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Maria Luiza Maia – M4 2021 SEMIOLOGIA Diagnóstico diferencial de icterícia. INTRODUÇÃO A icterícia é um sinal propedêutico caracterizado pela coloração amarelada da pele, esclera e mem- branas mucosas, causadas pelo pigmento bilirru- bina, é uma apresentação comum na doença he- patobiliar É um sinal clínico que pode ser resultado de um aumento da produção de bilirrubina, incapacidade do fígado de conjugar a bilirrubina ou falha em excretar a bilirrubina na árvore biliar A coloração se torna perceptível quando a bilir- rubina plasmática fica maior que 3 mg/dL FORMAÇÃO DA BILIRRUBINA 80% após a degradação dos glóbulos vermelhos que tem meia vida de cerca de 120 dias, depois de liberadas essa é degradada pelo sistema reti- culoendotelial (macrófagos) Hemocaterse (degradação das hemácias -> que- bra da hemoglobina nos macrófagos do fígado ou do baço -> heme e globina -> a globina é utilizada de acordo com as necessidades do organismo, a molécula heme é quebrada novamente em duas moléculas -> ferro que também é utilizado pelo corpo e a porfirina -> desdobramentos dos anéis de pirrol da porfirina em biliverdina -> biliverdina redutase forma a bilirrubina lipossolúvel que se liga a albumina e entra na circulação sanguínea -> chega nos hepatócitos, no retículo endoplasmá- tico -> a bilirrubina lipossolúvel se cliva da albumina e se conjuga com ácido glucurônico (enzima UDP transferase) -> formação da bilirrubina hidrosso- lúvel (conjugada) -> lançamento no intestino del- gado pela bile pelos canalículos terminais -> a bi- lirrubina conjugada é oxidada no íleo terminal pela microbiota terminal em dois pigmentos -> ester- cobilinogênio (fezes na forma de urobilina) e uro- bilinogênio (fezes e retorno ao fígado) -> o urobi- linogênio não é captado muito bem pelo fígado e ele acaba sendo eliminado pelos rins na urina na forma de urobilina ASPECTOS CLÍNICOS Achado incidental Indício de doença grave É importante uma anamnese detalhada No exame físico se procura estigmas de doenças hepáticas Exames laboratoriais para observar o tipo de bi- lirrubina alterada e o tipo de doença Em alguns casos é necessário a biópsia hepática Anamnese Ocupação Duração da icterícia, sendo nas hepatites virais curta e neoplasias, cirrose biliar primária e doen- ças hemolíticas ela é mais persistente Perda de peso que pode falar a favor de neopla- sia ou cirrose Sintomas prodrômicos Febre associada + dor no quadrante superior di- reito -> direciona para colangite Prurido que pode estar associada a doença coles- tática ou hepatopatia avançada Sangramento do TGI Coloração da urina e fezes, colúria é indicativo de aumento de bilirrubina direta podendo ser por le- são hepatocelular ou doença colestática, acolia fecal pode surgir por obstrução do fluxo biliar ao intestino Pesquisar dor abdominal Gestação Cirurgias abdominais Doença hepática pré-existente Desordens hemolíticas Medicamentos/drogas/ervas Epidemiologia Maria Luiza Maia – M4 2021 SEMIOLOGIA Exame físico Sinais de hepatopatia crônica ou hipertensão por- tal Ascite Circulação colateral Eritema palmar – sugere hepatopatia alcoó- lica Aranhas vasculares Ginecomastia Escoriações Xantomas (coleções de gorduras principalmente na região palpebral) e xantelasmas Síndromes Coledocolitíase – icterícia de início agudo, dor ab- dominal no QSD e náuseas e vômitos Colangite – icterícia, dor abdominal e febre (trí- ade de Charcot) e icterícia, dor abdominal, febre, hipotensão e alteração do estado mental (pên- tade de Raynolds) Colecistite – interrupção brusca da inspiração provocada pela dor durante a palpação profundo (sinal de Murphy) Obstrução maligna – vesícula biliar palpável, icte- rícia, ausência de dor (sinal de Courvoisier) EXAMES LABORATORIAIS Bilirrubina total e frações Ajuda a ver se há acúmulo de bilirrubina direta (causa posterior a conjugação ou na excreção, as enzimas hepáticas podem estar normais, pode ocorrer em função de doenças congênitas asso- ciadas ao aumento de BD) ou indireta (causa an- terior a conjugação no hepatócito como hemólise ou erros inatos do metabolismo) Outros exames Hemograma – identificar grau de hemólise Reticulócitos – aumentados sugerem o aumento da bilirrubina indireta Haptoglobinas – aumento de bilirrubina indireta DHL – sugere aumento de bilirrubinas indiretas Aminotransferase – lesão hepatocelular FA e GGT – sugere colestase INR/TP – sugere disfunção hepática Albumina – análise da função Sumário de urina – alteração da excreção Sorologias das hepatites virais Anticorpo anti-mitocôndria – cirrose biliar primá- ria FAN, antimúsculo liso, ANTI-LKA – suspeita de hepatite autoimune Perfil do ferro – hemocromatose Ceruloplasmmina – doença de Wilson Alfa 1 anti-tripsina – pacientes que possuem de- ficiência da enzima EXAMES DE IMAGEM USG – bom para a avaliação da dilatação do ducto biliar, consequentemente da litíase biliar, é a me- lhor escolha para pacientes com colelitíase Tomografia de abdome – bom para determinar a causa da obstrução das vias biliares USG endoscópica – investigação de coledocolitíase e de tumores pancreáticos pequenos CPRE – detecta obstrução extra-hepática e pos- sibilita a extração dos cálculos Colangiorressonância – revela o nível da obstru- ção CAUSAS DE HIPERBILIRRUBINEMIA NÃO CONJUGADA Aumento da produção da bilirrubina Hemólise extravascular Hematomas Hemólise intravascular (anemia hemolítica, esfe- rocitose hereditária) Captação hepática prejudicada Insuficiência hepática Shunt portossistêmico Maria Luiza Maia – M4 2021 SEMIOLOGIA Medicamentos como a rifampicina e atazanavir (HIV) Insuficiência cardíaca congestiva Conjugação prejudicada da bilirrubina Síndrome de Gilbert Síndrome de Crigles Najjar tipo 1 e 2 Recém-nascidos Cirrose avançada Hipertireoidismo Medicamentos CAUSAS DE HIPERBILIRRUBINEMIA CONJUGADA Colestase intra-hepática Cirrose biliar primária Hepatite alcóolica – estigmas de doença hepática Esteatohepatite não alcóolica – gordura Hepatite viral Drogas – esteroides, antibióticos, neurolépticos Ervas/toxinas Doenças infiltrativas Gravidez Doenças hereditárias Colestase extra-hepática Coledocolitíase Neoplasia – colangiocarcinoma e ca de pâncreas Colangite esclerosante primária Pancreatite aguda ou crônica Estenoses benignas Lesão hepatocelular Hepatites virais Hepatite alcóolica EHNA Doença hepática auto-imune Drogas Neoplasia HCC Doenças vasculares Condições metabólicas e hereditárias RELAÇÃO COM O FÍGADO Causas pré-hepáticas Cursam com o aumento da produção do heme Hiperbilirrubinemia indireta Desbalanço entre a bilirrubina produzida do heme e seu ritmo de conjugação hepático, au- mento da eritropoiese, hemólise, reabsorção de grandes hematomas ou grandes transfu- sões sanguíneas Diminuição da captação de bilirrubina pelo hepató- cito Diminuição da capacidade do fígado em captar a bilirrubina Efeito competitivo com medicamentos como a rifampicina, ácido flavaspídico, novobiocina e contrastes coleccistográficos (desaparece 48 hrs após a interrupção do medicamento) Causas intra-hepáticas Diminuição da capacidade de conjugação da bilir- rubina Icterícia neonatal – comum e fisiológica entre 2 e 5 dias após o nascimento, não supera 10 mg/dL, normalizam em duas semanas, níveis baixos de UGT1A1, prematuros e com hemó- lise, deve ter cuidado com o kernicterus (im- pregnação de bilirrubina indireto no cérebro) Icterícia do leite materno – esteroide gesta- cional pode inibir a enzima UGT1A1 Síndrome de Gilbert – mutação da região pro- motora TATABOX UGT1A1, é congênita e be- nigna na ausência de hemólise e doença es- trutural, é intermitente, preservamde 10 a 33% da atividade enzimática Síndrome de Crigler-Najjar tipo 1 – rara, ati- vidade da UGTA1 ausente, icterícia grave com valores de BI entre 15 e 18, ausência de BD na bile, causa danos neurológicos graves (ken- rnicterus), não responsiva ao fenobarbital, ameaça a vida Maria Luiza Maia – M4 2021 SEMIOLOGIA Síndrome de Crigles-Najjar tipo 2 – icterícia mais branda, existe BD, responsiva ao feno- barbital, sem sequela neurológica Inibição parcial da UGTA1 – por medicação Diminuição da capacidade de excreção da bilirru- bina conjugada Síndrome de Dubin-Johnson – mutação do gene MPR2/MOAT, predomina BD ou mista, é benigna e sem alteração da função hepá- tica, sem colestase, enegrecimento do fígado e pigmento centrolobular escura, sensível a estímulos por estrógeno, tem coproporfirina tipo 1 na urina Síndrome de rotor – mutação do mesmo gene, predomínio de BD ou mista, não há al- teração de prova de função hepática Doenças hepatocelulares Hepatopatias Inflamação lobular – altera o transporte de BD Alteração de AST e ALT Alteração de enzimas canaliculares Alterações de provas de função hepáticas Colestases intra-hepáticas Recorrente benigna Pós-hepáticas Obstrução das vias biliares Hiperbilirrubinemia mista BD + FA = obstrução do fluxo biliar Colelitíase, tumores, colangite esclerosante primária, infecções parasitárias, linfoma, pancreatite, estenoses pós cirúrgicas
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