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EDUARDO LEITE RAMIRES 1 TEORIA DO CRIME Arthur Trigueiros + Marcelo André e Alexandre Salim + Érico Palazzo 1. CONCEITO DE CRIME ▪ MATERIAL: crime é o comportamento humano que causa lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico penalmente tutelado. ▪ FORMAL: é toda conduta (ação ou omissão) proibida por lei sob ameaça de pena. ▪ ANALÍTICO: crime é a soma de determinados requisitos. Pela teoria bipartite, é fato típico + antijurídico. Pela teoria tripartite, a que prevalece na doutrina nacional e adotada pelos Tribunais Superiores, o crime se constitui de tipicidade + antijuridicidade + culpabilidade. TEORIA BIPARTITE TEORIA TRIPARTITE Influenciada pela teoria finalista (embora Welzel tenha incluído a culpabilidade no conceito de crime). Influenciada pela teoria clássica. 2. FATO TÍPICO Qualquer que seja a teoria adotada, é o primeiro requisito do conceito analítico de crime. Segundo a doutrina, o fato típico poderá apresentar os seguintes elementos: ▪ Conduta ▪ Resultado ▪ Nexo causal ▪ Tipicidade 2.1. CONDUTA Não há crime sem conduta, este é um elemento invariável do fato típico. Conduta é todo comportamento humano, consciente e voluntário, dirigido a uma finalidade. I. HIPÓTESES DE ELIMINAÇÃO DA CONDUTA Se a conduta for eliminada, não haverá fato típico. Logo, o próprio crime estará eliminado. Vejamos as hipóteses: ▪ Força irresistível: é a força física absoluta. Zaffaroni diz que essa força pode ser proveniente da natureza ou da ação de terceiros. Assim, elimina a vontade. ▪ Movimentos reflexos: determinados impulsos orgânicos geram movimentos corporais involuntários, dos quais podem advir lesões ou danos. Elimina-se a vontade. ▪ Estados de inconsciência: afetam a consciência do comportamento (saber o que está fazendo). Podemos visualizar estas hipóteses no conceito de conduta anteriormente visto: A conduta se traduz na consciência (estados de inconsciência) e vontade (força física irresistível/movimentos reflexos). II. TEORIAS DA CONDUTA ▪ Teoria clássica (natural ou causalista): Origem no Tratado de Direito Penal de Von Liszt. No Brasil: → Nelson Hungria → Magalhães Noronha → Aníbal Bruno → Frederico Marques Perdurou até meados do séc. XX, influenciada pelas ciências físicas e naturais, além do positivismo jurídico. Para a teoria clássica, conduta é a mera exteriorização de um movimento corporal ou abstenção deste (teoria mecanicista), independentemente de qualquer finalidade. EDUARDO LEITE RAMIRES 2 Para a imputação do resultado, basta que o agente, com seu comportamento (movimento corporal), tenha dado causa a ele (teoria causalista). Teoria clássica: há conduta sem dolo/culpa → Dolo/culpa não estão na conduta/fato típico, mas na CULPABILIDADE. → Na Teoria Clássica, não se busca qualquer elemento volitivo na conduta. Basta que esta provoque o resultado. → Tipo penal é puramente objetivo. → Culpabilidade necessariamente integra o crime, pois nela encontram- se dolo/culpa. ▪ Teoria neoclássica ou neokantista: Expoentes: Mayer/Frank/Mezger Não houve inovação substancial à Teoria da Conduta. A única contribuição foi a de enxergar que a conduta típica não pode ser puramente objetiva/neutra (sem valoração). Para os neoclássicos, o tipo penal descreve uma conduta valorada negativamente. Ex.: art. 121, CP – matar alguém (já há uma valoração negativa, qual seja, “não matarás”) Assim, a culpabilidade passou a ser entendida como reprovabilidade ou censurabilidade do agente pelo ato, estruturada por elementos psicológicos e normativos (teoria psicológico- normativa da culpabilidade). ▪ Teoria finalista: Seu maior expoente foi Hans Welzel, considerado o “pai do finalismo”. Sua grande contribuição foi a de acrescentar a finalidade à conduta. Toda ação voluntária traz consigo um querer-interno. Toda conduta é dirigida a um fim (lícito/ilícito; coincida ou não com o resultado). Outra contribuição foi ter reorganizado os elementos do crime, cujo destaque foi: Conclusão: não é possível analisar a conduta dissociada de: → Dolo/culpa: indispensável à própria tipificação de comportamentos → Finalidade. A Teoria Finalista eliminou os elementos subjetivos da culpabilidade (dolo/culpa), tornando-a VALORATIVA. → Culpabilidade integra o conceito de crime (Finalismo de Welzel). Espécies de finalistas: A) Finalismo bipartido: crime é fato típico e antijurídico. A culpabilidade não integra o crime, sendo pressuposto de aplicação da pena. A “prova” de que o Código Penal adotou o finalismo bipartido, segundo os adeptos deste entendimento: → Art. 1º, CP: fato típico (não há crime sem lei anterior que o defina...ou seja, não se exige culpabilidade) → Art. 23, CP: não há crime se o fato é praticado... (excludente de ilicitude) → Art. 26, CP: é isento de pena... (excludente de culpabilidade) Alguns expoentes do finalismo bipartido: René Ariel Dotti, Damásio de Jesus, Fernado Capez, Julio F. Mirabete. B) Finalismo tripartido: crime é fato típico, antijurídico e culpável (logo, culpabilidade é requisito do crime). → É inviável falar-se em crime se não recair de juízo de censurabilidade sobre conduta típica e antijurídica do agente; DOLO/CULPA –> MIGRAM DA CULPABILIDADE PARA A CONDUTA (FATO TÍPICO) EDUARDO LEITE RAMIRES 3 → Doutrina brasileira: prevalece o finalismo tripartido. ▪ Teoria social da ação Baseia-se na Teoria Finalista, porém agregando um elemento novo: conduta “SOCIALMENTE RELEVANTE”. → Dominada ou dominável pela vontade; → Só haverá conduta criminosa se esta atingir o senso de justiça/de normalidade/de adequação; → É “perigosa” por trazer ares de subjetivismo. Assim, o costume poderia revogar lei, pois só haveria crime mediante conduta socialmente relevante. ▪ Teoria funcionalista Leva em conta as funções do Direito Penal. Funcionalismo racional, teleológico ou moderado CLAUS ROXIN Proteção de bens jurídicos Funcionalismo radical GUNTHER JAKOBS Proteção do ordenamento jurídico. A função primária do D. Penal é a de proteger o sistema normativo, assegurando a vigência da norma). III. ELEMENTOS DA CONDUTA ▪ Exteriorização (pensamento) ▪ Consciência ▪ Voluntariedade Exteriorização do pensamento: o D. Penal não pune o mero pensamento, por mais imoral, gravoso ou impuro que seja. A cogitação do crime é impunível enquanto não se exteriorizar por meio de um comportamento (ação/omissão). Daí poderia se falar até em direito à perversão (não se pune a cogitação). Consciência: só se fala em conduta se o comportamento (ação ou omissão) for praticado conscientemente (saber o que se está fazendo ou deixando de fazer). → Estados de inconsciência (ex.: hipnose, sonambulismo, etc.) eliminam a conduta Voluntariedade: só há conduta se praticada pela vontade do agente; → Coação física irresistível, movimentos reflexos IV. CONDUTA X ATO Não são expressões sinônimas. O ato é apenas uma parcela/fração da conduta. Um crime pode ser unissubsistente (um ato) ou plurissubsistente (mais de um ato). V. FORMAS DE CONDUTA Comportamento positivo (ação) – crimes comissivos Comportamento negativo (omissão) – crimes omissivos VI. OMISSÃO NO DIREITO PENAL ▪ Teoria naturalística ou causal O resultado será imputado ao agente quando sua inatividade(omissão) for causa dele. O nexo de causalidade se estabelece pelo fato de o agente optar por nada fazer quando lhe era possível evitar o resultado. ▪ Teoria normativa ou jurídica TRINÔMIO EDUARDO LEITE RAMIRES 4 Parte da premissa de que a omissão é um nada e do nada, nada vem. A omissão não gera nexo de causalidade real (ou físico). O agente só responderá pelo resultadose houver uma obrigação jurídica anterior à omissão no sentido de evitar o resultado. VII. ESPÉCIES DE OMISSÃO Omissão própria ou pura O tipo penal descreve uma conduta omissiva. Para a prática do crime, basta a inação do agente. Omissão imprópria, impura, espúria ou promíscua O tipo penal não descreve uma omissão, mas uma ação. Daí falar-se em omissão imprópria – crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão. O agente responde pela sua omissão por não ter impedido o resultado que tinha a obrigação jurídica de evitar. VIII. OBRIGAÇÃO JURÍDICA DE EVITAR O RESULTADO (art. 13, §2º, alíneas “a”, “b” e “c” do CP) ▪ Dever legal: quando o agente tiver, por lei, a obrigação de cuidado, proteção ou vigilância. ▪ Dever de garantidor (garante): quando o agente tiver assumido, por qualquer forma ou causa, a responsabilidade de evitar o resultado. ▪ Dever de agir por ingerência na norma: o agente, em razão de um comportamento seu anterior, cria o risco de ocorrência de resultado lesivo, razão por que terá o dever de evita-lo. 2.2. RESULTADO Seu conceito varia de acordo com a teoria adotada. → TEORIA NATURALÍSTICA: Resultado é a modificação no mundo exterior provocada pela conduta. Fala-se aqui em resultado naturalístico. Dessa forma, nem todo crime possui resultado naturalístico. Classificação dos crimes à luz da teoria naturalística do resultado: 1) Crimes materiais: São aqueles cuja consumação depende da ocorrência de resultado naturalístico. Alguns doutrinadores chamam de crimes de ação e resultado. 2) Crimes formais (ou de consumação antecipada ou de resultado cortado): São aqueles cujos tipos penais preveem resultado, mas este não é indispensável para a consumação. Assim, são crimes de resultado possível, mas não obrigatório. Ex.: extorsão mediante sequestro (art. 159, CP) 3) Crimes de mera conduta (ou simples atividade): são aqueles que se consumem com a mera atividade típica (ação/omissão prevista no tipo), não havendo resultado naturalístico. Ex.: violação de domicílio (art. 150, CP), porte de arma (art. 14, Lei 10.826/03). → TEORIA NORMATIVA: resultado é a lesão/perigo de lesão que o CRIMES MATERIAIS CRIMES FORMAIS CRIMES DE MERA CONDUTA RESULTADO NECESSÁRIO RESULTADO DESNECESSÁRIO (EMBORA POSSÍVEL) – MERO EXAURIMENTO RESULTADO – NÃO HÁ EDUARDO LEITE RAMIRES 5 comportamento provoca ao bem jurídico. Espécies de crimes à luz da teoria normativa 1) Crimes de dano: são aqueles em que há efetiva lesão ao bem jurídico. 2) Crimes de perigo: são aqueles em que há ameaça de lesão ao bem jurídico. Real ou concreto: exige-se prova do perigo. Ex.: art. 309, do CTB. Abstrato ou presumido: não se exige prova do perigo. Ex.: art. 310, do CTB (Súmula 575 do STJ1) Do que foi visto, pode-se dizer que, a depender da teoria abordada, há crimes sem resultado (crimes de mera conduta - teoria do resultado naturalístico) ou pode-se dizer que todo crime tem resultado (lesão/perigo de lesão ao bem jurídico - teoria do resultado normativo). 3. NEXO DE CAUSALIDADE É o vínculo entre a causa e o seu resultado; é o liame entre a causa e o efeito. Possui relevância somente nos crimes materiais, uma vez que estes exigem para sua consumação a produção do resultado naturalístico (diferentemente dos crimes formais e crimes de mera conduta). Teorias acerca do nexo de causalidade: → EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES (CONDITIO SINE QUA NON) – regra Todo fator que contribuir para a produção do resultado, em maior ou menor grau, será 1 Súmula 575 do STJ: Constitui crime a conduta de permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa que não seja habilitada, ou que se encontre em qualquer das situações previstas no art. considerado causa. As causas se equivalem (não há causa “maior” ou “menor”). 1) Conceito de causa (art. 13, caput, do CP): O resultado de que depende a existência do crime somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa toda ação ou omissão sem a qual o resultado não se produziria (da forma e como ocorreu). 2) Procedimento hipotético de eliminação: Para saber se determinado fator é causa do resultado, basta eliminá-lo mentalmente. Se, eliminado, o resultado permanecer, aquele fator não será causa; porém, se eliminado determinado fator, o resultado desaparecer, será causa. 3) Crítica à teoria da conditio sine qua non: Aplicada em sua literalidade (causa é todo fator que contribuir para o resultado), serão criadas soluções aberrantes. Haveria regresso ao infinito na investigação do que seja causa. 4) Teoria da conditio sine qua non e cursos causais extraordinários: A aplicação desmedida da teoria geraria consequências excessivas, atingindo pessoas que não se inserem direta e imediatamente no curso causal. 5) Limitação à aplicação da teoria da conditio sine qua non → Pela análise da causalidade psíquica (dolo e culpa). → Pela imputação objetiva 6) Espécies de causas a) Causas dependentes da conduta do agente São aquelas que se originam na conduta do agente, incluindo-se 310 do CTB, independentemente da ocorrência de lesão ou de perigo de dano concreto na condução do veículo. EDUARDO LEITE RAMIRES 6 numa linha de desdobramento normal (ou seja, esperada para o caso). O agente responde pelo resultado. b) Causas independentes da conduta do agente São aquelas que podem, ou não, ter origem na conduta do agente, produzindo, por si sós, ou não, o resultado. Concausas: são fatores paralelos à conduta do agente, que contribuirão para o resultado. ESPÉCIES DE CONCAUSAS INDEPENDENTES Absolutamente independentes São aquelas que não têm qualquer relação com a conduta do agente, produzindo, por si sós, o resultado. Logo, há rompimento do nexo causal, não se imputando o resultado ao agente. Podem ser preexistentes, concomitantes ou supervenientes. O resultado, portanto, ocorreria independente da conduta do agente. O agente não responde pelo resultado, mas, apenas por sua conduta. Relativamente independentes São aquelas que, por si sós, não produziriam o resultado, tendo a conduta do agente sido decisiva. Causa preexistente relativamente independente à conduta do agente: ex. A desfere facadas em B, portador de hemofilia (causa preexistente), que falece em virtude dos ferimentos aliados a seu estado de - saúde. Há 2 CP, Art. 13, § 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos nexo causal, o agente responderá por homicídio consumado. Causa concomitante relativamente independente em relação à conduta o agente: ex. A desfere facadas em B no momento em que ele está sofrendo ataque cardíaco. Comprovando-se que os ferimentos causados por A contribuíram para a morte, há nexo causal e o agente responderá pelo homicídio consumado. Causa superveniente relativamente independente que não causa, por si só, o resultado: a causa seria insuficiente (ou seja, a conduta do agente foi relevante) para produzir, por si só, o resultado. Dessa forma, não haverá rompimento do nexo causal e o agente responderá pelo resultado. Causa superveniente relativamente independente que, por si só, produz o resultado (CP, art. 13, §1º): o agente pratica uma conduta e causa um determinado resultado. Posteriormente, surge nova causa que possui relação com a conduta do agente e essa causa, por si só, produz o resultado. Este resultado não será imputado ao agente, porquanto inesperado na linha de desdobramento normal da conduta. Responderá pelas suas condutas anteriores à causa superveniente. → CAUSALIDADE ADEQUADA – EXCEÇÃO (ART. 13, §1º, DO CP2) Para as causas relativamente independentes supervenientesque por si sós produzirem o resultado, não se aplicará a conditio sine qua non, mas a teoria da causalidade adequada, segundo alguns doutrinadores. Causa é aquele fator adequado (apto) à produção do resultado. anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. EDUARDO LEITE RAMIRES 7 Causa é o fato antecedente indispensável e adequado à produção do resultado. → TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA Surge como um corretivo/limitador à relação de causalidade preconizada pela teoria da conditio sine qua non, acrescentando requisitos para que a imputação do resultado seja justa. A teoria da imputação objetiva não se confunde com responsabilidade objetiva (punição independente de dolo/culpa). Em verdade, melhor seria chamar teoria da não imputação objetiva do resultado, exatamente por deixar mais rigorosa a relação de causalidade, complementando a teoria da conditio sina qua non. Assim, TIPO OBJETIVO = conduta, resultado e nexo causal naturalístico + critérios de imputação objetiva. Para Roxin, acerca da teoria da imputação objetiva, o resultado causado pelo agente só pode ser a ele imputado se: 1) a conduta cria ou incrementa um risco não permitido para o objeto da ação; 2) o risco se realiza no resultado concreto; 3) o resultado se encontra dentro do alcance do tipo. Relação de causalidade - Causalidade física: comportamento do agente é causa física/real do resultado - Causalidade psíquica: dolo/culpa - Imputação objetiva: criação do risco proibido Imputação do resultado: exige que o agente, com seu comportamento, crie um risco proibido (que vá além do socialmente tolerado) 4. TIPICIDADE É mais um elemento do fato típico. Conceito: É a relação de subsunção/adequação/enquadramento entre o fato praticado pelo agente e o tipo penal incriminador. Além disso, para reconhecer a tipicidade, necessária a lesão/ameaça ao bem jurídico. TIPICIDADE PENAL soma de duas tipicidades: Tipicidade formal: subsunção do fato ao tipo penal. Tipicidade material: lesão/perigo ao bem jurídico – afastada a insignificância. 4.1. Tipicidade conglobante Eugênio Raul Zaffaroni: o juízo de tipicidade penal exige a análise do ordenamento jurídico de forma global (conglobada). Assim, para haver tipicidade não basta que o fato seja formal e materialmente típico, devendo-se analisar se contraria ou se está de acordo com o ordenamento. “A tipicidade conglobante é um corretivo da tipicidade legal, posto que pode excluir do âmbito do típico aquelas condutas que apenas aparentemente estão proibidas” (ZAFFARONI, Eugênio Raul; PIERANGELI, José Henrique). Diante disso, para que haja a tipicidade penal, a conduta deve: 1) Ser contrária à norma (tipicidade formal). 2) Provocar lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado pela norma penal (tipicidade material). 3) Ser antinormativa (violar todo o sistema normativo). Para que a conduta seja típica, ela não pode ser permitida pelas demais normas do sistema jurídico (não pode ser autorizada pelos demais ramos do Direito). 4.2. Elementos do tipo penal a) Objetivos ou descritivos: São expressões contidas nos tipos penais que podem ser facilmente compreendidas, descrevem os EDUARDO LEITE RAMIRES 8 aspectos materiais da conduta. Exemplos: objetos, tempo, lugar, forma. b) Subjetivos: relacionam-se com a intenção do agente. c) Normativos: aqueles relacionados a expressões que exigem juízo de valor. 4.3. Tipos penais Os tipos penais podem ser dolosos, culposos e preterdolosos. I. DOLOSOS: O que é dolo? O dolo irá depender da teoria adotada, vejamos cada uma delas: → Teorias a respeito do dolo Teoria da vontade Para essa teoria o dolo é a vontade consciente de realizar a conduta tópica, alcançando-se o resultado almejado (desejado). Adotada pelo CP em relação ao dano direto. Teoria do assentimento ou consentimento Dolo é a aceitação/ assentimento/consentimento pelo agente da produção de um resultado por ele previsto. Adotada pelo CP no dano eventual. Teoria da representação Aqui, dolo é a representação ou a previsão ou antevisão do resultado, não se levando em conta a vontade do agente em produzi- lo ou aceitação de sua produção. Não é adotada no CP. O Código penal adotou duas teorias (teoria da vontade + teoria do assentimento – art. 18, I): Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Crime doloso (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - doloso, quando o agente quis o resultado (TEORIA DA VONTADE) ou assumiu o risco de produzi-lo (TEORIA DO ASSENTIMENTO OU CONSENTIMENTO); → Espécies de dolo a. Dolo direto – art. 18, I, 1ª parte, CP: Diz o crime doloso quando o agente quis o resultado. → Dolo de 1º grau: quando o agente quer diretamente produzir o resultado. → Dolo de 2º grau: também chamado de “dolo de consequências necessárias”. O agente, querendo alcançar certo resultado, acaba produzindo outros que inevitavelmente irão ocorrer (efeitos colaterais). Ex.: “A” quer matar “B”, que se encontra em um carro dirigido por “C”. Com a explosão causada por “A”, morrem “B” e “C”. → Morte de “B”: “A” agiu com dolo direito de 1º grau; → Morte de “C”: “A’ agiu com dolo direto de 2º grau. b. Dolo indireto: divide-se em: → Dolo alternativo: o agente quer um ou outro resultado. Para Alexandre Salim e Marcelo André, essa classificação não possui razão de existir. → Dolo eventual (art. 18, I, 2ª, CP): o agente prevê determinado resultado. Embora não o queira, aceita sua produção (“assume o risco...”). A sua conduta tem a possibilidade de atingir, além do resultado pretendido, outro resultado. Difere do dolo direto de 2º grau porque neste os resultados são inevitáveis, não há o que aceitar. Dolo direto de 2º grau resultado previsto como consequência necessária da conduta. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art18 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art18 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art18 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art18 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art18 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art18 EDUARDO LEITE RAMIRES 9 Dolo eventual resultado previsto como consequência possível da conduta. Não pretendido diretamente. II. CULPOSOS: Excepcionalidade do crime culposo (art. 18, parágrafo único): salvo nos casos expressos em lei, ninguém será punido por fato previsto como crime senão quando praticá-lo dolosamente. Ou seja, em regra os tipos penais são dolosos. a. Conceito de culpa ▪ Cezar Roberto Bitencourt: “Culpa é a inobservância do dever objetivo de cuidado manifestada numa conduta produtora de um resultado não querido, porém, objetivamente previsível”. ▪ Francesco Carrara: “Culpa é a imprevisão do previsível”. b. Elementos do crime culposo → Conduta voluntária → Resultado involuntário → Inobservância do dever objetivo de cuidado → Nexo de causalidade → Tipicidade culposa → Previsibilidade objetiva do resultado → Ausência de previsão c. Modalidades de culpa → Imprudência: um fazer indevido. → Negligência: um não fazer devido. → Imperícia: inaptidão para o exercício de arte ou profissão, é preciso que o fato seja praticado pelo sujeito no exercício da atividade profissional d. Tipos/Espécies de culpa → Culpa inconsciente: o agente não prevê o resultado e nem tem consciência do perigo gerado. Todavia, esse resultado, apesar de não previsto pelo agente, deve ser previsível para o homem médio. → Culpa consciente: o agente tem consciência da possibilidade de o resultado ocorrer, porém acredita sinceramente que ele não ocorrerá. III. PRETERDOLOSOS Dolo no antecedente + culpa no consequente. Não admite tentativa.5. ITER CRIMINIS O iter criminis corresponde às fases percorridas pelo crime. 5.1. Fases do Iter criminis a) Interna (ou intelectiva): É uma fase impunível (por isso, inclusive, fala-se até em direito à perversão). → Cogitação b) Externas → Preparação: os atos preparatórios são impuníveis, exceto se, por si sós, constituírem outro crime e este não for absorvido pelo crime- fim. Obs.: a Lei de Terrorismo prevê expressamente o delito de “realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito inequívoco de consumar tal delito”. → Execução: a partir daqui, o fato passar a ser punido. → Consumação 5.2. Critérios para reconhecimento do início da execução do crime a. Critério subjetivo: não há transição dos atos preparatórios para os atos EDUARDO LEITE RAMIRES 10 executórios. Leva-se em consideração o plano interno do agente. b. Critério objetivo-formal (Beling): execução iniciada com o início da conduta típica, isto é, com o começo da realização do verbo descrito no tipo. Para a doutrina majoritário, é o critério adotado pelo CP. Contudo, não é uma teoria capaz de solucionar todos os casos. Há hipóteses em que se evidencia o início da execução sem que a conduta esteja no verbo típico. c. Critério objetivo-material: é complementar à teoria acima. Para esta, admite-se que haja início da execução ainda que a ação praticada não seja necessariamente a ação descrita no tipo. d. Critério objetivo-individual: leva em consideração o plano delitivo do agente. A execução tem início com a colocação em prática do plano do agente. 6. CONSUMAÇÃO DO CRIME Segundo o art. 14, I, CP, “diz-se o crime consumado quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal”. Momentos consumativos Crimes materiais, culposos e omissivos impróprios Consuma com a produção do resultado naturalístico Crimes formais Realização do verbo do tipo, independente do resultado previsto no tipo. (Exaurimento) Crimes de mera conduta: Realiza-se com a ação/omissão típica, não havendo a possibilidade de resultado naturalístico. Crimes permanentes São aqueles cuja consumação se prolonga no tempo. Ou seja, são aqueles cuja consumação se verifica a cada instante, enquanto não cessada a ação ou omissão criminosa. Crimes qualificados pelo resultado São aqueles que se consumam somente com a ocorrência de resultado agravador. Crimes omissivos próprios Consumam-se com a simples inatividade prevista no tipo. 7. TENTATIVA (CONATUS) Conceito doutrinário: Tentativa é a realização incompleta do tipo penal (realização incompleta do crime). Francesco Carrara dizia que a tentativa é um “delito degradado em sua força física”. Conceito Legal (art. 14, II, CP): diz-se o crime tentado quando, iniciada sua execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. ELEMENTOS DA TENTATIVA Início de execução do crime (realização incompleta/parcial do tipo objetivo); Não consumação do crime por circunstâncias alheias à vontade do agente; Dolo de consumação (realização do tipo subjetivo). Resultado possível. I. CONSEQUÊNCIA DA TENTATIVA (ART. 14, PARÁGRAFO ÚNICO, CP) A pena do crime tentado será, salvo disposição em contrário, a mesma pena do crime consumado, diminuída de um a dois terços. Causa de diminuição da pena. Critério para redução da pena – percurso no iter criminis (proximidade da consumação). Teoria objetiva (teoria realística) adotada quanto à punibilidade da tentativa. II. ESPÉCIES DE TENTATIVA EDUARDO LEITE RAMIRES 11 a. Tentativa perfeita e tentativa imperfeita Tentativa perfeita (ou acabada, crime falho) O agente esgota todos os atos executórios que estavam ao seu alcance e que entende estariam aptos à consumação. Porém, o crime não se consuma por circunstâncias alheias à sua vontade. Tentativa imperfeita (ou inacabada) O agente não esgota os atos executórios que estavam ao seu alcance, não conseguindo consumar o crime o crime por circunstância alheias à sua vontade. b. Tentativa branca e tentativa vermelha Tentativa branca ou incruenta A vítima não é atingida, portanto, não há lesão efetiva ao bem jurídico. Tentativa vermelha ou cruenta A vítima é atingida, logo, há lesão ao bem jurídico. III. INFRAÇÕES PENAIS QUE NÃO ADMITEM TENTATIVA a. Crimes culposos: tentativa é compatível apenas com o dolo. Obs. A culpa imprópria admite tentativa; b. Crimes preterdolosos: resultado agravador decorre de culpa; c. Contravenções penais: Art. 4º, LCP – tentativa é impunível; d. Crimes omissivos próprios: esses crimes consumam-se com a mera inação. Obs. Crimes omissivos impróprios admitem tentativa; e. Crimes unissubsistentes: são aqueles praticados mediante 1 só ato; f. Crimes habituais: são aqueles cuja tipificação depende de uma reiteração de comportamentos, logo, um comportamento isolado é atípico; g. Crimes de atentado ou de empreendimento: são aqueles cujos tipos penais punem a tentativa e consumação da mesma forma; h. Crimes cuja consumação depende de um resultado (crimes condicionados): não admitem tentativa pois a própria tipificação dependerá da ocorrência do resultado típico. 8. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ Também chamadas de tentativa abandonada (vontade do agente) ou qualificada. Direito Premial: por razões de política criminal, a lei incentiva o agente a abandonar a execução do crime ou a impedir sua consumação, dizendo que não responderá pelo crime que tiver iniciado a execução, mas apenas pelos atos praticados. I. Desistência voluntária O agente, após iniciada a execução do crime, desiste voluntariamente de prosseguir com seu intento criminoso. O agente não realiza todos os atos necessários para a produção do resultado. → Início de execução do crime → Não consumação → Vontade do próprio agente a. Consequências da Desistência Voluntária O agente não responderá pelo crime cuja execução havia iniciado. O agente responderá pelos atos praticados. b. Voluntariedade x espontaneidade O artigo 15 do CP, exige, que a desistência deve ser voluntária, isto é, o agente não é forçado a abandonar a execução do crime. Não se pode confundir com espontaneidade, pois, o abandono na execução do crime precisa ser voluntário, mas não espontâneo (partir exclusivamente da ideia do agente). EDUARDO LEITE RAMIRES 12 Assim, pode ser espontâneo ou não espontâneo. Por exemplo, se a vítima suplicar para que o agente não a mate, há voluntariedade, que é o que a lei exige, mas não espontaneidade. c. Consumação do crime e desistência voluntária Se o agente abandonar a execução do crime por sua vontade, mas verificar-se a consumação, não será possível reconhecer desistência voluntária. II. Arrependimento eficaz – art. 15, 2ª parte, CP O agente, após esgotar os atos executórios suficientes à consumação do crime, se arrepende e pratica novo comportamento impeditivo da consumação. Consequência: é a mesma da desistência voluntária, isto é, o agente responderá pelos atos praticados e não pelo crime inicialmente executado, nem na forma tentada. a. Consumação e arrependimento eficaz Se o agente, após esgotar os atos executórios, pratica novo comportamento para impedir a consumação, mas, ainda assim, ela ocorre, o arrependimento terá sido INEFICAZ. b. Natureza jurídica da desistência voluntária e arrependimento eficaz Causas de atipicidade da tentativa do crime inicialmente executado. 9. CRIME IMPOSSÍVEL (TENTATIVA IMPOSSÍVEL, INIDÔNEA, INADEQUADA OU QUASE CRIME) I. Conceito O crime será impossível quando a consumação for impossível em razão da inidoneidade do meio ou do objeto. Nelson Hungria: no crime impossível, o agente é o protagonista inconsciente de umacomédia. II. Exigências para o reconhecimento do crime impossível (art. 17, CP) a) Que haja a ineficácia (inidoneidade absoluta do meio): o meio escolhido pelo agente para executar o crime deverá ser absolutamente ineficaz. b) Que haja a impropriedade (absoluta impropriedade do objeto): a pessoa ou a coisa sobre a qual recair a conduta criminosa (objeto do crime) deve ser absolutamente inidônea/imprópria à consumação do crime. Obs. Para haver crime impossível, a inidoneidade do meio/objeto deverá ser absoluta. O CP, art. 17, adotou a teoria objetiva temperada. Só há crime impossível se a inidoneidade for absoluta. Se for relativa, o agente responderá pelo crime, haverá tentativa. III. Natureza jurídica do crime impossível Doutrina majoritária –> atipicidade da tentativa. Art. 17, CP: “não se pune a tentativa, se, por ineficácia absoluta do meio ou impropriedade absoluta do objeto, tornar-se impossível a consumação...” IV. Flagrante preparado Súmula 145 do STJ: Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação. 10. ARREPENDIMENTO POSTERIOR (ART. 16, CP) É posterior à consumação do crime. O agente arrependido pratica comportamento para minorar as consequências do crime praticado. Ponte de prata (não se elimina o crime inicialmente executado, como ocorre na desistência voluntária e arrependimento eficaz –> ponte de ouro). EDUARDO LEITE RAMIRES 13 I. Requisitos para reconhecimento do arrependimento posterior a) Crime cometido sem violência/grave ameaça à pessoa (crimes dolosos); b) Reparação do dano (integral) ou restituição da coisa (íntegra, sem danos); c) Ato voluntário do agente; d) Limite temporal: até o recebimento da denúncia ou queixa. Obs. Se a reparação do dano/restituição da coisa ocorrer após o recebimento da denúncia ou queixa – SERÁ circunstância atenuante genérica. II. Consequências do arrependimento posterior Não elimina o crime, apenas ocorre a redução da pena (1/3 a 2/3) – causa de diminuição de pena. Critério para diminuição: brevidade da reparação do dano, segundo a doutrina e a maioria da jurisprudência. Quanto mais célere for a reparação, maior será a diminuição.
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