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LIVRO HAMARTIOLOGIA - Copia

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4
Hamartiologia 
É permitida a reprodução de PORÇÕES desta obra, desde que citada a fonte autoral. É expressamente proibida a reprodução total por qualquer meio ou processo, inclusive quanto às características gráficas e/ou editoriais sem autorização. A violação de direitos autorais constitui crime (Código Penal, art. 184 e Parágrafos, e Lei nº 6.895, de 17/12/1980) sujeitando-se à busca e apreensão e indenizações diversas (Lei nº 9.610/98).
SUMÁRIO
_____________________________________________________________
LIÇÃO 1. 
ORIGEM E UNIVERSALIDADE DO PECADO
Exercício de Revisão – Lição 1.......................
LIÇÃO 2. 
A HAMARTIOLOGIA PATRÍSTICA E PAULINA
Exercício de Revisão – Lição 2.........
LIÇÃO 3. 
VERDADES E EQUÍVOCOS QUANTO AO PECADO
Exercício de Revisão – Lição 3..........
LIÇÃO 4. 
A EXPIAÇÃO DE CRISTO E SEU EFEITO SOBRE O PECADO
Exercício de Revisão – Lição 4.............
LIÇÃO 5. 
O CONCEITO DE PECADO NAS RELIGIÕES
Exercício de Revisão – Lição 5..............
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................
Capítulo 1
ORIGEM E UNIVERSALIDADE DO PECADO
É muito importante que primeiro tenhamos uma compreensão adequada quanto ao significado do termo “pecado”, visto que muitos erros modernos a respeito dessa palavra têm causado sérios danos ás demais disciplinas da teologia. O falso entendimento acerca do pecado e de seus efeitos na vida do homem, podem com toda certeza afetar todo um contexto de vivência cristã e relacionamento espiritual com Deus, e isso podemos ver em algumas denominações evangélicas, onde a Igreja é vista como uma instituição mais para escravidão do que para libertação.
1. O que é pecado? 
1.1. No dicionário da língua portuguesa. De acordo com a definição do dicionarista Aurélio Buarque de Holanda (1910-1989), a palavra pecado vem do latim peccatu e significa “transgressão de preceito religioso, falta, erro, culpa, vício”. A famosa Grande Enciclopédia Larousse descreve pecado como “Transgressão consciente e voluntária da lei divina. Falta contra quaisquer regras ou normas. Estado que resulta para o pecador em consequência de falta cometida” (Grande Enciclopédia Delta Larousse, p. 5.189 - Ed. Delta, 1976).
1.2. Em algumas Confissões. Segundo o Breve Catecismo de Westminster (entre 1643 e 1649), “Pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de Deus, ou qualquer transgressão desta lei”. A Confissão Belga de 1561 declara que “pecado é uma depravação de toda a natureza humana e um mal hereditário, com que até as crianças no ventre de suas mães estão contaminadas”. (Nas próximas páginas exporemos outras Confissões de Fé importantes).
1.3. Na língua hebraica – Encontramos as seguintes palavras para pecado no hebraico: חטא(chata), que quer dizer “errar o alvo” (Êx. 20.20); עון ̀(avon) ou עוון ̀(avown) “depravação, iniquidade, culpa ou punição por iniquidade, agir com perversidade” (Is. 53.6); פשע (pesha), “revoltado” (Is. 1.2); פשע (pasha)“rebelar, transgredir, revoltar” (Js 7.1); 
1.4. Na língua grega – Os termos bíblicos usados para pecado são: αμαρτια (hamartia), que significa “ato pecaminoso, pecaminosidade” (At. 3.19); παραβασις (parabasis) “transgressão, quebra de uma lei definida, passo em falso” (Ef.2.1); ανομια (anomia), “ilegalidade, transgressão, pecado como estado mental, ato ilegal” (Mt. 13.41); παραβαινω (parabaino), “ultrapassar, negligenciar, violar, transgredir, passar tanto a ponto de desviar-se de”; eανομος (anomos) “destituído da lei (mosaica), em referência aos gentios, que se desvia da lei, que desrespeita lei, ilegal, malvado, sem a lei, sem o conhecimento da lei, pecar em ignorância da lei Mosaica”.
	
Dentro das exposições a partir das línguas originais podemos então definir que “Pecado é transgredir, ou ir contrário à Lei de Deus. Não é somente alguma coisa contrária ao que Deus disse que o homem não deveria fazer, mas é também algo contrário ao que Deus não quer que o homem faça, com base nos princípios revelados. O pecado é tudo que é contrário ao caráter de Deus”.
2. A Origem do Pecado na esfera Espiritual e na Raça humana
	Há muita discussão quanto à origem do pecado na esfera espiritual, principalmente quando a maioria dos textos aponta para a classe angelical. Para alguns teólogos os textos que se referem aos seres espirituais em queda e afastamento de Deus não provam fielmente que se trata da origem do pecado, porém, a maioria dos eruditos ortodoxos considera que a raiz daquilo que mais tarde atingiu a raça humana veio do campo angelical.
O teólogo Reformado Louis Berkhof (1873-1957) deixa claro que, se houve uma queda no mundo angelical, que resultou no afastamento de legiões de anjos da presença de Deus, então isso significa que antes do homem pecar já nascera o pecado em algum lugar, nesse caso no céu. Berkhof afirma:
Em Jo.8.44 Jesus fala do diabo como assassino desde o princípio (kat’arches), e em 1ª Jo. 3.8 diz João que o diabo peca desde o princípio. A opinião é a de que a expressão kai’ arches significa desde o começo da história do homem. Muito pouco se diz sobre o pecado que ocasionou a queda dos anjos. (BERKHOF, Louis – Teologia Sistemática, p. 214, Ed. Cultura Cristã, 6ª tiragem 2000).
	
	Mas resta-nos perguntar: o que realmente foi e quando aconteceu esse pecado cometido pela classe angelical?	Analisaremos dois importantes textos da Bíblia registrados nos livros dos profetas Isaias e Ezequiel, aproveitando também o momento para esclarecermos alguns equívocos cometidos nas interpretações desses relatos. Assim diz Isaias:
“Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações! Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo. Contudo, serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo”. (Cap. 14.12-15 – Negrito nosso).
	
O texto fala de um ser que deseja subir acima das estrelas e se exaltar pela conquista. Esse ser se mostra exaltado quando declara desejar ser semelhante ao Altíssimo. 
O texto divide opiniões entre os estudiosos. Teólogos tradicionais como Russel P. Shedd, Claudionor C. Andrade, Charles F. Pfeiffer, Hower F. Vos e John Rea concordam que o texto também se refere a um ser angelical, resultando na queda de Satanás. Teólogos modernos discordam afirmando que o texto se reserva exclusivamente á queda do rei da Babilônia.
O ser que estamos falando está identificado no versículo como estrela da manhã, o que alguns sugerem estar inserido aqui o nome Lúcifer. Porém vale apenas esclarecer duas questões:
1º. Não existe o nome Lúcifer na Bíblia. Trata-se de uma interpretação particular na Tradução Bíblica de Jerônimo (345-420), cujo nome verdadeiro era Eusébio Sofrónio (Sofrônio) Jerônimo (em latim: Eusebius Sophronius Hieronymus) em grego Εὐσέβιος ΣωφρόνιοςἹερώνυμος, onde no versículo 14 sugere o nome Lúcifer, a partir da descrição “estrela da manhã”. Esse “erro” foi exposto no rodapé de sua versão. Jerônimo traduziu a Bíblia para o Latim a partir do grego. Sua tradução, conhecida como a Vulgata, ou Bíblia do Povo, foi amplamente utilizada nos séculos posteriores como compêndio para o estudo da língua latina, assim como para o estudo das Escrituras. Essa Bíblia se tornou a Escritura oficial da Igreja Católica Romana.
2º. Deus jamais usou nomes em latim para classificar seus seres angelicais. Observe que todos os nomes de anjos na Bíblia vêm do original hebraico. Deus em momento algum se fez do latim para isso, principalmente pela popularização tardia da língua na história; Mesmo assim, o texto afirma que houve um pecado e um castigo pelo pecado. O texto diz: “Contudo, serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo”. Pelo contexto se refere ao resultado de uma rebeldia.
O erudito em Antigo Testamento Dr. Stanley Ellisen declara:
Em Isaias 14.4, ele [Satanás] é visto como o‘rei da Babilônia’, e em Ezequiel 28.2, como ‘rei de Tiro’, pois era ele o poder diabólico que agia por trás daquele governante. Daniel também falou no ‘príncipe da Pérsia’ e no ‘príncipe da Grécia’ (Dn.10.20) em peleja com Miguel, o arcanjo, obviamente uma referência aos espíritos maus por trás dessas nações pagãs. (ELLISEN, Stanley – Conheça Melhor o Antigo Testamento – Ed. Vida, 2ª edição/2007, pag.261-262)
	Todos os teólogos que aceitam nesse texto a revelação acerca da queda de Satanás, não rejeitam a interpretação dos teólogos contrários, mas deixam claro, que, a Bíblia como Palavra inspirada e Revelação de Deus mostra não apenas o simples registro da História bíblica tradicional (se fosse só isso não necessitaria de ser inspirada), mas revela junto a isso o pano de fundo espiritual da História. Ou seja, existe no decorrer da história uma ação dos reinos espirituais. Jesus mostra isso a todo o momento no Evangelho.
	
	2.1.a. Outro texto também muito usado para interpretar a origem do pecado na classe angelical é Ezequiel 28, que também possui uma interpretação muito discutível. O texto diz:
Filho do homem, levanta uma lamentação contra o rei de Tiro e dize-lhe: Assim diz o SENHOR Deus: Tu és o sinete da perfeição, cheio de sabedoria e formosura. [...] Tu eras querubim da guarda ungido, e te estabeleci; permanecias no monte santo de Deus, no brilho das pedras andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniquidade em ti. Na multiplicação do teu comércio, se encheu o teu interior de violência, e pecaste; pelo que te lançarei, profanado, fora do monte de Deus e te farei perecer, ó querubim da guarda, em meio ao brilho das pedras. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor. (Ezequiel. 28. 12-18 – Negrito nosso).
Mais uma vez estudiosos apresentam divergências quanto á real interpretação do texto. Os que rejeitam a identificação da figura de Satanás, sua rebelião e queda, usam os seguintes argumentos:
1º. Seguindo o contexto histórico. Os defensores dessa interpretação afirmam que todo o texto está intimamente ligado ao seu contexto a partir do cap. 26 que se refere á grandeza da cidade de Tiro, fala sobre o orgulho e sobre a queda. O cap. 27 é justamente a continuação dos relatos do capítulo anterior, sendo assim está mencionando as grandezas das embarcações, do comércio do rei de Tiro, sobre seu orgulho e a queda das embarcações. E, o cap. 28 vai tratar especificamente do rei de Tiro; 2º. A palavra Querubim. Os que rejeitam a interpretação da pessoa de Satanás afirmam também que a palavra Querubim em hebraico - keruhbim כרובים, plural de kerub כרוב, no grego cheroub, nesse texto, dentro de sua raiz tronco, significa “parcerias” ou “estar ao lado”; 3º. As pedras mencionadas. No v.13 as pedras mencionadas são as que o príncipe de Tiro costumava se vestir com o seu manto para expor seu orgulho (de acordo com a interpretação História) e; 4º. O Édem. O que outros identificam como jardim de Deus (v.13), o Édem, trata-se de um erro de tradução, pois, no original hebraico diz “jardim dos deuses”.
Norman Geisler e Thomas Howe são de acordo quantos as muitas interpretações do texto. Confirmam que há desde eruditos que consideram a linguagem do capítulo 28 como altamente poética, com figuras de expressão que têm o propósito de enfatizar a arrogância do príncipe de Tiro, á comentaristas que propõem que a linguagem empregada não pode ser aplicada a nenhuma pessoa especificamente, mas que há uma personificação da própria cidade. O “rei” serviria assim como um símbolo do governo e do povo como um todo. Outros comentaristas dividem o texto argumentando que os versículos de 1 a 10 referem-se a um príncipe humano, mas que os versículos de 11 a 19 referem-se áqueda de Satanás.
Mesmo com toda essa gama interpretativa Geisler e Hower concluem com a seguinte certeza:
Todos os comentaristas conservadores concordam, entretanto, que o capítulo 28 é uma profecia contra a cidade de Tiro e seu governante, não importando quem tenha sido ele. Este exaltara-se acima de Deus e merecia o juízo que o Senhor lhe traria. Embora a identidade desse príncipe e rei seja uma questão controvertida, a aplicação desta passagem estende-se a todos os que se exaltam em orgulho e arrogância contra Deus, não importando se são reis, demônios ou pessoas comuns. E, é claro, Satanás é o caso de maior destaque entre todas essas orgulhosas criaturas. (GEISLER 	e HOWER, Norman Geisler, Thomas Howe - Manual popular de dúvidas, enigmas e “contradições” da Bíblia — Ed. Mundo Cristão, 1999).
A angelologia¹ investiga e conclui que esses seres foram criados perfeitos e sem pecado, e, como o homem, dotados de livre escolha (pois escolheram rebelar-se contra Deus, enquanto outros não). Sob a influência de Satanás (o Lúcifer da interpretação de Jerônimo), muitos pecaram e foram lançados fora do céu. (João 8.44; 2ª Ped. 2.4; Jud. 6.) O pecado, no qual eles caíram, teve exatamente como raíz o orgulho. 
2.2. Origem do Pecado na Raça Humana
Históricamente falando muitas são as rejeições por parte dos críticos quanto á historicidade da narrativa acerca de Adão e Eva, e até mesmo da serpente. Não vamos entrar na questão para aplicar uma defesa da fé, pois a Apologética já trata desse assunto. Mas a história da queda do homem, como relata o Gênesis, é uma contradição absoluta á teoria da evolução, que pretende ensinar que o ser humano começou bem no inicio da escala moral e está agora vagarosamente subindo por ela. Mas pelo contrario, a Bíblia revela claramente que o homem foi feito num estado de perfeição e pureza, à imagem e semelhança de Deus, e passou a cair cada vez mais.
A queda do homem é assunto em todos os dois Testamentos – Antigo e Novo. Em sua carta aos romanos Paulo declara que “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram”. (5.12). Escrevendo a 1ª carta aos coríntios ele diz: “Porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem. Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo”. (15.21, 22). Todos os escritores que mencionam a história do Édem se referem ao capítulo 3 de Gênesis. Consideramos ali o mais triste momento da História da Humanidade. 
2.2.a. Pecado Original. O que é?
As três principais correntes da ortodoxia cristã possuem plena harmonia na definição do conceito de Pecado Original: Reformada, Wesleyana e Pentecostal clássica. Entre seus mais expressivos defensores encontramos:
I. Louis Berkhof, teólogo reformado, explica que a doutrina foi denominada “pecado original” por três motivos: (1) porque deriva-se da raiz original da raça humana; (2) porque está presente na vida de todo e qualquer indivíduo, desde a hora do seu nascimento e, portanto, não pode ser considerado como resultado de imitação;  e (3) porque é a raiz interna de todos os pecados concretizados que corrompem a vida do homem. (BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Ed. Cultura Cristã, 2012, p. 227).
II. Orton Wiley, teólogo wesleyano, aceita a definição da Igreja Anglicana: “O pecado original é o defeito e a corrupção de todo homem por meio da qual o indivíduo está muito distanciado da retidão original e é, por sua própria natureza, inclinado para o mal, de maneira que a carne sempre tem desejos contrários ao Espírito; e, portanto, em cada pessoa nascida neste mundo ele (o pecado original) merece a ira de Deus e a Sua condenação”. (WILEY, Orton H. Introdução à Teologia Cristã. Ed. Casa Nazarena de Publicações, 2009, pp. 187, 188).
III. Bruce Marino, teólogo das Assembleias de Deus nos EUA, declara que o pecado original é o ensino escriturístico de que o pecado adâmico afetou a humanidade em quatro aspectos: solidariedade, corruptibilidade, pecaminosidade e punitividade. No primeiro aspecto, Marino ressalta como a raça humana está vinculada (ligada) a Adão; no segundo,ele enfatiza que o alcance da queda é total e alude à total depravação; no terceiro ponto ele enfatiza a universalidade do pecado, isto é, toda a humanidade foi atingida pela queda de Adão; e no último, integrado aos demais pontos, ele mostra que baseado em tais premissas, toda a raça humana é merecedora de castigo, inclusive as crianças, assunto que abordaremos com mais calma adiante. (MARINO, Bruce. Origem, natureza e consequências do pecado. In: HORTON, Stanley (Org.). Teologia Sistemática: Uma perspectiva pentecostal. CPAD, 1996, pp. 269-271).
2.2.b. As origens dessa doutrina. Embora alguns autores dêem a Agostinho o primado por esse ensino, podemos verificar com destreza, conforme o teólogo Vinícius Couto, que tal doutrina remonta ao período apostólico. Apesar de tal nomenclatura não ser encontrada na Bíblia, seu conceito é integralmente exposto nela, conforme mostra-nos nos axiomas infracitados:
I) A herança de Adão: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram” (Rm 5.12).
II) A universalidade do pecado: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23).
III) A solidariedade adâmica: “Porque, assim como por um homem veio a morte, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Pois como em Adão todos morrem, do mesmo modo em Cristo todos serão vivificados” (1ª Co. 15.21,22).
IV) A depravação total: “…já demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado; como está escrito: Não há justo, nem sequer um. Não há quem entenda; não há quem busque a Deus. Todos se extraviaram; juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só” (Rm 3.9-12).
V) A punição da humanidade: “Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais outrora andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos de desobediência, entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como também os demais” (Ef 2.1-3).
Além dos textos bíblicos supracitados, há inúmeras passagens que atestam o estado depravado do homem, sua inabilidade natural e, consequentemente, a natureza corrompida da humanidade, bem como a universalidade do pecado: Gn 8.21; Sl 51.5; Is 64.6,7; Jr 17.9; Jo 1.13,29; 3.5,6; 5.42; 6.44; 7.17-24; 8.34; 15.4,5; 16.8,9; Rm 7.18,23,24; 8.7,8; 1 Co 2.14; 2ª Co 3.5; Gl 5.17; Ef 2.1-3; 4.18; 8-10; 2ª Tm 3.2-4; Tg. 1.15; Hb 3.12; 11.6; 1ª Jo 1.7,8.
3. A hamartiologia Pelagiana
Pelágio (360-420) foi um teólogo herege britânico, professor em Roma, cuja definição na hamartiologia pregava que o homem poderia viver isento do pecado, pois fora criado a imagem de Deus e, apesar da queda, essa imagem é real e viva. Na teologia pelagiana a morte é uma companheira do homem, pois pecando ou não, Adão finalmente morreria, ainda que não pecasse. E mais, para Pelágio pecado original é uma impossibilidade, pois o pecado depende de uma ação voluntária do pecador. Afirmava que os homens podem atingir o céu, mesmo desconhecendo o Evangelho, mas para isso era preciso uma vida digna e honesta. Pelágio foi excluído por alguns sínodos, sendo, ainda, condenado no Concílio de Éfeso, em 431 d.C. Adolph Harnack diz que Pelágio foi “levado à ira por uma cristandade inerte, que se desculpava alegando fragilidade da carne e a impossibilidade do cumprimento dos mandamentos opressivos de Deus”. De acordo com Harnack, Pelágio “pregava que Deus não havia ordenado nada impossível, que o homem possuía o poder de fazer o bem se assim desejasse e que a fraqueza da carne era meramente um pretexto”. O princípio controlador do pensamento de Pelágio era a convicção de que Deus nunca ordena o que é impossível para o homem realizar. Para Pelágio, esse não era um princípio teológico abstrato, mas um assunto que acarretava consequências práticas urgentes para a vida cristã. 
3.1. A Antropologia teológica Pelagiana. No entendimento pelagiano, o homem não possui uma tendência intrínseca para o mal e tampouco herda essa propensão de Adão, podendo, caso queira, observar os mandamentos divinos sem pecar. Ele achava injusto da parte de Deus que a humanidade herdasse a culpa de outrem e desta forma negava a doutrina do pecado original. (KELLY, J. N. D. Patrística: Origem e desenvolvimento das doutrinas centrais da fé cristã. Vida Nova, 1994, p. 270.) Para Pelágio, portanto, o homem pecava por socialização e não pela natureza corrompida. Agostinho, por sua vez, rebateu as ideias de Pelágio e defendia a doutrina do pecado original. Para o Bispo de Hipona, uma vez que o homem havia cedido ao pecado, a natureza humana foi afetada obscuramente pelas consequências do mesmo, tornando-se desordenada e propensa para o mal. Sendo assim, sem “a ajuda de Deus é impossível, pelo livre-arbítrio, vencer as tentações desta vida”. Essa ajuda divina para escolher o certo, ou retornar para Deus, era Sua graça, a qual Agostinho define como “um poder interno e secreto, maravilhoso e inefável” operado por Deus nos corações dos homens.
3.2. O Semi-pelagianismo. Após tal discussão, outro grupo quis equilibrar ambas as posições e eles ficaram conhecidos como semi-pelagianos. Esta antiga heresia é oriunda dos ensinos dos massilianos, liderados principalmente por João Cassiano (433 d.C), o qual tentou construir um elo entre o Pelagianismo, que negava o pecado original, e Agostinho, que defendia que todos os homens nascem espiritualmente mortos e culpados do pecado de Adão. Cassiano acreditava que as pessoas são capazes de se voltarem para Deus mesmo à parte de qualquer infusão da graça sobrenatural e que “restou poder suficiente na vontade depravada para dar o primeiro passo em direção à salvação, mas não o suficiente para completá-la”. (WILEY, H. Orton. Christian Theology. Beacon Hill Press, 1941. p.103). As ideias semi-pelagianas foram condenadas pelo Segundo Concílio de Orange no ano de 529.
4. As crianças e o pecado original
Mas, e as crianças? Elas também se encontram neste estado de “depravação”? Será que elas herdam de Adão a concupiscência e estão debaixo do pecado original? Por mais que seja difícil para a mente humana aceitar esse fato diante de uma criatura aparentemente inocente, é o que a Bíblia afirma. As Escrituras não fazem distinções etárias: “… todos pecaram” (Rm. 3.23).
Uma criança já nasce com a inclinação para o pecado (Sl. 51.5). Podemos testificar essa verdade empiricamente. Qual é o pai que ensina seu filho de dois anos a mentir? Mesmo assim, quando tal criança apronta alguma “travessura”, ela, naturalmente, sentirá uma inclinação para mentir, mesmo confrontada com seu ensinamento familiar para a não ação, o que a levará a lutar com isso, para se livrar da bronca. Quem ensina as crianças a serem desobedientes, egoístas, briguentas, pirracentas e rebeldes? Entretanto, naturalmente, essas mazelas aparecem livre e espontaneamente, cabendo aos pais educar tais crianças. Essas atitudes caracterizam a inclinação natural que o homem tem para o pecado. Mas, e em relação à salvação das crianças? As principais bases bíblicas para salvação das crianças são: 2º Sm. 12.22,23; Mt. 18.1-6 e 19.13-15. Mas lembre-se que, o que estamos tratando na questão das crianças é a sua natureza pecaminosa, e não uma vida em escravidão pelo pecado, o que é outra história para a fase adulta.
Conclui-se que, a doutrina do pecado original é inquestionável. O homem pende para o mal, inclina naturalmente para a carnalidade e suas decisões são malévolas. Essa pecaminosidade deixou o homem num estado de separação de Deus, totalmente depravado e morto em seus delitos e pecados, o que torna-o por conseguinte, filho da ira. 
Entretanto, há uma boa notícia, pois “não é assim o dom gratuito como a ofensa; porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, abundoupara com muitos (…) assim como o pecado veio a reinar na morte, assim também veio a reinar a graça pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor” (Rm. 5.15,21). Por Adão veio a morte, mas por Cristo a ressurreição! Por Adão entrou o pecado, mas por Cristo a vivificação! O primeiro Adão, alma vivente. Mas o último… Espírito vivificante!
5. A Queda e o Pecado Original nas Confissões de Fé Históricas
	Em todas as Confissões de Fé do Protestantismo iremos encontrar as descrições acerca do pecado original e da queda. Apresentaremos apenas algumas das principais Confissões:
5.1. A Confissão Batista de New Hampshire (1833). Sua declaração de fé diz: “Da queda do homem. Cremos que o homem foi criado em santidade, sob a lei de seu Criador; mas por voluntária transgressão caiu de tal estado santo e feliz; em consequência disso toda a humanidade é agora pecadora, não por coação, mas por escolha; sendo por natureza totalmente carente da santidade exigida pela lei de Deus, inclinado de fato para o mal; e portanto sob justa condenação à eterna ruína, sem defesa nem desculpa”. 
5.2. A Confissão de Fé de Augsburgo (1530). “Artigo 2. Do Pecado Original. Ensinam também que depois da queda de Adão (Gn.3) todos os homens, propagados segundo a natureza, nascem com pecado, isto é, sem temor de Deus, sem confiança em Deus, e com concupiscência, e que essa enfermidade ou vício original verdadeiramente é pecado, que condena e traz morte eterna ainda agora aos que não renascem pelo batismo e pelo Espírito Santo. Condenam aos pelagianos e a outros que negam seja pecado o vício original e que, diminuindo a glória do mérito e dos benefícios de Cristo, argumentam que o homem pode ser justificado diante de Deus por forças próprias, da razão.”
5.3. A Confissão Belga (1561). “Artigo 15 - O Pecado Original. Cremos que, pela desobediência de Adão, o pecado original se estendeu por todo o gênero humano. Este pecado é uma depravação de toda a natureza humana e um mal hereditário, com que até as crianças no ventre de suas mães estão contaminadas. É a raiz que produz no homem todo tipo de pecado por isso, é tão repugnante e abominável diante de Deus que é suficiente para condenar o gênero humano.  Nem pelo batismo o pecado original é totalmente anulado ou destruído, porque o pecado sempre jorra desta depravação como água corrente de uma fonte contaminada. O pecado original, porém, não é atribuído aos filhos de Deus para condená-los, mas é perdoado pela graça e misericórdia de Deus. Isto não quer dizer que eles podem continuar descuidadamente numa vida pecaminosa. Pelo contrário, os fiéis, conscientes desta depravação, devem aspirar a livrar-se do corpo dominado pela morte (Romanos 7.24).  Neste ponto rejeitamos o erro do pelagianismo, que diz que o pecado é somente uma questão de imitação.”
5.4. A Segunda Confissão Helvética (1562/1566). “Da queda do homem, do pecado e sua causa. Desde o inicio foi o homem por Deus criado à imagem de Deus, em justiça e santidade de verdade, bom e reto, mas, por instigação da serpente e pela sua própria culpa, ele se afastou da bondade e da retidão e tornou-se sujeito ao pecado, à morte e a várias calamidades. E qual veio ele a ser pela queda - isto é, sujeito ao pecado, à morte e a várias calamidades - tais são todos os que dele descenderam.  Pecado. Por pecado entendemos a corrupção inata do homem, que se comunicou ou propagou de nossos primeiros pais, a todos nós, pela qual nós - mergulhados em más concupiscências, avessos a todo o bem, inclinados a todo o mal, cheios de toda impiedade, de descrenças, de desprezo e de ódio a Deus - nada de bom podemos fazer, e, até, nem ao menos podemos pensar por nós mesmos. Além disso, à medida que passam os anos, por pensamentos, palavras e obras más, contrárias à lei de Deus, produzimos frutos corrompidos, dignos de uma árvore má (Mat. 12,33ss). Por essa razão, sujeitos à ira de Deus, por nossas próprias culpas, estamos expostos ao justo castigo, de modo que todos nós teríamos sido por Deus lançados fora, se Cristo, o Libertador, não nos tivesse reconduzido.”  
5.5. A Confissão Batista de Londres (1689). “Capítulo 6: A queda do homem; O pecado e sua punição. 1. (...) Satanás valeu-se da astúcia da serpente para seduzir Eva; e esta seduziu a Adão, que, sem ser compelido, transgrediu voluntariamente a lei instituída na criação, e a ordem de não comer do fruto proibido. De acordo com seu conselho sábio e santo, aprouve a Deus permitir a transgressão, porque, no âmbito do seu propósito, mesmo isso Ele usaria para a sua própria glória. (...) Por esse pecado, nossos primeiros pais decaíram de sua condição original de retidão e comunhão com Deus. No pecado deles nós também pecamos, e por isso a morte veio sobre todos; todos se tornaram mortos no pecado e totalmente corrompidos, em todas as faculdades e partes do corpo e da alma. (...) Sendo eles os ancestrais e, pelo desígnio de Deus, os representantes de toda humanidade, a culpa do pecado foi imputada a toda a sua posteridade, e a corrupção natural passou a todos os seus descendentes, por nascimento, visto que todos são concebidos em pecado.”
5.6. A Confissão de Fé Escocesa (John Knox e outros Séc. XVI). “3º Capítulo. Do Pecado Original. Por essa transgressão, geralmente conhecida como pecado original, a imagem de Deus foi totalmente deformada no homem, e ele e seus filhos se tornaram, por natureza, inimigos de Deus, escravos de Satanás e servos do pecado, de modo que a morte eterna tem tido e terá poder e domínio sobre todos os que não foram, não são e não forem regenerados do alto. Essa regeneração se realiza pelo poder do Espírito Santo, que cria nos corações dos escolhidos de Deus uma fé firme na promessa de Deus a nós revelada pela sua Palavra; por essa fé aprendemos Jesus Cristo com os seus dons gratuitos e com as bênçãos nele prometidas.”
5.7. A Confissão de Fé Menonita (1632). “II. Da Queda do Homem. Cremos e confessamos, de acordo com as Sagradas Escrituras, que estes nossos primeiros pais, Adão e Eva, não continuaram por muito [tempo] neste estado de glória no qual foram criados, mas que eles, seduzidos pela sutileza e engano da serpente, e a inveja do demônio, transgrediram o grande mandamento de Deus e se tornaram desobedientes ao seu Criador; por esta desobediência o pecado veio ao mundo, e a morte pelo pecado, a qual então passou a todos os homens, porque todos pecaram, e, consequentemente, trouxeram sobre si a ira de Deus, e a condenação; por esta razão, por Deus foram expulsos do Paraíso, ou jardim de gozo, para arar a terra, em dor comer dela, e comer seu pão no suor dos seus rostos, até que tornassem à terra, de onde foram tomados; e que, por conseguinte, por este único pecado, eles se tornaram tão desonrados, separados, e distantes de Deus que, nem por si mesmos, nem por quaisquer de seus descendentes, nem pelos anjos, nem por homens, nem por qualquer outra criatura no céu ou na terra, poderiam ser erguidos, remidos, ou reconciliados com Deus, e assim deveriam permanecer eternamente perdidos, não tendo Deus em compaixão por Suas criaturas, provendo por elas, ou intervindo com Seu amor e misericórdia.”
5.8. A Confissão de Fé de Westminster (1643–46). “Capítulo VI. Da Queda do Homem, do Pecado e do seu Castigo. I. Nossos primeiros pais, seduzidos pela astúcia e tentação de Satanás, pecaram, comendo do fruto proibido. Segundo o seu sábio e santo conselho, foi Deus servido permitir este pecado deles, havendo determinado ordená-lo para a sua própria glória. Gen. 3:13; II Cor. 11:3; Rom. 11:32 e 5:20-21. II. Por este pecado eles decaíram da sua retidão original e da comunhão com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em todas as suas faculdades e partes do corpo e da alma. Gen. 3:6-8; Rom. 3:23; Gen. 2:17; Ef. 2:1-3; Rom. 5:12; Gen. 6:5; Jer. 17:9; Tito 1:15; Rom.3:10-18. III. Sendo eles o tronco de toda a humanidade, o delito dos seus pecados foi imputado a seus filhos; e a mesma morte em pecado, bem como a sua natureza corrompida, foram transmitidasa toda a sua posteridade, que deles procede por geração ordinária. At. 17:26; Gen. 2:17; Rom. 5:17, 15-19; I Cor. 15:21-22,45, 49; Sal.51:5; Gen.5:3; João3:6. IV. Desta corrupção original pela qual ficamos totalmente indispostos, adversos a todo o bem e inteiramente inclinados a todo o mal, é que procedem todas as transgressões atuais. Rom. 5:6, 7:18 e 5:7; Col. 1:21; Gen. 6:5 e 8:21; Rom. 3:10-12; Tiago 1:14-15; Ef. 2:2-3; Mat. 15-19. V. Esta corrupção da natureza persiste, durante esta vida, naqueles que são regenerados; e, embora seja ela perdoada e mortificada por Cristo, todavia tanto ela, como os seus impulsos, são real e propriamente pecado. Rom. 7:14, 17, 18, 21-23; Tiago 3-2; I João 1:8-10; Prov. 20:9; Ec. 7-20; Gal.5:17. VI. Todo o pecado, tanto o original como o atual, sendo transgressão da justa lei de Deus e a ela contrária, torna, pela sua própria natureza, culpado o pecador e por essa culpa está ele sujeito à ira de Deus e à maldição da lei e, portanto, exposto à morte, com todas as misérias espirituais, temporais e eternas. I João 3:4; Rom. 2:15; Rom. 3:9, 19; Ef. 2:3; Gal. 3:10; Rom. 6:23; Ef. 6:18; Lam, 3:39; Mat. 25:41; II Tess. 1:9.”
6. A Hamartiologia dos Reformadores
6.1. Martinho Lutero (1483-1546). O teólogo alemão Lutero nasceu na pequena cidade de Eisleben, em um lar muito religioso. Inicialmente tinha a pretensão de seguir a carreira jurídica, mas em 1505 defrontou-se com a morte em uma tempestade e resolveu abraçar a vida religiosa, ingressando no mosteiro agostiniano de Erfurt, onde se dedicou a uma intensa busca da salvação. Em 1512, tornou-se professor da Universidade de Wittenberg, onde passou a ministrar cursos sobre vários livros da Bíblia, sendo já doutor em teologia. No dia 31 de outubro de 1517, diante dos abusos católicos com a venda das indulgências e declínio teológico, Lutero afixou à porta da igreja de Wittenberg as suas 95 teses, a maneira usual de convidar-se uma comunidade acadêmica para debater algum assunto. A partir daquele dia histórico para o cristianismo no mundo, o doutor Lutero expôs toda a sua teologia e interpretação bíblica por meio de artigos transformados em livros.
	
6.2. O Pecado na visão Luterana. Lutero mostra que nossa natureza vive uma debilidade chamada por ele de “enfermidade carregada pela humanidade”, desde as suas origens. Ele tem em mente a prática de pecados específicos, porém sua perspectiva é de que a pessoa não só cometa pecados, mas de que ela seja por si mesma pecadora, devido sua profunda decadência.
Em seus escritos no tocante ao assunto Martinho Lutero criou muitos termos para a compreensão popular de seu argumento. O termo usado por ele para designar o pecado é chamado de “pecado capital”. Lutero interpretava esse termo de forma diferente dos *escolásticos, que falavam em quantidades de atos pecaminosos e classificava-os hierarquicamente, ordem essa que iria interferir em ordem de penas também. Para Lutero, esse “pecado capital” revela o verdadeiro estado do ser humano em essência, apontando para uma coisa só, para a fundamental, a essencial, a principal condição do ser humano. Eles não apontam alguns tipos de pecados como sendo os principais, pois o pecado provém do interior do ser humano e os atos pecaminosos são suas consequências, frutos do pecado. Esses frutos do pecado são proibidos pelos Dez mandamentos. (LUTERO, Martinho., Os Artigos de Esmalcalde. In: Livro de Concórdia. São Leopoldo – Porto Alegre: Sinodal/Concórdia, 1997c. p. 305 – 341).
Lutero também falou em pecado pessoal, radical e original. Ele explica que o pecado original está embutido em cada pessoa, tanto que não podemos nos soltar dele. Por isso, é que o pecado é pessoal e natural. ”O ser humano é um ser corrompido, envenenado e pecaminoso”. Lutero disse sobre o ser humano que o “teu nascimento, tua natureza e toda a tua essência é pecado, isto é, pecaminosa e impura”. (LUTERO, Catecismo Maior. In: Livro de Concórdia. São Leopoldo - Porto Alegre: Sinodal/Concórdia, 1997a. p. 497–683).
Ele explica que o pecado de natureza, o pecado da pessoa e o pecado essencial não significam apenas que palavras, pensamentos e obras. Conclui mostrando que a natureza do ser humano está corrompida inteiramente, até o fundamento, pelo pecado original. 
Mas Lutero encoraja os cristãos para que expulsem e resistam ao pecado. Ele lembra muito bem que o próprio Deus nos dá poder e rigor para resistir contra as tentações, que surgem como tentações feitas pela carne, a qual nos provoca para que sigamos as paixões que estão cravadas em nós por natureza.
Lutero também faz uma ligação do batismo com o fiel, julgando que a partir do batismo, nossos pecados são perdoados, dando lugar para a justificação em Cristo Jesus. Mas lembra que nossa natureza pecaminosa continua, mas que pelo batismo, o poder do pecado é quebrado, e sua substância no ser humano, tanto antes, como depois do batismo permanece. (LUTERO, Martinho. A Refutação do Parecer de Látamo. In:Obras Selecionadas. São Leopoldo – Porto Alegre: Sinodal/Concórdia, 1992a, v. 3, p. 96–191).
6.3. João Calvino (1509-1564). Calvino nasceu em Noyon, no nordeste da França. Em Paris estudou teologia e humanidades e por determinação do pai, foi estudar direito nas cidades de Orléans e Bourgesentre os anos de 1528-1531.
Calvino esteve na cidade de Angouleme, onde começou a escrever a sua obra mais importante, “Instituição da Religião Cristã”ou“Institutas”, publicada em Basiléia em 1536. Essa obra se tornou um manual teológico para a maioria das igrejas reformadas. No prefácio da 1ª Edição das Institutas, Calvino afirmou o seguinte: 
Pretendi apenas fornecer algum ensino elementar através do qual qualquer pessoa que tenha sido tocada por um interesse na religião pudesse ser educada na verdadeira piedade. E fui especialmente diligente nessa obra por causa do nosso próprio povo da França. Vi muitos deles com fome e sede de Cristo, mas muito poucos imbuídos com até mesmo um pequeno conhecimento dele. Que é isto que propus, o próprio livro testifica através de sua forma de ensino simples e até mesmo rudimentar.
Essa primeira edição tinha apenas seis capítulos, que tratavam dos seguintes temas: (1) A lei: exposição do Decálogo; (2) A fé: exposição do Credo dos Apóstolos; (3) A oração: exposição da Oração Dominical; (4) Os sacramentos; (5) Os cinco falsos sacramentos; (6) A liberdade cristã, o poder eclesiástico e a administração política.
Na 2ª edição das Institutas (1539), o reformador passou a ter outro objetivo em mente: 
Minha intenção nesta obra foi preparar e treinar de tal modo na leitura da Palavra Divina os aspirantes à teologia sagrada que eles possam ter fácil acesso à mesma e depois nela prossigam sem tropeçar. Pois penso que abrangi de tal maneira a suma da religião em todas as suas partes, dispondo-a em ordem, que todos os que a assimilarem corretamente não terão dificuldade em determinar tanto o que devemos buscar de modo especial nas Escrituras quanto para que objetivo devem direcionar tudo o que está contido nas Escrituras. 
A partir do Livro II das Institutas, Calvino, no trato a hamartiologia, define o pecado original como “uma depravação e corrupção hereditária de nossa natureza, difundida em todas as partes da alma, que primeiramente nos torna sujeitos à ira de Deus e depois também produz em nós aquelas obras que a Escritura chama de ‘obras da carne’” (CALVINO, John.,Institutas –Livro II - 1.8). 
Para Calvino o pecado de Adão resultou não só na nossa natureza pecaminosa, mas também em culpa e o resultado disso é justamente a punição que merecemos diante de Deus. Sendo assim, Adão foi não só culpado por causa do seu pecado, mas sua culpa e punição (morte) pertencem a nós também (Romanos 5.12,19).
6.3.a. A obra de Cristo sobre o pecado. Na hamartiologia Calvinista o homem se torna incapaz de ter vitória sobre o seu pecado, exceto sob o poder do Espírito Santo, que é adquirido mediante ao arrependimento do pecado e total dependência de Cristo. A teologia de Calvino é profundamente cristocêntrica e o tema quedomina a sua cristologia não é o conhecimento de Cristo em sua essência, mas em seu papel salvífico como Mediador. A revelação de Deus em Cristo é o supremo exemplo da sua acomodação à capacidade humana. Precisamos de um Mediador tanto por sermos pecadores quanto por sermos criaturas. Cristo como Mediador é verdadeiro Deus e verdadeiro homem (1ª Tm. 3.16). Ele é o Verbo eterno de Deus gerado do Pai antes de todas as eras, que, em sua encarnação, ocultou a sua divindade sob o “véu” da sua carne. Uma formulação peculiar da cristologia de Calvino é o chamado extra Calvinisticum: a noção de que o Filho de Deus tinha uma existência “também fora da carne”. Ver Institutas 2.13.4.5.3. Em seu ofício sacerdotal, Cristo foi um Mediador puro e imaculado que aplacou a ira de Deus e fez perfeita satisfação pelos pecados humanos. Calvino observa que Deus poderia resgatar os seres humanos de outra maneira, mas quis fazê-lo através do seu Filho. Ele dá ênfase não tanto à justiça de Deus, mas à sua ira e amor, ambas ilustradas na obra de Cristo. Não somente a morte de Cristo tem efeito redentor, mas toda a sua vida, ensinos, milagres e sua contínua intercessão nos céus, à destra do Pai. A obra expiatória de Cristo tem também um aspecto subjetivo, pelo qual somos chamados a uma vida de obediência. 
6.4. Jacobus Arminius (1560-1609) cujo nome verdadeiro era Jacob Harmenszoon, foi um teólogo holandês e ministro da Igreja Reformada Holandesa. Principal opositor ao dogma da predestinação, desenvolvendo sua própria doutrina conhecida depois como arminianismo, nome também identificado aos seguidores de sua doutrina. Armínio teve seus estudos custeados na escola primária e depois nas universidades de Leiden (1576-1582), Basel e Geneva (1582-1586). Foi ordenado em Amsterdã em 1588, onde se casou.
 Em 1603 Arminius foi professor de teologia na Universidade de Laiden, onde esteve até sua morte. Se posicionou contra a teologia de Franciscus Gomarus, cuja pregação revelava que aqueles eleitos para a salvação já estavam escolhidos por Deus antes da queda de Adão. Essa predestinação (dogma professado pelo Calvinismo mais radical), não deixava espaço para a misericórdia de Deus, nem para a vontade humana para alcançar a salvação. Partindo dessa ideia, Arminius passou a afirmar uma eleição condicional, na qual a oferta divina da salvação poderia ser ou não afetada pela vontade livre do homem. Essa é a raiz da interpretação da hamartiologia arminiana:
Mas em seu estado caído e pecaminoso, o homem não é capaz, de e por si mesmo, pensar, desejar, ou fazer aquilo que é realmente bom; mas é necessário que ele seja regenerado e renovado (...). Quando ele é feito participante desta regeneração ou renovação, eu considero que, visto que ele está liberto do pecado, ele é capaz de pensar, desejar e fazer aquilo que é bom, todavia não sem a ajuda contínua da Graça Divina. (As Obras de James Arminius–Vol. I).
6.4.a. Armínio e o Pelagianismo. A teologia arminiana muitas vezes sofre certa injustiça por má compreensão de alguns pontos na hamartiologia. Por exemplo, a heresia pelagiana consistia na negação do Pecado Original. É verdade que isso geraria um ferrenho debate sobre a Graça de Deus, incluindo a Predestinação, mas o coração da heresia estava na negação do Pecado Original. Pelágio defendia que a morte de Cristo teria sido para nos deixar um exemplo, e não uma Obra Vicária; consequentemente, defendia que a natureza humana era capaz, por si mesma, de mudar sua própria sorte e redimir-se, seguindo o exemplo deixado de Cristo. Nesse ponto o pensamento de Armínio parece concordar com Pelágio, mas não concorda em nada, primeiro porque de fato Armínio jamais negou o Pecado Original, nem questionou a Total Depravação da Natureza Humana. Ele disse:
Esta é minha opinião sobre o livre-arbítrio do homem: em sua primitiva condição, quando saiu das mãos de seu Criador, foi o homem dotado de uma grande porção de santidade, conhecimento e poder, que lhe permitia compreender, amar, considerar, desejar e operar o verdadeiro bem, de acordo com os mandamentos que lhe foram entregues. Porém, nenhuma dessas coisas poderia ele realizar se não fosse por meio do auxilio da Graça Divina. Mas, em seu estado caído e pecaminoso, o homem não é capaz, de por si mesmo, sequer pensar, querer ou fazer aquilo que é verdadeiramente bom: é necessário que ele seja regenerado e renovado em seu intelecto, afeições, vontades, e em todas as suas habilidades. Por Deus, em Cristo, através do Espírito Santo, é que ele pode ter capacidade a entender, estimar, desejar e operar o verdadeiro bem. Quando ele é feito participante desta regeneração ou renovação, eu considero que, tendo sido liberto do pecado, torna-se capaz de pensar, querer e fazer aquilo que é bom, no entanto jamais sem o contínuo auxilio da Graça Divina. (ARMINIUS, Jacob; The Works of James Arminius, Volume I). 
O homem, segundo admite Armínio, não tem nenhuma capacidade de crer em Jesus e fazer verdadeiro bem. Sua natureza encontra-se fatalmente corrompida pelo pecado. Arminianos e Calvinistas estão de acordo sobre este ponto. Mas se tal conclusão é verdadeira, como pode o homem ser salvo? Como pode o homem vir a crer em Jesus? Armínio argumenta que Deus concede ao homem “graça suficiente pela qual ele possa acreditar”. Neste ponto, para alguns calvinistas Armínio contradiz sua própria teologia sobre a Queda, e claro, o ensino das Escrituras, pois Arminus defende que os efeitos da Queda foram tão devastadores sobre a natureza humana, que só podemos crer depois de sermos regenerados: “...é necessário que ele seja regenerado e renovado em seu intelecto, afeições, vontades, e em todas as suas habilidades... Quando ele é feito participante desta regeneração ou renovação, eu considero que, tendo sido liberto do pecado, torna-se capaz...” (ARMINIUS, Jacob; The Works of James Arminius, Volume I). Todavia, de posse de tal “graça suficiente”, em Armínio o homem “pode ou não acreditar”. 
NOTA:
1. Angelologia. O termo trata do “estudo acerca dos anjos”. A palavra portuguesa anjo possui origem no latim angelus, que por sua vez deriva-se do grego angelos - ἄγγελος . No idioma hebraico, temos malak - מַלְאָךְ‎. Seu significado básico é “mensageiro” (para designar a ideia de ofício de mensageiro). O grego clássico emprega o termo angelos para o mensageiro, o embaixador em assuntos humanos, que fala e age no lugar daquele que o enviou. No Antigo Testamento, onde o termo malak ocorre 108 vezes, os anjos aparecem como seres celestiais, membros da corte de Yahweh, que servem e louvam a Ele (Ne. 9.6; Jó. 1.6), são espíritos ministradores (1º Re 19.5), transmitem a vontade de Deus (Dn. 8.16,17), obedecem a vontade de Deus (Sl. 103.20), executam os propósitos de Deus (Nm. 22.22), e celebram os louvores de Deus (Jó 38.7; Sl 148:2). São inúmeros os textos do AT que comprovam a realidade da existência dos anjos. Millard J. Erickson nos lembra ainda que “os dois termos [angelos e malak] são usados tanto para mensageiros humanos como para anjos. Quando usados para anjos, os termos salientam sua função de levar mensagens”. (Introdução à Teologia Sistemática, Ed. Vida Nova, p.177).
EXERCÍCIO DE REVISÃO – LIÇÃO 1
1) Quais o termos nas línguas originais se referem ao Pecado? 
a. ( ) “baruc” no hebraico e “Tecton” no grego;
b. ( ) “Shamáh” no hebraico e “Soterio” no grego;
c. ( ) “Elohim” no hebraico e “Pneuma” no grego;
d.( ) “chata” no hebraico e “parabasis” no grego;
e. ( ) Nenhum das opções.
2) Que linha teológica pregava a isenção humana do pecado?
a. ( ) Calvinismo;
b. ( ) Pelagianismo;
c. ( ) Arminianismo;
d.( ) Luteranismo;
e. ( ) Catolicismo.
3) A que referência se derivou a descrição “pecado original”?ais os Documentos que fazem parte da Tradiç
a. ( ) Derivou-se da raiz original de toda criação;
b. ( ) Derivou-se após a queda original de adão;
c. ( ) Derivou-se na origem da criação;
d.( ) Derivou-se na raiz original da classe angelical;
e. ( ) Derivou-se da raiz original da raça humana.4) A quem é atribuída a frase ”O ser humano é um ser corrompido, envenenado e pecaminoso”?
ais os Documentos que fazem parte da Tradiça. ( ) Lutero;
b. ( ) Calvino; 
c. ( ) Wesley;
d.( ) Pelágio;
e. ( ) Agostino.
5) O que foi o “semi-pelagianismo”?
a. ( ) Tentativa de propagar a doutrina de Pelágio;
b. ( ) Tentativa de equilibrar as posições de Lutero e Calvino;
c. ( ) Tentativa de equilibrar posições de Pelágio e Agostinho;
d.( ) Uma doutrina que defendia a salvação fora da igreja;
e.( ) Uma doutrina que defendia a salvação universal.
Capítulo 2
A HAMARTIOLOGIA PATRÍSTICA E PAULINA
O período patrístico representa o auge da atuação dos pais apostólicos na definição interpretativa das doutrinas centrais da fé cristã. A história desses “Pais da Igreja” é dividida em três grandes grupos, a saber: Pais apostólicos, Apologistas e Polemistas. Todavia devemos levar em conta que muitos deles podem se enquadrar em mais de um desses grupos devido à vasta literatura que produziram para a edificação e defesa do Cristianismo, e também de acordo com o que as circunstâncias exigidas, como é o caso de Tertuliano, considerado o pai da teologia latina. Sendo assim temos:
1. Os “Pais” da Igreja
1.1. Os Pais apostólicos. A Era apostólica consiste na época em que viveram aqueles que tiveram relação direta e indireta com os apóstolos e escreveram para a edificação e proteção doutrinária da Igreja, geralmente entre o 1º e 2º séculos. Os mais importantes desses foram: Clemente de Roma, Inácio de Antioquia, Papias e Policarpo. Quando mencionamos algum fato acerca dos apóstolos cujo relato não se encontra nas Escrituras, fazemos baseados nos registros desses magníficos pais.
1.2. Os Apologistas: Foram os que empregaram todas suas habilidades literárias em defesa do Cristianismo perante a perseguição do Estado. Geralmente este grupo se situa no 2º século e os mais proeminentes entre eles foram: Tertuliano, Justino - o mártir, Teófilo e Aristides. Roque M. Andrade em seu livro “A superioridade da Religião Cristã” – Ed. Juerp, pág. 69, afirma que “o cristianismo sempre contou com excelentes apologistas, principalmente no decurso dos primeiros séculos desde seu surgimento na história universal”.
Grande verdade quando tomamos como exemplo Tertuliano, cujo nome era Quintus Septimus Florens Tertullianus, o primeiro pai da igreja latina e como tal, se envolveu nas mais variadas disputas. Destas, talvez a mais conhecida seja a disputa contra Práxeas, que gerou um dos primeiros tratados sobre a Trindade, contra a doutrina dos modalistas ou patripassionistas cuja raiz principal vem de Sabélio¹. Mencionaremos o “pecado na interpretação de Tertuliano” no tópico 2.2.d. 
Lembrando, que, se entende Tertuliano, a partir da definição das fontes para sua teologia. E isso pode muito bem ser encontrado no livro de Justo Gonzalez, Uma história do pensamento cristão, Volume 1, páginas 169 e 170:
As fontes para a teologia de Tertuliano devem ser encontradas na tradição cristã, no treinamento legal que ele provavelmente teve e em seu background filosófico. Não há dúvidas de que grande parcela da teologia de Tertuliano foi extraída diretamente da tradição cristã tal como encontrada nos apologistas gregos, em Irineu e em Hermas. No que diz respeito à sua formação legal, Tertuliano nunca a abandonou: seus argumentos não procuram convencer, mas sobrepujar; quando parece que ele está encurralado por seus oponentes, encontra uma saída por meio da retórica; para ele, o evangelho é uma nova lei; sua argumentação em defesa do Cristianismo é uma argumentação legal e o mesmo pode ser dito com relação a sua argumentação básica contra os hereges; além de tudo isso, alguns eruditos declaram que sua doutrina trinitariana é expressa em termos legais. Finalmente, embora Tertuliano explícita e repetidamente rejeite toda intromissão da filosofia em questões de fé, é um fato que – talvez mesmo sem ter consciência disso – ele mesmo, com frequência, mostra-se influenciado pelo estoicismo e até mesmo fala de Sêneca em termos tão elogiosos que quase contradiz sua rejeição geral à filosofia pagã. 
1.3. Os Polemistas: Os pais desse grupo não mediram esforços para defender a fé cristã das falsas doutrinas surgidas fora e dentro da Igreja. Geralmente estão situados no 3º século. Os mais destacados entre eles foram: Irineu, Tertuliano, Cipriano e Orígenes.
2. A Origem da Alma e a doutrina do Pecado 
Nos primeiros séculos a Igreja ainda não possuía um rol doutrinário da fé cristã plenamente concluso. A controvérsia gnóstica, na qual o problema do mal teve um papel importante, forçou a igreja primitiva a definir as doutrinas do estado original e da queda, além de outros princípios relacionados aos valores espirituais e morais ensinados por Cristo e pregado pelos apóstolos.
Com o avanço de movimentos que propagavam ensinamentos contrários a dos apóstolos, muitos debates surgiram com o fim de definir os fundamentos doutrinários do Cristianismo. Os pais gregos e latinos (identificação dada aos pais apostólicos de forma regional, que pode ser também Oriente e Ocidente) se empenharam, com muitas divergências, na exposição de seus pensamentos e interpretações como contribuição ao processo teológico cristão. 
Antes da definição de questões acerca do pecado foi preciso debater o assunto da criação da alma, para que se chegasse a um raciocínio lógico quanto ao problema espiritual do homem. Pois, afinal, de onde veio a alma?
2.1. Dicotomia e Tricotomia. Tanto no Oriente como no Ocidente, compartilhava-se a mesma visão da formação composta do homem de corpo e alma. Ele é um “animal racional” (gr. logikonzõon), mas que vive dois mundos, um superior e outro inferior, identificando-o da mesma forma que Cristo, isto é, duas substâncias diferentes, mas em um mesmo ser. A linha que entende ser o homem de duas partes distintas, a saber, corpo e alma - chamamos dicotomia.  Em contrapartida o pensamento que acredita ser o homem de uma natureza tripla, isto é, corpo, alma e espírito chamamos de tricotomia.  Desde o pensamento da filosofia antiga, a forma mais conhecida de tricotomia é a que toma o corpo como a parte material da natureza humana, a alma como o princípio da vida racional e o espírito como o elemento humano imortal e relacionado com Deus.  Esta concepção foi apoiada pelos Pais da Igreja, mas depois que Apolinário aplicou-a de maneira ofensiva à perfeita humanidade de Cristo, houve certo abandono.
2.2. A Origem da Alma 
O conceito histórico sobre a origem da alma teve muitas personalidades ilustres tanto no campo teológico como filosófico. As três teorias acerca da origem da alma que foram defendidas e expostas são: o criacionismo, preexistencialismo e o traducionismo.  Platão cria na preexistência e na transmigração da alma. Chegou a dividi-la em três partes: O lado racional na cabeça cujo objetivo é controlar os dois outros lados; O lado irascível (algo ou alguém cujo humor se altera facilmente, que tem o gênio difícil, que se enraivece com facilidade) está localizado no coração e; O lado concupiscente que está localizado no baixo-ventre. Na Igreja Primitiva a doutrina da preexistência tem em  Orígenes seu principal representante.  Mas os dois conceitos mais populares nos círculos cristãos de forma geral era o criacionismo e o traducionismo.
	a) Preexistencialismo: Essa teoria defende a ideia de que as almas dos homens existiam num estado anterior, e que certas ocorrências naquele primeiro estado explicam a condição em que essas almas se acham agora. Alguns teólogos chamam de “teoria do depósito” porque a ideia transmite esse sentido, que Deus tinha a seu dispor um depósito de almas esperando nascer.
	Alguns ícones teológicos desse pensamento são: Orígenes (185-254) e Scotus Erígena (810-877). De acordo com esta teoria as almas já tiveram uma existência separada, consciente e pessoal, em um estado prévio; que havendo pecado nesse estado pré-existente, elas são condenadas a nascer nesse mundo em um estado de pecado e em conexão com um corpomaterial em algum ponto do começo do seu desenvolvimento. Segundo Orígenes, no Peri Arkhôn (“No princípio”) há três elementos no homem: o corpo, a alma e o espírito. Somente este último é imortal. Deus criou, desde toda a eternidade, um universo de seres espirituais unidos a corpos de natureza sutil, etéreos, dotados de livre arbítrio e igualdade. Acontece que eles pecaram, afastando-se da presença divina. Segundo a gravidade de sua falta, foram condenados a habitarem um corpo diferenciado (demônios ou humanos, saudáveis ou doentes, sábios ou tolos etc.). 
Possível influência nos discípulos de Cristo. Talvez seja essa a influência sofrida pelos discípulos de Cristo, quando expressaram essa ideia ao perguntarem a Jesus a respeito do homem que havia nascido cego: “Mestre quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” (João 9.2). Ora, como pode alguém pecar antes de nascer? Dessa forma cada alma teria uma vida espiritual anterior a essa encarnação, devendo ser responsável nessa vida pelos seus pecados herdados. Porém pela prática da vida cristã e da contemplação, os seres humanos poderão desprende-se de sua situação atual e reencontrar a condição superior original. No fim dos tempos, os corpos ressuscitados vão recuperar sua condição sutil, tornando-se corpos espirituais novamente (Cf. 1ª Co. 15. 42-49). Nas formas mais modernas desse pensamento, podemos encontrar Kant. Para ele a depravação da vontade, ou sua deficiência moral, só pode ser real a partir de um ato pessoal de autodeterminação em um estado anterior ao da vida material. Assim, todos os homens que vivem materialmente, têm suas definições finais determinadas por esse ato pré-temporal.
b) Traducionismo:  O termo “traduciano” provém do verbo latino “traducere” (“levar ou trazer por cima”, “transportar”, “transferir”). Essa teoria ensina que as almas dos homens são reproduzidas juntamente com os corpos pela geração natural e, portanto, são transmitidas pelos pais aos filhos.  Homens como Tertuliano, Rufino, Apolinário e Gregório de Nissa defendiam o traducionismo.   O criacionismo foi a teoria grandemente aceita pelo Oriente, enquanto o traducionismo, pelo Ocidente. No traducionismo a antropologia teológica se faz da verdade de que Deus uma única vez soprou nas narinas do homem o fôlego de vida e deixou que este reproduzisse a espécie (Gn. 1.28, 2.7) além dos argumentos de que a alma de Eva estava incluída na de Adão. Mas também possui objeções em questões como: a alma está potencialmente preexistente no homem, na mulher ou nos dois? A alma é produzida, criada, de algum modo, pelos pais – isso não faz deles criadores? E Cristo sendo descendente de Maria - “parte” da alma dela?
O traducionismo não explica o modo como se dá essa transmissão e indica que a passagem de alma dos pais para a alma da criança pode até mesmo ser inexplicável. O traducionismo é a mais “material” das teorias. Nesse sentido, há muita ênfase no aspecto da formação corporal na criação da alma. Ou seja, seria preciso considerar a alma como algo ligado ao material, não sendo independente deste. Essa ideia contraria a própria noção de alma vigente, como algo autônomo e proveniente da própria divindade. 
c) Criacionismo:  Teoria que prega alma como ser individual e que deve ser considerada como uma imediata criação de Deus, devendo a sua origem a um ato criador direto, cuja ocasião não pode se determinar com precisão.  É claro que nessa teoria não significa, necessariamente, que a alma é criada primeiro, separada do corpo, mas provém de um ato criativo divino. O criacionismo parece ser mais coerente que o traducionismo no que se refere as descrições bíblicas, mostrando a alma como natureza humana imaterial e espiritual, além de evitar conflitos com a cristologia no tocante á união com o corpo. O criacionismo se opõe a teoria preexistencialista, a qual preconiza que os espíritos foram criados antes da geração humana, e ficaram à espera de corpos que lhes fossem preparados para sua agregação e a teoria traducionista que parece não leva em consideração a diferença entre a criação da alma e do corpo (Cf. Ec.12.7; Is 42.5 e Hb. 12.9).
Defensores da teoria. Entre os adeptos da teoria do criacionismo estão Ambrósio (337-397), Jerônimo (331-419), Anselmo (1034-1109), Aquino (1225-1274), Calvino (1509-1564) a maioria dos católicos romanos, ortodoxos e anglicanos. Nesta escola há dualidade sem dualismo, separação sem antagonismo, como podemos ver na teoria de Tomás de Aquino, para quem a ligação da alma com o corpo não é composto de duas substâncias que poderiam subsistir por elas mesmas. Alma e corpo estão intimamente unidos. A alma é a forma do corpo. Há nessa teoria uma forte influencia das ideias de Aristóteles para quem “forma” e “substancia”, corpo e alma são intimamente ligados. 
2.2.a. O Pecado na Interpretação de Atanásio. Atanásio, um dos maiores pais da Igreja primitiva, nasceu em Alexandria por volta do ano de 295 d.C., provavelmente de pais não cristãos e de língua grega, o que lhe deu ao menos a possibilidade de crescer e aprender as primeiras letras longe da última perseguição que assolou os cristãos egípcios entre os anos 303 e 312, embora aparentemente aquilo tivesse afetado de alguma forma a sua infância e adolescência. Após uma vida à qual nunca faltaram emoções e reviravoltas profundas, veio a falecer na sua mesma Alexandria no dia 2 de maio de 373.
Em sua Oratio (cap.6), Gregório Nazianzo dá um destaque enorme à figura de Atanásio durante o concílio de Niceia, que se realizou entre os dias 20 de maio e 25 de agosto de 325. Chega a dizer que o “diácono” teve voz ativa durante as deliberações, o que é difícil de acreditar já que apenas os bispos tinham esse direito. É certo, entretanto, que Atanásio teve muita influência na formulação das ideias de seu bispo Alexandre, que antes da abertura dos trabalhos do concílio, envia uma carta encíclica aos seus pares, fazendo questão de ressaltar a verdadeira dimensão da controvérsia naquele concílio. Nela, há claros sinais da gênese do pensamento de Atanásio, que o acompanharia por todas as muitas polêmicas cristológicas que ainda iria enfrentar durante sua longa vida. A breve biografia de Atanásio², relatada por Nazianzo revela seu brilhantismo em Nicéia.
Quanto ao pecado, o bispo de Alexandria, Atanásio ensinava que pode-se atribuir a origem da terrível condição da humanidade ao lapso de nossos primeiro pais. Ele afirmava que mediante o erro cometido pela livre volição deles (processo cognitivo pelo qual um indivíduo se decide a praticar uma ação em particular), liberaram-se as forças desintegradoras que, no mínimo, estavam latentes em nossa natureza. 
	
O erudito J.N.D. Kelly declara que o raciocínio de Atanásio “pressupõe a unidade ou solidariedade da raça com o primeiro homem”, mas devemos interpretá-lo da forma que se entende que se por um lado o homem perdeu a imortalidade de seu corpo, por outro ele manteve a da alma, e sua vontade permanece livre.
A obliteração da imagem também teria sido progressiva; Atanásio parece pensar que, mediante o uso de seu livre-arbítrio, os homens sempre tem acesso à libertação das amarras da sensualidade e à recuperação de sua visão da Palavra. Não que a imagem tenha sido destruída, mas desaparecido de vista, tal como um quadro recoberto de sujeira. Mas, como uma das consequências da transgressão de Adão, ‘o pecado passou a todos os homens’, aliás, isso está implícito na derrocada que Adão provocou na natureza humana. (KELLY, J.N.D., Patrística – Ed. Vida Nova. 1ª edição 1994, p.261-262).
2.2.b. O Pecado na Interpretação de Gregório e Crisóstomo. Os pais gregos sempre insistiram que o livre-arbítrio do homem permanece inato e é a raiz do pecado concreto. Entre eles Gregório de Nissa (330-395) e Crisóstomo (349-407), que em suas obras eliminam a doutrina de pecado original, ensinando que até crianças recém-nascidas estão isentas de pecado. Em Romanos 5.19 que diz “Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitosserão feitos justos” é interpretado por Crisóstomo como tendo apenas o sentido de que eles (pecadores) se tornaram passíveis de castigo e morte.
Em resumo os pais gregos pregavam que a morte era a penalidade pelo pecado de Adão. Acreditavam que todos os homens estavam envolvidos no pecado de Adão e que esse pecado afetou a nossa natureza moral. Eles ensinavam que nós herdados uma natureza corrupta, mas que nenhuma culpa está ligada a ela.
2.2.c. Os pais latinos viam o estado original do homem como um estado de bem aventurança sobrenatural. Adão e Eva, criados imortais, radiavam perfeita inocência e virtude, e estavam até mesmo isentos da necessidade de alimento. O pecado entra na história por causa do orgulho, promovendo a queda de Adão.
2.2.d. O pecado na interpretação de Tertuliano. O primeiro teólogo de destaque da teologia latina, Tertuliano (160-251 d.C.) igualou o pecado original com a concupiscência que, por herança, Adão transmitiu a seus descendentes. Tertuliano aceitava isso a partir da teoria traducionista. Por seu pecado é dito que Adão infectou a raça humana inteira com sua semente, fazendo dela o canal da danação. Ele disse: “Cada alma, então, por razão de seu nascimento, tem sua natureza em Adão até nascer de novo em Cristo; Mais ainda, é impura todo o tempo em que ela continua sem essa regeneração; e por ser impura, é ativamente pecaminosa, e cobre mesmo a carne com sua própria vergonha.” (Tertuliano, “Um tratado sobre a alma”, 40 - ANF 3.220).
2.2.e. O pecado na interpretação de Ambrósio (339-397). Ambrósio estudou teologia com Simpliciano, um presbítero de Roma. Fazendo bom uso de seu excelente conhecimento do grego, o que era raro no ocidente, estudou o Antigo Testamento e autores gregos como Fílon, Orígenes, Atanásio e Basílio de Cesareia, com quem ele também passou a se corresponder. Ele aplicou este conhecimento como pregador, concentrando-se especialmente na exegese do Antigo Testamento, e suas habilidades retóricas impressionaram Agostinho, ainda um pagão na época, que até então fazia pouco dos pregadores cristãos. Na linguagem católica, Ambrósio é um dos “Doutores da Igreja” juntamente com Agostinho, Jerônimo e Gregório, o Grande. 
O Pecado em Ambrósio. Esse pai latino deu ênfase a ideia da solidariedade do homem no pecado original por virtude da participação de todos no pecado de Adão. Ambrósio declarou: “Em Adão eu caí, em Adão eu fui expulso do paraíso, em Adão eu morri. [Então pergunto:] Como a graça de Deus iria me restaurar, se ele em mim não encontrasse Adão, justificado em Cristo, da mesma forma como naquele primeiro Adão eu estava sujeito à culpa (culpaeobnoxium) e destinado à morte?”. (KELLY, J.N.D., Patrística – Ed. Vida Nova 1ª edição 1994, p.267).
Ambrósio resume a base de seu pensamento na seguinte declaração: 
Nenhuma concepção existe sem iniquidade, pois não há nenhum pai que não tenha pecado. E se não há nenhuma criança que fique, até mesmo um dia, sem pecado, muito que menos podem, as concepções do útero de uma mãe estar sem pecado. Então, nós somos concebidos no pecado de nossos pais, e é nos pecados deles que nós nascemos. (Explicação de Davi o Profeta 1, 11, 56 -Enterre 383-389DC).
3. A Hamartiologia Agostiniana
Agostinho nasceu em Tagasta, na Argélia, norte da África, em 354. Filho de Patrício e Mônica (“Santa Mônica”). Sua mãe, uma cristã devota, orou pela salvação do filho durante 32 anos. Agostinho é a figura mais importante e influente da história da Igreja Ocidental. Os grandes reformadores do século XVI, entre eles Martim Lutero e John Calvino, resgataram a doutrina agostiniana com relação à graça de Deus, dando a Reforma Protestante uma base importante em muitos dos seus ensinamentos. De fato, isso é visível não apenas na teologia da Reforma, mas também na igreja Ocidental da época. George A.Mather e Larry A. Nilchols confirmam isso quando declaram que “a importância de Agostinho está em sua profunda percepção do Cristianismo. Sua oposição ao maniqueísmo, ao pelagianismo e sua posição na controvérsia donatista – todas questões de importância vital para a Igreja naqueles dias.” (Dicionário de Religiões, Crenças e Ocultismo, p.116, Ed. Vida).
3.1. Obras agostinianas. Agostinho foi batizado por Ambrósio em 386. As obras de Agostinho tiveram grande destaque na literatura cristã, alcançando relevância teológica as seguintes: Da Doutrina Cristã, De libero arbítrio (Do livre arbítrio), De Civitate Dei (Da Cidade de Deus), na qual são discutidas as questões da vida espiritual e material, e a teologia da história, e Confessiones (Confissões), sua autobiografia escrita em forma de oração a Deus. Ao todo foram 113 obras entre literatura extensa e epístolas.
3.2. A Antropologia teológica de Agostinho. Considerado o maior dos pais latinos, ele se tornou o principal oponente de Pelágio, elaborando sua “antropologia teológica” em quatro estágios na história do homem: Antes da queda, depois da queda, depois da conversão, e na perfeição. Para Agostinho o Adão do Édem possuía uma plena medida de liberdade, com seu poder de escolha entre bom e mal e era dessa forma capaz de se abster do pecado (posse non peccare). Com a queda o homem perdeu o dom da graça e com ele a liberdade que constituía a habilidade de escolher o bem. Com a perda da graça, a natureza humana mudou. 
Agostinho consegue transmitir a ideia que o homem depois da queda não mais tem poder de escolher o bem, ele agora tem uma compulsão pelo pecado. Ele não é mais capaz de não pecar (non posse non peccare). Isso não significa que ele não pode fazer boas obras isoladas, mas a direção de sua vontade é em direção ao mal. 
3.2.a. O mal e o pecado. Quanto a existência do mal, o teólogo de Hipona afirma que o mal é real, porém não é uma substância, pois a origem do mal é a rebelião das criaturas livres contra Deus. “Na verdade, o pecado é de tal forma um mal voluntário que não é pecado a não ser que seja voluntário” (Da verdadeira Religião). Agostinho cria que toda a raça humana estava seminalmente presente em Adão, e portanto, também pecaram de fato nele. Ele disse, “na escolha má direcionada daquele único homem todos pecaram nele, uma vez que todos eram aquele único homem, de quem, por causa disso, ele todos severamente originaram o pecado original”.
4. O Conceito de Pecado na Teologia Paulina 
Quando aqui vemos a necessidade de conhecer as “teologias” paulina e reformada, fazemos na realidade de que Paulo interpretou os ensinos de Cristo em conexão com a Escritura judaica, mas que foi necessária uma interpretação do ensino de Paulo, visto que sua teologia possui uma exposição resumida, voltada ás poucas igrejas da época, sendo importante essa ampliação interpretativa no trato á sistematização por ele oferecida. Os reformadores a que nos referimos foram os homens levantados por Deus no período auge da decadência espiritual do cristianismo dentro do domínio da Igreja Romana, entre os anos de 1400 a 1600. Foi por esses teólogos que nasceu a igreja evangélica, protestante, restaurando a doutrina bíblica e a visão espiritual lançada pelos apóstolos tendo Cristo como fundamento.
4.1. A Hamartiologia Paulina
O grande teólogo do Novo Testamento realmente é o Apóstolo Paulo3. Seu conhecimento da Toráh e de todo o escrito judaico trouxe ao reino cristão uma interpretação límpida e correta quanto aos ensinos de Jesus. Em suas epístolas Paulo esclarece os principais assuntos relacionados á teologia, tratando alguns temas dentro de uma sistematização não muito ampla, porém capaz de trazer luz aos temas duvidosos da Igreja da época.
Paulo expõe o tema do pecado numa linguagem fiel e de alcance tanto dos judeus quanto gentios. Para isso ele emprega mais de 20 palavras que carregam alguma noção de pecado. Muitas das coisas que ele fala sobre o pecado inclui a noção de que pecadores são pessoas culpadas, pois cometer um pecado é ser culpado desse pecado.
4.2. Aos Romanos. Na ordem de agrupamento dos livros do Novo Testamento Paulo expõe logo em sua carta aos Romanos o problema do pecado, usando o substantivo“hamartia” por 48 vezes; o substantivo “transgressão” “paraptōma” por 9 vezes; o verbo “pecar” “hamartanō” 7 vezes; os adjetivos “pecador” “hamartōlos” por 4 vezes; “mal” “kakos” 15 vezes, e “injusto”, “adikia” 7 vezes. Além de usar várias outras palavras com significados similares.
Logo no primeiro capítulo da carta aos Romanos Paulo já denuncia o pecado por meio de seus efeitos na vida do homem: 
E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém. Rm. 1.23-25.
	O teólogo e escritor Elienai Cabral declara que nesse versículo o apóstolo aponta trágicas desordens na vida do homem, que foram provocadas principalmente pelo pecado da rejeição a Deus. Para Cabral o apóstolo Paulo destaca três principais desordens na vida do pecador que rejeita a graça de Deus: “A primeira desordem acontece nas relações do homem para com Deus. Essa desordem conduz o homem à idolatria (...). A segunda desordem acontece na vida física do próprio homem. É a perversão de sua própria natureza. O homem se torna escravo de seus próprios desejos (...). A terceira desordem acontece nas relações do homem com seu próximo.” (CABRAL, Elienai., Carta aos Romanos, p. 36 – Ed. Cpad – 1986).
O apóstolo é claro em não definir o pecado, mas expõe o problema como sendo primariamente uma ofensa contra Deus (Rom. 8.7). Ele afirma que o pecado interfere no relacionamento do homem com Deus e que isso partiu por meio da queda, quando o homem teve seu relacionamento manchado pelo ato pecaminoso. Adão é lembrado por Paulo (Romanos 5) pois ele aceita a verdade de que o pecado não fazia parte da criação original. Romanos 8.19-23 pode sugerir que o cosmos foi afetado pela queda do homem, ou de Satanás. Ele vê o pecado como tendo sido introduzido no mundo por Adão e como tendo sido praticado por toda a raça humana desde então, pois “todos pecaram” (Rom. 3.23). Todos cometem seus próprios pecados, com certeza, mas de alguma forma todos foram afetados pelo pecado de Adão, pois “pela transgressão de um só homem muitos morreram” (Rom. 5.15). 
4.2.a. Paulo e a universalidade do Pecado. Ainda no começo da carta aos Romanos o apóstolo dos gentios não deixa de lembrar que judeus e gentios de igual forma estão “debaixo do pecado”; isso é visto quando ele cita as Escrituras, “Não há um justo, nenhum sequer” (Rom. 3.10). Toda a raça humana está envolvida com o pecado, e a maior consequencia para isso é a morte “a morte veio através do pecado,” e, além disso, uma vez que todos pecaram, todos morrem (Rom. 5.12). O versículo mais conhecido sem dúvida é que “o salário do pecado é a morte” (Rom. 6.23). 
           
4.3. Nas demais cartas. Em todos os seus escritos Paulo lembra do pecado e da graça de Deus por meio de Cristo. Até mesmo nos assuntos escatológicos, quando tratando do tempo do fim, ele fala da vinda de um ser mal que ele chama de “o homem da iniquidade” (2ª Ts. 2.3; tradicionalmente ele é chamado de “Homem do Pecado”). Claramente, Paulo vê o pecado como operando por toda a humanidade e como algo que vai existir até o fim da história humana.
            Escrevendo aos coríntios e aos gálatas Paulo mostra o pecado como algo encontrado também nas funções corporais, partindo isso do “coração,” ou a “mente” ou o “espírito”. Ele afirma que o pecador sexual “peca contra seu próprio corpo” (1ª Cor. 6.18). Ele também fala da carne como oposta ao Espírito e nos dá uma tenebrosa lista de “obras da carne” (Gál. 5.17-21). Mas a sua lista inclui tais coisas como inimizade e inveja, o que torna claro que ele está falando de pecados do espírito humano bem como dos pecados da carne humana (É certo que Paulo jamais afirmou que a carne peca, mas ela se torna escrava do pecado cometido no campo espiritual, ou seja, o pecado se manifesta na carne). Os escritos de Paulo demonstram que ele via o pecado como algo que envolvia a pessoa como um todo, não apenas uma de suas partes. Um exemplo é “o amor ao dinheiro,” que não é uma atividade carnal no sentido corporal, mas envolve “todos os (tipos de) males” (1ª Tm. 6.10).
4.3.a. Pecado e Lei na Hamartiologia Paulina. Como um fiel e estudioso judeu, Paulo tinha um profundo conhecimento da Lei. Mas como cristão ele veio a reconhecer que a Lei ensinava algumas coisas bastante desconfortáveis sobre o pecado. A Lei torna todo o mundo culpado diante de Deus: “Todos quantos são das obras da lei (dependentes da lei) estão debaixo de maldição” (Gl. 3.10). Através da lei vem o conhecimento do pecado (Rm. 3.19-20); De fato Paulo não teria conhecido o pecado se não fosse a Lei (Rom. 7.7). Ele não vê a função da lei como prevenir o pecado, e ele chega a dizer que a função da lei era multiplicar o pecado (Rom. 5.20). Sua função era tornar claro o que era pecado; sua aguçada definição do que é certo ou errado tornava claro que muitas coisas eram pecaminosas. A Lei, entretanto, não poderia conceder salvação, mas os poderia conduzir a Cristo para que eles pudessem ser justificados por fé (Gl. 3.24). Os efeitos do Pecado. Paulo vê uma ligação entre pecado e morte; de fato ele diz “a morte veio através do pecado,” e, além disso, uma vez que todos pecaram, todos morrem. Ele reconhece que, conquanto a transgressão-pecado de algumas pessoas não seja a semelhança da transgressão-pecado de Adão, não obstante a morte reinou sobre toda a raça.Em outro lugar ele diz simplesmente “o salário do pecado é a morte” (Rm. 6.23). Em algum momento ele estava vivo, separado da lei, mas “quando veio o mandamento... eu morri” (Rm. 7.9-10; cf. Gen. 4.7). Em Efésios Paulo relembra que eles estavam mortos “em ofensas [transgressões] e pecados” (Ef. 2.1). O apóstolo não deixa dúvidas de que o pecado é uma questão de morte, que priva as pessoas daquela vida que somente pode ser chamada de vida de fato (Ef. 4.18). 
4.4. Conselhos gerais. Em todas as suas epístolas Paulo constantemente alerta aos crentes para que não dêem caminho ao mal, mas antes façam o que é bom. Ele intercede para que os corintos não se envolvam com o mal (2ª Cor. 13.7), e ele pede que aos colossenses que levem á morte o mal que existe neles (Cl. 3.5). Ele insta com os romanos para que eles não se vinguem quando alguém fizer mal a eles, mas a vencerem o mal com o bem, pois Deus assim os recompensará (Rm. 12.17, 21), ele tem uma exortação muito similar para os tessalonicenses (1ª Ts. 5.15). É importante ter em mente que o amor, que obviamente deveria caracterizar todos os cristãos, não “guarda registro” do mal (1ª Cor. 13.5).
            Em fim, o apóstolo tem como conclusão que o pecado inevitavelmente conduz ao juízo final.  Alguma antecipação do futuro é um julgamento presente, pois cometer pecado no presente faz dessa pessoa um pecador sujeito ao julgamento no futuro. 
NOTAS:
1. Sabélio (180 – 250). Nasceu na Líbia, África do Norte, no terceiro século depois de Cristo. Depois, mudou-se para a Itália, passando a viver em Roma. Ao conhecer o Evangelho, logo se tornou um pensador respeitado em suas considerações teológicas. Recebeu influência do Modalismo que já estava sendo divulgado na África. O Modalismo ocorreu, no início, como um movimento asiático, com Noeto de Esmirna. Os principais expoentes do movimento: Noeto, Epógono, Cleômenes e Calixto. Na África, foi ensinado por Práxeas e na Líbia, defendido por Sabélio. Hoje, o Modalismo é muito conhecido pelo nome sabelianismo, devido à influência intelectual fornecida por Sabélio. O objetivo de Sabélio era preservar o monoteísmo a qualquer custo. Tinha um objetivo em vista que, pensava, justificava os meios. Ensinava que havia uma única essência na divindade, contudo, rejeitava o conceito de três Pessoas em uma só essência. Afirmava que isso designaria um culto triteísta, isto é, de três deuses. A questão poderia ser

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