 
mais marcantes com o envelheci-
mento. A prática clínica tem mostra-
do, embora nunca de maneira abso-
luta, que os indivíduos portadores 
de dificuldades adaptativas em ida-
de pregressa envelhecem com maio-
res problemas do ponto de vista 
emocional. 
Se os acontecimentos existen-
ciais eram sentidos com alguma difi-
culdade ou sofrimento na idade 
adulta ou jovem, quando a própria 
fisiologia era mais favorável e as 
condições de vida mais satisfatórias 
e atraentes, no envelhecimento, en-
tão, quando as circunstâncias con-
correm naturalmente para um de-
créscimo na qualidade geral de vida, 
a adaptação será muito mais proble-
mática. Portanto, está correto dizer 
 
 33 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
que quanto melhor tenha sido a 
adaptação da pessoa à vida em ida-
des pregressas, melhor será tam-
bém sua adaptação no envelheci-
mento. 
Por outro lado, alguns auto-
res observam uma significativa me-
lhora em alguns casos de transtor-
nos com o envelhecimento, fato 
também observável na prática psi-
quiátrica. Isso nos mostra, de fato, 
não haver uma desestruturação 
psíquica no envelhecimento, mas 
sim, uma alteração estrutural na 
dinâmica psíquica, novos arranjos 
psicodinâmicos e nova arquitetura 
afetiva distinta da anterior. 
Porém, vale destacar que o 
processo de envelhecimento, mesmo 
diante de circunstâncias existenciais 
favoráveis para alguns idosos, como 
viver em um ambiente cheio de cari-
nho, respeito e atenção, ao lado da 
família, adaptar-se satisfatoriamen-
te a esta fase não é fácil, devido a 
certa fragilidade emocional própria 
dos traços afetivos dos idosos. Nes-
tes casos não é, absolutamente, a vi-
da ou as circunstâncias ambientais 
correlacionadas à senilidade que es-
tariam proporcionando condições 
necessárias para a eclosão de trans-
tornos, mas sim, as condições de 
personalidade prévia do idoso. É por 
causa disso que se envelhece como 
se viveu. 
 
Mudanças nas Funções Cogni-
tivas 
 
As funções cognitivas são 
aquelas funções e processos que o 
indivíduo recebe, armazena e pro-
cessa a informação relativa a si mes-
ma, aos outros e ao mundo. Entre 
estas funções se destacam: a aten-
ção, a percepção, a memória, a ori-
entação e o juízo. 
A memória é a função cogni-
tiva mais importante. Em relação às 
mudanças globais das funções inte-
lectuais dos idosos, a memória exer-
ce um papel cada vez mais impor-
tante. Ela é básica para a resolução 
de problemas e para a adaptação ao 
meio. 
Existem diferentes tipos de me-
mória, assim como também muitas 
formas de classificá-las. Apresentare-
mos a seguir a forma mais conhecida: 
Memória Sensorial: É a respon-
sável em registrar a informação que 
nos chega através dos órgãos dos 
sentidos. Esta informação fica retida 
durante apenas alguns segundos em 
relação a cada um dos nossos senti-
dos (visão, audição, olfato, etc.). 
Memória de Curto Prazo: Pode-
mos entendê-la como o local onde se 
guarda a informação durante alguns 
segundos. Ela é limitada no sentido 
de não transferir a informação regis-
trada para a memória de longo pra-
zo, ela se perde. Assim por exemplo 
 
 34 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
quando “gravamos” um número de 
telefone, logo em seguida nos esque-
cemos. 
Memória de Longo Prazo: É um 
armazenamento ilimitado, onde 
parte da informação que nos chega 
permanece durante muito tempo e 
inclusive de maneira “permanente”, 
uma vez que podemos recordar a in-
formação, quem sabe para o resto de 
nossas vidas. A memória de longo 
prazo pode ser dividida em 03 tipos: 
 Memória Episódica - É res-
ponsável por recordar fatos 
concretos, como por exemplo, 
o que fizemos no natal pas-
sado, o nascimento de um fi-
lho ou qualquer outro aconte-
cimento; 
 Memória Semântica - É res-
ponsável pelos conhecimentos 
de um modo geral, tais como a 
tabuada, os acontecimentos da 
II Guerra Mundial, ou seja, tu-
do o que aprendemos através 
dos nossos estudos; 
 Memória de Procedimentos - 
É aquela que serve para recor-
dar a forma como se amarra 
um sapato, andar de bicicleta, 
correr, nadar, ou seja, todas as 
ações que aprendemos quando 
ainda éramos bem pequenos. 
 
Com o envelhecimento po-
dem ocorrer determinadas patolo-
gias que levam o indivíduo a perder 
a memória, como por exemplo, a 
Doença de Alzheimer. 
De qualquer forma, mesmo 
em idosos saudáveis, é comum ocor-
rer uma dificuldade de memória, 
principalmente para memória re-
cente, como com relação aos recados 
e compromissos. Esta dificuldade 
progride até certo nível e estabiliza. 
Esta situação é conhecida como 
perda benigna de memória da seni-
lidade. 
 
Aprendizagem 
 
Existe um estereótipo de que o 
idoso não apresenta condições para 
aprender coisas novas. Ao contrário, 
existem diferentes estudos em que 
são demonstrados na prática que 
eles possuem uma plasticidade inte-
lectual e conductual, ou seja, a capa-
cidade de aprender, gerar estraté-
gias, substitutivas para conseguir a 
aprendizagem. 
Os idosos necessitam de um 
tempo de reação mais longo, que se 
observa em situações como entrevis-
tas, a condução de veículos, o uso do 
telefone celular, o manejo com o 
computador, etc. 
Podem ter dificuldades na uti-
lização de algumas técnicas de 
aprendizagem, como a associação e 
a visualização. Além disso, existe 
uma tendência a serem mais preca-
vidos. 
Assim como na memória, po-
de-se afirmar que na aprendizagem, 
 
 35 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
a maior complexidade, rapidez e 
abstração ocorrem com maior difi-
culdade. 
 
Funcionamento Intelectual 
 
Os resultados obtidos segundo 
estudos e investigações é que exis-
tem fatores que influenciam no fun-
cionamento intelectual, tais como 
grau de escolaridade, o entorno esti-
mulador, o estado de saúde física e 
psíquica, as perdas sensoriais, os as-
pectos biográficos e de personalida-
de, a motivação e a relevância do 
material utilizado. 
Com o passar dos anos neces-
sitamos de mais tempo para a reso-
lução de problemas, por exemplo, 
pois a inteligência fluída diminui, 
isto é, a agilidade mental. O idoso 
apresenta uma maior lentidão na so-
lução de problemas, elaboração de 
informações e no tempo de reação 
diante das atividades e tarefas, en-
quanto que a inteligência cristaliza-
da melhora, pois esta é baseada nos 
conhecimentos adquiridos através 
da experiência. 
No funcionamento intelectual, 
destacam-se os seguintes aspectos: 
São mantidos: A compreensão, a 
capacidade do juízo, o vocabulário e 
os conhecimentos gerais. 
Diminuem: A memória, a aten-
ção, a concentração, a assimilação 
e a agilidade da reação. 
As mudanças rápidas no ren-
dimento cognitivo são indicadores 
significativos de deterioração física 
ou psíquica que merecem uma in-
vestigação e acompanhamento mé-
dico. 
 
Criatividade 
 
A curiosidade com relação às 
perguntas e respostas e às novidades 
é mais presente na população jovem, 
porém, os estudos apontam que a re-
lação entre criatividade e idade se 
mantém estáveis ao longo do tempo. 
Podemoscomprovar esta tese atra-
vés das artes (música, literatura, 
etc.). 
 
Linguagem 
 
Podemos apontar algumas ca-
racterísticas descritas em diferentes 
estudos são: 
 Tendência em utilizar frases 
mais longas e complexas; 
 Diminuição da discriminação 
e compreensão da linguagem 
falada; 
 Diminuição da capacidade de 
nomeação; 
 “Erro semântico”, tendência a 
circunlóquios (explicação 
substituindo a palavra em fal-
ta, por exemplo, em lugar de 
“copo”, pode ser dito “isso aí 
que serve para beber água”); 
 Mudanças nas conversas, pois 
se recordam que disseram 
 
 36 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
algo, mas custam para recor-
dar para quem disseram por 
exemplo. 
 
Outras Alterações 
 
Capacidade Psicomotora: Entre 
as modificações mais importantes 
na capacidade psicomotora se desta-
cam: 
 Alteração dos reflexos; 
 Transtornos do equilíbrio; 
 Transtornos do conhecimento 
do próprio corpo; 
 Transtornos na execução dos 
atos voluntários; 
 Diminuição da capacidade de 
conhecimento perceptivo e de 
identificação; 
 Transtornos da escrita. 
 
É importante assinalar que 
quanto às alterações nas articula-
ções e ossos, que podem provocar 
osteoporose e osteoartrite, muito 
presentes na população idosa, prin-
cipalmente feminina. 
Personalidade e Ajustes: Duran-
te muito tempo a personalidade do 
idoso foi caracterizada pela redução 
da energia, da força, da resistência e 
uma diminuição da atividade social, 
redução de interesses, de metas e 
projetos. 
Sob outras perspectivas, hoje 
se fala mais de uma mudança que 
propriamente de diminuição. 
Alguns estudos apontam que a 
ideia principal com relação à perso-
nalidade do idoso é de que esta ten-
de a se tornar estável e não mais 
marcada por tantas alterações e nu-
ances como em outras fases da vida. 
Como fase mais avançada do 
processo evolutivo, ao chegar à ve-
lhice a integridade, como uma acei-
tação do que foi possível realizar ao 
longo da vida, aceitando os êxitos e 
assumindo os fracassos se torna 
mais fácil. 
Reações frente às mudanças: 
Como enfrentamos às mudanças 
com o passar dos anos? As reações 
afetivas e emocionais são diversas e 
é importante destacar: 
 A problemática; 
 Os vários tipos de personali-
dade; 
 A história pessoal e de apren-
dizagem. 
 
Desta forma, algumas reações 
são possíveis: 
 Recolher-se, evitando as situa-
ções estressantes como forma 
de autoproteção; 
 Irritação, mau humor pelo au-
mento da dificuldade para o 
ajuste social; 
 Dependência de algum fami-
liar ou de alguém, por exem-
plo, um Cuidador. Este é um 
reflexo claro da diminuição da 
competência e um fator de ris-
co para a depressão; 
 
 37 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
 Afrontamento de novas situa-
ções através de novos interes-
ses, novas estratégias de ajus-
tamento, um maior esforço pa-
ra aproveitar a relação com os 
demais. 
 
Perdas e Viuvez: Nesta etapa do ci-
clo vital aumenta consideravelmente 
a possibilidade de ocorrer perdas vi-
tais significativas e da viuvez, que é 
sem dúvidas a crise mais prejudicial 
nesta etapa. 
Ocorrem perdas reais como a 
viuvez, perdas físicas de amigos, per-
da física do emprego com a aposenta-
doria e perdas simbólicas, como a 
perda do papel profissional com a saí-
da do mercado laboral. 
O ser humano enfrenta estas 
perdas através de um processo deno-
minado duelo, mecanismo adaptativo 
que permite superar a dor e o impacto 
psicológico. BOWLBY fala de várias 
fases neste processo: 
 Embotamento afetivo (dificul-
dades em expressar sentimen-
tos e emoções); 
 Desejo intenso e busca da figu-
ra perdida; 
 Desorganização e desesperan-
ça; 
 Reorganização. 
 
Nem sempre se realiza de ma-
neira adequada este processo e pode 
haver problemas. É importante dife-
renciar alguns sinais e sintomas e, 
esses podem denominar de duelo 
psicológico. 
Duelo Normal: No duelo normal 
existe uma causa desencadeante, es-
tão presentes a tristeza e o retrai-
mento, e se dá uma aceitação da per-
da sem desaprovação. Tudo isso se 
configura em um processo necessá-
rio. 
Neste duelo existem fases, a 
saber: 
1ª Fase: Tem a duração de várias 
semanas e se inicia logo em seguida 
a morte do ente querido. 
 Comoção e incredulidade; 
 Mostra-se ausente e confuso; 
 Relacionamentos frios e dis-
tantes; 
 Instaura-se uma barreira di-
ante da pessoa; 
 Possível estado de dor aguda 
(moléstias orgânicas do tipo 
nervoso, sensação de rigidez, 
vazio estomacal, cansaço mus-
cular, tensão); 
 Sentimento de culpa; 
 Inquietude e dispersão nas ta-
refas; 
 Eventual hostilidade com os 
familiares; 
 
2ª Fase: Inicia-se após 03 semanas 
e dura aproximadamente até 01 ano. 
 Recordação obsessiva do (a) 
falecido (a); 
 Aceitação gradativa da reali-
dade quanto à perda; 
 Repentinas e fortes reações de 
dor; 
 Necessidade de relacionar-se 
com as demais pessoas. 
 
 38 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
3ª Fase: A partir do 2º ano. 
 O sujeito se adapta a perda do 
ente querido; 
 Consciência da inutilidade de 
refugiar-se ao passado; 
 Melhora nas relações familia-
res e sociais; 
 Amadurecimento quanto ao 
significado da própria vida. 
 
Duelo Patológico: A diferença do 
duelo que o idoso realiza normal-
mente pode surgir: 
 A não aceitação da perda; 
 Muita referência ao objeto 
perdido; 
 A resposta emocional dura por 
meses ou anos; 
 Eventuais transtornos psicos-
somáticos; 
 Desorganização; 
 Bruscas mudanças entre cal-
ma e irritabilidade; 
 Depressão; 
 Insônia; 
 Autodesvalorização; 
 Baixa autoestima; 
 Sintomas hipocondríacos 
(crença de padecer de uma do-
ença grave) e fóbicos (medo, 
temor de algo ou de situações); 
 Enjoos e dores de cabeça; 
 Sintomas que identificam com 
a enfermidade do (a) falecido 
(a); 
 Incapacidade de superação e 
consequentemente necessi-
dade de acompanhamento te-
rapêutico. 
 
Relações Familiares: As relações 
familiares exercem um papel primor-
dial no sentimento do bem estar psi-
cológico. Nos idosos ocorre um pro-
cesso de reestruturação familiar mo-
tivado pela saída dos filhos de casa, 
pela aposentadoria, incorporação de 
novos membros na família ou perdas. 
Atualmente as relações famili-
ares e a estrutura da instituição fa-
miliar foram modificadas considera-
velmente e as principais característi-
cas são: a diversidade de modelos e 
arranjos desta instituição, ou seja, o 
surgimento de famílias monoparen-
tais em decorrência das separações, 
divórcios, aumento do número de 
pessoas solteiras e sem filhos. Tam-
bém é importante destacar a trans-
formação da família extensa com 
muitos filhos (03 gerações) para a 
família nuclear, a incorporação da 
mulher no mercado de trabalho, as 
dificuldades das famílias em desem-
penhar o papel de cuidadoras dos 
seus idosos, em função de suas resi-
dências cada vez menores e o impor-
tante aumento do custo de vida. 
No entanto, a família segue de-
sempenhando este papel de suporte 
comunitário e apoio psicoafetivo e 
emocional de maneira fundamental 
para seus idosos, e, esta realidade 
está presente principalmente nos 
países latinos e em países em desen-
volvimento, como é o caso do Brasil. 
 
 
 39 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
Sexualidade: Ainda é visível o dis-
curso social e o preconceito que a so-
ciedade tem em relação à sexualida-
de na Terceira Idade. As pessoas em 
sua grande maioria, insistem em 
acreditar que o desejo e a atividade 
sexual desaparecem à medida que o 
sujeito envelhece. A crença de que o 
avançar da idade e o declínio da ati-
vidade sexual estejam ligados, faz 
com que não se dê a devida atenção 
a uma das atividades associadas à 
qualidade de vida, como é o caso da 
sexualidade. 
A nossa cultura moderna pre-
coniza que o corpo velho não é algodesejável. Os avanços tecnológicos 
na área da estética estão cada vez 
mais presentes com o objetivo de re-
tardar o processo do envelhecimen-
to. Apresentam-se uma variada ofer-
ta de produtos endereçados àqueles 
que buscam se esquivar dessa con-
frontação com o real do corpo. Desta 
forma, é então instituído um novo 
mercado de consumo com a pro-
messa da “eterna juventude”. 
CONFORT (1985) menciona 
que a resposta sexual humana na ve-
lhice é normal se não é afetada por 
enfermidades psíquicas, ansiedade 
ou expectativas sociais, que é o prin-
cipal fator da diminuição da conduta 
sexual. 
Uma das variáveis mais rele-
vantes na conduta sexual e afetiva é 
a disponibilidade do (a) parceiro (a), 
especialmente das mulheres. 
O interesse sexual no passado, 
a própria experiência da pessoa, a 
frequência das relações sexuais são 
os principais preditores do compor-
tamento sexual atual, associado ao 
estado geral de saúde e às modifica-
ções fisiológicas provenientes do 
processo do envelhecimento. 
No sexo feminino cabe desta-
car as mudanças hormonais após a 
menopausa, que é caracterizada pela 
cessação da menstruação e carência 
do estrógeno. Desta forma, as mu-
lheres sofrem uma série de mudan-
ças físicas com a alteração dos teci-
dos da vulva, vagina, trompas, seios, 
mucosa da bexiga e também a perda 
da fertilidade. Com a diminuição da 
lubrificação da vagina, ocorre, por-
tanto, maior dificuldade para o ato 
sexual, e consequentemente maior 
risco de infecções vaginais. Com 
isso, perde-se os padrões da juven-
tude, o que não significa dizer que se 
perde o desejo sexual, que perma-
nece por toda a vida. Os sentimentos 
de perda, de falência, podem surgir 
neste período e devem ser conside-
rados. 
No sexo masculino por sua 
vez, ocorre a andropausa, e ao con-
trário das mulheres, não existe uma 
idade pré-estabelecida para deter-
miná-la. Manifestam uma gradual 
 
 40 
ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
perda da potência sexual com a di-
minuição hormonal da testosterona 
e também, há alteração da capacida-
de erétil devido a problemas vascu-
lares, incompetência dos corpos ca-
vernosos e problemas emocionais 
com o rebaixamento da libido (dese-
jo). Porém, o homem não perde a ca-
pacidade reprodutiva como a mu-
lher. 
Na atividade sexual, seja ela 
com o (a) parceiro (a), seja ela atra-
vés da prática masturbatória, a fan-
tasia é fundamental. Desenvolver a 
imaginação erótica faz parte da vida 
sexual, inclusive na velhice, onde a 
sexualidade ganha um conteúdo 
mais qualitativo do que quantitati-
vo. Mesmo com o passar dos anos, o 
sexo representa um papel importan-
te na vida das pessoas. O limite físico 
não impede que o indivíduo possa 
demonstrar seus desejos. É impor-
tante encontrar formas de satisfa-
ção, pois a sexualidade faz parte da 
vida do ser humano e como vivenciá-
la pode mudar de alguma forma, de 
acordo com a singularidade de cada 
um. 
Em um corpo mesmo envelhe-
cido, é necessário encontrar beleza, 
pois é com este corpo que o sujeito 
vai de encontro ao outro e assumir a 
passagem dos anos lhe permite uma 
aceitação afetiva de si e também do 
outro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 41 
 
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ASPECTOS CULTURAIS E BIOPSICOSSOCIAIS DO ENVELHECIMENTO 
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