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1 Caro aluno Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em pe- ríodo integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares. O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades. A seguir, apresentamos cada seção: No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cuidadosa seleção de conteúdos multimídia para complementar o repertório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, livros, etc. Tudo isso é en- contrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos temas estudados – há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões de aplicativos que facilitam os estudos, com conteúdos essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica, em uma seleção realizada com finos critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso aluno. multimídia Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu distanciamento da realidade cotidiana, o que dificulta a compreensão de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos temas para além da superficial memorização de fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvolvida a seção “Vivenciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma preocupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações entre aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato em seu dia a dia. vivenciando Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desempenho ao fim da escolaridade básica, organizamos essa seção para que o aluno conheça as diversas habilidades e competências abordadas na prova. Os livros da “Coleção Vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas dessas habilidades. No compilado “Áreas de Conhecimento do Enem” há modelos de exercícios que não são apenas resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva e descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a apurar as questões na prática, a identificá-las na prova e a resolvê- -las com tranquilidade. áreas de conhecimento do Enem Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso, cria- mos para os nossos alunos o máximo de recursos para orientá-los em suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de Ideias”, para aque- les que aprendem visualmente os conteúdos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas mentais e fluxogramas. Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a organiza- ção dos estudos e até a resolução dos exercícios. diagrama de ideias Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é ela- borada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que trata de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares atuais não exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos conteúdos de cada área, de cada disciplina. Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como Bio- logia e Química, História e Geografia, Biologia e Matemática, entre outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato com essa realidade por meio de explicações que relacionam a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizan- do temas da atualidade. Assim, o aluno consegue entender que cada disciplina não existe de forma isolada, mas faz parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive. conexão entre disciplinas Herlan Fellini De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desenvol- vida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo o território nacional. incidência do tema nas principais provas Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada coleção tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolução das ques- tões propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, com- pletos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas que complementam as explicações dadas em sala de aula. Qua- dros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados e compõem um conjunto abrangente de informações para o aluno que vai se dedicar à rotina intensa de estudos. teoria Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fazem parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos compilados, deparamos-nos com modelos de exercícios resolvidos e comenta- dos, fazendo com que aquilo que pareça abstrato e de difícil com- preensão torne-se mais acessível e de bom entendimento aos olhos do aluno. Por meio dessas resoluções, é possível rever, a qualquer momento, as explicações dadas em sala de aula. aplicação do conteúdo 2 © Hexag Sistema de Ensino, 2018 Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2020 Todos os direitos reservados. Autores Eduardo Antônio Dimas Tiago Rozante Diretor-geral Herlan Fellini Diretor editorial Pedro Tadeu Vader Batista Coordenador-geral Raphael de Souza Motta Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica Hexag Sistema de Ensino Editoração eletrônica Arthur Tahan Miguel Torres Matheus Franco da Silveira Raphael de Souza Motta Raphael Campos Silva Projeto gráfico e capa Raphael Campos Silva Imagens Freepik (https://www.freepik.com) Shutterstock (https://www.shutterstock.com) ISBN: 978-65-88825-09-9 Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à dis- posição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições. O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não repre- sentando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora. 2020 Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino. Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP CEP: 04043-300 Telefone: (11) 3259-5005 www.hexag.com.br contato@hexag.com.br 3 SUMÁRIO HISTÓRIA HISTÓRIA GERAL HISTÓRIA DO BRASIL Aulas 27 e 28: Revolução francesa 6 Aulas 29 e 30: Era Napoleônica e o Congresso de Viena 18 Aulas 31 e 32: Revoluções de 1830 e 1848 e Segunda Revolução Industrial 28 Aulas 33 e 34: Ideologias do século XIX, Imperialismo e Neocolonialismo 40 Aulas 27 e 28: República oligárquica: aspectos políticos e econômicos 54 Aulas 29 e 30: República oligárquica: movimentos sociais 70 Aulas 31 e 32: Crise da república oligárquica e Revolução de 1930 87 Aulas 33 e 34: Era Vargas: governos provisório e constitucional 103 4 Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades. H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura. H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas. H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura. H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico emdiferentes sociedades. Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de poder. H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos. H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações. H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social. H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial H10 Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade histórico-geográfica. Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais. H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço. H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades. H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder. H14 Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca das instituições sociais, políticas e econômicas. H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história. Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social. H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social. H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção. H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais. H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano. H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho. Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, fa- vorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade. H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social. H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas. H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades. H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades. H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social. Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e geográficos. H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem. H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos. H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos. H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas. H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas. 5 HISTÓRIA GERAL: Incidência do tema nas principais provas UFMG A análise das estruturas sociais, econômicas e culturais da Revolução Francesa, Congresso de Viena, Segunda Revo- lução Industrial e das ideologias do século XIX costumam ser temas apresentados em combinação com textos e principalmente imagens. Não são abordadas diretamente questões de História, mas há um grau de interdisciplinaridade que permite o uso dos conhecimentos históricos para auxílio da resolução das questões e escrita da redação. Nos dois últimos anos, as interações dos aspec- tos culturais, econômicos e sociais associados à Revolução Francesa, Segunda Revolução Indus- trial e ideologias do século XIX costumam ser abordados com a utilização de textos longos. Prova desafiadora nos últimos vestibulares, com pre- sença dos temas presentes neste livro, a abordagem prioriza uma integração entre Medicina e História, principalmente voltada para temas como vacinas e disseminação de doenças. Os últimos vestibulares apresentaram uma tendência em abranger temas relacionados à História do Brasil. Entretanto, o caráter da prova exige um domínio amplo de interpretação textual e estabelecimento de conexões entre diferentes áreas do conhecimento. Os últimos vestibulares abordaram as temáticas Revolução Francesa, Era Napoleônica e Congresso de Viena, Segunda Revolução Industrial e ideolo- gias do século XIX, por meio de uma correlação entre os aspectos sociais, econômicos e políticos. Percebe-se que o vestibular não tem contemplado com frequência os temas abordados neste livro. Entretanto, o caráter da prova exige um domínio amplo de interpretação textual e estabelecimento de conexões entre diferentes áreas do conhecimento. Aborda as principais transformações socio- lógicas e materiais da Segunda Revolução Industrial, exigindo capacidade de interpre- tação textual aliada a conhecimentos pouco aprofundados sobre o assunto. É aconselhá- vel manter-se atentos aos temas da atualidade. Questões sobre Revolução Francesa, Congresso de Viena, Segunda Revolução Industrial e as ideologias do século XIX têm sido abordadas com enfoque nas estruturas sociais, econômicas e culturais. O vestibular solicita análises de estruturas históricas em suas questões, que propõem uma reflexão sobre as temáticas elencadas estabelecendo relações com o mundo contemporâneo. Utiliza trechos de textos e imagens, de forma mesclada, em suas questões. Não há uma divisão clara entre História e Geografia, que são abordadas como Estudos Sociais, portanto, não existem definições específicas de tema, mas sim um grau elevado de interdisciplinaridade. Há uma tendência em abordar temas contemporâneos. O vestibular elabora questões de múltipla escolha direcionadas aos candidatos que pre- tendem uma vaga nos cursos de Enfermagem, Biomedicina e Medicina. Há uma tendência em abordar temas contemporâneos. Não são contemplados diretamente temas de História, entretanto, há um grau de interdiscipli- naridade que permite o uso dos conhecimentos históricos para auxílio da resolução das questões e escrita da redação. A banca do vestibular privilegia que o candi- dato realize análises e interpretações sobre diferentes processos históricos e perceba suas continuidades e rupturas. Assim, utiliza textos in- trodutórios e imagens para elaborar as questões sobre as temáticas estudadas. Aborda as temáticas Revolução Francesa e ideolo- gias do século XIX, por meio das correlações entre os aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais. Utiliza textos introdutórios, charges e imagens em suas questões. 6 REVOLUÇÃO FRANCESAAULAS 27 E 28 1. INTRODUÇÃO A Revolução Francesa se tornou um marco histórico do mun- do ocidental e um símbolo do término do Antigo Regime. Trata-se do período em que os ideais burgueses e iluministas se disseminaram pela Europa e, posteriormente, pelo mundo. A partir do século XVII e durante o século XVIII, a burguesia dava sinais de que não aceitava mais a continuidade do Ab- solutismo, do mercantilismo e da sociedade estamental, que impunham limitações ao desenvolvimento do capitalismo. A ideologia burguesa já estava presente nas revoluções ingle- sas, Puritana e Republicana, de 1640, eGloriosa, de 1688, que implantara a Monarquia Constitucional no Reino Unido. A independência dos Estados Unidos também fazia parte desse contexto. Além de promover uma separação pioneira em relação à metrópole, instituiu a República e a divisão dos três poderes. A Revolução Industrial inglesa mostrou que as técnicas produtivas capitalistas e sua imposição à disciplina- rização do trabalhador promoviam a aceleração da acumula- ção do capital, ao mesmo tempo em que derrubavam barrei- ras impostas pelo Mercantilismo. Cabia à burguesia construir um mundo que fosse capaz de assegurar as conquistas da classe e garantir a permanência da reprodução do capital. Para isso, a burguesia precisava assumir o poder político e determinar as leis que lhe proporcionassem a dominação econômica e os mecanismos de dominação. COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4, 5 e 6 HABILIDADES: 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 13, 14, 16, 17, 18, 20, 22, 23, 24, 25, 26, 28 e 29 2. A FRANÇA PRÉ-REVOLUCIONÁRIA E OS FATORES DA REVOLUÇÃO 2.1. A sociedade francesa Na sociedade francesa se misturavam o Absolutismo e as divisões feudais. A população se estruturava em três esta- mentos: Primeiro Estado, Segundo Estado e Terceiro Estado. O Primeiro Estado era formado pelo clero, que continha cerca de 120 mil religiosos. O alto clero representava os interesses do Absolutismo, enquanto os membros do baixo clero defendiam ideais iluministas, como o abade Sieyés. O Segundo Estado era constituído pela nobreza e possuía cerca de 350 mil componentes. O Segundo Estado se dividia em nobreza palaciana, formada por quatro mil nobres que compunham a Corte; nobreza provincial, que ain- da se mantinha em seus antigos latifúndios explorando os servos de acordo com regras feudais, como talha, corveia e banalidades; e nobreza de toga, composta por burgueses que ganharam ou compraram títulos nobiliárquicos e se de- dicavam aos negócios administrativos e judiciários. O alto clero e a nobreza eram isentos da maioria dos im- postos, recebiam pensões, doações e outros privilégios do poder real. O nobres, donos de seus próprios tribunais, mo- nopolizavam os postos de oficiais do exército e da marinha. O TERCEIRO ESTADO REPRESENTADO POR UM CAMPONÊS CARREGANDO O PRIMEIRO E O SEGUNDO ESTADO NAS COSTAS. 7 O Terceiro Estado compreendia 98% da população1. Era quem sustentava, mediante pagamento de inúmeros impostos, o luxo abusivo dos estamentos anteriores e fi- nanciava toda a estrutura parasitária do Antigo Regime francês. Sua composição era complexa. As porções urba- nas se aproximavam das classes sociais atuais. Havia a alta burguesia, formada por banqueiros, financistas e grandes empresários; a média burguesia, constituída por profissio- nais liberais, como médicos, dentistas, professores, advoga- dos, etc.; e a pequena burguesia, composta de artesãos e pequenos comerciantes, cujos ideais eram mais radicais do que os da elite capitalista, que, no futuro, viria a fortalecer o governo dos jacobinos. Por fim, havia os pobres urbanos, os sans-culottes2 – camada social heterogênea de artesãos, aprendizes e proletários. No processo revolucionário, saí- ram armados em defesa de um novo mundo. No campo, havia muitíssimos camponeses, cerca de 80% de toda a população. Nas camadas mais privilegiadas estavam os grandes fazendeiros, que exploravam suas propriedades mediante trabalho assalariado; havia também os campone- ses proprietários de pequenas áreas cultivadas com a ajuda de sua família. Uma pequena parcela – aproximadamente um milhão de pessoas – vivia na condição de servos. QUADRO DE UM TÍPICO SANS-CULOTTE, DE LOUIS-LÉOPOLD BOILLY 2.2. A crise econômica Com o acúmulo de despesas, como a perda de territórios coloniais para a Inglaterra na Guerra dos Sete Anos (1756-1763), a colaboração decisiva para garantir a vitó- ria estadunidense na luta pela independência e os custos elevados para manter a corte dos Bourbons no palácio de Versalhes, a economia francesa enfrentava uma séria crise. Em 1787, um grave problema climático provocou seca e agravamento da fome. Para piorar a situação, surgiu uma praga de coelhos. Com a caça de coelhos proibida para os camponeses, uma vez que se tratava de um privilégio da 1. A França, em 1789, possuía uma população de aproximadamente 25 mil- hões de pessoas. 2. A expressão sans-culotte (sem culote) refere-se aos populares, que não vestiam as calças justas (culotte) da nobreza. nobreza, os coelhos se reproduziam tão rapidamente que consumiam o que não havia sido destruído pela seca. A fome também chegou às cidades, onde a subprodução agrícola elevou drasticamente os preços dos gêneros alimen- tícios. Gastando mais com a alimentação, a população das cidades deixou de comprar manufaturados, cujas fábricas dispensaram seus empregados. Multidões de pedintes e fa- mintos passaram a povoar as cidades francesas. Em meio a essa crise e às condições deploráveis da população, os há- bitos dispendiosos da nobreza, particularmente da nobreza palaciana, não recuaram. Em 1786, o governo do rei assinou o Tratado Eden-Rayne- val, diminuindo as taxas alfandegárias sobre os produtos primários exportados para a Inglaterra. Em contrapartida, a França diminuiria suas tarifas para as mercadorias indus- trializadas britânicas, principalmente as têxteis. Com isso, a burguesia francesa sofreu um forte abalo diante da concor- rência inglesa. As manufaturas têxteis francesas não supor- taram a concorrência e várias delas faliram, aumentando o desemprego e a miséria. O rei Luis XVI iniciava assim uma série de tentativas de re- formas econômicas e sociais para salvar a França, mas todas elas encontravam sempre forte resistência dos setores sociais. 2.3. A situação política A França vivia a contingência de um Estado absolutista. Os reis franceses haviam difundido a crença de que seu poder derivava de Deus e que só deveriam prestar contas a Ele ou a sua própria consciência. Aos súditos só restava a obediência total. Contestar o rei significava contestar o próprio Deus, que o havia escolhido para governar o país. Não havia Constituição e a vontade real era a lei. Todos os poderes estavam nas mãos do soberano, que fazia a guerra e declarava a paz, nomeava e demitia funcionários, vendia monopólios e criava tributos. Não havia nenhuma das liber- dades clássicas, como liberdade de expressão e de religião. Com a política econômica mercantilista, o Estado dirigia toda a economia do país, e os burgueses tinham limitada sua liberdade de exercer o comércio em razão das condições impostas pelo Estado absolutista, que tudo decidia: salários, preços, exportação, taxas de importação, etc. 2.4. A insatisfação da burguesia No final do século XVIII, as restrições e regulamentações mercantilistas eram desaprovadas pela burguesia enrique- cida e ávida pelo estabelecimento de condições para o ple- no desenvolvimento do capitalismo na França. Para isso, no entanto, fazia-se necessário derrubar o Absolutismo e as restrições mercantilistas, criando condições para uma igualdade social e jurídica. 8 2.5. A nobreza Uma parte da nobreza, desejosa de reaver seus antigos direitos feudais em plenitude, e outra parte, composta de parentes próximos do rei, como seu primo, o duque de Or- leans, pleiteavam seu direito ao trono com base em ques- tões de linhagem familiar, e muitos nobres estavam des- contentes por considerarem seus privilégios insuficientes ou desejarem cargos palacianos. Essa nobreza conspirava secreta ou abertamente contra o rei, utilizando-se, muitas vezes com demagogia, de legítimos direitos e necessidades burguesas ou populares. Aliados aos burgueses, havia membros de classe média urbana, profissionais liberais e intelectuais. Esse foi o caso, por exemplo, do advogado Maxime Robespierre, do aven- tureiro Georges Danton e do médico Jean Paul Marat. Mais tarde, eles e muitos outros desses ressentidos com o Abso- lutismo se tornariam os participantes e líderes mais radicais do processorevolucionário. O filme conta a história da jovem rainha da Fran- ça do século XVIII, Maria Antonieta. A princesa austríaca Maria Antonieta (Kirsten Dunst) é en- viada ainda adolescente à França para se casar com o príncipe Luis XVI (Jason Schwartzman), co- mo parte de um acordo entre os países. Na corte de Versalhes ela é envolvida em rígidas regras de etiqueta, ferrenhas disputas familiares e fofocas insuportáveis, mundo em que nunca se sentiu confortável. Praticamente exilada, decide criar um universo à parte dentro daquela corte, no qual pode se divertir e aproveitar sua juventude. Só que, fora das paredes do palácio, a revolução não pode mais esperar para explodir. Passando por uma grande turbulência, Antonieta perdeu um filho em plena Revolução Francesa. FONTE: YOUTUBE multimídia: vídeo MARIA ANTONIETA (2006) DOCUMENTÁRIO Revolução Francesa History Channel FONTE: YOUTUBE multimídia: vídeo 2.6. A influência do iluminismo A arma ideológica da Revolução Francesa, mediante a qual a burguesia conseguiu a hegemonia de pensamento e ga- rantiu o apoio do Terceiro estado, foi a filosofia iluminista. O contato direto com os filósofos da Ilustração e com suas ideias permitiu à classe burguesa transformar seus interes- ses particulares em interesses gerais de toda a sociedade francesa. A luta contra o Absolutismo, o mercantilismo e os privilégios sociais do clero e da nobreza também interessava aos camponeses, aos artesãos e a outras camadas sociais. 3. PROCESSO REVOLUCIONÁRIO Em virtude da grave crise que se abateu sobre a Fran- ça, Luis XVI criou a Assembleia dos Notáveis, apoia- da por reformistas como Necker, Turgot e Breinne. Eles propuseram uma taxação sobre a nobreza e o clero no intuito de cobrir o deficit do Estado e financiar projetos que melhorassem a vida do Terceiro Estado. Essa propos- ta, no entanto, foi recusada pela elite do Antigo Regime, que não aceitava pagar esses impostos. Essa recusa foi chamada de Revolta Nobiliárquica. Pressionado pelo con- junto da sociedade, o rei Luis XVI convocou, em 1789, a Assembleia dos Estados Gerais. Tratava-se de uma instituição política formada por representantes dos três Estados para assessorar o monarca em momentos de cri- se, mas que não se reunia desde 1614. Foi nesse ambien- te que eclodiu a Revolução Francesa. O Terceiro Estado apoiou a Assembleia dos Estados Ge- rais, pois acreditava que, nas eleições internas, com seus 578 representantes, teria a maioria dos votos. O clero te- ria 291 delegados, dos quais 200 eram do baixo clero; a nobreza teria 270 delegados, dos quais 90 eram da 9 nobreza iluminada (influenciada pelas ideias iluministas). Entretanto, a votação seria por Estado e não por “cabe- ça”, o que daria a vitória aos dois estamentos apoiadores do Antigo Regime. Com a recusa do clero e da nobreza de estabelecerem um acordo na votação, o Terceiro Estado se reuniu algumas semanas depois e se declarou em Assembleia Nacional Constituinte. Os representantes juraram permanecer jun- tos até a elaboração e a votação de uma Constituição para a França, atitude que ficou conhecida como o Juramento da Sala do Jogo da Pela, em 20 de junho de 1789, e mar- cou o início da Revolução Francesa. O JURAMENTO DA PELA, DE JACQUES-LOUIS DAVID. Os partidários de Luis XVI tentaram dissolver a Assembleia Constituinte noticiando a concentração das tropas do rei em Versalhes e Paris. A reação popular foi imediata. Em 14 de julho de 1789, a população pobre de Paris (sans-culot- tes) tomou de assalto a fortificação da Bastilha, antiga prisão do Estado e símbolo do Absolutismo. O rei recuou, numa demonstração de que o poder estava nas mãos do Terceiro Estado liderado pela burguesia. © E ve re tt H is to ric al /S hu tt er st oc k A BASTILHA, SÍMBOLO DA OPRESSÃO ABSOLUTISTA, FOI TOMADA E DESTRUÍDA PELO POVO EM 14 DE JULHO DE 1789. Nessa oportunidade, os servos promoveram uma profun- da revolução camponesa denominada Grande Medo. Diversos nobres fugiram (emigrados) para países bastiões do Antigo Regime, como a Áustria. Em 4 de agosto de 1789, os direitos feudais foram definitivamente extintos na França. 4. AS FASES DA REVOLUÇÃO 4.1. A Assembleia Nacional e a monarquia constitucional (1789–1792) DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO Para se aproximar mais ainda dos chamados ideais de li- berdade, igualdade e fraternidade, no dia 26 de agosto de 1789, a Assembleia votou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, documento escrito com base nas ideias do Iluminismo em defesa do direito de todos à liberdade, à propriedade e à igualdade jurídica. A elite do Antigo Regime buscou anular a declaração. Entretanto, nas jornadas de outubro os sans-culottes expulsaram a família real do palácio de Versalhes para o palácio das Tulherias, dando um claro sinal de que o rei perdia cada vez mais po- der. A bandeira francesa com as cores azul, branca e verme- lha passou a se referir ao lema da Revolução e, aos poucos, tomou o lugar do Estado dos Bourbons. Outro símbolo da Revolução foi a canção de guerra da Marselhesa, cantada como expressão de liberdade, igualdade e fraternidade e transformada no hino nacional da França. A BANDEIRA TRICOLOR FRANCESA NASCEU DURANTE A REVOLUÇÃO FRANCESA, COM AS CORES DO REI (BRANCO) E DA CIDADE DE PARIS (AZUL E VERMELHO). 10 Em 1790, com a criação da Constituição Civil do Clero, que nacionalizava as propriedades da Igreja a favor do Estado, o Antigo Regime levou outro golpe. Com isso, constituiu-se um lastro que permitiu ao governo emitir moeda e pagar o deficit público. Alguns membros do clero, como Sieyés, apoiaram a atitude. Uma parcela dele, no entanto, não aceitou e fugiu para países ainda absolutistas. Em 1791, a monarquia constitucional foi legalmente im- plantada pela promulgação da Constituição Liberal, inspi- rada nos ideais iluministas da burguesia. No entanto, se a nova Constituição representava um avanço em relação ao Absolutismo do Antigo Regime, ela deixava a desejar em relação às aspirações radicais dos sans-culottes, uma vez que o voto era censitário, ou seja, baseado na renda, im- possibilitando o direito de voto a uma parcela significativa da população. As reivindicações das camadas pobres não foram satisfeitas, como a distribuição de riquezas e o fim da escravidão nas colônias. No parlamento francês, os deputados se dividiram em facções que identificavam os grupos políticos separados ideologica- mente. À direita, na parte de baixo da Assembleia, estavam os girondinos, representantes da alta burguesia e influencia- dos pelas ideias de Montesquieu. Os girondinos apoiavam a liberdade econômica e a instauração da divisão social própria do capitalismo. À esquerda, estavam os jacobinos, também denominados “montanha”, uma vez que se sentavam no lo- cal mais alto. Liderados por Robespierre, foram fortalecidos pelos cordeliers, mais radicais, Danton e Marat. Os jacobinos representavam a pequena burguesia e as camadas populares, defendiam a República, o voto masculino universal e o tabe- lamento de preços. Posteriormente, quando representantes da direita girondina precisavam negociar assuntos políticos com os jacobinos, eles se dirigiam ao centro, denominado “pântano”, para gerar a falsa sensação de que eram neutros. Com o poder político cada vez mais nas mãos do parla- mento, o rei Luis XVI tentou fugir para a Áustria com o intuito de se aliar militarmente ao imperador austríaco e retornar à França reavendo seu poder absolutista. Foi descoberto em Varennes, preso e levado a Paris. Em razão desse fato, bem como da disseminação dos ideais liberais na Europa de 1792, os reis absolutistas da Áustria e da Prússia formaram uma coligação para invadir a França, com o apoio da nobreza emigrada liderada pelo duque Brunswick. Em retaliação, a população parisiense, liderada por Danton e Marat, promoveu o massacre de setembro: invadiu o palácio das Tulherias e matou nobres, exigindo novas eleições porvoto universal. Enfraquecida, restou à família real francesa torcer pela vitória dos países adeptos do Antigo Regime, bem como pela burguesia girondina, que temia a vitória eleitoral dos jacobinos, cada vez mais próximos dos sans-culottes. O exército francês venceu as forças da Áustria e da Prússia, e o partido jacobino assumiu o poder republicano ao guilhotinar o rei Luis XVI, em 21 de janeiro de 1793, depois de um julgamento forjado a portas fechadas e cheio de arbitrariedades. DETENÇÃO DE LUIS XVI E SUA FAMÍLIA, EM VARENNES, 1791. A Revolução Francesa, um dos momentos mais críticos da história da humanidade, deu início a um novo período, inaugurando os tem- pos modernos. A narrativa apresentada nesse livro acompanha todos os acontecimentos da Revolução Francesa junto ao protagonista Jo- aquim – um estudante brasileiro que chega a Paris justamente nos momentos iniciais da Re- volução Francesa e acaba aderindo à luta pela liberdade, igualdade e fraternidade. A Revolução Francesa, de Carlos Guilherme Mota multimídia: livros 4.2. Convenção (1792–1794) A guerra da França liberal contra a Áustria e a Prússia, de- fensoras do Absolutismo, a tentativa de fuga do rei Luis XVI, a indefinição do governo burguês e a vitória do exér- cito popular dos sans-culottes sobre as forças do Antigo Regime provocaram a radicalização popular capitaneada pelos jacobinos. Nesse contexto de extremos, foi realizada uma eleição nacional, em que as forças de esquerda venceram com a 11 implantação do voto universal masculino, ou seja, o sufrá- gio universal: direito de voto a todos os cidadãos homens e maiores de 21 anos, independentemente da renda. Em consequência, as ideias de Rousseau se difundiram e a agi- tação popular se disseminou por todo o território francês, tornando peculiar a Revolução Francesa, uma vez que as revoluções burguesas inglesas não haviam sido popula- res. De maioria jacobina, o novo parlamento implantou na França a República, em 22 de setembro de 1792, cujos novos mandatários foram os radicais Danton, Marat e Sain- t-Just, sob a liderança de Robespierre, o “incorruptível”. No entanto, a morte do rei Luis XVI não consolidou as mudanças jacobinas, pois se formou uma coligação de países com o objetivo de invadir a França revolucionária. Essa coligação era formada por países absolutistas pode- rosos, como Áustria, Prússia, Rússia, Espanha e Inglaterra e deixou os franceses apreensivos. Embora a Inglaterra já tivesse passado pela revolução burguesa liberal, sua parti- cipação na coligação justificava-se apenas pelos interesses econômicos, pois pretendia evitar a concorrência com os possíveis produtos manufaturados que o novo sistema ca- pitalista francês pudesse produzir. A ironia da morte do rei na guilhotina, e um ano mais tarde da rainha Maria Antonieta e de tantos milhares de france- ses, incluindo muitos revolucionários que iniciaram o movi- mento, é que o governo revolucionário fazia isso em nome de ideais iluministas, como a igualdade jurídica, o amplo direito de defesa legal e a transparência total nos proces- sos judiciais. Contudo, nada disso ocorria nos “processos” que levaram diversas pessoas à guilhotina, chamada na época por seus adeptos de “a navalha nacional”. MAXIMILIEN DE ROBESPIERRE Outra questão enfrentada pelos jacobinos foi uma grande revolta popular ocorrida em Vendeia, com a participação de camponeses, artesãos, nobres e clérigos. A revolta de- monstrava que a Revolução não era tão popular como que- ria parecer. Esse movimento foi brutalmente reprimido pelo governo central e seus representantes regionais. Os jacobinos criaram então o Comitê de Salvação Pú- blica, órgão radical do governo encarregado de implantar o tabelamento de preços pela lei do máximo, numa ten- tativa de conter a inflação. Mesmo contando com o apoio dos sans-culottes, a lei foi criticada pelos comerciantes, pois comprometia a margem de lucro da burguesia, que defendia os princípios do liberalismo de não intervenção do Estado na economia. O Comitê de Salvação Pública esboçou a implantação do ensino público, estimulou o aumento dos salários, lega- lizou e aumentou a reforma agrária, capitaneada pelos ex-servos na área rural, e promoveu a abolição da escra- vidão nas colônias. A radicalização de Robespierre também afetava a cultura e a religião. O governo revolucionário tentou implantar o “culto” a uma nova religião baseada no deísmo, que cul- tuaria o Ser Supremo mediante uma ética racional. Criou também o Museu do Louvre, a Escola Politécnica e o Con- servatório, bem como um novo calendário, em que o ano da proclamação da República passou a ser considerado o ano I e os meses receberam novas denominações de acor- do com as estações do ano, as condições climáticas e o período das colheitas agrícolas. Calendário Revolucionário Estação Ordem Mês Ocorrência Duração Outono 1.º vindimário colheita de uvas (vindima) 21/9 – 20/10 2.º brumário brumas, névoa 21/10 – 20/11 3.º frimário geada (do fr. frimas) 21/11 – 20/12 Inverno 4.º nivoso neve 21/12 – 20/1 5.º pluvioso chuva 21/1 – 20/2 6.º ventoso vento 21/2 – 20/3 Primavera 7.º germinal germinação dos vegetais 21/3 – 20/4 8.º floreal flores 21/4 – 20/5 9.º prairial pradarias 21/5 – 20/6 Verão 10.º messidor colheita (do lat. messe) 21/6 – 20/7 11.º temidor calor (do gr. therme) 21/7 – 20/8 12.º frutidor frutas 21/8 – 20/9 4.3. O terror Como as invasões estrangeiras, a Revolta da Vendeia e a oposição burguesa estavam pondo em risco o programa po- pular, os jacobinos radicalizaram mais ainda a Revolução e implantaram o Tribunal Revolucionário, que processou, julgou e condenou sumariamente à guilhotina supostos inimigos do governo. Esse momento de massacre, que con- tou com o apoio dos sans-culottes, foi chamado de grande 12 terror ou terror jacobino. Ele insuflava o ódio popular ao guilhotinar representantes do Antigo Regime e da burguesia. Enquanto os girondinos eram mortos, a burguesia do “pân- tano” (centro) apoiava os jacobinos numa aliança tática, mas não ideológica, com o intuito de não ser guilhotinada. Apesar de existir a defesa dos ideais populares no interior do governo e de o exército ter derrotado as forças da coligação absolutista estrangeira e reprimido a Revolta da Vendeia, di- vergências internas enfraqueceram o governo dos jacobinos. O grupo dos indulgentes, liderado por Danton, desejava a diminuição do terror, uma vez que a oposição já tinha sido debelada; os hebertistas, por sua vez, desejavam radicalizar ainda mais o terror. Essas divergências se acentuaram com a morte do radical Marat, atribuída a Danton. Robespierre liderou uma perseguição abusiva às duas fac- ções. Por receio de que ambas pudessem sair do controle, foram todos guilhotinados. Os sans-culottes, amedronta- dos com o aumento da violência, deixaram de apoiar os jacobinos, que ficaram isolados no poder. ROBESPIERRE É CONDUZIDO À GUILHOTINA. Girondinos sobreviventes do terror se aliaram aos depu- tados do “pântano” e articularam um golpe. Robespierre apelou às massas populares de Paris. No entanto, os he- bertistas, que poderiam mobilizá-las, estavam mortos, e os sans-culottes não responderam ao seu chamado. Ro- bespierre e os líderes jacobinos foram guilhotinados. Era o golpe do Nove Termidor, de 27 de junho de 1794, tam- bém conhecido como Reação Termidoriana, que marcou a queda da convenção jacobina e a volta da alta burguesia girondina ao poder. 4.4. Diretório (1794–1799) Com a alta burguesia no poder, representada politicamen- te pelos girondinos, foi instaurada uma República que des- truiu os avanços sociais consolidados pelos jacobinos, bem como as possibilidades de retorno das forças retrógradas do Antigo Regime. Para consolidar os privilégios burgueses, foi criada uma nova Constituição: a Constituição do Ano III (1795), que extinguiu o tabelamento de preços, fez voltar a escravidão nas colônias, esvaziou o Comitê de Salvação Pública e des- moralizouo Tribunal Revolucionário. O voto universal foi substituído pelo censitário, para revolta dos sans-culottes. O diretório extinguiu a lei do máximo e franqueou a volta da elevação de preços das mercadorias populares, promo- vendo o retorno da liberdade econômica própria do libera- lismo e da lei da oferta e da procura do liberal Adam Smith. A estrutura política ficou nas mãos de cinco diretores, cujo papel era chefiar o Poder Executivo. O Legislativo era composto pelo Conselho de Anciãos e pelo Conselho dos 500, modelo que criou condições para o enfraquecimento do governo. Os diretores brigavam entre si pela defesa de seus interesses e pelo poder. Não conseguiam barrar a cor- rupção nem eram eficientes na administração pública e na construção das obras públicas. O liberalismo econômico era total. Em virtude da inflação crescente, os preços subiam descontroladamente, penali- zando as camadas mais pobres da sociedade. A corrupção era generalizada. Comentava-se que agentes do governo vendiam armas do exército francês para os países em guer- ra contra a França. Cercado de agiotas, corruptos e especuladores, o governo do Diretório não tinha a confiança de ninguém, nem mes- mo da alta burguesia a quem representava. Ela sabia que, por meio dele, não conseguiria manter o poder, sem contar os inúmeros inimigos internos e externos. De um lado, as camadas populares e os jacobinos desejavam um governo popular; de outro, o clero e a nobreza tentavam restaurar o Absolutismo; e, externamente, os países absolutistas, li- derados pela Inglaterra, ameaçavam impedir uma futura concorrência industrial francesa. Em 1795, foi abortado um golpe realista em Paris. No ano seguinte, foi sufocado um movimento popular de tendên- cia socialista, a Conjuração dos Iguais, cujo líder, Graco Ba- beuf, defendia a soberania popular e a supressão da pro- priedade privada. Preso, Babeuf foi guilhotinado em 1797. O Diretório percebeu seu profundo isolamento político das massas populares. A única instituição que poderia proteger seus interesses seria a ala do exército, liderada pelo jovem e popular general Napoleão Bonaparte. Quando da Revo- lução, ele era um simples tenente, mas tornou-se general de brigada aos 24 anos. Depois de um breve período de entusiasmo pelos jacobinos, afastou-se de sua paixão juve- nil. Ajudou a Revolução a combater os países absolutistas que haviam invadido a França e fora o responsável pelo fracasso do golpe realista de 1795, o que o tornou confiá- vel aos olhos da alta burguesia. 13 GRACO BABEUF Enviado ao Egito para tentar interferir nos interesses do império inglês, o exército de Napoleão foi cercado pela marinha inglesa. Enquanto isso, os exércitos franceses iam sendo derrotados na Europa. Napoleão deixou seu exército no Egito. Seguido de alguns generais fiéis, reembarcou para a França, onde, com o apoio de dois diretores, de toda a alta burguesia e dos sans-culot- tes, que o viam como uma espécie de salvador da pátria, assumiu o poder no Golpe 18 Brumário, em novembro de 1799. Esse fato gerou o início de uma pacificação interna e a consolidação dos interesses da burguesia francesa. O GENERAL BONAPARTE NO CONSELHO DOS QUINHENTOS, DE BOUCHOT. 4.5. Conclusão A radicalização que caracterizou a Revolução Francesa dife- rencia esse evento histórico da Revolução Gloriosa, de 1688, na Inglaterra, e da Independência dos EUA. A participação popular dos sans-culottes nas ruas de Paris e a luta dos cam- poneses no Grande Medo criaram situações em que as pro- postas da esquerda jacobina puseram em risco tanto a con- tinuidade do Antigo Regime quanto a vitória da burguesia. Com efeito, elas serviram de inspiração para que os ideais democráticos, na concepção liberal ou popular, e adequados aos avanços e à continuidade expansionista do capitalismo, fossem desejados e reivindicados pelas populações de ou- tros países como uma possibilidade. Em termos políticos e sociais, a Revolução Francesa criou um paradoxo que foi repetido em outros movimentos ins- pirados diretamente por ela, como as Revoluções Liberais de 1830 e 1848, a Comuna de Paris de 1871, a Revolução Russa de 1917 e a ascensão do fascismo e do nazismo. Esse paradoxo está ligado aos próprios ideiais de democra- cia, liberdade e participação social popular. Tudo ocorre bem quando setores da sociedade concordam plenamente com o “grupo revolucionário” que assume o poder desse processo de mudança e se submetem a ele irrestritamente; no entanto, em caso de divergência, discor- dância ou desobediência, os indivíduos e os grupos sociais são duramente reprimidos e massacrados em nome da mesma liberdade que estão tentando consolidar. Nesse livro, Eric Hobsbawn mostra como a Revolução Francesa e a Revolução Industrial inglesa abriram o caminho para a renascença das ciências, da filosofia, da religião e das ar- tes, mas não conseguiram resolver os impas- ses criados pelas fortes contradições sociais, que transformaram o período numa conturba- da fase de movimentos revolucionários. A Era das Revoluções, de Eric J. Hobsbawm multimídia: livros 14 CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS A guilhotina foi utilizada durante a Revolução Francesa para aplicar a pena de morte por decapitação. O aparelho é constituído de uma grande armação reta (aproximadamente 4 m de altura), na qual é suspensa uma lâmina losangular pesada (de cerca de 40 kg). As medidas e o peso indicados são os das normas francesas. A lâmina é guiada à parte superior da armação por uma corda e fica mantida no alto até que a cabeça do condenado seja colocada sobre uma barra que a impede de se mover. A força aplicada sobre o pescoço do executado chega a 400 N, considerando a aceleração gravitacional de 10 m/s². 15 Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade histórico-geográfica. ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM 10 Habilidade Por meio de discursos, leis, documentos e imagens, a Habilidade 10 exige do candidato a capacidade de analisar a im- portância dos movimentos sociais e políticos na transformação da realidade histórica. Trata-se de uma habilidade muito cobrada pelo vestibular, principalmente em eventos históricos de grande ruptura, como a Revolução Francesa (1789). Para solucionar a questão, o candidato deve ser capaz de captar o teor ideológico e reconhecer os principais intelectuais desses movimentos. Quase sempre, os excertos apresentados são fundamentais para a resolução, o que exige capacida- de de interpretação de texto. Assim, diante desses grandes eventos históricos, o aluno não deverá simplesmente se ater à sequência dos fatos, mas também estudar os atores históricos e as suas respectivas ideologias. Modelo (Enem) Em nosso país queremos substituir o egoísmo pela moral, a honra pela probidade, os usos pelos princípios, as conveniências pelos deveres, a tirania da moda pelo império da razão, o desprezo à desgraça pelo desprezo ao vício, a insolência pelo orgulho, a vaidade pela grandeza de alma, o amor ao dinheiro pelo amor à glória, a boa companhia pelas boas pessoas, a intriga pelo mérito, o espirituoso pelo gênio, o brilho pela verdade, o tédio da volúpia pelo encanto da felicidade, a mesquinharia dos grandes pela grandeza do homem. HUNT, L. REVOLUÇÃO FRANCESA E VIDA PRIVADA. IN: PERROT, M. (ORG.) HISTÓRIA DA VIDA PRIVADA: DA REVOLUÇÃO FRANCESA À PRIMEIRA GUERRA. VOL. 4. SÃO PAULO: COMPANHIA DAS LETRAS, 1991 (ADAPTADO). O discurso de Robespierre, de 5 de fevereiro de 1794, do qual o trecho transcrito é parte, relaciona-se a qual dos grupos político-sociais envolvidos na Revolução Francesa? a) À alta burguesia, que desejava participar do poder legislativo francês como força política dominante. b) Ao clero francês, que desejava justiça social e era ligado à alta burguesia. c) A militares oriundos da pequena e média burguesia, que derrotaram as potências rivais e queriam reorganizar a França internamente. d) Ànobreza esclarecida, que, em função do seu contato com os intelectuais iluministas, desejava extinguir o Absolutismo francês. e) Aos representantes da pequena e média burguesia e das camadas populares, que desejavam justiça social e direitos políticos. Análise expositiva - Habilidade 10: Robespierre foi o principal líder jacobino e comandou o governo da França entre 1792 e 1794, durante a Revolução. Considerado um líder popular, era advogado e membro de uma pequena burguesia arruinada financeiramente. Defendeu medidas de controle econômico e de geração de empregos, assim como a ampliação dos direitos políticos a todos os homens, independentemente da renda. Alternativa E E 16 REVOLUÇÃO FRANCESA FASES DA REVOLUÇÃO ASSEMBLEIA NACIONAL E MONARQUIA CONSTITUCIONAL (1789 - 1792) 1º E 2º ESTADOS • TAXAÇÃO DA BURGUESIA • VOTO POR ESTAMENTO • DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO • CONSTITUIÇÃO CIVIL DO CLERO • CONSTITUIÇÃO LIBERAL E VOTO CENSITÁRIO MEDIDAS INVASÃO DA ÁUSTRIA E DA PRÚSSIA - DERROTADAS FUGA DO REI 3º ESTADO • TAXAÇÃO DA NOBREZA • VOTO POR CABEÇA CRISE ECONÔMICA • ASSEMBLEIA DOS NOTÁVEIS OU ESTADOS GERAIS • PAUTAS: SOLUÇÃO DA CRISE ECONÔMICA 3º ESTADO FORMA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE QUEDA DA BASTILHA • FINANCIAMENTO DA NOBREZA • GUERRA DOS 7 ANOS • CRISE AGRÍCOLA • RUPTURA COM A ORIGEM SOCIAL FEUDAL • DESTRUIÇÃO DO ANTIGO REGIME (ABSOLUTISMO) • REVOLUÇÃO BURGUESA • INFLUÊNCIA DO ILUMINISMO • PARTIÇÃO POPULAR DIVERGÊNCIAS CARACTERÍSTICAS ESTOPIM ORDEM SOCIAL DO ABSOLUTISMO ARISTOCRACIA TRADICIONAL BURGUESIA QUE DETÉM TÍTULOS CAMPONESES, PEQUENA BURGUESIA, COMERCIANTES, “SANS CULLOTES” 1º ESTADO: CLERO 2º ESTADO: NOBREZA 3º ESTADO: SERVOS I FORMAÇÃO DE FACÇÕES POLÍTICAS JACOBINOS PÂNTANO GIRONDINOS • ESQUERDA • RADICAIS • “SANS CULLOTES” • PEQUENAS BURGUESIAS • CENTRO • DIREITA • LIBERAIS • ALTA BURGUESIA DIAGRAMA DE IDEIAS 17 CONVENÇÃO (1792 - 1794) DIRETÓRIO (1794 - 1799) - GOVERNO DA ALTA BURGUESIA II III • COMITÊ DE SALVAÇÃO PÚBLICA • TRIBUNAL REVOLUCIONÁRIO PERDA DE APOIO POLÍTICO GOLPE DO 9 TERMIDOR • FORMAÇÃO DE COLIGAÇÃO ESTRANGEIRA CONTRARREVOLUCIONÁRIA • DECAPITAÇÃO DO REI • VOTO UNIVERSAL MASCULINO • CONTROLE DOS PREÇOS • REFORMA AGRÁRIA • NOVO CALENDÁRIO • ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO NAS COLÔNIAS • REPÚBLICA ELEIÇÕES GERAIS VITÓRIA DOS JACOBINOS MEDIDAS ÓRGÃOS O TERROR • NOVA CONSTITUIÇÃO • REVOGAÇÃO DE MEDIDAS JACOBINAS • PREÇOS REGULADOS PELO MERCADO (LIBERALISMO ECONÔMICO) • PODER EXECUTIVO - 5 DIRETORES • CORRUPÇÃO • INFLAÇÃO • TENSÕES POLÍTICAS • INVASÕES ESTRANGEIRAS • EXÉRCITO TOMA O PODER • LIDERANCA DE NAPOLEÃO BONAPARTE MEDIDAS CARACTERÍSTICAS GOLPE DE 18 BRUMÁRIO (1799) DIAGRAMA DE IDEIAS 18 ERA NAPOLEÔNICA E O CONGRESSO DE VIENAAULAS 29 E 30 O PRIMEIRO-CÔNSUL NAPOLEÃO CRUZANDO OS ALPES NO PASSO DE GRANDE SÃO BERNARDO, DE JACQUES-LOUIS DAVID. 1800. KUNSTHISTORISCHES MUSEUM. 1. ERA NAPOLEÔNICA (1799-1815) 1.1. Introdução A era napoleônica, iniciada em 1799, foi um acontecimen- to político que beneficiou a burguesia. Por intermédio do exército foram anuladas as forças conservadoras que dese- javam o retorno do Antigo Regime ao poder, bem como fo- ram enfraquecidos os grupos de esquerda, principalmente os jacobinos, que ainda desejavam uma França guiada pe- las ideias de Robespierre ou de Babeuf. Por esses motivos, alguns historiadores consideram o governo de Napoleão Bonaparte a última fase da Revolução Francesa. Esse período teve três momentos: Consulado, Império e Governo dos Cem Dias. O Consulado foi caracteriza- do pela implantação de propostas burguesas que con- firmaram o liberalismo econômico e o Iluminismo como a ideologia que consolidava o capitalismo. O Império foi COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4, 5 e 6 HABILIDADES: 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 13, 14, 16, 17, 18, 20, 22, 23, 24, 25, 26, 28 e 29 uma ditadura pessoal de Napoleão, baseada no poder do exército, quando se reafirmaram os ideais burgueses e a busca de mercado consumidor para as manufaturas francesas, o que contrariou os interesses ingleses, que impuseram o Bloqueio Continental. Ainda assim, numa espécie de “revolução de botas”, a ditadura cumpriu seu papel de propagandista dos ideais de liberdade, igualda- de e fraternidade da Revolução Francesa. 1.2. Consulado (1799-1804) O início do governo de Napoleão Bonaparte se baseou em uma Constituição promulgada em 1799 e mostrou vínculos com diversas camadas da sociedade francesa, cujo apoio a Bonaparte se fundamentava na ideia popular de que ele se- ria o salvador da pátria, o personagem que retiraria a França da situação de miséria e ressuscitaria a infraestrutura produ- tiva do país. A Constituição de 1799 dividiu o Legislativo em quatro subparlamentos fracos. O poder de fato (Executivo) fi- caria nas mãos de três cônsules (Napoleão, Sieyès1 e Ducos2), dos quais Napoleão seria o primeiro-cônsul, e os outros dois seriam seus subalternos com mandatos de dez anos. Uma das primeiras tarefas de Bonaparte foi eliminar o peri- go externo. Para isso, avançou sobre a Segunda Coligação (Inglaterra, Áustria e Rússia), servindo-se inclusive de intrigas diplomáticas cuidadosamente elaboradas que resultaram na saída da Rússia da Coligação. Em 1800, a Áustria foi derro- tada na Batalha de Marengo, e, em 1802, Napoleão buscou um acordo com a Inglaterra, assinando a Paz de Amiens (1802), que redefiniu fronteiras coloniais, como as do Egito e das Guianas, transmitindo a falsa sensação de que a França tinha perdido o desejo de expansão intercontinental. Napoleão, então, passou a se dedicar aos burgueses. Ele anulou os oposicionistas realistas e jacobinos e conseguiu que o governo estabelecesse uma relativa estabilidade graças à concessão de uma anistia aos opositores do Con- sulado. Preocupado em conquistar o apoio dos camponeses, que, durante o governo jacobino, haviam se tornado donos das 1. Esse abade Sieyès foi o mesmo, que em 1789, insuflara a Revo- lução com o panfleto “O que é o Terceiro Estado”. Foi um dos raros líderes revolucionários a atravessar vivo os dez anos de Revolução. 2. Roger Ducos, general francês, era também ex-membro do Di- retório. 19 terras em que trabalhavam, Napoleão tomou várias me- didas para legalizar essas propriedades, o que lhe rendeu imensa popularidade em todo o interior da França. A crise financeira foi controlada pela fundação do Banco da França (1800), que passou a exercer o controle da emis- são de papel-moeda (franco), reduzindo o processo infla- cionário. Além disso, o banco financiou a estrutura admi- nistrativa do governo, as obras públicas e, principalmente, as indústrias, que tornaram a França um país capitalista eficiente e competitivo. Napoleão também se preocupou com o tema da educa- ção popular. Ele sabia que o desenvolvimento industrial da França dependia da formação de uma abundante mão de obra minimamente qualificada. O ensino secundário foi organizado com a finalidade de instruir funcionários para o Estado. Para governar a França, Napoleão usou o plebiscito. Todas as decisões importantes do primeiro-cônsul eram subme- tidas ao referendo popular pelo voto universal. Assim, ele conseguiu o apoio do homem comum. No entanto, para que esse mecanismo político funcionasse a favor do go- verno, era preciso garantir a boa imagem dos governantes e, principalmente, silenciar quem discordasse do governo. Para isso, Napoleão censurou todos os jornais que se opu- nham a sua política e criou um poderoso aparato policial destinado a reprimir qualquer oposição. Considerado por Napoleão sua obra mais importante, o Código Civil garantia os princípios de cidadania bur- gueses, baseados na liberdade individual, de trabalho e de consciência, e reiterava as propostas iluministas do Estado laico e da igualdade jurídica. Inspirado no Direito Roma- no e ratificado em 1804, o Código garantiu o direito de propriedade, proibiu as greves operárias e a organizaçãosindical e regulamentou os procedimentos civis e criminais relacionados à família. Outra medida política importante de Bonaparte foi sua aproximação com a Igreja Católica. Apoiado pelo papa Pio VII, criou a Concordata (1801), que permitia o controle do papa sobre o clero francês em troca de sua proteção e de sua inserção no Estado bonapartista. O papa aceitou o confisco dos bens eclesiásticos, e o Estado ficou proibido de interferir no culto; os bispos, indicados pelo governo e investidos nas funções religiosas pelo papa, prestariam ju- ramento de fidelidade ao governo; as bulas só entrariam em vigor depois de aprovadas por Napoleão. Em 1802, graças ao êxito da política interna e externa de Napoleão, foi estabelecida a hereditariedade do Consula- do: o primeiro-cônsul recebeu do Senado o direito de indi- car seu sucessor. Tratava-se, na realidade, da implantação da monarquia hereditária. 1.3. Império (1804–1814) NAPOLEÃO I EM REGALIA, DE FRANÇOIS GÉRARD. 1805. PALÁCIO DE VERSALHES. Consolidada internamente a Revolução e vencida a resistên- cia dos inimigos externos, Napoleão garantiu o apoio da burguesia, do exército e dos camponeses. Fortalecido, não hesitou em dar mais um passo para a exaltação de sua per- sonalidade. Em 1804, foi promulgada a Constituição do ano XII, aprovada em plebiscito pela imensa maioria da popula- ção francesa, que substituía o regime de Consulado pelo de Império. Napoleão foi coroado na Catedral de Notre-Dame sob o título de Napoleão I, Imperador dos franceses. Um imperador que defenderia os ideais da República. Napoleão legalizou a reforma agrária, contribuindo para a expansão agrícola e para a melhoria do padrão de vida de camponeses e pequenos proprietários rurais; financiou generosamente as indústrias, que passaram a buscar um mercado consumidor fora de suas fronteiras; realizou obras públicas que revitalizaram a infraestrutura, como abertura de canais, reconstrução de portos, construção de estradas e embelezamento das cidades. A essas medidas soma-se a transformação do ensino de História e Filosofia, dirigido aos jovens, em doutrinação político-ideológica. Essa reali- dade político-ideológica, vigiada por uma eficiente censu- ra, confirmou, na consciência dos sans-culottes, a sensação de que Napoleão Bonaparte era invencível, o “salvador da pátria”, uma Joana D’Arc de calças. A ação política do império napoleônico foi arbitrária: limitou as conquistas estabelecidas pela Revolução, a liberdade indi- vidual e de pensamento; jornais e revistas foram censurados. Como nos tempos do Absolutismo, um cidadão poderia ser encarcerado por qualquer motivo e sem explicação. 20 Apesar do despotismo napoleônico, o Absolutismo não foi restaurado, dadas as diferenças históricas das duas formas de poder político: o império napoleônico era essencialmen- te burguês, atendia às necessidades e aos interesses da burguesia – a “paz social” e a liberdade de comércio e desenvolvimento industrial. A nobreza do novo regime pro- vinha da burguesia: parentes do imperador, generais, gran- des comerciantes, banqueiros e industriais. Seus títulos, no entanto, não lhes conferiam privilégios como no Antigo Regime, uma vez que, perante a lei, os novos nobres eram iguais aos demais cidadãos. Napoleão Bonaparte é um dos maiores líderes da História. Famoso por seu surpreendente su- cesso no campo de batalha, contribuiu para a França tornar-se a maior potência continental imperial desde Roma. Sua influência duradou- ra estende-se além da esfera militar, moldan- do a Europa que conhecemos hoje. Esse livro dá uma ideia sem precedentes da mente do homem extraordinário que, com um início modesto na Córsega, tornou-se imperador da França e de seu vasto império. O livro examina as batalhas que fizeram dele uma lenda e ana- lisa as reformas políticas e sociais que realizou e que revolucionaram o mundo ocidental. Napoleão: sua vida, suas batalhas, seu império, de David Chanteranne e Emmanuelle Popot multimídia: livros 1.4. Política externa A paz com a Inglaterra foi passageira. A França havia es- tabelecido uma política protecionista que prejudicava o comércio inglês. A Inglaterra, por sua vez, recusava-se a abandonar Malta e Egito, como ficara decidido na Paz de Amiens. Para os ingleses, a luta contra os franceses torna- va-se inevitável, dada a concorrência comercial e industrial nos mercados europeus. Além disso, o exemplo francês po- deria instigar na Inglaterra o levante das camadas pobres da população, que, desde a Revolução Gloriosa de 1688, mantinham-se sujeita ao controle da burguesia. Para as monarquias absolutistas europeias partidárias do Antigo Regime e defensoras dos privilégios aristocráticos e de reformas mais conservadoras, derrotar a França era uma questão de sobrevivência, uma garantia de que os ideais da Revolução Francesa não teriam sucesso no continente europeu. A suspeita de que os franceses estavam se preparando para invadir a Inglaterra fez com que os ingleses restabele- cessem a aliança com a Rússia, governada então por Ale- xandre I. Com a adesão da Áustria, da Suécia e de Nápoles, estava formada a Terceira Coligação antifrancesa (1803). A França, por sua vez, ganhou o apoio da Espanha, cuja esquadra de guerra se juntou aos navios franceses para enfrentar a Marinha inglesa. Mesmo assim, a poderosa es- quadra britânica, comandada pelo almirante Nelson, saiu- -se vitoriosa na famosa Batalha de Trafalgar (1805), que impediu a invasão da Inglaterra por Napoleão. © E ve re tt H is to ric al /S hu tt er st oc k 1805 NAPOLEON AT AUSTERLITZ, DE ERNEST MEISSONIER (1815–1891). 1908. A GRANDE LINHA DA CAVALARIA E ARTILHARIA FRANCEZA DURANTE BATALHA EM AUSTERLITZ. Em terra, porém, a superioridade francesa era indiscutível. Nas batalhas de Ulm, na Prússia, e em Austerlitz, no Sacro Império Romano-Germânico, Napoleão derrotou as tropas austríacas e russas. Napoleão suprimiu o que restava do Sacro Império Romano-Germânico e criou, em 1806, a Confederação do Reno, que reunia a maioria dos Estados alemães, dos quais Napoleão se autodenominou “prote- tor”. Com a Confederação do Reno manteve-se a frag- mentação política dos alemães, agora controlados pelos franceses. Em 1806, Napoleão decretou o Bloqueio Continental contra a Inglaterra, acreditando que, ao fechar o acesso dos ingleses aos mercados europeus, poderia provocar uma crise na indústria inglesa e, consequentemente, uma crise social sem tamanho. O decreto proibia os países eu- ropeus sob domínio francês ou aliados da França de adqui- rirem produtos ingleses ou de receberem embarcações da Inglaterra em seus portos. No mesmo ano, Inglaterra, Rússia e Prússia formaram a Quarta Coligação. A Prússia foi rapidamente derrotada na Batalha de Iena (Prússia), e os russos caíram em 1807, nas Batalhas de Eylau e Friedland (Prússia). Pela Paz de Tilsit, a Prússia foi desmembrada e a Rússia tornou-se aliada da França. 21 Países aliados da Inglaterra tentaram resistir às pressões francesas para aderir ao Bloqueio Continental. Foi o caso de Portugal, que, por esse motivo, foi invadido por Napo- leão. Em 1807, a Corte portuguesa foi obrigada a fugir para o Brasil com o apoio inglês. A mudança da coroa portuguesa para o Brasil facilitou as atividades econô- micas da Inglaterra, uma vez que os ingleses passaram a negociar diretamente com Portugal. Mas isso não era o suficiente. Os espanhóis enfrentavam uma grave crise política, fato que favoreceu a ocupação da Espanha pelas tropas francesas. Em 1808, a Espanha passou a ser governada por José I, irmão de Napoleão. O Império Napoleônico até 1811 Com a derrota da Quarta Coligação e a invasão da Pe- nínsula Ibérica, Napoleão tornou-se o grande senhor da Europa continental. Os territórios não diretamente domi- nados pelo imperador estavam entregues a aliados e fami- liares. Seus irmão José era rei de Nápoles e Espanha, seu irmão Luís era rei da Holanda, e seu irmão Jerônimo erarei da Vestfália. Por onde seus exércitos passavam, a velha ordem era destruída: implantavam-se constituições, divul- gava-se o Código Civil e modernizavam-se as estruturas econômicas. 1.5. A decadência do Império Napoleão passou a enfrentar uma forte resistência dos se- tores conservadores espanhóis. José, irmão do imperador francês, teve grandes dificuldades de impor seu poder. O povo espanhol resistiu tenazmente ao domínio estrangeiro e lutou clandestinamente em guerrilhas, tornando a vida do soldado invasor um verdadeiro inferno. O Bloqueio Continental, que parecia uma estratégia ex- tremamente eficaz, tornou-se altamente inconveniente. As esquadras britânicas comerciavam com as colônias do continente americano e impediam a França de obter maté- rias-primas do Novo Mundo. Diversas nações europeias, por sua vez, sentiam falta do mercado inglês para o qual, antes, exportavam seus pro- dutos primários em troca das manufaturas inglesas. Essas nações passaram a comerciar clandestinamente com os ingleses, burlando a vigilância francesa, ao mesmo tempo em que tramavam seu rompimento com o Império. Para agravar a situação, Inglaterra, Áustria, Prússia e Sué- cia formaram, em 1809, a Quinta Coligação, mais uma vez derrotada por Napoleão. Mesmo vitorioso, as fissuras do Império cresciam cada vez mais. O Bloqueio Continental destruiu a economia agrícola da Rússia, que deixou de exportar gêneros primários para a Inglaterra e foi obrigada a comprar produtos industrializa- dos franceses, que eram mais caros do que os britânicos. Por isso, a Rússia passou a contrabandear com a Inglater- ra, o que enfraquecia o Bloqueio. Napoleão resolveu punir essa rebeldia de forma exemplar: invadiu a Rússia com um exército de 600 mil homens. Os russos combateram o exército de Napoleão com a tática da “terra arrasada” – retiravam-se sem enfrentar o inimigo e levavam tudo o que podiam, incendiavam casas, envenenavam a água e des- truíam as plantações. Napoleão conseguiu invadir Moscou, mas encontrou a cidade incendiada pelos próprios russos. 22 Napoleão cedeu às dificuldades e resolveu retirar-se para sucumbir a um novo e poderoso inimigo: o inverno russo. Do gigantesco exército que invadira o território da Rússia, apenas 10 mil homens retornaram com vida. NAPOLEÃO SE RETIRA DE MOSCOU, DE ADOLPH NORTHERN. Inglaterra, Áustria, Prússia e Rússia formaram a Sexta Coli- gação, incentivadas pelo enfraquecimento do Império Na- poleônico, mais visível depois do grande fracasso da campa- nha da Rússia. Em março de 1813, Napoleão foi derrotado na Batalha de Leipzig; um ano depois, os exércitos da Sexta Coligação tomaram Paris, e Napoleão foi obrigado a abdicar. Ele foi preso na ilha mediterrânea de Elba, e o governo fran- cês foi confiado ao rei absolutista Luis XVIII, da dinastia dos Bourbons, irmão do guilhotinado Luis XVI. NAPOLEÃO ABDICANDO EM FONTAINEBLEAU, DE PAUL DELAROCHE. 1855. MUSEU DE FINAS ARTES, LEIPZIG. 1.6. O Governo dos Cem Dias (1815) A restauração monárquica favoreceu o retorno à França de nobres e membros do alto clero que haviam sido despoja- dos e exilados pela Revolução. Esse período foi marcado pela violência e arbitrariedade desses nobres e ficou co- nhecido como Terror Branco. Paralelamente às persegui- ções e massacres, o clero e os nobres exigiam a devolução das terras confiscadas durante a Revolução, o que causou uma explosão de revoltas camponesas. Em Elba, Napoleão acompanhava atentamente a evolução dos acontecimentos. Em 1815, julgou que o momento era propício para fugir da ilha e avançar sobre o território fran- cês à frente de sua guarda pessoal de 1,2 mil homens. Na caminhada até Paris, era saudado por todos e aliava-se aos exércitos enviados para detê-lo, bem como aos antigos revolucionários. Tratava-se de defender a Revolução, as li- berdades burguesas e a propriedade camponesa contra os Bourbon, o clero e a nobreza emigrada. Depois de 20 dias de marcha sem disparar um só tiro, Napoleão estava em Paris, instalado nas Tulherias. Luís XVIII fugiu para a Bél- gica, e Napoleão conseguiu pela segunda vez o poder, no qual se manteria por mais cem dias. Ele organizou as tropas e avançou contra os aliados que estabeleceram a Sétima Coligação com o objetivo de enfrentá-lo antes que invadissem a França. Entretanto, Na- poleão não conseguiu reconstruir seu exército com a mes- ma eficácia anterior e foi destruído na Batalha de Waterloo pela Áustria e pelo exército inglês, liderado por Wellington, que o encarcerou até a morte natural na remota ilha de Santa Helena, no Atlântico sul. O período napoleônico consolidou a Revolução Francesa, à medida que firmou o poder da burguesia e criou as condi- ções de desenvolvimento da propriedade privada burgue- sa, mesmo tendo limitado ou suprimido certos princípios defendidos pela Revolução. Na Europa, Napoleão foi o responsável pela expansão dos ideais de modernização política e econômica da burguesia. Por onde seus exércitos passavam, os últimos redutos do feudalismo e do Absolutismo eram destruídos, implanta- va-se a liberdade de comércio, as sociedades privilegiadas desapareciam, desmistificava-se a balela do direito divino dos reis. Napoleão fazia e desfazia reis da mesma forma que nomeava ou demitia funcionários. A prisão e a morte de Napoleão frearam os ideais bur- gueses, que seriam recuperados no século XIX, quando das revoluções liberais e nacionais, que levaram nova- mente a Europa a trilhar o caminho da ideologia e da economia capitalista e a se distanciar definitivamente do Antigo Regime. 23 2. CONGRESSO DE VIENA (1814-1815) O CONGRESSO DE VIENA, DE JEAN-BAPTISTE ISABEY. 1819. Em 1814, depois da derrota de Napoleão na Batalha de Leipzig, as potências vitoriosas realizaram na capital do Império austríaco uma conferência internacional, conheci- da como Congresso de Viena. O Congresso, interrompido temporariamente durante o Governo dos Cem Dias, foi concluído em 1815, depois da derrota de Napoleão na Batalha de Waterloo, e representou uma reação às ideias liberais e nacionalistas difundidas pela Revolução Francesa. Com efeito, o principal objetivo do Congresso era restabe- lecer o Antigo Regime. Apesar da participação da França, então governada pelo Bourbon Luís XVIII, as decisões mais importantes foram to- madas pelo Comitê dos Quatro, formado por Inglaterra, Áustria, Prússia e Rússia. Participaram do Congresso de Viena os mais destacados representantes do conser- vadorismo europeu: o czar Alexandre I, da Rússia; o lorde Castlereagh, secretário dos negócios estrangeiros da In- glaterra; Talleyrand, ministro dos negócios estrangeiros da França; o príncipe Hardenberg, da Prússia; e o chanceler da Áustria, Metternich, figura dominante do Congresso. As negociações entre os monarcas, diplomatas e embaixa- dores que participaram do Congresso basearam-se em três princípios políticos: restauração do Absolutismo monárquico ou Antigo Regime; legitimidade das antigas dinastias depostas durante as guerras napoleônicas, merecedoras, portanto, da re- tomada de seus respectivos tronos; e equilíbrio europeu, com o objetivo de manter a ve- lha ordem e preservar a paz na Europa por meio da equivalência de forças entre as grandes potências. Napoleão é um filme mudo francês do gênero épico, dirigido por Abel Gance. Ele conta a histó- ria da ascensão de Napoleão Bonaparte. Foi pla- nejado para ser o primeiro de seis filmes sobre o imperador francês, mas os custos envolvidos tornaram isso impossível. Seu primeiro lançamento foi em uma première de gala, na Ópera de Paris, em abril de 1927. Na- poleão havia sido exibido em apenas oito cida- des europeias quando a Metro-Goldwyn-Mayer comprou os direitos do filme. Depois de uma exi- bição intacta em Londres, ele foi drasticamente cortado para a exibição nos Estados Unidos. FONTE: YOUTUBE multimídia: vídeo Napoleão (1927), de Abel Gance 24 2.1. A Europa depois do Congresso de Viena O Congresso de Viena estabeleceuque as fronteiras da França deveriam retornar aos limites anteriores à Revolu- ção. A Inglaterra, graças à anexação de pontos estratégi- cos, como as ilhas de Malta e Ceilão e a colônia do Cabo, garantiu sua supremacia naval. A Áustria cedeu a Bélgica à Holanda em troca de parte da Polônia e das regiões da Lombardia e de Veneza, garantindo sua supremacia na Itá- lia. A Prússia, ao incorporar parte da Polônia, da Pomerânia e da Saxônia, dobrou sua extensão territorial. A Rússia ane- xou outra parte da Polônia, da Finlândia e da Bessarábia. A Alemanha e a Itália permaneceram divididas e submetidas à hegemonia austríaca. Em consequência da aplicação do princípio de legitimidade, as antigas dinastias foram restauradas nos tronos de diversos países europeus. Os Bourbon retornaram aos reinos da Fran- ça, da Espanha e de Nápoles; os Saboia voltaram ao Reino do Piemonte; os reis de Bragança, a Portugal; e os Orange, à Holanda. O papa foi restabelecido nos Estados Pontifícios. 2.2. A Santa Aliança O czar Alexandre I propôs aos demais príncipes cristãos reu- nidos em Viena a formação de um bloco de potências, cujas relações seriam reguladas pelas “elevadas verdades presen- tes na doutrina do Nosso Salvador”. Foi escolhido o nome Santa Aliança para designar esse bloco militar, nascido em 1815 e atuante até as revoluções europeias de 1848. O objetivo desse pacto militar firmado por Áustria, Prússia, Rússia e França era reprimir os movimentos liberais, sepa- ratistas, nacionalistas ou populares que pusessem em risco a política de restauração, o princípio da legitimidade e o equilíbrio europeu, bem como restabelecer o pacto colonial nas recém-emancipadas colônias ibéricas na América. Em Napoleão, o biógrafo André Maurois apre- senta a complexidade do imperador analisan- do sua personalidade, seus acertos e erros. O texto de Maurois, mescla de relato jornalístico e narrativa histórico-literária, conduz o leitor a participar dos questionamentos a respeito das mudanças ocorridas a cada fase da vida de Napoleão. O livro revela as lendas e os fa- tos, as forças e as limitações, os blefes e as certezas, a idealização e o homem real, além de apresentar um caráter de entretenimento por meio de uma série de curiosidades relacio- nadas ao comportamento do imperador e aos acontecimentos em seu entorno. Napoleão, de André Maurois multimídia: livros 25 O apogeu dessa aliança foi marcado por intervenções mili- tares que esmagaram os movimentos liberais ou naciona- listas ocorridos em alguns países da Europa. Em 1819, a Santa Aliança reprimiu os nacionalistas que lutavam pela unificação da Alemanha; em 1821 e 1822, interveio em Nápoles e na Espanha para combater os liberais que luta- vam contra o Absolutismo. A Inglaterra não participou dessas empreitadas, pois dis- cordava dos planos da Santa Aliança de restaurar o antigo colonialismo na América. Os novos países independentes no continente americano aderiram ao livre comércio e abriram seus mercados aos produtos industriais ingleses. A restauração do pacto colonial nessas áreas seria extrema- mente prejudicial aos interesses comerciais ingleses. Além da ausência da Inglaterra, outro duro golpe na Santa Aliança foi a proclamação da Doutrina Monroe, em 1823, pelos EUA. Baseando-se no lema “a América para os ame- ricanos”, essa doutrina tinha como princípio fundamental que o Novo Mundo deveria solucionar seus problemas in- ternos sem nenhuma intervenção das potências europeias. À luz desse princípio, o governo dos EUA passou a consi- derar ato de guerra qualquer agressão estrangeira a um país americano. O golpe final na política da Santa Aliança veio com o triunfo de novas revoluções liberais na Europa a partir de 1830. CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS A Rússia é atravessada por quatro climas: ártico, subártico, temperado e subtropical. As estações podem ser ca- racterizadas da seguinte maneira: inverno longo e nevoso; primavera temperada; verão curto e quente; e outono chuvoso. Essas características variam muito por região. A Sibéria, no norte do país, é a região mais fria. Registram-se temperaturas no inverno da ordem dos –40 °C ou –50 °C, às vezes chegando aos –60 °C ou até menos. No sul, o clima é mais quente, havendo campos e estepes onde as temperaturas chegam aos –8 °C. Nesse clima inóspito, o exército de Napoleão foi brutalmente vencido e obrigado a recuar até a Europa central. A obra Guerra e Paz, de Liev Tolstoi, narra esse evento com rara precisão e beleza. 26 • CONSOLIDAÇÃO DO PODER DA BURGUESIA • APOIO POPULAR • SUPRESSÃO DOS PRINCÍPIOS DA REVOLUÇÃO • REORGANIZAÇÃO DA ECONOMIA • ELIMINAÇÃO DO PERIGO EXTERNO • MANUTENÇÃO DA ORDEM INTERNA • EXPANSÃO MILITAR NO CONTINENTE EUROPEU • DESTRUIÇÃO DO ANTIGO REGIME NA EUROPA • EXPANSÃO DO LIBERALISMO NA EUROPA • CENSURA • REFORMA AGRÁRIA • OBRAS PÚBLICAS • EXPANSÃO MILITAR • EXPANSÃO DO MERCADO INTERNO • VITÓRIAS SOBRE AS COLIGAÇÕES ATÉ 1809 • BLOQUEIO CONTINENTAL ATÉ 1805 • CONTROLE SOBRE O TERRITÓRIO EUROPEU • ENFRAQUECIMENTO • 1812 - DERROTA NA RÚSSIA • 1813 - DERROTA NA BATALHA DE LEIPZIG • 1814 - OCUPAÇÃO DE PARIS E EXÍLIO DE NAPOLEÃO • DERROTAS NA ESPANHA • BOICOTE AO BLOQUEIO CONTINENTAL • GOLPE DE 18 BRUMÁRIO • GOVERNO DE 3 CÔNSULES • APOIO DO EXÉRCITO, BURGUESIA E CAMPONESES • PLEBISCITO DECLARA NAPOLEÃO IMPERADOR • REAPROXIMAÇÃO COM A IGREJA • ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA INDUSTRIAL E FINANCEIRO (BANCO DA FRANÇA) • EDUCAÇÃO PÚBLICA UNIVERSAL • CÓDIGO CIVIL E CÓDIGO NAPOLEÔNICO • DEFESA DA PROPRIEDADE PRIVADA • PROIBIÇÃO DE GREVES E SINDICATOS • IGUALDADE JURÍDICA CARACTERÍSTICAS CARACTERÍSTICAS MEDIDAS POLÍTICA EXTERNA CONSULADO (1799 - 1804) IMPÉRIO (1804 - 1814) MEDIDAS A B ERA NAPOLEÔNICA (1799 - 1815) DIAGRAMA DE IDEIAS 27 • RETORNO DE NAPOLEÃO • IMAGEM DE DEFENSOR DA REVOLUÇÃO • DERROTADO NA BATALHA DE WATERLOO POR INGLATERRA E ÁUSTRIA • EXÍLIO NA ILHA DE SANTA HELENA GOVERNO DOS CEM DIAS (1815) C CONGRESSO DE VIENA (1814 - 1815) ESTABELECER O ANTIGO REGIME INGLATERRA, ÁUSTRIA, PRÚSSIA E RÚSSIA • REDEFINIÇÃO DE FRONTEIRAS • SANTA ALIANÇA • UNIDADE MILITAR • LUTA CONTRAGRUPOS LIBERAIS • RECOLONIZAÇÃO DA AMÉRICA OPOSIÇÃO • INGLATERRA • ESTADOS UNIDOS • RESTAURAÇÃO • LEGITIMIDADE • EQUILÍBRIO EUROPEU OBJETIVO PARTICIPANTES MEDIDAS PRINCÍPIOS DIAGRAMA DE IDEIAS 28 REVOLUÇÕES DE 1830 E 1848 E SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIALAULAS 31 E 32 1. INTRODUÇÃO No início do século XIX, forças sob o comando da burguesia liberal, inspiradas pela Revolução Francesa e lideradas por Napoleão Bonaparte, invadiram grande parte da Europa, enfraquecendo o Antigo Regime. Com a derrota de Napo- leão em Waterloo, configurou-se um ambiente propício ao retorno das casas reais absolutistas, cenário em que ocorreu o conservador Congresso de Viena, que recusou os ideais revolucionários. Entretanto, as forças de oposição se rea- gruparam e passaram a se rebelar contra o próprio regime absolutista. Foi o caso da deflagração da Revolução Liberal do Porto (1820), em Portugal, que estabeleceu a monarquia constitucional e subordinou o poder do rei João VI ao parla- mento lusitano. Em outras regiões europeias, desenhava-se o mesmo cenário de busca pela liberdade. Contudo, como o Congresso de Viena havia legitimado as invasões territoriais de Áustria, Prússia e Rússia sobre algumas regiões da Euro- pa, a luta pelo ideal de liberdade e pelo liberalismo burguês passou a incluir também a luta pela independência daquelas regiões, acendendo a luz do nacionalismo. 2. REVOLUÇÕES DE 1830 2.1. A França pós-Napoleão LUÍS XVIII COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4, 5 e 6 HABILIDADES: 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 13, 14, 16, 17, 18, 20, 22, 23, 24, 25, 26, 28 e 29 CARLOS X Em 1814, com a volta dos Bourbon e a coroação de Luis XVIII, e depois da derrota de Napoleão na Batalha de Leipzig (1813), inaugurou-se o período de restauração na França. Interrompida em 1815 pelo governo dos Cem Dias, a res- tauração foi retomada
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