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O álcool é absorvido sem passar pela digestão química no corpo. Ele é absorvido no estômago, no duodeno e no colón, atravessando a membrana tecidual sem digestão. No fígado, o etanol é metabolizado, inicialmente pelo álcool desidrogenase que o converte em acetoaldeído. Depois o acetoaldeído é convertido em acetato, pela enzima aldeído desidrogenase. Em ambas as etapas, há a presença de NAD sendo oxidado em NADH. O acetato pode ser convertido em acetil-CoA e ser utilizado no Ciclo de Krebs ou na lipogênese. Uma pequena porcentagem de etanol ingerido (0 a 5%) entra na mucosa gástrica de células do trato GI alto (língua, boca, esôfago e estômago), onde é metabolizado, e o restante passa para o sangue. Desse, 85 a 95% são metabolizados no fígado, e somente 2 a 10% são excretados pelos pulmões e pelos rins. Rota principal do metabolismo do etanol A principal rota do metabolismo do etanol no fígado é através da álcool-desidrogenase, uma enzima citosólica que oxida o etanol a acetaldeído com redução do NAD+ a NADH. Se não for removido por metabolismo, o acetaldeído exerce efeito tóxico no fígado e pode passar para o sangue e exercer efeitos tóxicos em outros tecidos. Cerca de 90% do acetaldeído produzido é posteriormente metabolizado em acetato no fígado. A principal enzima envolvida é a acetaldeído-desidrogenase (ALDH) mitocondrial, que oxida acetaldeído em acetato com formação de NADH. O acetato, que não apresenta efeito tóxico, pode ser ativado por acetil-CoA no fígado, onde ele pode ser convertido em acetil-CoA e ser utilizado no Ciclo de Krebs ou na lipogênese. Entretanto a maior parte do acetato que é formado passa para o sangue e é ativada pela acetil-CoA no músculo esquelético e em outros tecidos O acetato é geralmente considerado não- tóxico e é um constituinte normal da dieta. Outra importante rota de oxidação do etanol no fígado é o sistema microssomal oxidante de etanol (MEOS), que também oxida etanol a acetaldeído. A principal enzima microssomal envolvida é a isoenzima oxidase do citocromo P450 com função mista (CYP2E1). Ela utiliza NADPH como um doador adicional de elétrons e O2 como receptor de elétrons. Essa rota realiza apenas 10 a 20% da oxidação de etanol em consumidores moderados de bebidas alcoólicas. Cada enzima ativa envolvida no metabolismo do etanol (álcool- desidrogenase, acetaldeído-desidrogenase e CYP2E1) é uma família de isoenzimas. Variações individuais na quantidade dessas isoenzimas influenciam em diversos fatores, como a fração de depuração de etanol pelo sangue, o grau de embriaguez exibida pelo indivíduo e as diferenças na suscetibilidade do indivíduo em desenvolver doenças hepáticas causadas pelo álcool. Destino do Acetato O metabolismo do acetato requer a ativação de acetil-CoA pela acetil-Coa-sintetase, em reação similar à catalisada por acetil-CoA-sintetase graxa. No fígado, a principal isoforma da acetil-CoA- sintetase (ACS I) é uma enzima citosólica que forma acetil-CoA pela rota citosólica da síntese de colesterol e ácidos graxos. A entrada de acetato nessa rota está sob controle regulatório de mecanismos envolvendo colesterol e insulina. Portanto, a maior parte de acetato formado passa para o sangue. O acetato é captado e oxidado por outros tecidos, principalmente coração e músculo esquelético, os quais têm uma alta concentração mitocontrial da isoforma de acetil-CoA-sintetase (ACS II). Essa enzima está presente na matriz mitocondrial e, por isso, forma acetil-CoA, que pode entrar diretamente no ciclo TCA e ser oxidada a CO2. O papel do fígado no metabolismo do álcool Sistema Microssomal Oxidante de Etanol O etanol também é oxidado a acetaldeído no fígado pelo sistema microssomal oxidante de etanol, o qual envolve membros de superfamílias de enzimas do citocromo P450. Etanol e NADPH doam elétrons nessa reação, que reduz O2 a 2H2O. Todas as enzimas do citocromo P450 têm dois componentes de proteína catalítica principais: Um sistema doador de elétrons que os transfere a partir do NADPH (citocromo P450-redutase). E um citocromo P450. A proteína do citocromo P450 contém os sítios de ligação para o O2 e o substrato (p. ex., etanol) e realiza a reação. As enzimas estão presentes no retículo endoplasmático, que, isolado de células rompidas, forma uma fração de membrana após centrifugação que é formalmente chamada pelos bioquímicos de “microssomos”. Variação no Padrão do Metabolismo do Etanol A rota e a velocidade de oxidação do etanol variam de indivíduo para indivíduo. Diferenças no metabolismo do etanol podem influenciar se um indivíduo passa a ser um alcoólatra, desenvolve doenças hepáticas induzidas pelo álcool ou adquire outras patologias associadas ao aumento do consumo de álcool (como hepatocarcinogêneses, câncer de pulmão ou câncer de mama). Os fatores que determinam a velocidade e a rota de metabolização do etanol incluem: GENÓTIPO: a genética influencia a ação enzimática. HISTÓRICO DE BEBIDA: O nível de álcool-desidrogenase gástrica (ADH) diminui, e a CYP2E1 aumenta com uma progressão do uso de álcool. SEXO: Os níveis sangüíneos de álcool após o consumo de uma bebida são normalmente maiores nas mulheres do que nos homens, em particular devido aos baixos níveis de atividade de ADH gástrica nas mulheres. QUANTIDADE: A quantidade de etanol consumida por um indivíduo em um pequeno espaço de tempo determina a rota metabólica dessa substância. A Energia Produzida na Oxidação do Etanol O ATP produzido na oxidação do etanol a acetato varia conforme a rota de metabolismo do etanol. Se a oxidação ocorre nas rotas citosólica ADH e mitocondrial ALDH, um NADH citosólico e um mitocondrial são formados com um máximo de 5 ATP produzidos. A oxidação de acetil-CoA no ciclo TCA e na cadeia de transporte de elétrons leva à formação de 10 ligações fosfato ricas em energia. Entretanto, a ativação de acetato a acetil-CoA requer duas ligações de fosfato de alta energia, a qual deve ser subtraída. Então, a energia total produzida é 13 moles de ATP por mol de etanol. De forma oposta, a oxidação de etanol a acetaldeído pela CYP2E1 consome energia na forma de NADPH, que é equivalente a 2,5 ATP. Então, para cada mol de etanol metabolizado por essa rota, 8 moles de ATP podem ser formados. Efeitos tóxicos do álcool Diversos efeitos tóxicos podem resultar do metabolismo do etanol: • A oxidação do álcool pelo álcool desidrogenase provoca uma diminuição da nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD+) e um aumento em NADH (a forma reduzida de NAD+). A NAD+ é necessária para a oxidação dos ácidos graxos no fígado. Sua deficiência é a principal causa de acúmulo de gordura no fígado de etilistas. O aumento na relação NADH/NAD em etilistas também provoca acidose lática. • O acetaldeído possui diversos efeitos tóxicos e pode ser responsável por alguns dos efeitos agudos do álcool. Após a ingestão de álcool, essas pessoas apresentam rubor, taquicardia e hiperventilação devido ao acúmulo de acetaldeído. • O metabolismo do etanol no fígado através do CYP2E1 produz espécies reativas de oxigênio e causa peroxidação lipídica das membranas plamáticas. No entanto, os mecanismos exatos responsáveis pela lesão celular induzida pelo álcool ainda não foram bem definidos. • O álcool pode causar liberação de endotoxinas (lipopolissacarídeos), um produto de bactérias Gram-negativas da flora intestinal. A endotoxina estimula a liberação do fator de necrose tumoral (TNF) e de outras citocinas de macrófagos e células de Kupffer, circulantes no fígado, causando lesão celular. Etilismo agudo O etilismo agudo exerce os seus efeitos principalmente sobre o sistemanervoso central, mas também pode induzir a lesões hepáticas e gástricas reversíveis. Mesmo com a ingestão moderada de álcool, múltiplas gotículas de gordura acumulam-se no citoplasma dos hepatócitos (alterações gordurosas ou esteatose hepática). A lesão gástrica ocorre sob a forma de ulceração e gastrite aguda. No SNC, o álcool é um depressor que afeta primeiramente as estruturas subcorticais que modulam a atividade cortical cerebral. Consequentemente há estimulação e desordem no comportamento cortical, motor e intelectual. Etilismo crônico O etilismo crônico não afeta somente o fígado e o estômago, mas praticamente todos os outros órgãos e tecidos. Os etilistas crônicos sofrem de morbidade significativa e apresentam menor tempo de vida, que está relacionado principalmente a danos no fígado, trato gastrointestinal, SNC, sistema cardiovascular e pâncreas. • O fígado é o local principal da lesão crônica. Além das alterações gordurosas, mencionadas anteriormente, o etilismo crônico causa hepatite alcoólica e cirrose. A cirrose está associada à hipertensão porta e a aumento no risco de carcinoma hepatocelular. • No trato gastrointestinal, o etilismo crônico pode causar hemorragia maciça proveniente de gastrite, úlcera gástrica ou varizes esofágicas associadas a cirrose, podendo ser fatal. A deficiência de tiamina é comum em pacientes etilistas crônicos. O álcool possui diversos efeitos sobre o sistema cardiovascular. Uma lesão no miocárdio pode produzir miocardiopatia congestiva dilatada (miocardiopatia alcoólica). A ingestão excessiva de álcool aumenta o risco de pancreatite aguda e crônica. O uso do álcool durante a gravidez (mesmo declarado em pequena quantidade) pode causar a síndrome alcoólica fetal. Ela consiste em microcefalia, retardo no crescimento e anormalidades faciais no recém-nascido, com redução das funções mentais à medida que a criança cresce. O consumo crônico de álcool está associado ao aumento na incidência de câncer de boca, esôfago, fígado e, possivelmente, câncer de mama em mulheres.
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