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Envelhecimento e Corporeidade

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Envelhecimento e Corporeidade
 Aula 1: conceito de velhice
	
	Apresentação 
O que você sabe sobre velhice? O que é ser velho? Por que o termo terceira idade é utilizado quando também falamos sobre os idosos? 
Estudaremos a cronologia do envelhecimento e aprenderemos quais são as idades da velhice. Trataremos de conceitos como velhice, velho, terceira idade e quarta idade.
Conheceremos também as diferentes visões acerca da velhice sob as perspectivas da Organização Mundial de Saúde (OMS), da Organização das Nações Unidas (ONU) e também de autores, como Simone de Beauvoir e Mirian Goldenberg. 
Na década de 1970, Beauvoir lançou a obra Velhice, que se tornou um marco da construção das mentalidades e discussões do que é ser velho nas sociedades contemporâneas. Nela, a filósofa trata de uma conspiração do silêncio sobre o abandono do velho. 
Já Goldenberg é uma antropóloga contemporânea que aborda, entre outros aspectos, o processo de envelhecimento nos dias atuais.
Objetivo
· Explicar os conceitos de velhice e de terceira e quarta idades associados à cronologia da velhice e às classificações da OMS;
· Comparar a visão de velhice de Simone Beauvoir com a de Mirian Goldenberg;
· Analisar a situação do velho diante da desigualdade social: O velho rico e o velho pobre.
Quem e quantos são os idosos?.
Atualmente o mundo está no centro de uma transição irreversível do processo demográfico que irá resultar em mais populações idosas em todos os lugares. À medida que taxas de fertilidade diminuem, a proporção de pessoas idosas (com 60 anos ou mais) aumenta.
Videoaula...
O desenvolvimento humano é marcado por fases distintas, cada uma com características bem delineadas. O início da vida apresenta um cenário de descobertas, potências, possibilidades enquanto o último ciclo requer cuidados e atenções.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, no Brasil, a população de pessoas acima de 60 anos de idade alcançava 19,6 milhões de indivíduos. Em 2016 havia aproximadamente 24 milhões delas. A expectativa para 2030 é de 1,4 bilhão e de 2,1 bilhões em 2050. Os indicadores apontam que a população velha no mundo alcance quase um quarto ou mais de indivíduos com mais de 60 anos de idade (IBGE, 2020).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas (ONU), estabeleceram que 60 anos de idade, nos países em desenvolvimento, e 65 anos, em países desenvolvidos, é quando se inicia a velhice.
Desde 1982 a Assembleia Geral da ONU vem se preocupando com o envelhecimento do mundo, foi quando promoveu a primeira Assembleia Mundial sobre envelhecimento e discutiu e produziu um Plano de Ação Internacional tendo como centro figura do idoso. A discussão foi sobre saúde e nutrição; proteção de consumidores idosos; habitação e meio ambiente; família; bem-estar social; segurança de renda e emprego; educação; e coleta e análise de dados de pesquisa (ONU, 2017).
Eventos desse tipo continuaram a acontecer em 1991, até que 1999 foi declarado o Ano Internacional do Idoso como prova da preocupação com essa parcela da população mundial. Em 2002, outra assembleia se realizou em Madri com o objetivo de discutir e consolidar uma política internacional para o envelhecimento no século XXI. As recomendações foram sobre mudanças de atitudes, políticas e práticas em todos os níveis, para atender às necessidades desse segmento no século. Os pontos destacados foram prioridade às pessoas mais velhas e desenvolvimento; saúde e bem-estar na velhice, assegurando habilitação e ambientes de apoio (ONU, 2017).
	Em 2018, na tentativa de não permitir o esmorecimento da discussão, foi feita a Declaração de Viena sobre os Direitos Humanos das pessoas idosas. Atualmente o dia internacional do idoso é comemorado a cada 1º de outubro (ONU, 2017).
As reflexões sobre ser velho são antigas, se pensarmos em Marco Túlio Cícero (106 a.C. – 43 a.C.), estadista e pensador romano. Na obra Saber envelhecer, Cícero (1997) enumera as vantagens desprezadas da velhice. Na dedicatória, ele diz: “Senti tal prazer em escrever que esqueci dos inconvenientes dessa idade”. Quase com humor, ele ainda afirma: “Todos os homens desejam avançar a velhice, mas ao ficarem velhos se lamentam. Eis aí a consequência da estupidez”.
Velho versus idoso: Qual a diferença?
Palavras como velhice, envelhecimento, velho e idoso ganharam força e espaço nos discursos atuais. Pode-se pensar em velhice como o processo de avanço da vida e velho como o sujeito que envelhece. O termo idoso ganhou força quando foi associado à distinção social. Na França do século XIX, velho ou velhote era o indivíduo pobre e com baixo status social. Já aquele que usufruísse de mais recursos econômicos recebia a denominação de idoso.
Videoaula...
No Brasil tivemos um processo semelhante, mas mais tardio. No século XX, antes dos anos 1960, os documentos oficiais usavam velho na composição dos textos. A partir do fim da década, essa palavra foi sendo substituída por idoso. A nomenclatura associada a esse momento da vida sofre influências de contextos históricos e culturais.
Com o fomento da pesquisa na área da saúde, o prolongamento da vida fez surgir o fenômeno da longevidade, que desperta a atenção de estudiosos e pesquisadores de várias áreas. O envelhecimento abarca diferentes dimensões, tais como:
O envelhecimento é influenciado por diversos fatores ocorridos nas fases anteriores da vida, como as experiências vividas, os hábitos adquiridos na família, na escola ou em outras instituições. Dessa forma, como a velhice não abriga uma única visão, também não corresponde a um conceito. Pode haver discrepância entre a idade cronológica definida pelo tempo de vida, a biológica compatível com o desempenho do organismo humano e a idade cultural ou social que correspondente à participação do velho na vida social.
	Geralmente os adjetivos associados à velhice são pejorativos e preconceituosos e associados às fragilidades do velho.
Uma idade após a terceira idade?
A expressão terceira idade, entendida como uma construção das sociedades modernas, é usada sem estigma depreciativo. Ela abarca idosos com participação ativa, gozando boa saúde e ávidos por experiências ainda não vividas, os quais não atingiram a velhice mais avançada. A terceira idade pode ser pensada na faixa entre 55, 60 e 70 anos de idade (SIQUEIRA; BOTELHO; COELHO, 2002).
A expressão foi criada pelo médico francês Huet, especialista em Gerontologia e coincide com o início cronológico da aposentadoria (entre 60 e 65 anos). Na esfera da Geriatria, ramo da medicina dedicado ao atendimento e cuidado dos idosos, é feita uma classificação que envolve, além da terceira idade (de 50 a 77 anos), outra denominada quarta idade (de 78 a 105 anos).
Em relação à expressão terceira idade, também se observa nova investida do mercado consumidor, pois enxerga essa fase como um nicho. A abordagem é feita com promessas de potencializar o consumo em oposição à imagem mais clássica do velho que se recolhia para esperar a morte. É a velhice de cara nova e adaptada às demandas de uma era com mais tempo para viver.
O setor publicitário tem contribuído fortemente para a construção de um novo imaginário associado a esse segmento da população. Há algumas décadas, o velho era inexistente na propaganda. À medida que o tempo foi passando, e novos olhares se desenvolveram, ele passou a conquistar um lugar, mesmo que ainda atravessado pela fragilidade que lhe é imputada. Nem todo velho se sentia representado, principalmente o que estava ativo e participante da vida social. Atualmente, a aposta do marketing é no sentido de destacar as possibilidades de vida do idoso. É a valorização do velho jovem.
Nas artes, a visão do novo conceito de velho ativo se expressa por meio dos próprios artistas, os quais estão envelhecendo, como é o caso do músico Arnaldo Antunes que, aos chegar aos cinquenta, canta a visão que tem do processo:
O queé a velhice para Simone de Beauvoir?
As reflexões sobre o envelhecimento despertam os olhares de filósofos como Simone de Beauvoir. Ela foi uma escritora e filósofa francesa que marcou época por causa das ideias. Falecida em 1986, deixou um expressivo legado sobre diversos temas polêmicos referentes às mulheres e ao envelhecimento.
Videoaula...
Autora da obra A velhice, considerada a abordagem contemporânea mais importante sobre o tema, Beauvoir contribuiu para tirar o véu que pairava sobre o tabu da velhice uma vez que ela fala de uma conspiração do silêncio sobre o abandono do velho. Este era um tema não falado, era tratado como se não existisse. Ela escreveu esse livro aos 62 anos de idade.
Na década de 1970, o livro tornou-se um marco, fazendo parte da construção das mentalidades e discussões sobre o que é ser velho nas sociedades contemporâneas. A estimativa é de que entre 1980 e 1990, oito entre dez trabalhos tratando do envelhecimento tenham utilizado a autora como referência. Apesar do tempo, o valor da obra não diminuiu e continua a referenciar inúmeros estudos (SIQUEIRA; BOTELHO; COELHO, 2002).
Para a filósofa francesa, um dos propósitos da obra é mostrar que, muito mais do que o aspecto biológico, existe uma forte construção social em torno da velhice. Os sentidos emprestados até então ao processo de envelhecimento na nossa sociedade se relacionam à exclusão do velho. Para Beauvoir, a velhice e os desdobramentos dela não são apenas consequência da passagem do tempo, com impactos físicos e psicológicos, mas construções sociais complexas.
O que é a velhice para Mirian Goldenberg?
Além do olhar da Filosofia, atualmente destacam-se pesquisas também na Antropologia, como as de Mirian Goldenberg. A antropóloga, após inúmeras pesquisas na área, aponta a situação do envelhecimento na atualidade com otimismo, frente às possibilidades do próprio velho se modificar repensando o estigma social que ainda existe.
	Enquanto a proposta da terceira idade representa uma mentalidade voltada para novas imagem e atitude diante da vida, envolvendo possibilidades de consumo, Goldenberg enfatiza a questão da liberdade. Para os participantes das pesquisas realizadas por ela, a velhice não precisa ser acompanhada de vitimização, dores e doenças. Para eles, o foco principal envolve a moeda tempo e o que fazer com ele.
Surge a figura do velho feliz com a própria condição e com a sensação de já ter cumprido suas responsabilidades na vida, podendo usufruir mais livremente as escolhas que faz, o que aumenta a possibilidade de ser velho e feliz. Trata-se de um viés também social e cultural, entretanto, invocando mais responsabilidades pessoais.
Diferentemente do olhar de Simone de Beauvoir, que indica uma conspiração do silêncio por parte da sociedade, Mirian Goldenberg (2011) chama a atenção para a invenção de uma bela velhice.
Saiba mais
Assista ao vídeo de Mirian Goldenberg, no TEDx, sobre o tema Ser Velho é lindo.
 Fonte: freepik.
De acordo com Goldenberg, o processo de envelhecimento talvez seja um dos mais democráticos que podemos presenciar, pois velhos todos somos ou seremos. Segundo ela, “É a única categoria que engloba todo mundo. Seja branco ou negro, muçulmano ou católico, homem ou mulher, hetero ou homossexual… Se não morrer antes, vai ser velho. A velhice não é uma ruptura, é uma continuidade” (GOLDENBERG, 2011).
Seja na Arte, seja na Filosofia, seja na Publicidade, a discussão sobre o envelhecimento marca lugar. As charges encontradas nas revistas e demais publicações exibem as mudanças que envolvem a discussão aceca do tema velhice e atestam que não é possível ignorar o cenário atual.
Envelhecimento e Corporeidade
 Aula 3: Contexto sociocultural na velhice
	
	Apresentação
Estudaremos como o idoso é visto e tratado na atualidade.
Vivemos inseridos em uma cultura que valoriza o jovem, a vitalidade e a perfeição. Como envelhecer nessa cultura?
O ator social idoso recebe muitos estereótipos associados à aposentadoria e à fragilidade. Como fugir dessa imagem?
Veremos que a Teoria das Representações Sociais (TRS) possibilita o entendimento de inúmeros aspectos relacionados ao processo de envelhecimento.
Objetivo
Analisar o impacto da Teoria das Representações Sociais (TRS) no entendimento da velhice;
Analisar a relação entre a cultura da perfeição e a percepção de velhice;
Analisar a situação do corpo velho na cultura jovem.
Que tratamento a sociedade contemporânea dispensa ao velho?

videoaula
Na nossa sociedade, o tratamento dispensado à parcela da população que já alcançou a terceira idade tem gerado impactos negativos. O resultado disso é a não aceitação do velho ou mesmo a distorção dessa etapa da vida.
A aceitação ou não do velho está vinculada, entre outros aspectos, ao papel social que ele ainda desempenha.
A imagem do velho como ator social é marcada por estereótipos que influem sobre a autoestima dele. A aposentadoria é vista como fenômeno social que marca a recolocação do velho na escala social.
Pensar o corpo e o envelhecimento para fugir do preconceito deve considerar a velhice associada ao bem-estar emocional fugindo da infantilização diante da fragilidade do velho.
Como a Teoria das Representações Sociais (TRS) impacta a forma de entender a velhice?
Para continuarmos nossos estudos, algumas noções novas precisam ser visitadas. Você sabe quem foi Serge Moscovici? Ele foi um intelectual francês atuante na área da Psicologia Social, principal nome no cenário da Teoria das Representações Sociais (TRS). Os estudos e pesquisas de Moscovici influenciaram diferentes áreas do conhecimento, ajudando a esclarecer muitos aspectos das condutas no cotidiano de nossas vidas.
A partir do período posterior à Segunda Guerra, começaram as primeiras inquietações de Moscovici, ainda como estudante na Sorbonne, a principal universidade francesa. Posteriormente, inspirado no pensamento de Émile Durkheim, Moscovici estabeleceu as bases da teoria dele.
O contato com os estudos de Durkheim foi importante, pois ele é considerado o Pai da Sociologia que surgia como uma nova ciência, no século XIX, para ajudar a entender a complexidade do homem e, principalmente, a inserção dele no grupamento humano.
Com a TRS, podemos perceber e compreender com mais facilidade a forma como tratamos o envelhecimento, que corresponde à temática desta disciplina. A obra de Moscovici na Psicologia Social, que corresponde às fundações do pensamento do autor, foi fruto do doutoramento dele, seguida de intensa participação de outros intelectuais interessados na área.
As ideias de Moscovici ganharam força na América Latina, principalmente no México, no Brasil e na Argentina. Ele confere novo valor ao pensamento social, considerando que seja um saber prático, por meio do qual a sociedade humana organiza a própria realidade e com ela convive.
videoaula
A TRS se ocupa da forma como o conhecimento é representado coletivamente e compartilhado pelos seus representantes. Corresponde a uma leitura e decodificação da realidade inspirando ações e condutas que permitem que os indivíduos se adequem e se integrem às normas sociais (GALLI, 2014). Tem como objetivo compreender como o conhecimento humano é produzido e analisar o impacto sobre as práticas sociais (TESCHE, 2010).
Para Almeida, Santos e Trindade (2014), a ideia de representação estabelece nova forma de pensar em relação à realidade vista no pensamento ocidental. A TRS é um saber prático que liga um sujeito a um objeto (SÁ, 1998; 2002; JODELET, 2005). A TRS ajuda a entender como somos e porque agimos de uma forma ou de outra.
Para exemplificar a contribuição da TRS, por meio dela podemos compreender as influências de outros temas, como os papéis da mulher no tempo atual; a forma de perceber a adolescência; a força da publicidade na formação de nossas opiniões, desejos e condutas, entre outras situações da vida coletiva; e por fim os processos de envelhecimento na sociedade.
O esquema elaborado por Beatriz Tesche, a seguir, ajuda acompreender o impacto da TRS na cultura atual.
A TRS nos ajuda a compreender os conhecimentos que são compartilhados por diferentes grupos. Vários estudos sobre o envelhecimento são feitos baseados nessa teoria. Por exemplo, em 1999, os autores Veloz, Nascimento-Shulze e Camargo analisaram os conteúdos das representações sociais que diferentes grupos de pessoas tinham no que dizia respeito às questões do envelhecimento humano. Eles perceberam três tipos de representação social do envelhecimento:
O estudo apresentou o idoso como protagonista, a velhice como última fase da vida e o próprio envelhecimento como processo que transcende a própria velhice para abranger todo o curso de vida.
Desde que nascemos, envelhecemos. Os resultados das pesquisas baseadas na TRS ajudam a área da Gerontologia, que será estudada mais adiante nas nossas aulas sobre o processo de envelhecimento, identificando os modos compartilhados de pensar e agir nesse processo.
Como a cultura da perfeição afeta a percepção de velhice?
Agora que nos aproximamos da TRS, podemos ter outros olhares sobre o significado de ser velho na nossa sociedade, a qual valoriza a cultura do jovem e dos estereótipos que se estabelecem. Tesche (2010) aponta a relação entre a representação social, a ação que estabelecemos a partir dela e os riscos de se constituírem estereótipos.
Atualmente a busca pela perfeição do corpo e da saúde nos leva a construir alguns estereótipos, que acabam por reger nossas condutas.
Os corpos precisam ser perfeitos, a beleza e a saúde precisam ser perseguidas de forma incessante. Esse estereótipo, principalmente a busca pelo corpo perfeito, na sociedade cuja população de velhos aumenta progressivamente nos faz olhar o processo de envelhecimento sob uma ótica distorcida que compara o velho ao jovem. A velhice e a juventude são momentos distintos da vida e situações não são comparáveis.
Goldenberg (2011) discorre sobre a valorização atribuída ao corpo de modo tão intenso que estabelece um valor sob a forma de capital físico, simbólico e social. Funciona como um passaporte para a aceitação social. O corpo bonito é o magro, em boa forma, sexy e saudável.
No caso do Brasil, a cidade do Rio de Janeiro é um lugar expressivo para se pensar os traços dessa cultura de valorização exagerada do corpo. Trata-se de uma cidade facilmente associada a praia, sol, descontração, sexualidade, saúde e informalidade. Também se constitui como um cenário perfeito para fortalecer o preconceito do velho associado a fragilidade, doença e distanciamento da beleza contra a valorização do corpo idealizado.
Como é visto o corpo do velho em meio à cultura jovem?
Videoaula
A maneira como velho é visto a partir da valorização da juventude e da cultura jovem pode ser analisada à luz de um conjunto de ideias vigentes na sociedade atual. Percebe-se que lutar contra o estigma do velho frágil torna-se difícil justamente pela penetração dessa representação no seio da sociedade.
Apesar de a TRS observar a possibilidade de mudança das representações também é identificado que isso não ocorre rapidamente. No caso do idoso representado tradicionalmente pela fragilidade, essa ideia atravessa verticalmente os diferentes grupamentos humanos e hierarquias nas sociedades ocidentais, não escapando nem a percepção das crianças.
Ramos (2009), em estudo realizado com 16 crianças de 8 a 10 anos, entre meninos e meninas da periferia de Porto Alegre, propôs identificar como o velho era visto pelo grupo. Para a autora, em uma população que tem a taxa de natalidade diminuída e a de idosos aumentada, começar a conhecer as representações de uma geração sobre a outra pode criar novos caminhos de interação.
A abordagem proposta às crianças do grupo se deu a partir da pergunta: Quem é o idoso? A intenção era avançar além da classificação da idade cronológica. Temos um constante investimento cultural e simbólico sobre os corpos de maneira geral, incluindo o corpo do velho. Saber como as crianças são ou não são atravessadas por tudo isso pode nos remeter à forma como a sociedade se vê e, quem sabe, fazer uma autocrítica sobre o que somos, o que e como informamos e formamos nossas crianças.
Os participantes do estudo foram estimulados por desenhos, entrevistas, conversas e atividades lúdicas que permitiram que se sentissem à vontade para manifestar as próprias ideias. No grupo, a percepção também levava em consideração que vários conviviam com os avós, o que permitiu um senso de realidade maior em relação ao que era apontado por eles no processo de envelhecimento.
A vida do ser humano é marcada por mudanças fisiológicas que ficam evidentes com o tempo, e isso não escapa ao olhar da criança. Para Beauvoir (1990) o corpo humano se metamorfoseia. Essa é a visão das crianças. Para elas, velho é quem tem cabelos brancos, rugas, usa óculos, dentadura e, em alguns casos, quem sabe bengala. Essa é a imagem da fragilidade. Para elas, o corpo velho é um corpo frágil, provavelmente a partir das observações da realidade dos avós. 
Quando percebemos, pelo resultado do estudo, que a forma como as crianças veem o velho ocorre por uma identificação com a visão do adulto, fica clara a mensagem enviada pela sociedade por meio de reportagens, novelas, na realidade observada no tratamento dado aos velhos pelos adultos, entre outras situações, que não passam despercebidas aos olhos das crianças investigadas. Os relatos do grupo evidenciam como a sociedade concebe o idoso, os significados e representações que se faz deles.
Envelhecimento e Corporeidade
 Aula 5: parâmetros psicológicos no processo de significação do 
corpo na velhice
	
	Apresentação
Como vemos os nossos velhos atualmente?
Nesta disciplina, descobrir as novas percepções acerca da velhice tem sido a tarefa proposta. Para nos ajudar no entendimento das significações e das ressignificações do corpo do velho, do papel deste e do imaginário social apropriado pela população sobre o idoso, inúmeros autores foram invocados.
Nesta aula, pediremos ajuda ao filósofo Pierre Bourdieu. Para ele, os lugares sociais são definidos pelo poder do simbólico em cada situação, e muitas ressignificações são feitas em função desse simbolismo. Estudaremos, portanto, a visão de signos relacionados ao corpo.
Objetivo
Explicar o poder do simbólico e o impacto deste sobre o envelhecimento;
Examinar o olhar de Pierre Bourdieu e os lugares sociais definidos pelo poder do simbólico;
Identificar os aspectos psicológicos na ressignificação da velhice.
A figura do idoso continua tendo os mesmos significados?
Ao longo da história da humanidade, o tempo circunscreve os fatos e as situações aos períodos históricos. É o que chamamos de estar historicamente situado. De acordo com as características culturais do tempo e do momento que vivemos, a visão de mundo e a forma de as pessoas se relacionarem se transforma. As marcas e as características das populações se modificam como também se modifica a maneira como são vistas.
videoaula
Séculos atrás não havia o mesmo contingente populacional de idosos no mundo. Atualmente o crescimento da população idosa é um fenômeno no mundo inteiro e os signos que atravessam o olhar sobre o envelhecimento também mudaram.
Os significados sobre a figura do idoso para seus avós eram diferentes do que são para você neste momento. Se, para seus avós, o papel das mulheres era o de dedicar cuidados à família, se constituindo como figura central em relação à educação dos filhos, hoje quase todas trabalham e, às vezes, terceirizam o processo de educação a outras pessoas.
Se o papel do avô era ser o provedor das necessidades da família, hoje esse papel de prover é dividido com as mulheres. A maneira de se encarar os papéis sociais ganhou novos contornos e significados. No caso da população de idosos, o mesmo acontece.
O impacto do poder do simbólico sobre o envelhecimento
Nas aulas anteriores, falamos de diversos autores, como Simone de Beauvoir, Anthony Giddens e Michel Foucault, entre outros grandes pensadores que o século XXproduziu. Aparentemente, as ideias deles podem gerar um estranhamento quando associadas à temática desta disciplina. Entretanto, com as exposições feitas e as discussões levantadas, vai ficando claro que as abordagens de cada um deles têm força suficiente para nos ajudar a entender nosso tempo e os fenômenos que nos cercam.
Compreender nossa história e as ideias que a humanidade já produziu ajuda a dar sentido à vida cotidiana, que ganha um colorido diferente. Dessa forma, associaremos as ideias de Pierre Bourdieu à construção do nosso conhecimento nesta aula.
Ele foi um sociólogo francês que atuou investigando inúmeras frentes no campo da Sociologia, inclusive na Educação. Porém as teorias e as ideias dele vão muito além da educação e do neoliberalismo, permitindo que possamos compreender distintos fenômenos sociais e os efeitos destes sobre as populações.
Bourdieu pesquisou e desenvolveu uma abordagem sobre o que nem sempre está visível aos olhos de todos, mas tem grande poder sobre nossa forma de entender o mundo e reagir a ele. É sobre essa invisibilidade que refletiremos.
Quem foi Pierre Bourdieu
Vídeo youtube
Vídeoaula
É no território pelo qual transitam as ideias e os poderes oriundos delas que se localiza a fertilidade dos simbolismos e o que Pierre Bourdieu denominou poder simbólico. Para o autor, poderes simbólicos não são concretos, mas forças que se estabelecem a partir do que os homens determinam ser mais importante. Essas forças se originam nos fatos sociais e na maneira como a sociedade reage a eles.
Normalmente cria-se o poder com base no que o grupo determina ser a reação, a conduta ou a mentalidade superior a outras. O capital simbólico geralmente está onde se localiza o maior prestígio. Na verdade, o poder simbólico é invisível e só existe pela cumplicidade do grupo que o exerce. É uma forma de dominação exercida entre os indivíduos. Um domina e o outro é dominado.
No caso dos processos de envelhecimento, o poder maior está com quem, de alguma forma, tenta tutelar o idoso. O poder de construir ou influir sobre a realidade é o que dá força ao poder simbólico. Quando se pensa sobre a visão do processo de envelhecimento das populações, o que isso representa e como reagir à imagem de fragilização que pode levar à perda de autonomia, estamos lidando com a reação a um poder simbólico instituído. Estamos reagindo a ele.
Ligado em Saúde – Violência contra Idosos
Vídeo youtube
A visão de Pierre Bourdieu e os lugares sociais definidos pelo poder do simbólico
Dois fatos acompanham o ser humano: A violência em diferentes formas e o envelhecimento. A violência está inscrita na história da humanidade, incontestavelmente, desde o início da nossa existência. O envelhecimento, como processo presente desde o nascimento, também acompanha nossa existência. Porém, com as características atuais de envelhecimento populacional, ele se apresenta como um fenômeno recente.
São inúmeras as formas de violência testemunhadas nos tempos atuais. Podemos falar de efeitos originários de violências sobre as desigualdades sociais, no trânsito das grandes metrópoles do mundo, contra mulheres, entre outras formas; e isso sem nos referirmos às guerras sempre existentes no mundo, ainda que sem caráter de envolvimento de todos os países como nas mundiais. As guerras persistem, mas restritas a algumas regiões específicas (SERRA, 2010).
	A questão da violência na cultura humana rende estudos como os de Bourdieu, que analisa as formas simbólicas de violência. Vimos que ele aborda até mesmo o que não está explícito como violento, mas pode causar tanta dor e sofrimento como se fosse concreto.
Se associarmos a reflexão da violência ao tema do envelhecimento, encontraremos autores apontando um problema social. Minayo (2005), uma das pesquisadoras na área, apresenta um quadro que exibe violência estrutural, interpessoal e institucional. A violência estrutural nos remete à desigualdade social; a interpessoal se relaciona à comunicação de interação com o velho; e a institucional está relacionada às políticas públicas que não conseguem atender suficientemente esse segmento da população.
Minayo ainda discorre sobre maus-tratos físicos, psicológicos, negligência e abuso sexual. É possível perceber um avanço na discussão na medida em que a esfera acadêmica tem se apropriado do tema da violência contra o idoso. De Beauvoir, registrando o pacto do silêncio sobre o velho na sociedade, a Bourdieu, levantando a questão do poder simbólico da violência simbólica, constatamos um avanço.
O fato de desvelar o problema, mesmo que esteja longe da solução, é poderoso para denunciar o fato e gerar reflexões. Os lugares sociais e culturais definidos pelo poder do simbólico em relação ao envelhecimento alertam sobre as ações possíveis de minimizarem o preconceito contra o velho.
Saiba mais sobre violência contra os idosos no Dia Mundial da Conscientização sobre o tema
Vídeo youtube
Aspectos psicológicos na ressignificação da velhice
O preconceito em relação ao velho é um fato na nossa sociedade, assim como também a reação nas últimas décadas a esse comportamento. O significado dado ao idoso – um indivíduo que não trabalha mais e que, por isso, deve ser excluído – tem sido repensado, não importando a dificuldade de se renovar no seio social.
Como a população de idosos tem aumentado, com previsões que não podem ser ignoradas, as questões sobre a aposentadoria vêm assumindo um lugar de destaque nas discussões governamentais e sociais. As questões econômicas pesam nas discussões tanto no nível familiar como no social, já que a manutenção das políticas públicas e dos gastos com o atendimento dessa parcela da população preocupam a todas as esferas.
O preconceito e o estigma sobre a figura do idoso preocupam por ser uma atitude exclusiva, o que nos lembra Simone de Beauvoir quando disserta sobre o pacto do silêncio sobre a figura do velho e de suas necessidades. A marca maior fica por ocasião da aposentadoria.
videoaula
O trabalho gera compromissos, engajamento e participação ativa e sentido de projeto de vida. Ao término dessa fase, que deveria por direito ser de satisfação e de senso de dever cumprido, surge um vazio no cotidiano. É como se, fora o trabalho, não houvesse mais nada.
A passagem da condição de trabalhador ativo a trabalhador aposentado caracteriza nova fase para o indivíduo que, necessariamente, não o favorece em relação à aceitação social. Ele passa a ser associado à falta de projetos e de função tanto na vida familiar como na social.
Associa-se a isso o próprio preço que o processo de envelhecimento gera pelo desgaste provocado pelo tempo e temos um quadro que favorece aspectos negativos do velho se destacando. O equívoco ocorre pela mentalidade que se estabeleceu nas sociedades modernas de que somente a produção torna o indivíduo útil.
Nesse momento, outros aspectos da vida são concomitantes, como a possibilidade de perdas de amigos por morte ou por afastamento, principalmente em relação ao círculo de amigos do trabalho, e mudanças em relação ao próprio corpo. É necessário reinventar a vida, o cotidiano e os sentidos emprestados a tudo o que se fazia anteriormente. Esse é o sentido da ressignificação da velhice.
Essa ressignificação é fruto da influência da exigência da cultura que valoriza a produtividade, o imediatismo e a juventude, entre outras características. Quando se fala de significados é necessário pensar que eles são dados por nós todos com base em diversas facetas. As que talvez primeiro nos ocorram são as que vemos fisicamente, gerando, portanto, uma primeira impressão.
No caso do envelhecimento, saltam aos olhos as primeiras dificuldades do velho em relação à locomoção, à perda de autonomia e de funcionalidade, o acometimento de doenças, a surdez e outras perdas relacionadas à passagem do tempo. Esses são aspectos de base biofísica.
Percebe-se que o estado do idoso muda de pessoa para pessoa. Não temos um quadro homogêneo que se possa afirmar de maneira igualitária para todos os indivíduos acima de 60 anos. Até mesmoa literatura tem oferecido diferentes olhares sobre o desenvolvimento humano envolvendo além da visão biológica, a social, a psicológica e a cultural.
O idoso não escapa disso somente por ser velho. Além da variação da ótica na análise, temos as diferenças individuais vinculadas ao aspecto genético, ao ambiente, ao estilo de vida, à alimentação, entre outros. O significado predominante na atualidade sobre o envelhecimento que o associa aos aspectos negativos é hegemônico, mas cada vez mais discutido.
Comentári
Claramente essas pessoas estão fugindo do significado negativo de ser velho, ou de envelhecer, e estão propondo um novo significado para essa fase natural da vida. Eles estão ressignificando o conceito de velho a partir do processo biológico, da ausência de trabalho, da aposentadoria e do cotidiano que precisam viver.
Ressignificar representa também, além do olhar externo sobre o idoso, a reação do próprio indivíduo sobre o que lhe acomete. Significa ele não se conformar ou se submeter ao tratamento que tentam lhe impor, mesmo que na intenção de ajudá-lo. Ressignificar também significa o idoso fortalecer a funcionalidade, a autonomia a noção de envelhecimento saudável (além da ausência de doenças) e a liberdade de viver. Para a sociedade, significa repensar e desmistificar a ideia de inutilidade, dependência e fragilidade.
Na análise das experiências e significados da aposentadoria para homens e mulheres idosas, constatou-se uma ambiguidade de sentimentos, como: Alegria, tristeza, frustração, alívio e perda (FERREIRA et al., 2010; KUNZLER, 2009). É indispensável, portanto, a participação contínua e permanente dos idosos em todos os espaços da vida social, desfrutando de situações e oportunidades de acordo com os interesses e recursos pessoais de cada um, mas, acima de tudo, que esse envolvimento seja resultado de escolhas que traduzem satisfação e vontade de viver.
 
Envelhecimento e Corporeidade
 Aula 7: velhice, corporeidade e 
genero
	
	Apresentação
Você acha que as religiões influem na visão e nas relações que temos com o nosso corpo? Você percebe essa relação nos dias atuais? Já ouviu alguém dizer que, em algum momento, o corpo deixou de ser fonte de preocupação religiosa e adquiriu outros contornos, como corpo biológico, corpo social, objeto de controle social?
Pensaremos e discutiremos essas questões nesta aula, a partir da noção de corporeidade ligada às ciências humanas e sociais, considerando o olhar sobre o gênero feminino.
Também estudaremos a concepção de corporeidade na história. Um olhar amplo sobre a história do corpo pode levar à potencialização do entendimento da relação entre o corpo e o processo de envelhecimento.
Objetivos
Examinar a presença do corpo na história dos séculos XX e XXI;
Explicar o conceito de gênero na velhice;
Analisar a relação entre a velhice e o corpo da mulher.
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O corpo velho no contexto histórico-social
Os estudos sobre o envelhecimento se intensificaram a partir do século XX, quando a multidimensionalidade e a heterogeneidade da velhice começaram a ser reconhecidas.
As mudanças corporais acontecem ao longo do desenvolvimento humano e vão sendo construídas e reconstruídas pela influência de vários aspectos, inclusive os históricos. Relacionado à corporeidade na velhice, esse fato tem um significado que representa a visão que se tem do velho no âmbito social.
Tradicionalmente, a função social do idoso era a de transmitir os conhecimentos adquiridos aos mais jovens. Ele era uma figura de respeito e de autoridade pela sabedoria que acumulava.
O significado do corpo nos séculos XX e XXI
Sabemos que o corpo e as interpretações e representações acerca dele são situados historicamente. Isso significa dizer que cada período histórico influencia a visão e o conceito de corpo que temos e compartilhamos.
Se pensarmos na Idade Média, período que começou com a queda do Império Romano do Ocidente, no fim do século V, e durou até o século XV, podemos identificar, de acordo com as imagens e relatos, que o corpo era algo menor e o que importava era a alma/espírito.
A religião controlava o que pudesse ser vinculado a qualquer tipo de prazer relacionado ao corpo. A procriação era o esperado das funções sexuais, e o corpo era tratado como algo que devia ser escondido, como mostra o vestuário típico da época. A própria arte adquiria uma característica religiosa segundo a qual os corpos eram escondidos por meio de roupas pesadas.
Simultaneamente a essa época, já no final da Idade Média, havia uma reação, por meio das artes, de uma nova mentalidade surgindo lentamente contra o rigor religioso. Esse movimento cultural dos séculos XIV e XV, principalmente nas artes, caracterizou o Renascimento iniciado na Itália, quando o corpo desnudo começou, gradativamente, a ser exibido em nome da expressão artística.
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Os séculos XVI e XVII sofreram grande influência do filósofo que teve a obra baseada no racionalismo, Descartes. Ele também enfocava o dualismo corpo/mente ou corpo/alma mas por outro ângulo diferente do religioso, pois para ele prevalecia a razão. Por isso mesmo era chamado de racionalista.
No século XIX, um exemplo da distensão em relação à figura do corpo na arte foi o quadro Olympia, de Édouard Manet. A tela foi pintada em 1863 e atualmente está exposta no Museu d’Orsay, em Paris. O pintor causou impacto na sociedade da época pela exibição do nu frontal e também pelo enfrentamento do olhar da modelo, encarada na época como prostitua.
Avançando para os séculos XX e XXI, o corpo assume um papel de protagonismo a ponto de ser considerado um fenômeno a ser estudado. Não só passa a existir um destaque do corpo como os conceitos de estética corporal passam a ter novas exigências.
O ambiente doméstico era o espaço ocupado com uma liberdade relativamente maior, mas não o espaço público. Às mulheres mais velhas cabiam as tarefas do lar e a educação dos filhos. Após as grandes guerras, esse cenário se modificou com a ocupação dos espaços de trabalho deixados vagos pelos homens que guerreavam.
Uma vez fora de casa, as mulheres foram ascendendo na ocupação dos espaços sociais e de trabalho. Mais uma vez, o contexto social situou historicamente os corpos. A mesma liberação que ocorreu nos papéis sociais ocorreu na forma como os corpos eram encarados.
O vestuário se modificou, descobrindo mais pele do que antes. Pelos idos de 1950-1960, surgiram os biquínis em substituição aos trajes de banho que cobriam quase todo o corpo. Eles funcionaram como um passaporte para a liberação de vários costumes, inclusive o uso da sexualidade, pois o advento da pílula anticoncepcional ditou uma das primeiras liberações femininas em relação ao próprio corpo.
O modelo cobiçado esteticamente pelas mulheres era o das cinturas finas, das ancas largas e das curvas acentuadas. Esses modelos eram representados em grande parte pela mídia e pelo cinema. As atrizes que representavam esse modelo eram tidas como símbolos sexuais, sendo invejadas e imitadas pelas mulheres da sociedade ocidental.
Nos anos 1970, o modelo se modificou para o tipo muito magro exibido não por artistas de cinema, mas por modelos que atuavam na indústria da moda. A partir de então, vimos o leque ser ampliado e, posteriormente, outros exemplos surgiram no cenário de corpos aceitáveis. 
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Na passagem para o século XXI, os modelos esportivos, as modificações que marcavam com tatuagens, piercings, escarificações foram sendo aceitas com naturalidade e o corpo chamou atenção como objeto de estudo. Dos jovens sempre se esperou inovações, mas esse corpo atual, objeto de estudo, gera curiosidade em diferentes segmentos etários e em todas as tribos. 
O século XXI apresenta a liberdade dos corpos e a liberdade de dimensões de estética. Ao longo do tempo, o corpo do velho não usufruiu da mesma liberdade de transformação como o do jovem, principalmente em relação às mulheres mais velhas. O que era esperado delas era sempre discrição.
As conquistas aos novos patamares de inserçãosempre foram usadas pelas jovens. Hoje em dia, apesar da demanda ser ainda restrita e acanhada, a transformação na forma do ser humano se inserir nos novos códigos sociais dos corpos é evidente e pode abranger homens, mulheres, jovens e velhos.
O conceito de gênero na velhice
Refletir sobre o conceito de gênero associado ao envelhecimento é importante porque, ao se tornar velho, o indivíduo não deixa para trás todo o processo de socialização no qual esteve mergulhado durante a vida.
Um dos temas expressivos na sociedade atual é a discussão sobre gênero. Você pode se perguntar o que é isso. Certamente já ouviu algumas opiniões a respeito. Devemos começar pelo conceito. Nossa determinação de homem ou mulher costuma ser biologicamente estabelecida, apesar de não ser a única forma de nos identificarmos.
Esses exemplos indicam a necessidade de se repensar o assunto referente aos papéis sociais. Ao se falar em sexo, é oportuno lembrar que este é determinado biologicamente, e o gênero se estabelece culturalmente. É um conjunto de comportamentos relacionados à masculinidade e feminilidade, em um grupo ou sistema social.
Uma das propostas levantadas entre as muitas que existem sobre a questão de gênero remete aos papéis da mulher e do homem em relação ao trabalho e ao casamento, entre outros aspectos importantes para ambos.
Existem maneiras de a sociedade lidar com esses elementos, por exemplo, discutindo os salários de um e de outro. Os dados indicam que uma das queixas mais frequentes ao redor do mundo é sobre os salários dos homens serem maiores que o das mulheres, na proporção de 30% a mais, mesmo que ambos realizem o mesmo trabalho.
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The Unfair Menu
A discussão nesse caso e em outros relacionados aos gêneros feminino e masculino gira em torno das desigualdades de direitos e de oportunidades, o que potencializa o poder de um sobre o outro. Ao envelhecerem essa desproporção continua a existir. Entretanto, algumas características sobre a aceitação do envelhecimento ou sobre a forma de lidar com ele se modifica entre homens e mulheres.
	A velhice não é vivenciada, não é vivida da mesma forma para homens e mulheres, pois os papéis sociais construídos para um e outro são diferentes. A fragilidade se estabelece de forma praticamente igualitária, mas a forma de reagir a ela se manifesta com mais facilidade nas mulheres que buscam se socializar mais do que os homens.
A aposentadoria atinge a estes mais fortemente, talvez pelo abalo do poder econômico, como visto nas aulas anteriores. A reação das mulheres, além de se socializarem com mais facilidade, envolve uma sensação de liberdade que passa a ser usufruída com mais leveza. Essa capacidade de socialização favorece também a busca de maior qualidade de vida refletida nas escolhas de atividades. Elas se adaptam mais, eles não.
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Discurso de Emma Watson pela Organização das Nações Unidas (ONU) - Campanha #HeForShe
A construção social, ou de gênero, do que significa ser velha no século XXI também impacta bastante, e de forma diferente, a saúde das mulheres. Histórica e socialmente na sociedade, o macho e a fêmea têm ações e comportamentos que se repetem e são aceitos como pertinentes e naturais de um e do outro.
Trata-se do homem no papel de provedor e da mulher mais submissa e cuidadora da família. Na velhice, essa representação ainda se mantém. Se o homem velho adoece, torna-se mais frágil, pois, sem lutar contra a sensação de inutilidade oriunda da aposentadoria, ele tende a se sentir sem função, aumentando o risco de ficar acamado. Já a mulher, mesmo doente, continua exercendo os papéis sociais de mãe, esposa, avó e amiga como fez durante toda a vida.
O envolvimento social e os laços de amizade entre as mulheres costumam ser fortes (é o que entendemos por sororidade) e são muito importantes, principalmente na velhice, pois ajudam a suportar as dificuldades. Os homens apresentam menor desejo de se socializar. Já a preocupação com o trabalho muscular precisa estar presente nos dois gêneros, sob o risco de diminuir a possibilidade de uma vida mais plena no cenário da velhice.
Come
 A velhice e o corpo da mulher
A dimensão estética considerada na nossa sociedade, ou seja, o que significa ser belo, também não valoriza de forma igualitária os corpos de homens e mulheres, velhos e jovens. Aos homens jovens é imputada a imagem da força e do porte atlético.
	No caso das mulheres, elas devem ser magras, curvilíneas, bonitas e cuidadas. Na tentativa de agradar ou de seduzir os homens, elas tentam se aproximar desse modelo, às vezes à custa de recursos dolorosos, como cirurgias plásticas, dietas rigorosas e procedimentos invasivos.
Ao envelhecerem, os homens ainda podem ser considerados viris, com têmporas grisalhas que podem funcionar como um atrativo a mais e com barrigas proeminentes que necessariamente não comprometem as imagens deles. Desde que sejam produtivos, o aspecto físico é relevado e não é considerado como forte o bastante para denegrir a imagem estética deles.
No caso das mulheres, a situação é diferente. Espera-se que, para envelhecer bem e ser razoavelmente aceitas, elas permaneçam com as mesmas preocupações e cuidados, ainda que correndo o risco de serem consideradas feias por serem velhas ou, no máximo, senhoras simpáticas. A imagem associada à mulher velha é a de enrugada, sem viço ou brilho e decadente. Não se fala da bela velha, mas do belo velho.
A imagem da mulher jovem e bela comparada com a mulher velha e feia povoa o imaginário das populações desde as histórias infantis. Mulher bela e jovem é a Branca de Neve, ou a Cinderela. A mulher velha e feia corresponde à bruxa má. Em oposição à imagem de bruxa, pode-se encontrar a vovozinha acolhedora, como a Dona Benta, das histórias de Monteiro Lobato, a quem não importa ser bonita ou feia, uma vez que é assexuada. É apenas a avó – o que reforça o estereótipo da mulher velha e o preconceito existente em relação a ela.

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