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OAB XXXII EXAME DE ORDEM Sistema Tributário Nacional 1 CAPÍTULOS Capítulo 1 – Tributos Capítulo 2 – Parte 02 (você está aqui) – O Estado e o Poder de Tributar. Sistema Tributário Nacional Capítulo 3 – Competência Tributária Capítulo 4 – Legislação Tributária e Obrigação Tributária Capítulo 5 – Responsabilidade Tributária Capítulo 6 – Crédito Tributário Capítulo 7 – Suspensão do Crédito Tributário Capítulo 8 – Extinção do Crédito Tributário Capítulo 9 – Exclusão do Crédito Tributário Capítulo 10 – Garantias e Privilégios do Crédito Tributário Capítulo 11 – Administração Tributária Capítulo 12 – Disposições Finais e Transitórias do CTN Capítulo 13 – Processo administrativo fiscal Capítulo 14 – Processo judicial tributário. Ações de iniciativa do fisco. Ações de iniciativa do contribuinte Capítulo 15 – Tributação internacional Capítulo 16 – Aspectos tributários da Lei de Responsabilidade Fiscal Capítulo 17 – Aspectos tributários da Lei de Diretrizes Orçamentárias Capítulo 18 – Aspectos tributários da Lei n° 4.320 Capítulo 19 – Ilícito tributário. Ilícito e sanção. Ilícito administrativo tributário. Ilícito penal tributário Capítulo 20 – Sistema integrado de pagamento de impostos e SIMPLES Nacional Capítulo 21 – ICMS Capítulo 22 – Lei Complementar 116 2 SOBRE ESTE CAPÍTULO Neste segundo capítulo trataremos do Estado e seu poder de tributar, perpassando os fundamentos da imposição tributária, suas fontes, as normas que tratam do tema, e seus princípios informadores. Além disso, adentraremos no estudo das limitações ao poder de tributar, imunidades e isenção. Também exploraremos os tributos em espécie, os federais, estaduais, municipais, residuais e extraordinários. Ao operador do Direito é indispensável o conhecimento acerca do Direito Tributário e de todo o conjunto das leis reguladoras da arrecadação dos tributos (taxas, impostos e contribuição de melhoria), bem como de sua fiscalização, considerando as relações entre o fisco e as pessoas sujeitas a imposições tributárias de qualquer espécie. No Direito Tributário você deve privilegiar o estudo da Lei Seca, sendo certo que o Examinador tem predileção por disposições objetivas da letra da lei. Todavia, não deve-se olvidar da doutrina, especialmente quanto às questões conceituais, e da jurisprudência relativa aos diversos temas que abrangem o plexo de relações jurídicas entre Estado e contribuinte. Por ser muito extenso, este segundo capítulo foi divido em duas partes de maneira a otimizar a compressão dos importantes temas tratados e oferecer mais recursos de fixação da matéria. 3 SUMÁRIO DIREITO TRIBUTÁRIO .............................................................................................................................. 5 Capítulo 2 – Parte 02 .............................................................................................................................. 5 3.1 Impostos previstos na Constituição Federal de 1988 ........................................................................... 5 3.2 Impostos federais .................................................................................................................................................. 6 3.2.1 Imposto de Importação (II) ............................................................................................................................... 7 3.2.2 Imposto de Exportação (IE) ........................................................................................................................... 12 3.2.3 Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza (IR) ................................................. 15 3.2.4 Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) ...................................................................................... 23 3.2.5 Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, e sobre Operações Relativas a Títulos e Valores Mobiliários (IOF) .......................................................................................................................... 30 3.2.6 Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR)........................................................................... 38 3.2.7 Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF) .................................................................................................... 44 3.3 Impostos estaduais e distritais ..................................................................................................................... 44 3.3.1 Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) ................................................... 44 3.3.2 Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) .................................................... 52 3.3.3 Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) ................................................... 72 3.4 Impostos municipais ......................................................................................................................................... 76 3.4.1 Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) ................................................ 77 3.4.2 Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) ....................................................................... 85 3.4.3 Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza (ISS) .......................................................................... 90 3.5 Impostos residuais ............................................................................................................................................. 98 3.6 Impostos extraordinários .............................................................................................................................. 100 QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................ 110 4 GABARITO ............................................................................................................................................ 139 QUESTÃO DESAFIO ............................................................................................................................. 140 GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................ 141 LEGISLAÇÃO COMPILADA ................................................................................................................. 143 JURISPRUDÊNCIA ................................................................................................................................ 147 MAPA MENTAL ................................................................................................................................... 151 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................... 152 5 DIREITO TRIBUTÁRIO Capítulo 2 – Parte 02 3.1 Impostos previstos na Constituição Federal de 1988 O imposto, primeira espécie tributária prevista no artigo 145 da Constituição Federal de 19881, você se recorda, “é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte”, a teor do artigo 16 do Código Tributário Nacional. Observe que da literalidade desse dispositivo legal se depreende uma primeira característica relevante: a não vinculação de seu fato gerador a uma determinada ação por parte do Estado. Nessa esteira, Eduardo Sabbag (2017) define imposto como um tributo unilateral, ou seja, sem caráter contraprestacional, mas meramente contributivo. Em adição, perceba que o artigo 167, inciso IV, da Constituição Federal de 1988 consagra um segundo aspecto inerenteaos impostos, consistente na vedação, em regra, ao atrelamento da destinação da receita arrecadada a determinados órgãos, fundos ou despesas (não afetação): Art. 167. São vedados: (...) IV – a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para realização de atividades da administração tributária, como determinado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo; (...) 1 Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: I - impostos; (...) 6 A ideia do legislador é de, através da arrecadação desse tributo, financiar atividades gerais e indivisíveis do Estado (uti universi) que não podem ser custeadas por meio de taxas. Entende? Nas palavras de Luís Eduardo Schoueri (2018): “Eis o espaço dos impostos: valor cobrado de toda a coletividade para cobrir gastos que não se imputam a um ou outro contribuinte, individualmente”. Quanto ao fato gerador, impostos são não vinculados; quanto à destinação do produto de sua arrecadação, são não afetados. Outro contorno a se destacar sobre essa espécie de tributo diz respeito ao § 1º do art. 145 da CF/1988, ao dispor que os impostos terão, sempre que possível, caráter pessoal, levando em consideração as particularidades e a capacidade contributiva de cada contribuinte: § 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. Feitas tais ponderações, passa-se a analisar de forma pormenorizada cada um dos impostos previstos pelo constituinte. 3.2 Impostos federais Os impostos nominados de competência da União foram discriminados pelo constituinte nos incisos do art. 153 da CF/1988, sendo 07 (sete) ao total: 7 (1) Imposto de Importação (II); (2) Imposto de Exportação (IE); (3) Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza (IR); (4) Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); (5) Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, e sobre Operações Relativas a Títulos e Valores Mobiliários (IOF); (6) Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR); (7) Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF). 3.2.1 Imposto de Importação (II) Definido pelo artigo 153, inciso I, da Constituição Federal de 1988, segundo o qual “ compete à União instituir impostos sobre importação de produtos estrangeiros”, o Imposto de Importação funciona como um mecanismo de controle sobre o comércio internacional, ostentando notória função extrafiscal. Observe que o fato gerador deste imposto, nos moldes do art. 19 do CTN, é a entrada dos produtos estrangeiros no território nacional. Embora o Código Tributário Nacional não especifique esse conceito de entrada, o art. 23 do Decreto nº 37/1966 aponta como elemento temporal do fato gerador, para efeitos de cálculo do tributo, a data do Registro da Declaração de Importação – ou documento que lhe faça substituir – da mercadoria despachada perante a autoridade aduaneira (SCHOUERI, 2018). 8 Há, contudo, casos bem específicos nos quais a legislação prevê a possibilidade de declaração de importação ser registrada antes da descarga do produto estrangeiro na unidade da Secretaria da Receita Federal de despacho2. Ricardo Alexandre explica que, para o STF, o tributo incide sobre a entrada de produtos estrangeiros em geral: produtos destinados ao comércio, produtos para uso ou consumo, produtos para incorporação ao ativo fixo de empresas, produtos naturais, manufaturados, dentre outros. O simples ingresso físico do produto estrangeiro no território nacional não é suficiente para configurar o fato gerador do tributo, sendo necessária a incorporação do bem à economia interna. A base de cálculo, por sua vez, varia de acordo com os tipos de alíquota e produto, observe: (1) Se a alíquota for específica, a quantidade de mercadoria, de acordo a unidade de medida adotada pela lei tributária (exemplo: R$ XX,XX por tonelada do produto Y, conforme padronização prevista pela Tarifa Externa Comum – TEC). Artigo 20, inciso I, do Código Tributário Nacional; (2) Se a alíquota for ad valorem, isto é, um percentual fixado em lei, é o preço normal que o produto, ou seu similar, alcançaria, ao tempo da importação, em uma venda em condições de livre concorrência, para entrega no porto ou lugar de entrada do produto no País. Em outras palavras, é o valor aduaneiro da mercadoria, definido de 2 IN SRF 680/2006, art. 17. 9 acordo com as normas do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio – GAAT (artigo 20, inciso II, do Código Tributário Nacional); (3) Se a mercadoria importada consistir em um produto apreendido ou abandonado e levado a leilão, o preço da arrematação. Artigo 20, inciso III, do CTN. De seu turno, preceitua o art. 22 do CTN que é contribuinte do imposto: (1) O importador ou a quem a lei a ele equiparar (inciso I); (2) O arrematante de produtos apreendidos ou abandonados (inciso II). II Fato gerador Entrada de produto estrangeiro em território nacional Contribuinte Importador (ou equiparado) Arrematante de produto abandonado Base de cálculo Alíquota específica Unidade de medida Alíquota ad valorem Valor normal do produto Produto leiloado Valor da arrematação 10 Preste atenção! O Imposto de Importação está sujeito ao princípio da legalidade, sendo inconstitucional a alteração de sua base de cálculo sem atuação positiva do legislador. Observe- se que o art. 21 do CTN, que prevê que “o Poder Executivo pode, nas condições e nos limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto, a fim de ajustá- lo aos objetivos da política cambial e do comércio exterior”, é anterior à Constituição Federal de 1988, e não foi recepcionado por ela por manifesto conflito material entre as normas. Contudo, vale destacar que o Imposto de Importação é sujeito a uma legalidade flexível, tendo em vista que o art. 153, § 1º, da CF/1988 autoriza a alteração de alíquota pelo Poder Executivo, através de Decreto ou Portaria do Ministro da Fazenda. CUIDADO! Nada impede a instituição ou majoração (inclusive por meio de alterações em base de cálculo) de um imposto por Medida Provisória, pois mesmo sendo este um ato emanado pelo Poder Executivo, a espécie legislativa prevista no artigo 62 da Constituição Federal de 1988 possui força de lei. Logo, contanto que a Medida Provisória siga o devido processo legislativo constitucional e seja convertida em lei, inexiste qualquer afronta ao princípio da legalidade. O lançamento do crédito tributário relativo ao Imposto de Importação se dá, em regra, por homologação. O incidente sobre bagagens, por outro lado, é lançado por declaração. Este imposto, consoante explanado anteriormente, tem como finalidade viabilizar um controle sobre o comércio internacional. Diante do caráter regulatório do tributo (extrafiscal) e as recorrentes – e muitas vezes súbitas – variações no sistema mercantil, a Constituição Federal classifica esse imposto uma exceção às anterioridades previstas no artigo 150, inciso III, “b” e “c”, da Constituição Federal de 1988 (tanto à anual quanto ànonagesimal). 11 Por conseguinte, na hipótese de edição de uma lei instituindo ou aumentando tributo relacionado à importação de produtos estrangeiros, é permitido à União cobrá-lo de forma imediata, independentemente da data de publicação da norma. Com efeito, assim preconiza a Carta Magna: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) III - cobrar tributos: (...) b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; (anterioridade tributária) c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; (anterioridade nonagesimal/noventena) (...) § 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I (Imposto de Importação), II, IV e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I. É importante que você atente que a instituição ou majoração de Imposto de Importação também pode se dar por Medida Provisória com efeitos imediatos, independentemente da data de sua conversão em lei, devido à expressa autorização pelo constituinte, no artigo 62, § 2º, da CF/1988: “medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada”. Por fim, vale ressaltar que, na importação, é possível que, cumulativamente ao Importo sobre a Importação, também incidam o IPI e o ICMS. 12 3.2.2 Imposto de Exportação (IE) Definido pelo artigo 153, inciso II, da CF/1988, segundo o qual “compete à União instituir impostos sobre exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados”, o Imposto de Exportação, assim como o tributo anterior, é dotado de função extrafiscal, uma vez que também objetiva regular as relações comerciais exteriores. CUIDADO! Embora o artigo 28 do Código Tributário Nacional consagre uma segunda finalidade do Imposto de Exportação, qual seja, a de formação de receitas monetárias, tal norma não foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, que veda, em seu artigo 167, inciso IV, a vinculação de receita de impostos. Logo, em uma eventual questão de concurso, o candidato deve se ater à extrafiscalidade do tributo. Conforme ensinamento de Leandro Paulsen (2017), são nacionais os produtos produzidos em território brasileiro, ao passo que os nacionalizados dizem respeito aos faturados no exterior e importados para uso industrial, comercial ou de consumo. O Imposto de Exportação não recai sobre produto estrangeiro que entra em território nacional para simples trânsito ou participação em feira, pois nesses casos não há o propósito de internalizá-lo no País, inexistindo, assim, nacionalização (PAULSEN, 2017). Atente que o fato gerador deste imposto, segundo o art. 23 do CTN, é a saída de produtos nacionais ou nacionalizados do território nacional. E conquanto o Código Tributário Nacional também não especifique o conceito de saída, a legislação tributária, para fins de cálculo do imposto, define como marco temporal do fato gerador a data de registro da exportação no 13 Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX). Inteligência do artigo 213 do Decreto nº 6.759/2009 (Regulamento Aduaneiro). O tributo será calculado com base na legislação vigente na data do registro das exportações, mesmo que, na data da efetiva saída da mercadora do território nacional, tenha havido alguma alteração relevante na legislação correspondente. A base de cálculo do imposto depende do tipo de alíquota a ser utilizada. Preste atenção: (1) Se a alíquota for específica, é a quantidade de mercadoria, de acordo a unidade de medida adotada pela lei tributária (exemplo: R$ XX,XX por tonelada do produto Y, conforme padronização prevista pela Tarifa Externa Comum – TEC). Artigo 24, inciso I, do Código Tributário Nacional; (2) Se a alíquota for ad valorem, é o preço normal que o produto, ou seu similar, alcançaria, ao tempo da exportação, em condições de livre concorrência. Artigo 24, inciso II, do Código Tributário Nacional. Segundo o Regulamento Aduaneiro, quando o preço da mercadoria for de difícil apuração ou suscetível de oscilações bruscas no mercado internacional, a Câmara de Comércio Exterior fixará critérios específicos ou estabelecerá pauta de valor mínimo, para apuração da base de cálculo. Para determinar a base de cálculo, o preço de venda das mercadorias exportadas não pode ser inferior ao seu custo de aquisição ou de produção, acrescido dos impostos e das contribuições incidentes e da margem de lucro de 15% sobre a soma dos custos mais impostos e contribuições. O contribuinte, conforme o art. 27 do CTN, “é o exportador ou a quem a lei equiparar”. Este dispositivo é complementado pelo artigo 5º do Decreto-Lei nº 1.578/1977, que considera a figura do exportador como “qualquer pessoa que promova a saída do produto do território nacional”. 14 Lembre-se que o lançamento do tributo se dá, em regra, por homologação. Tal como ocorre com o tributo visto anteriormente, o Imposto de Exportação legalidade flexível, sendo inconstitucional a alteração de sua base de cálculo sem atuação positiva do legislador. Observe que o art. 26 do CTN, que prevê que “o Poder Executivo pode, nas condições e nos limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto, a fim de ajustá-lo aos objetivos da política cambial e do comércio exterior”, é anterior à Constituição Federal de 1988, e não foi recepcionado por ela por manifesto conflito material entre as normas. Novamente, entretanto, o art. 153, § 1º, da CF/1988 autoriza a alteração de alíquota pelo Poder Executivo, através de Decreto ou Portaria do Ministro da Fazenda. O Imposto de Exportação, consoante explanado anteriormente, tem como finalidade viabilizar um controle sobre o comércio internacional. Tendo em vista o caráter regulatório do tributo (extrafiscal) e as recorrentes – e muitas vezes súbitas – variações no sistema mercantil, a Constituição Federal classifica esse imposto IE Fato gerador Saída de produtos nacionais ou nacionalizados do território nacional Contribuinte Exportador (ou equiparado) Base de cálculo Alíquota específica Unidade de medida Alíquota ad valorem Valor normal do produto 15 também constitui uma exceção às anterioridades previstas no artigo 150, inciso III, “b” e “c”, da Constituição Federal de 1988. Logo, na hipótese de edição de uma lei instituindo ou aumentando tributo relacionado à exportação de produtos nacionais ou nacionalizados, é permitido à União cobrá-lo de forma imediata, independentemente da data de publicação da norma. In verbis: § 1º A vedação do inciso III, b (anterioridade tributária), não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II (Imposto de Importação), IV e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c (anterioridade nonagesimal/noventena), não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II (Imposto de Importação), III e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I. E aqui se repete o comando constitucional que permite a instituição ou majoração de Imposto de Exportação por Medida Provisória com efeitos imediatos, independentemente da data de sua conversão em lei. A respeito, o art. 62, § 2º, da CF/1988: “medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V,e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada”. Diferentemente do que ocorre com o imposto sobre a importação, não incide IPI e ICMS sobre a exportação, razão pela qual o IE não é cumulado com nenhum outro imposto. 3.2.3 Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza (IR) Dedique especial atenção às disposições que tratam do IR. Este tema é muito bem quisto pelos examinadores em concursos públicos. Definido pelo art. 153, inciso III, da CF/1988, segundo o qual “compete à União instituir impostos sobre renda e proventos de qualquer natureza”, o Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza, mais conhecido apenas como Imposto de Renda (IR), tem incontestável função fiscal, incidindo sobre o acréscimo patrimonial das pessoas físicas (IRPF) e jurídicas (IRPJ). 16 Quanto aos termos que dão nome ao tributo, Paulsen (2017) explica que a renda é o acréscimo patrimonial produto do capital ou do trabalho (exemplos: aluguel e salários, respectivamente), ao passo que proventos são os acréscimos que não se enquadram no conceito de renda (exemplos: loteria e pensões). O fato gerador, de acordo com o art. 43 do CTN, é a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de renda ou proventos de qualquer natureza3. Quanto às nomenclaturas adotadas pelo artigo, Eduardo Sabbag (2018) adota a seguinte interpretação, atente a ela: Disponibilidade econômica: é a aquisição da faculdade de usar, gozar e dispor de renda ou proventos de qualquer natureza. Representa a acessibilidade material e imediata a eles, ou, em termos mais simples, “ter o dinheiro na conta”; Disponibilidade jurídica: é a aquisição de direitos sobre créditos estampados em títulos ou documentos de liquidez e certeza (sem condição suspensiva). Representa o “ter direito a”. Frise-se que o IR somente incidirá se houver acréscimo patrimonial, sem haver necessidade de que o rendimento seja efetivamente recebido, bastando que o sujeito passivo tenha adquirido o direito de crédito, ou seja, a disponibilidade jurídica. Exemplo: se um comerciante vende uma mercadoria no último dia do ano, porém recebe o valor trinta dias depois, considera-se, para efeitos de incidência de IR, a data da venda, pois nela o comerciante adquiriu a disponibilidade jurídica. (SABBAG, 2018). Observe esse importante e recente julgado4 do STJ sobre o tema, comentado pelo Blog do Dizer o Direito: O imposto de renda tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de renda ou de proventos de qualquer natureza. Renda, para fins de incidência tributária, pressupõe acréscimo patrimonial ao longo de determinado período, ou seja, riqueza nova agregada ao patrimônio do contribuinte. A quota condominial é a obrigação mensal imposta a todos os condôminos para cobrir gastos necessários à manutenção de um condomínio. Trata-se, portanto, de uma despesa, um encargo que é suportado pelos condôminos. Assim, a dispensa do pagamento das taxas condominiais concedida ao 3 Vide questão 4 4 STJ. 1ª Turma. REsp 1606234-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 05/12/2019 (Info 662). 17 síndico pelo trabalho por ele exercido não pode ser considerada como pró-labore, rendimento nem tampouco como acréscimo patrimonial. Logo, não está sujeita à incidência do imposto de renda, sob pena, inclusive, de violar o princípio da capacidade contributiva. Quando o síndico deixa de pagar a quota condominial não há uma alteração entre o patrimônio preexistente e o novo. Não há o ingresso de riqueza nova em seu patrimônio que justifique a inclusão do valor correspondente à sua quota condominial como ganho patrimonial na apuração anual de rendimentos tributáveis. Em função do princípio da pecunia non olet, a expressão “de qualquer natureza” abrange até mesmo os acréscimos patrimoniais derivados de atividades ilícitas. A irrelevância da origem do acréscimo para fins fiscais é sustentada pelo § 1º do artigo 43 do CTN, que assim dispõe: “a incidência do imposto independe da denominação da receita ou do rendimento, da localização, condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da origem e da forma de percepção”. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC 77.530-4/RS, exortou que “ seria injusto cobrar imposto daquele que trabalha honestamente e conceder uma verdadeira ‘ imunidade’ ao criminoso”: Sonegação fiscal de lucro advindo de atividade criminosa: "non olet". Drogas: tráfico de drogas, envolvendo sociedades comerciais organizadas, com lucros vultosos subtraídos à contabilização regular das empresas e subtraídos à declaração de rendimentos: caracterização, em tese, de crime de sonegação fiscal, a acarretar a competência da Justiça Federal e atrair pela conexão, o tráfico de entorpecentes: irrelevância da origem ilícita, mesmo quando criminal, da renda subtraída à tributação. A exoneração tributária dos resultados econômicos de fato criminoso - antes de ser corolário do princípio da moralidade - constitui violação do princípio de isonomia fiscal, de manifesta inspiração ética (STF, HC 77.530-4/RS, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, julgado em 25/08/1998, DJ 18/09/1998). 18 As questões concernentes à disponibilidade de acréscimos patrimoniais provenientes do exterior deverão ser regradas por meio de lei ordinária, como indica o § 2º do art. 43 do CTN: “Na hipótese de receita ou de rendimento oriundos do exterior, a lei estabelecerá as condições e o momento em que se dará sua disponibilidade, para fins de incidência do imposto referido neste artigo”. A base de cálculo do Imposto de Renda é o montante, real, arbitrado ou presumido, da renda ou dos proventos tributáveis, ex vi do art. 44 do CTN. À diferenciação dos termos previstos nesse dispositivo, socorre-se à explicação de Ricardo Alexandre (2017, p. 662), abaixo sintetizada: Lucro real: é o lucro líquido calculado pelo contribuinte, já considerados todos os abatimentos legalmente autorizados; Lucro presumido: adotado para o cálculo do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), respeitados os requisitos previstos no art. 530 do RIR/1999. O contribuinte aplica um percentual sobre o valor de sua receita bruta, obtendo assim um valor fiscal aproximado; Lucro arbitrado: aplicado em caso de impossibilidade de cálculo do lucro real e não preenchimento dos pressupostos necessários à adoção do lucro presumido (por exemplo, quando o contribuinte descumpre a obrigação de escriturar livros fiscais). A apuração da base de cálculo é realizada mediante critérios estabelecidos em lei, sendo o mais recorrente a simples aplicação de um percentual sobre a receita bruta. É possível o arbitramento por iniciativa do contribuinte, desde que conhecida a receita bruta e caracterizada uma das hipóteses de arbitramento. 19 O contribuinte, segundo o art. 45, “caput”, do CTN, é o titular da disponibilidade jurídica ou econômica, ainda que se trate de mero possuidor de bens produtores de renda ou proventos tributados, bastando que a lei assim preveja. O lançamento, em regra, é feito por homologação. O Imposto de Renda está sujeito à anterioridade tributária comum, mas é uma exceção à noventena. Não esqueça! Desse modo, a única restrição é a impossibilidade de produção de efeitos de lei instituindo ou majorando o tributo no mesmo exercício financeiro de sua publicação, sendo irrelevante, no mais, a data do ato (exemplo: na hipótese de publicação, em dezembro, de uma lei prevendo a majoração do Imposto de Renda, nada impede a cobrança do tributo – já nos ditames da nova legislação – no início do exercício financeiro seguinte, independentemente do decurso,ou não, do prazo constitucional de noventa dias). Nesse sentir, vide o art. 150, § 1º, parte final, da CF/1988: IR Fato gerador Aquisição de disponibilidade jurídica ou econômica Contribuinte Titular da disponibilidade, sem prejuízo de atribuir a lei essa condição ao possuidor dos bens produtores de renda ou proventos Base de cálculo Lucro Real Presumido Arbitrado 20 § 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c (noventena), não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III (Imposto de Renda) e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I. O artigo 150, § 2º, inciso I, da Constituição Federal de 1988 impõe a vinculação do Imposto de Renda a três princípios constitucionais: Generalidade: segundo esse princípio, o tributo deve abranger todos os contribuintes que se encontram em situação similar – in casu, todos que adquirem disponibilidade econômica ou jurídica sobre renda ou proventos tributáveis (DEFINI apud PAULSEN, 2017); Universalidade: o tributo deve incidir sobre qualquer renda ou provento, sem distinções. Desse princípio decorre o comando do § 1º do art. 43 do CTN (“a incidência do imposto independe da denominação da receita ou do rendimento, da localização, condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da origem e da forma de percepção”); Progressividade: reflexo do princípio da capacidade contributiva. Elucida Paulsen (2017) que a progressividade se dá quando as alíquotas do Imposto de Renda – que é pessoal, vale reiterar – são graduadas em função do aumento da base de cálculo. Do princípio da progressividade derivam as “faixas” de Imposto de Renda: quanto maior a base de cálculo, maior a alíquota a ser exigida pela autoridade fiscal. Ressalte-se que o CESPE correlaciona o instituto da generalidade às pessoas e o da universalidade aos rendimentos e proventos. 21 Os Tribunais Superiores já consolidaram o entendimento de que verbas de natureza meramente indenizatória não constituem fato gerador do imposto de renda, mormente por perfazerem mera recomposição – e não acréscimo – de patrimônio. Tal questão ensejou a edição de algumas súmulas pelo Superior Tribunal de Justiça: Súmula nº 136/STJ: “O pagamento de licença-prêmio não gozada por necessidade do serviço não está sujeito ao imposto de renda”. Súmula nº 215/STJ: “A indenização recebida pela adesão ao programa de incentivo à demissão voluntária não está sujeita à incidência do imposto de renda”. Súmula nº 498/STJ: “Não incide imposto de renda sobre a indenização por danos morais”. CUIDADO! Se os valores percebidos possuírem natureza remuneratória, haverá incidência de imposto de renda. É o caso, por exemplo, da indenização por horas extraordinárias trabalhadas, consoante verbete sumular nº 463/STJ: “incide imposto de renda sobre os valores percebidos a título de indenização por horas extraordinárias trabalhadas, ainda que decorrentes de acordo coletivo”. Observe-se tal indenização consiste em uma contraprestação devida pelo empregador em decorrência do trabalho desempenhado pelo empregado, enquadrando-se, portanto, no conceito de renda estabelecido pelo artigo 43, primeira parte, do Código Tributário Nacional. Sob o mesmo argumento, o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial nº 1.459.779/MA, que tramitou sob o rito dos recursos repetitivos e serviu de paradigma do Tema 881, decidiu pela incidência do Imposto de Renda sobre o 1/3 constitucional de férias gozadas: 22 TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. IMPOSTO DE RENDA. ADICIONAL DE 1/3 (UM TERÇO) DE FÉRIAS GOZADAS. INCIDÊNCIA DA EXAÇÃO. 1. A jurisprudência tradicional do STJ é pacífica quanto à incidência do imposto de renda sobre o adicional (1/3) de férias gozadas. (...) 2. A conclusão acerca da natureza do terço constitucional de férias gozadas nos julgamentos da Pet 7.296/PE e do REsp 1.230.957/RS, por si só, não infirma a hipótese de incidência do imposto de renda, cujo fato gerador não está relacionado com a composição do salário de contribuição para fins previdenciários ou com a habitualidade de percepção dessa verba, mas, sim, com a existência, ou não, de acréscimo patrimonial, que, como visto, é patente quando do recebimento do adicional de férias gozadas (STJ, REsp 1.459.779/MA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção, julgado em 22/04/2015, DJe 18/11/2015). Importante não confundir a verba supracitada com o pagamento de férias não gozadas por necessidade do serviço e a indenização de férias proporcionais, que não constituem base de cálculo do imposto, a teor das Súmulas nº 125/STJ (“o pagamento de férias não gozadas por necessidade do serviço não está sujeito à incidência do Imposto de Renda”) e 386/STJ (“são isentas de imposto de renda as indenizações de férias proporcionais e o respectivo adicional”), respectivamente. Incide imposto de renda sobre o Abono de Permanência. Recentemente, o STJ decidiu que não tendo participado do fato gerador do tributo, a declaração conjunta de imposto de renda não torna o cônjuge corresponsável pela dívida tributária dos rendimentos percebidos pelo outro5. Enfim, ainda sob a mesma ótima, o Superior Tribunal de Justiça também julgou que a verba recebida a título de lucros cessantes também incide na base de cálculo do Imposto de Renda. A respeito, confira-se: PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. OFENSA AO ART. 535 DO CPC. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. SÚMULA 284/STF. VERBA RECEBIDA EM DECORRÊNCIA DE ATO ILÍCITO PRATICADO POR TERCEIRO. NATUREZA DE LUCROS CESSANTES. INCIDÊNCIA DO IMPOSTO DE RENDA. (...) 2. Os valores percebidos a título de pensionamento por redução da capacidade laborativa decorrente de dano físico causado 5 STJ. 1ª Turma. REsp 1273396-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 05/12/2019 (Info 662) 23 por terceiro, em cumprimento de decisão judicial, são tributáveis pelo imposto de renda e sujeitam a fonte pagadora à retenção do imposto por ocasião do pagamento (STJ, REsp 1.464.786/RS, Rel. Min. Og Fernandes, Segunda Turma, julgado em 25/08/2015, DJe 09/09/2015). Por derradeiro, o art. 158, inciso I, da CF/1988 estabelece que a totalidade do produto da arrecadação do Imposto de Renda Recolhido na Fonte (IRRF) pertence aos Municípios. Trata-se de uma previsão constitucional de repartição de receita tributária. Cabe mencionar, por fim, a súmula 627, que estipula que “o contribuinte faz jus à concessão ou à manutenção da isenção do imposto de renda, não se lhe exigindo a demonstração da contemporaneidade dos sintomas da doença nem da recidiva da enfermidade”. Tal súmula decorre do fato de que na Lei n. 7.713/88, que regula o imposto de renda, existir previsão legal de isenção em determinados casos de doenças arroladas na Lei. 3.2.4 Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) Definido pelo artigo 153, inciso IV, da Constituição Federal de 1988, segundo o qual “compete à União instituir impostos sobre produtos industrializados”, o IPI se presta a tributar operações que envolvam produtos atingidos por um processo de industrialização. O parágrafo único do artigo 46 do Código Tributário Nacional, em cotejo com o artigo 4º do Regulamento do IPI (Decreto nº 7.212/2010), considera como industrializado o produto submetido a qualquer operação que lhe modifique a natureza, o funcionamento, o acabamento, a apresentação ou a finalidade, ou o aperfeiçoe para o consumo, citando como exemplos a transformação, o beneficiamento, a montagem, o acondicionamento, o reacondicionamento, a renovação e o recondicionamento. Repare que para fins desse imposto, a industrializaçãonão precisa estar finalizada, bastando sua versão incompleta, parcial ou intermediária (artigo 3º do Decreto nº 7.212/2010). 24 O fato gerador deste imposto está previsto nos incisos do artigo 46 do Código Tributário Nacional: (1) Caso o produto possua origem estrangeira, é o desembaraço aduaneiro; (2) A saída do produto de qualquer estabelecimento de importador, industrial, comerciante ou arrematante; (3) A arrematação de produtos apreendidos ou abandonados e levados a leilão. De seu turno, a base de cálculo varia conforme o fato gerador em pauta: (1) Se o produto industrializado tiver proveniência estrangeira, é seu preço normal, acrescido do montante do imposto sobre a importação, das taxas alfandegárias, e dos encargos cambiais efetivamente pagos pelo importador ou dele exigíveis; (2) Se houver a saída do produto de qualquer estabelecimento de importador, industrial, comerciante ou arrematante, é o valor da operação de que decorrer tal ato, ou, em sua ausência, o preço corrente da mercadoria no mercado atacadista da praça do remetente; (3) Se o produto for apreendido ou abandonado e posteriormente leiloado, é o preço da arrematação. O contribuinte, por fim, é identificado pelo art. 51 do CTN, sendo o importador ou industrial (ou legalmente equiparados), o comerciante e o arrematante. 25 O lançamento se dá, em regra, por homologação. Os incisos I e II do § 3º do artigo 153 da Constituição Federal de 1988 e os artigos 48 e 49 do Código Tributário Nacional impõem a observância obrigatória do Imposto sobre Produtos Industrializados a dois princípios constitucionais, quais sejam, a seletividade e não cumulatividade. Seletividade: o IPI deve ter suas alíquotas estabelecidas de acordo com a essencialidade do produto industrializado. Assim, um produto considerado como essencial, a exemplo de itens de alimentação básica, devem tributados com alíquotas reduzidas (ou mesmo zero), ao passo que aos itens supérfluos se atribui maior tributação. Com base nesse princípio é possível concluir pelo notório interesse estatal IPI Fato gerador Desembaraço aduaneiro (produto estrangeiro) Saída do produto de estabelecimento de importador, industrial, comerciante ou arrematante Contribuinte Importador, industrial (ou equiparados), comerciante ou arrematante Base de cálculo Preço normal + Imposto de Importação + taxas alfandegárias + encargos cambiais (produto estrangeiro) Valor da operação ou preço corrente da mercadoria (saída do produto de estabelecimento de contribuintes) Valor da arrematação (produto leiloado) 26 em regular o mercado, tendo o Imposto sobre Produtos Industrializados função predominantemente extrafiscal (ainda que a função fiscal do tributo exista e tenha insofismável relevância); Não cumulatividade: dispõe o artigo 153, § 3º, inciso II, da Constituição Federal de 1988 que o IPI será “não cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação com o montante cobrado nas anteriores”. O intuito de tal princípio é impedir um “efeito cascata” da tributação, com o qual seria possível, em um cenário de cadeia de industrializações, incidências sucessivas sobre uma única base econômica (PAULSEN, 2017). Em síntese, é inconstitucional a realização de múltiplas tributações a título de IPI sobre o mesmo produto, ainda que em fases de industrialização diversas (por exemplo, efetuar a cobrança do tributo sobre um insumo e repeti-la quando o produto tiver se transformado de insumo para produto final). Desse modo, na hipótese de incidências sucessivas, os valores já pagos deverão ser compensados. Segundo Ricardo Alexandre, funciona mediante o sistema de débitos e créditos. Periodicamente, faz-se uma comparação entre os débitos e os créditos. Caso os débitos sejam superiores aos créditos, o contribuinte deve recolher a diferença aos cofres públicos. Caso os créditos sejam maiores, a diferença pode ser compensada posteriormente ou mesmo, cumpridos determinados requisitos, ser objeto de ressarcimento. O STF, todavia, decidiu pela impossibilidade de compensação de créditos de IPI relativos à aquisição de matéria-prima não tributada ou sujeita à alíquota zero. Mas, atenção! Os princípios da não cumulatividade e da seletividade não ensejam direito de crédito presumido de IPI para o contribuinte adquirente de insumos não tributados, sujeitos à alíquota zero, isentos ou imunes (havendo aquisição desonerada, não haverá crédito para o adquirente). Veja o teor da recentíssima (24.04.2020) Súmula Vinculante 58: Inexiste direito a crédito presumido de IPI relativamente à entrada de insumos isentos, sujeitos à alíquota zero ou não tributáveis, o que não contraria o princípio da não cumulatividade. 27 Segue explicando o autor que, tanto para o IPI quanto para o ICMS vale a tese da dupla incidência (dupla oneração), de forma que o direito ao crédito decorrente da não cumulatividade desses tributos somente decorre diretamente da Constituição Federal quando houver entrada onerada e saída onerada. Se a entrada é desonerada, não já direito ao crédito; se a saída é desonerada, devem ser cancelados (estornados) os créditos relativos às operações ou prestações anteriores. CUIDADO! O Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o EREsp 1.403.532/SC, sob a sistemática de recursos repetitivos, manifestou-se em favor de uma nova incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados na operação de revenda: “os produtos importados estão sujeitos a uma nova incidência do IPI quando de sua saída do estabelecimento importador na operação de revenda, mesmo que não tenham sofrido industrialização no Brasil” (STJ – EREsp 1.403.532/SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para o acórdão Min. Mauro Campbell Marques, Corte Especial, j. 14.10.2015). Ressalte-se que a EC 42/2003 passou a disciplinar que o IPI terá reduzido o seu impacto sobre a aquisição de bens de capital pelo contribuinte do imposto. Em razão de sua função predominantemente extrafiscal, o Imposto sobre Produtos Industrializados está sujeito a uma legalidade flexível, sendo autorizada a alteração de alíquota pelo Poder Executivo, através de Decreto ou Portaria do Ministro da Fazenda, ex vi do art. 153, § 1º, da CF/1988. O IPI é uma exceção à anterioridade tributária comum, mas está sujeito à noventena. Desse modo, a única restrição é a impossibilidade de produção de efeitos de lei instituindo ou majorando o tributo antes de decorridos noventa dias da data de sua publicação, não importando, porém, o exercício financeiro (exemplo: na hipótese de publicação, em janeiro, de uma lei prevendo a majoração do Imposto sobre Produtos Industrializados, nada impede a cobrança do tributo – já nos ditames da nova legislação – no mês de maio do mesmo exercício). Nesse sentir, vide o artigo 150, § 1º, parte final, da Constituição Federal de 1988: § 1º A vedação do inciso III, b (anterioridade tributária comum), não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV (Imposto sobre Produtos Industrializados) 28 e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I. A instituição ou majoração de Imposto sobre Produtos Industrializados também pode se dar por Medida Provisória com efeitos imediatos, independentemente da data de sua conversão em lei, devido à expressa autorização pelo constituinte, no artigo 62, § 2º, da Constituição Federal de 1988: “medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada”. Segundo o STF, tendo em vista a semelhança entre o ICMS e oIPI, aplica-se a este o precedente segundo o qual, diante da inexistência de previsão legal, não há direito à correção monetária dos créditos escriturais. Entretanto, segundo o STJ, há o direito à correção monetária quando o legítimo direito ao creditamento é obstado em virtude de resistência oposta por ilegítimo ato administrativo ou normativo do Fisco. PRESTE ATENÇÃO! O Constituinte concedeu algumas imunidades em relação ao Imposto sobre Produtos Industrializados. Deveras, são imunes ao IPI: As exportações de produtos industrializados (artigo 153, § 3º, inciso III, da Constituição Federal de 1988); Os livros, jornais e periódicos e o papel destinado a sua impressão (artigo 150, inciso VI, “d”, da Constituição Federal de 1988); O ouro, quando definido em lei como ativo financeiro ou instrumento cambial (artigo 153, § 5º, da Constituição Federal de 1988); Energia elétrica, derivados de petróleo, combustíveis e minerais (artigo 155, § 3º, da Constituição Federal de 1988). 29 Os Tribunais Superiores consolidaram outros dois entendimentos relacionados ao Imposto sobre Produtos Industrializados que merecem destaque: De partida, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Recurso Extraordinário nº 723.651/PR, ao qual se atribuiu repercussão geral (Tema 643), fixou a seguinte tese: “incide o IPI em importação de veículos automotores por pessoa natural, ainda que não desempenhe atividade empresarial, e o faça para uso próprio” (STF, RE 723.651/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, Plenário, julgado em 03 e 04/02/2016). Enfim, o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento dos Embargos de Divergência em Recurso Especial nº 734.403/RS, firmou, por unanimidade, o entendimento de que a ocorrência de roubo ou furto de mercadoria após sua saída do estabelecimento do fabricante afasta a incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados: TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. IPI. FATO GERADOR. ROUBO DA MERCADORIA APÓS A SAÍDA DO ESTABELECIMENTO DO FABRICANTE. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA DA CONTRIBUINTE PROVIDOS. 1. Discute-se nos presentes autos se a saída física do produto do estabelecimento industrial ou equiparado é suficiente para a configuração do fato gerador do IPI, sendo irrelevante a ausência de concretização do negócio jurídico subjacente em razão do furto e/ou roubo das mercadorias. 2. A controvérsia já se encontra superada em ambas as Turmas de Direito Público do Superior Tribunal de Justiça, restando consolidado o entendimento de que a operação passível de incidência da exação é aquela decorrente da saída do produto industrializado do estabelecimento do fabricante e que se aperfeiçoa com a transferência da propriedade do bem, porquanto somente quando há a efetiva entrega do produto ao adquirente a operação é dotada de relevância econômica capaz de ser oferecida à tributação. 3. Na hipótese em que ocorre o roubo/furto da mercadoria após a sua saída do estabelecimento do fabricante, a operação mercantil não se concretiza, inexistindo proveito econômico para o fabricante sobre o qual deve incidir o tributo. Ou seja, não se configura o evento ensejador de incidência do IPI, não gerando, por conseguinte, a obrigação tributária respectiva. (...) (STJ, EREsp 734.403/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Seção, julgado em 14/11/2018, DJe 21/11/2018). 30 Atente ao teor do seguinte julgado: Incide IPI sobre veículo importado para uso próprio, haja vista que tal cobrança não viola o princípio da não cumulatividade nem configura bitributação. [STJ. 1ª Seção. REsp 1396488/SC, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 25/09/2019 (recurso repetitivo – Tema 695)]6, Cabe mencionar, por fim, que o STF editou a súmula vinculante 58 em 2020, estipulando que “inexiste direito a crédito presumido de IPI relativamente à entrada de insumos isentos, sujeitos à alíquota zero ou não tributáveis, o que não contraria o princípio da não cumulatividade”. 3.2.5 Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, e sobre Operações Relativas a Títulos e Valores Mobiliários (IOF) Definido pelo artigo 153, inciso V, da Constituição Federal de 1988, segundo o qual “compete à União instituir impostos sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários”, o IOF, comumente conhecido pela locução “Imposto sobre Operações Financeiras”, possui função extrafiscal, uma vez que objetiva regular o funcionamento do mercado financeiro. CUIDADO! Embora o artigo 67 do Código Tributário Nacional consagre uma segunda finalidade do Imposto sobre Operações Financeiras, qual seja, a de formação de receitas monetárias, tal norma não foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, que veda, em seu artigo 167, IV, a vinculação de receita de impostos. Logo, em uma eventual questão de concurso, o candidato deve se ater à extrafiscalidade do tributo. 6 Vide questão 3 31 Note-se que o legislador menciona quatro bases econômicas outorgadas à tributação: Operações de crédito: possuem como premissa básica um negócio jurídico de crédito, consistente na “troca de um bem presente por um futuro, ou seja, é o ato por intermédio do qual se realiza uma prestação presente em troca de uma promessa de prestação futura” (MOSQUERA, 1999, p. 107). É o caso, por exemplo, dos financiamentos e empréstimos bancários a juros. E embora seja o mais comum, as operações de crédito não necessariamente estão associadas a instituições financeiras. Com efeito, assim indicam as alíneas do artigo 2º, inciso I, do Decreto n º 6.306/2007: Art. 2º O IOF incide sobre: I - operações de crédito realizadas: a) por instituições financeiras7; b) por empresas que exercem as atividades de prestação cumulativa e contínua de serviços de assessoria creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção de riscos, administração de contas a pagar e a receber, compra de direitos creditórios resultantes de vendas mercantis a prazo ou de prestação de serviços (factoring)8; c) entre pessoas jurídicas ou entre pessoa jurídica e pessoa física. Operações de câmbio: são “os negócios jurídicos consistentes na entrega de uma determinada moeda a alguém em contrapartida de outra moeda recebida” (MOSQUERA, 1999, p. 110). Dizem respeito às casas de câmbio, em que há troca de moedas (exemplo: trocar reais por dólares ao realizar uma viagem internacional). Operações de seguro: definidas pelo artigo 757 do Código Civil, segundo o qual “ pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo à pessoa ou à coisa, contra riscos predeterminados”. 77 Vide questão 20 8 Especificamente sobre a incidência de IOF sobre as operações de factoring, vide decisão proferida pelo STF, por unanimidade, no julgamento da Medida Cautelar em Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.763 (STF, ADI 1.763 MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, julgado em 20/08/1998). 32 Operações relativas a títulos ou valores mobiliários: englobam todos os documentos representativos de direitos passíveis de negociação, a exemplo dos títulos de crédito e das ações (PAULSEN, 2017). O fato gerador do tributo, consoante o art. 63 do CTN, depende do tipo de operação financeira sob análise: (1) Tratando-se de operações de crédito, é a entrega (total ou parcial) ou disponibilização do montante referente à prestação acordada entre as partes. Exemplo: receber depósito do valor solicitado em contrato de empréstimo bancário; (2) Quanto às operações de câmbio, é a entrega ou disponibilização da moeda nacional ou estrangeira (ou documento que a represente), em valor correspondente à moeda oferecida em troca. Exemplo: receber dólaresao trocá-los, em uma casa de câmbio, pelo valor correspondente em reais; (3) Nas operações de seguro, é a emissão da apólice (ou documento equivalente) ou o recebimento do prêmio; (4) Enfim, quanto às operações relativas a títulos e valores mobiliários é a emissão, transmissão, pagamento ou resgate destes. CUIDADO! O parágrafo único do artigo 63 do Código Tributário Nacional visa a impedir o bis in idem em operações de crédito, prevendo expressamente que “a incidência definida no inciso I exclui a definida no inciso IV, e reciprocamente, quanto à emissão, ao pagamento ou resgate do título representativo de uma mesma operação de crédito”. Em consequência, é vedada a múltipla incidência de IOF sobre uma mesma operação de crédito, ainda que as cobranças sejam motivadas por fatos geradores aparentemente diversos; havendo emissão, transmissão, pagamento ou resgate em uma operação de crédito, o IOF deverá incidir apenas uma vez. 33 Para o Supremo Tribunal Federal, o simples saque em caderneta de poupança não é fato gerador do IOF, em razão da inexistência, em tal operação, de uma promessa de prestação futura (requisito obrigatório de uma operação de crédito). Nesse sentido, a Súmula nº 664/STF: “é inconstitucional o inciso V do art. 1º da Lei n. 8.033/1990, que instituiu a incidência do imposto nas operações de crédito, câmbio e seguros – IOF, sobre saques efetuados em caderneta de poupança. Sobre o tema, confira-se: TRIBUTÁRIO. IOF SOBRE SAQUES EM CONTA DE POUPANÇA. LEI N. 8.033, DE 12 -04 - 1990, ART. 1º, INCISO V. INCOMPATIBILIDADE COM O ART. 153, V, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. O saque em conta de poupança, por não conter promessa de prestação futura e, ainda, porque não se reveste de propriedade circulatória, tampouco configurando título destinado a assegurar a disponibilidade de valores mobiliários, não pode ser tido por compreendido no conceito de operação de crédito ou de operação relativa a títulos ou valores mobiliários, não se prestando, por isso, para ser definido como hipótese de incidência do IOF, previsto no art. 153, V, da Carta Magna. Recurso conhecido e improvido; com declaração de inconstitucionalidade do dispositivo legal sob enfoque (STF, RE 232.467/SP, Rel. Min. Ilmar Galvão, Tribunal Pleno, julgado em 29/09/1999). Em igual sentido já definiu a Súmula nº 185/STJ: “nos depósitos judiciais, não incide o Imposto sobre Operações Financeiras”. A base de cálculo do IOF, estabelecida pelo art. 64 do CTN, também depende do tipo de operação financeira: (1) Quanto às operações de crédito, é o montante (principal acrescido de juros) da obrigação; (2) No que tange operações de câmbio, é o respectivo montante em moeda nacional, recebido, entregue ou posto à disposição; 34 (3) Nas operações de seguro, é o valor do prêmio. (4) Por derradeiro, em relação às operações relativas a títulos e valores mobiliários, pode ser o (a) o nominal, acrescido do ágio9, da emissão; (b) o valor nominal da transmissão; (c) o preço do pagamento ou resgate. O contribuinte do imposto, por fim, é qualquer das partes envolvidas na operação tributada, nos termos da lei. Inteligência do art. 66 do CTN. O lançamento se dá, em regra, por homologação. O Imposto sobre Operações Financeiras está sujeito ao princípio da legalidade, sendo inconstitucional a alteração de sua base de cálculo sem atuação positiva do legislador. 9 Entenda-se ágio como a diferença de cotação (valor) entre moedas distintas. IOF Fato gerador Valor entregue ou posto à disposição (crédito e câmbio) Emissão de apólice ou recebimento de prêmio (seguro) Emissão, transmissão, pagamento ou resgate (títulos ou valores) Contribuinte Qualquer das partes na operação tributada, nos termos da lei Base de cálculo Obrigação principal + juros (crédito) Valor nominal ou cotação em Bolsa (câmbio) Montante do prêmio (seguro) Títulos ou valores mobiliários: Montante principal + ágio (emissão), valor nominal (transmissão) ou preço (pagamento ou resgate) 35 Observe-se que o art. 65 do CTN, que prevê que “o Poder Executivo pode, nas condições e nos limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto, a fim de ajustá-lo aos objetivos da monetária”, é anterior à Constituição Federal de 1988, e não foi recepcionado por ela por manifesto conflito material entre as normas. Contudo, vale destacar que o tributo é sujeito a uma legalidade flexível, tendo em vista que o artigo 153, § 1º, da CF/1988 autoriza a alteração de alíquota pelo Poder Executivo, através de Decreto ou Portaria do Ministro da Fazenda. Também é importante ressaltar que o IOF, consoante dito no início deste tópico, tem como finalidade viabilizar um controle sobre o mercado financeiro. Tendo em vista o caráter regulatório do tributo (extrafiscal), a Constituição Federal classifica esse imposto uma exceção às anterioridades previstas no artigo 150, inciso III, “b” e “c”, da Constituição Federal de 1988. Por conseguinte, na hipótese de edição de uma lei instituindo ou aumentando tributo relacionado a operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários, é permitido à União cobrá-lo de forma imediata, independentemente da data de publicação da norma, nos termos do § 1º do artigo 150 da Constituição Federal de 1988: § 1º A vedação do inciso III, b (anterioridade tributária comum), não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e V (IOF); e 154, II; e a vedação do inciso III, c (anterioridade nonagesimal/noventena), não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V (IOF); e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I. E a instituição ou majoração de Imposto sobre Operações Financeiras também pode se dar por Medida Provisória com efeitos imediatos, independentemente da data de sua conversão em lei, devido à expressa autorização pelo constituinte, no artigo 62, § 2º, da Constituição Federal de 1988: “medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada”. 36 O ouro é tributado de acordo com sua finalidade: Se utilizado especificamente como ativo financeiro ou instrumento cambial (em outros termos, quando destinado ao mercado financeiro ou à execução da política cambial do país; é o ouro usado como moeda), está sujeito exclusivamente à incidência do Imposto sobre as Operações Financeiras (IOF-Ouro). Nesse caso, o fato gerador do imposto se dá na data da aquisição do ouro ou na data de seu desembaraço aduaneiro (quando se tratar de ouro físico proveniente do exterior). Inteligência do artigo 36 do Decreto nº 6.307/2007. Os contribuintes, de acordo com o artigo 37 do Decreto nº 6.307/2007, “são as instituições autorizadas pelo Banco Central do Brasil que efetuarem a primeira aquisição do ouro, ativo financeiro, ou instrumento cambial”. Enfim, a base de cálculo do IOF é o preço de aquisição do ouro, considerando-se a cotação vigente no mercado doméstico no dia desta operação, ex vi do artigo 38 do Decreto nº 6.307/2007. Tal hipótese não é prevista somente por legislação infraconstitucional, estando presente, também, no texto da própria Constituição Federal de 1988, em seu artigo 153, § 5º, primeira parte. Por consequência, havendo previsão constitucional nesse sentido, a vedação à cumulação de impostos nas operações envolvendo o ouro como moeda representa uma autêntica imunidade tributária: § 5º O ouro, quando definido em lei como ativo financeiro ou instrumento cambial, sujeita-se exclusivamente à incidência do imposto de que trata o inciso V do"caput" deste artigo, devido na operação de origem; a alíquota mínima será de um por cento, assegurada a transferência do montante da arrecadação nos seguintes termos: I - trinta por cento para o Estado, o Distrito Federal ou o Território, conforme a origem; 37 II - setenta por cento para o Município de origem. E a ideia de imunidade é reforçada pelo constituinte no art. 155, § 2ª, inciso X, “c”, da CF/1988: § 2º O imposto previsto no inciso II (ICMS) atenderá ao seguinte: X - não incidirá: c) sobre o ouro, nas hipóteses definidas no art. 153, § 5º. Note-se ainda que o § 5º do art. 153 da CF/88 estabeleceu outras duas regras importantes: (1) a definição de uma alíquota mínima de 1% (um por cento) sobre a base de cálculo; (2) a repartição constitucional de receitas derivadas do IOF-Ouro; embora figure como arrecadadora, a União deve transferir o montante adquirido aos entes federativos relacionados com a origem (local de extração) do ouro tributado, na proporção de 70% (setenta por cento) ao Estado, Distrito Federal ou Território, e 30% (trinta por cento) ao Município envolvido. IOF-Ouro Fato gerador Aquisiçao Desembaraço aduaneiro Contribuinte Instituições autorizadas pelo Banco Central do Brasil que efetuarem a primeira aquisição Base de cálculo Preço da aquisição Alíquota Mínimo de 1% Repartição de receitas 70% - Estados e DF 30% - Municípios Cumulação de impostos Vedada (imunidade) 38 CUIDADO! Se o ouro é utilizado como mercadoria (por exemplo, ao se tornar matéria- prima de joalheria), não há incidência de IOF, em razão da inexistência de operação financeira. De outra banda, podem ser exigidos II, IE, IPI e ICMS, conforme as circunstâncias de cada caso. 3.2.6 Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR) Definido pelo artigo 153, inciso VI, da Constituição Federal de 1988, segundo o qual “compete à União instituir impostos sobre propriedade territorial rural”, o ITR atua como um instrumento de garantia da função social da propriedade. A propriedade rural, segundo o art. 186 da CF/1988, deve ser racional e adequada, preservar os recursos naturais e o meio ambiente, respeitar as relações de trabalho, e atender ao bem-estar do proprietário e dos trabalhadores. A importância atribuída pelo constituinte ao tema se confirma no art. 184 da CF/1988, que confere à Administração Pública o direito de punir o descumprimento à função social rural com a sanção de desapropriação para fins de reforma agrária. Logo, o ITR possui notória função extrafiscal, prestando-se a desestimular a manutenção de propriedades improdutivas: Em virtude de sua nítida função extrafiscal, o ITR sempre foi imposto vocacionado a se revestir da condição de veículo auxiliar do disciplinamento estatal da propriedade rural. É considerado um importante instrumento de política agrária, nessa medida, de combate aos latifúndios improdutivos, fomentando, assim, a reforma agrária e a consequente redistribuição de terras no país. O que se quer com tal exação não são “proprietários”, mas “proprietários assíduos e produtivos, em prol da nação” (SABBAG, 2017). Para tanto, a Emenda Constitucional nº 42/2003 fixou como atributo deste imposto a progressividade, ensejando a incidência de alíquotas proporcionais à base de cálculo. Desse modo, o proprietário com baixo rendimento ou que não logra êxito em dar destinação econômica a seu imóvel rural recebe maior oneração do que o disposto a desempenhar atividades produtivas. Nesse sentido, o artigo 153, § 4º, inciso I, da Constituição Federal de 1988 39 prevê que o ITR “será progressivo e terá suas alíquotas fixadas de forma a desestimular a manutenção de propriedades improdutivas”. Segundo Ricardo Alexandre, aumenta-se o tributo proporcionalmente à área do imóvel tributado e de maneira inversamente proporcional ao grau de utilização, de forma que a maior alíquota prevista (20%) é aplicável aos latifúndios improdutivos, e a menor alíquota (0,3%) é aplicável às pequenas propriedades altamente produtivas. O fato gerador do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural, a teor do art. 29 do CTN, é a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel rural. Em regra, adota-se o critério da localização: é rural o imóvel que se encontra fora da zona urbana do Município10. Entretanto, o art. 15 do Decreto-Lei nº 57/1966 definiu que essa divisão territorial não se aplica ao imóvel comprovadamente utilizado em exploração extrativa vegetal, agrícola, pecuária e agroindustrial; criou-se assim o critério da destinação, segundo o qual um imóvel destinado a atividades rurais fica sujeito ao ITR ainda que se encontre em uma zona urbana. A adoção do segundo critério ganhou força em 2009, no julgamento do Recurso Especial nº 1.112.646/SP, que tramitou sob a sistemática de recursos repetitivos e serviu de paradigma do Tema 174, no qual o Superior Tribunal de Justiça fixou a seguinte tese jurídica: "Não incide IPTU, mas ITR, sobre imóvel localizado na área urbana do Município, desde que comprovadamente utilizado em exploração extrativa, vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial (art. 15 do DL 57/1966)". Ressalte-se que a questão ainda é controversa, tendo a Receita Federal publicado, em novembro de 2018, a Solução de Consulta nº 198, manifestando entendimento contrário ao exarado pelo STJ: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE TERRITORIAL RURAL - ITR EMENTA: IMÓVEL LOCALIZADO EM ZONA URBANA UTILIZADO EM EXPLORAÇÃO EXTRATIVA VEGETAL, AGRÍCOLA, PECUÁRIA OU AGROINDUSTRIAL. TRIBUTAÇÃO. O Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR) não incide sobre imóvel localizado na zona urbana, ainda quando seja utilizado em exploração extrativa vegetal, agrícola, 10 Sobre zonas urbanas, vide o subcapítulo referente ao IPTU, mais adiante. 40 pecuária ou agroindustrial, uma vez que tal hipótese não se encontra prevista na lei ordinária instituidora desse tributo11. Caso seja confrontado com uma questão acerca do fato gerador do ITR, até o término da controvérsia, o candidato deverá adotar como regra geral o critério de localização, e incluir o de destinação econômica como uma exceção, especialmente diante do precedente do Superior Tribunal de Justiça acima explanado. Em resumo, há de se observar a seguinte ordem: (1) em um primeiro momento, analisa-se a lei municipal competente para identificar a zona urbana do Município, enquadrando-se como rural toda a área que se encontrar fora dela; (2) dentro dos limites da área urbana municipal, passa-se a avaliar as características e atividades exercidas nos imóveis, sendo rurais os utilizados para fins de exploração extrativa, vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial. Para fins de ITR, são bens imóveis por natureza o solo com a sua superfície, os seus acessórios e adjacências naturais, compreendendo as árvores e frutos pendentes, o espaço aéreo e o subsolo. Se o imóvel foi invadido, a propriedade sobre ele deixa de ser plena, também não há posse, em razão da impossibilidade de uso ou fruição do bem, não há o que se falar em pagamento de ITR. A base de cálculo do ITR, tal como preconiza o art. 30 do CTN, é o valor fundiário, que deve ser entendido como o valor do terreno (“terra nua”), excluindo-se eventuais construções e benfeitorias. 11 Disponível em: http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=96796. Acesso em 18 fev. 2020. http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=96796 41 O contribuinte, enfim, é o proprietário do imóvel, o titular de seu domínio útil (aquele que adquire o imóvel por enfiteuse ou aforamento) ou seu possuidor a qualquer título. Inteligência do art. 31 do CTN. Ressalte-se não ser possível considerarcontribuinte do ITR quem exerce posse sem ânimo definitivo, como é o caso da pessoa que firma contrato de locação ou comodato. Lembre-se, ainda, que os contratos de direito privado que transferem a responsabilidade pelo adimplemento das obrigações tributárias são válidos, mas não podem ser opostos ao fisco. O lançamento se dá, em regra, por homologação. Em que pese sua função extrafiscal, o ITR está sujeito ao princípio da legalidade estrita (nem mesmo as alíquotas podem ser alteradas por mero ato do Poder Executivo). Outrossim, deve observância obrigatória a ambas as anterioridades. Logo, a produção de efeitos de uma lei editada com o fito de instituir ou majorar o Imposto sobre a Propriedade Rural está condicionada ao escorrimento dos prazos estampados no artigo 150, inciso III, “b” e “c”, da Constituição Federal de 1988. ITR Fato gerador Propriedade, domínio útil ou posse de imóvel localizado fora da área urbana Contribuinte Proprietário, titular de domínio útil ou possuidor a qualquer título do imóvel Base de cálculo Valor fundiário 42 A regra presente no artigo 153, § 4º, inciso II, da Constituição Federal de 1988, incluído pela Emenda Constitucional nº 42/2003, é dotada de nítido caráter social e visa a proteger o pequeno proprietário rural: “§ 4º O imposto previsto no inciso VI do caput: II - não incidirá sobre pequenas glebas rurais, definidas em lei, quando as explore o proprietário que não possua outro imóvel”. Da redação desse dispositivo conclui-se que têm imunidade tributária as propriedades rurais que preenchem três requisitos, quais sejam: (1) a condição de pequena gleba rural; (2) a utilização do imóvel para fins de exploração extrativa, vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial; (3) a inexistência de propriedade sobre outros imóveis (tanto rurais quanto urbanos). CUIDADO! O artigo 2º, parágrafo único, incisos I, II e III, da Lei nº 9.393/1996 previa que o ITR não incidiria sobre “pequenas glebas rurais, quando as explorasse, só ou com sua família, o proprietário que não possuísse outro imóvel”. Com o advento da Emenda Constitucional nº 42/2003 e a instituição da imunidade tributária, o requisito concernente à expressão “só ou com sua família” deixou de ser exigível. Um último tópico a ser destacado sobre este imposto diz respeito à sua parafiscalidade, que se configura, conforme já visto no capítulo 1 deste material, com a delegação da capacidade tributária ativa. Ordinariamente, em razão dos comandos constitucionais de repartição das receitas tributárias, os Municípios têm direito à metade do produto da arrecadação do Imposto sobre Propriedade Territorial Rural referente a imóvel localizado em seu território. Contudo, o artigo 84, caput, do Código Tributário Nacional reconhece a possibilidade de a lei federal o 43 transferir aos Estados, ao Distrito Federal ou aos Municípios o encargo de arrecadar impostos federais, sendo-lhes devido o direito de retenção do importe arrecadado. E essa delegação foi expressamente autorizada pelo constituinte, que previu a hipótese de formalização de convênio entre União e Município, em que este passa a assumir a responsabilidade de efetuar a cobrança e fiscalização do tributo no lugar da União, recebendo, em contrapartida, o direito à totalidade do produto arrecadatório, contanto que esse acordo não implique nenhuma redução ou renúncia fiscal. A respeito, a Constituição Federal de 1988: Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: (...) § 4º O imposto previsto no inciso VI do caput: (...) III - será fiscalizado e cobrado pelos Municípios que assim optarem, na forma da lei, desde que não implique redução do imposto ou qualquer outra forma de renúncia fiscal. Art. 158. Pertencem aos Municípios: (...) II - cinquenta por cento do produto da arrecadação do imposto da União sobre a propriedade territorial rural, relativamente aos imóveis neles situados, cabendo a totalidade na hipótese da opção a que se refere o art. 153, § 4º, III. A hipótese acima relatada perfaz uma delegação de capacidade tributária ativa. Não confundir com competência tributária, que é definida pela Constituição Federal e, no caso em voga, pertence somente à União, tendo em vista que a competência é indelegável. 44 3.2.7 Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF) Definido pelo artigo 153, inciso VII, da Constituição Federal de 1988, segundo o qual “ compete à União instituir impostos sobre grandes fortunas, nos termos de lei complementar”. No entanto, a União, até o presente momento, não exerceu tal competência, de forma que o tributo, consequentemente, não foi efetivamente instituído. De todo modo, oportuno mencionar que para a criação do Imposto sobre Grandes Fortunas basta a edição da aludida lei complementar, a qualquer tempo (considerando-se que a competência tributária é incaducável). 3.3 Impostos estaduais e distritais Os impostos de competência dos Estados e do Distrito Federal foram discriminados pelo constituinte nos incisos do artigo 155 da Constituição Federal de 1988, sendo 03 (três) ao total: (1) Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD); (2) Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS); (3) Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). 3.3.1 Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) O imposto sobre as transmissões em geral já era previsto pelo artigo 23, inciso I, da Constituição Federal de 1969, sendo os Estados e o Distrito Federal os entes federados competentes para sua instituição. Com o advento da CF/1988, houve um desmembramento do tributo, com uma consequente bipartição de competência: as transmissões causa mortis e a título não oneroso permaneceram a cargo dos Estados, através do denominado Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD); ao revés, as transmissões inter vivos e onerosas de bens imóveis 45 passaram à competência exclusiva dos Municípios, com a criação do Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) (SABBAG, 2017)12. A propósito, as similaridades entre ambos os tributos se revelam na coincidência de regras gerais a eles aplicáveis, uma vez que os artigos 35 a 42 do Código Tributário Nacional – que é anterior à Constituição Federal de 1988 – dizem respeito tanto ao ITCMD quanto ao ITBI. Feita tal consideração inicial, passa-se à análise do ITCMD, mencionado no artigo 155, inciso I, da Constituição Federal de 1988, segundo o qual “compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos”. Em um primeiro momento, há de se fazer duas observações acerca da incidência deste imposto de função fiscal: (1) o ITCMD tem o condão de atingir dois tipos de transmissões, quais sejam, causa mortis (inclusive por morte presumida, de acordo com o Supremo Tribunal Federal – Súmula nº 331/STF) e as realizadas inter vivos, mas a título não oneroso (doação, por liberalidade das partes); (2) respeitado o primeiro requisito, são tributados tanto bens imóveis quanto imóveis. O fato gerador desse imposto, a teor do artigo 35 do Código Tributário Nacional, pode ser: (1) A transmissão, a qualquer título, da propriedade ou do domínio útil de bens imóveis por natureza ou por acessão física13. Embora o artigo não os mencione, devem ser considerados também os bens móveis, títulos e créditos, uma vez que a Constituição Federal os inclui no campo de incidência do ITCMD; 12 Vide questão 2 13 Considere-se acessão física, ou natural, como formação de ilhas, aluvião, avulsão e abandono de álveo, ex vi do art. 1.248 CC. 46 (2) A transmissão, a qualquer título, de direitos reais sobre imóveis, exceto os direitos reais de garantia14; (3) A cessão dos direitos
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