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OAB
XXXII EXAME DE ORDEM
Sistema Tributário Nacional
 
1 
CAPÍTULOS 
Capítulo 1 – Tributos     
Capítulo 2 – Parte 02 (você está aqui) – O Estado e o Poder de 
Tributar. Sistema Tributário Nacional 
      
Capítulo 3 – Competência Tributária   
Capítulo 4 – Legislação Tributária e Obrigação Tributária    
Capítulo 5 – Responsabilidade Tributária    
Capítulo 6 – Crédito Tributário    
Capítulo 7 – Suspensão do Crédito Tributário    
Capítulo 8 – Extinção do Crédito Tributário    
Capítulo 9 – Exclusão do Crédito Tributário    
Capítulo 10 – Garantias e Privilégios do Crédito Tributário   
Capítulo 11 – Administração Tributária    
Capítulo 12 – Disposições Finais e Transitórias do CTN   
Capítulo 13 – Processo administrativo fiscal   
Capítulo 14 – Processo judicial tributário. Ações de iniciativa do fisco. 
Ações de iniciativa do contribuinte 
   
Capítulo 15 – Tributação internacional  
Capítulo 16 – Aspectos tributários da Lei de Responsabilidade Fiscal   
Capítulo 17 – Aspectos tributários da Lei de Diretrizes Orçamentárias  
Capítulo 18 – Aspectos tributários da Lei n° 4.320   
Capítulo 19 – Ilícito tributário. Ilícito e sanção. Ilícito administrativo 
tributário. Ilícito penal tributário 
  
Capítulo 20 – Sistema integrado de pagamento de impostos e 
SIMPLES Nacional 
  
Capítulo 21 – ICMS   
Capítulo 22 – Lei Complementar 116   
 
 
2 
SOBRE ESTE CAPÍTULO 
 
Neste segundo capítulo trataremos do Estado e seu poder de tributar, perpassando os 
fundamentos da imposição tributária, suas fontes, as normas que tratam do tema, e seus 
princípios informadores. Além disso, adentraremos no estudo das limitações ao poder de 
tributar, imunidades e isenção. Também exploraremos os tributos em espécie, os federais, 
estaduais, municipais, residuais e extraordinários. 
Ao operador do Direito é indispensável o conhecimento acerca do Direito Tributário e de 
todo o conjunto das leis reguladoras da arrecadação dos tributos (taxas, impostos e contribuição 
de melhoria), bem como de sua fiscalização, considerando as relações entre o fisco e as pessoas 
sujeitas a imposições tributárias de qualquer espécie. 
No Direito Tributário você deve privilegiar o estudo da Lei Seca, sendo certo que o 
Examinador tem predileção por disposições objetivas da letra da lei. Todavia, não deve-se olvidar 
da doutrina, especialmente quanto às questões conceituais, e da jurisprudência relativa aos 
diversos temas que abrangem o plexo de relações jurídicas entre Estado e contribuinte. 
Por ser muito extenso, este segundo capítulo foi divido em duas partes de maneira a 
otimizar a compressão dos importantes temas tratados e oferecer mais recursos de fixação da 
matéria. 
 
 
3 
SUMÁRIO 
DIREITO TRIBUTÁRIO .............................................................................................................................. 5 
Capítulo 2 – Parte 02 .............................................................................................................................. 5 
3.1 Impostos previstos na Constituição Federal de 1988 ........................................................................... 5 
3.2 Impostos federais .................................................................................................................................................. 6 
3.2.1 Imposto de Importação (II) ............................................................................................................................... 7 
3.2.2 Imposto de Exportação (IE) ........................................................................................................................... 12 
3.2.3 Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza (IR) ................................................. 15 
3.2.4 Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) ...................................................................................... 23 
3.2.5 Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, e sobre Operações Relativas a 
Títulos e Valores Mobiliários (IOF) .......................................................................................................................... 30 
3.2.6 Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR)........................................................................... 38 
3.2.7 Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF) .................................................................................................... 44 
3.3 Impostos estaduais e distritais ..................................................................................................................... 44 
3.3.1 Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) ................................................... 44 
3.3.2 Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) .................................................... 52 
3.3.3 Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) ................................................... 72 
3.4 Impostos municipais ......................................................................................................................................... 76 
3.4.1 Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) ................................................ 77 
3.4.2 Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) ....................................................................... 85 
3.4.3 Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza (ISS) .......................................................................... 90 
3.5 Impostos residuais ............................................................................................................................................. 98 
3.6 Impostos extraordinários .............................................................................................................................. 100 
QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................ 110 
 
4 
GABARITO ............................................................................................................................................ 139 
QUESTÃO DESAFIO ............................................................................................................................. 140 
GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................ 141 
LEGISLAÇÃO COMPILADA ................................................................................................................. 143 
JURISPRUDÊNCIA ................................................................................................................................ 147 
MAPA MENTAL ................................................................................................................................... 151 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................... 152 
 
 
 
5 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
Capítulo 2 – Parte 02 
3.1 Impostos previstos na Constituição Federal de 1988 
O imposto, primeira espécie tributária prevista no artigo 145 da Constituição Federal de 
19881, você se recorda, “é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação 
independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte”, a teor do artigo 
16 do Código Tributário Nacional. 
Observe que da literalidade desse dispositivo legal se depreende uma primeira 
característica relevante: a não vinculação de seu fato gerador a uma determinada ação por 
parte do Estado. Nessa esteira, Eduardo Sabbag (2017) define imposto como um tributo 
unilateral, ou seja, sem caráter contraprestacional, mas meramente contributivo. 
Em adição, perceba que o artigo 167, inciso IV, da Constituição Federal de 1988 consagra 
um segundo aspecto inerenteaos impostos, consistente na vedação, em regra, ao atrelamento 
da destinação da receita arrecadada a determinados órgãos, fundos ou despesas (não afetação): 
Art. 167. São vedados: 
(...) 
IV – a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a 
repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, 
a destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e 
desenvolvimento do ensino e para realização de atividades da administração tributária, 
como determinado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de 
garantias às operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, 
bem como o disposto no § 4º deste artigo; (...) 
 
1 Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: I - impostos; 
(...) 
 
6 
 
A ideia do legislador é de, através da arrecadação desse tributo, financiar atividades gerais 
e indivisíveis do Estado (uti universi) que não podem ser custeadas por meio de taxas. Entende? 
Nas palavras de Luís Eduardo Schoueri (2018): “Eis o espaço dos impostos: valor cobrado de 
toda a coletividade para cobrir gastos que não se imputam a um ou outro contribuinte, 
individualmente”. 
 
 
 
Quanto ao fato gerador, impostos são não vinculados; quanto à destinação do produto de 
sua arrecadação, são não afetados. 
 
Outro contorno a se destacar sobre essa espécie de tributo diz respeito ao § 1º do art. 145 
da CF/1988, ao dispor que os impostos terão, sempre que possível, caráter pessoal, levando 
em consideração as particularidades e a capacidade contributiva de cada contribuinte: 
§ 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo 
a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, 
especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os 
direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades 
econômicas do contribuinte. 
 Feitas tais ponderações, passa-se a analisar de forma pormenorizada cada um dos 
impostos previstos pelo constituinte. 
3.2 Impostos federais 
Os impostos nominados de competência da União foram discriminados pelo constituinte 
nos incisos do art. 153 da CF/1988, sendo 07 (sete) ao total: 
 
7 
(1) Imposto de Importação (II); 
(2) Imposto de Exportação (IE); 
(3) Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza (IR); 
(4) Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); 
(5) Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, e sobre Operações Relativas 
a Títulos e Valores Mobiliários (IOF); 
(6) Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR); 
(7) Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF). 
 
3.2.1 Imposto de Importação (II) 
Definido pelo artigo 153, inciso I, da Constituição Federal de 1988, segundo o qual “
compete à União instituir impostos sobre importação de produtos estrangeiros”, o Imposto de 
Importação funciona como um mecanismo de controle sobre o comércio internacional, 
ostentando notória função extrafiscal. 
Observe que o fato gerador deste imposto, nos moldes do art. 19 do CTN, é a entrada 
dos produtos estrangeiros no território nacional. Embora o Código Tributário Nacional não 
especifique esse conceito de entrada, o art. 23 do Decreto nº 37/1966 aponta como elemento 
temporal do fato gerador, para efeitos de cálculo do tributo, a data do Registro da Declaração 
de Importação – ou documento que lhe faça substituir – da mercadoria despachada perante a 
autoridade aduaneira (SCHOUERI, 2018). 
 
 
 
8 
 
Há, contudo, casos bem específicos nos quais a legislação prevê a possibilidade de declaração 
de importação ser registrada antes da descarga do produto estrangeiro na unidade da Secretaria 
da Receita Federal de despacho2. 
Ricardo Alexandre explica que, para o STF, o tributo incide sobre a entrada de produtos 
estrangeiros em geral: produtos destinados ao comércio, produtos para uso ou consumo, 
produtos para incorporação ao ativo fixo de empresas, produtos naturais, manufaturados, dentre 
outros. O simples ingresso físico do produto estrangeiro no território nacional não é suficiente 
para configurar o fato gerador do tributo, sendo necessária a incorporação do bem à economia 
interna. 
 
A base de cálculo, por sua vez, varia de acordo com os tipos de alíquota e produto, 
observe: 
(1) Se a alíquota for específica, a quantidade de mercadoria, de acordo a unidade de 
medida adotada pela lei tributária (exemplo: R$ XX,XX por tonelada do produto Y, 
conforme padronização prevista pela Tarifa Externa Comum – TEC). Artigo 20, inciso 
I, do Código Tributário Nacional; 
(2) Se a alíquota for ad valorem, isto é, um percentual fixado em lei, é o preço normal 
que o produto, ou seu similar, alcançaria, ao tempo da importação, em uma venda 
em condições de livre concorrência, para entrega no porto ou lugar de entrada do 
produto no País. Em outras palavras, é o valor aduaneiro da mercadoria, definido de 
 
2 IN SRF 680/2006, art. 17. 
 
9 
acordo com as normas do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio – GAAT (artigo 20, 
inciso II, do Código Tributário Nacional); 
(3) Se a mercadoria importada consistir em um produto apreendido ou abandonado e 
levado a leilão, o preço da arrematação. Artigo 20, inciso III, do CTN. 
De seu turno, preceitua o art. 22 do CTN que é contribuinte do imposto: 
(1) O importador ou a quem a lei a ele equiparar (inciso I); 
(2) O arrematante de produtos apreendidos ou abandonados (inciso II). 
 
 
 
 
 
 
 
II
Fato gerador
Entrada de produto estrangeiro 
em território nacional
Contribuinte
Importador (ou equiparado)
Arrematante de produto 
abandonado
Base de cálculo
Alíquota específica Unidade de medida
Alíquota ad valorem
Valor normal do 
produto
Produto leiloado
Valor da 
arrematação
 
10 
 
Preste atenção! O Imposto de Importação está sujeito ao princípio da legalidade, sendo 
inconstitucional a alteração de sua base de cálculo sem atuação positiva do legislador. Observe-
se que o art. 21 do CTN, que prevê que “o Poder Executivo pode, nas condições e nos limites 
estabelecidos em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto, a fim de ajustá-
lo aos objetivos da política cambial e do comércio exterior”, é anterior à Constituição Federal 
de 1988, e não foi recepcionado por ela por manifesto conflito material entre as normas. 
Contudo, vale destacar que o Imposto de Importação é sujeito a uma legalidade flexível, tendo 
em vista que o art. 153, § 1º, da CF/1988 autoriza a alteração de alíquota pelo Poder Executivo, 
através de Decreto ou Portaria do Ministro da Fazenda. 
CUIDADO! Nada impede a instituição ou majoração (inclusive por meio de alterações em base 
de cálculo) de um imposto por Medida Provisória, pois mesmo sendo este um ato emanado 
pelo Poder Executivo, a espécie legislativa prevista no artigo 62 da Constituição Federal de 1988 
possui força de lei. Logo, contanto que a Medida Provisória siga o devido processo legislativo 
constitucional e seja convertida em lei, inexiste qualquer afronta ao princípio da legalidade. 
 
O lançamento do crédito tributário relativo ao Imposto de Importação se dá, em regra, 
por homologação. O incidente sobre bagagens, por outro lado, é lançado por declaração. 
Este imposto, consoante explanado anteriormente, tem como finalidade viabilizar um 
controle sobre o comércio internacional. Diante do caráter regulatório do tributo (extrafiscal) e 
as recorrentes – e muitas vezes súbitas – variações no sistema mercantil, a Constituição Federal 
classifica esse imposto uma exceção às anterioridades previstas no artigo 150, inciso III, “b” e 
“c”, da Constituição Federal de 1988 (tanto à anual quanto ànonagesimal). 
 
11 
Por conseguinte, na hipótese de edição de uma lei instituindo ou aumentando tributo 
relacionado à importação de produtos estrangeiros, é permitido à União cobrá-lo de forma 
imediata, independentemente da data de publicação da norma. Com efeito, assim preconiza a 
Carta Magna: 
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, 
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: 
(...) 
III - cobrar tributos: 
(...) 
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou 
aumentou; (anterioridade tributária) 
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os 
instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; (anterioridade 
nonagesimal/noventena) 
(...) 
§ 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I 
(Imposto de Importação), II, IV e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica 
aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação da base de 
cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I. 
É importante que você atente que a instituição ou majoração de Imposto de Importação 
também pode se dar por Medida Provisória com efeitos imediatos, independentemente da data 
de sua conversão em lei, devido à expressa autorização pelo constituinte, no artigo 62, § 2º, da 
CF/1988: “medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os 
previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte 
se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada”. 
Por fim, vale ressaltar que, na importação, é possível que, cumulativamente ao Importo 
sobre a Importação, também incidam o IPI e o ICMS. 
 
 
12 
3.2.2 Imposto de Exportação (IE) 
Definido pelo artigo 153, inciso II, da CF/1988, segundo o qual “compete à União instituir 
impostos sobre exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados”, o Imposto 
de Exportação, assim como o tributo anterior, é dotado de função extrafiscal, uma vez que 
também objetiva regular as relações comerciais exteriores. 
CUIDADO! Embora o artigo 28 do Código Tributário Nacional consagre uma segunda 
finalidade do Imposto de Exportação, qual seja, a de formação de receitas monetárias, tal 
norma não foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, que veda, em seu artigo 167, 
inciso IV, a vinculação de receita de impostos. Logo, em uma eventual questão de concurso, o 
candidato deve se ater à extrafiscalidade do tributo. 
Conforme ensinamento de Leandro Paulsen (2017), são nacionais os produtos produzidos 
em território brasileiro, ao passo que os nacionalizados dizem respeito aos faturados no exterior 
e importados para uso industrial, comercial ou de consumo. 
 
 
O Imposto de Exportação não recai sobre produto estrangeiro que entra em território 
nacional para simples trânsito ou participação em feira, pois nesses casos não há o propósito 
de internalizá-lo no País, inexistindo, assim, nacionalização (PAULSEN, 2017). 
 
Atente que o fato gerador deste imposto, segundo o art. 23 do CTN, é a saída de produtos 
nacionais ou nacionalizados do território nacional. E conquanto o Código Tributário Nacional 
também não especifique o conceito de saída, a legislação tributária, para fins de cálculo do 
imposto, define como marco temporal do fato gerador a data de registro da exportação no 
 
13 
Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX). Inteligência do artigo 213 do Decreto nº 
6.759/2009 (Regulamento Aduaneiro). 
O tributo será calculado com base na legislação vigente na data do registro das 
exportações, mesmo que, na data da efetiva saída da mercadora do território nacional, tenha 
havido alguma alteração relevante na legislação correspondente. 
A base de cálculo do imposto depende do tipo de alíquota a ser utilizada. Preste atenção: 
(1) Se a alíquota for específica, é a quantidade de mercadoria, de acordo a unidade de 
medida adotada pela lei tributária (exemplo: R$ XX,XX por tonelada do produto Y, 
conforme padronização prevista pela Tarifa Externa Comum – TEC). Artigo 24, inciso 
I, do Código Tributário Nacional; 
(2) Se a alíquota for ad valorem, é o preço normal que o produto, ou seu similar, 
alcançaria, ao tempo da exportação, em condições de livre concorrência. Artigo 24, 
inciso II, do Código Tributário Nacional. 
Segundo o Regulamento Aduaneiro, quando o preço da mercadoria for de difícil apuração 
ou suscetível de oscilações bruscas no mercado internacional, a Câmara de Comércio Exterior 
fixará critérios específicos ou estabelecerá pauta de valor mínimo, para apuração da base de 
cálculo. 
Para determinar a base de cálculo, o preço de venda das mercadorias exportadas não pode 
ser inferior ao seu custo de aquisição ou de produção, acrescido dos impostos e das 
contribuições incidentes e da margem de lucro de 15% sobre a soma dos custos mais impostos 
e contribuições. 
O contribuinte, conforme o art. 27 do CTN, “é o exportador ou a quem a lei equiparar”. 
Este dispositivo é complementado pelo artigo 5º do Decreto-Lei nº 1.578/1977, que considera 
a figura do exportador como “qualquer pessoa que promova a saída do produto do território 
nacional”. 
 
 
 
14 
 
 
 
 
 
Lembre-se que o lançamento do tributo se dá, em regra, por homologação. 
Tal como ocorre com o tributo visto anteriormente, o Imposto de Exportação legalidade 
flexível, sendo inconstitucional a alteração de sua base de cálculo sem atuação positiva do 
legislador. 
Observe que o art. 26 do CTN, que prevê que “o Poder Executivo pode, nas condições e 
nos limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto, a fim 
de ajustá-lo aos objetivos da política cambial e do comércio exterior”, é anterior à Constituição 
Federal de 1988, e não foi recepcionado por ela por manifesto conflito material entre as 
normas. Novamente, entretanto, o art. 153, § 1º, da CF/1988 autoriza a alteração de alíquota 
pelo Poder Executivo, através de Decreto ou Portaria do Ministro da Fazenda. 
O Imposto de Exportação, consoante explanado anteriormente, tem como finalidade 
viabilizar um controle sobre o comércio internacional. 
Tendo em vista o caráter regulatório do tributo (extrafiscal) e as recorrentes – e muitas 
vezes súbitas – variações no sistema mercantil, a Constituição Federal classifica esse imposto 
IE
Fato gerador
Saída de produtos nacionais ou nacionalizados do 
território nacional
Contribuinte Exportador (ou equiparado)
Base de 
cálculo
Alíquota específica Unidade de medida
Alíquota ad valorem Valor normal do produto
 
15 
também constitui uma exceção às anterioridades previstas no artigo 150, inciso III, “b” e “c”, da 
Constituição Federal de 1988. 
Logo, na hipótese de edição de uma lei instituindo ou aumentando tributo relacionado à 
exportação de produtos nacionais ou nacionalizados, é permitido à União cobrá-lo de forma 
imediata, independentemente da data de publicação da norma. In verbis: 
§ 1º A vedação do inciso III, b (anterioridade tributária), não se aplica aos tributos 
previstos nos arts. 148, I, 153, I, II (Imposto de Importação), IV e V; e 154, II; e a vedação 
do inciso III, c (anterioridade nonagesimal/noventena), não se aplica aos tributos 
previstos nos arts. 148, I, 153, I, II (Imposto de Importação), III e V; e 154, II, nem à fixação 
da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I. 
E aqui se repete o comando constitucional que permite a instituição ou majoração de 
Imposto de Exportação por Medida Provisória com efeitos imediatos, independentemente da 
data de sua conversão em lei. 
A respeito, o art. 62, § 2º, da CF/1988: “medida provisória que implique instituição ou 
majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V,e 154, II, só produzirá 
efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele 
em que foi editada”. 
Diferentemente do que ocorre com o imposto sobre a importação, não incide IPI e ICMS 
sobre a exportação, razão pela qual o IE não é cumulado com nenhum outro imposto. 
3.2.3 Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer 
Natureza (IR) 
Dedique especial atenção às disposições que tratam do IR. Este tema é muito bem quisto 
pelos examinadores em concursos públicos. 
Definido pelo art. 153, inciso III, da CF/1988, segundo o qual “compete à União instituir 
impostos sobre renda e proventos de qualquer natureza”, o Imposto sobre a Renda e Proventos 
de Qualquer Natureza, mais conhecido apenas como Imposto de Renda (IR), tem incontestável 
função fiscal, incidindo sobre o acréscimo patrimonial das pessoas físicas (IRPF) e jurídicas (IRPJ). 
 
16 
Quanto aos termos que dão nome ao tributo, Paulsen (2017) explica que a renda é o 
acréscimo patrimonial produto do capital ou do trabalho (exemplos: aluguel e salários, 
respectivamente), ao passo que proventos são os acréscimos que não se enquadram no 
conceito de renda (exemplos: loteria e pensões). 
O fato gerador, de acordo com o art. 43 do CTN, é a aquisição da disponibilidade 
econômica ou jurídica de renda ou proventos de qualquer natureza3. 
 Quanto às nomenclaturas adotadas pelo artigo, Eduardo Sabbag (2018) adota a seguinte 
interpretação, atente a ela: 
 Disponibilidade econômica: é a aquisição da faculdade de usar, gozar e dispor de 
renda ou proventos de qualquer natureza. Representa a acessibilidade material e 
imediata a eles, ou, em termos mais simples, “ter o dinheiro na conta”; 
 Disponibilidade jurídica: é a aquisição de direitos sobre créditos estampados em 
títulos ou documentos de liquidez e certeza (sem condição suspensiva). Representa o 
“ter direito a”. 
Frise-se que o IR somente incidirá se houver acréscimo patrimonial, sem haver necessidade 
de que o rendimento seja efetivamente recebido, bastando que o sujeito passivo tenha 
adquirido o direito de crédito, ou seja, a disponibilidade jurídica. Exemplo: se um 
comerciante vende uma mercadoria no último dia do ano, porém recebe o valor trinta 
dias depois, considera-se, para efeitos de incidência de IR, a data da venda, pois nela o 
comerciante adquiriu a disponibilidade jurídica. (SABBAG, 2018). 
Observe esse importante e recente julgado4 do STJ sobre o tema, comentado pelo Blog 
do Dizer o Direito: 
O imposto de renda tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou 
jurídica de renda ou de proventos de qualquer natureza. Renda, para fins de incidência 
tributária, pressupõe acréscimo patrimonial ao longo de determinado período, ou seja, 
riqueza nova agregada ao patrimônio do contribuinte. A quota condominial é a obrigação 
mensal imposta a todos os condôminos para cobrir gastos necessários à manutenção de 
um condomínio. Trata-se, portanto, de uma despesa, um encargo que é suportado pelos 
condôminos. Assim, a dispensa do pagamento das taxas condominiais concedida ao 
 
3 Vide questão 4 
4 STJ. 1ª Turma. REsp 1606234-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 05/12/2019 (Info 662). 
 
17 
síndico pelo trabalho por ele exercido não pode ser considerada como pró-labore, 
rendimento nem tampouco como acréscimo patrimonial. Logo, não está sujeita à 
incidência do imposto de renda, sob pena, inclusive, de violar o princípio da capacidade 
contributiva. Quando o síndico deixa de pagar a quota condominial não há uma alteração 
entre o patrimônio preexistente e o novo. Não há o ingresso de riqueza nova em seu 
patrimônio que justifique a inclusão do valor correspondente à sua quota condominial 
como ganho patrimonial na apuração anual de rendimentos tributáveis. 
 
Em função do princípio da pecunia non olet, a expressão “de qualquer natureza” abrange 
até mesmo os acréscimos patrimoniais derivados de atividades ilícitas. A irrelevância da 
origem do acréscimo para fins fiscais é sustentada pelo § 1º do artigo 43 do CTN, que assim 
dispõe: “a incidência do imposto independe da denominação da receita ou do rendimento, da 
localização, condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da origem e da forma de percepção”. 
Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC 77.530-4/RS, exortou que “
seria injusto cobrar imposto daquele que trabalha honestamente e conceder uma verdadeira ‘
imunidade’ ao criminoso”: 
Sonegação fiscal de lucro advindo de atividade criminosa: "non olet". Drogas: tráfico de 
drogas, envolvendo sociedades comerciais organizadas, com lucros vultosos subtraídos à 
contabilização regular das empresas e subtraídos à declaração de rendimentos: 
caracterização, em tese, de crime de sonegação fiscal, a acarretar a competência da Justiça 
Federal e atrair pela conexão, o tráfico de entorpecentes: irrelevância da origem ilícita, 
mesmo quando criminal, da renda subtraída à tributação. A exoneração tributária dos 
resultados econômicos de fato criminoso - antes de ser corolário do princípio da 
moralidade - constitui violação do princípio de isonomia fiscal, de manifesta inspiração 
ética (STF, HC 77.530-4/RS, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, julgado em 
25/08/1998, DJ 18/09/1998). 
 
 
 
18 
 
As questões concernentes à disponibilidade de acréscimos patrimoniais provenientes do 
exterior deverão ser regradas por meio de lei ordinária, como indica o § 2º do art. 43 do CTN: 
“Na hipótese de receita ou de rendimento oriundos do exterior, a lei estabelecerá as condições 
e o momento em que se dará sua disponibilidade, para fins de incidência do imposto referido 
neste artigo”. 
 
A base de cálculo do Imposto de Renda é o montante, real, arbitrado ou presumido, da 
renda ou dos proventos tributáveis, ex vi do art. 44 do CTN. À diferenciação dos termos previstos 
nesse dispositivo, socorre-se à explicação de Ricardo Alexandre (2017, p. 662), abaixo sintetizada: 
 Lucro real: é o lucro líquido calculado pelo contribuinte, já considerados todos os 
abatimentos legalmente autorizados; 
 Lucro presumido: adotado para o cálculo do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica 
(IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), respeitados os requisitos 
previstos no art. 530 do RIR/1999. O contribuinte aplica um percentual sobre o valor 
de sua receita bruta, obtendo assim um valor fiscal aproximado; 
 Lucro arbitrado: aplicado em caso de impossibilidade de cálculo do lucro real e não 
preenchimento dos pressupostos necessários à adoção do lucro presumido (por 
exemplo, quando o contribuinte descumpre a obrigação de escriturar livros fiscais). A 
apuração da base de cálculo é realizada mediante critérios estabelecidos em lei, sendo 
o mais recorrente a simples aplicação de um percentual sobre a receita bruta. É 
possível o arbitramento por iniciativa do contribuinte, desde que conhecida a receita 
bruta e caracterizada uma das hipóteses de arbitramento. 
 
19 
O contribuinte, segundo o art. 45, “caput”, do CTN, é o titular da disponibilidade jurídica 
ou econômica, ainda que se trate de mero possuidor de bens produtores de renda ou proventos 
tributados, bastando que a lei assim preveja. 
 
 
 
 
 
O lançamento, em regra, é feito por homologação. 
O Imposto de Renda está sujeito à anterioridade tributária comum, mas é uma exceção 
à noventena. Não esqueça! Desse modo, a única restrição é a impossibilidade de produção de 
efeitos de lei instituindo ou majorando o tributo no mesmo exercício financeiro de sua 
publicação, sendo irrelevante, no mais, a data do ato (exemplo: na hipótese de publicação, em 
dezembro, de uma lei prevendo a majoração do Imposto de Renda, nada impede a cobrança 
do tributo – já nos ditames da nova legislação – no início do exercício financeiro seguinte, 
independentemente do decurso,ou não, do prazo constitucional de noventa dias). Nesse sentir, 
vide o art. 150, § 1º, parte final, da CF/1988: 
IR
Fato gerador Aquisição de disponibilidade jurídica ou econômica
Contribuinte
Titular da disponibilidade, sem prejuízo de atribuir a lei 
essa condição ao possuidor dos bens produtores de 
renda ou proventos
Base de cálculo Lucro
Real
Presumido
Arbitrado
 
20 
§ 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 
148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c 
(noventena), não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, 
III (Imposto de Renda) e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos 
impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I. 
O artigo 150, § 2º, inciso I, da Constituição Federal de 1988 impõe a vinculação do Imposto 
de Renda a três princípios constitucionais: 
 Generalidade: segundo esse princípio, o tributo deve abranger todos os contribuintes 
que se encontram em situação similar – in casu, todos que adquirem disponibilidade 
econômica ou jurídica sobre renda ou proventos tributáveis (DEFINI apud PAULSEN, 
2017); 
 Universalidade: o tributo deve incidir sobre qualquer renda ou provento, sem 
distinções. Desse princípio decorre o comando do § 1º do art. 43 do CTN (“a incidência 
do imposto independe da denominação da receita ou do rendimento, da localização, 
condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da origem e da forma de percepção”); 
 Progressividade: reflexo do princípio da capacidade contributiva. Elucida Paulsen 
(2017) que a progressividade se dá quando as alíquotas do Imposto de Renda – que 
é pessoal, vale reiterar – são graduadas em função do aumento da base de cálculo. 
Do princípio da progressividade derivam as “faixas” de Imposto de Renda: quanto 
maior a base de cálculo, maior a alíquota a ser exigida pela autoridade fiscal. 
 
Ressalte-se que o CESPE correlaciona o instituto da generalidade às pessoas e o da 
universalidade aos rendimentos e proventos. 
 
 
21 
 
Os Tribunais Superiores já consolidaram o entendimento de que verbas de natureza 
meramente indenizatória não constituem fato gerador do imposto de renda, mormente por 
perfazerem mera recomposição – e não acréscimo – de patrimônio. Tal questão ensejou a edição 
de algumas súmulas pelo Superior Tribunal de Justiça: 
 Súmula nº 136/STJ: “O pagamento de licença-prêmio não gozada por necessidade do 
serviço não está sujeito ao imposto de renda”. 
 Súmula nº 215/STJ: “A indenização recebida pela adesão ao programa de incentivo à 
demissão voluntária não está sujeita à incidência do imposto de renda”. 
 Súmula nº 498/STJ: “Não incide imposto de renda sobre a indenização por danos 
morais”. 
CUIDADO! Se os valores percebidos possuírem natureza remuneratória, haverá 
incidência de imposto de renda. É o caso, por exemplo, da indenização por horas 
extraordinárias trabalhadas, consoante verbete sumular nº 463/STJ: “incide imposto de renda 
sobre os valores percebidos a título de indenização por horas extraordinárias trabalhadas, ainda 
que decorrentes de acordo coletivo”. Observe-se tal indenização consiste em uma 
contraprestação devida pelo empregador em decorrência do trabalho desempenhado pelo 
empregado, enquadrando-se, portanto, no conceito de renda estabelecido pelo artigo 43, 
primeira parte, do Código Tributário Nacional. 
Sob o mesmo argumento, o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso 
Especial nº 1.459.779/MA, que tramitou sob o rito dos recursos repetitivos e serviu de paradigma 
do Tema 881, decidiu pela incidência do Imposto de Renda sobre o 1/3 constitucional de férias 
gozadas: 
 
 
22 
TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. IMPOSTO DE RENDA. ADICIONAL DE 1/3 (UM TERÇO) 
DE FÉRIAS GOZADAS. INCIDÊNCIA DA EXAÇÃO. 1. A jurisprudência tradicional do STJ é 
pacífica quanto à incidência do imposto de renda sobre o adicional (1/3) de férias gozadas. 
(...) 2. A conclusão acerca da natureza do terço constitucional de férias gozadas nos 
julgamentos da Pet 7.296/PE e do REsp 1.230.957/RS, por si só, não infirma a hipótese 
de incidência do imposto de renda, cujo fato gerador não está relacionado com a 
composição do salário de contribuição para fins previdenciários ou com a habitualidade 
de percepção dessa verba, mas, sim, com a existência, ou não, de acréscimo patrimonial, 
que, como visto, é patente quando do recebimento do adicional de férias gozadas (STJ, 
REsp 1.459.779/MA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 
Primeira Seção, julgado em 22/04/2015, DJe 18/11/2015). 
 
Importante não confundir a verba supracitada com o pagamento de férias não gozadas 
por necessidade do serviço e a indenização de férias proporcionais, que não constituem base 
de cálculo do imposto, a teor das Súmulas nº 125/STJ (“o pagamento de férias não gozadas por 
necessidade do serviço não está sujeito à incidência do Imposto de Renda”) e 386/STJ (“são 
isentas de imposto de renda as indenizações de férias proporcionais e o respectivo adicional”), 
respectivamente. 
Incide imposto de renda sobre o Abono de Permanência. 
Recentemente, o STJ decidiu que não tendo participado do fato gerador do tributo, a 
declaração conjunta de imposto de renda não torna o cônjuge corresponsável pela dívida 
tributária dos rendimentos percebidos pelo outro5. 
Enfim, ainda sob a mesma ótima, o Superior Tribunal de Justiça também julgou que a 
verba recebida a título de lucros cessantes também incide na base de cálculo do Imposto de 
Renda. A respeito, confira-se: 
 
PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. OFENSA AO ART. 535 DO CPC. 
FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. SÚMULA 284/STF. VERBA RECEBIDA EM DECORRÊNCIA 
DE ATO ILÍCITO PRATICADO POR TERCEIRO. NATUREZA DE LUCROS CESSANTES. 
INCIDÊNCIA DO IMPOSTO DE RENDA. (...) 2. Os valores percebidos a título de 
pensionamento por redução da capacidade laborativa decorrente de dano físico causado 
 
5 STJ. 1ª Turma. REsp 1273396-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 05/12/2019 (Info 662) 
 
23 
por terceiro, em cumprimento de decisão judicial, são tributáveis pelo imposto de renda 
e sujeitam a fonte pagadora à retenção do imposto por ocasião do pagamento (STJ, REsp 
1.464.786/RS, Rel. Min. Og Fernandes, Segunda Turma, julgado em 25/08/2015, DJe 
09/09/2015). 
 
 Por derradeiro, o art. 158, inciso I, da CF/1988 estabelece que a totalidade do produto da 
arrecadação do Imposto de Renda Recolhido na Fonte (IRRF) pertence aos Municípios. Trata-se 
de uma previsão constitucional de repartição de receita tributária. 
 Cabe mencionar, por fim, a súmula 627, que estipula que “o contribuinte faz jus à 
concessão ou à manutenção da isenção do imposto de renda, não se lhe exigindo a 
demonstração da contemporaneidade dos sintomas da doença nem da recidiva da 
enfermidade”. Tal súmula decorre do fato de que na Lei n. 7.713/88, que regula o imposto de 
renda, existir previsão legal de isenção em determinados casos de doenças arroladas na Lei. 
 
3.2.4 Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) 
Definido pelo artigo 153, inciso IV, da Constituição Federal de 1988, segundo o qual 
“compete à União instituir impostos sobre produtos industrializados”, o IPI se presta a tributar 
operações que envolvam produtos atingidos por um processo de industrialização. O parágrafo 
único do artigo 46 do Código Tributário Nacional, em cotejo com o artigo 4º do Regulamento 
do IPI (Decreto nº 7.212/2010), considera como industrializado o produto submetido a qualquer 
operação que lhe modifique a natureza, o funcionamento, o acabamento, a apresentação ou a 
finalidade, ou o aperfeiçoe para o consumo, citando como exemplos a transformação, o 
beneficiamento, a montagem, o acondicionamento, o reacondicionamento, a renovação e o 
recondicionamento. 
Repare que para fins desse imposto, a industrializaçãonão precisa estar finalizada, 
bastando sua versão incompleta, parcial ou intermediária (artigo 3º do Decreto nº 7.212/2010). 
 
24 
O fato gerador deste imposto está previsto nos incisos do artigo 46 do Código Tributário 
Nacional: 
(1) Caso o produto possua origem estrangeira, é o desembaraço aduaneiro; 
(2) A saída do produto de qualquer estabelecimento de importador, industrial, 
comerciante ou arrematante; 
(3) A arrematação de produtos apreendidos ou abandonados e levados a leilão. 
De seu turno, a base de cálculo varia conforme o fato gerador em pauta: 
(1) Se o produto industrializado tiver proveniência estrangeira, é seu preço normal, 
acrescido do montante do imposto sobre a importação, das taxas alfandegárias, e dos 
encargos cambiais efetivamente pagos pelo importador ou dele exigíveis; 
(2) Se houver a saída do produto de qualquer estabelecimento de importador, industrial, 
comerciante ou arrematante, é o valor da operação de que decorrer tal ato, ou, em 
sua ausência, o preço corrente da mercadoria no mercado atacadista da praça do 
remetente; 
(3) Se o produto for apreendido ou abandonado e posteriormente leiloado, é o preço 
da arrematação. 
O contribuinte, por fim, é identificado pelo art. 51 do CTN, sendo o importador ou 
industrial (ou legalmente equiparados), o comerciante e o arrematante. 
 
 
 
25 
 
O lançamento se dá, em regra, por homologação. 
Os incisos I e II do § 3º do artigo 153 da Constituição Federal de 1988 e os artigos 48 e 
49 do Código Tributário Nacional impõem a observância obrigatória do Imposto sobre 
Produtos Industrializados a dois princípios constitucionais, quais sejam, a seletividade e não 
cumulatividade. 
 Seletividade: o IPI deve ter suas alíquotas estabelecidas de acordo com a 
essencialidade do produto industrializado. Assim, um produto considerado como 
essencial, a exemplo de itens de alimentação básica, devem tributados com alíquotas 
reduzidas (ou mesmo zero), ao passo que aos itens supérfluos se atribui maior 
tributação. Com base nesse princípio é possível concluir pelo notório interesse estatal 
IPI
Fato gerador
Desembaraço aduaneiro (produto estrangeiro)
Saída do produto de estabelecimento de importador, 
industrial, comerciante ou arrematante
Contribuinte
Importador, industrial (ou equiparados), comerciante ou 
arrematante
Base de cálculo
Preço normal + Imposto de Importação + taxas 
alfandegárias + encargos cambiais (produto 
estrangeiro)
Valor da operação ou preço corrente da mercadoria 
(saída do produto de estabelecimento de contribuintes)
Valor da arrematação (produto leiloado)
 
26 
em regular o mercado, tendo o Imposto sobre Produtos Industrializados função 
predominantemente extrafiscal (ainda que a função fiscal do tributo exista e tenha 
insofismável relevância); 
 Não cumulatividade: dispõe o artigo 153, § 3º, inciso II, da Constituição Federal de 
1988 que o IPI será “não cumulativo, compensando-se o que for devido em cada 
operação com o montante cobrado nas anteriores”. O intuito de tal princípio é impedir 
um “efeito cascata” da tributação, com o qual seria possível, em um cenário de cadeia 
de industrializações, incidências sucessivas sobre uma única base econômica 
(PAULSEN, 2017). Em síntese, é inconstitucional a realização de múltiplas tributações 
a título de IPI sobre o mesmo produto, ainda que em fases de industrialização diversas 
(por exemplo, efetuar a cobrança do tributo sobre um insumo e repeti-la quando o 
produto tiver se transformado de insumo para produto final). Desse modo, na 
hipótese de incidências sucessivas, os valores já pagos deverão ser compensados. 
Segundo Ricardo Alexandre, funciona mediante o sistema de débitos e créditos. 
Periodicamente, faz-se uma comparação entre os débitos e os créditos. Caso os 
débitos sejam superiores aos créditos, o contribuinte deve recolher a diferença aos 
cofres públicos. Caso os créditos sejam maiores, a diferença pode ser compensada 
posteriormente ou mesmo, cumpridos determinados requisitos, ser objeto de 
ressarcimento. O STF, todavia, decidiu pela impossibilidade de compensação de 
créditos de IPI relativos à aquisição de matéria-prima não tributada ou sujeita à 
alíquota zero. 
Mas, atenção! Os princípios da não cumulatividade e da seletividade não ensejam direito 
de crédito presumido de IPI para o contribuinte adquirente de insumos não tributados, sujeitos 
à alíquota zero, isentos ou imunes (havendo aquisição desonerada, não haverá crédito para o 
adquirente). 
Veja o teor da recentíssima (24.04.2020) Súmula Vinculante 58: Inexiste direito a crédito 
presumido de IPI relativamente à entrada de insumos isentos, sujeitos à alíquota zero ou não 
tributáveis, o que não contraria o princípio da não cumulatividade. 
 
27 
Segue explicando o autor que, tanto para o IPI quanto para o ICMS vale a tese da dupla 
incidência (dupla oneração), de forma que o direito ao crédito decorrente da não cumulatividade 
desses tributos somente decorre diretamente da Constituição Federal quando houver entrada 
onerada e saída onerada. Se a entrada é desonerada, não já direito ao crédito; se a saída é 
desonerada, devem ser cancelados (estornados) os créditos relativos às operações ou prestações 
anteriores. 
CUIDADO! O Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o EREsp 1.403.532/SC, sob a 
sistemática de recursos repetitivos, manifestou-se em favor de uma nova incidência do Imposto 
sobre Produtos Industrializados na operação de revenda: “os produtos importados estão 
sujeitos a uma nova incidência do IPI quando de sua saída do estabelecimento importador na 
operação de revenda, mesmo que não tenham sofrido industrialização no Brasil” (STJ – EREsp 
1.403.532/SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para o acórdão Min. Mauro Campbell 
Marques, Corte Especial, j. 14.10.2015). 
Ressalte-se que a EC 42/2003 passou a disciplinar que o IPI terá reduzido o seu impacto 
sobre a aquisição de bens de capital pelo contribuinte do imposto. 
Em razão de sua função predominantemente extrafiscal, o Imposto sobre Produtos 
Industrializados está sujeito a uma legalidade flexível, sendo autorizada a alteração de alíquota 
pelo Poder Executivo, através de Decreto ou Portaria do Ministro da Fazenda, ex vi do art. 153, 
§ 1º, da CF/1988. 
O IPI é uma exceção à anterioridade tributária comum, mas está sujeito à noventena. 
Desse modo, a única restrição é a impossibilidade de produção de efeitos de lei instituindo ou 
majorando o tributo antes de decorridos noventa dias da data de sua publicação, não 
importando, porém, o exercício financeiro (exemplo: na hipótese de publicação, em janeiro, de 
uma lei prevendo a majoração do Imposto sobre Produtos Industrializados, nada impede a 
cobrança do tributo – já nos ditames da nova legislação – no mês de maio do mesmo exercício). 
Nesse sentir, vide o artigo 150, § 1º, parte final, da Constituição Federal de 1988: 
§ 1º A vedação do inciso III, b (anterioridade tributária comum), não se aplica aos 
tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV (Imposto sobre Produtos Industrializados) 
 
28 
e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, 
I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos 
arts. 155, III, e 156, I. 
A instituição ou majoração de Imposto sobre Produtos Industrializados também pode se 
dar por Medida Provisória com efeitos imediatos, independentemente da data de sua conversão 
em lei, devido à expressa autorização pelo constituinte, no artigo 62, § 2º, da Constituição 
Federal de 1988: “medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto 
os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro 
seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada”. 
Segundo o STF, tendo em vista a semelhança entre o ICMS e oIPI, aplica-se a este o 
precedente segundo o qual, diante da inexistência de previsão legal, não há direito à correção 
monetária dos créditos escriturais. Entretanto, segundo o STJ, há o direito à correção monetária 
quando o legítimo direito ao creditamento é obstado em virtude de resistência oposta por 
ilegítimo ato administrativo ou normativo do Fisco. 
PRESTE ATENÇÃO! O Constituinte concedeu algumas imunidades em relação ao Imposto 
sobre Produtos Industrializados. Deveras, são imunes ao IPI: 
 As exportações de produtos industrializados (artigo 153, § 3º, inciso III, da 
Constituição Federal de 1988); 
 Os livros, jornais e periódicos e o papel destinado a sua impressão (artigo 150, 
inciso VI, “d”, da Constituição Federal de 1988); 
 O ouro, quando definido em lei como ativo financeiro ou instrumento cambial 
(artigo 153, § 5º, da Constituição Federal de 1988); 
 Energia elétrica, derivados de petróleo, combustíveis e minerais (artigo 155, § 3º, 
da Constituição Federal de 1988). 
 
 
29 
 
Os Tribunais Superiores consolidaram outros dois entendimentos relacionados ao Imposto 
sobre Produtos Industrializados que merecem destaque: 
 De partida, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Recurso Extraordinário nº 
723.651/PR, ao qual se atribuiu repercussão geral (Tema 643), fixou a seguinte tese: “incide o 
IPI em importação de veículos automotores por pessoa natural, ainda que não desempenhe 
atividade empresarial, e o faça para uso próprio” (STF, RE 723.651/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, 
Plenário, julgado em 03 e 04/02/2016). 
 Enfim, o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento dos Embargos de Divergência em 
Recurso Especial nº 734.403/RS, firmou, por unanimidade, o entendimento de que a ocorrência 
de roubo ou furto de mercadoria após sua saída do estabelecimento do fabricante afasta a 
incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados: 
TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. IPI. FATO GERADOR. 
ROUBO DA MERCADORIA APÓS A SAÍDA DO ESTABELECIMENTO DO FABRICANTE. 
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA DA CONTRIBUINTE PROVIDOS. 1. Discute-se nos presentes 
autos se a saída física do produto do estabelecimento industrial ou equiparado é suficiente 
para a configuração do fato gerador do IPI, sendo irrelevante a ausência de concretização 
do negócio jurídico subjacente em razão do furto e/ou roubo das mercadorias. 2. A 
controvérsia já se encontra superada em ambas as Turmas de Direito Público do Superior 
Tribunal de Justiça, restando consolidado o entendimento de que a operação passível de 
incidência da exação é aquela decorrente da saída do produto industrializado do 
estabelecimento do fabricante e que se aperfeiçoa com a transferência da propriedade do 
bem, porquanto somente quando há a efetiva entrega do produto ao adquirente a 
operação é dotada de relevância econômica capaz de ser oferecida à tributação. 3. Na 
hipótese em que ocorre o roubo/furto da mercadoria após a sua saída do estabelecimento 
do fabricante, a operação mercantil não se concretiza, inexistindo proveito econômico para 
o fabricante sobre o qual deve incidir o tributo. Ou seja, não se configura o evento 
ensejador de incidência do IPI, não gerando, por conseguinte, a obrigação tributária 
respectiva. (...) (STJ, EREsp 734.403/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira 
Seção, julgado em 14/11/2018, DJe 21/11/2018). 
 
30 
 
Atente ao teor do seguinte julgado: 
Incide IPI sobre veículo importado para uso próprio, haja vista que tal 
cobrança não viola o princípio da não cumulatividade nem configura 
bitributação. [STJ. 1ª Seção. REsp 1396488/SC, Rel. Min. Francisco Falcão, 
julgado em 25/09/2019 (recurso repetitivo – Tema 695)]6, 
Cabe mencionar, por fim, que o STF editou a súmula vinculante 58 em 2020, estipulando 
que “inexiste direito a crédito presumido de IPI relativamente à entrada de insumos isentos, 
sujeitos à alíquota zero ou não tributáveis, o que não contraria o princípio da não 
cumulatividade”. 
 
3.2.5 Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, 
e sobre Operações Relativas a Títulos e Valores 
Mobiliários (IOF) 
 Definido pelo artigo 153, inciso V, da Constituição Federal de 1988, segundo o 
qual “compete à União instituir impostos sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou 
relativas a títulos ou valores mobiliários”, o IOF, comumente conhecido pela locução “Imposto 
sobre Operações Financeiras”, possui função extrafiscal, uma vez que objetiva regular o 
funcionamento do mercado financeiro. 
CUIDADO! Embora o artigo 67 do Código Tributário Nacional consagre uma segunda 
finalidade do Imposto sobre Operações Financeiras, qual seja, a de formação de receitas 
monetárias, tal norma não foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, que veda, em 
seu artigo 167, IV, a vinculação de receita de impostos. Logo, em uma eventual questão de 
concurso, o candidato deve se ater à extrafiscalidade do tributo. 
 
6 Vide questão 3 
 
31 
Note-se que o legislador menciona quatro bases econômicas outorgadas à tributação: 
 Operações de crédito: possuem como premissa básica um negócio jurídico de 
crédito, consistente na “troca de um bem presente por um futuro, ou seja, é o ato 
por intermédio do qual se realiza uma prestação presente em troca de uma promessa 
de prestação futura” (MOSQUERA, 1999, p. 107). É o caso, por exemplo, dos 
financiamentos e empréstimos bancários a juros. E embora seja o mais comum, as 
operações de crédito não necessariamente estão associadas a instituições 
financeiras. Com efeito, assim indicam as alíneas do artigo 2º, inciso I, do Decreto n
º 6.306/2007: 
Art. 2º O IOF incide sobre: 
I - operações de crédito realizadas: 
a) por instituições financeiras7; 
b) por empresas que exercem as atividades de prestação cumulativa e contínua de serviços 
de assessoria creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção de riscos, administração 
de contas a pagar e a receber, compra de direitos creditórios resultantes de vendas 
mercantis a prazo ou de prestação de serviços (factoring)8; 
c) entre pessoas jurídicas ou entre pessoa jurídica e pessoa física. 
 Operações de câmbio: são “os negócios jurídicos consistentes na entrega de uma 
determinada moeda a alguém em contrapartida de outra moeda recebida” 
(MOSQUERA, 1999, p. 110). Dizem respeito às casas de câmbio, em que há troca de 
moedas (exemplo: trocar reais por dólares ao realizar uma viagem internacional). 
 Operações de seguro: definidas pelo artigo 757 do Código Civil, segundo o qual “
pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, 
a garantir interesse legítimo do segurado, relativo à pessoa ou à coisa, contra riscos 
predeterminados”. 
 
77 Vide questão 20 
8 Especificamente sobre a incidência de IOF sobre as operações de factoring, vide decisão proferida pelo STF, por 
unanimidade, no julgamento da Medida Cautelar em Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.763 (STF, ADI 1.763 
MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, julgado em 20/08/1998). 
 
32 
 Operações relativas a títulos ou valores mobiliários: englobam todos os 
documentos representativos de direitos passíveis de negociação, a exemplo dos 
títulos de crédito e das ações (PAULSEN, 2017). 
 O fato gerador do tributo, consoante o art. 63 do CTN, depende do tipo de operação 
financeira sob análise: 
(1) Tratando-se de operações de crédito, é a entrega (total ou parcial) ou disponibilização 
do montante referente à prestação acordada entre as partes. Exemplo: receber 
depósito do valor solicitado em contrato de empréstimo bancário; 
(2) Quanto às operações de câmbio, é a entrega ou disponibilização da moeda nacional 
ou estrangeira (ou documento que a represente), em valor correspondente à moeda 
oferecida em troca. Exemplo: receber dólaresao trocá-los, em uma casa de câmbio, 
pelo valor correspondente em reais; 
(3) Nas operações de seguro, é a emissão da apólice (ou documento equivalente) ou o 
recebimento do prêmio; 
(4) Enfim, quanto às operações relativas a títulos e valores mobiliários é a emissão, 
transmissão, pagamento ou resgate destes. 
CUIDADO! O parágrafo único do artigo 63 do Código Tributário Nacional visa a impedir o 
bis in idem em operações de crédito, prevendo expressamente que “a incidência definida no 
inciso I exclui a definida no inciso IV, e reciprocamente, quanto à emissão, ao pagamento ou 
resgate do título representativo de uma mesma operação de crédito”. 
Em consequência, é vedada a múltipla incidência de IOF sobre uma mesma operação de 
crédito, ainda que as cobranças sejam motivadas por fatos geradores aparentemente diversos; 
havendo emissão, transmissão, pagamento ou resgate em uma operação de crédito, o IOF 
deverá incidir apenas uma vez. 
 
33 
 
Para o Supremo Tribunal Federal, o simples saque em caderneta de poupança não é 
fato gerador do IOF, em razão da inexistência, em tal operação, de uma promessa de prestação 
futura (requisito obrigatório de uma operação de crédito). Nesse sentido, a Súmula nº 664/STF: 
“é inconstitucional o inciso V do art. 1º da Lei n. 8.033/1990, que instituiu a incidência do 
imposto nas operações de crédito, câmbio e seguros – IOF, sobre saques efetuados em 
caderneta de poupança. Sobre o tema, confira-se: 
TRIBUTÁRIO. IOF SOBRE SAQUES EM CONTA DE POUPANÇA. LEI N. 8.033, DE 12 -04 -
1990, ART. 1º, INCISO V. INCOMPATIBILIDADE COM O ART. 153, V, DA CONSTITUIÇÃO 
FEDERAL. O saque em conta de poupança, por não conter promessa de prestação futura 
e, ainda, porque não se reveste de propriedade circulatória, tampouco configurando título 
destinado a assegurar a disponibilidade de valores mobiliários, não pode ser tido por 
compreendido no conceito de operação de crédito ou de operação relativa a títulos ou 
valores mobiliários, não se prestando, por isso, para ser definido como hipótese de 
incidência do IOF, previsto no art. 153, V, da Carta Magna. Recurso conhecido e improvido; 
com declaração de inconstitucionalidade do dispositivo legal sob enfoque (STF, RE 
232.467/SP, Rel. Min. Ilmar Galvão, Tribunal Pleno, julgado em 29/09/1999). 
Em igual sentido já definiu a Súmula nº 185/STJ: “nos depósitos judiciais, não incide o 
Imposto sobre Operações Financeiras”. 
 
A base de cálculo do IOF, estabelecida pelo art. 64 do CTN, também depende do tipo de 
operação financeira: 
(1) Quanto às operações de crédito, é o montante (principal acrescido de juros) da 
obrigação; 
(2) No que tange operações de câmbio, é o respectivo montante em moeda nacional, 
recebido, entregue ou posto à disposição; 
 
34 
(3) Nas operações de seguro, é o valor do prêmio. 
(4) Por derradeiro, em relação às operações relativas a títulos e valores mobiliários, 
pode ser o 
 (a) o nominal, acrescido do ágio9, da emissão; 
 (b) o valor nominal da transmissão; 
 (c) o preço do pagamento ou resgate. 
O contribuinte do imposto, por fim, é qualquer das partes envolvidas na operação 
tributada, nos termos da lei. Inteligência do art. 66 do CTN. 
 
O lançamento se dá, em regra, por homologação. 
O Imposto sobre Operações Financeiras está sujeito ao princípio da legalidade, sendo 
inconstitucional a alteração de sua base de cálculo sem atuação positiva do legislador. 
 
9 Entenda-se ágio como a diferença de cotação (valor) entre moedas distintas. 
IOF
Fato gerador
Valor entregue ou posto à disposição (crédito e câmbio)
Emissão de apólice ou recebimento de prêmio (seguro)
Emissão, transmissão, pagamento ou resgate (títulos ou 
valores)
Contribuinte Qualquer das partes na operação tributada, nos termos da lei
Base de 
cálculo
Obrigação principal + juros (crédito)
Valor nominal ou cotação em Bolsa (câmbio)
Montante do prêmio (seguro)
Títulos ou valores mobiliários: Montante principal + ágio 
(emissão), valor nominal (transmissão) ou preço (pagamento ou 
resgate)
 
35 
Observe-se que o art. 65 do CTN, que prevê que “o Poder Executivo pode, nas condições 
e nos limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto, a 
fim de ajustá-lo aos objetivos da monetária”, é anterior à Constituição Federal de 1988, e não 
foi recepcionado por ela por manifesto conflito material entre as normas. Contudo, vale 
destacar que o tributo é sujeito a uma legalidade flexível, tendo em vista que o artigo 153, § 
1º, da CF/1988 autoriza a alteração de alíquota pelo Poder Executivo, através de Decreto ou 
Portaria do Ministro da Fazenda. 
Também é importante ressaltar que o IOF, consoante dito no início deste tópico, tem como 
finalidade viabilizar um controle sobre o mercado financeiro. Tendo em vista o caráter 
regulatório do tributo (extrafiscal), a Constituição Federal classifica esse imposto uma exceção 
às anterioridades previstas no artigo 150, inciso III, “b” e “c”, da Constituição Federal de 1988. 
Por conseguinte, na hipótese de edição de uma lei instituindo ou aumentando tributo 
relacionado a operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários, 
é permitido à União cobrá-lo de forma imediata, independentemente da data de publicação da 
norma, nos termos do § 1º do artigo 150 da Constituição Federal de 1988: 
§ 1º A vedação do inciso III, b (anterioridade tributária comum), não se aplica aos 
tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e V (IOF); e 154, II; e a vedação do inciso 
III, c (anterioridade nonagesimal/noventena), não se aplica aos tributos previstos nos 
arts. 148, I, 153, I, II, III e V (IOF); e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos 
previstos nos arts. 155, III, e 156, I. 
E a instituição ou majoração de Imposto sobre Operações Financeiras também pode se dar 
por Medida Provisória com efeitos imediatos, independentemente da data de sua conversão em 
lei, devido à expressa autorização pelo constituinte, no artigo 62, § 2º, da Constituição Federal 
de 1988: “medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os 
previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte 
se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada”. 
 
36 
 
O ouro é tributado de acordo com sua finalidade: 
Se utilizado especificamente como ativo financeiro ou instrumento cambial (em outros 
termos, quando destinado ao mercado financeiro ou à execução da política cambial do país; é 
o ouro usado como moeda), está sujeito exclusivamente à incidência do Imposto sobre as 
Operações Financeiras (IOF-Ouro). 
Nesse caso, o fato gerador do imposto se dá na data da aquisição do ouro ou na data de 
seu desembaraço aduaneiro (quando se tratar de ouro físico proveniente do exterior). 
Inteligência do artigo 36 do Decreto nº 6.307/2007. 
Os contribuintes, de acordo com o artigo 37 do Decreto nº 6.307/2007, “são as instituições 
autorizadas pelo Banco Central do Brasil que efetuarem a primeira aquisição do ouro, ativo 
financeiro, ou instrumento cambial”. 
Enfim, a base de cálculo do IOF é o preço de aquisição do ouro, considerando-se a cotação 
vigente no mercado doméstico no dia desta operação, ex vi do artigo 38 do Decreto nº 
6.307/2007. 
Tal hipótese não é prevista somente por legislação infraconstitucional, estando presente, 
também, no texto da própria Constituição Federal de 1988, em seu artigo 153, § 5º, primeira 
parte. Por consequência, havendo previsão constitucional nesse sentido, a vedação à cumulação 
de impostos nas operações envolvendo o ouro como moeda representa uma autêntica 
imunidade tributária: 
§ 5º O ouro, quando definido em lei como ativo financeiro ou instrumento cambial, 
sujeita-se exclusivamente à incidência do imposto de que trata o inciso V do"caput" 
deste artigo, devido na operação de origem; a alíquota mínima será de um por cento, 
assegurada a transferência do montante da arrecadação nos seguintes termos: 
I - trinta por cento para o Estado, o Distrito Federal ou o Território, conforme a origem; 
 
37 
II - setenta por cento para o Município de origem. 
 
E a ideia de imunidade é reforçada pelo constituinte no art. 155, § 2ª, inciso X, “c”, da 
CF/1988: 
§ 2º O imposto previsto no inciso II (ICMS) atenderá ao seguinte: 
X - não incidirá: 
c) sobre o ouro, nas hipóteses definidas no art. 153, § 5º. 
Note-se ainda que o § 5º do art. 153 da CF/88 estabeleceu outras duas regras importantes: 
(1) a definição de uma alíquota mínima de 1% (um por cento) sobre a base de cálculo; (2) a 
repartição constitucional de receitas derivadas do IOF-Ouro; embora figure como 
arrecadadora, a União deve transferir o montante adquirido aos entes federativos relacionados 
com a origem (local de extração) do ouro tributado, na proporção de 70% (setenta por cento) 
ao Estado, Distrito Federal ou Território, e 30% (trinta por cento) ao Município envolvido. 
 
IOF-Ouro
Fato gerador
Aquisiçao
Desembaraço aduaneiro
Contribuinte
Instituições autorizadas pelo Banco 
Central do Brasil que efetuarem a 
primeira aquisição
Base de cálculo Preço da aquisição
Alíquota Mínimo de 1%
Repartição de receitas
70% - Estados e DF
30% - Municípios
Cumulação de 
impostos
Vedada (imunidade)
 
38 
CUIDADO! Se o ouro é utilizado como mercadoria (por exemplo, ao se tornar matéria-
prima de joalheria), não há incidência de IOF, em razão da inexistência de operação financeira. 
De outra banda, podem ser exigidos II, IE, IPI e ICMS, conforme as circunstâncias de cada caso. 
 
3.2.6 Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR) 
Definido pelo artigo 153, inciso VI, da Constituição Federal de 1988, segundo o qual 
“compete à União instituir impostos sobre propriedade territorial rural”, o ITR atua como um 
instrumento de garantia da função social da propriedade. 
A propriedade rural, segundo o art. 186 da CF/1988, deve ser racional e adequada, 
preservar os recursos naturais e o meio ambiente, respeitar as relações de trabalho, e atender 
ao bem-estar do proprietário e dos trabalhadores. 
A importância atribuída pelo constituinte ao tema se confirma no art. 184 da CF/1988, que 
confere à Administração Pública o direito de punir o descumprimento à função social rural com 
a sanção de desapropriação para fins de reforma agrária. 
 Logo, o ITR possui notória função extrafiscal, prestando-se a desestimular a 
manutenção de propriedades improdutivas: 
Em virtude de sua nítida função extrafiscal, o ITR sempre foi imposto vocacionado a se 
revestir da condição de veículo auxiliar do disciplinamento estatal da propriedade rural. É 
considerado um importante instrumento de política agrária, nessa medida, de combate 
aos latifúndios improdutivos, fomentando, assim, a reforma agrária e a consequente 
redistribuição de terras no país. O que se quer com tal exação não são “proprietários”, 
mas “proprietários assíduos e produtivos, em prol da nação” (SABBAG, 2017). 
Para tanto, a Emenda Constitucional nº 42/2003 fixou como atributo deste imposto a 
progressividade, ensejando a incidência de alíquotas proporcionais à base de cálculo. Desse 
modo, o proprietário com baixo rendimento ou que não logra êxito em dar destinação 
econômica a seu imóvel rural recebe maior oneração do que o disposto a desempenhar 
atividades produtivas. Nesse sentido, o artigo 153, § 4º, inciso I, da Constituição Federal de 1988 
 
39 
prevê que o ITR “será progressivo e terá suas alíquotas fixadas de forma a desestimular a 
manutenção de propriedades improdutivas”. 
Segundo Ricardo Alexandre, aumenta-se o tributo proporcionalmente à área do imóvel 
tributado e de maneira inversamente proporcional ao grau de utilização, de forma que a maior 
alíquota prevista (20%) é aplicável aos latifúndios improdutivos, e a menor alíquota (0,3%) é 
aplicável às pequenas propriedades altamente produtivas. 
 O fato gerador do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural, a teor do art. 29 do CTN, 
é a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel rural. Em regra, adota-se o critério da 
localização: é rural o imóvel que se encontra fora da zona urbana do Município10. Entretanto, o 
art. 15 do Decreto-Lei nº 57/1966 definiu que essa divisão territorial não se aplica ao imóvel 
comprovadamente utilizado em exploração extrativa vegetal, agrícola, pecuária e agroindustrial; 
criou-se assim o critério da destinação, segundo o qual um imóvel destinado a atividades rurais 
fica sujeito ao ITR ainda que se encontre em uma zona urbana. 
 A adoção do segundo critério ganhou força em 2009, no julgamento do Recurso Especial 
nº 1.112.646/SP, que tramitou sob a sistemática de recursos repetitivos e serviu de paradigma 
do Tema 174, no qual o Superior Tribunal de Justiça fixou a seguinte tese jurídica: "Não incide 
IPTU, mas ITR, sobre imóvel localizado na área urbana do Município, desde que 
comprovadamente utilizado em exploração extrativa, vegetal, agrícola, pecuária ou 
agroindustrial (art. 15 do DL 57/1966)". 
 Ressalte-se que a questão ainda é controversa, tendo a Receita Federal publicado, em 
novembro de 2018, a Solução de Consulta nº 198, manifestando entendimento contrário ao 
exarado pelo STJ: 
ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE TERRITORIAL RURAL - ITR 
EMENTA: IMÓVEL LOCALIZADO EM ZONA URBANA UTILIZADO EM EXPLORAÇÃO 
EXTRATIVA VEGETAL, AGRÍCOLA, PECUÁRIA OU AGROINDUSTRIAL. TRIBUTAÇÃO. 
O Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR) não incide sobre imóvel localizado 
na zona urbana, ainda quando seja utilizado em exploração extrativa vegetal, agrícola, 
 
10 Sobre zonas urbanas, vide o subcapítulo referente ao IPTU, mais adiante. 
 
40 
pecuária ou agroindustrial, uma vez que tal hipótese não se encontra prevista na lei 
ordinária instituidora desse tributo11. 
 
 
 
Caso seja confrontado com uma questão acerca do fato gerador do ITR, até o término da 
controvérsia, o candidato deverá adotar como regra geral o critério de localização, e incluir o 
de destinação econômica como uma exceção, especialmente diante do precedente do Superior 
Tribunal de Justiça acima explanado. Em resumo, há de se observar a seguinte ordem: (1) em 
um primeiro momento, analisa-se a lei municipal competente para identificar a zona urbana do 
Município, enquadrando-se como rural toda a área que se encontrar fora dela; (2) dentro dos 
limites da área urbana municipal, passa-se a avaliar as características e atividades exercidas nos 
imóveis, sendo rurais os utilizados para fins de exploração extrativa, vegetal, agrícola, pecuária 
ou agroindustrial. 
 
Para fins de ITR, são bens imóveis por natureza o solo com a sua superfície, os seus 
acessórios e adjacências naturais, compreendendo as árvores e frutos pendentes, o espaço aéreo 
e o subsolo. 
Se o imóvel foi invadido, a propriedade sobre ele deixa de ser plena, também não há 
posse, em razão da impossibilidade de uso ou fruição do bem, não há o que se falar em 
pagamento de ITR. 
 A base de cálculo do ITR, tal como preconiza o art. 30 do CTN, é o valor fundiário, que 
deve ser entendido como o valor do terreno (“terra nua”), excluindo-se eventuais construções e 
benfeitorias. 
 
11 Disponível em: http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=96796. 
Acesso em 18 fev. 2020. 
http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=96796
 
41 
 O contribuinte, enfim, é o proprietário do imóvel, o titular de seu domínio útil (aquele 
que adquire o imóvel por enfiteuse ou aforamento) ou seu possuidor a qualquer título. 
Inteligência do art. 31 do CTN. Ressalte-se não ser possível considerarcontribuinte do ITR quem 
exerce posse sem ânimo definitivo, como é o caso da pessoa que firma contrato de locação ou 
comodato. Lembre-se, ainda, que os contratos de direito privado que transferem a 
responsabilidade pelo adimplemento das obrigações tributárias são válidos, mas não podem ser 
opostos ao fisco. 
 
 
 
 
 
 O lançamento se dá, em regra, por homologação. 
 Em que pese sua função extrafiscal, o ITR está sujeito ao princípio da legalidade estrita 
(nem mesmo as alíquotas podem ser alteradas por mero ato do Poder Executivo). Outrossim, 
deve observância obrigatória a ambas as anterioridades. Logo, a produção de efeitos de uma 
lei editada com o fito de instituir ou majorar o Imposto sobre a Propriedade Rural está 
condicionada ao escorrimento dos prazos estampados no artigo 150, inciso III, “b” e “c”, da 
Constituição Federal de 1988. 
 
ITR
Fato gerador
Propriedade, domínio útil ou posse de imóvel 
localizado fora da área urbana
Contribuinte
Proprietário, titular de domínio útil ou possuidor a 
qualquer título do imóvel
Base de cálculo Valor fundiário
 
42 
 
 A regra presente no artigo 153, § 4º, inciso II, da Constituição Federal de 1988, incluído 
pela Emenda Constitucional nº 42/2003, é dotada de nítido caráter social e visa a proteger o 
pequeno proprietário rural: “§ 4º O imposto previsto no inciso VI do caput: II - não incidirá 
sobre pequenas glebas rurais, definidas em lei, quando as explore o proprietário que não 
possua outro imóvel”. 
Da redação desse dispositivo conclui-se que têm imunidade tributária as propriedades 
rurais que preenchem três requisitos, quais sejam: (1) a condição de pequena gleba rural; (2) a 
utilização do imóvel para fins de exploração extrativa, vegetal, agrícola, pecuária ou 
agroindustrial; (3) a inexistência de propriedade sobre outros imóveis (tanto rurais quanto 
urbanos). 
CUIDADO! O artigo 2º, parágrafo único, incisos I, II e III, da Lei nº 9.393/1996 previa que 
o ITR não incidiria sobre “pequenas glebas rurais, quando as explorasse, só ou com sua família, 
o proprietário que não possuísse outro imóvel”. Com o advento da Emenda Constitucional nº 
42/2003 e a instituição da imunidade tributária, o requisito concernente à expressão “só ou 
com sua família” deixou de ser exigível. 
 
Um último tópico a ser destacado sobre este imposto diz respeito à sua parafiscalidade, 
que se configura, conforme já visto no capítulo 1 deste material, com a delegação da 
capacidade tributária ativa. 
Ordinariamente, em razão dos comandos constitucionais de repartição das receitas 
tributárias, os Municípios têm direito à metade do produto da arrecadação do Imposto sobre 
Propriedade Territorial Rural referente a imóvel localizado em seu território. Contudo, o 
artigo 84, caput, do Código Tributário Nacional reconhece a possibilidade de a lei federal o 
 
43 
transferir aos Estados, ao Distrito Federal ou aos Municípios o encargo de arrecadar impostos 
federais, sendo-lhes devido o direito de retenção do importe arrecadado. 
E essa delegação foi expressamente autorizada pelo constituinte, que previu a hipótese 
de formalização de convênio entre União e Município, em que este passa a assumir a 
responsabilidade de efetuar a cobrança e fiscalização do tributo no lugar da União, recebendo, 
em contrapartida, o direito à totalidade do produto arrecadatório, contanto que esse acordo 
não implique nenhuma redução ou renúncia fiscal. A respeito, a Constituição Federal de 1988: 
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: 
(...) 
§ 4º O imposto previsto no inciso VI do caput: 
(...) 
III - será fiscalizado e cobrado pelos Municípios que assim optarem, na forma da lei, desde 
que não implique redução do imposto ou qualquer outra forma de renúncia fiscal. 
 
Art. 158. Pertencem aos Municípios: 
(...) 
II - cinquenta por cento do produto da arrecadação do imposto da União sobre a 
propriedade territorial rural, relativamente aos imóveis neles situados, cabendo a 
totalidade na hipótese da opção a que se refere o art. 153, § 4º, III. 
 
 
 
 
 A hipótese acima relatada perfaz uma delegação de capacidade tributária ativa. Não 
confundir com competência tributária, que é definida pela Constituição Federal e, no caso em 
voga, pertence somente à União, tendo em vista que a competência é indelegável. 
 
 
44 
3.2.7 Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF) 
 Definido pelo artigo 153, inciso VII, da Constituição Federal de 1988, segundo o qual “
compete à União instituir impostos sobre grandes fortunas, nos termos de lei complementar”. 
No entanto, a União, até o presente momento, não exerceu tal competência, de forma que o 
tributo, consequentemente, não foi efetivamente instituído. 
De todo modo, oportuno mencionar que para a criação do Imposto sobre Grandes 
Fortunas basta a edição da aludida lei complementar, a qualquer tempo (considerando-se que 
a competência tributária é incaducável). 
 
3.3 Impostos estaduais e distritais 
Os impostos de competência dos Estados e do Distrito Federal foram discriminados pelo 
constituinte nos incisos do artigo 155 da Constituição Federal de 1988, sendo 03 (três) ao total: 
(1) Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD); 
(2) Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS); 
(3) Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). 
3.3.1 Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação 
(ITCMD) 
 O imposto sobre as transmissões em geral já era previsto pelo artigo 23, inciso I, da 
Constituição Federal de 1969, sendo os Estados e o Distrito Federal os entes federados 
competentes para sua instituição. 
 Com o advento da CF/1988, houve um desmembramento do tributo, com uma 
consequente bipartição de competência: as transmissões causa mortis e a título não oneroso 
permaneceram a cargo dos Estados, através do denominado Imposto sobre a Transmissão Causa 
Mortis e Doação (ITCMD); ao revés, as transmissões inter vivos e onerosas de bens imóveis 
 
45 
passaram à competência exclusiva dos Municípios, com a criação do Imposto sobre a 
Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) (SABBAG, 2017)12. 
 A propósito, as similaridades entre ambos os tributos se revelam na coincidência de regras 
gerais a eles aplicáveis, uma vez que os artigos 35 a 42 do Código Tributário Nacional – que é 
anterior à Constituição Federal de 1988 – dizem respeito tanto ao ITCMD quanto ao ITBI. 
 Feita tal consideração inicial, passa-se à análise do ITCMD, mencionado no artigo 155, 
inciso I, da Constituição Federal de 1988, segundo o qual “compete aos Estados e ao Distrito 
Federal instituir impostos sobre transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou 
direitos”. 
 Em um primeiro momento, há de se fazer duas observações acerca da incidência deste 
imposto de função fiscal: 
(1) o ITCMD tem o condão de atingir dois tipos de transmissões, quais sejam, causa mortis 
(inclusive por morte presumida, de acordo com o Supremo Tribunal Federal – Súmula nº 
331/STF) e as realizadas inter vivos, mas a título não oneroso (doação, por liberalidade 
das partes); 
(2) respeitado o primeiro requisito, são tributados tanto bens imóveis quanto imóveis. 
 O fato gerador desse imposto, a teor do artigo 35 do Código Tributário Nacional, pode 
ser: 
(1) A transmissão, a qualquer título, da propriedade ou do domínio útil de bens imóveis 
por natureza ou por acessão física13. Embora o artigo não os mencione, devem ser 
considerados também os bens móveis, títulos e créditos, uma vez que a Constituição 
Federal os inclui no campo de incidência do ITCMD; 
 
12 Vide questão 2 
13 Considere-se acessão física, ou natural, como formação de ilhas, aluvião, avulsão e abandono de álveo, ex vi do 
art. 1.248 CC. 
 
46 
(2) A transmissão, a qualquer título, de direitos reais sobre imóveis, exceto os direitos 
reais de garantia14; 
(3) A cessão dos direitos

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