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CT - Direito Processual Penal Comum e Militar

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ACADEMIA DE BOMBEIRO MILITAR – ABM
DIREITO PROCESSUAL PENAL COMUM E MILITAR
 
 
 
 
 
 
Al
 
 
 
 
ACADEMIA DE BOMBEIRO MILITAR 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
COMUM E MILITAR
 
 
 
Porto Alegre/RS
2021 
 
ACADEMIA DE BOMBEIRO MILITAR – ABM
DIREITO PROCESSUAL PENAL COMUM E MILITAR
CADERNO TEMÁTICO DE DIREITO PROCESSUAL PENAL COMUM
E MILITAR
Comandante Geral do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio Grande do Sul
CEL QOEM CÉSAR EDUARDO BONFANTI
 Diretor da Academia de Bombeiro Militar
TEN CEL QOEM CARLOS ALBERTO DA SILVA SOUTO
Orientador
MAJ QOEM RICARDO ARRUBES TOMAZ
Organizador
TEN EDUARDO LAMB MACHADO
Colaboração Técnica
TC QOEM JOSÉ CARLOS SALLET DE ALMEIDA E SILVA
MAJ QOEM ALESSANDRO VICENTE BAUER
MAJ QOEM VINÍCIUS OLIVEIRA BRAZ DEPRÁ
MAJ QOEM RICARDO ARRUBES TOMAZ
MAJ QOEM JOEL LUÍS DITTBERNER
CAP QOEM RICARDO COELHO
TEN EDUARDO LAMB MACHADO
Porto Alegre / 2021
ACADEMIA DE BOMBEIRO MILITAR – ABM
DIREITO PROCESSUAL PENAL COMUM E MILITAR
 
SUMÁRIO
LIÇÃO 1 – DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 7
1. Unidade Didática 1 8
1.1. Contextualização do Direito Processual Penal 8
1.2. Princípios do Direito Processual Penal 9
1.2.1. Princípio da presunção da inocência ou da não culpabilidade 9
1.2.1. Imparcialidade do juiz 10
1.2.2. Igualdade processual 10
1.2.3. Contraditório 10
1.2.4. Ampla defesa 11
1.2.5. Da ação ou demanda 11
1.2.6. Da disponibilidade e da indisponibilidade. 12
1.2.7. Oficialidade 12
1.2.8. Oficiosidade 13
1.2.9. Do impulso oficial 13
1.2.10. Da motivação das decisões judiciais 13
1.2.11. Lealdade processual 14
1.2.12. Celeridade processual 14
1.2.13. Duplo grau de jurisdição 14
1.2.14. Juízo natural 15
ACADEMIA DE BOMBEIRO MILITAR – ABM
DIREITO PROCESSUAL PENAL COMUM E MILITAR
1.3.1. Jurisdição e Competência 16
1.3.2. Fixação de Competência 19
1.3.3. Sujeitos Processuais 26
1.3.4. Juizados Especiais Criminais 26
1.3.4.1. Previsão Constitucional 26
1.3.4.2. Juizado Especial Criminal 28
1.3.4.3. Causas de afastamento, deslocamento do JECRIM. 30
1.3.4.4. Do procedimento sumaríssimo 32
LIÇÃO 2 – DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR 38
2.1.1. Histórico da Justiça Militar 39
2.1.2. Estrutura e funcionamento da Justiça Militar 41
2.1.3. Do crime militar 50
2.1.4. Conselho Permanente e Conselho Especial de Justiça 53
2.1.4.1. Procedimento do Conselho de Disciplina. 59
2.1.4.2. Procedimento de Licenciamento a bem da Disciplina. 62
2.1.5. Princípios aplicados no Processo Penal Militar 64
2.1.5.1. Princípio do Juiz Natural 65
2.1.5.2. Princípio do Estado de Inocência 65
2.1.5.3. Princípio da Obrigatoriedade 66
2.1.5.4. Princípio da Publicidade 66
2.1.6. Da aplicação da Lei Processual Penal Militar 67
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DIREITO PROCESSUAL PENAL COMUM E MILITAR
2.1.6.1. Fontes do Direito Penal Militar 67
2.1.6.2. Interpretação da lei processual penal militar 67
2.1.6.3. Aplicação no espaço e no tempo 69
2.1.7. Autoridades de Polícia Judiciária Militar 70
2.1.8. Atribuições da Polícia Judiciária Militar 72
2.1.9. Competências de Polícia Judiciária Militar 73
LIÇÃO 3 – DOS PROCEDIMENTOS EM ESPÉCIE 77
3.1.1. Do Inquérito Policial Militar; 78
3.1.2. Sindicância Policial Militar e Inquérito Policial Militar. 84
3.1.3. Da Deserção. 86
3.1.4. Consideração acerca dos Militares Federais e Militares dos Estados 93
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 98
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DIREITO PROCESSUAL PENAL COMUM E MILITAR
LIÇÃO 1 – DO DIREITO
PROCESSUAL PENAL
Objetivos:
Ao final desta lição você será capaz de:
1) Conhecer, compreender e revisar o conceito de Direito Processual Penal.
2) Conhecer, compreender e revisar alguns dos princípios do Direito Processual
Penal.
3) Conhecer, compreender e revisar os procedimentos do processo sumaríssimo do
Direito Processual Penal.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL COMUM E MILITAR
1. UNIDADE DIDÁTICA I
1.1. Contextualização do Direito Processual Penal
De acordo com Fernando Capez, o Estado, única entidade dotada de
poder soberano, é o titular exclusivo do direito de punir (para alguns, poder-dever
de punir). Mesmo no caso da ação penal exclusivamente privada, o Estado
somente delega ao ofendido a legitimidade para dar início ao processo, isto é,
confere-lhe o jus persequendi injudicio, conservando consigo a exclusividade do
jus puniendi (CAPEZ, 2018, p. 43).
Estabelece o autor como sendo a finalidade do processo propiciar a
adequada solução jurisdicional do conflito de interesses entre o Estado-
Administração e o infrator, através de uma sequência de atos que compreendam
a formulação da acusação, a produção das provas, o exercício da defesa e o
julgamento da lide. (CAPEZ, 2018, p. 44).
Para a ocorrência da perfectibilização do processo necessário se faz a
relação jurídica processual e o procedimento, conforme aduz Fernando Capez:
[...] a relação jurídica processual, que se forma entre os
sujeitos do processo (juiz e partes), pela qual estes
titularizam inúmeras posições jurídicas, expressáveis em
direitos, obrigações, faculdades, ônus e sujeições
processuais.
[...] o procedimento, consiste em uma sequência ordenada
de atos interdependentes, direcionados à preparação de um
provimento final; é a sequência de atos procedimentais até
a sentença. (CAPEZ, 2018, p. 44) (Grifos nosso)
Por sua vez, o procedimento poderá ser comum ou especial. O comum
divide-se em: a) Ordinário, b) Sumário, c) Sumaríssimo. Terá o procedimento
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DIREITO PROCESSUAL PENAL COMUM E MILITAR
ordinário o crime cuja sanção máxima cominada for igual ou superior a quatro
anos de pena privativa de liberdade, ressalvados os casos legais de rito especial.
Será de rito sumário o crime cuja sanção mínima seja superior a dois anos e a
máxima cominada seja inferior a quatro anos de pena privativa de liberdade,
ressalvados os casos de procedimento especial. Por último, mas não menos
importante, o rito sumaríssimo encontra guarida na Lei nº 9.099/95 em seu Art.
61, ao tratar das infrações de menor potencial ofensivo, abrangendo as
contravenções e os crimes cuja pena máxima não exceda a dois anos, ainda que
haja previsão de rito especial.
Para um correto processamento entre o Estado-Juiz e as partes, está
relação é lastreada em princípios estabelecidos na Carga Magna, bem como em
legislação infraconstitucional, a seguir retratados.
1.2. Princípios do Direito Processual Penal
Por se tratar o direito processual penal de uma forma de parametrização
da prestação jurisdicional do Estado-Juiz, esse deve estar pautado por um vetor
principal, ou seja, pela Constituição Federal, garantindo aos imputados a
imparcialidade não perdendo a efetividade jurisdicional e não permitindo
arbitrariedades Estatais.
Alguns princípios norteadores do processo penal estão disciplinados de
forma expressa na própria Constituição Federal, outros decorrem da aplicação
sistemática constitucional.
Inaugura-se, agora, a análise dos princípios gerais informadores do
processo.
1.2.1. Princípio da presunção da inocência ou da não culpabilidade
Presunção de inocência, presunção de não culpabilidade e estado de
inocência são denominações tratadas como sinônimas pela mais recente
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DIREITO PROCESSUAL PENAL COMUM E MILITAR
doutrina. Trata-se de princípio que foi inserido expressamente no ordenamento
jurídico brasileiro pela Constituição, cuidando do estado de inocência de forma
ampla, isto é, de forma mais abrangente que a Convenção Americana de direitos
humanos (ratificada pelo Brasil pelo decreto 678/92), na medida em que
estabeleceuque “toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se
presuma a sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa”
(art. 8, Item 2), enquanto que a Constituição da República Federativa do Brasil
dispôs como limite da presunção da não culpabilidade o transito em julgado da
sentença penal condenatória (CORDEIRO, 2016).
1.1.1. Imparcialidade do juiz
Sobre esse princípio aduz Capez:
O juiz situa-se na relação processual entre as partes e
acima delas (caráter substitutivo), fato que, aliado à
circunstância de que ele não vai ao processo em nome
próprio, nem em conflito de interesses com as partes. Torna
essencial a imparcialidade do julgador (CAPEZ, 2007, p.
18).
1.1.2. Igualdade processual
Com acendo na Carta Magna, a qual trás a baila que todas às pessoas
são iguais perante a lei, conforme Art. 5º, caput; assim às partes, quando em
demandas jurisdicionais, deverão ter as mesmas oportunidades processuais, ou
seja, de fazer valer às suas pretensões, sendo tratadas na medida de suas
igualdades e desigualadas na oportunidade que desigualam-se das demais.
1.1.3. Contraditório
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DIREITO PROCESSUAL PENAL COMUM E MILITAR
O princípio do contraditório, estabelecido no Art. 5º, LV, da Constituição
Federal, tem por escopo oportunizar às partes envolvidas na lide o conhecimento
das alegações apresentadas em juízo pela parte contrária e contra esse poder
contrapor os argumentos apresentados, manifestando questões de fato e de
direito para influenciar no convencimento do magistrado.
Importante destacar, que em casos de urgência na hipótese de ver-se o
perecimento do objeto em virtude da demora da prestação jurisdicional, poderá o
magistrado adotar medidas sem a comunicação da parte contrária ( inautida altera
parte). A domada de uma decisão do Estado-Juiz, sem a comunicação da parte
contrária não é uma exceção ao princípio do contraditório, uma fez que para a
prolatação da sentença será dada vistas a parte contrária do ato praticado pelo
magistrado.
1.1.4. Ampla defesa
Assim como o princípio do contraditório, a ampla defesa possui previsão
Constitucional no Art. 5º, LV, possibilitando ao acusado a mais completa defesa,
podendo ser ela pessoal (autodefesa) ou técnica (efetuada por um defensor).
A ampla defesa envolve, também o dever do Estado em prestar
assistência técnica àquelas pessoas necessitadas, de acordo com o estatuído no
Art. 5º, LXXIV, a saber:
[...]
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e
gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos;
1.1.5. Da ação ou demanda
É atribuição da parte a provocação jurisdicional para atuação do Estado-
Juiz, uma vez que os órgãos responsáveis pela prestação jurisdicional são
inertes. Pode-se destacar como prestação jurisdicional a capacidade do Estado,
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DIREITO PROCESSUAL PENAL COMUM E MILITAR
pelo intermédio dos órgãos do Poder Judiciário, em resolver uma lide, ou seja,
satisfazer uma pretensão.
1.1.6. Da disponibilidade e da indisponibilidade
Disponibilidade pode ser conceituada como a liberdade que as pessoas
detêm em exercer ou não seus direitos.
No âmbito do processo criminal, vige razão inversa, pois o crime é uma
lesão ou ameaça de lesão a bem juridicamente tutelado, nessa hipótese deve o
Estado-Juiz aplicar sanção quando ocorrido lesão ou ameaça de lesão a estes
bens juridicamente protegidos por ele.
Pode-se destacar como exemplo do princípio da indisponibilidade o dever
que possui a autoridade policial em realizar investigações preliminares, conforme
prevê o Art. 5º do Código de Processo Penal. Ainda, como exemplo, a autoridade
não pode arquivar o inquérito policial (Art. 17, do CPP).
Necessário destacar que a Constituição Federal, no Art. 98, I, admite
uma mitigação desse princípio, ao prever, com base no Art. 76 da Lei nº
9.099/95, a transação em infrações penais de ínfima potencialidade lesiva.
1.1.7. Oficialidade
O princípio da oficialidade consiste no dever do Estado-Juiz impulsionar
de forma automática o processo, mediante prévia provocação jurisdicional.
Conforme disciplina CAPEZ, “esse princípio deriva do princípio da
indisponibilidade do processo penal, assim os órgãos incumbidos da prestação
jurisdicional deverão pertencer ao Estado, sendo essa função eminentemente
pública, deverá ser praticada por agentes públicos”. (CAPEZ, 2007, p. 22).
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1.1.8. Oficiosidade
Esse princípio estabelece que as autoridades públicas relacionadas à
atividade pré-processual e processual devem agir de ofício, não sendo exigido
provocação de parte interessada.
Entretanto, ocorre uma mitigação do princípio da oficiosidade nos casos
de ação penal privada e ação penal pública condicionada à representação,
conforme estatuído no Art. 5º, §5º do CPP, nas hipóteses que só poderá às
autoridades atuar mediante manifestação da parte interessada.
1.1.9. Do impulso oficial
O princípio do impulso oficial estabelece que, após iniciada a relação
processual, compete ao magistrado dar seguimento aos atos procedimentais, até
o término da prestação jurisdicional, isto é, a prolatação de sentença.
1.1.10. Da motivação das decisões judiciais
Com previsão na Constituição Federal, Art. 93, IX, as decisões judiciais
devem sempre ser motivadas.
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal
Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura,
observados os seguintes princípios:
[...]
X todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário
serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob
pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em
determinados atos, às próprias partes e a seus advogados,
ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do
direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o
interesse público à informação; (Grifos nosso)
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DIREITO PROCESSUAL PENAL COMUM E MILITAR
1.1.11. Lealdade processual
Para que exista a solução de um litígio, deverá haver um relacionamento
entre o Estado e as partes envolvidas, com o objetivo precípuo de solucionar a
lide, atuando ambos em harmonia para o deslinde de conclusão da prestação
jurisdicional adequada ao caso concreto.
Corrobora com esse entendimento Fernando Capez:
O princípio da lealdade processual consubstancia-se na
boa-fé, ou seja, no dever de verdade, devendo-se evitar
meios fraudulentos sob pena de acarretar sanções de
ordem processual (CAPEZ, 2007, p. 25).
Importante destacar que o princípio da lealdade processual não encontra
guarida de forma expressa no Código de Processo Penal, entretanto o Estado
tutelou como bem jurídico relevante, atribuindo como infração penal, com
previsão no Art. 347 do Código Penal.
1.1.12. Celeridade processual
Com fundamento Constitucional, previsto no Art. 5º, LXXVIII, o qual
estabelece a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a
razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação.
1.1.13. Duplo grau de jurisdição
Conforme disciplina CAPEZ “trata-se da possibilidade de revisão, por via
de recurso, das causas já julgadas pelo juiz de primeiro grau”. (CAPEZ, 2007, p.
26).
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DIREITO PROCESSUAL PENAL COMUM E MILITAR
Com acento Constitucional, esse princípio decorre da própria estrutura do
Poder Judiciário, com previsão nos artigos 102, II, 105, II e 108, II.
Há hipóteses em que o duplo grau de jurisdição não é possível, trata-se
de casos de competência originária do Supremo Tribunal Federal, com previsão
no Art. 102, I da Carta Magna.
1.1.14. Juízo natural
Trata-se o princípio do juízo natural que ninguém será sentenciado senão
pelo juiz competente. Istosignifica que em hipótese alguma será uma pessoa
julgada por tribunal de exceção. Assim, todos têm a garantia de verem-se
processados e julgados por órgão do Poder Judiciário, possuindo, dessa
maneira, todas as garantias institucionais e pessoais previstas da Carta Magna
(Art. 5º, LIII,).
1.2. Direito Processual Penal
Na oportunidade em que o homem passou a interagir com seus
semelhantes, constituindo e vivendo em sociedade, surge a necessidade do
estabelecimento de controles, regras de convivência, abrangendo os mais
variados assuntos e interesses coletivos e individuais. Assim, o homem abriu
mão de liberdades individuais em prol da coletividade, instituindo-se a figura do
Estado.
O Estado, por intermédio do Direito, regulamenta, em última análise, as
relações em sociedade, e no caso do Direito Penal, estabelecendo bens jurídicos
que devem ser protegidos.
ACADEMIA DE BOMBEIRO MILITAR – ABM
DIREITO PROCESSUAL PENAL COMUM E MILITAR
O Direito Processual Penal tem por finalidade instrumentalizar as ações
do Estado-Juiz para a aplicação do direito ao caso concreto, assim necessário
estabelecer jurisdição e competência para a solução de conflitos (lide).
1.2.1. Jurisdição e Competência
Por jurisdição compreende-se o poder que o Estado detém para aplicar o
direito a um caso em concreto, com a finalidade de resolver conflitos de
interesses entre partes litigantes, resguardando a ordem jurídica, bem como a
autoridade da lei.
Nesse sentido, a jurisdição é a realização do direito, em outras palavras
“dizer o direito” por intermédio de um terceiro imparcial, o Estado-Juiz na figural
do Juiz.
Assim disciplina Fernando Capez, aduzindo que “considerando a origem
etimológica, está advém do latim jusis (Direito) e Dictio (dizer) que significa a
função de dizer o direito”. (CAPEZ, 2018, p. 295).
A jurisdição possui como características os seguintes itens:
● Substitutividade: Ao decidir ingressar com uma ação, ou seja,
iniciar um processo na esfera do judiciário, a parte está aceitando
que a sua vontade seja substituída pela vontade da lei. Assim, o juiz,
que deve ser imparcial e julgar de acordo com os limites e conceitos
definidos em lei, deixa de aplicar a vontade das partes, para aplicar
as normas do ordenamento jurídico. (CAPEZ, 2007, pg. 07).
● Lide: Outra característica essencial à jurisdição é a existência
de conflito entre as partes. À medida que X deseja algo e Y se nega
a atender sua vontade, o Estado é acionado como forma de
solucionar o conflito. (CAPEZ, 2007, pg. 09).
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DIREITO PROCESSUAL PENAL COMUM E MILITAR
● Inércia: O Estado deverá ser procurado pelas partes, não sendo
dado a ele iniciar uma ação processual sem que as partes tenham
decidido desse modo. (CAPEZ, 2007, pg. 08).
● Unidade: O ordenamento jurídico é uno, de forma a
proporcionar segurança jurídica de que as leis aplicadas em todo
território obedecem aos mesmos critérios, não havendo distinção de
interpretação ou julgamento. (CAPEZ, 2016, pg. 267).
● Imparcialidade: Conforme outrora mencionado, o juiz deve
julgar o caso concreto de modo imparcial, com base na lei e não em
critérios subjetivos. (CAPEZ, 2016, pg. 96).
● Definitividade: Após a lide ser resolvida pelo Poder Judiciário,
às partes só cabe aceitar a decisão, haja vista que após o fim do
processo, ocorre a coisa julgada, que impede as partes de
retornarem a discutir sobre o mesmo assunto.
A jurisdição é lastreada em princípios que visam nortear a atuação do
Estado-Juiz quando provocado para solucionar uma lide, assim compreendido:
● Princípio do Juiz Natural: estabelece que deve haver regras
objetivas de competência jurisdicional, garantindo a independência e
a imparcialidade do órgão julgador. Tal princípio está intimamente
ligado à vedação dos tribunais de exceção, visto que nestes não há
prévia competência constitucional. (CAPEZ, 2007, pg. 10).
● Princípio da investidura: a jurisdição só pode ser exercida por
quem tenha sido regularmente investido no cargo de juiz e esteja no
exercício de suas funções. (CAPEZ, 2007, pg. 09).
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DIREITO PROCESSUAL PENAL COMUM E MILITAR
● Princípio do devido processo legal: ninguém será privado da
liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal, conforme
estabelece o Art. 5º, LIV da Constituição Federal da República
Federativa do Brasil:
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:
[...]
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens
sem o devido processo legal;
● Princípio da indeclinabilidade da prestação jurisdicional:
nenhum juiz pode subtrair-se do exercício da função jurisdicional,
nem “a lei excluirá da apreciação do Poder Judiciário, lesão ou
ameaça a direito.” Art. 5º, XXX, Constituição.
● Princípio da indelegabilidade: nenhum juiz pode delegar sua
jurisdição a outro órgão, pois estaria, por via indireta, violando e
garantia do juízo natura. (CAPEZ, 2016, pg. 296).
● Princípio da improrrogabilidade: um juiz não pode invadir a
competência de outro, mesmo que haja concordância das partes. De
forma excepcional, é admitido a prorrogação de competência.
(CAPEZ, 2016, pg. 296).
● Princípio da inevitabilidade ou irrecusabilidade: as partes
não podem recusar o juiz, salvo nos casos de suspeição,
impedimento e incompetência. (CAPEZ, 2016, pg. 296).
● Princípio da correlação ou da relatividade: a sentença deve
corresponder ao pedido, isto é, nos limites desse, não podendo o
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juiz prolatar sentença extra1 ou ultra petita (ESPÍNDOLA, 2016, p.
296).
● Princípio da titularidade ou da inércia: ne procedat judez ex
officio. O órgão jurisdicional não pode dar início à ação, ficando
subordinado, dessa forma, a provocação das partes. (CAPEZ, 2007,
pg. 08).
Por sua vez, a competência é definida como a medida da jurisdição,
sendo, dessa forma, distribuída entre os vários magistrados que compõem o
Poder Judiciário do Estado.
Ensina Eduardo Espíndola Filho, “a competência vem a ser a porção de
capacidade jurisdicional que a organização judiciária atribui a cada órgão
jurisdicional, a cada juiz”. (ESPÍNDOLA, 2016, p.77).
1.2.2. Fixação de Competência
A competência é a medida da jurisdição, assim, trata-se em saber qual
será o juízo competente para a apuração da infração, nesse entendimento
disciplina Auri Lopes Júnior:
A competência é um conjunto de regras que asseguram a
eficácia da garantia da jurisdição e, especialmente, do juiz
natural. Delimitando a jurisdição, condiciona seu exercício.
Como regra, um juiz ou tribunal somente pode julgar um
caso penal quando for competente em razão da matéria,
pessoa e lugar (LOPES JR, 2014, p. 320).
O Código de Processo Penal discrimina nos incisos de seu Art. 69 os
critérios para fixação de competência, assim compreendidos: I – o lugar da
infração; II – o domicílio ou residência do réu; III – a natureza da infração; IV – a
distribuição; V – a conexão ou a continência; VI – a prevenção e a VII –
prerrogativa de função.
1 o juiz concede algo distinto do que foi pedido na petição inicial.
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Doutrinariamente, a divisão da competência leva em consideração três
critérios para a sua fixação, correspondendo ao estabelecido no Art. 69 do
Código de Processo Penal, assim compreendidos:
● Ratione materiae: estabelece a competência tendo por base a natureza do
crime praticado.● Ratione personae: a competência será estabelecida levando em
consideração a qualidade da pessoa incriminada.
● Ratione loci: fixa a competência de acordo com o local em que foi realizado
ou consumou-se o crime, ou, conforme for o caso, no local de residência do
seu autor.
Aprimorando às técnicas de fixação de competência mister levar em
consideração o carácter da ratione materie, estabelecendo competente a
jurisdição comum ou especial (justiça eleitoral, militar, trabalhista, política).
Com acento constitucional, à Carta Magna estabelece as seguintes
jurisdições especializadas:
● Justiça Eleitoral: para o processamento e julgamento de infrações penais
dessa natureza, conforme previsão dos artigos 118 a 121 da Constituição
Federa, in verbis:
Art. 118. São órgãos da Justiça Eleitoral:
I - o Tribunal Superior Eleitoral;
II - os Tribunais Regionais Eleitorais;
III - os Juízes Eleitorais;
IV - as Juntas Eleitorais.
Art. 119. O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no mínimo,
de sete membros, escolhidos:
I - mediante eleição, pelo voto secreto:
a) três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal;
b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça;
II - por nomeação do Presidente da República, dois juízes dentre
seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral,
indicados pelo Supremo Tribunal Federal.
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Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral elegerá seu
Presidente e o Vice-Presidente dentre os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, e o Corregedor Eleitoral dentre os Ministros do
Superior Tribunal de Justiça.
Art. 120. Haverá um Tribunal Regional Eleitoral na Capital de
cada Estado e no Distrito Federal.
§ 1º - Os Tribunais Regionais Eleitorais compor-se-ão:
I - mediante eleição, pelo voto secreto:
a) de dois juízes dentre os desembargadores do Tribunal de
Justiça;
b) de dois juízes, dentre juízes de direito, escolhidos pelo Tribunal
de Justiça;
II - de um juiz do Tribunal Regional Federal com sede na Capital
do Estado ou no Distrito Federal, ou, não havendo, de juiz
federal, escolhido, em qualquer caso, pelo Tribunal Regional
Federal respectivo;
III - por nomeação, pelo Presidente da República, de dois juízes
dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade
moral, indicados pelo Tribunal de Justiça.
§ 2º - O Tribunal Regional Eleitoral elegerá seu Presidente e o
Vice-Presidente- dentre os desembargadores.
Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e
competência dos tribunais, dos juízes de direito e das juntas
eleitorais.
§ 1º Os membros dos tribunais, os juízes de direito e os
integrantes das juntas eleitorais, no exercício de suas funções, e
no que lhes for aplicável, gozarão de plenas garantias e serão
inamovíveis.
§ 2º Os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado,
servirão por dois anos, no mínimo, e nunca por mais de dois
biênios consecutivos, sendo os substitutos escolhidos na mesma
ocasião e pelo mesmo processo, em número igual para cada
categoria.
§ 3º São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior Eleitoral,
salvo as que contrariarem esta Constituição e as denegatórias
de habeas corpus ou mandado de segurança.
§ 4º Das decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais somente
caberá recurso quando:
I - forem proferidas contra disposição expressa desta Constituição
ou de lei;
II - ocorrer divergência na interpretação de lei entre dois ou mais
tribunais eleitorais;
III - versarem sobre inelegibilidade ou expedição de diplomas nas
eleições federais ou estaduais;
IV - anularem diplomas ou decretarem a perda de mandatos
eletivos federais ou estaduais;
V - denegarem habeas corpus, mandado de segurança, habeas
data ou mandado de injunção.
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● Justiça Militar: para o processamento e julgamento de infrações penais
militares, conforme estatuído nos artigos 112 a 124 da Constituição Federal,
in verbis:
Art. 122. São órgãos da Justiça Militar:
I - o Superior Tribunal Militar;
II - os Tribunais e Juízes Militares instituídos por lei.
Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de quinze
Ministros vitalícios, nomeados pelo Presidente da República,
depois de aprovada a indicação pelo Senado Federal, sendo três
dentre oficiais-generais da Marinha, quatro dentre oficiais-
generais do Exército, três dentre oficiais-generais da Aeronáutica,
todos da ativa e do posto mais elevado da carreira, e cinco dentre
civis.
Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo
Presidente da República dentre brasileiros maiores de trinta e
cinco anos, sendo:
I - três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta
ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional;
II - dois, por escolha paritária, dentre juízes auditores e membros
do Ministério Público da Justiça Militar.
Art. 124. à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes
militares definidos em lei.
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o
funcionamento e a competência da Justiça Militar.
Dentro do tópico de competência da Justiça Militar necessário de faz
abordar a competência da Justiça Militar, com acento constitucional nos artigos
125 e 126 da Carta Magna:
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os
princípios estabelecidos nesta Constituição.
§ 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição do
Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do
Tribunal de Justiça.
§ 2º Cabe aos Estados a instituição de representação de
inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou
municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição
da legitimação para agir a um único órgão.
§ 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de
Justiça, a Justiça Militar estadual, constituída, em primeiro grau,
pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça e, em
segundo grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de
Justiça Militar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a
vinte mil integrantes. (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 45, de 2004)
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os
militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as
ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a
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competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal
competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos
oficiais e da graduação das praças. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e
julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e
as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao
Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito,
processar e julgar os demais crimes militares. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 6º O Tribunal de Justiça poderá funcionar
descentralizadamente, constituindo Câmaras regionais, a fim de
assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à justiça em todas as
fases do processo. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45,
de 2004)
§ 7º O Tribunal de Justiça instalará a justiça itinerante, com a
realização de audiências e demais funções da atividade
jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição,
servindo-se de equipamentos públicos e comunitários. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
Art. 126. Para dirimir conflitos fundiários, o Tribunal de Justiça
proporá a criação de varas especializadas, com competência
exclusivapara questões agrárias. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
Parágrafo único. Sempre que necessário à eficiente prestação
jurisdicional, o juiz far-se-á presente no local do litígio.
● Competência Política do Senado Federal: para processar e julgar o
presidente e o vice-presidente da República, nos crimes de responsabilidade,
os Ministros de Estado, os Comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica
nos crimes de responsabilidade e os conexos com estes, os Ministros do
Supremo Tribunal Federal, os Membros do Conselho Nacional de Justiça e do
Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e
o Advogado Geral da União nos crimes de responsabilidade. (CAPEZ, 2018,
pg. 298).
Ainda, a Constituição da República Federativa do Brasil, estabelece
jurisdição comum estadual ou federal, assim compreendida:
● Justiça Federal: com previsão no Art. 109 da Constituição Federal, compete
julgar:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
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I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa
pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés,
assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes
de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do
Trabalho;
II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo
internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no
País;
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com
Estado estrangeiro ou organismo internacional;
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em
detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas
entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da
Justiça Eleitoral;
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional,
quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou
devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º
deste artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos
determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem
econômico-financeira;
VII - os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência
ou quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos
não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição;
VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de
autoridade federal, excetuados os casos de competência dos
tribunais federais;
IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves,
ressalvada a competência da Justiça Militar;
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de
estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o "exequatur", e
de sentença estrangeira, após a homologação, as causas
referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à
naturalização;
XI - a disputa sobre direitos indígenas.
§ 1º As causas em que a União for autora serão aforadas na
seção judiciária onde tiver domicílio a outra parte.
§ 2º As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas
na seção judiciária em que for domiciliado o autor, naquela onde
houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde
esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.
§ 3º Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do
domicílio dos segurados ou beneficiários, as causas em que
forem parte instituição de previdência social e segurado, sempre
que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se
verificada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas
sejam também processadas e julgadas pela justiça estadual.
§ 4º Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será
sempre para o Tribunal Regional Federal na área de jurisdição do
juiz de primeiro grau.
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o
Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o
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cumprimento de obrigações decorrentes de tratados
internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte,
poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em
qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de
deslocamento de competência para a Justiça Federal.
Concernente à competência da Justiça Federal, necessário destacar que
as contravenções, embora abrangendo questões afetas ao interesse da União ou
de suas entidades autárquicas ou empresas públicas serão de competência da
justiça comum, nesse sentido alude Capez:
[...].compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da
Constituição de 1988, o processo por contravenção penal, ainda
que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesses da
União ou se sus entidades. (CAPEZ, 2018, pg. 298)
● Justiça Estadual: no tocante à competência da Justiça Estadual, será essa
residual, ou seja, matéria que não for de competência da Justiça Especial
(Militar, Trabalhista, Eleitoral, Política).
● Crimes Dolosos contra a vida: com previsão Constitucional os crimes
dolosos contra a vida (homicídio, Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio,
Infanticídio, aborto) são de competência do Tribunal do Júri, podendo ser na
seara Federal ou Estadual, conforme se mostrar o caso concreto.
Preenchida as condições para fixação da competência em função da
matéria, mostra-se necessário verificar qual o órgão jurisdicional será competente
para o deslinde da pendencia judicial. Tal prerrogativa gira em torno da
competência ratione personae, notadamente conhecida como foro por
prerrogativa de função.
Conforme previsão Constitucional a competência será assim distribuída:
● Supremo Tribunal Federal: processar e julgar, originariamente nas infrações
penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros
do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da
República, nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os
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Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais
Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão
diplomática de caráter permanente, Art. 102, I, “a” e “b” da Constituição
Federal.
● Superior Tribunal de Justiça: processar e julgar, originariamente nos crimes
comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos
de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos
Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos
Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos
Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou
Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que
oficiem perante tribunais, Art. 105, I, “a”, Constituição Federal.
● Tribunais Regionais Federais: processar e julgar, originariamente os juízes
federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça
do Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do
Ministério Público da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral,
Art. 108, I, “a”, Constituição Federal.
1.2.3. Sujeitos processuais
Sujeitos processuais são todas as pessoas que atuam no processo seja
ele comum ou militar, assim compreendidos, Juiz, partes, auxiliares da justiça,
testemunhas, etc.
Os sujeitos processuais dividem-se em principais, secundários ou
acessórios, dependendo de sua importância na formação da relação jurídico
processual.
Nesse sentido aduzFernando Capez, destacando três atores principais
na relação jurídico-processual:
São três os principais: Estado-Juiz, autor e réu (lembre-se
que o juiz não é propriamente um sujeito do processo, mas
apenas órgão, por cujo intermédio o Estado-Juiz exerce o
seu dever-poder, que é a função jurisdicional) (CAPEZ,
2018, pg. 91).
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1.2.4. Juizados Especiais Criminais
1.2.4.1. Previsão Constitucional
A Constituição de 1988, em seu art. 98, I, permitiu a criação de Juizados
Especiais Criminais para o julgamento de infrações penais de menor potencial
ofensivo, mediante a preponderância dos procedimentos oral e sumaríssimo,
possibilidade de transação entre as partes e julgamento de recursos por turmas
de juízes de primeiro grau. A tradicional jurisdição de conflito, que obriga ao
processo contencioso entre acusação e defesa, e torna esta última obrigatória,
cede espaço para a jurisdição de consenso, na qual se estimula o acordo entre
os litigantes, a reparação amigável do dano e se procura evitar a instauração do
processo.
Sobre essa nova abordagem de resolução de conflitos, aborda o autor
Fernando Capez:
Esse novo espaço de consenso, substitutivo do espaço de
conflito, não fere a Constituição, pois ela mesma o autoriza
para as infrações de menor potencial ofensivo. Não há falar,
assim, em violação ao devido processo legal e à ampla
defesa, os quais são substituídos pela busca incessante da
conciliação. Tais juizados são criados por lei federal, à qual
incumbe dispor sobre as regras gerais de funcionamento e
do processo, cabendo aos Estados e ao Distrito Federal
legislar sobre regras suplementares de acordo com as
características locais. (CAPEZ, 2016, pg. 632)
Em decorrência do mandamento Constitucional, tratando-se o Art. 98, I,
de norma de eficácia limitada2, necessitou-se de regulamentação
infraconstitucional para a devida implementação dos Juizados Especiais.
Dessa forma, no entendimento de Fernando Capez:
O referido art. 98, I, foi regulamentado pela Lei n. 9.099/95.
Essa lei instituiu um novo modelo de justiça criminal, na qual
2 As normas constitucionais de eficácia limitada são normas cuja aplicabilidade é mediata,
indireta e reduzida. Dependem da emissão de uma normatividade futura, em que o legislador,
entregando-lhes a eficácia mediante lei, dê-lhes capacidade de execução dos interesses visados.
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passam a ser adotados os seguintes institutos: acordo civil,
transação penal e suspensão condicional do processo.
(CAPEZ, 2016, pg. 632).
O processo penal com as modificações impostas, destaca-
se a introdução do procedimento sumaríssimo, aplicável
somente às infrações que a lei definiu como de menor
potencial ofensivo, conforme estabelece o Art. 61 da Lei nº
9.099/95”. (CAPEZ, 2016, pg. 632).
De outra banda, a referida legislação estabeleceu uma série de princípios
norteadores do processo sumaríssimo, com previsão no Art. 62, estabelecendo
que o processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios da
oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade,
objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a
aplicação de pena não privativa de liberdade.
Sobre os princípios estabelecidos na Lei nº 9.099/95, disciplina Fernando
Capez:
a) Oralidade: significa dizer que os atos processuais serão
praticados oralmente. Os atos essenciais serão reduzidos a
termo ou transcritos por quaisquer meios. Os demais atos
processuais praticados serão gravados, se necessário.
b) Informalidade: isso significa dizer que os atos
processuais a serem praticados não serão cercados de rigor
formal, de tal sorte que, atingida a finalidade do ato, não há
que se cogitar da ocorrência de qualquer nulidade.
Exemplo: o art. 81, § 3º, da lei dispensa o relatório da
sentença.
c) Economia processual: corolário da informalidade,
significa dizer que os atos processuais devem ser
praticados no maior número possível, no menor espaço de
tempo e da maneira menos onerosa.
d) Celeridade: visa à rapidez na execução dos atos
processuais, quebrando as regras formais observáveis nos
procedimentos regulados segundo a sistemática do Código
de Processo Penal.
e) Finalidade e prejuízo: para que os atos processuais
sejam invalidados, necessária se faz a prova do prejuízo.
Isso significa dizer que não vigora no âmbito dos juizados
criminais o sistema de nulidades absolutas do Código de
Processo Penal, segundo o qual nessas circunstâncias o
prejuízo é presumido. Atingida a finalidade a que se
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destinava o ato, bem como não demonstrada qualquer
espécie de prejuízo, não há que se falar em nulidade.
(Grifos nossos) (CAPEZ, 2016, pg. 633).
1.2.4.2. Juizado Especial Criminal
O Juizado Especial Criminal (JECrim) é um órgão da estrutura do Poder
Judiciário brasileiro destinado a promover a conciliação, o julgamento e a
execução de qualquer infração de menor potencial ofensivo. (JUIZADO
ESPECIAL CRIMINAL, In WIKIPÉDIA, 2019).
Corrobora com esse entendimento texto extraído da WIKIPÉIDA, nos
seguintes termos:
Tais ilícitos penais são todas as contravenções penais,
independentemente das sanções previstas em lei, e os
crimes com pena privativa de liberdade cominada de até
dois anos, cumulada ou não com multa. Sua criação, ao
lado do Juizado Especial Cível, foi prevista no inciso I do
artigo 98 da Constituição brasileira de 1988, sendo que sua
efetiva implantação só veio a ocorrer com a promulgação da
Lei Federal n° 9.099, de 26 de setembro de 1995.
(JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL, In WIKIPÉDIA, 2019)
Em decorrência de adequações em função de política criminal, foi
editada a Lei nº. 11.313, de 28 de junho de 2006, que alterou o Art. 61 da Lei n.
9.099/95, o qual passou a vigorar com a seguinte redação, nesse entendimento
disciplinou Fernando Capez:
Consideram-se infrações penais de menor potencial
ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais
e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a
2 (dois) anos, cumulada ou não com multa”. Assim, não
resta mais qualquer dúvida: a) quanto ao conceito de
infração de menor potencial ofensivo; b) quanto à incidência
da Lei dos Juizados Criminais às infrações sujeitas ao
procedimento especial (por exemplo: crimes de abuso de
autoridade etc.), dado que a lei exclui expressamente essa
vedação; c) quanto à incidência da Lei n. 9.099/95 às
contravenções penais. (CAPEZ, 2016, pg. 633).
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Concernente à competência e aos atos processuais estabelecidos na Lei
nº 9.099/95, a competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi
praticada a infração penal.
Por sua vez, os atos processuais serão públicos e poderão realizar-se
em horário noturno e em qualquer dia da semana, conforme dispuserem as
normas de organização judiciária. Serão válidos sempre que preencherem as
finalidades para as quais foram realizados, atendidos os critérios indicados no
Art. 62 desta Lei, o qual traz em seu bojo os princípios aplicados aos
procedimentos do JECRIM.
A legislação também aborda questões de nulidades, estabelecendo em
seu Art. 65, §1º e 2º, que não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha
havido prejuízo, bem como a prática de atos processuais em outras comarcas
poderá ser solicitada por qualquer meio hábil de comunicação.
Os atos praticados serão objeto de registro escrito exclusivamente se
havidos por essenciais. Já os atos realizados em audiência de instrução e
julgamento poderão sergravados em fita magnética ou equivalente. Dos atos
praticados em audiência considerar-se-ão desde logo cientes as partes, os
interessados e defensores. (Art. 65, §3º da Lei nº 9.099/95).
A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sempre que
possível, ou por mandado. Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz
encaminhará as peças existentes ao Juízo comum para adoção do procedimento
previsto em lei. (Art. 66 da Lei nº 9.099/95).
A intimação far-se-á por correspondência, com aviso de recebimento
pessoal ou, tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, mediante entrega
ao encarregado da recepção, que será obrigatoriamente identificado, ou, sendo
necessário, por oficial de justiça, independentemente de mandado ou carta
precatória, ou ainda por qualquer meio idôneo de comunicação. (Art. 67 da Lei nº
9.099/95).
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Do ato de intimação do autor do fato e do mandado de citação do
acusado, constará a necessidade de seu comparecimento acompanhado de
advogado, com a advertência de que, na sua falta, ser-lhe-á designado defensor
público. (Art. 68 da Lei nº 9.099/95).
1.2.4.3. Causas de afastamento, deslocamento do JECRIM e
inaplicabilidade da lei
O Juizado Especial Criminal, conforme preceitua o Art. 60 da Lei nº
9.099/95, será provido por juízes togados ou togados e leigos, tendo a
competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais
de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência.
No tocante as regras de conexão e continência, antes do advento da Lei
nº 11.313, de 28 de junho de 2006, a qual alterou os artigos 60 e 61 da Lei nº
9.099/95, ensejando a hipótese de cisão processual em virtude do mandamento
Constitucional insculpido no Art. 98, I da Carta Magna. Nesse sentido, corrobora
Fernando Capez:
Discutia-se, assim, se haveria cisão dos processos em face
do comando constitucional contido no art. 98, I, da CF que
determina a competência dos Juizados para processar e
julgar as infrações de menor potencial ofensivo ou se
incidiriam as regras de conexão ou continência previstas no
art. 78 do CPP. (CAPEZ, 2016, pg. 634)
Com efeito, e com a finalidade de dirimir quaisquer dúvidas sobre a
necessidade ou não de cisão processual em face de conexão ou continência
adveio a Lei nº 11.313, de 28 de junho de 2006, a qual alterou o Art. 60 da Lei nº
9.099/95 disciplinando que deverão ser respeitadas as regras de conexão e
continência.
Com entendimento de Fernando Capez, passou a Lei nº 9.099/95
disciplinar o seguinte entendimento sobre questões processuais de competência
para o julgamento de casos concretos:
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Com as modificações mencionadas, passamos a ter o
seguinte panorama processual: a) uma vez praticada uma
infração de menor potencial ofensivo, a competência será
do Juizado Especial Criminal. Se, no entanto, com a
infração de menor potencial ofensivo houverem sido
praticados outros crimes, em conexão ou continência,
deverão ser observadas as regras do art. 78 do CPP, para
saber qual o juízo competente; b) caso, em virtude da
aplicação das regras do art. 78 do CPP, venha a ser
estabelecida a competência do juízo comum ou do tribunal
do júri para julgar também a infração de menor potencial
ofensivo, afastando, portanto, o procedimento sumaríssimo
da Lei n. 9.099/95. (CAPEZ, 2016, pg. 635)
Com previsão expressa, a Lei nº 9.099/95 são se aplica à Justiça Militar,
conforme depreende-se de interpretação literal do texto do Art. 90-A, in verbis:
Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da
Justiça Militar.
Nesse entendimento, afirma Fernando Capez, sobre a inaplicabilidade da
Lei nº 9.099/95 na ceara Militar:
Crimes militares: o art. 90-A da Lei n. 9.099/95, acrescentado pela
Lei n. 9.839, de 27-9-1999, expressamente excluiu os delitos
militares da incidência dos Juizados Especiais Criminais, ficando
também afastada a aplicação dos institutos da transação penal e
da suspensão condicional do processo. (CAPEZ, 2016, pg. 637)
Ainda, com expressa previsão no Art. 41 da Lei nº 11.340/2006, a Lei nº
9.099/95 não se aplica em hipótese de configuração de violência doméstica e
familiar contra a mulher.
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e
familiar contra a mulher, independentemente da pena
prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de
1995.
1.2.4.4. Do procedimento sumaríssimo
A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará
termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor
do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais
necessários, conforme disciplina o Art. 69 da Lei nº 9.099/95.
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Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente
encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se
imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, por expressa previsão legal
contida no Art. 69, parágrafo único da lei.
Comparecendo o autor do fato e a vítima, e não sendo possível a
realização imediata da audiência preliminar, será designada data próxima, da
qual ambos sairão cientes. (Art. 70 da Lei nº 9.099/95).
No tocante a audiência preliminar, disciplina o Art. 72 da lei, in verbis:
Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante
do Ministério Público, o autor do fato e a vítima e, se
possível, o responsável civil, acompanhados por seus
advogados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da
composição dos danos e da aceitação da proposta de
aplicação imediata de pena não privativa de liberdade.
A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada
pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no
juízo civil competente. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de
ação penal pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta
a renúncia ao direito de queixa ou representação. (Art. 74 da Lei nº 9.099/95).
Na eventualidade de não ser alcança a composição dos danos civis, será
dada imediatamente ao ofendido a oportunidade de exercer o direito de
representação verbal, que será reduzida a termo. O não oferecimento da
representação na audiência preliminar não implica decadência do direito, que
poderá ser exercido no prazo previsto em lei, nos termos do Art. 75 da Lei.
Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública
incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá
propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser
especificada na proposta. Nas hipóteses de ser a pena de multa a única
aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade, conforme aduz o Art. 76 da Lei.
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Ainda, disciplina o mesmo dispositivo legal, que não se admitirá a
proposta se ficar comprovado ter sido o autor da infração condenado, pela prática
de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva; ter sido o agente
beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena
restritiva ou multa; não indicarem os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser
necessária e suficiente a adoção da medida.
Na mesma esteira, uma vez aceita a proposta pelo autor da infração e
seu defensor, será submetida à apreciação do Juiz. Acolhendo a proposta do
Ministério Público aceita peloautor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva
de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada apenas
para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos.
Da sentença prevista caberá a apelação com base no Art. 82 da Lei nº
9.099/95.
Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da
sentença caberá apelação, que poderá ser julgada por
turma composta de três Juízes em exercício no primeiro
grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.
§ 1º A apelação será interposta no prazo de dez dias,
contados da ciência da sentença pelo Ministério Público,
pelo réu e seu defensor, por petição escrita, da qual
constarão as razões e o pedido do recorrente.
§ 2º O recorrido será intimado para oferecer resposta escrita
no prazo de dez dias.
§ 3º As partes poderão requerer a transcrição da gravação
da fita magnética a que alude o § 3º do art. 65 desta Lei.
§ 4º As partes serão intimadas da data da sessão de
julgamento pela imprensa.
§ 5º Se a sentença for confirmada pelos próprios
fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão.
A imposição da sanção acolhida proposta pelo Ministério Público ao
infrator não constará de certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins de
concessão de benefícios no prazo de cinco anos, e não terá efeitos civis,
cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cível.
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Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de
pena, pela ausência do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista
no Art. 76 da Lei nº 9.099/95, o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato,
denúncia oral, se não houver necessidade de diligências imprescindíveis.
Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo
de ocorrência referido no Art. 69 da Lei nº 9.099/95, com dispensa do inquérito
policial, prescindir-se-á do exame do corpo de delito quando a materialidade do
crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente. Se a
complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a formulação da
denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das
peças existentes, na forma do parágrafo único do art. 66 da Lei. 
Por sua vez, na ação penal de iniciativa do ofendido poderá ser oferecida
queixa oral, cabendo ao Juiz verificar se a complexidade e as circunstâncias do
caso determinam a adoção das providências previstas no parágrafo único do Art.
66 da Lei nº 9.099/95.
Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a termo, entregando-se
cópia ao acusado, que com ela ficará citado e imediatamente cientificado da
designação de dia e hora para a audiência de instrução e julgamento, da qual
também tomarão ciência o Ministério Público, o ofendido, o responsável civil e
seus advogados. (Art. 78 da Lei nº 9.099/95).
Na hipótese de o acusado não estar presente, será citado na forma dos
artigos 66 e 68 da Lei e cientificado da data da audiência de instrução e
julgamento, devendo a ela trazer suas testemunhas ou apresentar requerimento
para intimação, no mínimo cinco dias antes de sua realização.
Não estando presentes o ofendido e o responsável civil, serão intimados
nos termos do Art. 67 da Lei para comparecerem à audiência de instrução e
julgamento. As testemunhas arroladas serão intimadas na forma prevista no Art.
67 da Lei.
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Art. 67. A intimação far-se-á por correspondência, com aviso
de recebimento pessoal ou, tratando-se de pessoa jurídica
ou firma individual, mediante entrega ao encarregado da
recepção, que será obrigatoriamente identificado, ou, sendo
necessário, por oficial de justiça, independentemente de
mandado ou carta precatória, ou ainda por qualquer meio
idôneo de comunicação.
Parágrafo único. Dos atos praticados em audiência
considerar-se-ão desde logo cientes as partes, os
interessados e defensores.
Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para responder à
acusação, após o que o Juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo
recebimento, serão ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e defesa,
interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-se imediatamente
aos debates orais e à prolação da sentença. (Art. 81 da Lei nº 9.099/95).
Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e
julgamento, podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas,
impertinentes ou protelatórias. De todo o ocorrido na audiência será lavrado
termo, assinado pelo Juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos
relevantes ocorridos em audiência e a sentença. A sentença, dispensado o
relatório, mencionará os elementos de convicção do Juiz. (Art. 81 da Lei nº
9.099/95).
Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um
ano, abrangidas ou não pela Lei nº 9.099/95, o Ministério Público, ao oferecer a
denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos,
desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido
condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a
suspensão condicional da pena, conforme estabelece o Art. 77 do Código Penal:
Requisitos da suspensão da pena
Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior
a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro)
anos, desde que:
I - o condenado não seja reincidente em crime doloso; 
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e
personalidade do agente, bem como os motivos e as
circunstâncias autorizem a concessão do benefício;
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III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44
deste Código.
§ 1º - A condenação anterior a pena de multa não impede a
concessão do benefício.
§ 2º - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a
quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde
que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões
de saúde justifiquem a suspensão
Nos termos do Art. 89, §1º da Lei nº 9.099/95, uma vez aceita a proposta
pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia,
poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob
as seguintes condições: 
● reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
● proibição de frequentar determinados lugares;
● proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do 
Juiz;
● comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para 
informar e justificar suas atividades.
Ainda, com base no mesmo dispositivo legal, o Juiz poderá especificar
outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao
fato e à situação pessoal do acusado.
No tocante a suspensão, está será revogada se, no curso do prazo, o
beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo
justificado, a reparação do dano. A suspensão poderá ser revogada se o acusado
vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir
qualquer outra condição imposta, conforme estabelece o Art. 89 da Lei nº
9.099/95.
Por fim, estabelece a Lei nº 9.099/95 em seu Art. 89, §5º que ocorrendo o
transcurso do prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.
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LIÇÃO 2 – DIREITO
PROCESSUAL PENAL
MILITAR
Objetivos:
Ao final desta lição você será capaz de:
4) Conhecer e revisar a história, estrutura e funcionamento da Justiça Militar;
5) Conhecer, compreende e revisar a competência e foro militar;
6) Conhecer, compreendere revisar a distinção entre Conselho Permanente e
Conselho Especial de Justiça;
7) Conhecer, compreender e revisar questões de exclusão e licenciamento a bem da
disciplina.
8) Conhecer, compreender e revisar os procedimentos do crime de deserção.
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2. UNIDADE DIDÁTICA II
2.1. Direito Processual Penal Militar
O Direito Processual Penal tem por objetivo precípuo a garantia e
manutenção de dois pilares básicos intrínsecos da atividade militar, a hierarquia e
a disciplina. Nesse sentido, leciona Ricardo Henrique Giuliani:
A regulamentação em matéria penal e processual penal
militar, por ser um ramo específico com legislação própria
que serve para resguardar os dois maiores princípios das
organizações militares que são a disciplina e hierarquia, tem
algumas características distintas da legislação penal e
processual comum. (GIULIANI, 2007, pg. 15).
O Direito Processual Penal Militar está codificado pelo Decreto-lei nº
1.002, de 1969, o qual tem por escopo os procedimentos ordinário e especial, a
serem observados no curso dos processos perante a Justiça Militar da União e a
Justiça Militar do Estado.
2.1.1. Histórico da Justiça Militar
Sobre os antecedentes históricos da Justiça Militar, toma-se por base os
apontamentos realizados Rodrigo Montenegro de Oliveira:
A história da Justiça Militar no Brasil começa com o próprio
aporte da Família Real nas terras tupiniquins, em 1808, a
partir de quando o país, então, deixou a sua condição de
colônia para ganhar o status de Reino Unido a Portugal,
passando a Administração Pública lusitana a se instalar no
Novo Mundo.
No período em que o reinado permaneceu no Brasil, foram
criadas instituições, como, por exemplo, a pomposa Guarda
Real, a rica Biblioteca Nacional, o formoso Jardim Botânico.
Não diferente procedeu-se em relação à instituição militar,
que também acompanhou a vinda da família Real,
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representada pela organização de um corpo militar
uniformizado com o intento de defesa e proteção da família
real, e mais a frente, das instituições criadas na ex-colônia.
Considerando as suas particularidades, de igual modo como
ocorria em Portugal, os militares eram regidos por
regulamentos próprios, aplicados por aqueles que
integravam a carreira das Armas, que se encontrava, como
ainda se encontra, assentada em dois princípios
fundamentais: a hierarquia e a disciplina.
Formada toda estrutura de Estado, logo após a organização
dos Ministérios, foi criado, na cidade do Rio de Janeiro –
sede da Corte no Brasil –, o Conselho Supremo Militar e de
Justiça, e, por extensão, a Justiça Militar Brasileira,
consoante ditado pelo Alvará de 1º de abril de 1808, com
força de lei, assinado pelo mesmo Príncipe Regente D.
João. É, portanto, o mais antigo tribunal superior do País,
cujo bicentenário será realizado no próximo ano (2008).
Tal Conselho acumulava duas funções, sendo uma de
caráter administrativo e outra de caráter puramente
judiciário. Na de caráter administrativo coadjuvava com o
Governo "em questões referentes a requerimentos, cartas-
patentes, promoções, soldos, reformas, nomeações,
lavratura de patentes e uso de insígnias, sobre as quais
manifestava seu parecer, quando consultado" e, na
referente aos aspectos judiciários, "como Tribunal Superior
da Justiça Militar, o Conselho Supremo julgava em última
instância os processos criminais dos réus sujeitos ao foro
militar."
É de se afirmar que, com o Conselho Supremo Militar e de
Justiça, instalou-se o primeiro Tribunal Superior de Justiça
instituído no Brasil, e "sua originária denominação foi
mantida até o advento da República, quando, pela
Constituição de 1891, passou a intitular-se Supremo
Tribunal Militar, com organização e atribuições definidas
pela Lei nº 149, de 18-7-1893", passando a integrar o Poder
Judiciário pela Constituição de 1934 e, com a Constituição
de 1946, vindo a ser denominado Superior Tribunal Militar.
Conforme se verá em tópico adiante, com a própria
evolução do Poder Judiciário em ramos específicos de
atuação, a Justiça Militar acabou também por se bifurcar em
duas espécies: a Justiça Militar da União e a Justiça Militar
Estadual. A primeira possui previsão constitucional desde a
Constituição Federal de 1934, e a segunda, desde a
Constituição Federal de 1946, ou seja, em data muito
anterior ao movimento de 1964 (ano do Golpe de Estado, no
qual militares assumiram o Governo do país).
Nesse contexto histórico, apenas a título de curiosidade,
vale ressaltar que, no âmbito estadual, o Estado do Rio
Grande do Sul conta com o Tribunal Militar mais antigo do
Brasil, criado em 1918. Além disto, tem-se ainda o fato de
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que, nessa entidade federativa, a Justiça Militar existiu
mesmo antes da Justiça comum, pois chegou a bordo das
naus portuguesas que integravam a expedição militar de
Silva Paes, em 1737. (OLIVEIRA, 2012)
Como pode ser observado, os antecedentes históricos estão associados
sobretudo com a chegada da Família Real portuguesa em 1808 no Brasil,
quando o corpo militar uniformizado a acompanhou como forma de defesa e
proteção da família real e, posteriormente, das instituições criadas em nosso país
naquele período.
A propósito, nesse momento foi mantida a tradição dos militares em uma
carreira das Armas, construída e partir de dois importantes pilares: a hierarquia e
a disciplina. Quando houve a estrutura do Estado, foi criado o Conselho Supremo
Militar e de Justiça, criando-se então a Justiça Militar Brasileira.
O Conselho Supremo Militar e de Justiça, portanto, foi criado em 01 de
abril de 1808 na cidade do Rio de Janeiro.
A primeira constituição republicana do nosso país, a Constituição da
República Federativa dos Estados Unidos do Brasil de 1891, previu pela primeira
vez o Supremo Tribunal Militar, nestes termos:
Art. 77. Os militares de terra e mar terão fôro especial nos
delictos militares. 
§ 1º Este fôro compor-se-ha de um Supremo Tribunal
Militar cujos membros serão vitalicios, e dos conselhos
necessarios para a formação da culpa e julgamento dos
crimes. 
§ 2º A organização e attribuições do Supremo Tribunal
Militar serão reguladas por lei. (Grifos nossos).
No entanto, foi apenas com a Constituição dos Estados Unidos do Brasil
de 1946 (promulgada após a queda do Estado Novo de 1945), que surgiu a
denominação Superior Tribunal Militar, denominação essa mantida até hoje. A
propósito, a Constituição de 1946 estipulava, no artigo 106, que a Justiça Militar
era composta pelo Superior Tribunal Militar e os Tribunais e Juízes inferiores que
a lei instituir.
2.1.2. Estrutura e funcionamento da Justiça Militar
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Com previsão Constitucional a parametrização da Justiça Militar encontra
guarida nos artigos 122 a 124, in verbis:
Art. 122. São órgãos da Justiça Militar:
I - o Superior Tribunal Militar;
II - os Tribunais e Juízes Militares instituídos por lei.
Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de quinze
Ministros vitalícios, nomeados pelo Presidente três dentre
oficiais-generais da Marinha, quatro dentre oficiais-generais
do Exército, três dentre oficiais-generais da Aeronáutica,
todos da ativa e do posto mais elevado da carreira, e cinco
dentre civis.
Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo
Presidente da República dentre brasileiros maiores de trinta
e cinco anos, sendo:
I - três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta
ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade
profissional;
II - dois, por escolha paritária, dentre juízesauditores e
membros do Ministério Público da Justiça Militar.
Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os
crimes militares definidos em lei.
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o
funcionamento e a competência da Justiça Militar.
Conforme verificado do texto Constitucional, o Art. 122 prevê os órgãos
da Justiça militar; o Art. 12 dispõe sobre o Superior Tribunal Militar e o Art. 124 a
competência da Justiça Militar.
Conclui-se, portanto, que os órgãos da Justiça Militar (Justiça castrense),
são: o Superior Tribunal Militar (STM), os Tribunais Militares e os Juízos Militares
instituídos por lei.
Pedro Lenza, nessa esteira, aponta diferenciação entre Justiça Militar
Federal e Justiça Militar Estadual, consubstanciada na Constituição Federal, nos
seguintes termos:
Além disso, deve-se distinguir a Justiça Militar Federal (da
União) (Art. 124 da CF) e a estadual (Art. 125, §§ 3º, 4º e 5º
da CFRB). A primeira instância da Justiça Militar da União é
composta pelos Conselhos de Justiça (Especial e
Permanente), que funcionam nas sedes das Auditorias
Militares. Como órgão de jurisdição superior, além do
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exercício da competência originária nos termos do seu
regimento interno e da lei de organização judiciária militar,
destaca-se o superior Tribunal Militar, inexistindo no âmbito
da justiça Militar da União, Tribunal Intermediário entre os
Conselhos de Justiça e o STM (LENZA, 2012, pg 554).
Por outro lado, na Justiça Militar Estadual existe, além do Conselho de
Justiça e dos juízes de direito do juízo militar, os juízes auditores, como também
os Tribunais de Justiça Militar (atualmente existentes nos Estados de São Paulo,
Minas Gerais e Rio Grande do Sul). Nos Estados onde não há Tribunais Militares
de segunda instância, ela é exercida pelo Tribunal de Justiça Local. Importante
observar que das decisões proferidas pelos Tribunais de Justiça Militar Estaduais
ou Tribunais Estaduais não cabem recurso ao Superior Tribunal Militar, e sim
diretamente ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou Supremo Tribunal Federal
(STF). Desse modo, “não cabe recurso das decisões do TJM ou TJ para o STM,
que se restringe às causas da Justiça Militar da União, funcionando como seu
órgão recursal”.
2.1.2.1. Superior Tribunal Militar - STM
O Superior Tribunal Militar é o órgão da Justiça Militar (Art. 122,
Constituição Federal) do Brasil composto de quinze Ministros vitalícios,
nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovados pelo Senado
Federal. Das quinze cadeiras, três são escolhidas dentre oficiais-generais da
Marinha, quatro dentre oficiais-generais do Exército, três dentre oficiais-generais
da Aeronáutica- todos da ativa e do posto mais elevado da carreira - e cinco
dentre civis (LENZA, 2012, p. 559).
Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente da República dentre
brasileiros maiores de trinta e cinco anos, sendo três dentre advogados de
notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de dez anos de efetiva
atividade profissional, e dois, por escolha paritária, dentre juízes auditores e
membros do Ministério Público Militar (Superior Tribunal Militar, In WIKIPÉDIA,
2019).
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A composição do STM está prevista no Art. 123 da CFRB, conforme
segue:
Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de quinze
Ministros vitalícios, nomeados pelo Presidente da
República, depois de aprovada a indicação pelo Senado
Federal, sendo três dentre oficiais-generais da Marinha,
quatro dentre oficiais-generais do Exército, três dentre
oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto
mais elevado da carreira, e cinco dentre civis.
Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo
Presidente da República dentre brasileiros maiores de trinta
e cinco anos, sendo:
I - três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta
ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade
profissional;
II - dois, por escolha paritária, dentre juízes auditores e
membros do Ministério Público da Justiça Militar.
2.1.2.2. Justiça Militar da União
A Justiça Militar da União possui competência exclusivamente penal,
competindo-lhe processar e julgar os crimes militares definidos em lei. Em nível
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federal, a Justiça militar é composta pelos Conselhos de Justiça Militar e pelo
Superior Tribunal Militar.
Nos níveis federal e estadual, a Justiça Militar se divide em “Justiça
Militar da União, com a competência para processar e julgar os integrantes das
Forças Armadas e os civis que venham a praticar crimes militares” (GIULIANE,
2011, p. 89).
É importante observar, ainda, que a Justiça Militar da União é organizada
por meio da Lei nº 8.457, de 4 de setembro de 1992.
2.1.2.3. Da competência e do foro militar
Como disciplinado no processo penal comum, necessário estabelecer-se
a distinção entre jurisdição e competência o âmbito militar.
Nesse sentido, bem leciona Rogério Lauri:
A jurisdição “é uma função estatal inerente ao poder-dever
de realização de justiça, mediante atividade substitutiva de
agentes do Poder Judiciário – juízes e tribunais -,
concretizada na aplicação do direito objetivo a uma relação
jurídica, com a respectiva declaração, e o consequente
reconhecimento, satisfação ou assecuração do direito
subjetivo material de um dos titulares das situações que a
compõe. (TUCCI, 2002, pg. 21).
A competência, por outro lado, significa uma “delimitação da jurisdição,
ou seja, o espaço dentro do qual pode determinada autoridade judiciária aplicar o
direito aos litígios que lhe forem apresentados, compondo-os. (NUCCI, 2012 pg.
248).
Para se chegar, portanto, à definição precisa da competência criminal, o
Professor Ricardo Henrique Alves Giuliani ensina o seguinte caminho:
No primeiro momento tem-se que saber se se trata de crime
militar (legislação especial) em razão da matéria (art. 9º do
CPM). 
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Sendo crime militar, se é crime militar estadual ou federal.
Se é crime militar estadual, saber se é competência do juiz
de direito ou do conselho de justiça permanente ou do
conselho de justiça especial (competência interna).
Se é crime militar federal, saber se é o conselho
permanente de justiça ou conselho especial que julga
(competência interna) ou qual órgão jurisdicional
hierarquicamente competente, caso o acusado tenha foro
por prerrogativa de função.
Respondendo a essas questões, por fim, saber o lugar da
infração ou residência ou domicílio do acusado e, não sendo
possível utilizar a regra da prevenção para determinar qual
a circunscrição judiciária competente, saber qual a auditoria
militar que irá julgar (competência ratione loci).
E por fim, pela distribuição ou prevenção, saber qual o juiz
competente dessa auditoria militar. (GIULIANI, 2011, pg. 86)
Dessa sorte, à Justiça Militar compete, nos termos da Constituição, Art.
124, processar e julgar os crimes militares definidos em lei, que vem a ser o
Código Penal Militar (Dec-Lei nº 1.001/1969).
Nesse entendimento, afirma Ana Paula de Barcelos, estabelecendo a
possibilidade de crimes militares praticados por civis:
Embora em geral crimes militares envolvam integrantes das
Forças Armadas, há hipóteses em que crimes militares
podem ser praticados por civis, que estarão então sujeitos à
Justiça Militar. O STF tem examinado, pontualmente, a
recepção de disposições do Código Penal Militar tendo
declarado válido, por exemplo, o crime de prática de ato
libidinoso em lugar sujeito a Administração Militar (art. 235),
dando-lhe

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