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Trabalho Escrito SRI - Globalização

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Índice
Introdução	3
Resumo de textos	4
 What is Globalization?	4
 Global governance and hegemony in the modern world system	7
 Neo-Liberalism as Creative Destruction	10
 Has globalization ended the rise and rise of the nation-state?	13
 What is the concept of globalization good for? An African historian’s perspective	16
Conclusão	19
Referências Bibliográficas	20
	
Introdução
No âmbito da cadeira de Sociologia das Relações Internacionais, foi solicitado aos alunos a realização de um trabalho individual final, podendo assumir três formatos – (1) resumo de cinco textos da unidade curricular; (2) estudo de caso baseado num dos temas discutidos ao longo do semestre; (3) recensão crítica de um livro. Com efeito, foi escolhida a primeira opção. 
O presente trabalho destina-se, então, a analisar o fenómeno da globalização através da seguinte questão de partida – O que se entende por globalização?. Este assunto afigura-se bastante intrigante para mim enquanto estudante de Relações Internacionais, disciplina na qual é também focalizada a exploração de questões contemporâneas, e, portanto, é alvo de particular curiosidade. Esse constitui o principal motivo para a escolha desta temática. 
Os cinco textos selecionados foram, respetivamente, What is Globalization? de Roland Robertson e Kathleen E. White, Global governance and hegemony in the modern world system de Giovanni Arrighi, Neo-Liberalism as Creative Destruction de David Harvey, Has globalization ended the rise and rise of the nation-state? de Michael Mann e, por último, What is the concept of globalization good for? An African historian’s perspective de Frederick Cooper. 
Esta tarefa não só contribui para o crescimento pessoal, como permite conhecer mais substancialmente o mundo atual e as perspetivas teóricas que sobre ele são formuladas, fomentando o amadurecimento do espírito crítico no tocante ao tempo e espaço em que habitamos.
Resumo de textos
What is Globalization?
Roland Robertson and Kathleen E. White
O conceito de globalização é muito contestado, sendo que várias disputas emergem das diferentes perspetivas que se possuem em diferentes pontos do globo – por isso, há académicos que falam em “globalizações” no plural, demonstrando a existência de diversos processos de globalização.
A globalização pode ser definida enquanto objeto, perspetiva e horizonte, de acordo com Velho (1997). É um objeto na medida em que é vista como um “processo único”, o qual é estudado “de forma objetiva” e como foco particular, o que significa que há uma elevada intersubjetividade. É uma perspetiva já que a análise do mundo toma outras proporções quando feita em termos globais. Por fim, é um horizonte pois a globalização pode ser considerada a direção que o mundo, como um todo, está a tomar. É possível concluir que o estudo da globalização e respetivo debate são marcados por diversas orientações disciplinares e que o seu desenvolvimento pode ser considerado, portanto, transdisciplinar.
A preocupação com a globalização, mesmo não sendo expressada explicitamente nesse termo, começou há muito tempo atrás. Nos anos 1970 e 1980, é que se iniciou o uso desse termo em áreas como a Sociologia, a Antropologia e nos estudos religiosos. Até aos anos 1980 e 1990, a ideia de globalização não tinha sido totalmente integrada nos discursos académico, político e intelectual. Com a queda do Muro de Berlim em 1989, e o subsequente colapso do comunismo, deu-se início à propagação do uso do termo. Desde logo, verifica-se a natureza contestada do conceito bem como a sua atualidade, uma vez que há uma clivagem entre aqueles que adotam uma perspetiva unidimensional, com um sentido mais económico e sendo mais ideológica, e os que adotam uma perspetiva multidimensional da globalização, uma visão expansiva e menos ideológica. Hoje são convergentes, mas outrora não, pelo que havia a necessidade de reconhecer estes dois usos. Neste sentido, o autor refere o exemplo do movimento anti-globalização do final de 1990, bem como o do desenvolvimento da consciência global acerca das desigualdades produzidas pela globalização, nomeadamente económicas. Ambos culminaram num protesto crescente contra a globalização capitalista, assim como na integração plena do movimento anti-globalização no processo de globalização. Deste modo, nos anos 2000, nasce a distinção entre uma globalização “de cima”, “o inimigo”, e uma globalização “de baixo”, “os bons da fita”.
No início dos anos 90, dá-se o desenvolvimento de uma política marcada pela desejabilidade de mercados abertos, livre comércio, desregulação e privatização – o neoliberalismo – que vem proporcionando um papel crescente às empresas transnacionais, transformando, aliás, a vida económica do mundo numa delas. Além disso, são as grandes representantes do lado mais preverso da globalização.
Os parâmetros do processo geral da globalização
É transmitida ao leitor a ideia de que a globalização é mais do que uma crescente (inter)conectividade. A par com a última, caminha uma crescente consciência global, isto é, uma combinação de fatores subjetivos e culturais. Contudo, negligencia-se uma a favor da outra. Enquanto cientistas políticos, especialistas em R.I. e economistas privilegiam a conectividade como traço distintivo do conceito em análise, antropólogos, sociólogos e historiadores privilegiam a consciência. 
Samuel Huntington projetou que, após o fim da Guerra Fria, os maiores conflitos à escala global seriam de natureza civilizacional e não ideológica. Baseava-se na ideia de que existiam profundas diferenças nas conceções da natureza e propósito humanos, pelo que originar-se-ia um verdadeiro “clash” de civilizações. Como mais relevante, é mencionado o antagonismo entre o Ocidente Judeu-Cristão e o Médio Oriente Islâmico e Muçulmanos no sul e sudeste da Ásia, culminando num dos mais marcantes acontecimentos, o ataque às Torres Gémeas. Contudo, este choque já é evidente desde 1979 com a Revolução Iraniana. É com a proclamação de Bush, de que teria de haver uma cruzada contra o “terrorismo” islâmico, que há uma perceção repentina de que a globalização envolve muito mais do que questões ideológicas. Neste sentido, é um erro enorme ignorar o aspeto cultural da globalização. 
Para além das crescentes conectividade global e consciência global em matérias económicas-materialistas, estas também deve estar presentes em torno de políticas e ideologias, no que ao acesso a recursos escassos diz respeito.
As dimensões da globalização
A globalização possui quatro dimensões – cultural, social, política e económica –, sendo que a ambiental não é de todo descurada, mas afigura-se como uma preocupação mais contemporânea. A primeira demonstra que, ao expandir o consumo de bens e serviços pelo mundo de forma relativamente homogénea, é necessário adaptar as marcas às circunstâncias locais. A título de exemplo, menciona-se Ritzer e a “McDonaldization”, perspetivada como forma de globalização cultural ou até mesmo como imperialismo cultural, da qual se conclui a disseminação de práticas americanas socioeconómicas pelo globo. Certamente, verifica-se uma relação entre fatores económicos e culturais, no sentido em que a expansão do capitalismo faz emergir assuntos do foro cultural. Da dimensão social, conclui-se também uma dimensão comunicativa, visto que é impossível conceber conectividade sem interação social.
A forma da globalização
O padrão da globalização é uma questão introduzida por Immanuel Wallerstein. Na sua investigação, apontou um aspeto relevante quanto à forma de criação do chamado “sistema do mundo moderno” – o sistema mundial capitalista – quando sugeriu as várias maneiras a partir das quais o mundo adquiriu a forma, mais ou menos, de um “sistema” singular – não sob a égide de uma instituição religiosa particular, mas assim poder-se-ia ter tornado através das ações de uma organização de vanguarda ideológica, como o Partido Comunista Soviético, ou assente na expansão do nazifascimo ou, ainda, a partir do planeamento de políticos e intelectuaisjaponeses durante a Segunda Guerra Mundial.
Contudo, o argumento essencial que Wallerstein concebe é o de que o mundo moderno pode ser sistematizado e coordenado segundo linhas imperiais, fazendo emergir toda uma discussão em torno do “novo imperialismo”, regressando igualmente o debate acerca do papel dos Antigos impérios e, sobretudo, a discussão das raízes do processo de globalização. Além deste aspeto, é largamente enfatizada a ideia de que o sistema mundial moderno encontra as suas pedras basilares na expansão do capitalismo ao longo dos últimos quinhentos ou seiscentos anos. No entanto, esta depara-se com um obstáculo – os movimentos anti-sistémicos. 
Os autores do texto adotaram a perspetiva multidimensional da globalização, pelo que, nesta discussão sobre o padrão da mesma, conclui-se a existência de inúmeras facetas. Wallerstein constata que o padrão de globalização é constituído pelo aspeto sistémico internacional, pelo conceito de humanidade, pela total inclusão dos “eus individuais” e pelo Estado-nação (E-N). Quanto ao último, os autores realçam a sua natureza mutável e não o argumento baseado na ideia de que os E-N são uma ameaça à globalização ou que o declínio dessa entidade é devido a pressões económicas. Perspetiva-se, então, o E-N como um aspeto integrado do fenómeno que vem sendo analisado, focando a emergente sociedade multicultural. Relativamente à inclusão dos indivíduos, está inerente à globalização a necessidade de não excluir ninguém, nem mesmo a vida local, isto é, não a abordar somente como um processo macroscópico. De facto, a individualização é um fenómeno cada vez mais evidente que, por um lado, isola os indivíduos e concede-lhes maior responsabilidade por si mesmos mas, por outro, torna a sociedade (global) dependente desses mesmos indivíduos. De notar que a identidade individual é passível de ser instrumentalizada por vários mecanismos. Respeitando o aspeto do sistema internacional, verifica-se que este se orienta para a unipolaridade desde o fim da Guerra Fria – domínio dos EUA, ascensão da China e da Rússia – e que está em permanente construção, onde as opiniões dos millennials produzem fortes efeitos. O conceito de humanidade aparece como o mais problematizado e tematizado, no sentido em que se discute a mudança na relação entre a espécie humana e o seu ambiente natural e físico, a relação entre humanos e animais e, também, a noção de direitos humanos e o que deve ser ou não considerado um.
Glocalização
Este conceito é fortemente associado aos estudos empresariais, mas é agora relativamente indispensável ao debate da globalização. Inerente a si, muitas vezes menciona-se a tensão entre o local e o global, como se fossem totalmente opostos. Contudo, observam-se produtores e publicitários a assumir naturalmente a necessidade de “lidar globalmente com circunstâncias locais”, ou seja, não há tensão mas sim uma continuidade. Sociológica e antropologicamente falando, a questão que se impõe é a da análise das condições em que realmente essa relação se efetua. Usualmente, surge na discussão da globalização o conceito de difusão que, na sociologia, trata das maneiras como a transmissão de ideias e práticas, ou ausência dela, é realizada de um local para outro. Num sentido lato, a teoria da difusão é, em parte, precedente da glocalização. O que acontece depois da globalização? Em princípio, o mundo caminhará para a unicidade. No entanto, há quem refira um “mundo globalizado”, que é um mundo impossível pois os critérios que o determinam não existem. Partindo da glocalização, a globalização enquanto força homogeneizante é um processo limitador de si mesmo, dado que ideias e práticas têm de se adaptar a contextos e nichos. Se partirmos da noção de Ritzer, a de grobalização, um processo contínuo, então já não se apresenta como tal.
Globalização e História Global
Há um interesse crescente em delimitar os momentos da globalização, pelo que as perspetivas históricas atuais são imensamente influenciadas por esse fenómeno. Além disso, existe uma preocupação com a relação entre globalização(/ões) e história(s), ressaltando a limitação do conceito e secundarizando a ideia de “simples mudança global”.
Conclusão
A globalização consiste nas crescentes conectividade e consciência globais, assume uma forma particular assente em quatro pilares – Estados-nação, política mundial, indivíduos e humanidade –, e é constituída por quatro dimensões interligadas – cultural, social, política e económica. Não se trata de um objeto, mas de um conceito, já agora, muito contestado. Conclui-se, portanto, que não há uma forma precisa de responder à questão “O que é a globalização?”, o que origina variação dependendo de que ponto visionamos o mundo. Há ainda muito a fazer no âmbito da discussão teórica da globalização, mas esta constatação não deve dar azo a críticas indisciplinadas.
Global governance and hegemony in the modern world system
Giovanni Arrighi
Governança global na perspetiva dos sistemas-mundo
A perspetiva adotada por Arrighi, tendo em vista a explicitação da configuração do sistema internacional contemporâneo, com enfoque na governança global, é a da teoria dos sistemas-mundo. Neste sentido, parte-se da constatação de que “governança” designa “a regulamentação e direção propositada que determinados Estados e organizações internacionais têm exercido nas relações interestatais” (Arrighi, 2005: 57). 
Evidenciando as duas tendências pelas quais é possível orientar a análise, a Gramsciana e a de Immanuel Wallerstein, assume-se a segunda. No entendimento de Wallerstein, as hegemonias não transformam o sistema nem envolvem governança. Para este teórico marxista, o sistema do mundo moderno está em expansão em termos de quantidade, mas é substantiva e estruturalmente invariável. 
Então, o pressuposto deste texto é o de que só compreendemos as estruturas e processos do sistema mundial contemporâneo se nos deslocarmos até aos seus inícios, assumindo, assim, uma perspetiva de longa duração. Aborda-se o sistema mundial capitalista como modo de acumulação que num dado momento também se tornou um modo de produção.
As estruturas de governação no sistema mundial moderno
Na expansão do sistema capitalista, é possível concluir um padrão de evolução que demonstra a dimensão, o âmbito e a complexidade crescentes de quatro grandes regimes de acumulação sucessivos, bem como as diferenças entre cada um – Génova, Países Baixos, Reino Unido e EUA.
No que ao primeiro regime diz respeito (século XVI), constata-se que Génova era pequena em dimensão (cidade-Estado) e elementar em organização, e, como tal, era pouco poderosa. Apesar disso, possuía boas redes comerciais e financeiras, o que lhe possibilitou o estabelecimento de relações com as grandes potências da Europa, assegurando, assim, a capacidade de transformar a competição interestatal pelo capital móvel num verdadeiro impulsionador da expansão do seu próprio capital. 
Aquando da sua ascensão (século XVII-XVIII), as Províncias Unidas conjugavam características das cidades-Estado em declínio e dos E-N emergentes. Quando comparado ao primeiro, este regime fez exatamente o mesmo mas com um maior aprofundamento – não precisou de “comprar” proteção aos Estados territorialistas. A diferença culmina então neste aspeto – o regime genovês externalizou os custos de proteção, enquanto o regime holandês os internalizou.
Seguidamente, foca-se o regime britânico. Neste tempo (século XVIII-XIX), o Reino Unido apresentava-se como um E-N quase completo, no processo de criação de um grande império comercial e territorial provido de imensos recursos. Por isso, tinha muito poder. Comparativamente ao regime anterior, para além de tirar partido da competição interestatal já mencionada e gerar toda a proteção para ampliação do respetivo capital, fazia-o sem depender de organizações estrangeiras para a maior parte da produção agro-industrial, que assegurava o lucro das restantes atividades. A diferença culmina neste aspeto – o regime britânico internalizou os custos de produçãoe, consequentemente, fez com que o capitalismo mundial não fosse somente um modo de acumulação, mas também um modo de produção.
Durante o período de progresso dos EUA (século XX), este país era um E-N mais do que desenvolvido, com um importante complexo militar e industrial que influenciava os restantes governos e apetrechado de características territoriais bastante favoráveis. Ora, este conjunto de aspetos permitiu a este regime internalizar custos de proteção, produção, e, a grande novidade, de transação (i.e. mercados).
Como se pôde observar, há um desenvolvimento contínuo em termos de dimensão, âmbito e complexidade. Contudo, também é possível notar que um avanço no processo de internalização dos custos por um novo regime de acumulação envolve estratégias e estruturas governamentais e empresariais renascidas, outrora comutadas pelo regime anterior. Daqui, decorre um movimento que, no imaginário do autor, se assemelha a um pêndulo – há um balanço entre estruturas de organizações de foro “cosmopolita-imperial”, concretizadas nos regimes genovês e britânico, por sinal, “extensivos” – expandem o sistema mundial moderno geograficamente – e de foro “empresarial-nacional”, concretizadas nos regimes holandês e norte-americano, regimes “intensivos” – encarregues do aprimoramento geográfico do sistema. Estas oscilações contrariam a ideia de Arrighi de que há uma tendência subjacente, de longa duração, à formação de regimes cada vez maiores, mais amplos e mais complexos – quando há um movimento para os regimes extensivos, há um favorecimento da tendência; quando há um movimento para os regimes intensivos, há um desfavorecimento. Contudo, a propensão subjacente torna-se inconfundível quando analisamos, comparativamente, os dois regimes de cada “secção”.
Certamente, há um poder crescente dos blocos “cosmopolita-imperiais” ou “empresariais-nacionais”, contribuindo para uma consolidação cada vez mais aprimorada do capitalismo enquanto sistema mundial. Todavia, quanto mais poder, menor o tempo de duração dos regimes de acumulação. Este paradigma lembra algo para o qual Marx nos chamou a atenção – o grande obstáculo da expansão capitalista é o próprio capital e, apesar de o capitalismo ser capaz de ultrapassar as barreiras que vão surgindo, produz outras progressivamente mais fortes e surpreendentes. Esta ideia marxista pode ser posta em termos mais gerais, dado que o capitalismo histórico passou a ser igualmente um “modo de produção” apenas aquando do regime britânico. Mas a constatação da oposição entre a auto-expansão do capital e a expansão do comércio mundial e das forças de produção já se observava nos regimes genovês e holandês. 
Em suma, a expansão mundial do comércio e da produção objetivavam o incremento do valor do capital, mas a tendência na longa duração era a descida do lucro, pelo que o capital tornava-se pouco valorizado. Obviamente, em comparação aos outros integrantes do sistema, os regimes que foram acima analisados tinham a capacidade de retirar enormes benefícios da competição pelo capital, aumentando e reaumentando os seus lucros e acumulando continuamente mais poder. Assim sendo, é impreterível analisar o regime norte-americano que ainda domina. Estará a enfrentar o declínio? 
As dinâmicas das transformações sistémicas
Nesta rubrica, o autor dá a conhecer o modelo do processo não-linear de governança global visto anteriormente, através da comparação de três transições hegemónicas em termos de geopolítica, organização empresarial, conflitos sociais e relações inter-civilizacionais. O pressuposto radica no seguinte – os Estados hegemónicos lideram e governam o sistema que reconstruíram após um período de “caos sistémico”.
O que acontece no modelo de transição proposto é – emulação e expansão, incremento do “volume” e da “densidade dinâmica” do sistema, intensificação da competição, “tirania das pequenas decisões”, crise hegemónica. Existem dois modelos díspares de liderança, que conjuntamente explicam situações hegemónicas, mas trata-se de uma relação tensa. Um é a emulação do Estado hegemónico, que fornece aos “Estados separados” o impulso indispensável para mobilizar forças e recursos em expansão, e que inicialmente atua numa conjuntura cooperativa, sobretudo. Nesse caso, atua como mecanismo de expansão. O outro tipo é uma reorganização sistémica pelo Estado hegemónico, promovendo a expansão. Esta última fomenta o “volume” e “densidade dinâmica” do sistema, intensificando a competição entre as unidades do sistema que ultrapassa o poder de regulação das instituições existentes. Como resultado, surge a “tirania das pequenas decisões”, o poder do Estado hegemónico diminui e a crise hegemónica desponta. Habitualmente, as crises hegemónicas são reconhecidas pela intensificação da competição interestatal e entre empresas, pela escalagem de conflitos sociais e pelo aparecimento interesticial de novas configurações de poder. Claro que isto varia de contexto para contexto, mas encontra-se a combinação dos três aspetos na passagem dos regimes holandês para o britânico, do britânico para o norte-americano e do norte-americano para aquele que ainda não se conhece. 
Dá-se conta que este padrão articula-se com uma expansão financeira de longa duração, o que constitui o primeiro sintoma de uma crise patente de acumulação excessiva que reverterá o jogo mundial capitalista num jogo de soma zero. A expansão financeira é igualmente um traço de crises hegemónicas, pressupondo a eventual gradação de crises para verdadeiras ruturas hegemónicas. Ora, isto tem um impacto ambivalente. Com o tempo, as expansões financeiras fortalecem as ameaças contra a contínua dominação do Estado hegemónico, através de todos os fatores, já mencionados, que constam de uma crise hegemónica. Assim, os Estados hegemónicos em declínio deparam-se com a “tarefa de Sísifo”, isto é, vêem-se obrigados a tentar conter as forças que persistem em derrotá-los, havendo uma enorme probabilidade de rutura sistémica.
A transição presente, EUA-?, traz consigo algumas novidades em termos geopolíticos – bifurcação das capacidades militares e financeiras –, sociais – explosão em todo o sistema do conflito social dos anos 60 e 70 precedeu e consolidou a expansão financeira subsequente –, e civilizacionais – a mudança do epicentro da economia global para a Ásia Oriental, que poderá resultar num clash de civilizações. Com a hegemonia dos EUA, o mundo foi reconfigurado para acomodar as demandas de autodeterminação dos povos, mas acaba por ser o reflexo do legado do colonialismo e do imperialismo ocidentais. A conclusão a que se chega é que os problemas para uma governança global efetiva decorrentes da bifurcação do poder militar e financeiro são compostos pela “migração” do sistema de crédito internacional para fora da civilização ocidental. 
Prospeções para a governança global
A concentração do poder militar de significância global nas mãos dos EUA e a formação de uma classe capitalista transnacional são aspetos inegáveis mas enganadores. A questão fulcral é se estes poderes obstaculizam a solução credível dos problemas que determinam a crise hegemónica dos EUA ou se são um fator da tendência para a transformação das relações internacionais como jogo de ganhos mútuos num de soma zero ou de uma possível rutura do sistema mundial assim instituído pela hegemonia norte-americana.
Conclui-se que já não se deve falar de uma “hegemonia dos EUA” mas sim de uma “dominação dos EUA sem hegemonia”. As prospeções para a governaça global são imprecisas, sendo o cenário mais provável o de caos sistémico. Assim, só haverá uma nova hegemonia se esta conseguir propôr uma resolução plausível para as contradições geopolíticas, sociais e intercivilizacionais que assombram a hegemonia atual.
Neo-Liberalism as Creative Destruction
David Harvey
Neste artigo, Harvey começa por apresentar o conceito de neoliberalismo, transmitindo a ideia de que se trata de uma teoria sobre práticas políticas e económicas que, visando o máximo bem-estar dos indivíduos, sugere a maximizaçãodas liberdades e autonomia das empresas. Tudo isto deve ocorrer num cenário onde exista direito à propriedade privada, liberdade individual, mercados livres e livre comércio. Quanto ao Estado, o papel que possui é o de proporcionar toda uma estrutura institucional favorável às práticas neoliberais, pelo que só pode intervir minimamente nos mercados. De facto, em áreas como a educação ou a saúde, onde não é possível haver mercado, a ação estatal é necessária. Mas apenas nesses casos. 
O autor dá conta que o neoliberalismo está incorporado na nossa maneira de ser e de ver o mundo, tendo-se tornado hegemónico enquanto modo discursivo e sendo extremamente negativo para, lá está, as formas de pensar, e para as práticas político-económicas. Assim, o argumento fundamental do artigo é o de que o neoliberalismo tem a si inerente a destruição de aspetos em diversos âmbitos e, sobretudo, funciona para restaurar o poder da classe dominante.
É declarado que, ainda que as práticas neoliberais divirjam de país para país, notoriamente, há um período demarcado da grande viragem para o neoliberalismo. Tal período remonta aos anos 70, com as revoluções lideradas por Margaret Thatcher, na Grã-Bretanha, e por Ronald Reagan, nos EUA, seguindo-se uma série de adaptações da teoria em análise noutros estados – como a União Soviética, a Nova Zelândia, a Suécia, a África do Sul pós-apartheid e a China contemporânea. As universidades, os media, instituições financeiras e instituições internacionais (Organização Mundial do Comércio e Fundo Monetário Internacional) foram também mergulhados na onda neoliberal.
A “naturalização” do neoliberalismo
Posteriormente, David Harvey aponta para o modo de naturalização, i.e. legitimação, do neoliberalismo, afirmando primeiramente que é nos valores liberais clássicos de liberdade individual e de autonomia que repousa grande parte dessa legitimação. Perante o fascismo, as ditaduras, o comunismo e todas as formas de intervenção estatal que “abafam” a voz e vontade dos cidadãos, estes valores encontram-se ameaçados. Apenas serão preservados de maneira eficaz se houver um mercado competitivo e propriedade privada.
O neoliberalismo supostamente apela à liberdade e à independência. Contudo, em casos como o Iraque, o único caminho viável para tais valores era a adoção do neoliberalismo, não existindo “liberdade pura”. Em 2003, a "liberdade" foi tratada pela administração Bush como um fim em si mesmo. Mas como se pode caracterizar este tipo de liberdade? Paul Bremer, da Autoridade Provisória da Coligação, afirma que designa "a privatização total das empresas públicas, o pleno direito de propriedade por empresas estrangeiras de empresas iraquianas, a repatriação total dos lucros estrangeiros... a abertura dos bancos iraquianos ao controlo externo, o tratamento nacional das empresas estrangeiras e... a eliminação de quase todas as barreiras comerciais" (Juhasz, 2004, as cited in Harvey, 2007). A liberdade, tomada como garantida, traduz-se numa ideologia neoliberal de mercado aberto. É um verdadeiro fundamentalismo. 
É ainda destacado o primeiro grande projeto neoliberal, o Chile, após o golpe de Augusto Pinochet. Apoiado por Henry Kissinger, este reprimiu violentamente todos os "movimentos sociais de esquerda e organizações políticas bem como todas as formas de organização popular" (Harvey, 2007), a favor de reformas de mercado. O autor refere-se a uma "experiência brutal de destruição criativa".
Porquê a viragem neoliberal? 
A subida dos preços do petróleo nos anos 70 ameaçou o domínio do modelo do chamado “embedded capitalism” (capitalismo incorporado) de intervenção estatal (com o estado de bem-estar), mas não só. O sistema de Bretton Woods do pós-guerra também foi abandonado em virtude da flutuação de taxas de câmbio. Certamente, este sistema impulsionou o crescimento dos países capitalistas avançados, mas acabou por se esgotar, o que se traduziu na necessidade urgente de uma nova alternativa para o recomeço do processo de acumulação de capital. Através de movimentos caóticos, o mundo alcançou o neoliberalismo com o Consenso de Washington dos anos 90. Este Consenso exemplifica bem a tentativa de arranjar soluções neoliberais, que pressupunham um acordo entre forças políticas, tradições históricas e estruturas institucionais, perante o evidente desigual e parcial desenvolvimento do neoliberalismo.
Com esta transição, há que enfatizar a crise da acumulação de capital dos anos 70, que ameaçou severamente o poder das classes dominantes, colocando-lhes em mãos a decisão entre proteger o seu poder da estrangulação económica ou da estrangulação política.
Existem, então, dois caminhos para analisar a história do neoliberalismo – pode ser vista como um projeto utópico que promove a reorganização do capitalismo internacional ou como um projeto político que objetiva a recriação de condições para o processo de acumulação capitalista, bem como a restauração do poder de classe. O autor opta por percorrer o segundo, declarando que o primeiro apenas funciona como modo de legitimação para o que quer que seja necessário fazer em nome do retorno da classe dominante.
Em direção à restauração do poder de classe 
Em seguida, foca-se o modo de restauração do poder de classe no contexto do capitalismo global. No Chile e na Argentina, essa restauração foi sinónimo de um golpe militar apoiado pelas classes mais altas, marcado por rapidez e brutalidade. No seguimento do golpe, todos os movimentos que potencialmente ameaçariam o poder de classe foram alvos de forte repressão. Noutros países, como a Grã-Bretanha e o México, deu-se inicialmente por pressão do FMI, que promoveu as típicas práticas neoliberais.
Já nos EUA, o neoliberalismo tornou-se dominante através de sucessivos acontecimentos e, dada a influência deste país, é um assunto exaustivamente explorado pelo autor. Por volta dos anos 70, entre as classes mais altas, já não se suportava a atmosfera anti-empresarial e anti-imperialista que tinha vigorado até à pouco tempo. Neste sentido, e sucintamente, o Partido Republicano foi instrumentalizado pelo poder financeiro e empresarial e, precisando de uma base de apoio popular, integrou vários elementos da direita cristã e explorou o eleitorado. Proclamando “maioria moral” (Harvey, 2007), tomou posse na década de 90. Um outro elemento da transição norte-americana consta do problema de disciplina fiscal, que outrora fora perdida em virtude da recessão de 1973-75. Almejando restituí-la, as instituições financeiras viram-se empoderadas. Por último, a transição dos EUA foi também facilitada pelos media e instituições educativas, através dos quais se disseminava a ideologia neoliberal. O que se infere é que “as estratégias imperialistas neoliberais foram articuladas através de uma rede de relações de poder global” (Harvey, 2003, as cited in Harvey, 2007). 
Neoliberalismo como destruição criativa
De acordo com dados da World Comission, o neoliberalismo falhou naquilo a que inicialmente se propunha – estimular o crescimento económico global. Do ponto de vista da tal recriação de condições para a acumulação capitalista tem-se revelado fraco, mas da perspetiva das classes dominantes, o desempenho é totalmente o oposto.
Como motor de destruição criativa, o neoliberalismo é extremamente volátil – há períodos de crescimento intercedidos por devastação massiva –, e já teve graves resultados, como colapsos financeiros e devastação social (enquanto as classes mais altas são bem-sucedidas, as classes mais baixas deterioram-se), que culminaram, em última instância, em crises políticas.
Ainda nesta secção, Harvey realça quatro componentes-chave do neoliberalismo – a privatização, somando a corporatização e a mercantilização, contribuindo para a acumulação de capital; a financeirização, vista como especulativa e predatória; a gestão e manipulação de crises, através da qual a redistribuição de riqueza dos países pobres para os ricos modela-se pela acumulação por desapropriação; e as redistribuições estatais, partindo de esquemasde privatização e cortes fiscais. 
Alternativas
A secção final remete para alternativas à ordem atual, clarificando que a determinação primordial do neoliberalismo, o máximo bem-estar dos indivíduos, não se verifica, dado que entra em contradição com as desigualdades por si originadas. Os direitos individuais, tão proclamados por esta corrente, são completamente postos em causa. Somente as elites saem beneficiadas, com o seu poder restaurado.
O neoliberalismo é assumido, então, como profundamente anti-democrático. Portanto, emergiu uma série de movimentos de oposição. E, quanto maior a resistência, melhor o entendimento por parte desses movimentos de que devem olhar unidirecionalmente para o poder de classe, que tem de ser enfrentado. Contudo, o incentivo a movimentos orientados por ideais políticos de igualdade e justiça económica constitui uma das intenções do neoliberalismo, um projeto utópico dissimulado. 
Has globalization ended the rise and rise of the nation-state?
Michael Mann
Neste artigo são analisadas quatro supostas “ameaças” aos E-N contemporâneos – capitalismo global, limites ambientais, políticas de identidade e geopolítica pós-nuclear.
Inicialmente, constata-se que inúmeros entusiastas das ciências sociais e humanas, maioritariamente europeus ocidentais, como escritores, filósofos, historiadores, sociólogos, afirmam que está a emergir uma nova forma de sociedade. Apesar de não concordarem em diversos aspetos, partilham uma mesma ideia – as mudanças contemporâneas estão a enfraquecer o E-N. Os argumentos que apresentam ressalvam as inovações tecnológico-informacionais dos tempos atuais, e quanto a este aspeto Mann aceita que esse tipo de globalismo possa existir. Declara-se que uma sociedade global única é igualmente uma sociedade revolucionada tecnologicamente.
Complementando a fundamentação, são expostas quatro teses – (1) o capitalismo agora global, transnacional, pós-industrial, “informacional”, consumista, neoliberal e “reestruturado”, enfraquece o E-N no que ao planeamento macroeconómico, ao estado de bem-estar coletivista, à ideia de identidade coletiva dos cidadãos e à vida social diz respeito; (2) os perigos ambientais e populacionais, novos “limites globais”, podendo estar a produzir uma nova “sociedade de risco”, afiguram-se atualmente demasiado amplos e assustadores para serem suportados individualmente pelo E-N; (3) as “políticas de identidade” e os “novos movimentos sociais”, com recurso à nova tecnologia, expõem a relevância de diferentes identidades locais e transnacionais em prejuízo tanto das identidades nacionais como das vastas identidades de classe que eram tradicionalmente suportadas pelo E-N; (4) a soberania estatal e a “hard geopolitics” são enfraquecidas pelo pós-nuclearismo, dado que a guerra decorrente da mobilização de massas determinou muita da expansão do estado moderno. 
Perante tais teses, são sugeridas duas contra-teses políticas – uma evidenciando que as instituições estatais contribuem para a estruturação e regulação da vida social e a outra demonstrando que, atentando nas variações dos estados, se a primeira for verdade, então essas variações podem causar variações noutras áreas da vida social. A questão que se impõe é se toda esta variação pode passar despercebida com o capitalismo contemporâneo, tendo este os mesmos resultados em todos os países, ou se as variações afetam as forças capitalistas e, por isso, limitam a globalização.
Neste sentido, o pressuposto do texto culmina em estabelecer graus de relativa causalidade e aferir se o E-N está a ser transformado, enfraquecido ou até reforçado, e até que ponto. Seguidamente, o autor clarifica alguns conceitos – redes locais, redes nacionais, redes internacionais, redes transnacionais e redes globais. As que hoje mais estruturam a vida dos indivíduos são as redes nacionais, transnacionais e internacionais. Segundo este modelo, o artigo analisa o futuro do E-N através da questão – A importância social das redes nacionais e internacionais está a diminuir em relação a alguma combinação de redes locais e transnacionais? E na medida em que as redes globais estão surgir, qual é a contribuição relativa, para as mesmas, das redes nacionais/internacionais vs. locais/transnacionais? (Mann, 1997; 476).
O “modesto Estado-Nação” do Norte
O E-N é comummente definido, no noroeste da Europa ocidental e respetivas colónias, pela soberania política que detém sobre os “seus” territórios e pela legitimidade que encontra no “povo” dos mesmos.
Ainda que se observe a ascensão do E-N durante vários séculos, a verdade é que durante a mesma também perdeu poderes no campo da moral, por exemplo. Aliando a isso o facto de estar concentrado geograficamente, é pertinente percecioná-lo como “modesto”. O crescimento do E-N claramente pressupôs uma expansão global, adquirindo progressivamente mais poder, e o que se conclui é que há uma complexa relação entre a ascensão do capitalismo transnacional e das identidades culturais e o crescimento do E-N e respetivo sistema internacional, dado que ambos os processos deram-se em simultâneo. 
Diagnostica-se, então, que apesar de global, a evolução desta forma de organização política e social é modesta e bastante desigual. 
A ameaça capitalista
Nesta rubrica, procura-se saber se as redes globais são efetivamente universais ou se são também formadas por outros princípios de organização social mais particularistas. 
Geograficamente, o capitalismo é mais ou menos global devido à descolonização, que findou a fragmentação da economia mundial em zonas imperiais separadas, e ao colapso da autarcia soviética, possibilitando a penetração capitalista em grande parte da Eurásia.
Mann realça um aspeto bastante importante. A atividade capitalista possui uma ordem geoeconómica específica, sendo mais “trilateral” do que global – está concentrada na Europa, na América do Norte e no Leste Asiático, i.e., nas regiões do “norte” avançado. No entanto, ser mais “trilateral” do que global não significa necessariamente que o capitalismo não possa ser equacionado com o universalismo global. Pode somente expôr um norte rico e um sul pobre e a sua coexistência numa rede global. Ainda assim, é evidente a importância do papel que o E-N ainda desempenha.
Chega-se ao entendimento de que as redes globais são “impuras”, uma vez que se constata uma economia capitalista rápida e significativamente globalizada, mas esse seu caráter advém de um mix extremamente complexo entre o local, o nacional, o internacional e o transnacional. Sendo assim, os particularismos dos E-N ainda influenciam bastante o potencial universalismo tratado. 
Os limites ambientais, novos movimentos sociais e uma nova sociedade civil transnacional
Há uma segunda forma de globalismo, evidenciada pelo crescimento populacional, pela erosão do solo e das plantas, pela escassez de água, pela poluição atmosférica e pelas alterações climáticas. Situações essas que são fortalecidas pelos perigos de guerras nucleares.
Certamente, não se tratam de riscos diretos do capitalismo, mas estão profundamente relacionados a ele. Os contribuidores para os pesados desafios que a humanidade agora enfrenta são infindáveis, de entre eles encontram-se os E-N e todas as instituições modernas. Por isso, para fazer frente a tais reptos, há que ir para além do E-N e do capitalismo.
As respostas que se encontram aos problemas ambientais partem, por um lado, das ações de organizações que seguem a máxima “Think globally, act locally”, como grupos de pressão, ONGs e redes profissionais e científicas, e, por outro, de um número crescente de instâncias intergovernamentais, como sejam as conferências das Nações Unidas e agências continentais e macroregionais. De notar que nestas agências intergovernamentais estão presentes representantes dos E-N, podendo tomar decisões. Nesta área, a “soft geopolitics” conquista bastante espaço.
Posto isto, as questões ambientais impulsionam também uma dualidade de redes – uma sociedade civil potencialmente local/transnacionale uma internacional, sob a forma da “soft geopolitics”.
Relativamente aos “novos movimentos sociais”, é geralmente afirmado que as políticas de identidade (género, sexualidade, estilo de vida,...) fragilizam as identidades nacionais. Ora, Mann contrapõe argumentando que os movimentos sociais baseados nas políticas de identidade fortalecem os E-N existentes. Desde o século XX, é exigido ao estado de bem-estar que legisle e implante uma conduta moral na esfera privada dos indivíduos. Antes, isso era impensável. Os grupos de pressão e as “guerras de cultura” são outro exemplo. Efetivamente, essas guerras implicam conexões transnacionais e globais (comunicação e ONGs), mas é vísivel a exigência de maior regulação aos E-N pelos atores em questão. 
Deste modo, a emergência de novas identidades pode beneficiar o E-N já que é ele que domina a área da regulação social.
Pós-militarismo e uma nova ordem mundial
Os E-N do norte enfrentaram grandes mudanças no âmbito da “hard geopolitics”. As duas guerras mundiais, como habitualmente se denominam, foram o resultado direto do sistema de E-N, pelo que o militarismo sofreu um enorme declínio. 
Na Europa, evidencia-se a ausência de uma “hard geopolitics” séria. O rompimento com o caráter europeu de outrora é talvez o maior impulso da transformação moderna e aquele que mais afeta a soberania nacional tradicional. Mas, claramente, a história europeia não pode ser vista como o padrão mundial. Os japoneses são igualmente relutantes ao militarismo e, ainda que os EUA desempenhem o papel de polícia mundial, também reduziram os investimentos na defesa.
Apesar disto, o mundo permanece orientado pela guerra, pelo que é improvável que o militarismo desapareça. As ameaças atuais, como o separatismo étnico, a proliferação de armas nucleares e a instabilidade da Rússia, obstaculizam a difusão das redes transnacionais e das redes globais universais. A única solução, difícil, mas minimamente plausível, para controlar estas ameças, é criar uma ordem geopolítica mundial.
Finalizando, as guerras causaram o crescimento inicial dos E-N e produziram parte dele até recentemente. Constata-se uma redução das “hard geopolitics” no norte, mas não em todo o lado e, ainda que os efeitos nocivos das armas sejam maiores, estes contribuíram para a redução do poder dos E-N.
What is the concept of globalization good for? An African historian’s perspective
Frederick Cooper
A história africana revela a inadequação do conceito de globalização, um tópico profundamente ilusório, por assumir coerência e direção ao invés de sondar causas e processos.
Desde logo, existem dois problemas – enquanto “global” designa uma única história de conexão que penetrou o globo inteiro, “-ização” remete para a ideia de que essa penetração está a acontecer agora, assumindo que esta é a era global. 
Aliado a isto, há questões cruciais que não são feitas – Quais os limites da interconexão? Quais são as áreas para as quais o capital não pode ir? Quais são as especificidades das estruturas necessárias para fazer as conexões funcionar?. A lacuna que este artigo visa abordar repousa, então, na falta de compreensão da profundidade histórica das interconexões bem como das estruturas e limites dos mecanismos de ligação. Adotar uma linguagem global implica definir problemas em parâmetros incorretos, já que não se têm em conta os níveis nacional e continental nem a disparidade das relações político-económicas existente.
Assim sendo, Cooper procura argumentar que, embora se constitua como uma importantíssima “categoria nativa” para as ciências sociais, a globalização não é uma categoria analítica útil. As razões que tal justificam são várias. Primeiro, a utilização analítica pode conduzir ao erro de os académicos ficarem presos nas próprias estruturas discursivas que se propuseram analisar. Segundo, revela a pobreza da ciência social contemporânea quando confrontada com processos de grande escala, mas não universais, e com o facto de conexões fundamentais que atravessam fronteiras e diferenças culturais assentarem em mecanismos específicos no seio de certos limites. Por último, o facto de o global dever ser confrontado com o local somente sublinha a inadequação das ferramentas analíticas atuais para analisar as entrelinhas.
O autor pretende encontrar perspetivas alternativas, pois é evidente que o conceito de globalização mantém-se a-histórico, vago, inalcançável e demasiado abrangente.
Visões da globalização
São apresentadas três perspetivas acerca da globalização – Banker’s Boast, Social Democrat’s Lament e Dance of the Flows and the Fragments. 
Banker’s Boast consiste num argumento não só para um novo regime regulatório global, o qual impulsiona a redução de obstáculos aos fluxos comerciais e ao capital e para o qual contribuiu o colapso da União Soviética, a orientação de mercado da China comunista, a pressão norte-americana, do FMI e das empresas transnacionais, mas também se trata de um fundamento sobre disciplina, isto é, os governos têm forçosamente de seguir o que o mercado mundial lhes impõe. São glorificadas as necessidades de competição de uma economia globalizada.
Social Democrat’s Lament é uma visão que contraria a anterior num aspeto – a globalização não é boa para a humanidade. Esta veio marginalizar o projeto político social-democrata de atenuação da severidade capitalista e, consequentemente, debilitar o projeto social. Posto isto, os sociais-democratas lamentam a “morte” do E-N, de movimentos sindicais nacionais, de uma verdadeira cidadania.
Dance of the Flows and the Fragments, reafirmando a realidade da globalização presente e respetivo efeito negativo nas sociedades nacionais, introduz a ideia de que a globalização reestrutura a dimensão local, mas não de uma maneira espacial. Observa-se uma verdadeira dança de fluxos e fragmentos, em que capital, indivíduos, símbolos e ideias movem-se a toda a velocidade e de forma separada. Tudo isto acontece num espaço globalizado e ilimitado.
Cooper ressalva que há algo de errado com estas três conceções. São perspetivas generalistas, que pretendem abordar tudo, e marcam a sua posição no tempo presente. Com isto, a necessidade de olhar para a relação território-conectividade de forma particular e atenta é tornada evidente.
Posteriormente, o autor compara duas abordagens, a da modernização e da globalização. Sendo compostas por “-ização”, ambas remetem para processos amplos, em progresso contínuo, e demarcam-se de forma idêntica perante os mesmos. Visionam um futuro como uma suposta reflexão de um presente, que é completamente distinto do passado. Chega-se à conclusão que os erros da teoria da modernização, que advoga que os elementos-chave de uma sociedade variam de maneira conjunta produzindo a transição societal, paralisaram os da globalização, dado que, efetivamente, os elementos-chave de passagem de um tipo de sociedade para outro não variam juntos.
O capitalismo num sistema espacial atlântico – e além
Esta secção deixa claro que ler autores como C.L.R. James e Eric Williams é benéfico para justapor o espaço e o tempo de forma inovadora. 
Cooper discorre sobre inúmeros acontecimentos históricos e infere que a análise conjunta dos anos de 1791 e 1938 possibilita uma visão espacial transcontinental da política e não uma assente na contraposição entre autenticidade local e dominação global. Ademais, retrata bem o conflito relativo às ideias e seu significado e respetiva transmissão espacial. 
Outra ideia fundamental a reter é a de que os argumentos de James e de Williams são “atlânticos”, tendo como cerne o desenvolvimento do capitalismo, analisando a sua formação através do tráfico de escravos, a interconexão da oferta de mão-de-obra, produção e consumo e a criação de mecanismos de disciplina laboral. Estes teóricos relevam um conjunto específico de ligações com consequências em todo o mundo, daí se tratar de uma perspetiva atlântica que não necessita de ter esse oceano no centro.
Oceanos, continentes e histórias interligadas
Nesta rubrica, Cooper entendeque, contrariamente àquilo que normalmente se defendia, talvez a novidade repousasse na imaginação política e não na interpretação de que as estruturas de poder e troca eram totalmente globais ou sistemáticas no século XVI/XVII.
Realmente, tentar compreender as assimetrias do sistema espacial “atlântico” assume-se uma tarefa difícil de empreender perante as tentativas de demarcar uma transição progressiva de vários mundos para um só, com um núcleo e uma periferia. Examinar as ligações regionais e a cultura, as redes de ligações comerciais e religiosas, implica deparar-se com a imponência do poder e das relações económicas e a forma como as decorrentes assimetrias se alteraram ao longo do tempo. 
Outro aspeto a considerar é o facto de existir uma enorme complementaridade comercial entre a África costeira ocidental e a Europa. Veja-se igualmente o tráfico de escravos entre vários continentes. Tendo isto em conta, o autor afirma que o sistema atlântico dependia da ligação de distintos sistemas de produção e de poder e produzia diversos efeitos em cada parte integrante do mesmo.
Em suma, constata-se uma história bastante intrincada. “Desde o comércio de escravos no século XVI até ao período do imperialismo do século XIX em nome da emancipação, a interrelação de diferentes partes do mundo foi essencial para a história individual de cada parte dele. Mas os mecanismos de interrelação eram contingentes e limitados na sua capacidade de transformação – como ainda são”. (Cooper, 2001) 
Fazer a história ao contrário: colonização e os “antecedentes” da globalização
Nesta secção, problematizam-se duas conceções adotadas pelos estudiosos da globalização – uma encara o presente como a mais recente das globalizações e a outra declara que estamos numa era global totalmente distinta de uma outra passada. 
Apresenta-se, igualmente, o problema de que ambas são alvo – escrever a história ao contrário de modo a exaltar um “presente globalizado” e demonstrar como tudo conduziu a ou se desviou do mesmo. Cooper recorre às colonizações pelas potências europeias em África, nos finais do século XIX, para exemplificar o problema anterior. Destaca que há quem chame a colonização de “globalização”, “globalização distorcida” ou ”desglobalização”, mas cai-se no erro tremendo de avaliá-la a partir de uma lente abstrata que pouco se relaciona com os processos históricos. Seguidamente, pensa-se na questão da descolonização, revelando que constituiu, com certeza, um avanço na internacionalização.
Seguidamente, foca-se a imposição (pelo FMI, por exemplo) de Planos de Ajustamento Estrutural no continente africano, tão resistente à globalização, como forma de tentar a respetiva abertura económica. Contudo, parece que África contribuiu mais para o comércio mundial em tempos de política económica nacional - Que fenómeno, fora da norma de integração, é este? E volta a enfatizar-se a questão que falta colocar – O que está realmente a acontecer em África? Urge a necessidade de criar redes e instituições que consigam alcançar todas as áreas deste continente, não de desregulamentar e abrir a economia.
Mais do que local e menos que global: redes, áreas sociais, diásporas
Esta parte visa explicitar o entendimento da história africana através de meios fortalecedores da conexão espacial, que não alcançam o nível global. Efetivamente, nas décadas de 50 e 60, começaram a ser utilizadas expressões como “situação social”, “área social” e “rede”. Na prática, estes conceitos motivam uma análise empírica, nomeadamente no que concerne a diáspora mercantil da África Ocidental ou as redes de trabalho migrante da África Austral, mas não permitem analisar uma estrutura.
Assim, entende-se que estes conceitos permitem explorar inúmeras unidades de afinidade e mobilização, os tipos de vínculos subjetivos criados pelos indivíduos e as entidades com poder de ação. A vinculação das pessoas em África é resultado da sua diáspora, pelo que as definições da consciência coletiva africana são variadas. Consequentemente, intelectuais e outros nunca obtiveram consenso quanto à imaginação espacial. Esta não era nem local nem global, mas um resultado de complexas ligações regionais, continentais e transcontinentais.
Repensar o presente
Neste texto, o autor argumentou sobre a constituição dos circuitos de mercadorias, a ampliação e delimitação das ligações através do espaço e a potencial análise dos processos de grande escala e a longo prazo através do respetivo poder, limitações e mecanismos que os formam. Isto não pode ser denominado “globalização”. Este fenómeno, enquanto “integração progressiva de diferentes partes do mundo num todo singular” (Cooper, 2001), não clarifica os processos históricos, torna-se linear.
A questão que se impõe é, para uma correta análise do continente africano, afigura-se urgente o encontro de conceitos mais inteligentes, na medida em que definem bem aquilo de que se fala. 
Conclusão 
O presente trabalho tem como objetivo primordial responder à questão – O que se entende por globalização? A partir da síntese destes cinco textos, é possível concluir que a resposta pauta-se por uma elevada complexidade, na medida em que há uma grande falta de consenso entre os autores dos estudos abordados. Tal está patente, a título de exemplo, em Robertson e White, para quem a globalização parece assumir contornos multidimensionais, evidenciando uma concretização definicional. 
Por outro lado, para autores como Cooper, o argumento da existência da globalização é destruído pela ambição desmedida desse conceito tudo pretender abarcar e significar: acaba por não significar nada. O “global” e a “-ização” constituem-se como dois problemas que impedem a análise adequada, desprovida de ilusões, dos movimentos históricos e espaciais. 
Adotando a perspetiva dos sistemas-mundo de Wallerstein, Arrighi procura explicitar a configuração do sistema mundial contemporâneo, focando a governança global. Explicando estruturas e processos, o autor conclui que as transições hegemónicas no sistema mundial são difíceis, já que pressupõem crises do Estado hegemónico anterior. Posto isto, a globalização requer uma constante atualização da governação global. 
O neoliberalismo, enquanto ideologia caracterizadora da globalização, é um mecanismo de destruição criativa, como Harvey afirma, dado que as suas pretensões colocam em causa direitos básicos dos indivíduos e acentuam a desigualdade entre os chamados países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Portanto, se encararmos o fenómeno da globalização enquanto globalização neoliberal, então estão implícitas várias fragilidades.
Mann recorre a diversas particularidades contextuais (redes locais, nacionais, internacionais, transnacionais e globais) para proceder à análise do que se apresentam como ameaças, ou não, ao Estado-nação contemporâneo, enfatizando que o impacto do capitalismo global, do perigo ambiental, da política de identidade e da geopolítica pós-nuclear, não é, de todo, linear. 
A implicação teórica a retirar do trabalho é que não há uma resposta concreta à questão de partida. Conceptualizar o fenómeno da globalização é um empreendimento de grande dificuldade, por implicar diversos processos, estruturas, instituições, atores sociais, isto é, subjetividades várias. 
Deste modo, articulo a minha posição com a de Cooper. À semelhança deste autor, considero que o conceito de globalização não tem em conta realidades históricas concretas e é demasiado amplo e vago. Urge, portanto, a necessidade de procurar formular conceitos mais bem delineados para toda e qualquer realidade.
Referências Bibliográficas
Arrighi, Giovanni. 2005. “Global governance and hegemony in the modern world system.” Em Alice D. Ba e Mathew J. Hoffmann (eds.), Contending perspectives in global governance: coherence, contestation and world order. Nova Iorque: Routledge, 57-71.
Cooper, Frederick. 2001. “What is the concept of globalization good for? An African historian's perspective.” African affairs, vol.100, n. 399: 189-213.
Harvey, David. 2007. “Neo-liberalismas Creative Destruction.” The annals of the American academy of political and social science, vol. 610, n.1: 21-44.
Mann, Michael. 1997. “Has globalization ended the rise and rise of the nation state?.” Review of International Political Economy, vol. 4, n. 3: 472-496. 
Robertson, Roland, and Kathleen E. White. 2007. “What is globalization?.” The Blackwell companion to globalization: 54-66.

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