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Tratamento da fração úmida I. Compostagem O que é compostagem? A compostagem é um processo de decomposição oxidativo biológico aeróbio e controlado de decomposição de resíduos orgânicos em produto estabilizado, com propriedades e características completamente diferentes do material que lhe deu origem. Decomposição = “milagre” da natureza. Basta criarmos as condições para os microorganismos “trabalharem de graça e com alegria”; Em linguagem simplificada Processo biológico: o “trabalho” é realizado por colônias de bactérias, fungos e actinomicetos. A diferença entre estes microorganismos refere-se ao que “gostam de comer” e ao ambiente que necessitam para desenvolver suas colônias (característica dos nutrientes, umidade e pH); Em linguagem simplificada Processo oxidativo aeróbio: escolhemos microorganismos que digerem os nutrientes “respirando” oxigênio (processo aeróbio) e “trabalhando” rápido 1. com isso nos livramos de microorganismos que não precisam de oxigênio para a digestão, mas liberam gases indesejáveis e o processo fica muito lento (processo anaeróbio); 2. Digerir significa se alimentar, mas também desagregar as moléculas da matéria orgânica. Em linguagem simplificada Processo controlado: é necessário cuidar do ambiente (substrato) para atingirmos nossos objetivos. 1. Precisamos “ajudar” os microorganismos a atingir as fases do processo que garantam o composto de qualidade, livres de organismos patógenos. Em linguagem simplificada Produto estabilizado: composto livre de matéria orgânica, odores ou insetos. Para isso é necessário cumprir dois estágios, subsequentes: composto semi-curado e composto curado; O composto semi-curado resulta do processo de digestão da matéria orgânica pelos microorganismos. Significa eliminar a carga orgânica e os problemas ambientais dela derivados, como emissão de gases (NH4). O composto curado significa o resultado de um processo de transformação em humus da matéria compostada. Esse é o atributo esperado para utilização como condicionador de solo, em agricultura. Em linguagem simplificada Matéria orgânica (verde + castanho) Microorganismos Oxigênio+ = CO2 Matéria orgânica estável + + + + Água Calor Compostagem = processo de transformação bioquímica A “mágica” consiste, portanto, em juntarmos dois tipos de materiais: VERDES: materiais ricos em nitrogênio CASTANHOS: materiais ricos em carbono Na compostagem, sob a ação do oxigênio molecular a oxidação se faz completa desmembrando-se completamente a molécula orgânica, cedendo toda sua energia potencial disponível (hidratos de carbono) e formando subprodutos (carbonatos e cinzas), que induzem ainda o ambiente a uma considerada alcalinidade. Nestas condições de aerobiose, instala-se também um processo de antibiose ou de antagonismo microbiano intenso, produzido pela proliferação de fungos e de bactérias esporuladas aeróbicas. Ao associarem-se os fatores energia calórica (produzida pela fermentação), alcalinidade (produzida pela putrefação), antibiose e um determinado tempo de exposição, obtêm-se condições seguras para o controle eficaz dos germes patogênicos, ovos, larvas, oocistos, etc. Explicação científica Na compostagem os materiais VERDES são a principal fonte de comida para os microrganismos, que se associam e ao mesmo tempo competem para devorar o “almoço”. Os materiais CASTANHOS são o combustível, a fonte de energia, para os microorganismos agirem. Dessa “batalha”, controlada, resulta um ambiente com determinada temperatura e alcalinidade que eliminam os microorganismos causadores de doenças. Explicação simplificada Importante destacar que este processo de digestão é exotérmico. Essa exotermia exige controle para que sejam atingidos gradientes facilitadores da ação de grupos distintos de microorganismos. São duas as fases: mesofílica (até, aprox. 40 graus Celcius) e termofílica (até aprox. 65 graus Celcius). Se conseguirmos manter o substrato por algum tempo sob temperatura da fase Termofílica, sementes de ervas daninhas será desativadas e organismos patógenos destruídos. O tempo de transformação dependerá da qualidade dos materiais e do processo utilizado. A produção de composto orgânico será sempre realizado em duas etapas. Na primeira etapa o processo gera o que denominamos pré-composto, no qual é efetuada a digestão aeróbia da carga orgânica. Em instalações industriais que processam Resíduos Sólidos Urbanos o ciclo para esta fase é regulado entre 24 e 48 hs, com alto controle de diversas variáveis, especialmente a relação verde/castanho, a granulometria e a umidade. Em processos artesanais esta fase se realiza, tipicamente, entre 40 dias e seis meses. A qualidade do composto dependerá da qualidade dos materiais e do controle do processo. A segunda etapa denominamos fase de maturação. Esta fase tem por objetivo humificar o pré-composto, transformando-o em composto orgânico. Dura, indistintamente, cerca de 90 dias. Quanto tempo dura o processo de compostagem? 1. Em princípio qualquer material orgânico é compostável; 2. Alguns cuidados, porém, devem ser observados: VERDES (preferencial): restos do preparo de alimentos • Legumes, hortaliças, frutas, cereais, casca de ovos, borra de café, penas de aves, etc. VERDES (pode, mas de preferência evitar): • Alimentos temperados, gordura animal, óleos, carnes, etc. O que pode e o que não pode ser utilizado? CASTANHOS (preferencial): fibras finas e secas • Aparas de grama, algas marinhas, papéis sem tinta (guarda-napos usados), feno, palha, serragem, cavacos de madeira (longo prazo de degradação) O que pode e o que não pode ser utilizado? CUIDADO ESPECIAL: lodo de esgoto • Rico em microorganismos e em metais pesados O que pode e o que não pode ser utilizado? Nota As cidades produzem, em escala significativa, “lixo” e esgoto. A fração orgânica do “lixo” no Brasil é muito elevada e onde o esgoto é tratado há enormes quantidades de lodo. Nesse sentido há usinas de compostagem de escala industrial projetadas para utilizar “lixo” e lodo de esgoto na produção de composto orgânico. Qual a proporção entre VERDES e CASTANHOS ? VERDES CASTANHOS Relação inicial de massa - Carbono 30 : 1 Nitrogênio Dez partes do carbono são incorporadas à massa e vinte partes são eliminadas como gás carbônico (CO2) Relação final de massa - Carbono 10 : 1 Nitrogênio BACTÉRIAS: • Função: - Decompor a matéria orgânica; - Aumentar a disponibilidade de nutrientes; - Agregar partículas no solo; - Fixar o nitrogênio • Decompõem: - Açúcares; - Amidos; - Proteínas; - Outros nutrientes de fácil digestão. MICROORGANISMOS: Afinal o que fazem as bactérias? FUNGOS: • Função: - Decompor a matéria orgânica resistente; - Formação do húmus; - Fixação do nitrogênio; - Decomposição do composto em alta temperatura. MICROORGANISMOS : Afinal o que fazem os fungos? ACTINOMICETOS: • Função: - Degradação do material celulósico; - Formação do húmus; - Fixação do nitrogênio; - São maus competidores; - Não atuam com baixo pH. MICROORGANISMOS : Afinal o que fazem os actinomicetos? Temperaturas indesejáveis 70o 60o 50o 40o 30o 20o Fase termófila Fase mesófila Início da decomposição Instalação do processo Temperatura Parâmetros para controle do processo: TEMPERATURA Nota Genericamente no processo de compostagem, a temperatura se eleva, de 15 a 20 graus Celsius nas primeiras 24 horas.. Bioestabilização Humificação Temperatura Parâmetros para controle do processo: TEMPERATURA Tempo Composto curadoComposto semi- curado Fase termófila Fase mesófila Temperatura ambiente 90 dias24 horas a seis meses 40 0 C 65 0 C Excessiva 70% 60% 50% 40% 30% 20% Tolerável Ótima Umidade Parâmetros para controle do processo: UMIDADE 10% 0% Baixa Péssima Condições para o processo de compostagem Nota Comumidade muito baixa o processo para. Com umidade muito alta o processo é continuado de forma anaeróbia. Excessiva 70% 60% 50% 40% 30% 20% Tolerável Ótima Umidade Parâmetros para controle do processo: UMIDADE 10% 0% Boa Excelente Condições para o produto acabado O2 = 0,5% a 2% LEIRA Parâmetros para controle do processo: OXIGENAÇÃO Internamente O2 = 18% a 20% Região externa Parâmetro técnico: insuflação diária de 0,3 a 0,6 m3 de ar por Kg de substrato Compostagem: sistema de leiras Equipamento para revolvimento da leira Tendências de evolução das principais variáveis: pH pH dias 7 9,5 Tendências de evolução das principais variáveis: UMIDADE UMIDADE dias 20% 80% Tendências de evolução das principais variáveis: MATÉRIA ORGÂNICA TOTAL MATÉRIA ORGÂNICA TOTAL dias 0 % Tendências de evolução das principais variáveis: NITROGÊNIO TOTAL NITROGÊNIO TOTAL dias Tipos de processo: caseiro REATOR BIOLÓGICO (In-Vessel) Substrato Lixiviado A tampa deve admitir perda de umidade (melhor um telado) Bombona ou tambor plástico Nota Esse é o padrão da composteira doméstica, com volume nominal de 50 a 100 litros. Funciona perfeitamente desde que bem cuidada (dá tanto trabalho quanto um aquário). Bem cuidada não gera odores, nem insetos. O lixiviado, este sim, atrai insetos e deve ser sistematicamente descartado na rede de esgoto (e não nas plantas). Um reator desse tipo gera de 5% a 10% de lixiviado, em volume. Nota Composteira típica de sítio. Pelo volume observado, provavelmente não há revira. Logo, a cobertura de cada descarga de resíduos deve ser feita com capim seco bem armado para incorporação de oxigênio. Nesse caso é indispensável a proteção contra a entrada de água de chuva. Nesse tipo de processo estático, cumulativo, o resultado final – composto orgânico, será obtido entre seis meses e um ano. Devido à saturação da base neste tipo de sistema inevitavelmente ocorre anaerobiose com liberação de odores desagradáveis e atração de vetores. Recipiente inadequado para compostagem, pois terá que dar conta do recolhimento do lixiviado. Necessita, ainda, de um telado de proteção contra insetos (mosca de fruta, especialmente). Exemplos de composteiras caseiras divulgadas via internet. Exemplo de situação inadequada para compostagem. Não há controle do lixiviado nem de vetores. Qualquer arranjo resultará na digestão da carga orgânica, variando somente o tempo (de curto a muito alto); a qualidade do composto (quanto mais tempo levar menor será a taxa de Nitrogênio) e o impacto ambiental e à saúde (de nenhum a moderado). Não se coloca terra na composteira. O substrato deve ser formado apenas pela mistura do verde com o castanho. Quem quiser lidar com terra deverá trabalhar com vermicompostagem (tão bom quanto). Ao invés da digestão orgânica ocorrer por meio de microorganismos, dar- se-á através de minhocas, de preferência minhocas californianas (Mercado Livre: 100 minhocas por R$26,90). Sistema Kiehl: produção de composto orgânico a partir da utilização de restos de produção agrícola, especialmente palha e restos vegetais (castanho) e de criação animal, especialmente fezes (verde), que são aqui denominados de meios de fermentação. Estabilização através de sistema de leiras revolvíveis. E. J. Khiel foi professor da Escola Superior de Agricultura Luís de Queirós – ESALQ de Piracicaba. É um dos principais cientistas brasileiros nessa área de conhecimento. Tipos de processo: escala rural Sistema UFSC – PMSP/ INOVA Tipos de processo: perfil rural, em meio urbano Sistema semi-artesanal implementado pela concessionária Inova no município de São Paulo. O processo utiliza leiras estáticas (sem revolvimento) mesclando camadas de resíduos orgânicos de feiras livres e palha obtida no Ceasa (palha de capim utilizada no transporte de melancia e melões). Embora não haja revira, o sistema funciona adequadamente em regime de digestão aeróbia, em razão do alto índice de vazios proporcionado pelas camas de palha, e pela rede de drenagem que capta e afasta não somente o lixiviado, mas o excesso de umidade que ocorre em períodos de maior pluviometria. O ciclo de produção de composto orgânico é de 4 a 5 meses. Embora haja, no momento, cinco áreas desse tipo na cidade de São Paulo, operadas pela Inova, fica claro que o sistema embora eficiente, não é compatível com a escala da cidade. É um sistema muito interessante para cidades com cerca de 50.000 habitantes, como Rio Grande da Serra, por exemplo. Caixa de passagem de drenagem LEIRA Tipos de processo: escala rural - industrial LEIRAS REVOLVIDAS (Windrow) Embora a leira seja utilizada, como regra, somente na segunda etapa do processo de compostagem - maturação, comumente remanesce alguma carga orgânica A utilização de leira para maturação ou estabilização ou cura ou humificação (sinônimos) somente é recomendada em regiões de baixa pluviometria ( a menos que haja rede de captação de lixiviado e água excedente), sob pena do encharcamento continuado da massa produzir digestão anaeróbia (alongamento de prazos e geração de odores). O revolvimento é um requisito necessário para alimentar de oxigênio o processo aeróbio. Tipicamente as leiras apresentam como geometria um triângulo com 2,0 a 3,0 metros de base e 2,0 a 2,40 metros de altura. O comprimento somente dependerá do espaço disponível. Revira mecânica de leira. Compostagem verde. Grande Paris-Fr. LEIRA Tipos de processo: rural - industrial LEIRAS ESTÁTICAS AERADAS (Static pile) Insuflador de ar Insufladores ativados por aeradores de porte industrial. Resulta em alto consumo de energia. Sistema Carel-Fouché_Languepin Tipos de processo: escala industrial Observar que os resíduos são triturados, peneirados e elevados a uma torre de seis estágios, dotada de dispositivos para controle da umidade e oxigenação do substrato. O ciclo de digestão é de seis dias. O pré-composto produzido é, posteriormente, disposto em leiras para maturação, por mais 90 dias. Tipos de processo: industrial Sistema industrial de compostagem mais difundido pelo mundo nas décadas de 1970 e 1980. O sistema DANO utiliza cilindros rotativos com cerca de 3 m de diâmetro e eixo longitudinal levemente inclinado, como reator para promover a digestão aeróbia da carga orgânica. Os materiais permanecem dentro dos bioestabilizadores, girando e se fragmentando, por um, dois ou três dias, dependendo do comprimento, com velocidade de rotação superior a 1,5 rpm. O produto resultante é chamado de pré-composto e não possui qualidade suficiente para uso agrícola "in natura", devido a sua maturação incompleta, devendo terminar o processo em leiras para atingir o nível de maturação aceitável para fins agrícolas. Sistema DANO Na década de 1970, no estado de São Paulo, foram instaladas duas usinas de tecnologia dinamarquesa – DANO, duas no município de São Paulo – Vila Leopoldina e São Mateus, e mais duas na década de 1980 nos municípios de Santo André, junto ao Aterro Sanitário público e no município de São José dos Campos. Todas as quatro usinas foram instaladas para processar “lixo” indiferenciado. Usina de compostagem vila Leopoldina – SP (sistema DANO) Usina de compostagem de Santo André (sistema DANO) Instalada no aterro cidade São Jorge foi desativada e desmontada para permitir a ampliação do aterro sanitário. Uma alternativa ao processo de compostagem anteriormente descrito é a vermicompostagem. O mercado oferece grande variedade de dispositivos, tipicamente composto por três caixas plásticas empilhadas. A função da caixa inferior será coletar, acumular e drenar o lixiviado gerado no processo. A carga orgânica é colocada, inicialmente, na caixa superior, previamente abastecida com terra. É preferencial o uso de um tipo específico de minhoca. A minhoca californiana se distingue pela voracidade na digestão dos alimentosdepositados. Estas minhocas são amplamente comercializadas [Mercado livre, 100 minhocas = R$26,90]. A lâmina, a seguir, informa detalhadamente o processo a partir de uma experiência, dentre inúmeras, apresentadas na internet. Para a escala doméstica esta solução é muito interessante e eficiente. Compostagem, e daí? Vamos refletir sobre a realidade brasileira 1. A lei federal 12.305/2010 (PNRS) obriga o tratamento do RSU antes de sua disposição final. Cenário brasileiro Cenário brasileiro 2. Mais da metade, em massa, dos RSU gerados no Brasil é representada pela fração úmida. Cenário brasileiro 3. No âmbito dos RSU a fração úmida concentra o maior potencial de impactos ambientais negativos e riscos à saúde humana. Cenário brasileiro 4. Historicamente a disposição final de RSU no Brasil é realizada: i. A céu aberto (lixão) ou com simples cobertura com terra (aterro controlado), predominantemente, em municípios de até 50.000 habitantes; e i. Em aterros sanitários com controle parcial dos impactos ambientais. Cenário brasileiro 5. Embora contrariando a Lei Federal, essa situação deve perdurar por mais algumas décadas. Diferente do folclore brasileiro que dispõe sobre leis que pegam e não pegam a lei 12.305/2010 já pegou, do jeito brasileiro. É uma lei transformadora e está obrigando os prefeitos municipais a saírem de sua zona de conforto. Não cumprir lei gera, para os prefeitos, ação de improbidade administrativa e inegibilidade (ponto fraco dos políticos). A primeira atitude, claro, foi postergar prazos para as obrigações. Consumiremos duas décadas com essa postergação, mas as obrigações continuam existindo. O desafio presente é o do financiamento de empreendimentos de saneamento, não somente para eliminar lixões, mas principalmente para se efetivar a triagem na fonte e o tratamento dos RSU. Veremos no curto prazo uma alteração no marco legal do saneamento básico no Brasil (já aprovado no Senado Federal), tirando dos municípios a titularidade da prestação deste tipo de serviço, transferindo essa atribuição para a Agência Nacional de águas – ANA. Essa alteração possibilitará ampliar a participação do capital privado na área de saneamento básico, especialmente esgotamento sanitário e resíduos sólidos. Veremos ao longo da década de 2020 uma franca transformação no cenário de manejo de RSU nas grandes cidades (as que darão muito lucro para o capital privado). Veremos essa transformação nas cidades médias num horizonte de três décadas (médio lucro). As cidades pequenas, com pouco potencial de retorno do capital, mesmo que consorciadas, ficarão pior do que hoje estão. Não terão perspectiva de serem alcançadas por empreendimentos privados e os municípios continuarão sem capacidade de investimento nessa área. Cenário brasileiro 6. Num cenário de médio prazo (10-15 anos) os municípios com maior capacidade técnica e de recursos financeiros tendem a caminhar para uma “solução primária” de disposição final de RSU, associando tratamentos voltados à REDUÇÃO do volume de aterramento e, consequentemente, REDUÇÃO do potencial de impacto ambiental dos resíduos e à valorização energética, através do biogás. Essa solução primária tem nome: Tratamento Mecânico Biológico TMB, ou Bingo! Uma instalação para Tratamento Mecânico Biológico significa que todo RSU indiferenciado coletado é enviado para duas linhas de processamento articuladas, após uma etapa preliminar de triagem, onde serão separados metais, plásticos, madeira, borracha, trapo etc. Nesta primeira etapa só não deveremos admitir que essa triagem seja feita manualmente, como concebido há quase cinquenta anos atrás, mesmo que sob o argumento de geração de trabalho num ambiente de alto desemprego. Devemos dizer NÃO. Por uma razão ética não devemos concordar com essa postura, uma vez que toda essa triagem poderá ser realizada de forma mecanizada. Ofereçamos, como alternativa, capacitação e trabalho digno para as pessoas! A primeira linha do material triado terá por objetivo produzir biogás, para suprir de energia todo o sistema (objeto da próxima aula). A segunda linha processará o material para gerar composto orgânico, para depois aterrar. Isso mesmo, aterrar! Observem esta composteira em processo de monitoramento, 22 dias após sua instalação. Quando da instalação da composteira o substrato ocupava 100% do volume do recipiente. A redução de volume, que pode alcançar 60% do volume inicial, se explica pelo abatimento da massa com a diminuição do índice de vazios, pelo volume de lixiviado gerado e liberação de CO2. Logo, aterrar um pré-composto, sem valor comercial, pois contaminado por metais pesados e, especialmente, vidro, originado de RSU indiferenciado é vantajoso no que se refere à redução de volume, com impacto favorável na vida útil do Aterro Sanitário. Mas não é só isso, após o processamento o pré- composto estará livre de grande parte da carga orgânica, portanto, isento de emissão de metano e chorume. Não é, realmente, vantajoso? Cabe perguntar: por que aterrar algo que gerou custos de energia, depreciação de capital, mão de obra, manutenção e amortização de equipamentos, etc.? Caberia, ainda a pergunta, mas isso não encarecerá a disposição final? Sim, sem dúvida. Descartar “lixo” em lixões é muito mais barato do que cobrir o “lixo” com terra, que, por sua vez, é incomparavelmente mais barato do que dispor em Aterro Sanitário, este muito mais barato do que TMB. Em suma, a sociedade tem que pagar o preço pela contrapartida de melhoria ambiental. O diagrama, a seguir, nos informa sobre o caminho a ser percorrido, em processo de TMB, no segmento compostagem, pelos RSU. Como há uma triagem inicial e espera-se que seja totalmente mecanizada, uma parte pequena do volume de resíduos será recuperada para reciclagem, havendo rejeito a ser destinado para aterro sanitário. No processo de digestão aeróbia haverá a liberação de lixiviado (chorume), que deverá ser enviado para desativação da carga biológica em Estação de Tratamento de Esgotos por lodo ativado (assunto já tratado na última aula). Após o processo de trituração, para reduzir a granulometria da carga orgânica, homogenização e fermentação, que num processo de escala industrial levará de 24 horas a três dias, o pré-composto, resultado do processo será destinado ao aterramento, em contraste com os processos convencionais instalados no Brasil há mais de quarenta anos, que previam a comercialização do composto orgânico, mesmo contaminado. Gerador RSU Indiferenciado Recepção Triagem Mecânica Manual Reciclado Baixo valor Reciclado Baixo valor Trituração RejeitoRejeito Disposição final Disposição final Homogeneização Fermentação Maturação Consumidor Aterramento (TMB) Lixiviado (chorume) COMPOSTAGEM Processo em escala ETE Em síntese, hoje no Brasil são gerados cerca de 205.000 t/dia de RSU e desse total mais de 100.000 t/dia constitui a fração úmida. Dessa fração úmida podemos, através da gestão diferenciada de RSU efetuar a segregação na fonte (feiras livres, mercados, restaurantes, etc.) de cerca de 5% a 7,5%, em massa, da fração úmida desses resíduos e destiná-los a processos de compostagem para produção de composto orgânico de qualidade para uso na agricultura. A produção agrícola no Brasil ganha cada vez mais destaque como setor dinâmico da economia brasileira e demanda, correntemente, enormes quantidades de fertilizantes sintéticos, sendo o Brasil um dos maiores importadores mundiais deste tipo de insumo. Em contraste, descartamos em aterros sanitários enormes quantidades de nutrientes, contidos na fração úmida dos RSU. Compostamos hoje no Brasil, se muito, 0,01% da massa de RSU gerado. Temos potencial para substituir parte da importação de fertilizantes (nitrogênio), por composto orgânico, que além de rico em nitrogênioconstitui inigualável condicionador de solo, nas quantidades sugeridas na lâmina a seguir. Mas, o que fazer com o restante da massa de RSU? O que não for triado na fonte constituirá o resíduo indiferenciado que poderá seguir duas rotas: TMB ou valorização energética através da incineração. Quer dizer que dispormos RSU indiferenciado em aterro sanitário não está entre as alternativas de rota? _Claro que não. Desde 2010 a PNRS dispõe que só pode ter disposição final em aterro sanitário o rejeito do tratamento dos RSU. Gravimetria sintética da geração de RSU, hoje no Brasil Fração úmida Cerca de 52% Fração seca (recicláveis) Cerca de 35% Outros (resíduos de varrição urbana) Carca de 13% Fração úmida: potencial de segregação na fonte 5,0 – 7,5 % Brasil: 5.000 t/dia RMSP (39 municípios): 1.300 t/dia Região do ABC (07 mun.): 130 t/dia Santo André: 34 t/dia Compostagem: 0,01% QUESTÕES Q5_14: O que fazer com o lixiviado resultante do processo de compostagem? Q6_14: No processo de compostagem o que devemos fazer para gerar um composto orgânico livre de patógenos? Bibliografia: (1) OLIVEIRA, L. Isolamento e identificação de microorganismos em processos de compostagem. Apostila de apoio à disciplina Resíduos sólidos. UFABC. Santo André, 2011. 04 pág.; (2) LIMA, Gilson L. O destino das sobras, in: (Des)construindo o caos. Perspectiva: coleção Debates. São Paulo, 2008; (3) PHILIPPI Jr. A. (org). Saneamento, saúde e ambiente: fundamentos para um desenvolvimento sustentável. Universidade de São Paulo: Faculdade de Saúde Pública. Manole. Barueri, 2005; (4) MONTEIRO, J. H. P. et al. Gestão integrada de resíduos sólidos: manual de gerenciamento integrado de resíduos sólidos. IBAM – SEDU/PR. Rio de Janeiro, 2001; (5) IPT/ CEMPRE (Compromisso empresarial para a reciclagem). Lixo Municipal: manual de gerenciamento integrado. Publicação IPT No. 2.163. São Paulo, 1996; (6) PEREIRA NETO, João T. Manual de compostagem: processo de baixo custo. Universidade Federal de Viçosa/ SLU/ UNICEF. Belo Horizonte, 1996; (7) LIMA, Luís Mário Q. Lixo: tratamento e biorremediação. Hemus. São Paulo, 1995. (8) KIEHL, E. J. Metodologia da compostagem e ação fertilizante do composto de resíduos domiciliares, ESALQ-USP, Piracicaba, 1979.
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