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APOSTILA DE CRIMINOLOGIA PROF. ROBERTO BITTENCOURT OLINGER 1. CONCEITO, CARACTERÍSTICAS, OBJETOS, MÉTODO, FUNÇÕES, MISSÕES E CLASSIFICAÇÃO DA CRIMINOLOGIA. A palavra Criminologia foi empregada pela primeira vez em 1883, por Paul Topinard, e aplicada internacionalmente por Raffaele Garófalo, em sua obra "Criminologia", de 1885. Etimologicamente, Criminologia tem origem do latim crimino (crime) e do grego logos (estudo, tratado), vindo a significar o ―estudo do crime‖. No magistério de Penteado Filho, Criminologia pode ser conceituada como ―a ciência empírica (baseada na observação e na experiência) e interdisciplinar que tem por objeto de análise o crime, a personalidade do autor do comportamento delitivo, da vítima e o controle social das condutas criminosas‖. ―Cabe definir a Criminologia como ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo, e que trata de subministrar uma informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime – contemplado este como problema individual e como problema social.‖ (Garcia-Pablos de Molina). Antonio García-Pablos de Molina e Luiz Flávio Gomes (2008, p. 32) apontam como características da criminologia moderna: O crime deve ser analisado como um problema com sua face humana e dolorosa. Aumenta o espectro de ação da criminologia, para alcançar também a vítima e as instâncias de controle social; Acentua a necessidade de prevenção, em contraposição à idéia de repressão dos modelos tradicionais. Substitui o conceito de ―tratamento‖ (conotação clínica e individual) por ―intervenção‖ (noção mais dinâmica, complexa, pluridimensional e próxima da realidade social). Empresta destaque aos modelos de reação social ao delito como um dos objetos da criminologia. Não afasta a análise etiológica do delito (desvio primário). Distinções entre Criminologia Tradicional e Criminologia Moderna: CRIMINOLOGIA TRADICIONAL CRIMINOLOGIA MODERNA OBJETO Estudo do crime e do delinqüente. Incorpora o estudo da vítima e do controle social ORIENTAÇÃO Orientação repressiva Orientação prevencionista INTERVENÇÃO Tratamento do criminoso Intervenção no cenário do crime (causas complexas e múltiplas: individuais e comunitárias) O delito nasce na comunidade e deve ser enfrentado no âmbito da comunidade PARADIGMA Análise etiológica – estuda as causas/raízes da criminalidade Análise dos modelos de reação ao delito (processos de criminalização), sem renunciar a análise etiológica do delito (causas) A criminologia é uma ciência do ―ser‖, ou seja, visa entender e explicar a realidade, utilizando-se para tanto de um método empírico (indutivo) e interdisciplinar. Empírico, pois analisa a realidade através do uso dos sentidos, onde os dados coletados são concretos, materialmente verificáveis (uso da estatística) e é indutivo, pois em decorrência da observação de premissas específicas é possível se construir uma teoria genérica capaz de explicar determinado fenômeno. Interdisciplinar, pois faz uso do conhecimento decorrente de diversas ciências, como a Biologia, a Psicologia e a Sociologia, para estudar o crime, o criminosos, a vítima e o controle social. Diferentemente do direito, caracterizado como uma ciência do ―dever ser‖ e que se utiliza de um método lógico e dedutivo que parte de uma premissa geral (a lei) para chegar a uma conclusão particular. Enquanto o direito valora o fato, definindo-o ou não como algo lesivo para a coletividade, a criminologia o analisa e explica, como um fenômeno real. Atualmente o objeto da criminologia está dividido em quatro vertentes: Delito – analisa a conduta antissocial, suas causas geradoras, o efetivo tratamento dado ao delinqüente visando sua não reincidência, bem como as falhas da profilaxia preventiva. Para a criminologia, crime é um fenômeno social, comunitário e que se mostra como um ―problema‖ maior, necessitando entender suas múltiplas facetas. Delinqüente – Para a Escola Clássica o criminoso era um ser que pecou, que optou pelo mal. Para a Escola Positiva o criminoso era um ser atávico, preso a sua deformação patológica (nascia criminoso). Para a Escola Correcionalista o criminoso era um ser inferior e incapaz de se governar. Por fim, para o Marxismo, o criminoso era uma vítima inocente das estruturas econômicas. Para a Criminologia Moderna o delinqüente não possui mais a mesma importância, ficando em segundo plano. Vítima – O estudo da vítima passou por três grandes momentos históricos: (A) ―Idade do Ouro‖ compreende desde os primórdios a civilização até o fim da Alta Idade Média (época da justiça privada), (B) Período de Neutralização surgiu quando o estado reivindica o monopólio da jurisdição, (C) Redescobrimento surge após a 2ª guerra mundial, com a revisão do papel da vítima no fenômeno criminoso (vitimologia). Controle social – constitui-se em um conjunto de mecanismos e sanções sociais que buscam submeter os indivíduos às normas de convivência social. Há dois sistemas de controle: controle social informal (família, escola, religião, profissão, etc) com visão preventiva e educacional e o controle social formal (polícia, Ministério público, justiça, Administração Penitenciária, etc) o qual é mais rigoroso que o anterior e possui conotação político-criminal. São missões (finalidade) da Criminologia: Compreender cientificamente o crime, incluindo todos os seus personagens (criminoso, vítima e sociedade); Preveni-lo; Intervir com eficácia e de modo positivo no criminoso. A função primordial da Criminologia é a junção de múltiplos conhecimentos mais seguros e estáveis relacionados ao crime, ao criminoso, à vítima e ao controle social, com o objetivo de prevenir e interferir no homem delinqüente. Ressalte-se, que isto não significa que estamos diante de um amontoado de números e dados acumulados, mas sim diante de conhecimento científico decorrente de análises empíricas. Pode-se dizer com acerto que é função da Criminologia desenhar um diagnóstico qualificado e conjuntural sobre o delito. Frise-se: não estamos diante de uma ciência exata, capaz de traçar regras precisas e indiscutíveis sobre as causas e efeitos do ilícito penal. A doutrina dominante entende que a Criminologia, bem como a divisão adotada pela Unesco, se subdivide em dois ramos: (A) Criminologia Geral – consistente na sistematização, comparação e classificação dos resultados obtidos no âmbito das ciências criminais acerca do crime, criminoso, vítima, controle social e criminalidade, (B) Criminologia Clínica – consistente na aplicação dos conhecimentos teóricos daquela para o tratamento dos criminosos. 2. A CRIMINOLOGIA NA HISTÓRIA - A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA CRIMINOLOGIA. Não existe certeza científica quanto ao surgimento da Criminologia. Para a maioria dos doutrinadores, o fundador da Criminologia moderna foi Cesare Lombroso, em 1876, quando do seu livro ―O Homem Delinqüente‖. Para outros, foi o antropólogo francês Paul Topinard, que em 1883 utilizou pela primeira vez a expressão, Criminologia. Existem ainda os que defendem que a Escola Clássica, através de Francesco Carrara (Programa de direito criminal, 1859), traçou os primeiros pensamentos criminológicos. Como bem explica García-Pablos de Molina, a incerteza existe, uma vez que o crime é um fato tão antigo comoo homem e sempre preocupou e fascinou a humanidade. Assim, o marco inicial, se com foi com a Escola Clássica, com a Escola Positiva, ou através de Topinard, fica em segundo plano, pois atualmente define-se duas etapas sobre o estudo do crime: a etapa ―pré- científica‖ e a ―científica‖, cuja linha divisória foi dada pela escola Positiva. QUADRO SINÓTICO INSTITUTO CONTÉUDO Fases Pré-cientifica Grupo de teorias que explicam o crime e o criminoso por meio de pseudociências. Científica Possui um método científico claro e as teorias desenvolvidas são consideradas como a gênese da moderna criminologia. Marco científico da Criminologia se dá com a publicação da obra ―L’uomo Delinquente‖, de Lombroso, em 1876. PRECURSORES (FASE PRÉ-CIENTÍFICA) Conceito Fase entendida como pré-científica da Criminologia (antecede o Positivismo Criminológico), em que diversas investigações criminológicas foram feitas com base no empirismo, muitas delas atreladas às crenças e convicções populares. Espécies Demonologia Entendida como a mãe da Criminologia, tenta explicar o crime por meio de estudo dos demônios, atribuindo a cada criminoso um tipo de diabo. Fisionomia Segundo ela, a partir da análise das características físicas do indivíduo, poderia se chegar às suas qualidades e defeitos. O feio seria proporcional à maldade. Frenologia Ciência segundo a qual cada faculdade mental está diretamente vinculada a uma parte do cérebro e o tamanho de cada parte é proporcional ao desenvolvimento da faculdade. Psiquiatria Tem como expoente Philippe Pinel, que após desencarcerar mais de 50 enfermos mentais, passou o louco a ser tratado como não um endemoniado, e sim como um doente que precisa tratamento. Separou enfermidade mental da deliquência. 3. AS ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS. O apogeu do Iluminismo ocorreu durante a revolução francesa, sendo seus expoentes Voltaire, Montesquieu e Rousseau, os quais teceram severas críticas à legislação criminal do século XVIII. Devida a importância de tal movimento, necessário conhecer as principais escolas criminológicas. 3.1. Escola Clássica. Os Clássicos partiram de duas teorias distintas: o Jusnaturalismo (direito natural), que decorria da natureza eterna e imutável do ser humano, e o Contratualismo (contrato social, de Rousseau), em que o estado surge a partir de um grande pacto entre os homens, no qual estes cedem parcela de sua liberdade e direitos em prol da segurança coletiva. Princípios Fundamentais: O crime é um ente jurídico, não é uma ação, mas sim uma infração; A punibilidade deve ser baseada no livre-arbítro; A pena deve ter nítido caráter de retribuição, para defesa da sociedade; O método é dedutivo: trabalha-se com normas/dogmas e daí então se deduz. Principais expoentes: Cesare Bonesana, Marquês de Beccaria - Nasceu em Milão, em 1738 e faleceu em 1794. Revolta-se contra as arbitrariedades da justiça da época. Em 1764, aos 27 anos, apresenta a obra "Dos delitos e das penas". Destacam-se entre os postulados fundamentais de Beccaria: i) somente as leis podem fixar as penas para os crimes; ii) somente os magistrados poderão julgar os delinqüentes; iii) a atrocidade se opõe ao bem público; iv) os juízes não podem interpretar as leis penais; v) deverá existir proporção entre os delitos e as penas; vi) a finalidade das penas não é atormentar o culpado, mas impedir que agrida de novo a sociedade e, por conseqüência, destruir a todos; vii) as acusações não devem ser secretas; viii) a tortura do acusado durante o processo é uma ignomínia; ix) o réu não deve ser considerado culpado antes da sentença condenatória; x) não se deve exigir do réu o juramento; xi) a prisão preventiva não é sanção, mas apenas o meio de assegurar à pessoa do presumível culpado e, portanto, deve ser a mais leve possível; xii) as penas devem ser iguais para todas as pessoas; xiii) o roubo é filho da miséria e do desespero; xiv) as penas devem ser moderadas; xv) a sociedade não tem direito de aplicar a pena de morte; xvi) as penas não serão justas se a sociedade não houver empregado meios de prevenir os delitos; xvii) a prevenção dos delitos é muito mais útil que a repressão penal. Francesco Carrara - Foi, sem dúvida alguma, o artífice da escola clássica, afirmava: Publicou‖Programma de derecho criminal‖, surgindo dois princípios: i) que o principal objetivo do direito criminal é prevenir os abusos por parte da autoridade; ii) que o crime não é uma entidade de fato, mas de direito. 3.2. Escola Positiva Tem origem na 2ª metade do século XIX. Pode-se afirmar que a Escola Positiva teve três fases: antropológica (Lombroso), sociológica (Ferri) e jurídica (Garófalo). Principais expoentes: Cesare Lombroso - Nasceu em Verona, em 6 de novembro de 1835. Publicou em 1876 o livro ―O Homem Delinquente‖. É considerado o pai da antropologia criminal. Lombroso traçou um perfil dos criminosos, através de suas características fisionômicas. Dados como estrutura toráxica, estatura, peso, tipo de cabelo, comprimento de dedos e pernas foram analisados. Utilizou-se também de exames de crânios, buscando apontar o ―criminoso nato‖. Suas pesquisas foram feitas na maioria em manicômios e prisões, concluindo que o criminoso é um ser atávico, que nasce criminoso. Examinou o crânio de um criminoso multirreincidente – Vilella – e encontrou uma série de anomalias, especialmente na fosseta occipital media. Esta fosseta occipital não foi encontrada em nenhum outro criminoso. Lombroso assim descrevia, por exemplo, o estuprador: ―o olho é cintilante, a fisionomia é delicada, os lábios e as pálpebras volumosos; em maioria são frágeis, às vezes disformes‖. Os matadores e os ladrões arrombadores têm cabelos crespos, crânios deformados, fortes mandíbulas, enormes zigomas e freqüentes tatuagens; são cobertos de cicatrizes na cabeça e no tronco‖. ―Os homicidas habituais tem olhar vítreo, frio, imóvel, algumas vezes sanguíneo, e injetado; o nariz freqüentemente aquilino ou mesmo adunco como o das aves de rapina, sempre volumosos, mandíbulas grandes, orelhas longas, largos zigomas, os cabelos crespos, abundantes e escuros. Freqüentemente a barba é escassa, os dentes caninos muitos desenvolvidos, os lábios finos; muitas vezes há nistágmo e a contração unilateral do rosto que mostra os dentes caninos como uma ameaça‖. Inúmeras críticas foram feitas a Lombroso, justamente pelo fato da generalização, do local dos seus estudos (buscar um perfil de criminoso em uma penitenciária, não seria confiável, pois evidente que todos que lá estão cometeram crimes, sendo portanto, tal perfil, equivocado), etc. Em socorro do mestre, surgiu o pensamento de Ferri. Lombroso também desenvolveu teses referentes as mulheres, através da obra ―La Donna delinqüente, La prostituta e La Donna normale‖ (1895). ―Na maneira de matar, possuem terrível superioridade sobre o criminoso nato. Cometem o crime com crueldade requintada e diabólica. É preciso que a vítima sofra e que ela saboreie a sua morte[...] É a necessidade tagarelar, de tornar-se interessante que faz de toda mulher criminosa uma imprudente nata‖. Neomolbrosianos? Ao contrário do que se pode imaginar, a concepção de determinação biológica não é uma absurda hipótese fruto de uma mente maligna. No ano de 2012, a Sociedade Americana deCriminologia, publicou mais de uma dezena de investigações relacionadas à biologia criminal. Em 2013, o New York Times publica matéria intitulada ―Assassinos por natureza‖, de Adrian Raine. Retomando a formulação lombrosiana e utilizando-se da neurocriminologia, a Autora acredita ser possível encontrar marcos biológicos para a etiologia do crime. Enrico Ferri – (1856-1929) Genro e discípulo de Lombroso, foi o criador da chamada ―sociologia criminal‖. Para Ferri a criminalidade derivava de fenômenos antropológicos, físicos e culturais. Enumerou quatro espécies de meios de combate à criminalidade: 1) meios preventivos; 2) meios reparatórios; 3) meios represssivos; 4) meios excluidores. Para ele o mais eficiente meio de combate à criminalidade é través dos meios preventivos, o qual designou de ―substitutivos penais‖. Rafael Garófalo – (1851-1934) Afirmou que o crime estava no homem e se manifestava como degeneração. Criou o conceito de periculosidade. Criou outra forma de intervenção penal – a medida de segurança. 3.3. Escola Eclética ou Crítica Os seguidores dessa escola definem o conceito de crime conforme a escola positiva ou fazem uma reprodução da escola clássica. O delito é sempre um ato humano, portanto, uma atuação voluntária transcendente ao mundo exterior. O delito é também um ato contrário ao direito, um ato formal, que ataca um mandato de proibição de ordem jurídica, implicando materialmente numa lesão ou perigo. O delito é, finalmente, um ato culpável; melhor afirmando: um ato doloso ou culposo de um indivíduo responsável. Segundo Turati, o crime teria como elemento principal as más condições econômicas da sociedade, e a miséria o fator primordial da existência da criminalidade. Tarde explica como causa do crime, as causas sociais complexas. Alexander Lacassagne afirmou: "O meio social é o caldo de cultura da criminalidade; o micróbio é o criminoso, um elemento que não tem importância, senão no dia em que acha o caldo que o faça fermentar. As sociedades têm os criminosos que merecem."1 1 De Aragão, António Moniz Sodré. As Três Escolas Penais, 3ª ed. Saraiva: São Paulo, 1928. 3.4. A Terceira Escola Surgida no início do séc. XX, a Terceira Escola tentou conciliar preceitos clássicos e positivistas. São fundamentos da terceira escola: i) O direito penal deveria permanecer como ciência independente, separando-se do pensamento de Lombroso, que pretendia incluí-lo na criminologia. ii) O grande número de causas do delito não é exclusivo da constituição criminal do indivíduo, adotando-se a teoria da escola francesa, que invoca o sujeito predisposto, o que irá tornar-se em delinqüente no momento em que o meio se tornar favorável. iii) É necessário o trabalho conjunto de penalistas e sociólogos para atingir as reformas sociais que melhorem as condições de vida do povo, dessa forma aceitando-se os princípios da escola francesa (exógenos). iv) A pena é como uma coação psicológica sobre os indivíduos, examinando-a no plano de imputáveis ou inimputáveis. Entre aqueles que organizaram a terceira escola temos Carnevale e Bernardino Alimena. 3.5. Escola dogmática sociológica, biossociológica de Von Liszt Pela teoria de Von Liszt, o homem é o centro de seus estudos. Esta Escola propôs a independência do Direito Penal, entretanto, por aceitar os princípios da Escola Positiva (delito como fato natural e social, admitindo as causas endógenas e exógenas) e os da Escola Clássica (delito como ente jurídico e o livre arbítrio), veio a se tornar eclética. Define o delito com um fato biossocial e ambiental, mas examinado axiologicamente como ente jurídico. A pena, apesar de ser uma grande preocupação para essa escola, não é um fim em si mesma, mas um meio. Aceita a multa, a prisão condicional, a pena correcional e também a absolutória. 4. TEORIAS CRIMINOLÓGICAS Criminologia Tradicional - procurou identificar as causas do crime e como é possível preveni-lo. Dentro dessa corrente, entre as teorias as que mais se destacam são: I - Teorias Ecológicas ou da Desorganização Social (Escola de Chicago) – (1920/1940): É o berço da moderna Sociologia americana. Surge com o crescimento desordenado da cidade de Chicago, que se expandiu do centro para a periferia, dando origem a graves problemas sociais, econômicos e culturais. Segundo esta teoria, a ordem social, estabilidade e integração contribuem para o controle social e a conformidade com as leis, enquanto a desordem e a má integração conduzem ao crime e à delinqüência. Tal teoria propõe ainda que quanto menor a coesão e o sentimento de solidariedade entre o grupo, a comunidade ou a sociedade, maiores serão os índices de criminalidade. II - Teorias da Subcultura Delinqüente - Desenvolvida pelo sociólogo Albert Cohen (1955), esta teoria defende a existência de uma subcultura da violência, que faz com que alguns grupos passem a aceitar a violência como um modo normal de resolver os conflitos sociais. Mais que isso, sustenta que algumas subculturas, na verdade, valorizam a violência, e, assim como a sociedade dominante impõe sanções àqueles que deixam de cumprir as leis, a subcultura violenta pune com o ostracismo, o desdém ou a indiferença os indivíduos que não se adaptam aos padrões do grupo. Exemplo desta teoria são as gangues de jovens delinqüentes, que passam a aceitar os valores daquele grupo, mais do que os valores sociais dominantes. III - Teoria da Anomia - Uma das mais tradicionais explicações de cunho sociológico acerca da criminalidade é a teoria da Anomia, de Merton (1938). Segundo essa abordagem, a motivação para a delinqüência decorreria da impossibilidade de o indivíduo atingir metas desejadas por ele, como sucesso econômico ou status social. Esse fracasso no atingimento de suas aspirações, leva à Anomia, ou seja, a manifestação comportamental em que as normas sociais são ignoradas ou contornadas. Criminologia Crítica - Ao indagar as causas do crime, a Criminologia Crítica pesquisa a reação social, ampliando, assim, o campo de investigação para abranger as instâncias formais de controle como fator criminógeno (as leis, a Polícia, o Ministério Público e os Tribunais). Buscando a resposta sob o ângulo de uma problemática maior, defende que não há outra solução para o problema criminal senão a construção de uma nova sociedade, mais justa, igualitária e fraterna; menos consumista e menos sujeita às vicissitudes dos poderosos. Estuda também o papel da vítima. Principais teorias da Criminologia Crítica: I - Teoria da Rotulação, do etiquetamento ou Labeling Approach (surge na década de 1960) - Seus principais expoentes foram Erving Goffman e Horward Becker. Esta teoria considera que as questões centrais da teoria e da prática criminológicas não se relacionam ao crime e ao delinqüente, mas, particularmente, ao sistema de controle adotado pelo Estado no campo preventivo, no campo normativo e na seleção dos meios de reação à criminalidade. No lugar de se indagar os motivos pelos quais as pessoas se tornam criminosas, deve-se buscar explicações sobre os motivos pelos quais determinadas pessoas são estigmatizadas como delinqüentes, qual a fonte da legitimidade e as conseqüências da punição imposta a essas pessoas. São os critérios ou mecanismos de seleção das instâncias de controle que importam, e não dar primazia aos motivos da delinqüência. Em suma, de acordo com Penteado Filho, para o Labeling Approach a ―criminalidade não é uma qualidadeda conduta humana, mas a conseqüência de um processo em que se atribui tal “qualidade” (estigmatização)‖. Segundo o citado doutrinador, a sociedade define o que entende por ―conduta desviante‖, isto é, todo comportamento considerado constrangedor, perigoso, impondo sanções àqueles que se comportarem desta forma. Ou seja, condutas desviantes são aqueles que as pessoas de uma sociedade rotulam às outras que as praticam. Há duas correntes dentro da Teoria do Labeling Approach. A primeira e mais radical sustenta que a criminalidade é apenas o etiquetamento aplicado por delegados, promotores, juízes, ou seja, pelas instâncias formais de controle social. A outra, menos radical, entende que o etiquetamento não se localiza apenas no controle formal, mas também no informal, ou seja, família, escola (―irmão ovelha negra‖, ―estudante rebelde‖, etc). Por fim, importante destacar que a distinção existente entre a Criminologia Positivista e o Labelling Approach, no que diz respeito aos paradigmas de controle social do delito. Enquanto na Positivista se utiliza o paradigma etiológico (investiga as causas da criminalidade), no Labelling Approach, utiliza-se o paradigma de controle (investiga-se os processos de criminalização). II - Criminologia Radical ou Criminologia Marxista (surge na década de 70) - Baseia-se na análise marxista da ordem social. Considera o problema criminal insolúvel em uma sociedade capitalista, sendo necessária a transformação da própria sociedade, uma vez que sustenta ser o capitalismo a base da criminalidade, na medida em que promove o egoísmo, o qual leva o homem a delinqüir. III - Criminologia Abolicionista (Anos 90) - apresenta a proposta de acabar com as prisões e abolir o próprio Direito Penal, substituindo ambos por uma profilaxia de remédios para as situações—problemas com base no diálogo, na concórdia e na solidariedade dos grupos sociais, para que sejam decididas as questões das diferenças, choques e desigualdades, mediante o uso de instrumentos que podem conduzir à privatização dos conflitos, transformando o juiz penal em um juiz civil. IV - Criminologia Minimalista (Anos 90) – sustenta que é preciso limitar o Direito Penal, que está a serviço de grupos minoritários, tornando-o mínimo, porque a pena, representada em sua manifestação mais drástica pelo Sistema Penitenciário, é uma violência institucional que limita direitos e reprime necessidades fundamentais das pessoas, mediante a ação legal ou ilegal de servidores do poder, legítima ou ilegitimamente investidos na função. V - Criminologia Neo-realista (Anos 90) - Esta teoria admite que as frágeis condições econômicas dos pobres na sociedade capitalista fazem com que a pobreza tenha seus reflexos na criminalidade, reconhecendo, contudo, que essa não é a única causa da atitude criminosa, também gerada por fatores como: expectativa super-dimensionada, individualismo exagerado, competitividade, agressividade, ganância, anomalias sexuais, machismo etc. Defende, pois, que só uma política social ampla pode promover o justo e eficaz controle das zonas de delinqüência, desde que os Governos, com determinação e vontade, compreendam que carência e inconformidade, somadas à falta de solução política, geram o cometimento de crimes. 5. ESTATÍSTICA CRIMINAL, CIGRA NEGRA E PROGNÓSTICO CRIMINAL. 5.1. Estatística Criminal. Segundo Nestor Sampaio Penteado Filho, depois do século XIX, as ciências criminais alcançaram projeção, e por tal razão começaram a se preocupar com o estudo do fenômeno da criminalidade, levando em considerações suas causas. Os criminólogos sustentam que, por intermédio das estatísticas criminais, pode- se conhecer o liame causal entre os fatores da criminalidade e os ilícitos criminais praticados. Assim, as estatísticas criminais servem para fundamentar a política criminal e a doutrina de segurança pública no tocante a prevenção e à repressão da criminalidade. Todavia, necessário tomar cuidado quando da análise das estatísticas oficias, uma vez que uma fatia significativa de delitos não são comunicados ao Poder Público2, seja por inércia ou desinteresse das vítimas, quer por outras causas, dentre as quais os erros de coleta e a manipulação de dados pelo Estado3. Por tais razões, importante diferenciar a criminalidade real da criminalidade revelada e da cifra negra. Criminalidade real é a quantidade efetiva de crimes perpetrados pelos delinqüentes. Criminalidade revelada é o percentual que 2 O núcleo de estudos de violência da USP calcula de apenas ⅓ dos crimes é noticiado ao Estado. 3 A Folha de São Paulo, na edição de 17/01/2005, noticia que casos de homicídio eram registrados como ―encontro e cadáver‖ ou ―morte a esclarecer‖ aduzindo o mascaramento de dados criminais. chega ao conhecimento do Estado. Cifra Negra é a porcentagem não comunicada ou elucidada. 5.2. Cifra Negra. Como já explicitado acima, são os dados da criminalidade que norteiam a correta elaboração das normas jurídicos-penais. Mas como esses dados são obtidos? E mais, são confiáveis? Tais dados apenas se oficializam, em termos criminais, segundo três atos: detecção do crime + notificação + registro em boletim de ocorrência. Todavia, por diversas vezes esses dados não se mostram plenamente confiáveis por uma série de fatores. Um desses fatores é a manipulação estatal, pela qual, governantes inescrupulosos, visando benefícios eleitorais, maquiam a realidade das estatísticas. Outro fator são as falhas que ocorrem quando do registro da ocorrência, por falha da polícia. Por fim, inúmeros delitos não são comunicados pelas vítimas. Inúmeras razões levam a tal causa: i) A vítima omite o ato criminoso por vergonha ou medo (crimes sexuais); ii) A vítima entende que é inútil procurar a polícia, pois o bem violado é mínimo (pequenos furtos); iii) A vítima é coagida pelo criminoso (vizinho ou conhecido); iv) A vítima é parente do criminoso; v) A vítima não acredita no aparato policial nem no sistema judicial, etc. Neste contexto, surge o que denominamos cifra negra, isto é, o número de delitos que por alguma razão não são levados ao conhecimento das autoridades, contribuindo para uma estatística divorciada da realidade. Existe ainda, uma denominada cifra dourada, que segundo Eduardo Luiz Santos Cabette ―representa a criminalidade de “colarinho branco”, definida como práticas antissociais impunes ao poder político e econômico (a nível nacional e internacional), em prejuízo da coletividade e dos cidadãos e em proveito das oligarquias econômicas-financeiras‖.4 Desta feita, duas são as falhas nos dados estatísticos oficiais: a cifra negra, que significa a ausência de dados de crimes de rua, como furtos, roubos, homicídio, estupros, etc, e a cifra dourada, que significa a ausência de registro dos crimes políticos, ambientais, de corrupção, etc. As cifras negras, ou campo obscuro da criminalidade, são uma preocupação histórica da criminologia. 5.3. Prognóstico Criminológico. É a probabilidade do criminoso reincidir, em razão de certos dados estatísticos coletados. Nunca haverá certeza, porque não se conhece por completo o consciente do autor. Os prognósticos podem ser clínicos ou estatísticos. Clínicos são aqueles em que se faz um detalhamento dos criminosos, por meio da interdisciplinaridade: médicos, psicólogos, assistentes sociais, etc. Estatísticos são aqueles baseados em tabelas de predição, que não levam em conta certos fatores internos e só servem para orientaro estudo de um tipo específico de crime e de seus autores (condenados). 4 In: http://jus.com.br/revista/texto/9497/as-estatisticas-criminais-sob-um-enfoque- criminologico-critico. Acesso em: 20/05/2013. 6. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMINOSOS As principais classificações dos criminosos foram produzidas pela Escola Clássica. Para Lombroso, os criminosos dividem-se em: i) Criminoso nato: influência biológica, estigmas, instintos criminosos, um selvangem da sociedade, o degenerado (cabeça pequena, deformada, fronte fugidia, sobrancelhas salientes, maças afastadas, orelhas malformadas, braços cumpridos, face enorme, tatuado, impulsivo, mentiroso, falador de gírias, etc); ii) Criminosos loucos: perversos, loucos morais, alienados mentais que devem permanecer no hospício; iii) Criminosos de ocasião: predispostos hereditariamente, são pseudocriminosos; ―a ocasião faz o ladrão‖, assumem hábitos criminosos influenciados por circunstâncias; iv) Criminosos por paixão: sanguíneos, nervosos, irrefletidos, usam da violência para resolver questões passionais, exaltados. Por seu turno, Enrico Ferri classificou os criminosos em: i) Criminoso nato; ii) Criminoso louco: inclui os semiloucos e fronteiriços; iii) Criminoso ocasional; iv) Criminoso habitual: reincidente na ação criminosa, faz do crime sua profissão; v) Criminoso passional. Por fim, eis a classificação adotada por Garófalo, o qual propôs a pena de morte sem piedade aos criminosos natos ou sua expulsão do país: i) Criminosos assassinos: são delinqüentes típicos, egoístas, seguem o apetite instantâneo; ii) Criminosos enérgicos ou violentos: falta-lhes a compaixão; iii) Ladrões ou neurastênicos: falta-lhes probidade, atávicos as vezes. 7. VITIMOLOGIA Vitimologia é a ciência que estuda amplamente a relação vítima/criminoso no fenômeno da criminalidade. Para Benjamim Mendelsohn ―vitimologia é a ciência que se ocupa da vítima e da vitimização, cujo objeto é a existência de menos vítima na sociedade, quando esta tiver real interesse nisso‖. Por sua vez, seguindo conceito formulado pelas Organizações das Nações Unidas, vítima são ―pessoas que, individual ou coletivamente, tenham sofrido danos, incluindo lesões físicas ou mentais, sofrimento emocional, prejuízo financeiro, ou tenham sido substancialmente afetadas em seus direitos fundamentais, por atos ou omissões que representem violações às leis penais, incluídas as leis referentes ao abuso criminoso do poder.‖ Os primeiros trabalhos sobre vítimas datam de 1901, todavia, somente a partir da década de 40, através dos estudos de Von Henting e Benjamim Mendelsohn, é que se começou a fazer um estudo sistemático da vítima. Existem várias classificações com respeito às vítimas. Uma primeira, é atribuída a Benjamim Mendelsohn, que leva em conta a participação ou provocação da vítima. Segundo tal conjectura, elas podem ser: i) Vítimas idéias (completamente inocentes); ii) Vítima menos culpadas que os criminosos; iii) Vítimas tão culpadas quanto os criminosos (ex. aborto consentido); iv) Vítimas mais culpadas que os criminosos (vítimas que provocam e dão causa ao delito); v) Vítimas como únicas culpadas (vítimas agressoras, simuladas...) Por seu turno, Hons von Henting, classifica as vítimas em: i) 1º grupo: criminoso – vítima – criminoso (sucessivamente), na qual o reincidente que é hostilizado no cárcere, vindo a delinqüir novamente pela repulsa social que encontra fora da cadeia; ii) 2º grupo: criminoso – vítima – criminoso (simultaneamente), caso das vítimas de drogas que de usuário passa a ser traficante; iii) 3º grupo: criminoso – vítima (imprevisível), por exemplo, linchamentos, saques, epilepsia, alcoolismo, etc. Fora estas classificações doutrinárias, existem ainda tipos de vítimas: i) Vítimas natas: indivíduos que apresentam, desde o nascimento, predisposição para serem vítimas, tudo fazendo, consciente ou inconscientemente, para figurarem como vítimas de crimes. ii) Vítimas potenciais: são aquelas que apresentam comportamento, temperamento ou estilo de vida que atraem o criminoso, uma vez que facilitam ou preparam o desfecho do crime. iii) Vítimas eventuais ou reais: aquelas que são verdadeiramente vítimas, não tendo em nada contribuído para a ocorrência do crime. iv) Vítimas provocadoras: são aquelas que induzem o criminoso à prática do crime, originando ou provocando o fato delituoso. v) Vítimas falsas: simuladora, é aquela que está consciente de que não foi vítima de nenhum delito, mas, agindo por vingança ou interesse pessoal, imputa a alguém a prática de um crime contra si. Vítima imaginária: em decorrência de anomalia psíquica ou mental, acredita-se vítima da ação criminosa. vi) Vítimas voluntárias: são aquelas que consentem com o crime. vii) Vítimas acidentais: são as vítimas de si mesmas, que dão causa ao fato geralmente por negligência ou imprudência. A Criminologia, ao analisar a questão criminológica, classifica a vitimização em três grandes grupos: Vitimização Primária Vitimização Secundária Vitimização Terciária Processo pelo qual uma pessoa sofre, de modo direito ou indireto, os efeitos nocivos derivados do crime ou fato traumático, sejam materiais ou psíquicos. Abrange os custos pessoais derivados da intervenção do sistema legal que incrementam o padecimento da vítima. Ex: dor de reviver a cena do crime perante o juiz, perguntas de advogado acusando-a de ser a causadora do crime, etc O conjunto de custos da penalização sobre quem a suporta pessoalmente ou sobre terceiros. Ex: preso que sofre tortura ou erro judicial. Importante ainda destacar, que a análise da relação entre vítima e criminoso possui repercussão no campo do Direito Penal, ao passo que na aplicação da pena (artigo 59 do Código Penal), a participação da vítima influi na aplicação da pena base. 8. PREVENÇÃO CRIMINAL Entende-se por prevenção delitiva o conjunto de ações que visam evitar a ocorrência do delito. Para alcançar o objetivo, que é a não ocorrência dos atos criminosos e a manutenção da paz social, necessário a utilização de duas medidas: uma indireta e outra direta. As ações indiretas (controle informal) devem atuar em dois entes: o indivíduo e o meio em que ele vive. Com relação ao indivíduo, as ações devem observar sua personalidade, caráter e temperamento, com vistas a motivar sua conduta. Já com relação ao meio em que vive, deve ser analisado de maneira múltipla: medidas sociais, políticas, econômicas, etc, as quais visem melhorar a vida do indivíduo e afastar-lhe da criminalidade. As ações diretas (controle formal) direcionam-se para a infração penal em formação (iter criminis). Ex: atuação da polícia ostensiva, aparelhar e treinar as polícias judiciárias para a repressão delitiva, punição efetiva de crimes graves, medidas de cunho administrativo contra o jogo, prostituição, pornografia, etc. CONTROLE SOCIAL (por Alice Bianchini, Danilo Cymrot e Luiz Flávio Gomes) CONTROLE SOCIAL INFORMAL CONTROLE SOCIAL FORMAL AGENTES Família, escola, religião, clube recreativo, opinião pública, etc. Polícia, Justiça, Ministério Público, administração penitenciária, etc. MOMENTO Disciplina o indivíduo por meio de um largo e sutil processo de socialização, interiorizando ininterruptamente no indivíduo as pautas de conduta. Entra em funcionamento quando as instâncias informais do controle socialfracassam. ESTRATÉGIAS Distintas estratégicas (prevenção, repressão, socialização, etc) e diferentes modalidades de sanções (positivas, como recompensas, Atua de modo coercitivo (violento) e impõe sanções mais estigmatizantes, que atribuem ao infrator da norma um singular status (de desviado, perigoso ou e negativas, como punições) delinqüentes). EFETIVIDADE Costuma ser mais efetivo, porque é ininterrupto e onipresente, o que ajuda a explicar os níveis mais baixos de criminalidade, nas pequenas cidades do interior, onde é mais forte. O atual enfraquecimento dos laços familiares e comunitários explica em boa medida a escassa confiança depositada na sua efetividade. A eficaz prevenção do crime não depende tanto da maior efetividade do controle social formal, senão da melhor integração do controle social formal e informal. O controle razoável e eficaz da criminalidade não pode depender exclusivamente da efetividade das instâncias de controle social, pois a intervenção do sistema legal não incide nas raízes do delito. ―mais leis, mais penas, mais policiais, mais juízes, mais prisões significam mais presos, porém não necessariamente menos delitos‖ (Jeffery) A prevenção pode ocorrer de três maneiras distintas: PREVENÇÃO CRIMINAL Primária Secundária Terciária Ataca a raiz do conflito (educação, emprego, moradia, segurança, etc). Liga-se à garantia de educação, saúde, emprego, segurança e qualidade de vida. Destina-se a setores da sociedade que podem vir padecer do problema criminal. (polícias, assistência social, etc). Voltada ao preso, visando sua recuperação e evitando a reincidência. (laborterapia, liberdade assistida, prestação de serviços à comunidade, etc). 8.1. Teoria da reação social. A ocorrência de um crime gera uma reação social (por parte de Estado), de forma proporcional, as quais hodiernamente ocorrem de três maneiras: i) Modelo dissuasório: repressão por meio da punição ao agente criminoso, mostrando a todos que o crime não compensa e gera castigo; ii) Modelo ressocializador: intervém na vida e na pessoa do infrator, não apenas lhe aplicando pena, mas buscando sua reinserção social; iii) Modelo restaurador: também chamado de ―justiça restaurativa‖, procura restabelecer o status quo ante, visando a reeducação do infrator, a assistência à vítima e controle social afetado pelo crime. Ligada a idéia de reparação do dano causado. 8.2. Teoria da Pena – Penologia. É a disciplina que cuida do conhecimento geral das penas e castigos impostos pelo Estado aos violadores das leis. O estudo da pena conta com três grandes correntes: TEORIA ABSOLUTA TEORIA RELATIVA TEORIA MISTA Entende que a pena é um imperativo de justiça, negando fins utilitários, pune-se apenas porque cometeu o delito. Apresenta um fim utilitário para a pena, sustentando que o crime não é causa da pena, mas a ocasião para que ela seja aplicada. Possui dois fins: prevenção geral (intimidação de todos) e prevenção particular ou especial (impedir o réu de novas praticas criminosas, intimidá-lo e corrigi-lo). Misturam as duas primeiras, sustentando o caráter retributivo da pena, acrescentando os fins da reeducação e intimidação. 9. FATORES SOCIAS DA CRIMINALIDADE. Analisar a criminalidade do ponto de vista sociológico, como feito atualmente pela Criminologia moderna, percebe-se elevados níveis de influência na gênese delitiva. Sobre tal enfoque, correto afirmar que inúmeros fatores externos desencadeiam um fator criminógeno. Entre estes fatores, de acordo com as lições de Penteado Filho, podemos destacar: 9.1. Pobreza. Emprego, desemprego e subemprego. As estatísticas criminais indicam que existe uma relação entre pobreza e criminalidade. Evidente que tal premissa não condiciona a pobreza com a criminalidade, tanto é, que citamos como exemplo os ―crimes de colarinho branco‖, geralmente praticados pelas camadas mais altas da sociedade. Todavia, nos crime contra o patrimônio, a grande maioria dos autores de tais infrações são semialfabetizadas, pobres, com formação moral deficitária. Assim, as causas da pobreza – má distribuição de renda, desordem social – latifúndios improdutivos, etc. – funcionam como fermento dos sentimentos de exclusão e revolta social, os quais levam a criminalidade. Por fim, a repressão policial ataca as conseqüências da criminalidade, e não suas causas. O desemprego atual no Brasil gira na faixa de 6% da população, o que em abril de 2013, segundo pesquisas5 realizadas, remetem a aproximadamente 1.414.000 sem ocupação. Some-se a tal índice, todos os que atuam nos chamados subemprego ou desemprego disfarçado (―homem-placa‖, ―vendedores de balas nos semáforos‖, etc.) os quais não possuem qualquer estabilidade, além da baixíssima remuneração. Essa imensidão de desocupados, não deixa de ser fator coadjuvante na escala ascendente da criminalidade. Como contraponto a tais dados e assertivas, Luiz Flávio Gomes, aponta no sentido que a criminalidade nada tem a ver com a pobreza, mas sim com desigualdade. Segue artigo6 neste sentido: Não existe relação direta entre a miséria e a violência (há países miseráveis com baixo índice de violência não institucional e países ricos com alto índice de violência – caso dos EUA). A mesma coisa não se pode afirmar sobre a desigualdade, que gera sensação de injustiça, privilégios para as classes de cima, desgraça para as classes de baixo, funcionamento injusto da Justiça, má distribuição da riqueza, sensação de desequilíbrio etc. Fizemos no Instituto Avante Brasil a relação e a comparação entre a violência (homicídios) e o índice IDH dos 20 países mais violentos com os 20 países menos violentos do planeta. Notará o 5 http://exame.abril.com.br/economia/noticias/taxa-de-desemprego-no-brasil-sobe-a-5-8 6 Brasil será um dos 10 países mais violentos do planeta. In: http://atualidadesdodireito.com.br/iab/artigos-do-prof-lfg/brasil-sera-um-dos-10-paises- mais-violentos-do-planeta/ leitor que, em regra, país menos violento tem alto índice de IDH (e vice-versa). Claro que a regra tem exceções (mas as exceções existem para confirmar as regras). São 187 os países examinados. Vejamos: De acordo com os dados divulgados pela UNODC (Escritório para assuntos de Drogas e Crimes da ONU) os países com os maiores índices de violência estão localizados principalmente na África e América Central: Honduras (120º no IDH), El Salvador (107º no IDH), Costa do Marfim (168º no IDH), Venezuela (71º no IDH), Belize (96º no IDH), Jamaica (85º no IDH), Guatemala (133º no IDH), São Cristóvão e Nevis (72º no IDH), Zâmbia (163º no IDH) e Uganda (161º no IDH), Malauí (170º no IDH), Lesoto (158º no IDH), Trinidad e Tobago (67º no IDH), África do Sul (121º no IDH), Colômbia (91º no IDH), Congo (142º no IDH), República Centro Africana (180º no IDH), Brasil (85º no IDH), Etiópia (173º no IDH) e Santa Lúcia (88º no IDH). O melhor IDH é o 67º (Trinidad e Tobago). Somente 8 estão abaixo da colocação de número 100. Países mais violentos, em regra contam com baixo índice de IDH. Os vinte países com as menores taxas de homicídio estão em sua maioria na Europa e na Ásia: Palau (52º no IDH), Hong Kong (13º no IDH), Cingapura (18º no IDH), Islândia (13º no IDH), Japão (10ºno IDH), Brunei Darrusalam (30º no IDH), Noruega (1º no IDH), Áustria (18º no IDH), Eslovênia (21º no IDH), Omã (84º no IDH), Suíça (9º no IDH), Emirados Árabes (41º no IDH), Espanha (23º no IDH), Alemanha (5º no IDH), Estados Federados da Micronésia (117º no IDH), Vanuatu (124º), Qatar (36º no IDH), Nova Zelândia (6º no IDH), Dinamarca (15º no IDH), respectivamente. Países com alto índice de IDH contam com menos violência. Dois países apenas com IDH acima de 100. A relação entre baixo índice de IDH, mais violência, e alto índice de IDH, menos violência, está constatada. Essa pode ser uma excelente pista para as políticas públicas de prevenção da criminalidade. E um excelente antídoto para a trampa de que só com repressão se resolve esse problema. O Brasil, que ocupava até pouco tempo a 20ª posição no ranking dos países mais violentos, agora passou para o 18º lugar. Em breve (se as mortes continuarem no ritmo atual) chegaremos ao rol dos 10 países mais violentos do planeta. Ambas as teses analisadas, seja da pobreza, seja da desigualdade, servem para demonstrar a incidência de tais fatores – como coadjuvantes – nos índices de criminalidade. 9.2. Meios de comunicação. Habitação. Penteado Filho aponta outros dois fatores que podem influenciar na criminalidade. Atualmente os meios de comunicação, com ênfase para televisão, possuem grande alcance junto a população. A televisão, geralmente com discursos fáceis, banalizando o sexo e a violência em todos os horários, presta verdadeiro desfavor à população, ao passo que sua missão deveria ser o de repassar valores éticos da pessoa humana e da família, conforme preconiza a Constituição Federal, em seu artigo 221, IV. Outro fator de grande importância é a questão da habitação. A proliferação de favelas, cortiços, casas de tapera, de pau a pique, etc., propiciam a promiscuidade, o desaparecimento de valores, desrespeito ao próximo, fazendo com que os que lá residem, por muitas vezes, se aproximem da prostituição, do tráfico de drogas, dos crimes contra o patrimônio e contra a vida. 9.3. Crescimento Populacional. O crescimento populacional desordenado ou não planejado figura como fator delitógeno. O aumento das taxas criminais por áreas geográficas é proporcional ao crescimento da respectiva densidade demográfica populacional, conforme estudos da Escola de Chicago. 9.4. Preconceito. Penteado Filho sustenta que preconceito é a idéia negativa pré-concebida. Discriminação é o preconceito em ação. A doutrina da superioridade racial é cientificamente falsa, moralmente condenável, socialmente injusta e perigosa. Não existem desculpas para a discriminação racial. A discriminação entre as pessoas por motivos de raça, cor ou origem étnica é um obstáculo às relações amistosas e pacíficas entre as nações, sendo capaz de perturbar a paz entre os povos e a harmonia de pessoas vivendo lado a lado. A abolição da escravatura deixou marcas indeléveis nos descendentes da diáspora africana, os quais até hoje encontram dificuldades de acesso a pirâmide social e econômica. Com a abolição, verificaram-se três conseqüências: a migração, a favelização e a instalação da criminalidade. 9.5. Educação. A educação e o ensino são fatores inibitórios da criminalidade. A educação informal (família e sociedade) e a formal (escola) assumem relevância indisfarçável na modelagem da personalidade humana. 10. CRIMINOLOGIA CLÍNICA. Criminologia clínica é a ciência que, valendo-se dos conceitos, princípios e métodos de investigação médico-psicológicos (e sociofamiliares), ocupa-se do indivíduo condenado, para nele investigar a dinâmica de sua conduta criminosa, sua personalidade, seu ―estado-perigoso‖ (diagnóstico) e suas perspectivas de desdobramentos futuros (prognóstico) para, assim, propor estratégias de intervenção, com vistas à superação ou contenção de uma possível tendência criminal e a evitar a reincidência (tratamento). Importante registrar que seu objeto primordial é o exame criminológico. 11. AS MODERNAS TEORIAS ANTROPOLÓGICAS Inegável que a Criminologia possui raízes históricas nos estudos antropológicos, ligados à antropometria (estudo das características corporais e sua relação com a criminalidade). Embora recusada a teoria dos criminosos nato formulada por Lombroso, os estudos antropológicos modernos herdaram um pouco daquela análise positivista. As divisões que seguem derivam de Penteado Filho. A) Endocrinologia Desde o século XX foram realizados estudos visando associar o comportamento humano criminógeno com os processos hormonais ou endócrinos patológicos ou ainda com certas disfunções glandulares internas. Tal idéia surgiu com a noção de que homem, que essencialmente é um ser químico, poderia com qualquer alteração hormonal, modificar seu comportamento e personalidade. Di Tullio aponta as conclusões dos estudos endocrinológicos: Notas de hipertireoidismo e de hipersuprarrenalismo em delinqüentes e homicidas e sanguinários constitucionais; Distireoidismo nos criminosos ocasionais impulsivos; Distireoidismo e dispituitarismo (diminuição da combustão orgânica) nos criminosos contra a moral e os bons costumes; Hipertireoidismo nos delinqüentes violentos; Dispituitarismo nos ladrões, falsificadores e estelionatários. B) Genética e hereditariedade Os avanços na engenharia genética causaram inúmeras questões atinentes à hereditariedade criminal, renovando, de certo modo, a corrente do atavismo (produto da regressão, não da evolução das espécies). Pablo de Molinas e Luiz Flávio Gomes revelam que dois dados estatísticos foram comprovados: 1º) Percentual de indivíduos unidos por consangüinidade entre doentes mentais, e; 2º) Presença de um fator hereditário degenerativo ou doentio muito superior em delinqüentes do que em não criminosos (hereditariedade pejorativa). Importante ressaltar que nem todos os dados biológicos podem ser atribuídos a hereditariedade, pois existem fenômenos como ―mutações genéticas‖ e ―rebeliões contra a identidade‖. Nas pesquisas sobre carga hereditária há preferência sobre os estudos de: Famílias criminais (famílias com descendentes criminosos) as investigações não demonstraram que a degeneração transmitida por via hereditária, era causa de criminalidade; Gêmeos – os primeiros estudos relevaram maior incidência de casos criminais em gêmeos idênticos e menor incidência nos bivitelinos; Adotados – analisou-se a interação dos filhos adotados com os pais, e conclui-se que os filhos biológicos de criminosos cometem mais crimes que os adotados. Conclui-se ainda que o comportamento criminal se apresenta de forma mais evidente nos filhos adotados que possuem pais biológicos com antecedentes criminais do que em razão do convívio com pais adotivos criminosos. Malformações cromossômicas – demonstram que as disfunções eram diagnosticadas em virtude do excesso de cromossomos ou de um defeito na composição dos gonossomos ou cromossomos sexuais. 12. Psicopatologia Criminal. Em medicina legal, sob a rubrica da psicopatologia criminal ou psicopatologia forense, dois grandes ramos da ciência médica se envolvem: 1ª) A Psicologia Criminal – que tem por objeto de estudo a personalidade ―normal‖ e os fatores que podem influenciá-la, quer sejam de ordem biológica, do meio ambiente ou social, e; 2ª) A Psiquiatria Criminal – que tem por objeto de estudo os transtornos anormais da personalidade, isto é, doenças mentais, retardos mentais, demênciais, esquizofrenias e outros transtornos, de índolepsicótica ou não. 12.1. Distúrbios Mentais e crime O CID-10 descreve dez tipos de transtornos específicos de personalidade, são eles7: Transtorno da Personalidade Paranóide Padrão de desconfiança suspeitas, de modo que os motivos dos outros são interpretados como malévolos; Nesse tipo de transtorno, o paciente desenvolve uma supervalorização de si mesmo, apresentando grande dificuldade de consideração e respeito ao outro; É um padrão de distanciamento dos relacionamentos sociais, com uma faixa restrita 7 Fonte: http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_1403/artigo_sobre_criminologia Transtorno da Personalidade Esquizóide de expressão emocional; é caracterizado pela dificuldade ou incapacidade de experimentar prazer, frieza emocional, afetividade distanciada, capacidade limitada para expressar os sentimentos, preferência por atividades solitárias. Geralmente são vistos como indivíduos excêntricos, esquisitos; Transtorno da Personalidade Esquizotípica É um padrão de desconforto agudo em relacionamentos íntimos, distorções cognitivas ou da percepção de comportamento excêntrico; Transtorno da Personalidade anti-social É um padrão de desconsideração e violação dos direitos dos outros; O indivíduo é considerado mentiroso, enganador e impulsivo, sempre procurando obter vantagens sobre os outros; Transtorno da Personalidade Bordeline É um padrão de instabilidade nos relacionamentos interpessoais, auto-imagem e afetos, bem como de acentuada impulsividade; Há a indiferença e insensibilidade diante dos sentimentos alheios, atitude persistente de irresponsabilidade e desprezo por normas, regras e obrigações sociais estabelecidas; São capazes de cometer crimes cruéis, embora jamais vistas pelos portadores desta forma, razão pela qual é um dos transtornos mais estudados pela psiquiatria; É um padrão de excessiva emotividade e busca de atenção; é caracterizado pela dramatização, Transtorno da Personalidade Histriônica teatralidade e expressão exagerada de emoções. Apreciação por outros e por atividades em que seja o centro das atenções; Transtorno da Personalidade Narcisista É um padrão de excessiva emotividade e busca de atenção; Transtorno da Personalidade Esquiva É um padrão de inibição social, sentimentos de inadequação e hipersensibilidade a avaliações negativas; O indivíduo é exageradamente tímido, muito sensíveis a críticas, evitando atividades sociais ou relacionamentos com outros; Transtorno da Personalidade Dependente É um padrão de comportamento submisso e aderente, relacionado a uma necessidade excessiva de proteção e cuidados; O indivíduo possui dificuldades para tomar decisões, necessitam que os outros assumam a responsabilidade de seus atos; Transtorno da Personalidade Obsessivo-Compulsiva É um padrão de preocupação com organização, perfeccionismo e controle. Dignos de notas, outros transtornos, como os psicóticos (esquizofrenia), de humor e de ansiedade: Esquizofrenia e outros transtornos psicóticos (DSM – IV)8 Transtorno Sintomas É uma perturbação que dura pelo menos 6 meses e inclui pelo menos um mês de 8 Fonte: http://www.psicnet.psc.br/v2/site/dicionario/registro_default.asp?ID=409 Esquizofrenia sintomas da fase ativa (isto é, dois, ou mais, dos seguintes: delírios, alucinações, discurso desorganizado, comportamento amplamente desorganizado ou catatônico, sintomas negativos). Esta seção também inclui definições para os subtipos de Esquizofrenia (Paranóide, Desorganizado, Catatônico, Indiferenciado e Residual). Transtorno Esquizofreniforme Caracteriza-se por um quadro sintomático equivalente à Esquizofrenia, exceto por sua duração (isto é, a perturbação dura de 1 a 6 meses) e ausência da exigência de um declínio no funcionamento. Transtorno Esquizoafetivo É uma perturbação na qual um episódio de humor e sintomas da fase ativa da Esquizofrenia ocorrem juntos e foram precedidos ou seguidos por pelo menos 2 semanas de delírios ou alucinações sem sintomas proeminentes de humor. Transtorno Delirante Caracteriza-se por pelo menos um mês de delírios não-bizarros sem outros sintomas da fase ativa da Esquizofrenia. Transtorno Psicótico Breve É uma perturbação psicótica com duração maior que 1 dia e remissão em 1 mês. Transtorno Psicótico Compartilhado É uma perturbação que se desenvolve em um indivíduo influenciado por outra pessoa com um delírio estabelecido de conteúdo similar. Transtorno Psicótico Devido à uma condição médica Geral Os sintomas psicóticos são considerados uma conseqüência fisiológica direta de uma condição médica geral. Transtorno Psicótico Induzido por Substância Os sintomas psicóticos são considerados uma conseqüência fisiológica direta de uma droga de abuso, um medicamento ou exposição a toxina. Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação É incluído para a classificação de quadros psicóticos que não satisfazem os critérios para qualquer dos Transtornos Psicóticos específicos definidos nesta seção ou de uma sintomatologia psicótica acerca da qual existem informações inadequadas ou contraditórias. Transtorno de Humor9 Transtornos Sintomas Transtorno Depressivo Maior Caracteriza-se por um ou mais Episódios Depressivos Maiores (isto é, pelo menos 2 semanas de humor deprimido ou perda de interesse, acompanhados por pelo menos quatro sintomas adicionais de depressão). Transtorno Distímico Caracteriza-se por pelo menos 2 anos de humor deprimido na maior parte do tempo, acompanhado por sintomas depressivos adicionais que não satisfazem os critérios para 9 Fonte: http://www.psicologiamsn.com/2011/01/transtornos-de-humor.html um Episódio Depressivo Maior. Transtorno Depressivo Sem Outra Especificação É incluído para a codificação de transtornos com características depressivas que não satisfazem os critérios para Transtorno Depressivo Maior, Transtorno Distímico, Transtorno de Ajustamento com Humor Deprimido ou Transtorno de Ajustamento Misto de Ansiedade e Depressão (ou sintomas depressivos acerca dos quais existem informações inadequadas ou contraditórias). Transtorno Bipolar I É caracterizado por um ou mais Episódios Maníacos ou Mistos, geralmente acompanhados por Episódios Depressivos Maiores. Transtorno Bipolar II Caracteriza-se por um ou mais Episódios Depressivos Maiores, acompanhado por pelo menos um Episódio Hipomaníaco. Transtorno Ciclotímico É caracterizado por pelo menos 2 anos com numerosos períodos de sintomas hipomaníacos que não satisfazem os critérios para um Episódio Maníaco e numerosos períodos de sintomas depressivos que não satisfazem os critérios para um Episódio Depressivo Maior. Transtorno Bipolar Sem É incluído para a codificação de transtornos com aspectos bipolares que não satisfazem os critérios para qualquer dos Transtornos Bipolares específicos definidos nesta seção (ou Outra Especificação sintomas bipolares acerca dos quais há informações inadequadas ou contraditórias).Transtorno do Humor Devido a uma Condição Médica Geral É caracterizado por uma perturbação proeminente e persistente do humor, considerada uma conseqüência fisiológica direta de uma condição médica geral. Transtorno do Humor Induzido por Substância Caracteriza-se por uma perturbação proeminente e persistente do humor, considerada uma conseqüência fisiológica direta de uma droga de abuso, um medicamento, outro tratamento somático para a depressão ou exposição a uma toxina. Transtorno do Humor Sem Outra Especificação É incluído para a codificação de transtornos com sintomas de humor que não satisfazem os critérios para qualquer Transtorno do Humor específico, e nos quais é difícil escolher entre Transtorno Depressivo Sem Outra Especificação e Transtorno Bipolar Sem Outra Especificação (por ex., agitação aguda). A ansiedade é um estado emocional de apreensão, uma expectativa que algo ruim aconteça, acompanhada de várias reações físicas e mentais desfavoráveis. Podem ser assim classificados: Transtornos de Ansiedade10 Transtornos Sintomas 10 Fonte: http://www.psicosite.com.br/cla/d_ansiedade.htm Transtorno de Pânico Sem Agorafobia Ataques de Pânico recorrentes e inesperados. Pelo menos um dos ataques foi seguido pelo período mínimo de 1 mês com uma (ou mais) das seguintes características: (a) preocupação persistente acerca de ter ataques adicionais (b) preocupação acerca das implicações do ataque ou suas conseqüências (p. ex., perder o controle, ter um ataque cardíaco, enlouquecer) (c) uma alteração comportamental significativa relacionada aos ataques. Transtorno de Pânico Com Agorafobia Ataques de Pânico recorrentes e inesperados. Pelo menos um dos ataques foi seguido pelo período mínimo de 1 mês com uma (ou mais) das seguintes características: (a) preocupação persistente acerca de ter ataques adicionais (b) preocupação acerca das implicações do ataque ou suas conseqüências (p. ex., perder o controle, ter um ataque cardíaco, enlouquecer) (c) uma alteração comportamental significativa relacionada aos ataques. Agorafobia Sem Histórico de Transtorno de Pânico Presença de Agorafobia relacionada ao medo de desenvolver sintomas tipo pânico (p. ex., tontura ou diarréia) Medo acentuado e persistente, excessivo ou irracional, revelado pela presença ou antecipação de um objeto ou situação fóbica (p. Fobia Específica ex., voar, alturas, animais, tomar uma injeção, ver sangue). A exposição ao estímulo fóbico provoca, quase que invariavelmente, uma resposta imediata de ansiedade, que pode assumir a forma de um Ataque de Pânico ligado à situação ou predisposto pela situação. Nota: Em crianças, a ansiedade pode ser expressada por choro, ataques de raiva, imobilidade ou comportamento aderente. O indivíduo reconhece que o modo é excessivo ou irracional. Nota: Em crianças, esta característica pode estar ausente. A situação fóbica (ou situações) é evitada ou suportada com intensa ansiedade ou sofrimento. A esquiva, antecipação ansiosa ou sofrimento na situação temida (ou situações) interfere significativamente na rotina normal do indivíduo, em seu funcionamento ocupacional (ou acadêmico) ou em atividades ou relacionamentos sociais, ou existe acentuado sofrimento acerca de ter a fobia. Em indivíduos com menos de 18 anos, a duração mínima é de 6 meses. Medo acentuado e persistente de uma ou mais situações sociais ou de desempenho, nas quais o indivíduo é exposto a pessoas estranhas ou ao possível escrutínio por terceiros. O indivíduo Fobia Social teme agir de um modo (ou mostrar sintomas de ansiedade) que lhe seja humilhante e vergonhoso. Nota: Em crianças, deve haver evidências de capacidade para relacionamentos sociais adequados à idade com pessoas que lhes são familiares e a ansiedade deve ocorrer em contextos que envolvem seus pares, não apenas em interações com adultos. A exposição à situação social temida quase que invariavelmente provoca ansiedade, que pode assumir a forma de um Ataque de Pânico ligado a situação ou predisposto por situação. Nota: Em crianças, a ansiedade pode ser expressa por choro, ataques de raiva, imobilidade ou afastamento de situações sociais com pessoas estranhas. A pessoa reconhece que o medo é excessivo ou irracional. Nota: Em crianças, esta característica pode estar ausente. As situações sociais e de desempenho temidas são evitadas ou suportadas com intensa ansiedade ou sofrimento. A esquiva, a antecipação ansiosa u o sofrimento na situação social ou de desempenho temida interferem significativamente na rotina, no funcionamento ocupacional (acadêmico), em atividades sociais ou relacionamentos do indivíduo, ou existe sofrimento acentuado por ter a fobia. Em indivíduos com menos de 18 anos, a duração é de no mínimo 6 meses. Transtorno Obsessivo- Compulsivo Pensamentos impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum momento durante a perturbação, são experimentados como intrusivos e inadequados e causam acentuada ansiedade ou sofrimento. Os pensamentos, impulsos ou imagens não são meras preocupações excessivas com problemas da vida real. A pessoa tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens, ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação. A pessoa reconhece que os pensamentos, impulsos ou imagens obsessivas são produto de sua própria mente (não impostos a partir de fora, como na inserção de pensamentos) Transtorno de Estresse Pós- Exposição a um evento traumático no qual os seguintes quesitos estiveram presentes: a pessoa vivenciou, testemunhou ou foi confrontada com um ou mais eventos que envolveram morte ou grave ferimento, reais ou ameaçados, ou uma ameaça à integridade física, própria ou de outros; a resposta da pessoa envolveu intenso medo, impotência ou horror, Nota: Em crianças, isto pode ser expressado por um comportamento Traumático desorganizado ou agitado. O evento traumático é persistentemente revivido em uma (ou mais) das seguintes maneiras: (1) recordações aflitivas, recorrentes e intrusivas do evento, incluindo imagens, pensamentos ou percepções. Nota: Em crianças pequenas, podem ocorrer jogos repetitivos, com expressão de temas ou aspectos do trauma. (2) Sonhos aflitivos e recorrentes com o evento. Nota: Em crianças podem ocorrer sonhos amedrontadores sem um conteúdo identificável. (3) Agir ou sentir como se o evento traumático estivesse ocorrendo novamente (inclui um sentimento de revivência da experiência, ilusões, alucinações e episódios de flashbacks dissociativos inclusive aqueles que ocorrem ao despertar ou quando intoxicado). Nota: Em crianças pequenas pode ocorrer reencenação específica do trauma. (4) Sofrimento psicológico intenso quando da exposição a indícios internos ou externos que simbolizam ou lembram algum aspecto do evento traumático. (5) Reatividade fisiológica na exposição a indícios internos ou externos que simbolizam ou lembram algum aspecto do evento traumático. Esquiva persistente de estímulos associados com o trauma e entorpecimento da reatividade geral (não presente antes do trauma), indicados por três (ou mais) dos seguintesquesitos. (1) esforços no sentido de evitar pensamentos, sentimentos ou conversas associadas com o trauma; (2) esforços no sentido de evitar atividades, locais ou pessoas que ativem recordações do trauma; (3) incapacidade de recordar algum aspecto importante do trauma; (4) redução acentuada do interesse ou da participação em atividades significativas; (5) sensação de distanciamento ou afastamento em relação a outras pessoas; (6) faixa de afeto restrita (p. ex., incapacidade de ter sentimentos de carinho); (7) sentimento de um futuro abreviado (p. ex., não espera ter uma carreira profissional, casamento, filhos ou um período normal de vida). Sintomas persistentes de excitabilidade aumentada (não presentes antes do trauma), indicados por dois (ou mais) dos seguintes quesitos: (1) dificuldade em conciliar ou manter o sono; (2) irritabilidade ou surtos de raiva; (3) dificuldade em concentrar-se; (4) hipervigilância; (5) resposta de sobressalto exagerada A duração da perturbação (sintomas dos Critérios B, C e D) é superior a 1 mês. A perturbação causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. Transtorno de Estresse Agudo Exposição a um evento traumático no qual ambos os seguintes quesitos estiveram presentes: (1) a pessoa vivenciou, testemunhou ou foi confrontada com um ou mais eventos que envolveram morte ou sérios ferimentos, reais ou ameaçados, ou uma ameaça à integridade física, própria ou de terceiros. (2) a resposta da pessoa envolveu intenso medo, impotência ou horror. Enquanto vivenciava ou após vivenciar o evento aflitivo, o indivíduo tem três (ou mais) dos seguintes sintomas dissociativos: (1) um sentimento subjetivo de anestesia, distanciamento ou ausência de resposta emocional; (2) uma redução da consciência quanto às coisas que o rodeiam (p. ex., ¨estar como em um sonho¨); (3) desrealização; (4) despersonalização; (5) amnésia dissociativa (i. é, incapacidade de recordar um aspecto importante do trauma). O evento traumático é persistentemente revivido no mínimo de uma das seguintes maneiras: imagens, pensamentos, sonhos, ilusões e episódios de flashbacks recorrentes, uma sensação de reviver a experiência, ou sofrimento quando da exposição a lembranças do evento traumático. Acentuada esquiva de estímulos que provocam recordações do trauma (p. ex., pensamaentos, sentimentos, conversas, atividades, locais e pessoas). Sintomas acentuados de ansiedade ou maior excitabilidade (p. ex., dificuldade para dormir, irritabilidade, fraca concentração, hipervigilância, resposta de sobressalto exagerada, inquietação motora). A perturbação causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo e prejudica sua capacidade de realizar alguma tarefa necessária, tal como obter o auxílio necessário ou mobilizar recursos pessoais, contando aos membros da família acerca da experiência traumática. A perturbação tem duração mínima de 2 dias e máxima de 4 semanas, e ocorre dentro de 4 semanas após o evento traumático. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral, não é mais bem explicada por um Transtorno Psicótico Breve, nem representa uma mera exacerbação de um transtorno preexistente do Eixo I ou Eixo II. Ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva), ocorrendo na maioria dos dias pelo período mínimo de 6 meses, com diversos eventos ou atividades (tais como desempenho escolar ou profissional). O indivíduo considera difícil controlar a preocupação. A ansiedade e a preocupação estão associadas com três (ou mais) dos seguintes seis sintomas (com pelo menos alguns deles presentes na maioria dos dias nos últimos 6 meses). Nota: Apenas um item é exigido para crianças. (1) inquietação ou sensação de estar com os Transtorno de Ansiedade Generalizada nervos à flor da pele; (2) fatigabilidade; (3) dificuldade em concentrar-se ou sensações de ¨branco¨ na mente; (4) irritabilidade; (5) tensão muscular; (6) perturbação do sono (dificuldades em conciliar ou manter o sono, ou sono insatisfatório e inquieto). O foco da ansiedade ou preocupação não está confinado a aspectos de um transtorno do Eixo I; por exemplo, a ansiedade ou preocupação não se refere a ter um Ataque de Pânico (como no Transtorno de Pânico), ser envergonhado em público (como na Fobia Social), ser contaminado (como no Transtorno Obsessivo- Compulsivo), ficar afastado de casa ou de parentes próximos (como no Transtorno de Ansiedade de Separação), ganhar peso (como na Anorexia Nervosa), ter múltiplas queixas físicas (como no Transtorno de Somatização) ou ter uma doença grave (como na Hipocondria), e a ansiedade ou preocupação não ocorre exclusivamente durante o Transtorno de Estresse Pós-Traumático. A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral (p. ex., hipertireoidismo) nem ocorre exclusivamente durante um Transtorno do Humor, Transtorno Psicótico ou Transtorno Global do Desenvolvimento. 12.2. Psicopatia e Psicopatologia A psicopatia é caracterizada pela extremada insensibilidade aos sentimentos alheios, que o leva a uma acentuada indiferença afetiva, podendo como via de conseqüência assumir um comportamento delitivo. É bem verdade que o portador da psicopatia não é um doente, na acepção da palavra, no entanto ele vive à margem da normalidade emocional e comportamental. Suas principais características são: charme superficial, superestima, tendência ao tédio, mentiroso contumaz, manipulador, ausência de culpa ou remorso, insensibilidade afetiva, indiferença, descontrole comportamental, impulsividade, ausência de objetivos reais a longo prazo, irresponsabilidade e incapacidade de aceitar os próprios erros, promiscuidade sexual, transtornos de conduta na infância, etc. Já a psicopatologia possui maior incidência nas vítimas e criminosos. Dentre os possíveis transtornos, destaque para os de ansiedade: Transtorno obsessivo- compulsivo (TOC), estresse pós-traumático, estresse dissociativo, etc. 13. Exame Criminológico De acordo com as lições de Penteado Filho, denomina-se exame criminológico o conjunto de pesquisas científicas de cunho biopsicossocial do criminoso para levantar um diagnóstico de sua personalidade e, assim, obter um prognóstico criminal. Tem por objetivo detalhar a personalidade do delinqüente, sua imputabilidade, periculosidade, sensibilidade à pena e a probabilidade de sua correção. Segundo Renato Marcão, ―o exame criminológico é realizado para o resguardo da defesa social, e busca aferir o estado de temibilidade do delinqüente”. O exame criminológico deve ser pautado pela atuação multidisciplinar: médicos, psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, advogados, etc. Subdivisões do exame criminológico11: Exame Morfológico Análise somática, medidas e proporções do corpo humano,
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