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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS SOBRE PRÁTICAS INCLUSIVAS PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA ELIANE MARIA DOS SANTOS LIMA JOCÉLIA EMÍLIA BORBA (Organizadoras) 0 ELIANE MARIA DOS SANTOS LIMA JOCÉLIA EMÍLIA BORBA (Organizadoras) EDUCAÇÃO INCLUSIVA: PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS SOBRE PRÁTICAS INCLUSIVAS PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA 1 2021 by Editora Alfa Ciência Copyright © Editora Alfa Ciência Copyright do Texto © 2021 Os autores Copyright da Edição © 2021 Editora Alfa Ciência Direitos para esta edição cedidos à Editora Alfa Ciência pelos autores. As ilustrações e demais informações contidas desta obra são integralmente de responsabilidade dos autores. Capa: Designed by Editora Alfa Ciência Imagem da Capa: Adaptada de Designed by br.freepik.com Diagramação e Edição de Arte: Editora Alfa Ciência Revisão: Os Autores CORPO EDITORIAL Editor Chefe: Dr. Charlyan de Sousa Lima Editora Adjunta: Me. Bruna Cruz Magalhães Conselho Editorial Dr. Cláudio Gonçalves da Silva Dr. Diego Amorim dos Santos Dr. Ivandro Carlos Rosa Dra. Karlyene Sousa da Rocha Dra. Kaiomi de Souza Oliveira Cavalli Dr. Leonardo De Ross Rosa Dra. Luana Lopes Padilha Dra. Marcele Scapin Rogerio Dra. Mayara da Cruz Ribeiro Dr. Nítalo André Farias Machado Dra. Paula Michele Lohmann Dr. Renato Santiago Quintal Dr. Ricardo Alves de Araújo Dra. Thiessa Maramaldo de Almeida Oliveira Dr. Wellyson da Cunha Araújo Firmo 2 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Educação inclusiva [livro eletrônico]: perspectivas e diálogos sobre práticas inclusivas para alunos com deficiência / Eliane Maria dos Santos Lima, Jocélia Emília Borba (organizadoras). -- Chapadinha, MA: Editora Alfa Ciência, 2021. PDF Vários autores. Bibliografia. ISBN 978-65-994498-9-5 1. Educação inclusiva 2. Ensino – Metodologia 3. Pessoas com deficiência - Educação 4. Pessoas com deficiência - Inclusão social 5. Prática de ensino 6. Professores - Formação I. Lima, Eliane Maria dos Santos. II. Borba, Jocélia Emília. 21-80630 CDD-371.9046 Índices para catálogo sistemático: 1. Pessoas com deficiência: Educação inclusiva 371.9046 Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427 O conteúdo do livro, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores. O download da obra e o seu compartilhamento somente são autorizados desde que sejam atribuídos créditos aos autores, sem alterá-la e de nenhuma forma utilizá-la para fins comerciais. Editora Alfa Ciência Chapadinha – Maranhão – Brasil (98) 98585-2320 www.editoraalfaciencia.com.br publicacao.alfaciencia@gmail.com contato.alfaciencia@gmail.com Diagramação: Editora Alfa Ciência Edição de Arte: Editora Alfa Ciência Revisão: Os Autores Organizadores: Eliane Maria dos Santos Lima Jocélia Emília Borba mailto:contato.alfaciencia@gmail.com 3 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO .................................................................................................................................... 5 ARTICULAÇÕES ENTRE LITERATURA SURDA E LITERATURA OUVINTE ............ 6 Eliane Maria dos Santos Lima A LUDICIDADE E SUA APLICABILIDADE NA SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAL ................................................................................................................................ 15 Jocélia Emília Borba SITUAÇÕES EXISTENTES NO PROCESSO DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES ................................................... 24 Viviane Berti Augusto A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO COMO RECURSO PEDAGÓGICO INCLUSIVO PARA ESTUDANTES SURDOS........................................................................................................................ 43 Elaine Maria da Silva A INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL .................................................................................................................................... 52 Maria Eliane Ferreira dos Santos INSERÇÃO DOS ESTUDANTES COM SÍNDROME CONGÊNITA DA ZIKA VÍRUS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: EXPECTATIVAS E POSSIBILIDADES ...................................................... 71 Lauriceia Tomaz da Silva Gomes EXPERIÊNCIA DE UMA PEDAGOGA COM ALUNO DE BAIXA VISÃO EM SALA DE AULA REGULAR ................................................................................................................................... 88 Mauricéia de Oliveira Bezerra Fontes EDUCAÇÃO INCLUSIVA E OS DESAFIOS DO EDUCADOR E APRENDENTE NO ENSINO BÁSICO ................................................................................................................................... 99 Patrícia Santana Brito Matos 4 EDUCAÇÃO INCLUSIVA E PARCERIAS QUE DÃO CERTO: PERSPECTIVA DE UM MUNDO MELHOR ................................................................................................................................ 118 Valdirene Braga de Oliveira EDUCAÇÃO ESPECIAL EM PERNAMBUCO EM TEMPOS PANDÊMICOS: ALGUMAS APROXIMAÇÕES .............................................................................................................. 136 Cristiane Souza de Menezes PSICOMOTRICIDADE NA PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA: NO AEE - ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO NA EDUCAÇÃO BÁSICA .................................. 153 Maria Aparecida Dantas Bezerra Willyam Ramon de Moura Raulinho A IMPORTÂCIA DA INCLUSÃO ESCOLAR NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DO INDIVÍDUO SURDO ....................................................................................................................... 163 Mayara Vieira dos Santos Serrano A RELEVÂNCIA DA INSERÇÃO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS (LIBRAS) COMO DISCIPLINA DESDE OS ANOS INICIAIS NO ENSINO FUNDAMENTAL ................................. 175 Dijaci Rosa Ferreira Valquíria Maria da Silva A ESCRITA DA CRIANÇA SURDA NO CONTEXTO ESCOLAR: DESAFIOS E ESTRATÉGIA DOCENTE..................................................................................................................... 193 Charlene de Lima Alexandre as Silva METODOLOGIA DE ENSINO PARA SURDOS ATRAVÉS DO LÚDICO NO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO (AEE) ................................................................. 203 Chirleny Ferreira de Oliveira Silva A VIDA ADULTA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA: OPORTUNIDADE DE TRABALHO COM EQUIDADE ............................................................................................................. 213 Garrolici Alvarenga INSERÇÃO DAS CRIANÇAS SURDAS NO ENSINO REGULAR EDIFICULDADES NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO: UMA ABORDAGEM CRÍTICA .............................................. 221 Iane Rodrigues de Almeida Dijaci Rosa Ferreira ORGANIZADORAS .............................................................................................................................. 237 5 APRESENTAÇÃO O livro “EDUCAÇÃO INCLUSIVA: PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS SOBRE PRÁTICAS INCLUSIVAS PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA” trazem uma diversidade de discussões e reflexões a cerca da Educação Inclusiva e suas especificidades no contexto de sala de aula. São diferentes textos, temáticas e relatos de experiências de vida narrados pelas escritoras. Dessa forma, as organizadoras e as autoras fazem um convite a você amante da leitura e de práticas inclusivas a mergulharem conosco no universo do conhecimento e do dialogar sobre os diferentes contextos sociais e inclusivos da sociedade atual. Vale salientar, que as práticas inclusivas precisam estar presentesem todos os setores da sociedade, portanto, mesmo diante de tantas ferramentas tecnológicas o livro tem a magia de levar o leitor a lugares e conexões distintas, possibilitando novos conhecimentos acerca de conteúdos extremamente importantes como a inclusão. Sendo assim, com esta obra buscamos incentivar e valorizar as experiências reais de uma inclusão verdadeiramente eficaz em nosso país, buscando externar de uma forma verídica como este processo acontece em diferentes regiões e estados brasileiros. Eliane Maria dos Santos Lima Jocélia Emília Borba 6 ARTICULAÇÕES ENTRE LITERATURA SURDA E LITERATURA OUVINTE Eliane Maria dos Santos Lima¹ 1 Escritora, poetisa, Professora de Sala de Recursos, Atendimento Educacional Especializado – AEE, Braillista e Intérprete de Libras. Mestranda em Ciências da Educação. Especialista em Língua Brasileira de Sinais - Libras pela FACOL - Faculdade Osman da Costa Lins. Licenciada em Letras – UFPE – Universidade Federal de Pernambuco e Pedagogia – ISEF – Instituto de Educação de Floresta. Áreas de aperfeiçoamento complementares: ABA e AEE. E-mail: elianelima402@gmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/4203912721231225 RESUMO Este trabalho visa uma reflexão sobre a importância do uso da Libras como meio de interação e inclusão social. Mas especificamente, como base de estudos voltados à ampliação da literatura surda no âmbito educacional e social (SKLIAR, 2005; QUADROS, 2008; PRADO, 2015, entre outros), foram relevantes para o desenvolvimento desta proposta assim como na relevância da inserção da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), como Língua de instrução para o aprendiz surdo, e como L2 para o ouvinte, os nossos principais objetivos foram refletir, apresentar e descrever estratégias pedagógicas utilizadas na literatura surda para a aquisição da Libras com o aluno ouvinte, externando também a importância da utilização de textos literários e recursos visuais para o ensino de literatura surda para o aluno ouvinte, levando-o ao mundo surdo. Os resultados apontam que, a aprendizagem é mais eficaz quando a L1 do educando é utilizada como a principal fonte de instrução, levando-o assim a inserção significativa com os seus pares e a um letramento significativo dentro da Língua alvo. Palavras-Chave: Literatura Surda; Ouvinte; Inclusão; Ensino aprendizagem. INTRODUÇÃO São Muitos os avanços que a educação de surdos vem conquistando no mundo ouvinte nas últimas décadas. Entretanto, muito ainda precisa ser feito para o surdo de fato garantir a efetivação concreta da sua Língua na sociedade e assim poder sentir-se empoderado e incluso em um espaço realmente mailto:elianelima402@gmail.com http://lattes.cnpq.br/4203912721231225 7 inclusivo. Para que isso venha a ser concretizado são necessárias políticas públicas de inclusão e de acessibilidade comunicacional, proporcionando-lhes, primeiramente o direito de uma comunicação com sucesso e assim ele passe a expressar-se de forma efetiva em uma sociedade amplamente ouvinte. Sendo assim, a dificuldade de aprendizagem do surdo está mais associada a uma ênfase linguística e cultural do que a sua própria deficiência, isso por que este indivíduo está segregado ao mundo ouvinte e quando não se tem o desenvolvimento de sua L1 (LIBRAS) como meio principal de desenvolvimento, infelizmente o seu processo de aquisição fica profundamente prejudicado. Autores como Quadros Sutton-Spence, 2006 enfatiza a importância da comunicação entre seus pares em diversos contextos principalmente no familiar e educacional. A identidade e a cultura das pessoas surdas são complexas, já que seus membros freqüentemente vivem num ambiente bilíngüe e multicultural. Por um lado, as pessoas surdas fazem parte de um grupo visual, de uma comunidade surda que pode se estender além da esfera nacional, no nível mundial. É uma comunidade que atravessa fronteiras. Por outro lado, eles fazem parte de uma sociedade nacional, com uma língua de sinais própria e com culturas partilhadas com pessoas ouvintes de seu país. (Quadros e Sutton- Spence, 2006). Desse modo, este trabalho visa refletir sobre as ―ARTICULAÇÕES ENTRE LITERATURA SURDA E LITERATURA OUVINTE‖ Nesta perspectiva de garantia de acesso comunicacional a todos os indivíduos, visa-sede forma complementar expor algumas estratégias pedagógicas usufruídas pela a literatura surda para a aquisição da Libras para o aluno ouvinte, como a utilização de livros, e-book, vídeos com janelas em libras, vídeos em Libras, gêneros textuais, textos literários e recursos visuais que, efetivem estratégias para proporcionar a alunos ouvintes uma aquisição significativa da literatura surda no espaço escolar, amenizando assim a falta de comunicação recíproca entre esses pares. Considerando-se a proposta de efetivação deste trabalho externamos duas estratégias especificas com os alunos do Ensino Médio para a garantia desta aquisição que foram baseadas em: (contação de histórias em Libras e 8 apresentação da temática os números também em Libras), assim almejamos que, tendo como ponto de partida as articulações da Libras com a L2 para o aprendiz, destacamos neste processo a importância da valorização da Libras na compreensão textual dentro das temáticas trabalhadas. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Leva-se em consideração a existência de uma bibliografia que embase estudos brasileiros sobre as articulações do ensino da libras como L2, é de suma importância tanto para os surdos como para os ouvintes, refletirmos sobre a importância de metodologias lúdicas no processo de ensino aprendizagem da Libras como L2. Sendo assim, podem-se apresentar situações que levem indivíduos ouvintes a assimilarem que, esta segunda língua é diferente da sua língua materna, e que sua aquisição pode ocorrer em contextos formais e não formais de ensino. Levando em conta, ainda que a aprendizagem de duas línguas simultaneamente seja positiva e favorável ao desenvolvimento da criança e também do adulto. Imagem 01 disponível em: https://ogimg.infoglobo.com.br/in/23403210-642-b50/FT1086A/ZS- Libras-na-Casa-Narra.jpg Ao abordar o indivíduo surdo Skliar 2005 enfatiza que, [...] a existência da comunidade surda da língua de sinais das identidades surdas e das experiências visuais, determina o conjunto de diferenças dos surdos em relação a qualquer outro grupo de sujeitos, assim também podemos refletir sobre: https://ogimg.infoglobo.com.br/in/23403210-642-b50/FT1086A/ZS-Libras-na-Casa-Narra.jpg https://ogimg.infoglobo.com.br/in/23403210-642-b50/FT1086A/ZS-Libras-na-Casa-Narra.jpg 9 A maior parte dos surdos no Brasil não tem podido ter acesso a uma escolarização que atenda suas necessidades linguísticas, curriculares, sociais e culturais [...] nessas condições de escolarização, mesmo após vários anos, apresentam dificuldades em relação à aprendizagem de conhecimento de maneira geral e no uso da linguagem escrita. (LODI, 2009, p. 14). A princípio vale ressaltar que as relações diante do contexto histórico desta L1 podem estabelecer um movimento literário significativo ao processo de ensino aprendizagem para ouvintes, pois ao percorrer alguns fragmentos da história do movimento surdo, percebe-se também essa interação. Apesar dá ausência de material literário que pudesse embasar os nossos estudos, acerca desta interação entre literatura surda e ouvinte. Ressalta-se neste trabalho em outras palavras a falta do reconhecimento desta nova Língua em nosso País, ou enquanto a mesma era proibida de ser usada nas escolas, não foi publicado documento que reconhecesse a existência desta cultura literária surda no trabalho para ouvintes. Diante deste panorama histórico o ensino priorizava o aprendizado da fala e da Língua portuguesa, nas escolas não haviam espaço nem aceitação para as produçõesliterárias em sinais. Porém, de acordo com Skliar 1998, acreditam que, entre os surdos mesmo nesta época sendo proibido o uso dos sinais já, circulavam histórias de vida sinalizadas, piadas, poemas entre outros gêneros, mais em espaços que ficavam longe do controle daqueles que desprestigiavam a Língua de Sinais, o que fortalece a nossa tese hoje que, mesmo existindo alguns materiais estes não podiam circular e infelizmente restringe hoje este panorama quando buscamos artifícios históricos para o ensino de Libras para ouvintes. Talvez seja fácil definir e localizar, no tempo e no espaço, um grupo de pessoas; mais quando se trata de refletir sobre o fato de que nessa comunidade surgem ou podem surgir traços, processos culturais específicos, é comum a rejeição a ideia da ―Cultura surda‖ trazendo como argumentos a concepção da cultura universal e também a cultura monolítica. Sendo perceptível que, antigamente havia pouco contato dos sujeitos ouvintes com o mundo surdo, seja por falta de incentivo das famílias ou das escolas. Porém, 10 nos últimos anos a Educação de surdos diante de muitas lutas esteve sim mais preparada, tornando-se visível os avanços da L1 da comunidade surda. Diante desta visão, registra-se uma maior contribuição para o desempenho da literatura surda e suas articulações com a ouvinte, visto que, a literatura tem a função de suscitar a imaginação, o sonho e a fantasia dos indivíduos assim, para a comunidade surda a ouvinte, não desempenha este mesmo efeito da mesma forma, pois cada comunidade capta realidades diferentes que acerca do seu próprio contexto, desperta o interesse e a motivação de suas especificidades. A literatura surda constitui-se da história que tem a Libras, a questão da identidade e da cultura surda presente nas narrativas [...] A literatura surda auxilia no conhecimento da Língua e cultura para os surdos que ainda não tem acesso a elas. Sendo assim, evidencia-se que o espaço das pessoas surdas no âmbito educacional, com a implementação dessa literatura surda, proporciona aos menos a valorização das suas próprias produções culturais, que envolvem no geral o uso de uma língua de sinais, além do registro das produções culturais de pessoas surdas através da escrita da língua portuguesa, como também da efetivação de outras formas de documentações, como filmagens que são fundamentais para o registro efetivo desta Língua. Nesse sentindo, utilizamos a expressão ―Literatura surda‖ para as produções literárias que a língua de sinais, passa a efetivar a questão da identidade e da cultura surda presente nos textos ou nas imagens da comunidade surda como um todo, de acordo com Mazzota 1996. A implementação da inclusão tem como pressuposto um modelo no qual cada criança é importante para garantir a riqueza do conjunto, sendo que, de preferência, na classe regular estejam presentes todos os tipos de aluno. Para essa autora, tal modelo educacional pode criar possibilidades para que a escola seja criativa no sentido de buscar soluções visando manter os diversos alunos no espaço escolar, fazendo, assim, que todos tenham resultados satisfatórios tanto na vida acadêmica como espaços sociais. A literatura surda constitui-se da história que tem a Libras, a questão da identidade e da cultura surda presente nas narrativas [...] A literatura surda 11 auxilia no conhecimento da Língua e cultura para os surdos que ainda não tem acesso a elas. [...] traduz a memória das vivências surdas através das várias gerações dos povos surdos. A literatura se multiplica em diferentes gêneros: poesia, história de surdos, piadas, literatura infantil, clássicos, fábulas, contos, romances, lendas e outras manifestações culturais. (STROBEL, 2009, p. 61). Diante desta reflexão de elevação histórica do ensino priorizar o aprendizado da fala e da Língua portuguesa, busca-se evidenciar nesta proposta de trabalho que é possível sim, articular a literatura surda a ouvinte, visando o ensino de duas línguas distintas, de forma simultânea visto que, ambas se complementam. MATERIAIS E MÉTODOS A presente pesquisa foi desenvolvida através de pesquisas e estudos bibliográficos, como também por meio de experiências de instrutores de libras ouvintes, tendo como foco as Articulações entre Literatura Surda e Literatura Ouvinte. É possível perceber que a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS é um meio de garantir a socialização e interação dos surdos e ouvintes no meio escolar e social, já que ambos possuem línguas diferentes, mas que vivem em uma única sociedade. Para que essa socialização e interação ocorram é necessário que haja esforço dos alunos ouvintes em aproximar-se do conhecimento dessa língua, neste caso a Libras. Nesse sentido, muitas são as metodologias que poderão ser usufruídas para a garantia do ensino da Libras como L2 no Ensino Médio, como por exemplo, a utilização dos gêneros textuais em Línguas de Sinais, materiais adaptados a esta nova Língua que poderão externar mutuamente a comunidade ouvinte as especificidades da Libras por meio da sua circulação em sala de aula. Materiais didáticos Como: livros, apostilas, DVD, redes sociais entre outros, podem assegurar a vinculação desta nova cultura visual entre ouvintes estudantes do ensino médio, assim como a disponibilização de diversos vídeos em Libras disponíveis na internet para o trabalho com ouvintes 12 em sala de aula. Esses recursos são facilitadores da aprendizagem, e um meio de reforçar os sinais trabalhados em diferentes momentos, assim os mesmos terão práticas efetivas para poderem comunicarem-se com os indivíduos surdos, diante da ausência do surdo em sala de aula. Infelizmente ainda temos um panorama curto que respalde a efetivação de gêneros textuais adaptados em LIBRAS, mas pesquisas sobre o ensino da libras como segunda língua para ouvintes vem contribuindo a cada dia mais e mais com a expansão deste campo, assim, como almejamos com esta pesquisa fortalecer essa circulação de materiais para o auxilio dos profissionais que deslubram as suas atuações do ensino da Libras para alunos ouvintes. RESULTADOS E DISCUSSÃO Tomando por referência os autores SKLIAR, 2005; QUADROS, 2008; PRADO, 2015, entre outros que debatem sobre a importância da metodologia de ensino da Libras como segunda língua para ouvintes, através de pesquisas apresentadas, compreendemos com clareza que por meio dos trabalhos articulado entre literatura surda e ouvinte principalmente por meio do uso de gêneros textuais adaptados para as Línguas de Sinais, podemos facilitar a aquisição e a aprendizagem desta nova Língua como L2 para ouvintes. Por meio do desenvolvimento desta pesquisa, fica nítido a importância da língua de sinais na construção dos conhecimentos e principalmente da mesma como L2, frente às necessidades sociais, é indispensável que os ouvintes aprendam a Libras como segunda língua e essa aprendizagem só ocorrerá efetivamente quando as instituições de ensino passarem a usufruir de metodologias que abranjam a valorização desta nova Língua em sala de aula, independente de ter um aluno surdo ou não. Diante disso, as estratégias pedagógicas utilizadas durante as experiências profissionais de alguns instrutores de Libras para ouvintes, abordaram a importância da divulgação e efetivação da cultura surda no ensino médio de maneira que a Libras externe um papel de destaque, no qual possibilita que, todos os participantes aprendam por meio das trocas de 13 experiências relevantes expostas em gêneros textuais adaptados à relevância do contexto surdo no mundo ouvinte. Por todos esses aspectos, a literatura surda promove transformações significativas na vida dos surdos, além de oportunizar uma comunicação efetiva entre surdos e ouvintes. Sendo assim, a inclusão dos sujeitos surdos irá acontecer de forma expressiva atravésdas ações e mudanças tanto na visão dos professores quanto na dos alunos e com isso a cidadania e a valorização das diferenças serão promovidas no momento em que se permite a conhecer a sua língua e a sua cultura aprendendo a incluir pela comunicação. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante dos argumentos apresentados pelos autores concluímos que, o uso de metodologias no ensino da Libras como segunda língua para ouvintes possibilita o processo de aprendizagem e a inclusão entre surdos e ouvintes dentro e fora da escola, visto que os alunos ouvintes à medida que fazem o uso da Libras como segunda língua estão valorizando a troca de experiências em grupo e possibilitando um maior socialização e integração interpessoal. Dessa forma, as escolas devem estar preparadas para atuar no ensino da Libras por meio da oferta de oficinas, cursos e até por meio da inclusão da disciplina Libras no currículo da escola. Ao aprender Libras os ouvintes são oportunizados não somente a uma comunicação efetiva e concreta, mas também a um conhecimento sobre a cultura surda propiciando à valorização da diversidade. Logo, a partir dos resultados chegamos ao entendimento que, o uso de metodologias específicas para o ensino da Libras como L2 aparece na vida dos discentes como recursos facilitadores que contribuem de forma efetiva não somente no processo de ensino-aprendizagem, bem como fator essencial na comunicação e inclusão dos alunos surdos em um contexto ouvinte. REFERÊNCIAS 14 BRASIL. Lei n. 12.319, de 01 de setembro de 2010. Disponível em: Acesso em 6/07/2016. BRASIL. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Brasília, LEI Nº 10.436, de 24 de abril de 2002. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, Lei n°. 9394, de 20 de dezembro de 1996. BRASIL. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, e o art. 18 da Lei n°. 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Brasília, Decreto nº 5626 de 22 de dezembro de 2005. BRASIL. Lei nº 12.319, de 01 de setembro de 2010. Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 02 set. 2010. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ gov.br/ccivil_03/_Ato2007- 2010/2010/Lei/L12319.htm>. Acesso em: 04 out. 2015. LIMA, Eliane Maria dos Santos. Tecnologia assistiva no âmbito educacional para o aluno surdo. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 06, Vol. 06, pp. 66-74. Junho de 2020. ISSN: 2448- 0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/aluno-surdo, SKLIAR, Carlos. ―Os Estudos Surdos em Educação: problematizando a normalidade‖. In: ______ (org.). A Surdez: Um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 3. ed, 2005. STROBEL, K. (2008). As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis, SC: UFSC. STROBEL, K. (2011). Atendimento Educacional Especializado: AEE permeado de incoerências. Revista da FENEIS, (45). https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/aluno-surdo 15 A LUDICIDADE E SUA APLICABILIDADE NA SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAL Jocélia Emília Borba1 1 Escritora. Poetisa. Professora, Doutoranda em Ciências da Educação. Mestre em Ciências da Educação. Especialista em Psicopedagogia pela Faculdade Osman da Costa Lins (FACOL). Licenciada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Vale do Acaraú (UVA). E-mail: joceliaemilia@hotmail.com. Lattes: cnpq lattes:// 1717819067839726. RESUMO Este artigo de cunho bibliográfico tem como objetivo analisar as atividades lúdicas e sua aplicabilidade na sala de Recursos Multifuncional no atendimento de crianças com deficiência. Este estudo está embasado em autores como KISHIMOTO (1997); CUNHA (1994); BROUGÉRE (1995) dentre outros. Esta pesquisa busca sensibilizar os profissionais da educação sobre a imprtância do ato de brincar e a sua função na aprendizagem da criança com deficiência. Portanto, faz-se necesário saber o sentido e significado da palavra ludicidade e os principais termos utilizados associados ao brincar, bem como compreender quão importante é o professor no desenvolvimento desse processo. Verifica-se, também nessa pesquisa o bem que a brincadeira, o jogo e o brinquedo fazem no desenvolvimento físico, mental e intelectual da criança com deficiência atendida na Sala de Recursos Multifuncionais desde os anos iniciais. Palavras-chave: Lúdico; Recursos didáticos; Professor. INTRODUÇÃO Esta pesquisa de cunho bibliográfico objetiva analisar as atividades lúdicas realizadas na Sala de Recursos Multifuncionais e sua contribuição no desenvolvimento de habilidades, bem como no aprendizado das crianças com deficiência. Esta temática vislumbrará as características do lúdico, onde o professor precisa conhecer vários tipos de brincadeiras para que haja um processo de ensino aprendizagem significativo. 16 Sabe-se, que a atividade lúdica tem sua função no processo de ensino e aprendizagem, principalmente no que tange a primeira fase da vida da criança que é a infância. Para que essa atividade rica possa ser desenvolvida na vida da criança o educador precisa desenvolvê-la que acordo com as especificidades de cada um. Cabe a escola ofertar oportunidade e espaço adequado para a brincadeira, jogos, brinquedos. Pois nesse caso a brincadeira tem um objetivo a alcançar que é através da prática do jogo ensinar os conteúdos curriculares de forma dinâmica. No brincar a criança estimula vários sentidos e músculos, além de melhorar a autoconfiança. Todo aprendizado que permite brincar é fundamental para a formação humana. É importante estimular os jogos e brincadeiras para que a criança com deficiência possa desde a educação infantil tornar-se um adulto responsável e consiga obedecer a normas e regras. Sabe-se, que essa forma de trabalho ajuda no desenvolvimento lógico, cognitivo, psicológico, social e criativo da criança com deficiência, além de favorecer a aprendizagem e a socialização do educando. A escolha pelo tema justifica-se, pela sua grande importância e relevância e, portanto, deve ser trabalhado desde as séries iniciais, considerando que o educando está em uma fase de crescente descoberta nos aspectos cognitivo e intelectual e o lúdico contribuirá ainda mais para uma vida socialmente saudável, pois a convivência com outros pares favorece também a aprendizagem coletiva e significativa. Através dessa abordagem socializadora o educador descobrirá até que ponto as atividades lúdicas contribuem na aprendizagem do educando com deficiência. Por fim, se expressa à importância de outros estudos acerca dessa temática tão relevante para o progresso da criança com deficiência na Sala de Recursos Multifuncionais. METODOLOGIA 17 Este artigo é de cunho bibliográfico, pois o mesmo foi embasado por meio de investigações, análises e leituras de artigos científicos e pesquisa na internet. Conforme (LIMA e MIOTO, 2007). Por meio das investigações acerca da proposta levantada pela pesquisa adquiriu-se-se embasamento para produzir esse estudo que é de suma importância para melhorar a qualidade da educação de crianças com deficiência atendidas em Sala de Recursos Multifuncionais. REFERENCIAL TEÓRICO Ludicidade é toda atividade lançada com o objetivo de fazer a criança com deficiência ou não aprender e sentir prazer enquanto brinca ou joga. A mesma precisa ser atraente e ter objetivos claros. Essas atividades podem ser chamadas de brinquedos e brincadeiras, mas traz um diferencial que é ensinar o aluno de forma prática e concreta, sem necessariamente indicar uma competição. Pois, para (BORBA, 2020, p. 67) ―Percebe-se que cada ser é único e possui limitações, mas a estimulação precoce dará a esse aluno autonomia e confiança‖Desde os tempos mais remotos que são oferecidos as crianças as brincadeiras com a função de aprender normas e estabelecer regras de convivência. Dessa forma, na sala de aula a atividade lúdica deixa de ser um simples ato de brincar para tornar-se uma ferramenta aliada da aprendizagem. Essa forma de ensino proporciona ao aluno uma aula dinâmica e melhora a sua autonomia e autoestima. Na sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE) com esse modelo de atividades lúdicas todas as crianças são beneficiadas com essas brincadeiras, mas cada uma dela é desenvolvida para a faixa etária e a deficiência, pois melhoram a concentração, a coordenação e o raciocínio lógico. No entanto do educando, e, precisa-se lançar o objetivo que deseja alcançar com a realização de tais jogos trabalhados. De acordo com Kishimoto; Santos (1997, p. 24): 18 Brincando, a criança experimenta, descobre, inventa, aprende e confere habilidades. Além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração e atenção. Ao participar de uma brincadeira a criança precisa sentir prazer. Geralmente ela é feita em dupla ou grupo o que favorece a autoajuda sem a preocupação se vai ganhar ou perder e aí está a riqueza do ato de brincar. É saber que aguça a curiosidade, desenvolve o pensamento crítico, melhora a concentração, estimula o ato da linguagem oral e descobre novos significados. Cunha (1994, p. 11). Sendo assim, fica claro que "o brincar para a criança não é uma questão apenas de pura diversão, mas também de educação, socialização, construção e pleno desenvolvimento de suas potencialidades". Portanto, o educador que leciona para criança com deficiência precisa sempre inovar nas brincadeiras para facilitar a aprendizagem desses educandos. É de suma importância também estabelecer o tempo para as crianças produzirem seus próprios brinquedos, como carrinho de rolimã, pandorga, perna-de-pau, peteca, cata-vento, amarelinha, damas, jogos de memória com imagens e valoriza assim o fazer do educando que pode fazer uma retrospectiva dos brinquedos antigos que foram deixados para trás, perdidos no tempo. Através do brincar a criança chega a um desenvolvimento completo. O bebê desde o nascimento se beneficia com as brincadeiras proporcionadas pela mãe. A brincadeira propicia a interação, estimula à comunicação, a simbolização em fim, contribui para aprendizagem coletiva e significativa. Brincar é indispensável para a saúde física, mental, emocional e intelectual da criança com deficiência e contribui para o resto da vida. O brincar tem sua relevância, pois provoca no jogador o desafio de concluir o seu objetivo ao mesmo tempo em que é prazeroso. Ou seja, ele faz uma leitura do que precisa praticar de forma organizada. 19 Nesse contexto, a criança é capaz de aprender a perder, pois percebe que haverá novas oportunidades de vencer. Aprender a esforçar-se e a esperar não desistir facilmente das várias situações encontradas. Brincar desenvolve a comunicação verbal e proporciona um aumento significativo no vocabulário e na aprendizagem. Não é um simples passatempo. Eleaproxima e estimula o processo de socialização, ensina a lidar com suas emoções e descobertas do mundo. Deve-se, ter o espírito aberto para o lúdico, reconhecer que a criança precisa brincar sempre, em qualquer lugar. Este é o trabalho da criança. Assim ela se tornará, em seu tempo, um adulto responsável, de sucesso e principalmente feliz. Com o trabalho realizado através da atividade lúdica e do jogo, a criança cria conceitos, faz seleção de ideias, consegue estabelecer atividades lógicas, a integrar algumas percepções e desenvolver a socialização tornando-se uma criança participativa e capaz de resolver situações que vivencia dentro e fora da sala de aula. Segundo Almeida (1985, p. 34): Quando nos referimos ao lúdico não estamos apenas considerando o jogo pelo jogo ou como brincadeira qualquer, mas falamos de atividades que assegurem a criança o direito de ser criança e ser feliz, o direito de ter um aprendizado significativo, prazeroso, extensão do seu próprio mundo, num desafio constante em busca do interminável. O educador deve fazer seu planejamento para atender as necessidades das crianças, estabelecer os seus objetivos através do trabalho com o lúdico e se envolver com as brincadeiras e respeitar junto com as mesmas as regras estabelecidas para cada jogo, e não só jogar por jogar, mas passar toda confiança para que a criança com deficiência sinta motivação no brincar, tornando-se mais feliz na sua primeira fase da vida, a infância. Cunha (1994, p. 11). Dessa forma, fica claro que ―o brincar para a criança não é uma questão apenas de pura diversão, mas também de educação, socialização, construção e pleno desenvolvimento de suas potencialidades‖. 20 É importante dizer que desde os jogos mais simples até os mais complexos, todos têm a sua função social, comuniticativa e educacional. Cabe ao docente explorar da melhor forma para que o aluno com deficiência possa aprender por meio deles. Os PCNs (1999), afirma que: Além de ser um objeto sociocultural em que a matemática esta presente; o jogo é uma atividade natural no desenvolvimento dos processos psicológicos básicos; supõe um ―fazer sem obrigação externa e imposta‖, embora demande exigências, normas e controle. E o melhor através dos jogos pode-se trabalhar a interdisciplinaridade. Para crianças do Atendimento Educacional Especializado, as brincadeiras e jogos podem ser vivenciados de forma repetida para que eles compreendam a função e o objetivo proposto. A participação em jogos de grupo também representa uma conquista de cunho intelectual, emocional, cognitivo e social, além de provocar estímulos e melhorar o raciocínio lógico e o convívio social. Piaget (1990, p. 149) procurou compreender o papel do jogo na formação da inteligência afirmando haver: Um tipo de hierarquia relacionada ao desenvolvimento cognitivo da criança e suas capacidades de participar de jogos cada vez mais elaborados, jogos de exercícios, de atividades de repetição, podendo ser desde ações motoras até jogos de pensamento, imitando, jogos simbólicos e desenho como manifestações da aquisição de linguagem e capacidade representativa, jogos de regras, predominância da socialização. O brincar é um dos meios pelo qual ocorre a aprendizagem, sendo trabalhado como peça principal, o lúdico é um fator de criação e de brincadeira e possibilita meios para aprender com prazer. Segundo Brougére (1995, p. 89): Brincar é fundamental, a ideia que se tem dessa atividade, ideia inserida na cultura, portanto, no tempo histórico e social do grupo em questão. Fazer emergir as concepções que os professores têm a cerca do que é brincar nos pareceu um primeiro passo para compreender não a resistência, mas também as diferentes formas de participação do projeto Brinquedoteca na escola. 21 É importante que a escola trabalhe a brinquedoteca como um espaço lúdico e pedagógico para alcançar seus objetivos. No ato de brincar se faz necessária a participação de um adulto ou do educador para que as crianças possam sentir realmente o gosto pelas brincadeiras e tenha a percepção que para brincar não importa a idade e sim o prazer que a mesma reproduz. O objetivo da brinquedoteca é oferecer espaços para realizações de estudos, de lazer, da pesquisa, terapias, sendo colocado o brinquedo como alvo para o alcance das crianças e estimule as mesmas a dar respostas a partir das atividades lúdicas, tanto individuais quanto coletivas e desperte ainda mais na criança a responsabilidade do brincar coletivamente, além de preparar a mesma para a vida em sociedade, para conviver em família, com isso os pais conhecerão melhor as preferênciasdos seus filhos, através da relação que há entre eles. CONSIDERAÇÕES FINAIS A problemática do lúdico na Sala de Recursos Multifuncionais para as crianças com deficiência tem sido inserida na atualidade como um tema de suma importância na vida humana, pois através da ludicidade, desenvolve-se o processo criativo, cooperativo e a socialização entre os pares. Percebeu-se, que com essas atividades criativas ocorre a mudança de comportamento, a aceitação do eu e do outro. Tudo isso só é possível por meio de um ensino voltado não somente para a brincadeira, ou para o brincar por brincar, mas a brincadeira com objetivo, para educar, para aprender, visando o atendimento de qualidade e a função desse aluno na sociedade, e, consequentemente, no mundo. No entanto, mesmo com todos os avanços do trabalho lúdico com crianças com deficiência na Sala de Recursos Multifuncionais; nas salas regulares ainda caminha-se para essa efetivação. Portanto, é importante que os profissionais da educação básica entendam que a socialização dos estudantes e o uso do lúdico favorecem um crescimento saudável e autônomo. 22 É a partir da brincadeira com objetivo pré estabelecido que a criança com deficiência ou não torna-se cidadão consciente do seu dever, porém, existem alguns obstáculos para que esses objetivos sejam alcançados, a falta de brinquedoteca nas escolas; o receio de alguns profissionais em utilizar jogos e brincadeiras como forma para alcançar a aprendizagem, visando o prazer, a emoção e consequentemente o conhecimento de mundo. Em suma, ao utilizar o jogo no processo educativo avança-se para uma educação inclusiva, pois em sua maioria os jogos e brincadeiras visam à participação coletiva. Precisa-se, tomar consciência que brincar não é perder tempo, pois a atividade lúdica é desenvolvida, e utilizada como instrumento curricular, e, descobre-se nela uma fonte para desenvolver o conhecimento e a aprendizagem. Nessa perspectiva, a experiência, os saberes e os conhecimentos construídos na educação fundamental, nos anos iniciais acerca das crianças típicas e atípicas precisam atendê-las de forma integral, pois a educação é um direito fundamental. Por outro lado, não pode perder de vista o direito da criança com deficiência de participar de todas as atividades promovidas pela escola, pois é essencial para aproximar as crianças desde a primeira infância e estabelecer uma familiaridade e uma curiosidade para conhecer e fortalecer o vínculo entre elas enquanto brincam. Entretanto, a maioria das escolas não tem a atividade lúdica como estratégia de ensino, sendo hoje um dos maiores desafios para a escola do século XXI. Finalmente, espera-se através dessa pesquisa bibliográfica, contribuir para a ampliação de importantes conceitos e, sobretudo, proporcionar reflexões acerca do papel do lúdico no cotidiano da Sala de Recursos Multifuncionais. Espera-se, ainda que e o papel do lúdico possa ser fundamental para a construção da leitura e escrita, de forma que a criança possa se apropriar do conhecimento de mundo e não como um conteúdo escolar a ser aprendido para ser usado em momentos isolados. 23 Por fim, prentende-se, mostrar a outros profissionais docentes a importância de ampliar esta pesquisa para no futuro melhorar a qualidade do ensino de crianças com deficiência nas Salas de Recursos Multifuncionais e nas escolas públicas, onde o trabalho com atividades lúdicas sirvam de incentivo para que a criança sinta prazer pelo jogo, pela leitura e a escrita. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Paula Nunes. Educação Lúdica, Técnicas e jogos pedagógicos. São Paulo: Loyola, 1985. BORBA, Jocélia Emília. O atendimento educacional especializado em Cumaru- PE em tempos de pandemia da COVID-19. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 08, Vol. 15, pp. 66-78. Agosto de 2020. ISSN: 2448-0959 Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/educacional- especializado, DOI: 10.32749. Acesso em: 31 de maio de 2021. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Meio Ambiente e Saúde. Ministério da Educação e do desporto. Secretaria de Educação Fundamental. 3ª Ed. Brasília, 2001. BROUGÉRE, Gilles. Brinquedo e cultura. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995. CUNHA, Nylce Helena Silva. Brinquedoteca: um mergulho no brincar. São Paulo: Vetor, 1994. KISHIMOTO Morchida. Brinquedo e brincadeira. Usos e significações dentro de contextos culturais. In SANTOS, Santa Marli Pires dos (org.) 4 ed. Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. Petrópolis: vozes, 1997. Acesso em 31, maio de 2021. LIMA, Telma Cristiane Sassode and MIOTO, Regina Célia Tamaso. Procedimentos metodológicos na construção do conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Rev. katálysis [online]. 2007, vol.10, n.spe, pp.37-45. 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Psicopedagoga pelo Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP). Professora Especialista em Deficiência Auditiva da Rede Municipal de Ensino de Salto de Pirapora. RESUMO Este artigo trata das contradições existentes entre as normas, leis e políticas de educação para a inclusão de alunos deficientes e as situações existentes numa escola pública municipal do Ensino Fundamental II no Estado de São Paulo. A pesquisa ocorreu mediante leituras de referências bibliográficas sobre conceitos, normas brasileiras e metodologias para a Educação Inclusiva e um questionário aplicado com professores, que nos permitiram refletir sobre o processo de inclusão de deficientes na escola. Os resultados evidenciam que é necessária uma melhor capacitação dos professores para atenderem alunos com deficiência, bem como apoio governamental e dos atores sociais da escola para que esta política seja eficiente e ficaz. Palavras-Chave: Formação Continuada; Metodologia de Ensino; Educação Inclusiva; Educação Especial. INTRODUÇÃO Para uma educação de qualidade é fundamental a formação continuada dos professores, pois este processo de aprendizado contínuo contribui sobre maneira para as mudanças de mentalidade, quebras de paradigmas de práticas, crenças e valores arraigados no processo de ensino-aprendizagem. O interesse por esse tema surgiu por uma inquietude em compreender as principais dificuldades dos docentes do Ensino Fundamental II em relação à pessoa com deficiência. 25 Para discorrer sobre a Educação Inclusiva dentro do contexto das metodologias de ensino e da relação professor-aluno é necessário antes de tudo compreendê-la como uma educação voltada para a cidadania, sem preconceitos. Trata-se de uma concepção de educação que promove e valoriza as diferenças existentes entre os alunos, seja do ponto de vista do gênero, da raça, da cultura, da condição social ou da deficiência. Na Educação Inclusiva busca-se dar iguais oportunidades aos alunos, considerando sua diversidade, mas oferecendo equidadede condições e possibilidades de desenvolvimento. Partimos da concepção de que por meio da relação professor-aluno, bem como das metodologias de ensino desenvolvidas em sala de aula, podemos promover um ensino que considere as diferenças em sala de aula, contrariando a visão tradicional de que todos os alunos aprendem da mesma maneira e no mesmo ritmo. Levando em conta esta premissa o objetivo central desta pesquisa é analisar o papel dos professores no Ensino Fundamental II diante da inclusão de deficientes, por meio de um estudo de caso em uma escola do Estado de São Paulo, identificando as relações entre as normas e políticas públicas com as situações de formação e percepções dos professores em relação ao tema. Para a consecução deste objetivo este estudo fundamenta-se em autores como André (2017), Fonseca (1995), Goes (2013), Lakatos (2010), Mantoan (2009), Sassaki (2010) e Nóvoa (2014), bem como em normas governamentais principalmente do âmbito do governo federal. Inicialmente a pesquisa teve como foco o levantamentobibliográfico de livros, periódicos, revistas e artigosdiversos, a fim de apoiar e enriquecer o referencial teórico para análise de dados a serem coletados no estudo de caso. A abordagem da pesquisa ocorreu mediante os instrumentos da coleta e interpretação de informações com a pesquisa bibliográfica, depois com a aplicação de questionário para mostrar quais são as condições existents em relação ao trabalho dos professores em situações de Educação Inclusiva, numa escola do Ensino Fundamental II no interior paulista. 26 Como problemática da pesquisa tem-se às seguintes questões: há discrepância entre as práticas dos professors em sala de aula e as normas vigentes em relação à educação inclusiva para deficientes? A formação dos professores é adequada para atender tais exigências? Como superar essas dificuldades? CONCEITOS SOBRE EDUCAÇÃO INCLUSIVA Entende-se por Educação Inclusiva aquela que está aberta às diferenças, à diversidade existente nas escolas, que apoie os diferentes grupos socio culturais, etários, e que abra possibilidades para alunos com deficiências e com dificuldades de aprendizagem possam participar deste processo, mesmo em ritmos distintos. Conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Especial (MEC, 1.998), a Educação Inclusiva: [...] implica uma nova postura da escola comum, que propõe no projeto político pedagógico, no currículo, na metodologia de ensino, na avaliação e na atitude dos educandos, ações que favoreçam a integração social e sua opção por práticas heterogenias. A escola capacita seus professores prepara-se, organiza-se e adapta-se para oferecer educação de qualidade para todos, inclusive, para as pessoas com necessidades especiais [...]. Para isso é necessária uma postura de toda a comunidade escolar, incluindo-se funcionários, professores, alunos, para que os estudantes deficientes tenham cidadania plena e sejam tratados com os mesmos direitos à educação. Para Sassaki (2010, p. 41) inclusão é ―[...] um processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente, estas se preparam para assumer seus papéis na sociedade.‖ Desse modo, desenvolver uma attitude educacional com e para a diferença pressupõe uma mudança de paradigm educacional, um repensar de conceitos, referenciais teóricos e práticos que, até então vêm fundamentando 27 aeducação brasileira e, consequentemente, as ideias, posturas e atitudes dentro das escolas. A escola inclusive implica numa valorização da heterogeneidade e não da homogeneidade, pois precisa considerar que cada aluno tem interesses, habilidades, motivações e experiência pessoal únicas. A educação inclusive parte da premissa que cada aluno é único, singular, fazendo com que os alunos se sintam respeitados e reconhecidos em suas diferenças, em sua diversidade físico-emocional, sociocultural, racial e de conhecimentos e habilidades. Logo, está em consonância com a Declaração dos Direitos Humanos, de 1948, pelo respeito pelo outro, pela diversidade e de acordo com princípios como a Declaração de Salamanca, de 1994. Ao longo da história brasileira houve diversas terminologias para aqueles que tinham deficiências, entre elas eram chamados de incapazes, inválidos, excepcionais e depois mais recentemente passaram a ser denominados de portadores de necessidades especiais nos anos 1990 indo ao encontro de documentos da época. A seguir, vamos tartar brevemente de algumas políticas em relação à Educação Inclusiva, à Educação Especial e ao deficiente. LEGISLAÇÕES, POLÍTICAS E NORMAS DA INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO Dentro da história da Educação Especial e Inclusiva é de suma importância a cronologia para contextualização das mudanças ocorridas em relação à temática, ao longo do tempo e o modo como vem avançando. Até os anos 1970-80 não havia uma política integral, especializada e universal do governo brasileiro em relaçãoa os deficientes, sendo mais comuns as classes especiais, por exemplos, para surdo-mudo e deficientesvisuais. A maioria das mudanças de paradigmas em relação à inclusão do deficient foi criada com a redemocratização do Brasil, sobretudo com a promulgação da Constituição Federal (CF), que nos artigos 205 e 206 tratam da educação como direito a todos, estabelecendo a igualdade de condições e acesso e permanência. O artigo da CF n° 208, no inciso III (BRASIL, 1988), 28 afirma: ―[...] atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino‖. No âmbito internacional em 1.994 a Declaração da Salamanca, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), foi assinada por 94 países e assume como premissa a não segregação dos alunos com deficiência, afirmando que as escolas devem acolher a todos. Esta Declaração norte ou documentos e políticas brasileiras e, no mesmo ano, em 1994, foi publicada a ―Política Nacional de Educação Especial‖ com um processo de integração dos deficientes às classes comuns do ensino regular, mas ainda com padrões metodológicos de homogeneidade, não trazendo à tona a necessidade de metodologias que incluíssem e considerassem o deficiente. Outro documento fundamental que trata da questão no Brasil foi a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), de 1996, que define a matrícula na rede regular de ensino do aluno ―especial‖, assim como o Atendimento Educacional Especializado (AEE). Como explica o MEC, sobre o Atendimento Educacional Especializado (2009, p. 1): Os sistemas de ensino devem matricular os alunos com deficiência, os com transtornos globais do desenvolvimento e os com altas habilidades/superdotação nas escolas comuns do ensino regular e ofertar o atendimento educacional especializado – AEE, promovendo o acesso e as condições para uma educação de qualidade. O atendimento educacional especializado - AEE tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas. De um lado há avanços em relação às terminologias e conceitos usados, caso da concepção de Educação Especial, bem como do reconhecimento da importância da inclusão de alunos deficientes de preferênciana rede regular de ensino com atendimento especializado. Por outro lado, falta na prática uma alusão à formação de professores de maneira continuada e plena para atender efetivamente a esta norma. 29 Em 2001, o Conselho Nacional da Educação CNE/CEB nº2 cria as ―Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica‖ e institui em seu artigo 1 e parágrafo único: Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes Nacionais para a educação de alunos que apresentemnecessidades educacionais especiais, na Educação Básica, em todas as suas etapas e modalidades. Parágrafo único. O atendimento escolar desses alunos terá início na educação infantil, nas creches e pré-escolas, assegurando-lhes os serviços de educação especial sempre que se evidencie, mediante avaliação e interação com a família e a comunidade, a necessidade de atendimento educacional especializado. O Parecer CNE/CEB nº17 de 2001, reforça as políticas de Educação Especial e trata da flexibilização e adaptação curricular nas escolas para os alunos especiais. Afirma que ainclusãona rede regular de ensino não consiste apenas na permanência física, mas representa o desenvolvimento do potencial dos alunos. Só no século XXI começamos a ter políticas em termos de normas e programas que trouxessem a preocupação da formação de professores para atender os alunos com deficiências. Em 2003, o MEC criou o Programa ―Educação Inclusiva: Direito à Diversidade‖ com o intuito de promover a capacitação de professores e gestores da educação das redes públicas municipais e estaduais para oferecer, segundo o documento, um ensino com qualidade na Educação Especial dentro da perspectiva da EducaçãoInclusiva. Foi um passo importante, mas ainda incipiente frente as necessidades de formação de professores no Brasil. Este Programa atendia na época cerca de 106 municípios-polos, com multiplicadores para outros municípios que aderissem ao Programa. Como explica o documento do MEC (2005, p. 9): Numa ação compartilhada, o Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, disponibilizará, para os municípios-pólo e secretarias estaduais de educação e quipamentos, mobiliários e material pedagógico, para a implantação de salas de recursos multifuncionais destinadas ao atendimento educacional especializado, com vistas a 30 apoiar o processo de inclusão educacional dos alunos com necessidades educacionais especiais na rede pública de ensino. Em 2005, o ―Programa de Implementação das Salas de Recursos Multifuncionais‖ apoia os sistemas escolares com conjunto de materiais didáticos, recomenda a acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares e a formação docente para o Atendimento Educacional Especializado (AEE). A ideia das salas de recursos multifuncionais tornou-se importante, pois passam a ser espaços de convivência, de aprendizado e inclusão, mas que requer em uma capacitação dos professores para uso adequado destes espaços. Além disso, estes espaços precisam ser atualizados e realizadas manutenção constante. Em 2008, a ―Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva‖, trata da formação dos demais professores para a inclusão escolar, como afirma o documento (MEC, 2008): ―[...] oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; participação da família e da comunidade‖. Seguemalgumasnormas e políticasbrasileirasmaisrecentessobre o tema: NORMAS-LEIS-POLÍTICAS CARACTERÍSTÍCAS 2.009– Decretoexecutivo nº6.949– Conferênciasnacionais de educação (CONAB) e (CONAE). Perspectiva da ed. Inclusivacomo meta no planonacional de educação. 2009- Resolução MEC CNE/CEB nº4 – Diretrizes operacionais na educação básica, modalidade educação especial. O AEE deve ser oferecido no turno inverso da escolarização. 2.011- Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Plano Viver sem Limite) Decreto nº7.611 Promover e organizar o publico alvo do sistema educacional inclusivo. 2011- Nota Técnica MEC/SEESP/GAB nº06 Garantir um sistema educacional inclusive em todos os níveis e oferta de apoio se necessário com vistas a facilitar sua efetiva educação. Estabelece que cabe ao professor do AEE a identificação das especificidades educacionais de cada estudante de forma articulada com a sala de aula comum. 2.014-Plano Nacional de Educação (PNE) Define as bases da política educacional brasileira. 2;015 – Lei nº13.146 – Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI) A educaçãodeve ser inclusiva e de qualidade em todos os níveis de ensino. 31 Todos esses eventos normativos anteriores destacam a ampla mobilização mundial e no Brasil de pessoas com deficiência em busca de seus direitos e uma melhor qualidade de vida, porque a Educação Inclusiva por mais justa que seja, requer reflexão e preparo no contexto escolar. As leis e normas nacionais tiveram um valor relevante para o aprimoramento da educação nacional e traçaram açõesinclusivas com a intenção de instrumentalizar a sociedade e os profissionais da educação com conhecimentos necessários para o desenvolvimento das habilidades, competências e o aperfeiçoamento das potencialidades de todas as pessoas com deficiência. Entretanto, para que a inclusão se efetue, as normas por si só não solucionamos problemas como indica Mantoan (2.009, p. 37), ―[...] as soluções recomendadas para mudar essa situação parecem repetir as mesmas medidas que o criaram, ou seja, mudaram a mitologia, modificaram o prédio, mas não buscaram as raízes das causas geradoras das dificuldades dos estudantes.‖ Assim, precisamos compreender como ocorre a atuação dos professores e demais atores sociais envolvidos neste processo educativo. A ATUAÇÃO E FORMAÇÃO DOS PROFESSORES Em geral, na cultura educacional brasileira a questão do deficient vem ganhando subsídios que melhoraram a compreensão dos professores sobre o assunto. Entretanto, ainda existe o preconceito que é um tipo de pensamento ligado à experiência vivida por falta de entendimento ou da percepção em relação ao deficient na perspective inclusiva. A maior parte dos preconceitos relacionados à deficiência expressa a dificuldade dos indivíduos de lidarem com a deficiência e com o deficiente, pela estranheza que a diferençacria, pelo desconhecimento, sobretudo, do ―outro‖ que é diferente. Por isso, é necessário rever as práticas e também o pensamento que permeia parte das ações educativas, já que a proposta de Educação Inclusiva está alicerçada numa pedagogia centrada na aprendizagem dos alunos que leva emconta as necessidades de cada um. 32 No ambiente escolar a manifestação de um comportamento inclusive revela a oferta de condições de acesso e de permanência na escola, de garantia do direito à educação escolar de qualidade a todos os alunos com vistas ao exercício da cidadania. Para a aplicação das metodologias de ensino na Educação Inclusiva são necessaries recursos materiais e humanos capacitados para sua efetivação no processo de ensino-aprendizagem, permitindo a flexibilização dos conteúdos e estratégias, para que considerem as necessidades reais do aluno. A inclusão representa hoje uma das grandes preocupações dos professores, visto que, graças às transformações na legislação educacional brasileira, as pessoas com necessidades educativas especiais têm finalmente garantido seu lugar na sala de aula, o que acaba esbarrando em uma nova situação: estarão os professors preparados para recebê-los e garantir sua aprendizagem? Sabe-se que não basta ao aluno ter garantido seu acesso aos bancos escolares, é de seu pleno direito, também a aprendizagem. Mesmo nas últimas décadas do século XX e início do século XXI, o sistema educacional como um todo tem sido questionado e tem se transformado para atender as exigências das novas concepçõesformadas. Dentro deste contexto, alguns professores precisam mudar seu modo de pensar o ensinar, assim como as maneiras que desenvolvem o processo de aprendizagem na sala de aula. Alguns encontram-se perdidos em velhas práticas, buscando ainda definer suas maneiras de atuar. Existem alguns professores que são bastante resistentes às inovações educacionais, principalmenteem relação à inclusão. É fundamental uma mudança de percepção em relação ao tema, já que todos têm o direito de se desenvolverem. Por outro lado, há que se considerar que uma educação para TODOS é válida, porém quase utópica de ser concretizada com muitos alunos em sala de aula e nas circunstâncias nas quais muitos professores trabalham hoje. De acordo com Mantoan (2009, p.37), a inclusão está baseada em relações de aceitação, respeito e valorização das diferenças, entre professores, 33 alunos e pais, sendo condição necessária para atingir o objetivo de uma Educação Inclusiva que abranja a diversidade. Um professor receptivo, compromissado com a aprendizagem e o desenvolvimento de seus alunos, estará aberto a trabalhar com a diversidade, ajudará no compromisso de inserção das pessoas com deficiência para que não sejam causa de evasão e de exclusão escolar. Contudo, é importante atentar que a escolacomo um todo precisa estar aberta a estas mudanças de paradigma, considerando uma infraestrutura acessível aos deficientes e também mudanças de posturas e práticas de apoio efetivo à inclusão. Para isso, é importante que os professors tenham apoio da direção da escola, da coordenação pedagógica que precisa ser democrática, participativa, coletiva e solidária, promovendo o debate, a responsabilidade compartilhada, o planejamento coletivo e cooperativo na elaboração e implementação do Projeto Político Pedagógico (PPP). No PPP é fundamental que se contemple a questão da inclusão dos deficientes, bem como a formação continuada dos professores, permitindo a melhora das suas práticas em relação ao aluno deficiente e sua inserção numa escola heterogênea. O conceito da formação continuada segundo Cunha e Isaía (2.003, p.368) tem relação com iniciativas de formação no período que acompanham o tempo profissional dos sujeitos. Para o estudioso português Nóvoa (2.014, p.23) o aprender contínuo é essencial e se concentra em dois pilares com a própria pessoa e a escola como lugar de crescimento profissional permanente. Considerando os autores citados, a formação dos educadores enfatiza que seja concretizada na perspectiva da reflexão e da investigação sendo capazes de adequar as suas atuações às necessidades de seus alunos em cada época e contexto. Apesar de formalizada a necessidade de transformações naformação continuada dos professores, estas não ocorrem de forma automática, mas nas 34 situações enfrentadas no dia a dia, conforme ressalta Perrenoud (1.999, p. 8) na afirmação de que: [...] vê-se claramente que a prática reflexiva e a participação crítica das attitudes deveriam ser adotadas, visadas e desenvolvidas pelo conjunto dos formadores e das unidades de formação, [...]sejam constantemente conduzidas de forma paralela, a partir das próprias situações, desenvolvendo um discernimento profissional. É fundamental investir nessa formação continuada do professor para ajudá-lo a desmistificar conceitos, supercar suas dificuldades e preconceitos, tornando-o mais consciente, crítico, participativo, reavaliando sua atuação, criando metodologias e instrumentos que sejam significativos para seu publico alvo. É necessário que no planejamento escolar e no plano de aula, o professor proponha metodologias ativas, inovadoras, que despertem as habilidades/competências dos alunos e considere suas especificidades. Por isso adaptar currículos, selecionar atividades e formular avaliações adaptadas, tais como: as lições de casa, a pesquisa, a produção textual, as experiências, as provas intermediárias, as atividades extras, entre outras, para as pessoas com deficiência ou dificuldade de aprendizagem é essencial. Um dos espaços privilegiados para uma permanente formação continuada é a sala de aula através de uma contínua reflexão e investigação da sua prática docente. A formação continuada dos professors principalmente no Ensino Fundamental II, com vistas à promoção da Educação Inclusiva precisa ter espaço na escola, com trocas de experiências entre professores que vivenciam as mesmas situações, capacitações feitas por especialistas, bem como apoio à formação em pós-graduação na área de Educação Especial. Não deve apenas focar em diferenciar o conteúdo curricular e sim, a forma como cada aluno maneja o conteúdo, adotando currículos abertos, propostas curriculares diversificadas, inclusão de professor especialista para favorecer esse processo, planejar aulas interessantes que despertem as habilidades e competências a serem alcançadas. 35 Elencamos alguns procedimentos que consideramos importante neste processo: • Forneça aos alunos instruções individuais para a execução das atividades, mesmo depois de já ter orientado a classe coletivamente; • Requisite aatenção do aluno constantemente para que participe das atividades propostas; • Escute o que o aluno tem a dizer e perceba como ele se sente; • Se for necessário, auxilie o alunoa organizer seu material antes e depois de cadaatividade; • Recorde o conteúdo antes de aprofundar ou inserir novos conceitos; • Selecione metas e objetivos de aprendizagem que funcionem e sejam significativas e relevantes para o aluno com deficiência; • Promova atividades para que sejam feitas na prática; • Permita que o aluno explique sua aprendizagem em diferentes contextos; • Incentive a construção de amizade no grupo e respeito pela diversidade, caso não ocorra na interação entre osalunos; • Avalie constantemente a eficácia de suas intervenções e altere quando for preciso; • Nas correções das atividades propostas, procure chamar o aluno individualmente para que perceba suas dificuldades, dando retorno de sua participação nas atividades. • Utilize de materiais concretos, interessantes e variados e diversifique as estratégias de aula. • Adeque sua linguagem as possibilidades de compreensão do aluno; Tais medidas servem emgeral para osdiversosalunos, mas precisam ser mais enfatizadas para alunos com deficiência, considerando suas especificidades. ESTUDO DE CASO: 36 Para alcançar os objetivos propostos da pesquisa, desenvolvemos um questionário com professores do Ensino Fundamental II, de uma escola na Região Metropolitana de Sorocaba, no Estado de são Paulo. Nesta pesquisa aplicamos vinte questionários e entrevistas com intuito de levantar as seguintes questões: sem a formação adequada, ou ainda mesmo com algum curso de capacitação que dificuldade os professores do Ensino Fundamental II têm para selecionar/adaptar conteúdo para alunos com necessidades especiais? Como supercar essas dificuldades? O que falta para os professores do Ensino Fundamental II atender as pessoas com necessidades especiais? Os sujeitos da pesquisa foram 12 pessoas do sexo feminino e 8 do sexo masculino, professores que atuam no Ensino Fundamental II numa escola na região Metropolitana de Sorocaba do Estado de São Paulo. Destes 10 professores possuem mestrado, 9 lecionam de 5 a 10 anos para pessoas com deficiência e 8 já participaram de algum curso específico para trabalhar com a inclusão. Algo que chama a atenção é quando questionados sobre o que falta para você melhorar sua relação como professor com o aluno com deficiência, 13 responderam que ―precisam de melhor formação e que tem dificuldade em lidar com os deficientes‖; e 7 respondem que ―falta de tempo e tem excesso de alunos em sala de aula‖. Querem melhor formação, mas não procuram cursos especializados no assunto e admitem dificuldade em lidar com alunos deficientes, sendo preciso apoio para que este professor tenha oportunidades de melhorar sua formação, e, ao mesmo tempo, realmente queira transformar sua maneira de tartar destes alunos,modificando sua postura e buscando capacitar-se para melhorar sua prática em aula. Segundo Nóvoa (2014) é preciso que os professores estejam abertos às novidades, procurando metodologias inovadoras, partindo de uma análise individual e coletiva das práticas educativas. Nos questionários deparamo-nos com alguns discursos que enfatizam um certo conformismo com a situação, sem querer avançar e proposições, tais 37 como: ―[...] ―há excesso de alunos‖, ―não sei fazer‖, ―não quero fazer‖ ou ―é obrigado fazer?‖ Porque dá trabalho! Segundo Isabel Sanches (2011) estar incluído significa querer estar, estar disponível para respeitar e ser respeitado, gerir os seus preconceitos, pois conhecer sobre inclusão e deficiência, não implica em aceitar os outros que são diferentes. Está em vigor no Estado de São Paulo, a Lei Estadual n°15830/2015 que limita o número de alunos em sala que conte com aluno de inclusão, tanto para escolas públicas como as privadas. Se houver matrícula de aluno com necessidades especiais em uma classe, esta classe não pode ultrapassar o número de 20 alunos matriculados. Se houver em uma classe 2 ou 3 matrículas de alunos com necessidades especiais. As demais matrículas desta turma, não poderão ultrapassar o número de 15 alunos. Isso é uma medida importante para minimizar os problemas existentes para turmas grandes e diversas que precisa ser cumprida. Segundo Nóvoa (2014) muitas questões permeiam a profissão docente, sendo importante refletir sobre a imagem e a função dos professors ao longo do tempo, e como elas se estabelecem hoje. Existem também alguns professores que tiveram em sua formação cursos sobre como trabalhar com a inclusão, mas, enquanto teóricos e pesquisadores estão refletindo, discutindo sobre terminologias, mas têm dificuldades na prática e na relação com o aluno deficiente numa classe heterogênea. As escolas têm recebido em suas salas de aula um fluxo cada vez maior de pessoas com deficiência e no meio de tal problemática há as escolas, os professores e, principalmente, os pais tentando acertar o passo. Dos 20 professores pesquisados, 9 professores relatam que suas aulas não são acessíveis a todos os alunos e 14 professores não consideram as diferenças entre os alunos no processo ensino-aprendizagem e deixam de usar diferentes estratégias para incluir pessoas com deficiência. 38 Isso demonstra que efetivamente ainclusão não ocorre como deveria, pois o deficient não é atendido considerando suas necessidades especiais, conforme afirmam as normas existentes. Em tempos de inclusão, ainda é visível a dificuldade de alguns professores em articular novas ações no cotidiano escolar e suas metodologias de ensino não suprem as necessidades educativas especiais das pessoas com deficiência. Segundo Mantoan (2.009, p. 22): ―É preciso lembrar, entretanto, que alunos com deficiência não são os únicos cujo rendimento diverge dos ―padrões‖ comuns, principalmente quando métodos e práticas de ensino não trazem nada que contemple as diferenças em sala de aula‖. Nesses novos tempos de tecnologias, enquanto alguns professors não forem sensibilizados e capacitados para a mudança, continuará a haver um descompasso entre as normas e as práticas em sala de aula. O fato de o professor ter pouco tempo para preparer suas aulas, considerando a diversidade é uma questão a ser considerada, pois é mais fácil e dispensa menos tempo preparara tividades iguais para todos do que de acordo com a condição de aprendizagem de cada um. Em seus discussos e projetos pedagógicos na Escola há pressupostos de integração e de inclusão, mas as práticas privilegiam a homogeneidade, ou seja, a semelhança com o princípio constitutivo, promovendo a exclusão educacional daqueles que se afastam, por uma razão ou por outra do modelo homogêneo. Nas avaliações seria necessário deixar de rotular e classificar os alunos e procurer identificar as fragilidades dos alunos no seu processo de ensino- aprendizagem. O sucesso na aprendizagem do aluno se dá através da avaliação das suas potencialidades sendo fundamental para identificar necessidades específicas do aprendiz. As aulas devem ser planejadas garantindo a participação de TODOS, com várias metodologias e práticas de ensino, valendo-se também das tecnologias disponíveis e dos recursos diferenciados. Para isso, é preciso o 39 apoio e orientação de coordenadores pedagógicos e da direção da escola, sendo premissa básica do Projeto Político Pedagógico. As adaptações curriculares não são um novo currículo, mas um currículo dinâmico, passível de ser alterado, para que atenda realmente a todos os alunos e respondendo a necessidade de cada um. O currículo deve ser dinâmico e precisa possibilitar o acesso e inclusão dos alunos e o PPP deve propor a responsabilidade de TODOS os atores sociais da escola (equipe gestora, professores, especialista, pais e comunidade), envolvidos com a educação dos alunos com deficiência. Quando questionados sobre o que precisa para melhorar sua atuação em relação as pessoas com deficiência, 15 professores responderam que não são especialista na área, 3 precisam se aprimorar mais, 1 quer atenção individual e 1 mais tempo. Quando o assunto é inclusão, os discursos mais comuns dos professores resumiram-se em: ―Eu não sou especialista‖ palavras que refletem os conflitos neste processo. Uma boa formação do professor deve fornecer uma base sólida quanto à sua capacidade de análise dessas diferenças existentes, em qualquer nível da Educação Básica, bem como nortear a intervenção pedagógica. Assim, uma boa formação básica do professor é necessária para que ele tenha condição de ensinar, considerando as diferenças individuais, inclusive aquelas decorrentes da deficiência, o que não significa que cursos de atualização não sejam necessários de forma sistemática. Somente a partir da conscientização e do trabalho com os alunos é que pode ocorrer uma preparação e capacitação efetivas. Um dos pontos essenciais é a busca do próprio professor por orientação, atualização e a discussão das questões sobre inclusão e deficiência na escola, independentemente de ter o especialista na escola. Acreditamos que uma especialização na área de Educação Inclusiva seja importante, mas também é importante que o docente seja aberto a mudanças, a aprender, pois o professor da rede pública paulista tem o Horário de Trabalho Coletivo (HTPC) para preparar aulas, além dos seus horários vagos entre aulas. 40 É preciso deixar de ser somente uma política normative pública e ser praticada efetivamente nas escolas, pois necessitamos de uma nova escola que aprenda a refletir criticamente, a pesquisar. Uma escola que não tenha medo de se arriscar, mas, muita coragem de criar e de questionar o que está estabelecido, em busca de rumos inovadores, necessários à inclusão, que os professores sejam reflexivos, pesquisadores, saibam que a melhor formação continuada é a própria sala de aula fazendo da sua formação a possibilidade de se desenvolver pessoal e profissionalmente. Temos duas opções: 1ª ficarmos estáticos, questionando, culpando e reclamando. Essa posição não traz alívio para as angústias e ainda produz sofrimento para si e para todos que nos rodeiam. 2ª parar, olhar a nossa volta e reagir, arregaçar as mangas e ver como podemos melhorar essa situação. Refletir sobre si mesmo, como pessoa e profissional e sobre medos, preconceitos. Este papel não deve ser somente do professor, mas de todos os atores sociais envolvidos no processo, incluindo-se apoio governamental para a educação continuada dos professores. CONSIDERAÇÕES FINAIS Percebemos, que mesmo com a implementação das novas políticas, vive-se diariamentea consequência do despreparo, falta de empatia, de metodologias de ensino e suporte dos sistemas de ensino que insistem em tartar desiguais como iguais, ou seja, todos de forma homogênea sem respeitar sua individualidade excluindo e de certa forma discriminando aqueles que não conseguem acompanhar o ritmo dos demais. Tais situações refletem a necessidade de uma melhor formação dos professores em relação a conhecimentos específicos de como lidar, atuar e propor metodologias em relação ao aluno deficiente inserido numa turma heterogênea, diversa. Assim como de apoio e participação dos diversos atores sociais envolvidos na relação com a Educação Inclusiva para alunos com deficiência. 41 Logo, apesar do avanço das políticas, normas e leis em relação à inclusão de deficientes no Brasil, ainda há grande descompasso da atuação dos professores e da realidade escolar, conforme pesquisa e estudo de caso que realizamos no Estado de São Paulo. REFERÊNCIAS ANDRÉ, Marli E. D. A. (org.). O papel da pesquisanaformação e naprática dos professores. Campinas – SP: Papirus, 2017. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Presidência da República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acessoem 20 de nov. de 2019. _________. Lei nº 13.146 de 6 de julho de 2015.Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência.Disponível em: www.planalto.gov.br>2015lei. _________. Lei nº 13.796 de 3 de janeiro de 2019 altera a Lei nº9.394/96. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1997. Disponível em: www.planalto.gov.br>L13796. FONSECA, Vitor. Educação Especial. Porto Alegre: Artes Médicas,1.995. GÓES, M.C.R. &Laplane, Alf. (Orgs). Políticas e práticas da Educação Inclusiva. Campinas: Autores Associados, 2.013. LAKATOS, Eva Maria e MARCONI, Maria de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 2010. MANTOAN, Maria Tereza Egler. O desafio das diferenças nas escolas. 2 ª ed. Petrópolis:Vozes,2009. _________. Inclusão escolar: O que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna, 2009. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (MEC). Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Especial. Brasília: Secretaria de Educação Especial, 1998. _________. Diretrizes operacionais da Educação Especial para o atendimento educacional especializado na Educação Básica. Brasília: MEC/SEE, 2009. Disponívelem: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias =428-diretrizes-publicacao&Itemid=30192. Acessoem 20 de out. 2019. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm 42 _________. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEE, 2008. _________. Educação Inclusiva: direito à diversidade. Documento orientador. Brasília: MEC/SEE, 2005. NÓVOA, Antônio. Professor se forma naescola. Nova Escola. São Paulo, nº 142 maio 2014. SANCHES, Isabel. Do aprender para fazer ao aprender fazendo: as práticas de Educação Inclusiva na escola. Revista Lusófona de Educação, nº19, Lisboa, 2011. SASSAKI, R. K. Inclusão: Construindo uma sociedade para Todos. Rio de Janeiro: WVA, 2010. 43 A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO COMO RECURSO PEDAGÓGICO INCLUSIVO PARA ESTUDANTES SURDOS Elaine Maria da Silva¹ ¹ Especialista em Educação Especial e Práticas Inclusivas pela Faculdade Escritor Osman da Costa Lins (FACOL); Especialista em Libras pela Faculdade Escritor Osman da Costa Lins (FACOL); Graduada em Ciências Biológicas pelas Faculdades Integradas da Vitória de Santo Antão (FAINTVISA); Graduanda em Letras Libras pela Instituição Centro Universitário Leonardo da Vinci (UNIASSELVI); Bacharelanda em Letras Libras pela Instituição Centro Leonardo da Vinci (UNIASSELVI); Ensino Normal Médio pela Escola Estadual Professora Jandira de Andrade Lima (CERU); Professora Intérprete de Libras pelo Governo do Estado de Pernambuco. RESUMO O presente trabalho pretende refletir sobre a importância do lúdico como recurso metodológico no ensino aprendizagem de estudantes surdos, refletindo sobre as contribuições de uma metodologia pautada no desenvolvimento cognitivo de maneira mais significativa e homogênea, com o uso das atividades lúdicas e jogos, para que aconteça uma educação de qualidade como também benefícios nas práticas inclusivas. Esse trabalho nasce do interesse em compreender as dificuldades enfrentadas por estudantes surdos, tendo o brincar como facilitador na aquisição de novos conhecimentos, como atenção raciocínio lógico, concentração e socialização. Obtém-se como resultado uma reflexão sobre as expectativas, pois as atividades lúdicas e procedimentos diversificados é uma opção do ensino eficaz, onde o indivíduo constrói seu conhecimento de acordo com o contexto social e cultural em que está inserido. Palavras-Chave: Educação; Lúdico; Surdez. INTRODUÇÃO Levando em consideração a importância do ensino e aprendizagem lúdica é de grande importância destacar a função do brincar na socialização e no desenvolvimento dos estudantes surdos na escola, além de ser um meio facilitador da inclusão de crianças com necessidades especiais no ambiente escolar. A educação constitui um direito de todos os cidadãos e cabe aos 44 sistemas de ensino viabilizar as condições de comunicação que garantam acesso ao currículo e a informação. Dessa forma ao discutimos sobre o lúdico como recursos pedagógicos inclusivos para estudantes surdos vimos que, ao brincar, a criança tem a oportunidade de relacionar-se, pois ao participar de uma brincadeira a criança se socializa e desenvolve várias habilidades, pensando assim percebe-se que é necessária a aquisição de estratégias diversificadas e práticas pedagógicas coerentes no processo de aprendizado do sujeito surdo, utilizando o lúdico como recursos no aprendizado dos mesmos, possibilitando a interação e o desenvolvimento. A escola e o professor devem estar atentos para as metodologias e rever as concepções sobre o processo de aprendizagem do aluno surdo, criando práticas pedagógicas lúdicas que atenda a esse público. É importante introduzir na rotina das crianças atividades diversificadas, como brincadeiras e jogos, possibilitando aos mesmos o despertar de diversas capacidades. Sendo assim entende-se que o lúdico é uma metodologia que contribui para o desenvolvimento humano, tanto no que se refere ao cognitivo, emocional e social. Levando-se em consideração as diferentes formas de aprendizagem através do lúdico, é possível comtemplar cada indivíduo em sua especificidade. Sendo assim o momento de aprendizagem se tornará prazerosa para criança e integra todos os alunos, tornando o ambiente escolar saudável, lúdico e divertido. METODOLOGIA O presente trabalho foi desenvolvido através das pesquisas bibliográficas, baseadas nos autores como Quadros (2007), Vygotsky (1984), Almeida (1995) carvalho, (2006) Santos (2000). A partir dessa pesquisa foi possível perceber como o lúdico se faz necessário como recursos pedagógicos no ensino aprendizagem dos alunos surdos. A ludicidade permite criar possibilidade de inclusão e conhecimento. 45 O brincar proporciona interação. É uma atividade de participação conjunta que ocasiona muito aprendizado e os alunos vão adquirindo suas próprias habilidades e conhecimentos. Sendo assim, buscamos pesquisar por matérias que pudéssemos ter mais clareza e fundamentos sobre a ludicidade e vemos que a mesma refere- se artefatos, de jogos e brincadeiras que ajudam no processo de ensino aprendizado mais significativo para os alunos surdos. Sendo assim e de acordo com KISHIMOTO, p. 26: O jogo é um instrumento pedagógico muito significativo. No contexto cultural e biológico é uma atividade livre,alegre que engloba uma significação. É de grande valor social, oferecendo inúmeras possibilidades educacionais, pois favorece o desenvolvimento corporal, estimula a vida psíquica e a inteligência, contribui para a adaptação ao grupo, preparando a criança para viver em sociedade, participando e questionando os pressupostos das relações sociais tais como estão postos. (KISHIMOTO, 1996 p. 26). A partir de todas as pesquisas realizadas vemos a importância da ludicidade como ferramenta principal no ensino educacional dos mesmos. Eis alguns exemplos de materiais inclusivos utilizados na ludicidade pedagógica infantil. Imagem 01 – Caixa tátil Fonte:http://2.bp.blogspot.com/dwhK0w2lfk/Ul3iGdgkG7I/AAAAAAAAACQ/Wl7zVenkwIM/s160 0/caixa+tatil2.JPG Imagem 02 – Trabalhando números e quantidades http://2.bp.blogspot.com/dwhK0w2lfk/Ul3iGdgkG7I/AAAAAAAAACQ/Wl7zVenkwIM/s1600/caixa+tatil2.JPG http://2.bp.blogspot.com/dwhK0w2lfk/Ul3iGdgkG7I/AAAAAAAAACQ/Wl7zVenkwIM/s1600/caixa+tatil2.JPG 46 Fonte: https://www.mepoenahistoria.com.br/wpcontent/uploads/2020/03/Pregador.png DESENVOLVIMENTO A educação dos surdos ao longo do tempo tem se mostrado de uma forma restrita exigindo cada vez mais a atenção de pesquisadores e estudiosos da área. Isso por que as propostas educacionais desenvolvidas ao longo do último século mesmo ainda sendo tratada de forma restrita tem se mostrado eficientes, para muitos surdos que após anos de escolarização, apresentam-se avançando em seu mundo acadêmico deixando visível a todos que mesmo diante de tantos desafios a e escola tem sim apresentado conquistas significativas na educação de surdos no Brasil. Em nosso país esse processo de escolarização iniciou-se formalmente com o professor surdo Eduard Huet em 1857, quando este veio a pedido do Imperador D. Pedro II para o Rio de Janeiro onde fundou a primeira escola de surdos mudos (denominação da época) o Imperial Instituto de Surdos Mudos do Brasil dando início assim, a educação de surdos no Brasil. Ao longo dessa trajetória, diversas foram as lutas que elevaram os surdos a efetivar a sua própria língua a de sinais que foi promulgada por meio da lei nº 10. 436, de 24 de abril de 2002 levando as instituições de ensino a adotarem um novo olhar sobre o processo de escolarização do indivíduo surdo. https://www.mepoenahistoria.com.br/wpcontent/uploads/2020/03/Pregador.png 47 A Lei nº10. 436/02 reconhece a Língua brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão, determinados que sejam garantidas formas institucionalizadas de apoiar seu uso e difusão, bem como a inclusão da disciplina de Libras como parte integrante do currículo nos cursos de formação de professores e de fonoaudiologia (BRASIL, 2008, p. 9). Durante essa trajetória a literatura ainda nos aponta que até o século XV os surdos eram considerados como incapazes de aprender, sendo inclusive negado-lhes direitos básicos e que longa foi a trajetória que levou a comunidade surda a ter todos os direitos a educação que lhes tem hoje. Diante desta evolução educacional no processo de ensino aprendizagem do indivíduo surdo podemos observar que as práticas de ensino tradicionais não contribuem para a sua aprendizagem, com isso se tem a importância da utilização neste processo de práticas lúdicas, levando os alunos a sentirem-se confiantes e capazes de interagir de forma significativa com os demais. Para Quadros (1997), os alunos surdos precisam tornarem-se leitores na língua de sinais para depois se tornarem leitores na língua portuguesa. Sendo assim, alguns recursos podem serem utilizados na elaboração de uma atividade com a criança surda uma delas está baseada em recursos pedagógicos inclusivos para estudantes surdos, as quais poderão desenvolver neste público grandes potenciais no seu processo de ensino aprendizagem. Neste Viés A inclusão é para SASSAKI (1997, p.3): Conceitua-se a Inclusão Social como o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade. A inclusão social constitui, então, um processo bilateral no qual as pessoas, ainda excluídas e a sociedade buscam, em parcerias, equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos. (SASSAKI, 1997, p. 3). Nesta perspectiva inclusão de estudantes surdos por meio da ludicidade em normas gerais respalda que, atividades imitações, jogos, desenhos, dramatizações, brincadeiras de faz de conta, amarelinhas e histórias infantis como todo e qualquer recurso pedagógico inclusivo pode sim, contribuir tanto para o processo de ensino aprendizagem do estudante surdo quanto para a assimilação de sua Língua como L1, sejam eles surdos ou ouvintes. Tais 48 atividades possibilitam, ao mesmo tempo, a aquisição da linguagem e a aprendizagem de conceitos e regras de um código de comunicação, aspectos importantíssimos para o processo de interação escolar. A partir dessas situações o educador pode utilizar todo e qualquer recurso pedagógico lúdico para subsidiar o desenvolvimento do estudante surdo, levando-a a assimilar, formar palavras, frases, textos, questões matemáticas e muito mais. Lembrando que esta prática inclusiva deverá ser pautada na sua Língua como L1 que é a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) tendo a Língua Portuguesa como L2, assim nesta perspectiva o estudante surdo além de desenvolver o seu processo interacional com os colegas, desenvolverá a autonomia, equilíbrio, atenção e raciocínio removendo assim barreiras que impeçam o seu processo de aprendizagem. Adaptar o ensino para alguns alunos de uma turma de escola comum não conduz e não condiz com a transformação pedagógica dessas escolas, exigidas pela inclusão. A inclusão implica uma mudança de paradigma educacional, que gera uma reorganização das práticas escolares: planejamentos, formação de turmas, currículo, avaliação, gestão do processo educativo (MANTOAN, 2008, p. 37). De acordo com Santos (2000), através do jogo a criança desenvolverá a capacidade de perceber suas atitudes de cooperação, oportunidades de descobrir seus próprios recursos e testar suas próprias habilidades e aprenderá a conviver com os colegas nessa interação. O professor pode incentivar o desenvolvimento nessa modalidade de aprendizagem, ajudando o aluno a combinar as emoções com os seus conhecimentos prévios. Assim a escola que enfatiza o lúdico como recursos pedagógicos inclusivos para estudantes surdos estão proporcionando oportunidades aos mesmos de interagir entre seus pares de forma lúdica. Segundo Vygotsky (1988, 1987), o jogo é a atividade simbólica mais importante da infância, uma vez que possibilita a expressão da situação imaginária, frutos de experiências adquiridas pela criança no contexto social. Portanto, é de grande importância trabalhar o lúdico, utilizando o mesmo como ferramenta didática para o processo de aquisição de conhecimento para que esse aluno possa desempenhar com qualidade o uso da escrita e da leitura e análise linguística, pois assim o aluno terá um enriquecimento do 49 esquema perceptivo significativo em vários fatores (visuais, auditivos e sinestésico), operativos (a memória, imaginação fina) que define aspectos básicos que dá condições para o domínio da leitura e escrita. Com isso a criança surda precisa de estímulos significativos, passando a ter uma percepção mais aguçada e isso o levará a um bom desenvolvimento na sua vida escolar. Podendo utilizar com facilidade as duas línguas, a tornando-se uma criança bilíngue, facilitando sua interação no âmbito escolar e social. Sendo assim e de acordo com as nossas pesquisar podemos observa que o, trabalhar com a proposta de material lúdico-educativobusca desenvolver o aprendizado, autonomia, e a criatividade além da atenção do estudante surdo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por fim concluímos que, importância do lúdico como prática pedagógica na educação inclusiva de alunos surdos tem como função estimular e motivar a aquisição de novos conhecimentos propiciando um ambiente agradável e atrativo, a utilização de jogos e sua funcionalidade tem como objetivo a inclusão no processo educacional.Sabe-se que a utilização de procedimentos e metodologias que envolvem brincadeiras tende a contribuir de forma eficaz, no processo de ensino aprendizagem da criança surda, o brincar possibilita o desenvolvimento e não somente é um instrumento facilitador de aprendizado, mas também engloba a área da efetividade, sociabilidade e criatividade. Através da brincadeira a criança tem a oportunidade de experimentar o objetivo de conhecimento, descobri-lo e explorá-lo e é nos momentos de brincadeiras que o indivíduo pode colocar em prática seus pensamentos de forma livre, podendo ir muito além da imaginação, não tendo medo de errar, torna-se primordial a capacidade de brincar e imaginar os objetos ganharem várias formas diante de situações diversas. É através do desenvolvimento prazeroso da criança que o educador deverá interagir com o lúdico, pois os alunos surdos precisam de experiências concretas, desafios e motivações, desse modo as brincadeiras e os jogos têm um significado importante, visto que os mesmos passam a compreender o que 50 construiu, ajudando também no desenvolvimento intelectual e facilita o convívio social. Os profissionais que estão dispostos a trabalhar com a educação de aluno surdo deverá ter a consciência do sentido das atividades lúdicas sendo o foco da sua proposta pedagógica, visto que as atividades precisam ser desenvolvidas com afetividade e sensibilidade, é preciso ter clareza de que o lúdico pode de fato possibilitar condições necessárias para o ensino aprendizagem da criança. Desse modo, foi abordada como prioridade a utilização das atividades lúdicas, sabemos que as mesmas oportunizam saberes por meio do mundo imaginário, visando assim a construção do conhecimento, pois proporcionam um aprendizado sem cobranças, espera-se que o professor veja o lúdico com uma ação das práticas inclusivas e seja um facilitador dessa experiência com os seus alunos, como forma de enriquecer sua metodologia e promover a inclusão de seus alunos com necessidades especiais. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Paula Nunes. Educação Lúdica, Técnicas e jogos pedagógicos. São Paulo: Loyola, 1995. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros curriculares nacionais – adaptações curriculares: estratégias de ensino para educação de alunos com necessidades educacionais especiais. Secretaria de Educação Fundamental/ Secretaria de Educação Especial. SEF/SEESP: Brasília, 1998. ________. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, (LDB) Nº 9394/96. Apresentação: Esther Grossi. 2ª Ed. Rio de Janeiro: DP&A, 1999 CARVALHO, J. M; REDONDO, M. C. F. Caderno da TV Escola: Deficiência Auditiva. Brasília, 2001. KISHIMOTO, TizucoMorchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 7 ed. São Paulo: Cortez, 1996. LACERDA, C. B. F. A inclusão escolar de alunos surdos: O que dizem alunos, professores e intérpretes sobre esta experiência. Em aberto, Campinas, v.26, n.69, p.163-184, 2006. Disponível em http://www.cedes.unicamp.br http://www.cedes.unicamp.br/ 51 LIMA, Eliane Maria dos Santos. Tecnologia assistiva no âmbito educacional para o aluno surdo. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 06, Vol. 06, pp. 66-74. Junho de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/aluno-surdo, MANTOAN, M. T. E. Inclusão Escolar: caminhos, descaminhos, desafios, perspectivas. ________. O Desafio das Diferenças nas Escolas. Petrópolis: Vozes, 2008. QUADROS, Ronice Müller de; SHIMEDT, Magali I.P. Ideias para ensinar português para alunos surdos. Brasília: MEC, SEESP,2006, 120p. QUADROS, R. M. de. Educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre. Artes Médicas. 1997. QUADROS, Ronice Müller de. Alfabetização e o Ensino da Língua de Sinais. Textura, Canoas, n.3, 2000, p. 53-62. Disponível em: http://www.ronice.ced.ufsc.br/index.htm, acesso em: 20/05/2021. REDONDO, Maria Cristina da Fonseca. Deficiência auditiva-/ Maria Cristina da Fonseca Redondo, Josefina Martins Carvalho. – Brasília: MEC. Secretaria de Educação a Distância, 2000 REDONDO, M.C.F.; CARVALHO, J.M. 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RESUMO O objetivo desta pesquisa é mostrar para a sociedade o quanto ainda vivemos em meio a atitudes preconceituosas, principalmente no que diz respeito a família, pois não são capazes de suportar a responsabilidade de educar alguém que possua um determinado tipo de deficiência. Há crianças que mesmo com suas dificuldades, elas desejam lutar para melhor desenvolver suas habilidades, não importa se o problema é mental, é visual, auditivo, nada disso impede o desejo de tornarem-se cada dia melhor e capazes. EGLLER (2004), ao enfocar o tema inclusão, destaca: será que os alunos são bem vindos em sala de aula? A sociedade respeita as pessoas deficientes? Qual o compromisso da sociedade em relação a essa problemática? Qual o papel da família? E os educadores estão preparados para receber esses alunos? Há uma série de questionamentos, no entanto essa pesquisa busca mostrar o compromisso da educação na inserção desses alunos (a), sem que estes sofram quaisquer tipos de discriminação e possa viver em sociedade com dignidade. O fato é que pesquisadores ainda continuam um trabalho incansável junto aos educadores na tentativa de que a sala de aula ainda é o melhor espaço de convivência para estas crianças. Não se pode desenvolver habilidades em uma criança deficiente, sem inseri-la no convívio social. Palavras-chaves: Família; Inclusão; Sociedade; Responsabilidade. INTRODUÇÂO A presente pesquisa tem por objetivo apresentar a grande problemática enfrentada por crianças com deficiência, principalmente no que diz respeito à 53 sala de aula, haja vista os educadores ainda não estarem preparados para enfrentar esse problema, e as instituições educacionais não possuem infraestrutura adequada para receber alunos que são considerados ―diferentes‖. Isso não acontece apenas na inserção educacional, ocorre também na família, porque os próprios familiares têm preconceito de sair com os filhos, de transmitir para a sociedade que em seu lar existe uma criança com deficiência. E por que isso acontece? Simplesmente porque a sociedade é cruel, não entende que todo ser é capaz, não importa se possui dificuldades mentais ou físicas, pois a heterogeneidade é real entre os alunos ditos ―normais‖. Então questiono: onde está a diferença? Creio que em nós mesmos, que colocamos limites e dificuldades para recebermos e aceitarmos uma pessoa com deficiência seja na escola ou em qualquer outro lugar. Compreenderque a escola deverá manter um profissional qualificado para ensinar e ajudar a criança nas atividades socioeducativas, pois é o espaço no qual o aluno estará sempre inserido, conviver com outras crianças e buscar uma socialização adequada sem constrangimento e sem preconceitos, a sociedade por sua vez precisa compreender que discriminação de qualquer espécie é crime. ―O aprendizado é mais do que a aquisição de capacidade para pensar; é a aquisição de muitas capacidades especializadas para pensar sobre várias coisas.‖ (VYGOTSKY, 1991, p. 55). Aprender é possível, precisa acreditar nessa possibilidade de mudanças. Mudar a sociedade, conhecer as dificuldades e as capacidades que cada ser humano tem dentro de si. Se for possível observar a potencialidade de cada um, a forma de amar, a maneira como tentam aceitar seus próprios limites, a busca por um espaço na sociedade, todos esses fatores são motivos de orgulho para todos nós. E é por esse motivo que se faz necessário envolver a família e formar professores aptos para trabalhar e juntos construírem caminhos mais seguros, capazes de respeitar a vida, ter dignidade e principalmente formar cidadãos íntegros. Egller (2004) destaca: A ética, em sua dimensão crítica e transformadora, é que referenda nossa luta pela inclusão escolar. A posição é oposta à conservadora, 54 porque entende que as diferenças estão sendo constantemente feitas e refeitas, já que vão deferindo infinitamente. Elas são produzidas, como pensamos habitualmente. Essa produção merece ser compreendida, e não apenas respeitada e tolerada. (EGLLER, 2004, p. 31). É claro que é preciso fazer com que a sociedade brasileira compreenda de uma vez por todas que inclusão não é crime, e sim, é uma realização progressista, onde todos nós seres humanos vamos crescer juntos com aqueles que consideramos diferentes, não há dificuldades para quem tem sempre algo para aprender, mesmo com suas limitações, sempre encontra uma maneira de demonstrar progressão, não são seres humanos incapazes. Precisamos quebrar as barreiras da discriminação, vivemos em meio a uma democracia e se faz necessário acreditar nas diferenças e vivenciá-las com amor, dedicação e com educação, aprender a conviver com o diferente, é respeitar suas especificidades. Analisar o comportamento vivenciado pelos docentes, averiguar se estão aptos para receber crianças ―deficientes‖, avaliar quais são os principais problemas enfrentados tanto por docente, quanto discentes. O papel da escola é manter um profissional qualificado para trabalhar com esses alunos, envolvendo-os no mesmo ambiente social, procurar sempre vivenciar tarefas que inclua a todos em um mesmo processo de aprendizagem. Cada (deficiência) requer estratégias e materiais diversificados e profissionais qualificados. Porém é reconhecer que cada um aprende de uma forma e no seu próprio ritmo. Respeitar a diversidade significa dar oportunidades para todos aprenderem os mesmos conteúdos, criar as adaptações necessárias, o que não significa dar atividades mais fáceis a quem tem deficiência. Entendemos que, se a educação é importante, como fator de transformação para todos os indivíduos, uma educação de qualidade, que atenda suas necessidades educativas especiais torna-se fundamental para os indivíduos com deficiência de sua educação. (VOIVODIC, 2004, p.17). O mais importante é que a sociedade questione a diversidade não como uma diferença, porém como um direito, um dever, porque ao deixar a pessoa 55 com deficiência em escolas especiais, ou seja, em um espaço isolado, significa tirar o direito de que a mesma desenvolva suas potencialidades e socialização com outras crianças. Deve-se conscientizar de que os direitos legais existem para serem cumpridos e exercidos na vida de todo e qualquer cidadão sem excluir quem quer que seja, por qualquer que seja a sua necessidade. PRESUPOSTOS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Segundo Carvalho (2000), existe uma preocupação que no futuro ao falarmos de pessoas com limitações que são impostas pelas deficiências das quais convivem com elas, que não se valorize de forma adequada, e que a educação venha tomar rumos diferentes, que não seja capaz de se adequar a realidade vivenciada pelos deficientes. O objetivo é mostrar para a sociedade que não são crianças com nenhum tipo de deficiência, nós adultos é que somos deficientes, pois não somos capazes de suportar a responsabilidade de educar alguém que seja diferente. Há crianças que mesmo com suas dificuldades, elas desejam lutar para melhor desenvolver suas criatividades, não importa se lhe falta às mãos, se o problema é mental, é visual, auditivo, nada disso impede o desejo de tornar-se cada dia melhor e capaz. Já pararam para observar uma criança autista? Em que mundo ela vive? A criança autista tem dificuldades de se apropriar do seu próprio corpo, de entender e administrar sentimentos, e emoções, que irão refletir, principalmente, no seu relacionamento e, consequentemente, no seu aprendizado. Ela vive em seu mundo de silêncio, que apenas ela consegue lê, mas nem assim deixa de existir, pelo contrário, merece, todo respeito, todo afeto e compreensão, e, principalmente seus direitos e deverão ser respeitados. Segundo o IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, só 75% das crianças de 7 a 14 anos com deficiências físicas ou mentais frequentam a sala de aula. O que é possível observar principalmente, na região Nordeste, é que mesmo com políticas que envolvem a inclusão de qualquer tipo de 56 deficiência, ainda não foram colocadas em prática que, deixar a pessoa com qualquer deficiência excluída da escola, da sociedade, do lazer, do direito de ir e vir é um crime. Segundo SANTOS, (2006), o direito de toda criança a educação é o principio fundamental desta ―linha de ação‖, ou seja, as escolas devem, está preparadas para aceitarem todas as crianças, independente de suas condições, quer sejam físicas, intelectuais, entre outras. A escola tem um compromisso com a educação e para assumir esse compromisso, precisa enfrentar suas limitações e entender que pessoas com deficiência têm os mesmos direitos que qualquer cidadão comum. Existe uma deficiência sim, no entanto, não impede o crescimento intelectual, é simplesmente uma veracidade, mas que possibilita aprendizagem e qualificação, e é isso que nos torna mais compromissados com a educação inclusiva. Será que às políticas públicas direcionadas a educação tem trabalhado para distinguir quem é apto ou não para está em sala de aula? Não, pois quando se trata de educação para ―Pessoas com Deficiência‖ principalmente de 1º aos 5º anos, é observado que o ambiente físico da escola é inadequado, os professores não estão preparados para receber essa criança, e ainda há um sério agravante, seus colegas de sala infelizmente apresentam dificuldades para lhe dar com uma criança ―deficiente‖. Essa criança não pediu para vir ao mundo, nem os pais desejaram que seu filho viesse com algum desvio psicológico. Jamais deve-se ignorar esses pequenos, pois necessitam de cuidados especiais, de zelo, amor, compreensão, educação de boa qualidade, elas não necessitam de piedade, antes precisam fazer a diferença, é importante que o ser humano compreenda que as pessoas com deficiência são seres humanos capazes de amar, com sensibilidade. Que tem o mesmo privilégio de viver socialmente de forma a não ser excluído. Não se deve excluir quem quer que seja do meio sociocultural, pois todo o ser humano tem o direito à educação, o lazer, à vida social. Alonso (2013) diz que Até o início do século XXI, o sistema educacional brasileiro abrigava dois tipos de serviços: a escola regular e a escola especial - 57 ou o aluno frequentava uma, ou a outra. Na última década, nosso sistema escolar modificou-secom a proposta inclusiva e um único tipo de escola foi adotado: a regular, que acolhe todos os alunos, apresenta meios e recursos adequados e oferece apoio àqueles que encontram barreiras para a aprendizagem. O século XXI está completo de grandes transformações, de novas conquistas, de exclusão e inclusão. Exclusão, quando as pessoas diferenciam uma das outras. Inclusão quando se percebe as grandes modificações causadas pela convivência com o que chamamos de diferentes. Mas o que é ser diferente? É alguém que apresenta algum tipo de deficiência física, mental ou psicológica, no entanto, ser diferente muitas vezes é discriminar, é tratar mal, é menosprezar aqueles que consideramos ―diferente‖. As instituições escolares hoje têm suas evoluções, pois algumas delas têm buscado soluções para inclusão, como montar sala de laboratório especializado para alunos com deficiência visual, construção de rampas, salas mais amplas, professores bem mais preparados, sociedade envolvida em um só processo, a inclusão. O que percebemos no que chamamos de diferente são os resultados causados por uma discriminação que gera na criança ou com alguma característica indesejada pela sociedade, é a dor a tristeza, e a falta de estímulos pela vontade de viver, sentimentos de menos valia, fracasso, o que repercute na construção de uma autoestima negativa, o que pode causar muitas vezes um comportamento de acomodação, um grande problema de evasão escolar. Entende-se que há vários requisitos que causam a indiferença, o que tentam justificar a diversidade: crianças que trabalham, meninos de rua, raças diferentes, culturas as mais variadas, de vários grupos marginalizados, em fim, diferença não é ser incapaz e sim uma realidade existente em todo o mundo. A educação inclusiva, ela veio para fazer a diferença, para exigir dos governantes uma proposta adequada e de boa qualidade, uma estrutura física e humana, onde todos possam progredir em um mesmo espaço, sem que haja discriminação. Escola, não é lugar de pessoas excluídas, é lugar de pessoas 58 aptas com vontade de lutar pelo valor real da vida. Não adianta construir rampas, para os deficientes físicos, salas para os deficientes visuais, materiais pedagógicos para outros tipos de deficiência se não temos a dignidade de diferenciar o que realmente significa ser diferente. A constituição federal (1998) art. 205, afirma que a ―A educação é direito de todos‖. Faz-se necessário na aceitação das diferenças e na valorização do indíviduo, independentemente de qualquer fator fisíco e psíquico. Por este aspecto é que falamos de inclusão, em que todos tenham os mesmos direitos e deveres construindo um ambiente que favoresça ao crescimento, que valorize as diferenças e o potencial de cada um. O ser humano que é deficiente, nao pediu para nascer, nem os pais desejaram que seu filho viesse ao mundo com algum tipo de desvio psicológico, jamais devemos ignorar essas pessoas, pois necessitam de cuidados, de zelo, de amor, de compreensão, respeito e, principalmete, uma educação de boa qualidade, não é preciso ter pena, é preciso fazer a diferença, é antes de qualquer coisa um ser humano, o que irá mudar, é que em alguns casos, ele será criança para sempre, como o caso da criança que apresenta problemas mentais, mas nada os impedem de produzirem, de construirem conhecimentos. É uma questão de valorização à vida, de respeito ao ser humano, independente de qulquer que seja sua deficiência. INCLUSÃO ESCOLAR? POR QUÊ? E QUAL A NECESSIDADE DE FAZER? Por que inclusão escolar? O que na realidade está sendo questionado? Será que diante das leis que regem nosso país, todos não temos os mesmos dieitos? Pode-se verificar que os alunos das classes especiais são constituidos pelos que não conseguem acompanhar os seus colegas de turma, os indisciplinados, os filhos de lares pobres, crianças negras e outras etnias. Pela ausência de laudos periciais competentes e de queixas escolares bem fundamentadas, esses alunos correm o risco de serem admitidos e considerados como ―Deficientes‖. 59 A questão de falta de cultura do nosso povo, infelizmente nos leva a uma triste realdade, que são justamente os desmandos e transgressões ao direito à educação e a não-disriminação que algumas escolas e redes de ensino e da justiça em geral. O que não justifica os maus tratos por parte de funcionários relapsos, que de certa forma discrimina a criança deficiente, e em muitos casos os pais. Não há mais desculpas para dizer, eu não sabia, isso é uma forma de agredir ainda muito mais aquele que a natureza o fez ―diferente‖, mas não incapaz, e em uma instituição educacional é criminosos ouvir tal repetição e palavras como: o bichinho é cego, que pena ele não fala, meu Deus como você pode educar uma criança assim? De acordo com as autoras Leonardo, e Col (2009), afirmam que: Atualmente verifica-se um discurso favorável à inclusão de pessoas com deficiência, não apenas no contexto escolar, mas em vários segmentos da nossa sociedade, mas mesmo assim tais pessoas continuam vítimas de preconceito e estigma, por serem consideradas diferentes. (2009). É essa a grande dificuldade encontrada por pessoas com deficiência, são vitímas do sistema, da família, da sociedade e principalmente, são vitimas na sala de aula, muitas vezes vistos como incapazes, quando na verdade nos ensinam que ser diferente também é ser capaz. O caráter legal da educação especial é acentuada pela precisão dos textos legais que fundamentam nossos planos e nossas propostas educacionais, e ainda hoje, fica bem clara as dificuldades de se distinguir o modelo ético-pedagógico educacional para essa modalidade de ensino. É justamente essa falta de conhecimento por parte das pessoas que faz com que todo processo seja retroativo e quaisquer iniciativas que vanham beneficiar a adoção de posições inovadoras para a educação de alunos deficientes. Problemas conceituais, desrespeito e preconceitos distorcem o sentido da inclusão escolar, reduzindo-a unicamente a inserção de alunos ―especiais‖ no ensino regular, o que entende-se é que mesmo diante de tantos avanços, nos prendemos aos muitos impasses da lesgilação. 60 A Constituição Federal de 1998 respalda os que propõem avanços significativos para a educação escolar de pessoas especiais, quando usa como fundamentos da Repúblia a cidanania, e a dignidade da pessoa humana (art.1º. incisos II e III) e, como mum dos objetivos fundamentais, a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raças, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art.3º, inciso IV). Ela garante ainda o direito a igualdade (art. 5º) e trata, no artigo 205 e seguintes, do direito de todos á edsucação. Esse direito deve visar ao ―pleno desenvolvimento de pessoa, seu preparo para a cidadania e sua qualificação para o trabalho‖. Além disso, a Constituição elege como um dos princípios para o ensino ―a igualdade de condições de acesso e permanência na escola‖ (art. 206, inciso I). E deixa claro que é ―dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artistica, segundo a capacidade de cada um‖ (art. 208, inciso V). O que significa que é de direito de todos uma educação de boa qualidade, a Lei é clara, no entanto, as pessoas que teriam o direito de atuar o criminoso por descriminação não o faz, as escolas não contribuem, pois são poucas aquelas compromissadas com a educação especial, o que articula o acesso a essas crianças, e ao próprio educador, porque o mesmo não está qualificado e nem preparado para receber crianças com deficiência, o que os impedem de progredir como pessoas e seres participantes e ativos, pois infelizmente, ainda existe um tabu muito grande entre a sociedade e uma pessoa deficiente.As necessidades sociais, a opinião pública e o interesse governamental, local e central, deverão despertar para várias prioridades que permitam materializar, em termos legais, a aceitação, a compreensão, a educação e a reabilitação de seres humanos e de garantias sociais que exigem a criação das mesmas oportunidades educacionais, laboratórios e de bem-estar para todos os cidadãos, deficientes ou não. É dentro deste contexto que se torna essencial construir um pensamento educacional e reabilitacional. Pensamento este que obriga as entidades oficiais 61 responsáveis a evitar decisões incoerentes sem fundamento e sem conhecimento de causa. Reconhecer o valor da pessoa com deficiência é acolher sua presença em todos os seguimentos sociais, são os dois primeiros gestos concretos propostos em todas as campanhas realizadas para o reconhecimento da inclusão com um fato verídico e necessário para ser feito com certa urgência. Se formos capazes de nos colocar diante da pessoa com uma determinada deficiência de igual para igual, descobriremos no convívio, que o ser humano tem uma capacidade extraordinária de superar os próprios problemas e limites, quando acolhido e amado por outro ser humano. E é por isso que a palavra ―inclusão‖ hoje é repensada em várias áreas, é preciso urgência, há um trabalho a ser realizado, as pessoas, ou seja, a sociedade precisa se conscientizar que estamos em momentos de grandes mudanças, e a maior delas é o fato de podermos conviver com o diferente. Álias, mas o que é ser diferente? Essa pergunta pode ficar solta, sem respostas, no entanto, ser diferente, não é ser cego, nem surdo, não é ser paralitico, não é ser deficiente mental, ser diferente é aceitar o diferente, é participar da vida ativa, daqueles que são tão especiais quanto eu, quanto você. ACESSO IGUALITÁRIO A TODOS É importante que o ser humano compreenda que uma pessoa com deficiência são seres humanos capazes de amar, com sensibilidade. Elas têm o mesmo privilégio de viver socialmente, de forma a não ser excluído da sociedade. Não podemos excluir quem quer que seja do meio sócio-cultural, pois todo o ser humano tem o direito ao lazer, à vida social e à saúde. De acordo com a LBI, Lei Brasileira de Inclusão lei nº 13.146 de 6 de julho de 2015, diz que: Art. 18. É assegurada atenção integral à saúde da pessoa com deficiência em todos os níveis de complexidade, por intermédio do SUS, garantido acesso universal e igualitário. § 1º É assegurada a participação da pessoa com deficiência na elaboração das políticas de saúde a ela destinadas. 62 Logo, compreende-se que existe uma lei, esta acoberta quem tem algum tipo de deficiência, mas nem sempre, elas são cumpridas, ao contrário, muitas vezes são ignoradas pela própria sociedade. Deve-se estabelecer um sistema integral de proteção social das famílias que tenham pessoas com deficiência, com medidas de informação, formação, apoio e atenção domiciliar. Precisam ser estabelecidos, por parte das autoridades, políticas públicas para as famílias com o fim de permitir que estas organizem seus apoios de inclusão para a pessoa com deficiência. O sistema escolar não pode ser diferente, é preciso mudar, ir em busca de novos objetivos, observamos instituições preocupadas em transformar o espaço físico para receber os alunos que apresentam algum tipo de deficiência, apresentem de forma apta os profissionais da educação. Os sistemas escolares também estão montados a partir de um pensamento que recorta a realidade, que permite dividir os alunos em normais e deficientes, as modalidades de ensino em regular e especial, os professores em especialistas nesta e naquela manifestação das diferenças. (EGLLER, 2003, p. 19). Segundo esta afirmativa, não se pode classificar as pessoas por ordem de deficiência física, isso é constrangedor, o século XXI está completo de grandes transformações, de novas conquistas, de exclusão e inclusão. Exclusão, quando as pessoas diferenciam uma das outras. Inclusão quando se percebe as grandes modificações causadas pela convivência com o que chamamos de diferentes. Mas o que é ser diferente? É alguém que apresenta algum tipo de deficiência física, mental ou psicológica, no entanto, ser diferente muitas vezes é discriminar, é tratar mal, é menosprezar aqueles que muitas vezes carregam o trauma da deficiência. As instituições escolares hoje têm suas evoluções, pois algumas delas têm buscado soluções para inclusão, como montar sala de laboratório especializado para alunos de deficiência visual, construção de rampas, salas mais amplas, professores capacitados, sociedade envolvida em um só processo, a inclusão. 63 A convivência com alunos deficientes só acrescenta conhecimentos e incentivo para maior atenção em relação ao trabalho pedagógico, trabalho este, cuja necessidade de mudanças, torna-se gritante, é preciso compreender que os pais dessas crianças não desejaram, não pediram a Deus para seus filhos serem deficientes. Quem é essa criança deficiente? Entende-se que uma criança deficiente não é aquela considerada ―especial‖ e sim uma criança impertinente, desobediente, criança esta que não cumpre com suas tarefas. Muitas vezes os pais são os maiores culpados pelos transtornos psicológicos causados aos seus filhos, pois alguns pais obrigam seus filhos que são muito pequenos a estudarem inglês, natação, computação, dentre outros (a), e em alguns casos as crianças de 4 e 5 anos já não brincam mais. Utilizam apostilas muito avançadas. Infelizmente pais, mães e profissionais exigem resultados cada vez mais rápidos em um tempo muito curto. Observa-se, que a família e os profissionais da educação exigem das crianças na faixa etária de 4 e 5 anos para que desenhe e escreva as letras, leia, passe de série, não se atrase, para que esteja sempre atento, e não percebe que há um bombardeio de informações para crianças tão pequenas. E essas cobranças têm influenciado também na vida dos pais e das crianças que apresentam algum tipo de deficiência. Na verdade, não temos crianças deficientes, temos instituições deficientes, profissionais não qualificados, e um sistema incapaz de introduzir no convívio social. O envolvimento comunitário deverá ser buscado no sentido de suplementar e compensar a falta de apoio familiar. Nesse sentido, o papel das associações (associações de família, jovens, 3ª idade, voluntariado, etc.). de acolhimento e de fornecimento de espaços disponíveis para incluir as pessoas com deficiência em programas de âmbito social. Já que responde mais prontamente as necessidades expressas, devem ser apoiados no desenvolvimento de novas ideias e no trabalho pioneiro de inovação de métodos de prestação de serviço. Como estão hoje as nossas escolas? Todos nós sabemos que infelizmente, as nossas escolas deixam muito a desejar e que é preciso uma mudança urgente. É muito difícil o dia a dia da sala de aula, um desafio que é 64 constante, pois infelizmente o ser humano ainda não está preparado para incluir pessoas ditas ―não normais‖. O professor por sua vez, é cada dia mais desvalorizado, enfrenta uma crise financeira, é mal remunerado, o que faz com que o mesmo sinta-se desestimulado, sem perspectivas, os alunos já têm suas dificuldades e a maior delas é ser considerado diferente das outras crianças, é um processo lento e difícil de ser superado, porém não é impossível, temos que aprender a superar as dificuldades, é preciso reaprender, recriar, reconstruir, pois não é fácil convivermos com o ―diferente‖, principalmente, em um país como o nosso, onde a desigualdade social é gritante. Atualmente é observado que há muitas tentativas para incluir pessoas deficientes, em todos os espaços, é muito importante essa interação, essa partilha, pois a partir dessa inclusão, torna-se mais fácil trabalharcom famílias, que muitas vezes não estão preparadas para conviver com uma criança deficiente. Elas chegam dentro dos lares não para obrigarem os pais, mas para conscientizar os mesmos em um processo de construção. É necessário encorajar nossas crianças, jovens e adolescentes que apresentam algum tipo de deficiência a não ter medo dos desafios, é demonstrar valorização e não ter dó, isso os diminuem, é importante fazer com que os mesmos sintam-se mais valorizados e não inúteis ou incapazes. Cabe a cada profissional articular seu próprio desenvolvimento pedagógico na busca de uma sociedade construtiva, transformadora, firme, segura, evoluída, onde não seja preciso mascarar suas próprias dificuldades através de uma população que consideramos incapazes. Temos que parar, com o que chamamos de ―Educação Especial‖, não existe uma educação especializada para quem quer que seja, existe uma educação inclusiva, é preciso políticas públicas de qualidade para tratar da inclusão com mais eficiência. Já pararam para observar uma criança autista? Em que mundo ela vive? A criança autista tem dificuldades de se apropriar do seu próprio corpo, de entender, de administrar sentimentos, e emoções que irão refletir, principalmente, no seu relacionamento, e, conseqüentemente, no seu 65 aprendizado. Ela vive em seu mundo de silêncio, que apenas ela consegue lê, mas nem assim deixa de existir, pelo contrário, merece todo respeito, todo afeto e compreensão, e, principalmente, seus direitos e deveres deverão ser respeitados. Segundo o IBGE, só 75% das crianças de 7 a 14 anos com deficiência físicas ou mentais frequentam a sala de aula. O que é possível observar principalmente, na região Nordeste, é que mesmo tendo políticas que envolvem a inclusão de qualquer tipo, ainda não foram colocadas em prática, e que deixar a criança deficiente excluída da escola, da sociedade, do lazer, do direito de ir e vir, é um crime. É que infelizmente a maioria das pessoas não estão preparadas para conviver com o que chamamos de deficiência, pois acredita-se que deficientes são os incapacitados, os que não ajudam os outros a progredirem maior que a diferença, o grande desafio é o nível socioeconômico, pois vivemos em um país onde a desigualdade social é estarrecedora, e os menos privilegiados são os que mais sofrem discriminação e abuso. Conforme Batista (2006): ―Tais práticas educativas funcionam como um regulador da aprendizagem e estão baseadas nos propósitos e procedimentos de ensino que decidem „o que falta‟ ao aluno de uma turma de escola comum‖. Ou seja, é preciso enxergar o seu potencial, seu desenvolvimento cognitivo, toda e qualquer oportunidade dada para esse aluno é muito importante para o seu crescimento intelectual e cognitivo. A INCLUSÃO DE PESSOAS DEFICIENTES TEM SE TORNADO UM ENTRAVE NAS ESCOLAS COMUNS. Fica bem claro que é preciso uma adaptação na escola como um todo, com o objetivo de tornar a inclusão real, propondo que os currículos atendam as necessidades de cada aluno. Pois o que adiantaria um agrupamento se esta não atende as verdadeiras necessidades do aluno? Infelizmente a educação brasileira ainda não está preparada para os métodos educacionais, elaboração dos currículos, recursos, material pedagógico, formação especifica para os 66 educadores, para assim poder receber estes alunos. As dificuldades são várias, existe uma grande evasão escolar, um alto índice de analfabetos, e o fracasso escolar de forma clara e progressiva, é assustador verificar que o fracasso escolar é real. No art. 68 da LDB, fica subtendido o compromisso com a inclusão, pois é confirmado nesta lei, no 2º, que o atendimento também poderá ser feito nas escolas especializadas, o que contradiz que ―todos os seres humanos nascem livres e são iguais em dignidades e direitos‖ (Declaração Universal dos Direitos Humanos, artigo 1º, MEC). No entanto, o importante é deixar claro que os pais de crianças com deficiência respaldados na Lei de Diretrizes e Bases, na Carta de Salamanca, têm matriculado ou tentado o ingresso dos seus filhos em escolas regulares. Mas o fato é que professores e escolas se julgam despreparadas para uma proposta tão séria quanto esta. Então, quando realmente os pais conseguem matricular seus filhos vem à decepção de perceber que a sala em que esta criança encontra-se não existe estrutura física e humana, e que não existem objetivos específicos para que haja realmente a inclusão, ou então, é percebida a realidade do fracasso escolar. Gostaria de destacar algumas deficiências e como é que as escolas devem se portar diante dessa realidade. DEFICIÊNCIA AUDITIVA Para que o aluno com deficiência auditiva seja matriculado numa escola de ensino regular, este deve promover adequações necessárias e contar com os serviços de línguas de sinais, de professor de Português como uma segunda língua e de outros profissionais de saúde, a escola deve providenciar para o aluno, após sua matrícula, o material pedagógico necessário para atividades de uma vida autônoma e social. Não é correto dizer que alguém é surdo-mudo. Muitas pessoas surdas não falam porque não aprenderam a falar. Algumas fazem a leitura labial, outras não. Quando quiser falar com uma pessoa surda, se ela não estiver prestando atenção, acene para ela ou toque levemente em seu braço. Ao 67 conversar com uma pessoa surda, fale de maneira clara, pronunciando bem as palavras, não precisa exagerar. Use a velocidade normal da fala, a não ser que ela peça pra falar mais devagar. Use um tom normal de voz, a não ser que ela peça pra falar mais alto. Nunca grite. Ela é apenas uma pessoa surda, é capaz, e possui uma inteligência para assimilar as coisas de forma admirável pelas pessoas consideradas normais. Um dado importantíssimo, nunca fale de lado ou atrás dela, fale diretamente, olhando em seus olhos e lábios, nunca fale gesticulando, isso impossibilita a leitura labial da pessoa. Seja expressivo ao falar. As pessoas surdas não podem ouvir mudanças sutis de tom de voz, que indicam sentimentos de alegria, tristeza, sarcasmo ou seriedade. DEFICIÊNCIA VISUAL É bom avisar para aluno deficiente visual que existem degraus na escola, de preferência indicando as distâncias em metros (―uns vinte metros a frente‖). Jamais subestimar as possibilidades nem as dificuldades. As pessoas com deficiência têm o direito de tomar as suas próprias decisões e podem e querem assumir responsabilidades por suas escolhas. Ter uma deficiência não faz com que uma pessoa seja melhor ou pior do que uma pessoa não deficiente. Nem sempre as pessoas cegas ou com deficiência visual precisam de ajuda, mas ela sempre pode ser oferecida. Nunca se deve ajudar sem antes perguntar como se deve fazê-lo. Se a ajuda for aceita, o voluntário deve dobrar o cotovelo e colocar nele a mão da pessoa cega. Assim ela poderá acompanhar o movimento do corpo da pessoa que está ajudando, enquanto a mesma caminha. CONSIDERAÇÕES FINAIS 68 Fica claro diante da pesquisa realizada que é preciso mais que encorajamento, precisa recriar, investir, buscar, capacitar pessoas que possam receber crianças deficientes sem preconceito. A receita não está em livros ou até mesmo apostilas, apenas se faz necessário estudar, investigar para assim ter uma melhor facilidade em abordar e conviver com a criança deficiente, embora saibamos que pais, são os primeiros que recusam aprender e assim ajudar melhor seus filhos. Eles sentem-se discriminados, por isso percebemos o quanto é difícil convivermos com o preconceito e com a discriminação. A finalidade deste trabalho é entender e levar para o conhecimento de todos que educação se constrói com amor, com dedicação, principalmente, que não há limites, não tem preconceitos, não existe barreiras, e as pessoas precisam respeitaro direito de ir e vir de qualquer pessoa independente das dificuldades físicas que cada um venha enfrentar no seu dia a dia. Não há receita pronta para ensinar as pessoas a respeitarem, o que existe na realidade é um limite, a questão do respeito, a questão da dignidade, tudo isso são fatores que precisam ser reavaliados, precisam ser reconstruídos, e todos devem está inseridos em um mesmo contexto, ou seja, a busca pela transformação, pela aceitação de convivermos com crianças deficientes, haja vista, a necessidade de superação não depende apenas da criança, mas de nós adultos também. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BATISTA, Cristina A. Mota. Educação inclusiva: atendimento educacional especializado para a deficiência mental. Brasília: MEC, SEESP, 2006. BRASIL, Declaração de Salamanca e Linhas de Ação Sobre Necessidades Educativas Especiais. 2 ed. Brasília: CORDE, 1997. BRASIL, Estatuto da Criança e do Adolescente. Secretaria Especial de Direitos Humanos. BRASIL, CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO: Constituição do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. 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RESUMO O presente artigo teve como objetivo analisar como tem sido inserida as crianças com a Sindrome Congênita da Zika Vírus – SCZV, nas creches e Centro Municipal de Eduacação Infantil – CeMEI da rede municipal do Jaboatão dos Guararapes e a percepção da comunidade escolar sobre os referidos estudantes.. No Brasil, entre 2015 e 2018, 3.226 crianças tiveram seus casos confirmados. Em Jaboatão dos Guararapes, 42 casos foram confirmados e no ano (2018). O estudo de caso trata da inserção de sete estudantes com a Síndrome Congênita da Zika Vírus em creches e CeMEI da rede municipal de ensino do município do Jaboatão dos Guararapes. Os sujeitos da pesquisa foram quatro gestoras e duas coordenadoras educacionais da Coordernação de educação especial do município. A matrícula desses estudantes trouxe vários desafios para sua inserção no contexto educacional; levou a Secretaria de Educação a planejar ações para sua efetivação. O processo inclusivo desses estudantes se deu de forma transdisciplinar, onde os mesmos foram percebidos muito além das disciplinas, mas de forma humanizada para favorecer a compreensão de suas limitações e a experimentação de possibilidades para fazê-los progredir dentro de suas potencialidades, reconhecendo-os como indivíduos de direito e assim, dignos de atenção, esforços e respeito. Palavras-chave: Inclusão; Síndrome Congênita da Zika Vírus; Educação Infantil. INTRODUÇÃO Oportunizar uma educação de qualidade socialmente referenciada para todos, constitui um grande desafio a ser enfrentado na contemporaneidade. No que concerne às crianças com a Síndrome Congênita da Zika Vírus, tais desafios são ainda maiores, pois são acometidos de mitos e estigmas em 72 relação a sua capacidade de aprendizagem, além do fato de em muitos casos essas crianças não serem consideradas como possíveis sujeitos partícipes de uma Unidade Escolar. Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivo analisar como tem sido a inserção dessas crianças nas creches e nos Centros Municipais de Educação Infantil (CeMEI), da Rede Municipal do Jaboatão dos Guararapes-PE e a percepção da comunidade escolar frente aos referidos estudantes. Como objetivos específicos busca-se averiguar como se dá a inserção dos estudantes nas creches e CeMEIs; apontar as principais ações desenvolvidas pela Secretaria de Educação do Município do Jaboatão dos Guararapes, na efetivação desta matrícula e apontar as concepções dos professores e demais profissionais da educação em relação a esses estudantes. A chamada Síndrome Congênita da Zika Vírus surge no ano de 2015 quando os profissionais da saúde começaram a perceber um grande aumento no nascimento de crianças com microcefalia no Nordeste e, posteriormente, nas demais regiões do Brasil – isso fez com que médicos e pesquisadores, do Brasil e do exterior, passaram a investigar o que poderia ocasionar essa má formação congênita. Tal estudo constatou que a Síndrome surgiu a partir da transmissão da Zika às mães através do Aedes Aegypti, durante o período de gestação e que ―[...] expunha o bebê a um quadro infeccioso capaz de causar um padrão de múltiplas deficiências, incluindo deficiência visual, auditiva, motora, cognitiva, crises epiléticas, distúrbios de deglutição, hipertonia e hiperreflexia‖ (EICKMANN, 2016 apud BATISTA; MOUTINHO, 2019, s/p) Entre 2015 a 2018, o Brasil pontuou 3.226 com a SCZV. Em Jaboatão dos Guararapes, 42 casos foram confirmados, sendo que no ano de 2018, 7 crianças diagnosticadas foram matriculadas em escolas públicas pertencentes à rede municipal de educação, iniciando assim, seu processo de escolarização. Sabe-se que a inserção desses estudantes no contexto escolar constitui um desafio para toda a comunidade, principalmente porque sua desenvoltura cognitiva é uma incógnita, pouco se sabe a respeito disso, assim como de que forma a Síndrome afetará as áreas cerebrais responsáveis pelo centro 73 funcional da linguagem e demais requisitos para aprender. Daí surge à necessidade da adequação estrutural nas unidades de ensino bem como investimento naformação de professores e demais profissionais que atuarão diretamente com estas crianças. Tal trabalho justifica-se pela pertinência do tema e parte da premissa de que o fato constitui um desafio para o campo educacional brasileiro, o que sugere a busca, por parte de gestores públicos e demais instituições, por mecanismos para a inclusão efetiva dessas crianças no contexto socio- educacional mais amplo, o que leva os gestores públicos buscar mecanismos para inserir essas crianças no contexto social. Para o debate aqui proposto, a metodologia empregada neste trabalho foi à pesquisa do tipo estudo de caso, e, como instrumento de coleta de dados a entrevista semiestruturada, realizada junto aos coordenadores de educação especial do município do Jaboatão dos Guararapes, como também a análise documental dos relatórios produzidos por esses coordenadores. Nas seções abaixo, a problemática proposta é apresentada, como também os resultados e as considerações auferidas por meio da pesquisa. DA INVISIBILIDADE PARA A VISIBILIZAÇÃO DOS DIREITOS Em pleno Século XXI, falar em inclusão ainda constitui um paradoxo a ser investigado. Apesar de várias leis que sinalizam a sociedade a obrigação de garantir a todos os cidadãos o direito à educação (BRASIL, 2007, 2015; ONU, 1994, 2006), na prática ainda percebe-se um atraso na efetivação dessas leis. Tendo em vista que muitos indivíduos ainda se encontram invisibilizados pela sociedade, no que tange ao aspecto da garantia de seus direitos educacionais. A pessoa com deficiência sempre foi vista com o olhar de menos valia. Tal perspectiva perpassa a própria história da humanidade e ainda se configura uma realidade nos dias de hoje. Compreende-se que o indivíduo com deficiência era tratado segundo a cultura da civilização em cada época, pois essa é que determinava a forma como o indivíduo era percebido como parte 74 integrante da sociedade ou excluído por estar fora dos patrões ―aceitáveis‖ para a época. Se na era das grandes civilizações era permitido aos pais matarem por afogamento, jogar em precipícios as crianças que nasciam com algum tipo de deficiência (RODRIGUES; LIMA, 2017), ou seja, o infanticídio era o destino dado aos indivíduos que nasciam fora dos ―padrões‖ aceitáveis – nos dias atuais a exclusão se dá de outras formas. Formas estas, que se caracterizam pelas práticas excludentes no seio social. Com o advento do avanço do cristianismo, tais práticas foram aos poucos sendo menos utilizadas (RODRIGUES; LIMA, 2017) com a instituição da ideia de pecado, os indivíduos são percebidos como detentores de almas, logo, já não podiam ser abandonados à própria sorte ou exterminados, e passa assim, a serem abandonados nas igrejas e conventos que serviam como ―depósitos‖ para os excluídos pela sociedade. Logo, ao invés de serem mortos publicamente, passaram a ser dados nas famosas ―roda dos excluídos‖ (ARANHA, 2005). Apenas no Século XX, a partir de vários movimentos sociais, as pessoas com deficiência começaram a ser vistas como sujeitos de direitos. Esses movimentos trazem visibilidade às pessoas com deficiência, na luta incansável pelo reconhecimento de seus direitos como partes constituintes da sociedade. E a partir disso, tais lutas se intensificam no pós 1970, por conta da maior popularização dos movimentos isolados ao redor do mundo. Nesse cenário, a educação inclusiva se constitui uma maneira mais eficaz da quebra da discriminação e preconceito, embora ainda existam muitas barreiras a serem vencidas nesse processo diário em prol da inclusão de todos os indivíduos. Partindo da premissa, de que é no convívio com os seus pares que o ser humano aprende a conviver e a trocar experiências que perpassam o contexto educacional. No que concerne às crianças com a Síndrome Congênita da Zika Vírus, o convívio no contexto educacional ainda é um fenômeno recente – tendo em vista que o surto teve seu ápice em 2015, o que fez com que apenas em 2018 os acometidos pelo vírus estão em idade escolar. 75 Assim, emerge a necessidade de se pensar em políticas e serviços que oportunizem a essas crianças aprendizagem nas creches e CeMEIS. Tal inserção exige pensar de forma mais intensiva a maneira de ensinar e de organizar o trabalho pedagógico nas instituições educacionais. Nesse âmago, no ano de 2016, o Ministério da Saúde lançou as Diretrizes de Estimulação Precoce (BRASIL, 2016a), visando ajudar os profissionais e familiares a lidar com as crianças com a Síndrome Congênita da Zika Vírus. Esse documento orienta que a criança nesta condição, deve ser acompanhada por uma equipe multidisciplinar e interdisciplinar desde o período neonatal até a fase escolar, e já sinaliza a importância da escolarização e inclusão escolar. No Brasil, a educação é um direito social preconizado em lei, sendo as principais a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996). Em 2015, por meio da Lei Brasileira de Inclusão, em seu artigo 27, tem-se a assertiva de que: A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem. Tal prerrogativa, alinhada à inserção de estudantes com a Síndrome Congênita da Zika Vírus no contexto da Educação Infantil, provoca aos órgãos educacionais repensar a forma de se organizar o Atendimento Educacional Especializado (AEE) para as crianças nessa etapa da Educação Básica. O Plano Nacional de Educação (PNE) enfatiza a necessidade da garantia do AEE, para ―identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas [...]. Esse atendimento complementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela‖ (BRASIL, 2008, p. 15). As crianças com a Síndrome Congênita da Zika Vírus surgem na sociedade, dentro de uma visibilidade de lutas, a partir de seus familiares, que em movimento, conseguiram vários 76 direitos sociais, dentre eles, o direito de estudarem em creches e CeMEIS. Todavia, tanto do lado dos familiares, quanto da escola, existe uma resistência em acolher tal prerrogativa, frente à incógnita da capacidade de aprender dessas crianças, ou seja, pela capacidade de atendimento dos profissionais da escola que também se deparam com uma demanda complexa do ponto de vista das comorbidades existentes em alguns casos. Sobre a organização dos espaços escolares para essa faixa etária, a Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva Inclusiva sinaliza que: O atendimento educacional especializado se expressa por meio de serviços de estimulação precoce, que objetivam otimizar o processo de desenvolvimento e aprendizagem em interface com os serviços de saúde e assistência social. (BRASIL, 2008). Assim, estas crianças devem ter acesso ao conjunto de cuidados próprios da primeira infância e, sobretudo, àqueles que sua condição específica demanda, pois podem aprender quando estimuladas precocemente, sendo necessário que as creches acolham as mesmas em ambientes inclusivos, ricos em estimulação e que em última instância ofereçam, por meio de ação interdisciplinar, as condições necessárias ao seu desenvolvimento integral. COMPREENDENDO A SÍNDROME CONGÊNITA DA ZIKA VÍRUS A doença pelo vírus Zika é um arbovírus que, diferente das demais doenças dessa natureza, apresenta risco superior para o desenvolvimento de complicações neurológicas, como encefalites, Síndrome de Guillain Barré e outras doenças neurológicas. Uma dasprincipais complicações é a microcefalia. É importante salientar que casos de microcefalia sempre existiram. Contudo, no ano de 2015, médicos e pesquisadores no Brasil, perceberam uma grande quantidade de crianças nascidas com essa anomalia. E, após realizarem entrevistas com as mães, perceberam que todas elas tiveram nos primeiros três meses de gestação sintomas parecidos com os da Zika Vírus transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti. http://www.saude.gov.br/guillainbarre http://www.saude.gov.br/microcefalia 77 A Zika Vírus no adulto não provoca muitas sequelas, contudo, em fetos, afeta gravemente o Sistema Nervoso Central, causa calcificações intracranianas e consequentes anormalidades cerebrais, que refletem em um padrão de múltiplas deficiências, incluindo alterações oculares, auditivas, cognitivas e motoras (RIBEIRO et al., 2017). Para Farias e Lira (2018): O Brasil foi o país com maior número de casos de bebês com microcefalia, tendo 2.844 casos confirmados, segundo o boletim do Ministério da Saúde de Julho de 2017, dos quais 1.650 casos foram no Nordeste e 397 casos no Estado de Pernambuco (estado com o maior número de casos confirmados). No caso do município do Jaboatão dos Guararapes, houve 42 casos. O vírus da Zika provoca um processo infeccioso no cérebro, pelo menos 91% das crianças nascidas com a síndrome apresentam microcefalia (WHEELER, 2018 apud BATISTA, 2019). Batista (ano, s/p) ainda afirma que ―devido ao amplo espectro da Síndrome, os graus de comprometimentos tendem a variar, entretanto, quanto mais precoce acontece à infecção, maiores são os danos ao Sistema Nervoso Central‖. Mediante esses comprometimentos, muitas crianças poderão crescer com sérios problemas de ordem cognitiva e necessitar de um atendimento educacional voltado a atender as especificidades delas. Dentro das ações voltadas a ampará-las o Ministério da Saúde elaborou as diretrizes de estimulação precoce para crianças de 0 (zero) a 3 (três) anos com atraso do desenvolvimento neuropsicomotor (BRASIL, 2016). Esse documento surge dentro do plano nacional de enfrentamento a microcefalia, tendo como objetivo: [...] ajudar os profissionais da Atenção à Saúde no trabalho de estimulação precoce às crianças de zero a 3 anos de idade com alterações decorrentes da Síndrome Congênita do Vírus Zika ou outras condições que levem à alterações semelhantes e, portanto, com alterações ou potenciais alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, e em seus efeitos relacionais e sociais. (BRASIL, 2016, p. 7). As ações do Ministério da Saúde, naquele contexto, foram cruciais para o desenvolvimento motor, sensorial e cognitivo destas crianças, pois embasada na neurociência, sabe-se que a plasticidade neural contribuir muito para minimização dos prejuízos cerebrais causados pela infecção, e muitas dessas 78 crianças conseguiram superar o prognóstico inicial. Tais estimulações iniciaram-se em centro especializado, contudo, a escola também constitui um importante espaço de estimulação, sendo necessário, então, ações voltadas a inclusão escolar dos diagnosticados com a referida patologia, a fim de que os avanços no desenvolvimento (cognitivo, motor, social) sejam cada vez mais expressivos (BATISTA, 2019). TRILHANDO OS CAMINHOS PARA INCLUSÃO DOS ESTUDANTES COM A SÍNDROME CONGÊNITA DA ZIKA VÍRUS NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL O processo de escolarização na educação infantil no Brasil torna-se obrigatório com a Constituição Federal em 1988, sendo ratificado com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1996. Em seu artigo 4º, afirma que: O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de [...], Inciso IV- ―atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade‖. Ainda reforça em seu artigo 9º, no Inciso IV estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil [...], com o objetivo de nortear currículos e conteúdos mínimos assegurando formação adequada. E em seu artigo 29, define a Educação Infantil como sendo a primeira etapa da Educação Básica, cuja finalidade consiste no desenvolvimento integral da criança de até cinco anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Todavia, apesar deste arcabouço legal, só com a promulgação da lei nº 12.796/2013, a obrigatoriedade da educação infantil passou a vigorar no país, mas com certas limitações, uma vez que se limitou a pré-escola, não incluído a primeira infância, acobertada pelas creches. Todavia, é mister da importância da participação da criança no contexto escolar o mais cedo possível, pois nele, poderá efetivamente ser estimulado a se desenvolver dentro do que é esperado para sua etapa de desenvolvimento http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12796.htm 79 Mediante o exposto, percebe-se, que no que se refere ao âmbito educacional, a criança em sua tenra idade, durante muito tempo, ficou à margem social. Além disso, quando essa criança era acometida de alguma deficiência, tal inserção na escola praticamente não se dava. A Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva Inclusiva (2007), define a Educação Especial como modalidade que transversaliza todo os níveis, etapas e modalidades de ensino percebe-se que pouco tem se pensado em políticas públicas direcionadas a inserção de crianças com deficiência no contexto da educação infantil. Segundo Veigas (2008, p. 177): Educar crianças menores de 6 anos implica o envolvimento com certas tarefas que são mais específicas dessa faixa etária, como os cuidados com segurança, higiene, saúde, alimentação, repouso e recreação. Além disso, os educadores da infância não podem se descuidar dos aspectos do desenvolvimento que precisam ser estimulados, como o cognitivo, o socioemocional, o físico-motor e a linguagem. A partir dessa afirmação, aprofunda-se a necessidade de defender a inserção das crianças com deficiência em idade escolar, na Educação Infantil. Não obstante, quando em seu quadro existem comprometimentos voltados aos aspectos cognitivos, socioemocional, físico-motor e de linguagem, como o caso das crianças com a Síndrome Congênita da Zika Vírus, tais ações são imprescindíveis. De acordo com o Referencial Nacional para a Educação Infantil (1998), a etapa da educacao infantil tem como finalidade possibilitar as crianças experiências que contribuam para o seu processo de formação pessoal e social, ampliar seu conhecimento de mundo, a construção de sua identidade e autonomia, a aquisição de diferentes linguagens e o estabelecimento de relações com os objetos de conhecimento (movimento, música, arte, linguagem oral e escrita, natureza e sociedade e matemática). As crianças que participam desse movimento ganham em muito para que os problemas que possam surgir no seu desenvolvimento, em conjunto com as demais estimulações dentro da rede de apoio, seja, sanado ou minimizado. E, na tentativa de uma melhor compreensão acerca dos processos 80 de inclusão dos estudantes com a Sindrome Congênita da Zika Vírus em escolas regulares, a seção abaixo apresenta os caminhos metodológicos traçados no decorrer dessa pesquisa. CAMINHOS METODOLÓGICOS A referida pesquisa constitui um estudo de caso sobre a inserção de 7 (sete) estudantes com a Síndrome Congênita da Zika Vírus em 07 creches e 14 CeMEIS da Rede Municipal de Ensino do município do Jaboatão dos Guararapes. A escolha da rede se deu pelo quantitativo de estudantes matriculados com esse diagnóstico ser superior, quando comparado o panorama de outras redes de ensino do estado de Pernambuco. Segundo Yin apud Ventura (2004, p. 384): O estudo de caso representa uma investigaçãoempírica e compreende um método abrangente, com a lógica do planejamento, da coleta e da análise de dados. Pode incluir tanto estudos de caso único quanto de múltiplos, assim como abordagens quantitativas e qualitativas de pesquisa. Participaram da pesquisa 4 (quatro) gestores e 2 (duas) coordenadoras Educacionais que trabalham na coordenação de Educação Especial do Município. Optou-se pela entrevista semiestruturada. De acordo com Trivinos (1987), esta técnica de coleta de dados possibilita ao entrevistado a possibilidade de discorrer sobre o foco proposto pelo entrevistador, ao mesmo tempo em que possibilita respostas espontâneas. No caso da presente pesquisa, a entrevista semiestruturada facilitou o diálogo junto a estes gestores, no que toca ao debate sobre suas percepções a respeito dos estudantes, desde a matrícula até a vivência escolar em suas unidades educacionais. . Também foram analisados os relatórios das coordenadoras educacionais que acompanham essas creches e CeMEIS. Bem como a coordenação de educação especial se organizou para a inserção destas crianças 81 A análise documental constitui uma técnica importante na pesquisa qualitativa, seja para complementar informações obtidas por outras técnicas, seja para desvelar aspectos novos de um tema ou problema (LUDKE; ANDRÉ, 1986). Analisaremos os dados a partir da técnica de análise de dados, para André (1983): ―ela visa apreender o caráter multidimensional dos fenômenos em sua manifestação natural, bem como captar os diferentes significados de uma experiência vivida, auxiliando a compreensão do indivíduo no seu contexto‖. DIALOGANDO COM OS DADOS ENCONTRADOS O DELINEAMENTO DO PROCESSO INCLUSIVO DOS ESTUDANTES COM SÍNDROME DA ZICA VÍRUS NAS ESCOLAS DE JABOATÃO DOS GURARAPES Trabalhar em educação na perspectiva inclusiva constitui um caminho a ser trilhado por todos os gestores educacionais responsáveis pelas políticas de seus municípios. No município do Jaboatão dos Guararapes, através do ―Programa Unir para Incluir: rumo a uma educação inclusiva‖, desde o ano de 2018, foi implementado o projeto estimulação essencial e precoce, ação voltada ao acompanhamento e intervenção para estudantes com deficiência e atraso de desenvolvimento de 0 a 5 anos. Nesta perspectiva, foi mapeado a matrícula de 1 criança com a Síndrome da Zika Vírus em uma creche da rede municipal, contudo, na ficha de matrícula, não havia informações para sinalizar tal situação, só com microcefalia. Entretanto, como esperado, no ano de 2019, 13 mães procuraram a Secretaria de Educação visando a matrícula de seus filhos com a Síndrome Congênita da Zika Vírus, sendo efetivada no final do mês de maio. A matrícula desses estudantes trouxe vários desafios para sua inserção no contexto educacional, levou a Secretaria de Educação a planejar ações para sua efetivação. A primeira ação a ser realizada pela coordenação de Educação 82 Especial foi a partir de uma entrevista, mapear as particularidades de cada criança, explanando as necessidades primordiais delas para, a partir daí, ver as ações efetivas necessárias. Assim, descobrimos que 6 estudantes se alimentavam a partir de sonda. Após esse momento com as mães, outra ação a ser realizada, foi o cruzamento das informações colhidas das mães, com os dados da saúde, sete estudantes foram imediatamente inseridos nas unidades escolares e seis seriam inseridos posteriormente, após ajustes entre as redes de apoio e familiares. Para prosseguir o atendimento a essas crianças, foram contratados 10 apoios pedagógicos, em caráter emergencial para acompanhar esses estudantes – todos com formação mínima em pedagogia. Após a contratação, os referidos profissionais passaram por uma formação com a equipe da Secretaria de Saúde, um pedagogo e dois coordenadores educacionais vinculados à coordenação de educação especial, além de formarem um grupo de estudos para se aprofundarem sobre a temática. Paralelamente, foram realizadas, reuniões com a equipe de nutrição e da educação infantil, para juntos decidirem quais as creches e CeMEIS que teriam melhores condições para o acolhimento destas rianças e que ficassem próximos de sua residência. Algo a ser pontuado, diz respeito a que todos moravam no mesmo habitacional, pois receberam os referidos apartamentos do programa ―Minha Casa, Minha Vida‖. Depois de decididas as creches e CeMEIS, foram também realizados uma reunião com os gestores, comunicando a matrícula destes estudantes e explicitando as ações já desenvolvidas pela Secretaria de Educação. A CHEGADA DOS ESTUDANTES NAS CRECHES E CeMEIS O processo de inclusão escolar provoca nas instituições de ensino mudanças estruturais e de paradigmas. No caso dos estudantes com a Síndrome da Zika Vírus não poderia ser diferente. Principalmente, porque no 83 caso deles pouco se sabe sobre seu desenvolvimento cognitivo – daí, os estigmas que surgiram em detrimento dessa falta de conhecimento. Assim, quando os gestores tomaram conhecimento acerca da necessidade de inclusão dessas crianças em espaço escolar, vários questionamentos e sentimentos surgiram. Segundo a gestora de uma das creches ―[...] nosso maior medo e de como lidar com a criança, caso ela se engasgar e convulsionar‖ (Diretor 1); Outra ainda pontuou ―Não sabíamos como lidar com a situação. Se acontecesse alguma coisa com ela, como agiríamos?‖ (Diretor 2) A secretaria de Educação, bem como as mães, procuraram tranquilizá-las, ficando acordado que na primeira semana de aulas, as mães iriam acompanhar seus filhos e ensinar aos apoios os procedimentos a ser realizados com eles. Deve-se destacar, que o receio, não só vinha das escolas, mas das próprias mães, pois seria a primeira vez que os seus filhos ficariam um tempo longe deles – houve sentimento de medo e desconfiança. Para minimizar tais sentimentos em relação aos cuidadores, a Secretaria de Educação em parceira com a União de Mães de Anjos, instituição de apoios às mães de crianças com a Síndrome Congênita da Zika Vírus, realizou uma tarde de fortalecimento de vínculos, onde mães e apoios pedagógicos puderam conversar, trocar ideias e brincar com as crianças. Tais ações, efetivadas pela Secretaria de Educação ocasionou em quebras de barreiras das unidades educacionais. Em entrevistas com as gestoras percebeu-se que o receio inicial foi minimizado, segundo uma delas ―[...] hoje percebo que tem outros meninos que requerem maior atenção que a criança matriculada na creche, estamos mais tranquilas apesar de ainda termos a preocupação se alguma coisa acontecer‖ (Diretor 3). Outro papel inportante foi a ação das coordenadoras educacionais, que sempre estiveram presentes, junto com as unidades educacionais as intervenções necessárias, bem como a interlocução com os diversos setores quando havia a necessidade. CONCLUSÃO 84 Embora a Síndrome Congênita da Zika Vírus fosse uma grande incógnita para o processo de inclusão escolar, tendo em vista que a multiplicidade de especificidades fazia com que se desacreditasse da possibilidade da inclusão dos indivíduos. Verificou-se que o medo/receio do inesperado foi bem presente durante o processo por parte dos profissionais envolvidos e dos próprios responsáveis das crianças, porém o município buscou condições de possibilitar o processo de inclusão desse público, tendo em vista à necessidade de garantir aos mesmos o direito à educação. Foi preciso compreender as necessidades de cada criança, tendo em vista que algumas se alimentavam através de sonda, e no período de aula os mesmo precisariam se alimentar. Essa demanda fez com que a secretaria de educação firmasse parceria com a Secretaria de Saúde do município a fim de ofertar o treinamento adequado para os apoios pedagógicos que acompanharia esses novos alunos durante o anoletivo. As creches e CeMEIS que receberam os estudantes com a Síndrome Congênita do Zika Vírus, receberam durante todo o processo o acompanhamento de duas coordenadoras do grupo de educação especial responsáveis pelos apoios pedagógicos dessa demanda, com o intuito de minimizar os receios das equipes gestoras e professores e direcionar as ações que seriam executadas por cada apoio específico. Os apoios receberam capacitação para atuar junto a demanda de forma positiva. Partindo da premissa que é de suma importância a inclusão de estudantes com deficiência nas escolas regulares, tendo em vista que, todos ganham com essa inclusão, os estudantes aprendem a conviver e respeitar as diferenças existentes em nossa sociedade. Tendo em vista que nesses casos específicos a estimulação precoce é o ponto de start para a inclusão, e na educação infantil, o ato educativo está interligado ao cuidar o que garante a essa clientela uma atenção especial para que sejam estimuladas suas capacidades cognitivas das mais diferentes formas. 85 Após o mapeamento inicial das especificidades e necessidades de cada criança, foram traçadas as ações para que se viabilizasse o processo de inclusão. O apoio da Secretaria de Saúde possibilitou que os estudantes recebessem os cuidados adequados pelos apoios pedagógicos no dia a dia da creche e CeMEIS. O ingresso desses estudantes exigiu uma mudança estrutural e de paradigmas das unidades de ensino, como superar os estigmas que emergiram pela falta de conhecimento das possibilidades de desenvolvimento cognitivo por estes estudantes foi um desafio superado. Percebe-se, que embora existisse uma grande incógnita sobre a possibilidade de inclusão e de desenvolvimento dessas crianças, foi à ousadia do município que possibilitou não apenas a chegada das crianças com a Síndrome Congênita da Zika Vírus nas creches e CeMEIS do município, como a sua permanência durante o ano todo a fim de favorecer a progressão desses estudantes rumo ao desenvolvimento de suas capacidades cognitivas dentro de suas possibilidades e frente a suas especificidades. Portanto, é o inicio de um aprendizado que tende a crescer tendo em vista o grande ganho qualitativo desse processo de inclusão. O processo inclusivo desses estudantes se deu de forma transdisciplinar, onde os mesmos são percebidos muito além das disciplinas, mas de forma humanizada para favorecer a compreensão de suas limitações e a experimentação de possibilidades de fazê-los progredir dentro de suas potencialidades, reconhecendo-os como indivíduos de direito e assim sendo, dignos de atenção, esforços e respeito. REFERÊNCIAS ANDRÉ, M. E. D. A. (1983). Texto, contexto e significado: algumas questões na análise de dados qualitativos. Cadernos de Pesquisa, (45): 66-71. ARANHA, Maria Salete Fábio. Projeto Escola Viva: garantindo acesso e permanência de todos os alunos na escola: necessidades educacionais especiais dos alunos. Brasília: 2005. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/visaohistorica.pdf>. Acesso em: 03 mar. 2016. 86 BATISTA, Gessivânia de Moura; MOUTINHO, Ana Karina. Desafios e possibilidades da inclusão escolar de crianças com a Síndrome Congênita do Vírus Zika: o olhar docente. Revista educação Especial, v. 32, 2019. Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria/RS. Disponível em: <https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/view/36360/html> acesso em 05/11/2019. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Diretrizes de estimulação precoce: crianças de zero a 3 anos com atraso no desenvolvimento reuropsciomotor decorrente de microcefalia, Brasília: Ministério da saúde, 2016. Disponível em:<https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2016/janeiro/13/Diretrizes- de-Estimulacao-Precoce.pdf>, acesso em 04/11/2019. BRASIL. Constituição da república federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm, acesso em 02/11/2019. BRASIL. Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12796.htm, acesso em: 04/11/2019. BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de junho de 2015. Estatuto da pessoa com deficiência. 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RESUMO O presente artigo tem por objetivo externar como foi realizado o processo de ensino aprendizagem de um aluno com Baixa Visão - BV na perspectiva daeducaçãoinclusiva deste em sala de aula regular em uma escola da redemunicipal de Cumaru-PE. Como justificativa, trago a importância de compreendermos a diferença entre integração e inclusão, pois, quando devidamente acolhido e incluído na sala de aula regular o aluno com baixa visão consegue se desenvolver constantemente e com excelência. Diante do exposto, foi executado um plano de ação que adaptou o currículo regular, as estratégias e ferramentas de ensino com a utilização de áudio descrição, aperfeiçoamentodos recursos visuais, material lúdico, lupa, atividades com tintas e massa de modelar como também, toda ambientação da classe sofreu adaptação. Os resultados obtidos foram extremamente positivos e evidenciaram que a inclusão da criança com baixa visão na sala de aula regular pode proporcionaroportunidades concretas quando realizada em sintonia professor, aluno, família e escola e que utilizandoas ferramentas com as adequações necessárias podem emergirfrutos enriquecedores para todos. Palavras-Chave: Inclusão; Sala de aula regular; Baixa visão. INTRODUÇÃO No Brasil por um longo período, a educação das crianças com deficiência se estruturou com a visão de uma constituição baseada na educação especializada sendo fundamentada nos conceitos de ―normalidade‖ ou ―anormalidade‖ do indivíduo (VICTÓRIO, 2011). No entanto, a partir de muita lutahouve um avanço expressivo neste processo, com o paradigma da inclusão, que supõe uma profunda transformação da escola. O maior deles diz 89 respeito, em especial, à alteração no foco de atenção, pois, ao passar a olhar também para o meio, e não apenas para a pessoa considerada como deficiente, novas questões se apresentam e possibilidades se avistam (Omote, Oliveira, Baleotti, & Martins, 2005). A baixa visão é uma condição visual onde não há completa perda do sentido da visão, e a pessoa utiliza o resíduo visual, de campo ou acuidade, para a realização de várias atividades. Com relação às definições, considera-se baixa visão: O nível de visão que, com a melhor correção, impede um indivíduo no planejamento ou execução de uma tarefa, mas que permite o uso e possibilita a melhoria da visão funcional por meio da utilização de recursos ópticos ou não ópticos, de modificações ambientais ou técnicas (SMITH; TYLER, 2010). Assim, como garantido pela Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Brasil, 2015), que assegurou o sistema educacional inclusivo para a pessoa com deficiência em todos os níveis de ensino e também nas instituições privadas, com condições de acesso, permanência, participação e aprendizagem o estudante com baixa visão deve ter acesso a um ensino com todos os recursos que proporcionem a ele as condições necessárias para desenvolver sua aprendizagem usando da melhor forma possível a visão que ainda lhe é disponível(ou o seu resíduo visual), dando-lhe as oportunidades para conviver com igualdade perante a sociedade. Assim, foi realizado o processo ensino aprendizagem do Aluno José Messias em uma escola Municipal da cidade de Cumaru localizada no Agreste de Pernambuco, onde diante da efetivação de tais propostas em sala de aula o referido aluno apresentou uma excelente participação no contexto o qual estava sendo inserido, retirando-o de uma proposta integradora e levando-o a uma visão participativa de constante inclusão com os demais alunos. Diante desta experiência foi visível o progresso de crescimento do aluno mediante todas as atividades proporcionadas e o mesmo pôde diante dos novos subsídios a ele atribuído tornar-se um indivíduo proativo. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 90 No dia a dia das escolas brasileiras, ainda émuito visívelo desconhecimento e as dificuldades em lidar com os estudantes com baixa visão (BV) por parte dos professores devido desinformação, falta de estrutura e recursos. Os profissionais que atuam na educação de indivíduos deficientes visuais precisam deter conhecimentos sobre as limitações desses indivíduos bem como sobre o sistema de ensino (Montilha, et al, 2009). O aluno com baixa visão pode ser incluído na sala de aula regular e o processo de aprendizagem deste pode se dar por meios visuais, recorrendo-se a recursos específicos tais como lentes ou lupas (BRASIL, 2006). E para que a devida inclusão ocorra segundo a psicóloga Suely França é importante ainda compreender que ela diverge do conceito de integração, pois a mesma afirma que integrar é inserir o aluno e inseri-lo não quer dizer torná-lo parte, dessa forma, o estudante com baixa visão deve participar ativamente e de forma contínua com as oportunidades e adequações necessárias em todas as atividades dentro ou fora da classe. A visão ―possibilita-nos ver e interpretar o formato, as cores e as dimensões dos objetos pelo mecanismo de processamento da luz‖ (ALLISON; SANSPREE, 2006). Deste modo, quando há algum impedimento para a passagem da luz por qualquer uma dessas estruturas ou lesão cerebral, que prejudica a conversão da luz em impulso nervoso (i.e., afeta a interpretação da imagem formada pela luz na retina), a pessoa pode ter deficiência visual. Os casos de baixa visão são definidos quando o valor da acuidade visual corrigida no melhor olho é menor que 20/60 e igual ou maior que 20/400, ou o seu campo de visão é menor que 20 graus com a melhor correção óptica. A baixa visão subdivide-se em 3 categorias: perda visual moderada, em que o indivíduo apresenta acuidade visual < 20/60 e > 20/200; perda visual grave < 20/200 e > 20/400 e profunda < 20/400 e > 20/1200 (OMS, 2003). Sendo considerados ainda como uma: Alteração da capacidade funcional da visão, decorrente de inúmerosfatores isolados ou associados, tais como: baixa acuidade visual significativa, redução importante do campo visual, alterações corticais e/ou desensibilidade aos contrastes, que interferem ou que limitam o desempenhovisual do indivíduo (BRASIL, 2001, p. 33). 91 O estudante o qual este trabalho refere-se foi diagnosticado com transtorno na retina/cegueira e visão subnormal, pois o mesmo apresenta cegueira total no olho direito e baixa visão no olho esquerdo. MATERIAIS E MÉTODOS A baixa visão requer a utilização de estratégias e de recursos específicos, sendo muito importante compreender as implicações pedagógicas dessa condição visual e usar os recursos de acessibilidade adequados no sentido de favorecer uma melhor qualidade de ensino na escola (DOMINGUES; et al., 2010), dessa forma, após o embasamento teórico necessário sobre a condição do aluno e suas necessidades, foi colocado em prática na sala de aula um plano de ação que teve início na adaptação do currículo e das estratégias de ensinocom as seguintes iniciativas: Aperfeiçoamento dos recursos visuais com a utilização de letras e fontes ampliadas e com tonalidades mais contrastadas Incremento da ferramenta de áudio descrição Utilização de material lúdico no cotidiano escolar Material de apoio como a lupa para leitura, realização de atividades e visualização da lousa, material dourado, blocos lógicos e ábaco Momentos de práticas com instrumentos musicais para estímulo da audição do aluno Realização de atividades com materiais concretos como tintas, massinha de modelar e materiais recicláveis. Além das adaptações nas ferramentas e materiais foirealizado um trabalho de ambientação onde a iluminação da classe foi adaptada a fim de proporcionar melhor visualização das superfícies pelo estudante, as carteiras foram posicionadas de forma estratégica para que a circulação do aluno pela classe fosse segura e por volta de 40 minutos a 1 hora o mesmo era acompanhado à Sala de Recurso (AEE) da instituição de ensino, onde recebia 92 o atendimento especializado e psicológico afim de minimizar possíveis impactos negativos. O processo de ensino aprendizagem foi realizado também através do estabelecimento da importantíssima parceria entre a família do aluno e a escola pois, neste sentido a família é o veículo que levará a criança a trilhar sempre novos caminhos, contribuindo para o seu desenvolvimento, e precisará fortalecer suas emoções em trabalho contínuo e em conjunto com a escola (OLIVEIRA; et al. 2020). O que pôde ser observado, pois os familiares sempre mantinham a equipe escolar ciente dos laudos médicos do estudante, como também a escola através de relatórios anuais informavaà família seus avanços na realização das atividades no ambiente escolar. RESULTADOS E DISCUSSÃO O aluno através das adaptações desempenhadas no cotidiano escolar conseguiu circular pela sala de aula com confiança e autonomia, com o apoio da régua vazada escrever seu nome completo e de seus familiares, palavras soltas e frases pequenas. Com o uso do material dourado e blocos lógicos o mesmo obteve sucesso em fundamentar as quatro operações matemáticas, com a utilização da massa de modelar para a confecção de moldes foi capaz de compreender conteúdos de geometria. Com a utilização da lupa de mão e de mesa o estudante conseguiu fazer a leitura de imagens e colorir desenhos, realizou atividades escritas a partir da ampliação das letras e nas avaliações bimestrais com a áudiodescrição interpretou textos e resolveu situações problema. Como também, através de estímulos realizados desde a educação infantil o aluno desenvolveu habilidades para tocar instrumentos musicais, participar com entusiasmo de apresentações como as tradicionais quadrilhas vivenciadas nos festejos juninos da escola e de representações teatrais. CONSIDERAÇÕES FINAIS 93 Durante vinte anos de trabalho na educação, dificuldades e desafios tornam-se parte da rotina de todo professor. No ano de 2010 surgiu a proposta de trabalho no ensino infantil do município de Cumaru, mais especificamente em vila Ameixas. A proposta foi de lecionar em uma turma na qual havia um aluno com perca total da visão de um olho e baixa visão no outro, que com o passar dos anos também seria acometido pela cegueira total e por isso a turma vinha sofrendo recusa de outros profissionais, mas o encanto pela educação inclusiva foi um dos principais motivos de aceitar a proposta e durante sete anos Messias fez toda turma e a comunidade escolar enxergar a inclusão de uma forma jamais experienciada. Dia após dia, as habilidades do aluno eram desenvolvidas com sucesso, os colegas sentiam o maior prazer em conviver e compartilhar momentos com ele, sendo possível por ver observar seu avanço como aluno e ser humano nos deveres de casa, nas aulas práticas, oficinas realizadas e atividades pedagógicas, em sua participação em apresentações de dança, representações teatrais, jogos e brincadeiras. Portanto, fica claro que a criança com baixa visão quando devidamente incluída no ambiente escolar consegue se desenvolver com excelência mesmo diante de toda dificuldade, preconceito e disponibilidade de poucos recursos e assim foi na turma de José Messias onde o aluno tornou-se protagonista de sua própria história, conquista esta percebida pela família, escola e por toda comunidade. A partir dessa experiência tão rica e engrandecedora foi possível compreender que toda criança tem necessidades especiais, sendo que algumas apenas têm dificuldades diferentes e que ver o próximo é mais do que o ato de olhar, é acolher e incluir, é tornar o impossível possível com os materiais que estão disponíveis, pois enxergar é ir além do que apenas se vê. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Especial. Saberes e práticas da inclusão: desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos cegos e de alunos com baixa 94 visão. 2. ed. 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ANEXOS https://www.visaonainfancia.com/aluno-com-baixa-visao-adaptacoes/ https://www.pearson.com/us/higher-education/product/Smith-Introduction-to-Special-Education-Making-a-Difference-with-My-Lab-School-6th-Edition/9780205498055.html https://www.pearson.com/us/higher-education/product/Smith-Introduction-to-Special-Education-Making-a-Difference-with-My-Lab-School-6th-Edition/9780205498055.html 95 Figura 1. Aluno realizando atividade na sala de aula regular com a utilização da lupa de mão. Fonte: arquivo pessoal da autora Mauricéia Oliveira (2017) Figura 2. e 2.1.Lupa de mão e lupa de mesa – ferramentas fornecidas ao aluno para realização das atividades propostas na sala regular. Fonte: Dreamstime,PRO VISTA (2021) Figura 3 e 3.1. Aluno participando de apresentações musicais e de dnça durante os festejos juninos 96 Fonte: arquivado pessoal da autora Mauricéia Oliveira (2016) Figura 4 e 4.1. Material utilizado para o desenvolvimento do raciocínio lógico- matemático do aluno com baixa visão Fonte: Catatau brinquedos, CJS brinquedos (2021) 97 Figura 5. Oficina de pintura com exposição da produção autoral do estudante Fonte: Arquivo pessoal da autora Mauricéia Oliveira (2017) Figura 6 e 6.1. Ferramentas utilizadas para o trabalho pedagógico cotidiano do estudante com baixa visão na sala de aula regular Fonte: Visão na infância, ND Mais (2021) 98 Figura 7 e 7.1. Laudo médico do aluno e relatório de diagnóstico emitido pela instituição de ensino Fonte: arquivo da instituição de ensino (2020) 99 EDUCAÇÃO INCLUSIVA E OS DESAFIOS DO EDUCADOR E APRENDENTE NO ENSINO BÁSICO Patrícia Santana Brito Matos1 Graduada em Filosofia. Pós graduada em Psicopedagogia, neuropsicopedagogia, linguística (Faveni). Mestranda em Psicologia Educacional (Funiber) RESUMO: O presente artigo tem como objetivo principal identificar como vem ocorrendo nas escolas públicas do Brasil o processo de inclusão de alunos portadores de necessidades educativas especiais, abordando os desafios que o educador e aprendente no ensino básico enfrentam para promover a inclusão desses alunos, dentro de uma proposta pedagógica pautada no respeito a diversidade e no processo de formação do discente. Procura-se, responder quais os procedimentos didáticos e pedagógicos o educadore aprendente no ensino básico tem utilizado para promover a inclusão de alunos portadores de necessidades especiais, bem como apontar quais os atalhos e caminhos adequados para se trabalhar com essas crianças, levando em conta as especificidades e limitações de cada aluno no processo de desenvolvimento das atividades em sala de aula. O método de trabalho utilizado nesse estudo foi uma revisão bibliográfica a partir da visão de autores que versam considerações importantes acerca da temática abordada. Pretende-se, com este estudo aprimorar os estudos sobre o tema e, consequentemente, destacar que embora os educadores e aprendentes no ensino básico enfrentem diversos obstáculos para incluir os alunos portadores de necessidades educativas especiais nas aulas, existe sim uma possibilidade de inclusão desses alunos, porém para que esta inclusão ocorra é necessário que o educador e aprendente esteja capacitado para trabalhar com essa clientela de alunos, adaptando sucessivamente as aulas de forma a proporcionar uma aprendizagem significativa e inclusiva a esses alunos, que na maior parte das vezes são excluídos das atividades desenvolvidas pelo educador e aprendente no ensino básico por conta de suas limitações físicas e intelectuais. Palavras-Chave: Alunos com Necessidades Educativas Especiais; Educador; Aprendente no Ensino Básico; Aluno. INTRODUÇÃO 100 Atualmente, nota-se que a inclusão de alunos portadores de necessidades educativas especiais na modalidade regular de ensino tem sido um tema que tem gerado na sociedade grande polêmica e discussão, principalmente porque é fundamental nos dias atuais garantir condições de igualdade e acessibilidade a todos os alunos, de modo que os mesmos possam participar de forma ativa da proposta pedagógica da escola. É importante destacar que a educação inclusiva é fundamental no processo de formação e construção do caráter do aluno, haja vista que é por meio da inclusão que a escola enquanto instituição social garante uma democratização do ensino e socialização de saberes. (SOLER, 2005) Nesse sentido, percebe-se que vivemos atualmente um momento muito importante no que tange as questões inclusivas, pois há neste século uma discussão calorosa entre a educação especial e a educação regular que aborda o longo processo de transformações que a Educação inclusiva passou, bem como o atendimento que era dado aos alunos portadores de necessidades educativas especiais. Mister salienta que a nova proposta da educação inclusiva deste século, tem como objetivo principal garantir que todos os alunos independente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, culturais e religiosas o direito de frequentar a escola e, consequentemente, participar das atividades pedagógicas propostas que tanto contribui no processo de integração do aluno e no seu desenvolvimento sensorial motor. (SILVA, 2015) Sendo assim, é fundamental que a escola enquanto espaço de produção/conhecimento e principalmente os educadores e aprendentes no ensino básico estejam preparados para atender e receber este público de alunos que apresentam deficiências diversas, mas nem por isso deve ser impedidos de participar das propostas pedagógicas da escola, uma vez que é papel da comunidade escolar promover as adaptações necessárias para atender as diversas limitações de alunos portadores de necessidades educativas especiais. É preciso esclarecer que a educação inclusiva faz parte do universo de construção de uma escola aberta que deve garantir condições de igualdade e 101 acessibilidade a todos os alunos portadores de necessidades educativas especiais, sendo a função da escola como espaço de produção e conhecimento, possibilitar a criação de espaços para que os alunos portadores de necessidades especiais não sejam excluídos das aulas, mas sim integrados as atividades que por sua vez são desenvolvidas na mesma. Segundo a autora Silva (2015) a disciplina de educação física, por exemplo, é uma ciência que representa atualmente uma grande importância para ser trabalhada com os alunos portadores de necessidades educativas especiais, principalmente porque está disciplina tem como ponto inicial a prevenção e o controle da saúde do corpo e mente, como afirma em seus estudos a autora: A disciplina de educação físicase apresenta como a ciência que visa aperfeiçoar, prevenir, controlar e manter a saúde do corpo e da mente do aluno portador de necessidades educativas especiais, refere-se a um conjunto de atividades físicas planejadas e estruturadas para promover o condicionamento físico de crianças, jovens e adultos através das práticas de diferentes modalidades esportivas. (SILVA, 2015 p. 118). Nessa perspectiva, nota-se que embora o ensino de educação física seja fundamental no processo de desenvolvimento dos alunos portadores de necessidades educativas especiais é fundamental que a inclusão aconteça, levando em consideração os limites e as dificuldades desses alunos para participar da proposta pedagógica desenvolvida pelos docentes nas aulas, proposta está que precisa ser inclusiva e adaptada a realidade do educando que apresenta determinada deficiência. Nesse contexto, a disciplina de educação física como componente curricular nas escolas representa uma relevância muito grande, principalmente por que quando trabalhada de forma adequada e por um professor capacitado e qualificado contribui de forma significativa no processo inclusivo de alunos portadores de necessidades educativas especiais. (AGUIAR, 2005) Nesse sentido, o presente artigo se justifica e se faz relevante pelo fato de buscar mostrar quais as estratégias adequadas para se trabalhar com os alunos portadores de necessidades educativas especiais, levando em conta as 102 especificidades e limitações de cada aluno no processo de desenvolvimento das atividades no contexto escolar. O artigo se faz relevante também por mostrar ao educador e aprendente no ensino básico os caminhos e atalhos para se trabalhar nas aulas atividades com alunos portadores de necessidades educativas especiais, promovendo a inclusão desses alunos que se encontram a margem da sociedade e que vislumbra na escola a oportunidade de acolhimento e integração. A metodologia de trabalho utilizado nesse artigo foi de caráter bibliográfico, onde se buscou discutir o pensamento dos principais autores que tratam do tema de inclusão, bem como as suas contribuições. O presente artigo tem como objetivo principal identificar como vem ocorrendo nas escolas públicas do Brasil o processo de inclusão de alunos portadores de necessidades educativas especiais, abordando os desafios que o educador e aprendente no ensino básico enfrentam para promover a inclusão desses alunos, dentro de uma proposta pedagógica pautada no respeito a diversidade e no processo de formação do discente. O artigo se propõe a problematizar entre os educadores e aprendentes no ensino básico a importância de se incluir os alunos portadores de necessidades educativas especiais nas aulas, destacando que embora haja dificuldades e obstáculos para essa inclusão, a mesma precisa acontecer. Daí a necessidade dos educadores e aprendentes no ensino básico em se prepararem para receber esses alunos, aperfeiçoando sucessivamente as suas práticas pedagógicas, de modo que a inclusão ocorra de forma espontânea pelo professor, propiciando uma integração e aprendizagem inovadora. Desse modo, entendo que este artigo ao problematizar entre os educadores e aprendentes no ensino básico a importância de incluir os alunos portadores de necessidades educativas especiais nas aulas, pode contribuir para favorecer o desenvolvimento do aluno, estimulando o seu crescimento e autoestima e oferecendo condições aos professores de mudarem a sua percepção em face de uma realidade educacional onde os docentes não buscam adequar as aulaspara esses alunos portadores de necessidades especiais. 103 RSULTADOS E DISCUSSÃO Discutir sobre os caminhos e atalhos de uma educação inclusiva não é uma tarefa fácil, haja vista que há muita resistência e falta de capacitação dos educadores e aprendentes no ensino básico para incluir os alunos portadores de necessidades educativas especiais nas propostas de atividades de aulas. Embora, muitos educadores e aprendentes no ensino básico saibam da importância em promover está inclusão, muitos não implementa na prática por não dispor na escola de uma estrutura de acessibilidade adequada para que esses alunos possam desenvolver satisfatoriamente as atividades com segurança, por meio de uma integração e uma inovação. Nesse sentido, identificar que a escola enquanto espaço de saber e aprendizagens enfrentam obstáculos para incluir os alunos portadores de necessidades educativas especiais não é nenhuma novidade, ao contrário se trata de uma realidade cotidiana presente na vida do educador que não consegue adequar as suas aulas a esses alunos, já outros educadores e aprendentes no ensino básico utilizam a falta de estrutura da escola como argumento para excluir esses alunos da proposta de suas atividades, como afirma o autor Mantoan (2003): Conhecemos os argumentos pelos quais os educadores e aprendentes no ensino básico, bem como a escola tradicional resiste à inclusão – elesrefletem a incapacidade de atuar diante da complexidade, da diversidade, davariedade, do que é real nos seres e nos grupos humanos. Os alunos não são virtuais, objetos categorizáveis - eles existem de fato, são pessoas que provem o inviável e sedefendem com diferentes argumentos. De contextos culturais ao mais variados, representam diferentes segmentos sociais, produzem e ampliam conhecimentos edesejos, aspirações, valores, sentimentos e costumes com os quais se identificam (MANTOAN, 2003 p. 50). Destarte, nota-se que embora exista diversas dificuldades para implementar a inclusão dos alunos portadores de necessidades educativas especiais na aulas, cabe a nós educadores e aprendentes no ensino básico o papel de promover está inclusão, estando devidamente preparado para 104 conviver com a diversidade de limitações que estes alunos apresentam, bem como fazendo com que estes alunos não assista as aulas apenas como ouvintes, mas sim como sujeitos ativos e questionadores dentro da prática escolar. A disciplina de educação física, por exemplo, enfrenta diversas dificuldades no contexto escolar para incluir os alunos portadores de necessidades educativas especiais, principalmente as voltadas as aulas práticas. No entanto, esses obstáculos não podem em hipótese alguma ser motivos para a promover a exclusão desses alunos, como afirma os PCNs (2001): Por desconhecido, receio ou mesmo preconceito, a maioria dos portadores de necessidades educativas especiaissão excluídos das aulas. Aparticipação desses alunos nas aulas pode trazer muitos benefícios a essas crianças, particularmente no que diz respeito ao desenvolvimento das capacidades afetivas, de integração e inserção social, daí a importância dos educadores e aprendentes no ensino básico em estarem garantindo a educação inclusiva. (BRASIL, 2001 p. 40). É importante esclarecer que a exclusão de alunos portadores de necessidades educativas especiais nas aulas ocorre na maior parte das vezes devido à falta de qualificação e preparo dos educadores e aprendentes no ensino básico que não sabem incluir estes alunos em suas propostas pedagógicas de atividades, sendo uma realidade muito presente nas escolas atuais do Brasil. (AGUIAR, 2005) Os educadores e aprendentes no ensino básico enfrentam em seu cotidiano escolar inúmeras dificuldades para desenvolver o processo de inclusão com os alunos portadores de necessidades educativas especiais, onde grande parte dessas dificuldades está atrelada também ao seu processo de formação precário que relacionada a falta de espaço físico adequado nas escolas exclui essa clientela de alunos. (SANCHEZ, 2005) Mister reitera que a educação inclusiva tem como objetivo principal trazer mudanças significativas na realidade educacional do Brasil, porém para que estas mudanças aconteça é fundamental a presença ativa dos educadores 105 e aprendentes no ensino básico no sentido de criar situações inovadoras e didáticas que promovam a inclusão, como afirma o autor Sanchez (2005): Já na inclusão, quem muda é a escola, a fim de atender a todos de uma forma justa esem exclusão. Nessas escolas as instalações são adequadas, levando em conta asdificuldades de locomoção de alguns portadores de necessidades educativas especiais, o material é adequado, as atividadessão programadas e escolhidas para atender a todos, sem exceção, enfim, falamos emescola inclusiva, falamos também de educadores e aprendentes no ensino básico bem preparados, com aparticipação efetiva dos pais e da comunidade escolar. (SANCHEZ, 2005, p. 20). Vale destacar que a inclusão de alunos portadores de necessidades educativas especiais nas aulas é muito importante, tendo em vista que não é apenas a escola que precisa ser adaptada para receber esses alunos, mas sim todo o corpo docente da escola precisa mudar para inserir em sua proposta pedagógica de aula a participação desses alunos com deficiência que está à mercê na sociedade de vários estereótipos e preconceitos e a escola não pode funcionar como um espaço de reprodução desses estereótipos, mas sim de inclusão, como afirma em seus estudos o autor Baumel (1998): A escola inclusiva permite, na prática, evidenciar o fundamento de que todas as crianças devem aprender juntas, com dificuldades ou diferenças que apresentam. Isso se reporta à elaboração de planos que reconheçam erespondam às necessidades dos alunos. Em outras palavras, visa acomodar estilos e ritmos de aprendizagem, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. (BAUMEL, 1998, p. 35). Nesse sentido, nota-se que embora a educação inclusiva tenha ganhado nos últimos anos grande destaque existe ainda na sociedade um grande preconceito emrelação aos alunos portadores de necessidades educativas especiais, preconceitos estes que impedem e até mesmo inibe estes alunos de participar das aulas em face de suas limitações físicas ou mentais. (FERREIRA, 2004) Convém lembrar, que a exclusão do aluno portador de necessidades educativas especiais nas aulas, faz com que o mesmo perca o seu processo de desenvolvimento que a integração social desperta. 106 A própria sociedade perde também a oportunidade de aprender com este aluno portador de deficiência, haja vista que o mesmo traz consigo singularidades que contribuem no processo de integração e aprendizagem com os demais alunos, possibilitando a descoberta do novo e da transformação de aprender com o outro por meio de vivências diferentes. (JANUZZI, 1992). É preciso destacar que no cenário educacional atual a inclusão de alunos portadores de necessidades educativas especiais nas aulas tem se mostrado como algo bastante promissor e importante para promover o processo de democratização da escola. Isto, por que as aulas contribuem para esses alunos trabalhar a sua motricidade, bem como permite aos mesmos o seu processo de inclusão. O papel dos educadores e da escola no processo de inclusão de alunos com necessidades educativas especiais é fundamental, haja vista que a função da escola é promover a inclusão social dos alunos, formando um sujeito histórico autônomo, crítico e reflexivo para atuar na sociedade como cidadão emancipado, consciente de suas ações e voltados para a busca de seus conhecimentos. A escola tem como objetivo principal proporcionar aos alunos uma formação humana, haja vista que não tem como os educadores e aprendentes noensino básico iniciar um processo de inclusão desses alunos sem partir para um lado humanizador do currículo, pois a humanização e a troca de experiências por meio de práticas sociais em sala de aula é a grande ferramenta para alcançar uma aprendizagem satisfatória com esse público de alunos que são portadores de necessidades educativas especiais. Segundo a autora Oliveira (2015) a função da escola na contemporaneidade tem sido de fornecer um auxílio para que os alunos portadores de necessidades educativas especiais possam se tornar sujeitos históricos ativos, críticos e reflexivos na sociedade, pois o papel da escola não se remete apenas alfabetizar e promover o letramento, mas busca também incutir nesses alunos competências e habilidades para que eles possam perceber as mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais que acontecem no mundo a sua volta. 107 Em adição a isto, nota-se que o aprendizado dos alunos portadores de necessidades educativas especiais deve ser constante, de modo que a escola enquanto espaço de produção e conhecimento tenha uma pratica educacional voltada para uma formação integrada, no sentido de alfabetizar os alunos e inseri-los no mercado de trabalho com as mesmas condições que os demais alunos que estudaram em instituições de ensino particular, como afirma a autora Esteves (2008): A proposta da escola deve estar pautada em uma fundamentação teórica, o direcionamento da pratica educacional afirme que preza por uma educação voltada para uma formação mais integrada, participativa, harmoniosa entre os educadores e aprendentes no ensino básico e a comunidade escolar, onde o educando saia da escola com uma visão mais crítica da realidade em que vive. E prega pela valorização das experiências dos alunos, levando em consideração seus conhecimentos prévios, a fim de formar cidadãos capazes de interferir criticamente na sociedade, atuando com competência exercendo seus direitos e deveres. (ESTEVES, 2008 p. 16). Nesse contexto, nota-se que a escola, juntamente com os educadores e aprendentes no ensino básico exerce um papel preponderante na formação dos alunos portadores de necessidades educativas especiais, uma vez que é dentro do espaço escolar que as coisas mais importantes na vida dessas crianças e jovens acontecem. A escola não é apenas um ambiente de troca de conhecimento tendo o educador como mediador desse processo, ela é um espaço também de campo emocional, onde se permeia trocas afetivas e são justamente estas trocas de afetividade que contribui para incluir e alfabetizar essas crianças e jovens portadores de necessidades educativas especiais. É evidente que cada um de nós trazemos dentro de si ou imaginamos muitas vezes a representação do que é uma escola, isso acontece devido às diversas experiências que vivemos neste mundo. As primeiras relações fora da família acontecem na escola, marcando uma segunda sociabilidade, pois é dentro desse ambiente escolar que os alunos portadores de necessidades educativas especiais percebem-se que não é o único que está ali, que está inserido em uma coletividade do qual precisa conviver com pessoas de cor, gênero, credo, opções sexuais e etc. diferentes. 108 É dentro deste contexto que essas crianças e jovens amadurecem, enxergando a escola como um espaço de aprendizagem e como uma oportunidade de ingressar no mercado de trabalho com condições e salários melhores das quais eles tem no momento. A escola na minha concepção enquanto educador, depois da família é o espaço mais importante da vida social do ser humano, pois é nesse espaço que o aluno portador de necessidades educativas especiais vai adquirindo formação cidadã enquanto ser pensante, questionando e atuando na sociedade de maneira autônoma e crítica. Assim, a instituição escola tem como objetivo despertar nos alunos portadores de necessidades educativas especiais potenciais criativos, curiosidades e talentos, sendo o educador elemento chave na implementação disso. Tais interferências a este respeito podem ser apreciada nos estudos da autora Barbosa (2004) que afirma: Transformar a escola em um espaço formador de posturas rebelde- indagadoras e de inserção social é o grande desafio de uma outra educação, que juntamente com as demais forças transformadoras, possa intervir na construção de um projeto de sociedade com a possiblidade de colocar a escola a serviço da valorização da vida e da dignidade. (BARBOSA, 2004 p.17). Nesta perspectiva, percebe-se que o grande desafio para os educadores e aprendentes no ensino básico é transformar a escola em um espaço inovador, onde osalunos portadores de necessidades educativas especiais possam sentir prazer em estar presente nesse ambiente que não é somente um lugar de produção de conhecimento, mas sim de transformação, de trocas de experiências, de afetividade, de saberes e principalmente de uma parceria continua entre a família é a escola que juntos são responsáveis pela educação de crianças e jovens que possui necessidades educativas especiais. Dentro desse cenário o que presenciamos hoje nas escolas públicas brasileiras são pais deixando os alunos portadores de necessidades educativas especiais dentro das escolas, delegando as mesmas a responsabilidade de educar, transmitir valores, respeito e principalmente exercer a função da maternagem e paternagem como se a escola e os educadores e aprendentes 109 no ensino básico fossem os responsáveis totalmente pela educação do aluno especial, sendo que na verdade está responsabilidade é mais da família do que propriamente da escola. Esta tem uma função social que é formar cidadãos autônomos e críticos, despertando nestes a independência intelectual, mas não pode e nem deve assumir uma responsabilidade completa do processo educacional dos alunos portadores de necessidades educativas especiais que é contínuo. Por outro lado, ao discutir a educação nota-se que está é extremamente importante é necessária, pois ela faz parte do nosso cotidiano, ao contrário de muitos que pensam que ela restringe somente ao âmbito escolar, a sua função e seu papel vai muito mais além do que isso. Em casa, na rua, na sua comunidade, Igreja ou na escola, todos nós estamos propriamente envolvido com a educação quer seja para aprender, ensinar, para fazer ou para conviver, diariamente misturamos as nossas vidas com ela. O autor Durmeval Mendes (2006), em sua obra, intitulada: ―Ensaios sobre Educação e Universidade‖, descreve a educação como um ―divisor de águas‖ entre duas categorias e duas políticas de desenvolvimento. Para o autor, ambas as categorias dão importância à educação, porém uma pretende tirar o seu caráter político inteiramente e a outra a considera indissolúvel desse processo. Nesse contexto é importante manter um constante relacionamento entre teoria e prática, se na universidade aprende-se a ter novas perspectivas, essas devem ser repassadas a fim de incentivar os alunos portadores de necessidades educativas especiais, principalmente das escolas públicas a conhecerem um modelo de escola que produza conhecimento a partir de uma realidade já existente, mostrando para o os alunos portadores de necessidades educativas especiais que a educação é um processo em permanente construção e que seu ingresso na escola pode colaborar positivamente na transformação da sociedade e na formação da sua consciência crítica, como afirma o autor Luckesi (2000): Queremos produzir conhecimento a partir de uma realidade vivida e não de critérios estereotipados e pré-definidos por situações culturais 110 distantes e alheias às que temos aqui e agora, nesse contexto a validez de qualquer conhecimento será mensurada na proporção em que este possa, ou não, fazer entender melhor e mais profundamente a realidade concreta. (LUCKESI, 2000 p. 35). Sendo assim, percebe-se queé fundamental enquanto educadores e aprendentes no ensino básico incentivarmos os nossos alunos portadores de necessidades educativas especiais a trilharem um caminho na perspectiva de ingressar em uma universidade, haja vista a importância de ter alguns momentos de diálogo com esses alunos verificando as perspectivas futuras deles, bem como garantindo uma educação inclusiva que esteja devidamente pautada na integração e no acolhimento. Sob este prisma nota-se que a escola é um contínuo fazer-se, uma interação entre educadores, alunos, comunidade e todos os envolvidos neste espaço não apenas físico, mas também voltado para a construção de saberes, de diálogo, crítica, e aprendizagem. O autor Luckesi (2000) relata que o conhecimento enquanto entendimento e compreensão da realidade faz o ser humano um ser diverso dos demais. Assim, o aluno portador de necessidade educativa especial ao conseguir ingressar no ambiente escolar encontra neste um referencial em relação à sua formação na medida em que a escola possibilita se preparar para as novas oportunidades que venham surgir no campo profissional, como afirma o autor: A escola, mesmo se faz e se manifesta com o afloramento da consciência crítica sobre as urgências da humanidade em geral e da sociedade em particular dentro das quais está inserida. Ela se faz pela formação e desenvolvimento de inteligências, criativas e produtivas, geradoras de novos conhecimentos e de soluções tecnológicas para a humanidade. Ela se traduz como construtora da comunidade cientifica voltada para o bem-estar da sociedade e da humanidade. (LUCKESI, 2000 p. 61). Desse modo, nota-se que a educação é a grande ferramenta que temos para transformar o mundo, pois a mesma constitui-se num dos instrumentos para a redução da desigualdade, sendo o aprendizado algo que proporciona o 111 conhecimento de direitos que possuímos, algo que teremos pela eternidade. Investir na educação dos alunos portadores de necessidades educativas especiais é reforçar a qualidade de ensino com a capacitação de educadores e aprendentes no ensino básico que é o caminho para o avanço econômico e social do país. Somando-se a isto, a docência é também um ponto fundamental para deslanchar a melhoria na educação, entretanto o que nota neste século é uma total desvalorização para com a mesma. Sempre é exigido dos educadores e aprendentes no ensino básico o desafio de mudar o comportamento de todo tipo de aluno portador de necessidade educativa especial ou não, entretanto não lhe é oferecido subsídios para que esta mudança aconteça, a falta de recursos nas escolas como a TV pen drive, data show e DVD e a falta de capacitação profissional são algumas dificuldades encontradas pelos educadores e aprendentes no ensino básico em sua prática cotidiana, impedindo-os algumas vezes de ministrar uma aula dinâmica e diversificada, prendendo a atenção dos alunos especiais. A educação tem sido uma das modalidades de ensino da educação básica muito importante no Brasil, haja vista que se trata de um programa de ensino que busca atender um grupo de alunos portadores de necessidades educativas especiais que durante muito tempo foi excluído do direito à educação, direito este que é garantido na Constituição Brasileira, mas que na prática lhes foi negado por diversos fatores, tais como: sociais, econômicos, culturais e até mesmo por estereótipos que foram se construindo acerca dos alunos que possui, portanto, necessidades educativas especiais. A modalidade de ensino da educação tem se destacado na atualidade como uma grande oportunidade para os alunos portadores de necessidades educativas especiais se alfabetizarem por meio de um avanço vertical que lhes permite conseguir e até mesmo ingressar no mercado de trabalho com as mesmas condições que os demais alunos que estudaram na educação básica do ensino regular. É importante destacar que a educação foi criada no Brasil com o intuito de diminuir o índice de analfabetismo e melhorar a situação de muitas crianças 112 e jovens que infelizmente por infinitas razões não tiveram condições de estudar e até mesmo concluir seus estudos no período de idade regular. Nesse sentido, pode-se notar que a LDB que regulamenta todo o sistema de educação do país, garante pela lei a obrigatoriedade de todos os estabelecimentos de ensino de garantir gratuitamente vagas para os alunos portadores de necessidades educativas especiais que não tiveram a chance de estudar. Isso demonstra um grande avanço no que tange a questões educacionais, entretanto é necessário frisar como esta modalidade de ensino vem sendo trabalhada pelos educadores e aprendentes no ensino básico nas escolas e principalmente quais os recursos didáticos e capacitação que esses educadores têm recebido para trabalhar com esse público de alunos especiais. Embora a modalidade de ensino da educação seja importante, existe um grande descaso do setor público com esse tipo específico de modalidade, pois a falta de livros didáticos adequados para trabalhar com esse público de alunos portadores de necessidades educativas especiais, bem como a falta de capacitação para os educadores e aprendentes no ensino básico e a falta de transportes para os alunos que residem, muitas vezes, em zonal rural, são dificuldades que desmotiva os educadores e levam essas crianças e jovens a desistirem dos estudos, perdendo a esperança de se tornaram cidadãos alfabetizados. Mister salienta que as crianças e jovens que frequentam esse tipo de modalidade de ensino são alunos portadores de necessidades educativas especiais oriundos de baixa renda e de pouca escolaridade, porém são indivíduos que buscam na escola enquanto espaço de produção e conhecimento um único objetivo que é aprender a ―ler e a escrever‖, ou seja, ser alfabetizado, coisa que aparentemente denota ser simples, porém para eles é um grande sonho, tendo em vista a importância do sujeito alfabetizado na atualidade. Nessa perspectiva, nota-se que é por intermédio da alfabetização, ou seja, do contato com a escrita que os alunosportadores de necessidades educativas especiais aprendem a construir e a reconstruir suas ideias, valores, pensamentos, pois é por meio dos seus erros e acertos que o aluno vai criando 113 suas primeiras impressões sobre o mundo a sua volta, bem como compreendendo a sua realidade. Sendo assim, nota-se que aeducação trata-se de um processo coletivo extremamente relevante na vida de qualquer ser humano, pois vivemos em uma sociedade globalizada marcada constantemente por mudanças e avanços tecnológicos, portanto é fundamental a criança e jovem portador de necessidades educativas especiaisser alfabetizada, pois o domínio da leitura e a escrita lhe asseguram oportunidades significativas na sociedade. Em seus estudos a autora Esteves (2008) destaca que o ato de aprender a ler e a escrever é muito importante para os alunos portadores de necessidades educativas especiais, pois vai muito além de saber transcrever, visto que o aluno aprende por meio de experiências sociais de seu meio no qual está inserido e é por meio dessa interação e de estruturas cognitivas que ocorre o processo de alfabetização e aprendizagem, como afirma a autora: O aluno deve praticar a leitura e a escrita para conseguir assim se apropriar de sua codificação e decodificação. Os conhecimentos precisam se abordados de forma sistemática na escola, pois tem conhecimento que são iniciados e consolidados na alfabetização e outros são iniciados e vão se consolidando em outras etapas de ensino. Sendo assim, não basta levar texto para sala de aula, mais se deve conduzir, orientar, ensinar vogais consoantes e outros conhecimentos específicos do processo de alfabetização de forma contextualizada se baseando no texto. (ESTEVES, 2008, p. 04). No entanto, nota-se que a leituraé fundamental para promover o aprimoramento intelectual dos alunos portadores de necessidades educativas especiais, pois não tem como alfabetizar um sujeito sem a prática diária da leitura, a mesma é um instrumento valioso para os alunos com necessidades especiais, haja vista que é por meio da leitura que eles conseguem enfrentar os desafios impostos pela sociedade contemporânea. O processo de letramento diz respeito na atualidade a práticas de leitura e escrita por parte de alunos portadores de necessidades educativas especiais que buscam na escola um espaço acolhedor para a busca de conhecimento. Embora, seja parcialmente diferente da alfabetização, o letramento tem que ser visto como um processo exclusivamente individual do aluno portador 114 de necessidades educativas especiais, pois ele vai muito além do que o ato de ler e escrever, ele representa especificamente todo o processo de leitura e escrita inerente ao ser humano, como afirma o autor Tfouni (2009): O letramento, por sua vez, focaliza os aspectos sócios históricos da aquisição da escrita, entre outros casos, procura estudar e descrever o que ocorre nas sociedades quando adotam um sistema de escrita de maneira restrita ou generalizada; procura ainda saber quais práticas psicossociais substituem as práticas ―letradas‖ em sociedades ágrafas. Desse modo, o letramento tem por objetivo investigar não somente quem é alfabetizado, mas também quem não é alfabetizado, e, nesse sentido, desliga-se de verificar o individual e centraliza-se no social. (TFOUNI, 2009 p. 09). É preciso esclarecer nesse estudo que embora o processo de alfabetização e letramento seja conceitos diferentes, ambos são vitais para proporcionar uma aprendizagem significativa para os alunos portadores de necessidades educativas especiais, uma vez que é por intermédio do letramento que o aluno consegue fazer uso da leitura e escrita, solucionando problemas de seu dia a dia e descortinando novos horizontes inerentes ao mundo mágico da leitura. Segundo a autora Esteves (2008) a escola que os educadores e aprendentes no ensino básico buscam e idealizam deve propiciar aos alunos portadores de necessidades educativas especiais momentos intensivos de leitura e escrita, de forma que os mesmos percebam a relevância desse conhecimento em suas vidas, é assim compreenda que a utilização de qualquer código escrito são exemplos de letramento e o aluno que utiliza é considerado alfabetizado. Desse modo, faz-se necessário os educadores e aprendentes no ensino básico refletir, buscar e criar situações inovadoras que possibilite aos alunos portadores de necessidades educativas especiais a sua real integração e inclusão nas aulas, de modo que haja o respeito a individualidade desses alunos por meio de sua inserção social coletiva no desenvolvimento das atividades, buscando meios para que todos os alunos passem a respeitar as suas limitações e cooperar no processo de sua socialização. 115 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo teve como objetivo principal identificar como vem ocorrendo nas escolas públicas do Brasil o processo de inclusão de alunos portadores de necessidades educativas especiais, abordando os desafios que oeducador e aprendente no ensino básico enfrentam para promover a inclusão desses alunos, dentro de uma proposta pedagógica pautada no respeito a diversidade e no processo de formação do discente. Por meio desse estudo, pode-se perceber que muitas mudanças deverão acontecer ainda no sistema educacional brasileiro, para que de fato haja uma inclusão igualitária dos alunos portadores de necessidades educativas especiais nas aulas, que garanta ao educando o seu desenvolvimento e sua integração social por meio de uma aprendizagem significativa. É importante lembrar que a escola enquanto espaço de produção e conhecimento proporciona uma contribuição muito relevante no processo de inclusão dos alunos portadores de necessidades educativas especiais, principalmente pela diversidade de conteúdos que são trabalhados que permite ao educador e aprendente no ensino básico inovar e criar situações de atividades que faça com que esses alunos especiais participem de todas as atividades dentro de suas limitações. Diante disso, nota-se que é fundamental os educadores e aprendentes no ensino básico proporcionarem aos alunos portadores de necessidades educativas especiais o espirito de cooperação, pois é nas atividades trabalhadas pelos educadores em sala de aula que os alunos portadores de necessidades educativas especiais conseguem por alguns instantes deixar de lado as suas limitações e diferenças, tornando-se iguais diante dos demais, permitindo que a integração social, o respeito e companheirismo sobreponha sobre a diferença. REFERÊNCIAS 116 AGUIAR, João Serapião de; DUARTE, Édison. Educação Inclusiva: Um Estudo na Área de Educação. Rev. bras. educ. espec. v.11 n.2 Marília maio/ago. 2005. BAUMEL, Roseli C. R.C. et col. Integrar / Incluir: Desafio Para a Escola Atual. São Paulo: FE- USP, 1998. BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília, 2001. BARBOSA, Marcia Silvana Silveira. O Papel da Escola: Obstáculos e Desafios Para uma Educação Transformadora. Dissertação de Mestrado – Porto Alegre, 2004. ESTEVES, Maria Mara Teixeira. A Alfabetização e o Letramento na Educação Inclusiva. São Paulo – 2008. FERREIRA, Luiz Antônio Miguel. Educação, Deficiência e Cidadania. Rio de Janeiro: 2004. Disponível em www.mp.sp.gpv.br. Acesso em: 30 Abril 2018. JANUZZI, Gilberto. A Luta Pela Educação do Deficiente Mental no Brasil. 2. Ed. Campinas: Autores, Associados, 1992. LUCKESI, Cipriano Carlos. Fazer Universidade: Uma Proposta Metodológica. São Paulo: Cortez, 2000. MANTOAN, M. T. E. Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como Fazer? São Paulo: Moderna, 2003. MENDES, Durmeval Trigueiro. Ensaios sobre Educação e Universidade: org. Maria de Lourdes de Albuquerque Fávero, Jader de Medeiros Britto – Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2006. OLIVEIRA, Shirllene Ferreira Simplício. Alfabetização, Letramento e a Educação de Jovens e Adultos Caminhos e Descaminho. Campina Grande – PB, 2015. SOLER, Reinaldo. Educação Inclusiva: Em Busca de uma Escola Plural. Rio de Janeiro: Sprint, 2005. SILVA, Suhellen Lee Porto Orsoli. Introdução à Educação Inclusiva. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A, 2015. SANCHEZ, Pilar Ornaiz. Educação Inclusiva um Meio de Construir Escolas Para Todos no Séc. XXI. In: INCLUSAO: Revista da Educação Especial/Secretaria de Educação Especial. v.1, n.1 (out. 2005). Brasília: Secretaria de Educação Especial, 2005. 117 TFOUNI, Leda Verdiani. Letramento e Alfabetização na Educação Inclusiva. 5. Ed. São Paulo: Cortez, 2002. (Coleção Questões da nossa Época; v. 47). 118 EDUCAÇÃO INCLUSIVA E PARCERIAS QUE DÃO CERTO: PERSPECTIVA DE UM MUNDO MELHOR Valdirene Braga de Oliveira¹ Professora da Rede Municipal atuando no Centro Municipal de Atendimento Educacional Especializado – CEMAEE – Seabra, BA. RESUMO Promulgada a Constituição Federal de 1988, no Brasil, novos estudos e leis de garantias de direitos às pessoas com deficiência surgiram, principalmente no tocante à educação. Ao longo dos anos, fica perceptível que as escolas buscam incluiralunos com necessidades educacionais específicas e flexibilizar o currículo. Porém, o ideal ainda não foi atingido. Ao considerar que há muito para que pessoas com deficiência tenham um desenvolvimento pleno, diversas indagações pairam: Qual o papel da família na educação da criança com deficiência? O que a escola faz para colaborar com o bom desenvolvimento do aluno com necessidades educacionaisespecíficas? A comunidade colabora com a inserção da pessoa com deficiência nos diferentes ambientes, principalmente no acesso ao mercado de trabalho? Assim, este artigo traz como objetivo expandir o diálogo ea reflexão sobre a contribuição da família, da escola eda comunidade, na inclusão do aprendente no ambiente escolar, em espaços de lazer e no mundo do trabalho, bem como, discutir a importância da parceria entre esses diferentes atores para a construção do sujeito. Acredita-se que família, escola e comunidade formam uma tríade imprescindível para o desenvolvimento de pessoas com deficiência, em suas trajetórias de vida e na constituição enquanto pessoas autônomas. Palavras-Chave: Família; Escola; Comunidade; Inclusão. INTRODUÇÃO Nas últimas décadas a discussão acerca da inclusão tem-se intensificado bastante em todos os cantos. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva apresenta o movimento mundial pela inclusão como uma ação política, cultural, social e pedagógica, 119 desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação (Brasil, 2008). Esse movimento, gerado em grande parte por familiares de pessoas com deficiência e, também, profissionais da área de educação, saúde, assistência social ou civis, vem possibilitando mudanças positivas na vida das mesmas, porém, ainda é uma luta incessante. Por mais que fique claro a inclusão das PCDs na escola, nos espaços públicos e no mercado de trabalho, ainda assim, ver-se a necessidadede expandir o diálogo por todos os ambientes, cada vez mais, para tratar de inclusão, garantias de direitos, estimulação, dignidade, superação, aceitação, aprendizagem, desenvolvimento, dentre outras. O artigo 227, da Constituição Federal, trata do dever da família, da sociedade e do Estado em assegurarà criança, ao adolescente e ao jovem, o direito, dentre outros, à educação (Brasil, 1988). Assim sendo, quando uma criança com limitação (física, sensorial ou intelectual) nasce num ambiente em que a família pode proporcionar apoio, estímulo, tempo, dedicação, amor; e essa mesma criança, quando inserida no ambiente escolar, se sente totalmente incluída, de forma que possa participar de todas as ações planejadas, por mais que sinta dificuldades, vai apresentar, gradativamente, um desenvolvimento positivo, compartilhando de experiências ―normais‖, muitas vezes sem a necessidade de grandes adaptações. Isso lhe favorece para que, na fase adulta, tenha uma inserção mais facilitada ao mercado de trabalho, desde que a comunidade e as empresas também estejam preparadas para apoiá-la. Para tanto, ver-se a necessidade da participação mais intrínseca, da família, no processo de desenvolvimento da criançacom deficiência, bem como dos profissionais da educação e de toda comunidade onde a mesma está inserida. Ainda assim, importante questionar: qual é o papel de cada um desses segmentos para a educação, inclusão e desenvolvimento de crianças e jovens com deficiência? É necessário a parceria entre família, escola e comunidade? De acordo com essas indagações, alguns teóricos farão parte dessa escrita. A citar: Vygotsky, Glat, Duque, Mantoan, Sassaki, Brasil, dentre outros 120 que também contribuirão para melhor explicar a importância da família, da escola e da comunidade na educação de pessoas com deficiência e como a parceria entre elas possibilitam resultados mais concretos e mais plausíveis. DESENVOLVIMENTO O PAPEL DA FAMÍLIA NA EDUCAÇÃO DE FILHOS COM DEFICIÊNCIA A partir do nascimento dos filhos, pais e mães não se encontram totalmente preparados para cuidar dos mesmos e educá-los, principalmente quando se trata de uma criança que apresenta alguma deficiência e/ouatraso no desenvolvimento cognitivo. Ao deparar com tal situação é comum a família ter um sentimento de luto, de não aceitação, de culpa, de desespero e de não saber lidar com a situação, o que leva, muitas vezes, a um processo depressivo, não só dos pais, mas de toda a família. Assim, é preciso que a mesma busque informações, tenha apoio dos demais familiares, da equipe de saúde e de todos que a rodeia. Caso contrário, possa ser queessa criança acaba sendo deixada de lado, já que a família não acredita no seu desenvolvimento, pois infelizmente, a tem como uma pessoa incapaz, impossibilitada ou inútil. Na sociedade atual, ainda há famílias de pessoas com deficiência que apresentam diferentes atitudes: umas que se isolam, outras que não buscam inserir o filho nos ambientes distintos, outras ainda que não acreditam nos avanços que ela pode apresentar e há também, aquelas famílias que querem incessantemente colocar o filho em todas as terapias possíveis, pensam que pode haver uma cura, que o filho pode ficar ―normal‖, assim como os demais. E ainda, há aquelas que procuram entender a situação, que garantem todo o apoio ao filho e lutam pelos seus direitos, para que o desenvolvimento aconteça gradativamente. ...eu tenho que introduzir ele. Eu não posso chegar, porque meu filho é especial, é uma criança especial, e botar ele dentro de uma redoma de vidro e andar com ele feito um passarinho preso na gaiola... Pelo contrário, eu acho que para o desenvolvimento dele, inclusive, ele tem que ver outras pessoas... às vezes ele está vendo uma criança 121 fazer um negócio ali, que ele sente vontade de fazer, e sente dificuldade, mas que ele vendo... ele acaba imitando e daqui há pouco acaba fazendo também...(GLAT e DUQUE, 2003). Nos últimos tempos, muitos pais têm conhecimento suficiente para recorrer aos direitos dos filhos, especificamente se esses forem pessoas com deficiência. Sabem que eles precisam de estímulos, de apoio, de demonstração de afeto, de amor e, principalmente, necessitam viver inseridos em ambientes com seus pares, com pessoas da mesma idade, porque é na troca, é na interação e é na convivência que as crianças aprendem. Segundo as ideias de Vygotsky (1896-1934), toda criança aprende ou se desenvolve cognitivamente quando faz parte de ambientes nos quais outras pessoas também estão inseridas. Para ele, a aprendizagem é uma experiência social, onde a interação entre a linguagem e a ação possibilita o crescimento do ser, o que faz gerar uma aprendizagem seguida da outra. Importante considerar sempre o que a criança já sabe e aquilo que ela tem potencialidade para aprender, o que seria o conhecimento real e o conhecimento potencial, de acordo com o teórico citado. Assim sendo, há de se indagar, qual é mesmo o papel da família na educação do filho com deficiência? Antes de mais nada, o pai e a mãe precisam compreender e entender as características apresentadas pela deficiência, necessitam do apoio de profissionais da área de saúde como: pediatra, neuropediatra, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, psicólogo, terapeuta ocupacional, (a depender da deficiência e necessidade de cada um), tanto para acompanhar a criança como também para orientá-los nesse processo de desenvolvimento da mesma. Porém, muitas vezes, a família irá precisar de apoio psicológico, pois não é fácil suportar sozinha a dor do luto, da incerteza, do medo, da preocupação e tantos outros sentimentos, que afloram, quando se tem um filho com deficiência. É relevante salientar, que os pais são os primeiros responsáveis pelo desenvolvimento e educação dos seus filhos. É no ambiente familiar que os mesmos vivenciam e tem uma base sobre o que é amor, respeito, união, ética, solidariedade, ser educado, atencioso, prestativo, dentre tantas outras noções que fazem parte da vida de um ser, para sempre. Independentemente do filho 122 ser uma pessoa com deficiência, ou não, esses preceitos são necessários. Porém, para a família que tem filho com atraso em seu desenvolvimento, após ter conhecimento sobre a situaçãoeapoio de profissionais especializados, é de suma importância proporcionar estímulos, de acordo com a necessidade de cada um. Para crianças com atraso na fala torna-se necessário que a família, quer seja o pai, a mãe, os irmãos, ou os tios, avós, babá, se dedique boa parte do tempo para proporcionar atividades, brincadeiras que possam estimular a criança a falar. Quando ela vivencia momentos de alegria, de ludicidade, tudo se torna mais fácil. A mesma coisa acontece quando a criança tem um atraso motor. Algumas atividades mais dinâmicas e descontraídas causam prazer e a criança as realiza sem se cansar tanto. De acordo com o Instituto Neurosaber (2019), a criança com deficiência intelectual apresenta pouca interação com outras crianças e também com os adultos, tem dificuldades na coordenação motora fina e grossa, apresenta a comunicação prejudicada e dificuldade de adaptação nos diferentes espaços. Essa criança necessita de vários estímulos, seja ele motor, na comunicação, na construção do pensamento e na interação com outras pessoas, estímulos esses que devem ser diversificados e lúdicos. Vale salientar que, sempre que a criança realizaalgo positivo, merece ser elogiada, ter o seu esforço reconhecido. É preciso parabenizá-la, fazê-la entender que ela pode aprender que ela consegue, que é possível. É de suma importância mantê-la sempre com autoestima bem elevada. Considera-se que muitas das atividades desenvolvidas pela família, em casa, precisam ser orientadas por profissionais especializados, para não correr o risco de fazer algo que prejudique à criança ao invés de ajuda-la. Contudo, há de considerar que esses estímulos são valiosíssimos para o bem estar e superação da criança com deficiência, o que faz sentir-se amada e importante para todos daquela família. Além de tantos incentivos ofertados, os responsáveis pela criança ainda têm um papel crucial ao bom desenvolvimento da mesma, que é proporcionar a 123 inserção delana escola e apoiá-la no que for necessário. A escola, que por sua vez, é de grandiosíssimo valor para qualquer sujeito. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases Nacional, nº 9.394/96, apontado no título V, capítulo II, seção II, art. 29: A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. (BRASIL, 1996). A família, de posse desse conhecimento e que anseia por momentos de aprendizagem e superação, ingressa a criança na escola desde cedo, pois acredita que assim o crescimento das habilidades cognitivas, sociais, afetivas serão melhores e podem se consolidar o quanto antes. Contudo, ainda temum compromisso primordial ao bom desenvolvimento do filho com deficiência, que é inseri-lo em todos os ambientes possíveis, que irão colaborar com a sociabilidade da criança, seja a pracinha, a igreja, a lanchonete, o supermercado, as festas de aniversários, shopping, etc. Para garantir que todas as crianças tenham acesso à escola o Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº. 8.069/90, artigo 55, reforça os dispositivos legais supracitados, ao determinar que "os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino‖ (Brasil, 2008). A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA PARA O DESENVOLVIMENTO DE ALUNOS COM NEE Em 1549, ano em que os jesuítas adentraram ao Brasil, trazendo uma educação pautada exclusivamente na catequização dos índios, dá-se início às primeiras escolas brasileiras. Quase quinhentos anos se passaram e nesse período muita coisa mudou. Foram muitas reformas e transformações no cenário da educação brasileira. No entanto, mesmo com inúmeros investimentos, o Brasil ainda não alcançou o ideal, o que tanto se almeja, pois há uma boa parcela de pessoas consideradas analfabetas ou analfabetas 124 funcionais, dentre outros resultados negativos que o paíscarrega, mesmo com inúmeros avanços conquistados. Segundo Maria Tereza Mantoan, (2003, p.12): A escola se entupiu do formalismo da racionalidade e cindiu-se em modalidades de ensino, tipos de serviço, grades curriculares, burocracia. Uma ruptura de base em sua estrutura organizacional, como propõe a inclusão, é uma saída para que a escola possa fluir, novamente, espalhando sua ação formadora por todos os que dela participam. De acordo com a autora citada, a escola brasileira busca formas para amenizar uma ruptura em sua estrutura organizacional e apresenta a inclusão como uma saída às escolas, uma maneira de reaver sua função formadora. Importante que as instituições não atuem apenas para formar a mão de obra da sociedade capitalista. A escola precisa ser mais humanizada, mais ―colorida‖, ser um ambiente aberto a TODOS, à diversidade. Somando a essa ideia, (Mantoan, 2003) completa dizendo: ―A inclusão, portanto, implica mudança desse atual paradigma educacional, para que se encaixe no mapa da educação escolar que estamos retraçando.‖ Anteriormente, o Brasil viveu os paradigmas da exclusão, da segregação e da integração. Após muitas lutas por parte, principalmente, dos familiares de pessoas com deficiência. Hoje, o país está sobre o paradigma da inclusão, apesar de muitas escolas brasileiras, literalmente, ainda fecharem suas portas para os alunos com deficiência e/ou com necessidades educacionais específicas (NEE). Em janeiro de 2008 o Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial apresentou a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, ―visando constituir políticas públicas promotoras de uma educação de qualidade para todos os alunos‖, como bjetivo de ―assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação.‖ (Brasil, 2008). Mesmo considerando que a educação é para uma diversidade, ainda assim, há a necessidade de questionar sobre a importância da escola para o desenvolvimento de alunos com necessidades educacionais específicas. A 125 escola tem o papel de maximizar o desenvolvimento acadêmico e social do aluno, ou seja, nesse ambiente a criança vai poder socializar com outras pessoas, o que também possibilita o desenvolvimento da linguagem e comunicação. Ela vai proporcionar meios de desenvolver o aluno emseus aspectos cognitivo, físico, social e afetivo (emocional). Vale ressaltar que na instituição escolar, muitas vezes, a criança aprende também com seus pares, com seus colegas. É como se uma outra pessoa da mesma idade soubesse ensinar do ―jeitinho‖ que ela necessita, favorecendo suas aprendizagens. Ou então aprende apenas pelo fato de observar o seu colega realizando o processo. Nesse sentido, é de referenciar Vygotsky (1896-1934) novamente quando diz que a aprendizagem é uma experiência social, onde a interação entre a linguagem e a ação possibilita o crescimento do ser. Na escola, toda criança faz amizades, brinca, se diverte, conversa, joga, aprende, estuda, ou seja, cresce, amplia novos horizontes, adquire uma bagagem que vai lhe servir para sempre. E para uma criança com deficiência é de considerar que os avanços são bem significativos, a partir do momento que ele adentra à instituição. Além disso, há um fator relevante que a inclusão proporciona, que é tornar o ambiente mais humano, de mais amor, empatia, respeito e solidariedade. A partir da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, as escolas precisaram oferecer o atendimento educacional especializado (AEE). Este, por sua vez: Identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando as suas necessidades específicas. As atividades desenvolvidas no atendimentoeducacional especializado diferenciam-se daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à escolarização. Esse atendimento complementa e/ou suplementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela (Brasil, 2008). Devido às grandes dificuldades que as escolas brasileiras têm enfrentado para atender as especificidades de cada aluno, principalmente aqueles que apresentam alguma limitação, é de salientar a importância da 126 atuação da educação especial, como modalidade de ensino, a qual oferece o atendimento educacional especializado para alunos com deficiência, com transtorno do espectro autista e altas habilidades ou superdotação. Esses alunos recebem o atendimento especializado em horário oposto ao da sala regular, de acordo com sua necessidade específica. As atividades realizadas na sala de recursos multifuncionais, local onde acontece o AEE, vão proporcionar ao aluno um ganho de habilidades e autonomia, que favorecem a minimização das barreiras existentes. A criança, ou o jovem, com deficiência que frequenta uma escola com princípios da inclusão pode se desenvolver surpreendentemente. O acesso à escola promove o desenvolvimento pessoal, e também, se torna uma ferramenta importante para os relacionamentos interpessoais (BRASIL, 1996). Os professores, que conhecem bem os seus alunos, possibilitam que esses avancem dentro de suas possibilidades, quer seja com o currículo regular ou funcional. Assim, o aluno constrói habilidades em relação aos hábitos de vida diária, como cuidar do seu próprio corpo e do ambiente onde vive, além de apresentar uma comunicação mais eficiente, ter maior equilíbrio corporal, pode adquirir mais habilidades cognitivas, artísticas, apresentar bom desempenho em leitura, escrita e raciocínio lógico e, segundo a legislação brasileira (LDBEN 9394/96), poder se socializar, desenvolver suas capacidades diversas e aprimorar sua inteligência emocional. Essas aprendizagens acontecem na sala de aula comum, com o professor e com os colegas e, também, na sala de recursos multifuncionais, por meio dos estímulos proporcionados pelo professor especializado, conforme suas necessidades. É de considerar o fundamental papel de profissionais para trabalhar com alunos surdos e a importância do ensino da Língua de Sinais – Libras, e o Português como segunda língua, além do intérprete de Libras para acompanhar esses alunos durante as aulas. Bem como, os profissionais para o ensino de Braile aos alunos cegos ou que apresentam baixa visão. Vale ressaltar também, a importância do professor de apoio e/ou cuidador, que são imprescindíveis para o acompanhamento dos alunos com grau de 127 comprometimento maior em suas habilidades, pois esse profissional vai colaborar com a ação do professor. Quando o aluno se dispõe do apoio de todos esses profissionais, dos gestores, dos colegas, ou seja, de toda comunidade escolar, aumentam as possibilidades dos avanços e tem um melhor desempenho nas atividades desenvolvidas. Assim, é comum que ele sempre esteja com autoestima mais elevada, o que vai favorecer para uma abstração maior daquilo que é ensinado e, no futuro, ser um cidadão atuante na comunidade, além de conseguir adentrar ao mercado de trabalho com mais autonomia. A SOCIEDADE E SEU PAPELNA VIDA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA Retornando ao Art. 227 da Constituição Federal (1988) ver-se o quão importante é o papel da sociedade na vida de todos: crianças, adolescentes e jovens. O artigo diz que: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988). Para muitos a obrigação em garantir os direitos das crianças e jovens é exclusivamente da família e do Estado. No entanto, isso é uma ideia errônea. A instituição familiar tem o dever para com os filhos, assim como o Estado é responsável por garantir meios para que os pais tenham condições de cuidar de suas crianças e adolescentes e, políticas públicas que ofertem educação, saúde, lazer, dentre outras. A sociedade tem uma grande parcela de responsabilidade no desenvolvimento de todos. É na comunidade também que a criança aprende a interagir com as demais pessoas, a respeitar o direito do próximo, a ter o sentimento de empatia, viver em união, saber colaborar, zelar pelo patrimônio público, respeitar as diferenças, viver a diversidade, etc. 128 A comunidade tem o poder de colaborar de forma positiva ou negativa na vida de qualquer ser. E quando se trata de pessoas com deficiência essa responsabilidade precisa ser redobrada, pois as barreiras que surgem necessitam ser quebradas, para que TODOS tenham o direito de ir e vir. No entanto, as crianças, os jovens e os adultos com deficiências ainda são tidos, muitas vezes, como ―coitadinhos‖. O segmento de pessoas com deficiência vive um enfrentamento constante, para ter atendidas suas condições básicas de existência e se tornarem sujeitos de fato, o que faz com que a visão de ―coitados‖ seja banida, pois nenhum ser é digno desse sentimento. É sabido que no Brasil houve exclusão de grupos minoritários no processo de formação da sociedade. Dessa forma, medidas de inclusão social foram criadas no intuito de integrar esses grupos vulneráveis à comunidade, garantindo os seus direitos. Pessoas com deficiência, por muitos anos, foram excluídas devido às suas limitações, o que dava ideia de incapacidade ou impossibilidade de realizar alguma atividade. Diante disso, surge uma indagação no cenário atual: a sociedade tem colaborado com a inserção da pessoa com deficiência, nos diferentes ambientes, principalmente ao acesso no mercado de trabalho? Apesar da sociedade ser de fundamental importância para os sujeitos que nela estão e ver que a inclusão social, aos poucos, se garante no país, muitas vezes é como se não houvesse pessoas com deficiência física, sensorial e intelectual nos diversos cantos do Brasil. Em muitos anos, o lazer, a educação, o esporte, a urbanização e outros eram pensados apenas para pessoas sem limitações físicas ou cognitivas. Não havia espaço para pessoas com mobilidade reduzida ou com outras deficiências. Exemplo bem claro, do não pensar nesse público, são as calçadas altas e as escadas que ainda existem, pode-se dizer, em todas as cidades brasileiras, o que impossibilita o acesso para muitos cidadãos. Os locais de lazer, público ou privado, em sua grande maioria, não apresentam adaptações necessárias para que uma pessoa com deficiência tenha participação ativa. Sobre os esportes adaptados existentes, estes são destinados a um público restrito, ou seja, o futebol de cinco para cegos, o basquetebol para 129 pessoas sobre cadeira de rodas, dentre outros, o que provoca, diversas vezes, a não interação entre sujeitos com e sem deficiência. Outra observação necessária é que, esses jogos quase não têm plateia e comumente não são transmitidos pelas principais emissoras de TV. Observa-se que é uma raridade ver pessoas, nas ruas, nas praças, fazendo comentários sobreos jogos de equipes formadas por pessoas com deficiência. No entanto, Sassaki afirma que: Para um futuro breve todas as pessoas acreditarão no paradigma da inclusão social como o caminho ideal para se construir uma sociedade para todos, e que todos por ela lutassem para que, juntos na diversidade humana, pudessem cumprir seus deveres de cidadania e gozar dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e de desenvolvimento (SASSAKI, 1997). A citação acima apresentauma expectativa de um mundo de inclusão, que aos poucos, se torna realidade, apesar de tantos sinais de invisibilidade ainda. Por meio de diversas lutas, de persistência e insistência a pessoa com deficiência já se encontra inserida na escola, na faculdade, nos ambientes de lazer e também no mercado de trabalho. Muitas empresas têm investido nessa mão de obra, o que possibilita garantia de dignidade às pessoas com deficiência, uma realização enquanto indivíduo e cidadão, e melhor, percebe-se que é capaz de produzir, criar e contribuir no orçamento da família ou, até mesmo, tornar-se financeiramente independente (SASSAKI, 1999). Geralmente as empresas recebem incentivos para inserir, em seu quadro de funcionários, um percentual de pessoas com limitação física, sensorial, intelectual, etc. Mas, não basta colocar a pessoa dentro da empresa, é preciso mudar toda a organização da mesma, oferecer formação, adaptar espaços físicos, recursos, dentre outros cuidados. Essa modificação, dentro do local, vai beneficiar as pessoas com deficiência que ali estão inseridas e os demais funcionários, a depender de cada ação praticada pela empresa. Pois, além de treinar a pessoa com deficiência para exercer a função, é preciso ofertar formação aos demais para que esses saibam lidar com as diferenças. E mais, é preciso que toda a empresa tenha atitude inclusiva. 130 Segundo Sassaki (1999) a ideia que começou a vingar timidamente é a de que não haverá mais batalhas e muito menos vencedores e vencidos. Surge então, no panorama do mercado de trabalho, a figura da empresa inclusiva. Para ele a empresa inclusiva acredita no potencial da diversidade humana, reorganiza os ambientes físicos, adequa os instrumentos de trabalho e, principalmente, faz adaptações nos procedimentos e nas práticas administrativas, oque vai possibilitar uma transformação de ideias na sociedade, de se colocar no lugar do próximo, de aprender amar e, respeitar as condições de cada um. Assim se faz uma sociedade inclusiva. E assim deve ser o lugar onde cada um vive, pois, a sociedade também é responsável pelo desenvolvimento de cada cidadão. PARCERIAS QUE DÃO CERTO: FAMÍLIA, ESCOLA E COMUNIDADE Toda pessoa tem direito, necessita do amparo, do cuidado, da atenção e do amor da família, desde o momento de sua concepção. E para que esse ser se desenvolva integralmente e com dignidade, é de fundamental importância a participação efetiva da escola e da sociedade por toda a vida. Em retornoao artigo 227 da Constituição Federal (1988) é notório que ele responsabiliza a família, a sociedade e o Estado por assegurar a vida, saúde, educação, alimentação, moradia, lazer, profissionalização, dentre outros direitos, às crianças, adolescentes e jovens. Assim, percebe-se o tamanho da importância de cada uma dessas instituições na formação do ser, o que faz com que o sujeitoseja uma pessoa feliz, com autoestima elevada, que acredita no seu potencial, que sabe viver em comunhão com seus pares, que reconhece os seus direitos e cumpre com seus deveres. Ao se tratar da garantia dos direitos das crianças, adolescentes, jovens e, também, de adultos com deficiência, somam-se alguns outros direitos, devido às suas necessidades. Como por exemplo: direito de acesso ao currículo escolar, ao atendimento educacional especializado, reserva de vagas no mercado de trabalho e em concursos públicos, direito aos serviços especializados de habilitação e reabilitação, acessibilidade em todos os espaços públicos, além de diversas outras garantias. Estas são resultantes das 131 políticas públicas pensadas para amenizar as barreiras existentes na escola, nos locais de lazer, no mercado de trabalho e outros. Garantir o que lhe é de direito é afirmar que todos podem usufruir de uma vida plena, de uma escola de qualidade, de atendimento digno nos vários locais públicos e privados. Muitas vezes, esses direitos são garantidos mais facilmente quando a parceria entre família, escola e sociedadeestá bem fortalecida. A família quando reconhece que também precisa fazer parte do processo de desenvolvimento do filho que frequenta a escola e colabora sempre que necessário, tudo tende a melhorar. Porém, é de suma importância que a instituição, sutilmente, ―abra as portas‖ para a parceria acontecer. Os educadores devem ser gentis, atenciosos, procurar envolver as famílias nas decisões, ouvi-las sempre, conscientizá-las da necessidade de apoiar os seus filhos em todos os momentos. Segundo Paro: A escola deve utilizar todas as oportunidades de contato com os pais, para passar informações relevantes sobre seus objetivos, recursos, problemas e também sobre as questões pedagógicas. Só assim, a família irá se sentir comprometida com a melhoria da qualidade escolar e com o desenvolvimento de seu filho como ser humano (PARO, 1997). A escola é uma complementação da família e ambas são responsáveis pelo desenvolvimento integral da criança. E para que isso aconteça, é necessário que a mesma pontue, frequentemente, os avanços da criança ou do adolescente. Isso revigora o entusiasmo dos pais, os quais passam a estimular o filho cada vez mais. Vale acrescentar um outro fator extremamente importante: o professor precisa conhecer o lugar onde a criança está inserida, saber os seus costumes, a cultura do ambiente, os hábitos e, principalmente, conhecer as habilidades do seu aluno, para a partir daí, planejar suas ações. Em contrapartida, é de fundamental importância que a família transmita o sentimento de confiança e respeito pela instituição em que o filho/filha está inserido (a), falando bem, interagindo com os profissionais, para que a criança sinta prazer em estudar naquele ambiente. Além disso, é preciso validar as conquistas dos mesmos, 132 nas aprendizagens, por mais que sejam mínimas, favorecendo a elevação da sua autoestima, encorajando-os a enfrentar os desafios cotidianos e, consequentemente, obter os avanços almejados. Em tempos atuais, é bem nítido como a parceria entre família, escola e comunidadecausambons resultados no desenvolvimento da criança com alguma limitação, bem como promove, de forma mais satisfatória, a inclusão da mesma. Segundo Brandão e Ferreira (2013), algumas práticas possibilitam a inclusão de sucesso: Atitudes dos profissionais e das famílias; Relação dos pais com os prestadores de cuidados; Intervenção pedagógico-terapêutica e Adaptações dos contextos físicos. De acordo com essas práticas sinalizadas acima, constata-se a importância da parceria família-escola, escola-comunidade e família-escola- comunidade. São as atitudes destes, em grande parte, que irão possibilitar a verdadeira inclusão. Pois incluir não é apenas colocar dentro, incluir é inserir o aluno nas atividades propostas, é dar oportunidade de decisão, é não permitir ―barreiras‖ no processo ensino/aprendizagem, é o aluno poder participar, em igualdade de condições, de eventos escolares e da comunidade. Como diz Mantoan, inclusão: É a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. A educação inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção. Costumo dizer que estar junto é se aglomerar no cinema, no ônibus e até na sala de aula com pessoas que não conhecemos. Já inclusão é estar com, é interagir com o outro. (REVISTA NOVA ESCOLA, 2005). Os alunos, independentemente de suas limitações, frequentam a sala de aula comum, porém, aqueles com deficiência (física, sensorial ou intelectual), com transtorno do espectro do autismo ou com altas habilidades/superdotação também frequentam a Sala de Recursos Multifuncionais, ou centros de atendimento educacional especializado. Estes têm como função primordial apoiar as escolas, com atendimento e orientação aos profissionais. 133 É importante ressaltarque, dependendo do grau de limitação, a escola ver a necessidade de contar com o apoio intersetorial da Secretaria de Saúde, Assistência Social e Equipe Multidisciplinar. Assim, quando todos os responsáveis cumprem com suas obrigações para com as crianças, adolescentes e jovens com deficiência, a tendência é a sociedade ser cada vez mais inclusiva e isso possibilita um mundo de mais amor, respeito, responsabilidade, empatia, autoestima, compreensão, ou seja, possibilita um mundo melhor. CONSIDERAÇÕES FINAIS O paradigma da inclusão foi despontado no Brasil já há alguns anos. No entanto, o país ainda retrata experiências diversas. Isso é comum, pois os espaços são formados por pessoas e essas, vão aos poucos, entendendo e compreendendo a necessidade de a inclusão acontecer. Mantoan, iniciando as considerações finais do seu livro ―Inclusão escolar: o que é? Por quê? Como fazer?‖ diz que, a inclusão é, como muitos a apregoam, ―um caminho sem volta‖. Isso é fato. E como perspectiva de um mundo melhor, a inclusão se faz como o meio mais certo para o sucesso do ser, enquanto pessoa com deficiência. É por meio da inclusãoque se conhece o outro, suas habilidades e limitações. É por meio dessas atitudes que todos têm vez, voz e autonomia, entre seus familiares, na escola, na comunidade, nos espaços de lazer e outros. No processo de inclusão é que a pessoa com deficiência passa a acreditar em seu potencial, e pode, no futuro, ser alguém que ocupe espaços de destaque, seja na arte, na política, na educação, no esporte... ou simplesmente, onde ela quiser. A inclusão possibilita espaços de menos tristeza e mais alegria, menos desprezo e mais empatia, de menos ódio e mais amor, de menos desespero e mais esperança, de menos isenção e mais compromisso, de menos negligência e mais responsabilidade, de menos arrogância e mais humildade. São essas qualidades que, dentre outras, fazem parte dos ambientes, sejam na 134 família, escola ou comunidade, o que proporciona um incontestável estado de bem-estar social. A inclusão é um sonho possível (Mantoan, 2003) que, aos poucos, vai se tornando realidade nos diversos cantos do Brasil. Constata-se que família, escola ecomunidade são exemplos de parceria que dão certo, o que leva a todos, acreditar na perspectiva de um mundo melhor. REFERÊNCIAS AZEVEDO R. 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No Brasil, à semelhança de diversos países, foi adotado o ensino remoto emergencial em substituição às aulas presenciais em todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, inclusive na educação especial. O trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa que teve o objetivo de identificar os desafios enfrentados pelos docentes de Biologia/Ciências e profissionais da Educação Especial para a inclusão escolar de alunos com deficiência no contexto do ensino remoto em Pernambuco. Os docentes foram consultados em julho/2020 através de Formulário Google autoaplicável. A amostra foi constituída por cinquenta e sete sujeitos, entre docentes de Biologia/Ciência e profissionais da Educação Especial (AEE) de escolas da Rede Estadual de Pernambuco. Os dados permitiram identificar as principais dificuldades enfrentadas pelos professores para o atendimento aos alunos com deficiência em escolas pernambucanas, as atividades realizadas de modo não presencial, as ferramentas utilizadas pelos docentes, bem como o público atendido. Palavras-Chave: Educação Inclusiva; Ensino Remoto; Ensino de Biologia; Pandemia INTRODUÇÃO Em dezembro de 2019 foi anunciada a identificação de um novo coronavírus (SARS-CoV-2) relacionado a casos de uma infecção respiratória aguda na China, posteriormente nomeada como Covid-19. Alguns meses mais tarde, precisamente em 11 de março de 2020, a Organização Mundial de Saúde(OMS) declaroua pandemia da Covid-19, impactando de forma profunda a vida de grande parte da população mundial. 137 Diversos setores da sociedade foram fortemente atingidospor este grave problema de saúde pública, entre eles a educação. Em março de 2020 a UNESCO destacava que 165 países estavam com as escolas fechadas em um esforço para contera disseminação do novo coronavírus, afetando mais de 1,5 bilhão de estudantes (UNESCO, 2020a). Ao referir-se especificamente à situação que o Brasilapresentava em 16 de abril de 2020, em meio à necessidade de isolamento social diante do grande número de casos de covid-19, a UNESCO registrava queas escolas de todos os estados e do Distrito Federal estavam fechadas. Com exceção da Paraíba e de Tocantins, todos os estados estavam em planejamento ou já haviam iniciado ações de educação não presencial, via televisão, internet, rádio ou apostilas com conteúdos didáticos (UNESCO, 2020b). Nas semanas subsequentes todas as unidades da federaçãojá haviam adotado o ensino remoto emergencial (ERE), mediado pelas tecnologias digitais, em substituição às aulas presenciais para todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, inclusive a Educação Especial, conforme o Parecer nº 5, do Conselho Nacional de Educação (CNE), sobre a reorganização do calendário escolar e a possibilidade de computar as atividades não presenciais para fins de cumprimento da carga horária mínima anual no contexto da pandemia do novo coronavírus (BRASIL, 2020). O fechamento das escolas trouxegrande repercussão na dinâmica social. Como afirma Magalhães (2020, p. 206), [...] a suspensão das atividades escolares está entre as medidas que mais impactou a vida das pessoas, tanto no que diz respeito ao controle da propagação do vírus, quanto nas dinâmicas de reprodução social. A suspensão das aulas presenciais substituídas pelo ensino remoto emergencial (ERE) impôs uma mudança radical de como a vida é conduzida pois o simples funcionamento dos sistemas de ensino, sobretudo na educação básica, impacta fortemente a rotina de milhões de estudantes, principalmente daqueles que apresentam alguma necessidade educacional específica como é o caso do estudante com deficiência. (MAGALHAES, 2020, p.206). No estado de Pernambuco as aulas presenciais foram suspensas em todas as redes, níveis e modalidades de ensino no dia 18 de março de 2020, 138 com o Decreto Estadual nº 48.809, de 14 de março de 2020 (PERNAMBUCO, 2020). Em 06 de abril a Secretaria de Educação e Esportes do estado iniciou as transmissões de aulas ao vivo para os estudantes do Ensino médio e dos anos finais do Ensino Fundamental da rede estadual por meio do portal multimídia Educa-PE (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E ESPORTES, 2020a), inicialmente com conteúdos transmitidos pela TV Pernambuco e pelo YouTube e posteriormente também transmitidos pelo Facebook e pelos canais TV ALEPE, TV Nova Nordeste e TV Universitária.Ainda em abril de 2020o Educa- PE foi integrado a um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). O mesmo consiste em: [...] uma plataforma que concentra recursos educacionais digitais alinhados ao Currículo de Pernambuco e integrado à plataforma de aulas Educa-PE. A iniciativa reúne ainda os materiais de apoio pedagógico e as videoaulas veiculadas em canais de TV aberta e internet através do YouTube. [...] A plataforma conta ainda com recursos extras para a preparação das aulas, atividades reflexivas e desafios temáticos (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E ESPORTES, 2020b). Contudo, a implantação do ensino remoto evidencioua exclusão digitalpresente no Brasil, em um contexto cada vez mais marcado por desigualdades sociais e econômicas. Como destaca Marcon (2020), há ainda uma significativa parcela da população excluída do acesso a computadores e internet. E no caso dos alunos com deficiência, apenas o fornecimento de recursos tecnológicos não é suficiente para promover uma boa transição do ensino presencial para o ensino mediado por tecnologias, pois os recursos precisam ser acessíveis (TORRES; BORGES, 2020). Assim, neste cenário já excludente, o aluno com deficiência foi um dos mais impactados, pois diante do súbito fechamento das escolas e da ausência de uma sistemática educacional que pudesse responder às suas demandas, houve um retrocesso nas ações de inclusão educacional desse público, ao remeter o seu cotidiano a um paradigma ultrapassado de isolamento (CURY et al, 2020, p.1), dado o necessário distanciamento social imposto pela pandemia da covid-19. Marcon (2020), por sua vez, destaca que para que a inclusão digital ocorra é necessário também a apropriação social das tecnologias digitais de 139 rede, não apenas o acesso a elas. Exigindo, inclusive, que a formação do docente não seja somente técnica, mas também pedagógica. Porém, como a situação emergencial imposta pela pandemia da Covid-19 forçou a escola a reconfigurar-se de forma abrupta, não houve tempo para planejamentos robustos a curto ou médio prazo, deixando ainda mais evidente a necessidade de mais investimento na formação dos docentes da Educação Especial no tocante a utilização de recursos tecnológicos (TORRES; BORGES, 2020, p. 831). Diante deste quadro, o Projeto de Extensão INCLUBIO1, da Universidade Federal de Pernambuco, que tem como foco a formação inicial e continuada de professores de Biologia na perspectiva da inclusão do aluno com deficiência, realizou em julho de 2020 uma pesquisa com o objetivo de identificar os desafios enfrentados pelos docentes de Biologia/Ciências e profissionais da Educação Especial para a inclusão escolar de alunos com deficiência no contexto do ensino remoto em Pernambuco. O desenvolvimento da pesquisa visava obter dados que norteassem as ações do projetoa serem realizadas com professores da Rede Estadual de Ensino de Pernambuco no contexto da pandemia da covid-19. Este artigo socializa os dados da citada pesquisaque, embora circunscrita à realidade da Região Metropolitana do Recife, pode trazer contribuiçõesao debate sobre os impactos do ensino remoto na inclusão escolar dos alunos público-alvo da Educação Especial, sobretudo no presente momento de retomada gradual do ensino presencial, quando se faz necessário a realização de um balanço das experiências construídas, dos desafios enfrentados e das mudanças acarretadas pela pandemia da covid-19 no atendimento ao aluno com deficiência, a fim de projetarmos os próximos passos a trilhar. METODOLOGIA 1 O Projeto de Extensão INCLUBIO: ―O Ensino de Biologia e a Inclusão do Aluno com Deficiência‖, coordenado pela autora, conta com o apoio da Pró-reitora de Extensão e Cultura da Universidade Federal de Pernambuco. 140 A pesquisa ora apresentada teve o objetivo de identificar os desafios enfrentados pelos docentes de Biologia/Ciências e profissionais da Educação Especial para a inclusão escolar de alunos com deficiência no contexto do ensino remoto em Pernambuco e surgiu das inquietações da autora enquanto coordenadora do Projeto de Extensão INCLUBIO, da Universidade Federal de Pernambuco, diante do quadro de profundas transformações no cenário educacional advindas da suspensão das aulas presenciais como medida de combateàdisseminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2) e da consequente adoção do ensino remoto emergencial. Como o Projeto INCLUBIO se dedica à formação docente na perspectiva da educação inclusiva, com ênfase no ensino de Biologia/Ciências, a coordenação tinha a necessidade de conhecer os desafios enfrentados pelos docentes de Biologia e profissionais da Educação Especial (professores do Atendimento Educacional Especializado, brailistas, tradutores/intérpretes de libras, profissionais do apoio, etc) para a inclusão dos alunos público-alvo da Educação Especial nas aulas remotas. Como proporações de formação sem conhecer as demandas das escolas? O primeiro passo foi definir um canal de comunicação com os docentes em um cenário de isolamento social. Para garantir a segurança sanitária da pesquisadora e dos professores, optou-se por consulta através de questionário elaborado no Google Forms cujo link foi encaminhado para os docentes através de duas Gerências Regionais de Educação (GRE) da rede estadual de Pernambuco, parceiras deações anteriores de formação desenvolvidas pelo Projeto INCLUBIO. Assimo link pode ser enviado às 190 escolas jurisdicionadas às duas GREs. O universo da pesquisa foi constituído pelosprofessores regentes de Biologia/Ciências eprofissionais da Educação Especial dessas 190 escolas da Rede Estadual de Pernambuco situadas na Região Metropolitana do Recife, pois a inclusão escolar envolve esforços coletivos, sendo importante colher os dados não apenas dos docentes da Educação Especial, mas também dos professores regentes. Como afirmam Bauch e Löhr (2014, p. 18), ―o processo de inclusão da criança com necessidades educativas especiais não depende 141 somente do professor, isolado em seu contexto, na sua ‗sala de aula‘, mas sim de parcerias com outros educadores, família, equipe pedagógica, entre outros‖. Ainda segundo as autoras, A efetivação de um bom trabalho direcionado a todo educando, criando comunidades acolhedoras para uma sociedade de fato inclusiva, demanda a parceria entre professores de salas de recursos multifuncionais e professores das salas regulares. Para que esta parceria se concretize, faz-se necessário que os professores (da classe regular e da sala de recursos) trabalhem de forma articulada e tenham conhecimentos básicos que facilitem a integração dos seus fazeres (BAUCH; LÖHR, 2014, p.1). Neste sentido, a amostra foi formada por cinquenta e sete (57) sujeitos, entre docentes de Biologia/Ciência e profissionais da Educação Especial de escolas pernambucanasda Rede Estadual. Para a coleta dos dados foi utilizado um questionário on-line autoaplicado elaborado com a ferramenta Google Forms e enviado para os sujeitos via mensagem de e-mail e/ou do aplicativo WhatsApp pelas GREs. O formulário esteve aberto para o recebimento de respostas no período de 17 de julho a 02 de agosto de 2020. A adesão foi voluntária. O questionário foi composto por vinte e sete (27) questões no total, das quais dez (10) eram abertas e dezessete (17) questões eram fechadas. As mesmas foram organizadas em três blocos: perfil dos sujeitos, desafios enfrentados no contexto da pandemia da covid-19 e necessidades formativas para o desenvolvimento das atividades remotas com o público-alvo da Educação Especial. RESULTADOS E DISCUSSÃO O formulário foi respondido por um total de sessenta e dois docentes. Após a retirada de questionários com respostas em duplicidade ou que não correspondiam ao universo selecionado, chegou-se ao número de cinquenta e sete respostas válidas, que constituíram a amostra da pesquisa. Quanto ao perfil dos sujeitos, houve uma maior representatividade feminina, com quarenta e duas respostas de docentes do sexo feminino e 142 quatorze do sexo masculino. Apenas uma professora era pessoa com deficiência. Em relação às funções desempenhadas (gráfico 1), 54,9% dos participantes se identificaram comoprofessores regentes e 45,2% se identificaram como profissionais da Educação Especial. Este último grupo foi formado por professores do AEE (16,1%); brailistas (6,5%); tradutores/intérpretes de libras (8,1%); professores do apoio escolar (11,3%) eprofessores da sala de recursos multifuncionais (3,2%). Gráfico 1.Funções desempenhadas Fonte: Elaborado pela autora (2020) Todos os docentes participantes da pesquisa eram vinculados à Rede Estadual de Ensino de Pernambuco, embora 9,7% deles tenham registrado um segundo vínculo, atuando concomitantemente na rede municipal. As escolas onde os docentes atuavam estavam localizadas nos municípios de Abreu e Lima, Camaragibe, Itamaracá, Itapissuma, Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda e Paulista, todos pertencentes à Região Metropolitana do Recife. No momento da pesquisa 35,5% dos docentes afirmaram que não estavam conseguindo realizar atividades remotas comos alunos público-alvo da Educação Especial. Essa afirmação foi feita tanto por professores regentes quanto por docentes da Educação Especial. Os principais motivos apontados foram a falta de equipamento e/ou acesso à internet por parte dos alunos; a não adaptação de alunos com transtorno do espectro autista (TEA) às aulas 54,9 16,1 6,5 8,1 11,3 3,2 Prof. Biologia/Ciências AEE Brailista TIL Prof. Apoio Prof. Sala de recursos 143 remotas e a falta de envolvimento das famílias. Esse afastamento do aluno com deficiência das atividades escolares pode trazer além de perdas nos processos de aprendizagem, perdas ligadas aos aspectos afetivos. Segundo Cury et al (2020, p. 4): A manutenção do vínculo afetivo e social do estudante com deficiência com o profissional da educação especial, professores da educação básica e colegas de sala de aula, é um fator importante a ser considerado durante este período de pandemia. Deve-se, dentro do possível, manter uma rotina regular. Para o estudante com deficiência estar afastado do contexto escolar pode gerar angústia, medo e insegurança, principalmente por não compreender a situação que passamos a vivenciar repentinamente. Assim, estabelecer contato com profissionais e professores, de forma online, pode ser muito importante para manter o vínculo social dos estudantes com deficiência e estabelecer um sentimento de pertencimento a um ambiente que fora frequentado presencialmente. Quanto aos docentes que desenvolveram atividades remotas, as respostas indicam que o público atendido foi constituído por alunos com deficiência física (4,8%); deficiência intelectual (27,4%); baixa visão (6,5); alunos com cegueira (6,5%); alunos surdos (8,1%); com deficiência auditiva (8,1%); com deficiências múltiplas (4,8%); discentes com TEA e outros transtornos (19,4%), síndrome de Down (3,1%) e com outras deficiências não especificadas pelos participantes da pesquisa (11,3%). As principais ferramentas digitais utilizadas para as aulas remotas (gráfico 2) foram o aplicativo WhatsApp; redes sociais (YouTube, Facebook, Instagram, Twitter e Linkedlin); plataformas de videoconferência (Google Meet, Zoom e Hangout); o Google Classroom e o e-mail. Outras ferramentas citadasem menor número, forampainéis colaborativos on-line e programas como o Balabolka. Os percentuais registrados no gráfico totalizam mais de 100%, pois todos os participantes registraram o uso de mais de uma ferramenta. Gráfico 2. Ferramentas digitais utilizadas 144 Fonte: Elaborado pela autora (2020) Além das ferramentas digitais, 3,2% dos docentes registraram o uso de materiais impressos ou fotocopiados. Os mesmos foram enviados às famílias dos alunos para o desenvolvimento das atividades remotas. Quantoàs atividades realizadas de modo remoto, destacam-se as chamadas de vídeo via WhatsApp para a orientação de atividades e produção de videoaulas, mencionadas por mais de um terço dos docentes. A ênfase na utilização do aplicativo WhatsApp é um indicativo de que prevalece entre os professores o uso do telefone celular, corroborando pesquisa de Marcon (2020). Os docentes também registraram atividades de suporte aos alunos surdos, como a interpretação em libras durante as aulas síncronas dos professores regentes; a gravação de vídeos em libras relativas ao conteúdo das videoaulas do Educa-PE; a realização de chamadas de vídeo via WhatsApp para envio em libras das orientações do professor regente ou para tirar dúvidas sobre as tarefas escolares. Com menor frequência foram também citadas as seguintes atividades: elaboraçãode atividades adaptadas para as aulas de Ciências e Matemática; elaboração de painéis colaborativos on-line e textos no Classroom; realização de jogos interativos e realização e/ou orientação de atividades de estimulação, de coordenação motora, de linguagem e recreação com o apoio da família. Sobre esta última atividade, cabe destacar que a pandemia deixou ainda mais evidente a importância da construção de parcerias com a família para a 87,1 58,1 51,6 51,6 35,5 3,2 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 145 inclusão escolar do aluno com deficiência. Como destaca Cury et al (2020), é muito importante o estabelecimento de um canal direto com a família dos alunos com deficiência para conhecer seus anseios, dificuldades e engajamento com as atividades sugeridas, possibilitando traçar e planejar o trabalho de modo a manter a rotina escolar. Ainda segundo os autores, [...] A relação escola-família se fortaleceu em razão da pandemia, com uma valorização recíproca para as instituições. Isto traz um resultadopositivo para inclusão, uma vez que esta aproximação é benéfica para o estudante com deficiência, transtorno do espectro autista e altas habilidades (CURY et al, 2020, p.14). Além das citadas atividades realizadas com a mediação de ferramentas digitais, foi registradopor 3,2% dos participantes o envio de cópia xerográfica de exercícios, textos oumaterial de estudo e a elaboração de atividades impressas realizada em parceria entre o professor regente e a professora do AEE para serem entregues à família de alunos que não tinham acesso à internet. Também foi registrado por 1,6% dos participantes da pesquisa a realização de conversas motivacionais pelo WhatsApp com os alunos, devido a questões relacionadas à saúde mental dos mesmos. Chama a atenção a ação dos docentes no sentido de, além do suporte pedagógico, oferecer também suporte emocional aos discentes. Em pesquisa realizada pela Fundação Carlos Chagas (2020a), mais da metade dos professores avaliaram que a ansiedade/depressão entre seus alunos havia aumentado, enquanto a aprendizagem havia diminuído. Ao fazer o recorte da Educação Especial, a Fundação Carlos Chagas (2020b) também apontou para a preocupação dos docentes com os aspectos emocionais de seus alunos e os esforços para manter a comunicação com eles e seus responsáveis periodicamente. Sobre esse último aspecto, Cury et al (2020, p. 4) destaca que: Para o estudante com deficiência estar afastado do contexto escolar pode gerar angústia, medo e insegurança, principalmente por não compreender a situação que passamos a vivenciar repentinamente. Assim, estabelecer contato com profissionais e professores, de forma online, pode ser muito importante para manter o vínculo social dos estudantes com deficiência e estabelecer um sentimento de pertencimento à um ambiente que fora frequentado presencialmente. 146 Quanto aos principais desafios apontados pelos docentes para o desenvolvimento das aulas remotas com o público-alvo da educação especial, sobressaiu-sea falta de equipamentos (computadores, tablets, celulares) e de acesso à internet pelos alunos, especialmenteos que residiam na zona rural. O problema foi apontado por 38,5% dos docentes. Como afirmam Oliveira e Pereira Júnior (2020), ‖a ausência de recursos tecnológicos, a falta de ambiente reservado para estudo, além da disponibilidade de computador e conexão de internet podem comprometer cabalmente a participação dos estudantes, mesmo os mais interessados‖ (OLIVEIRA; PEREIRA JÚNIOR, 2020, p. 732). Essa exclusão digital foi ainda agravada pela escassez de materiais e ferramentas digitais acessíveis, outro obstáculo também apontado pelos docentes, que registraram que isso causava dificuldades principalmente para a comunicação com alunos surdos e também para o trabalho remoto com alunos cegos. De acordo com Torres e Borges (2020, p. 834), ―a adoção de aulas remotas pode afetar consideravelmente populações que, tradicionalmente, enfrentam desvantagem, como os estudantes do PAEE‖. Ainda segundo os autores, as aulas mediadas pelas tecnologias podem não ter a acessibilidade necessária e com isso podem reforçar práticas de exclusão. Além disso, a quebra na rotina escolar diária pode comprometer o envolvimento de alguns alunos, como os com autismo, mais sensíveis a mudanças (TORRES; BORGES, 2020). Todos os problemas supracitados podem estar relacionados a outro desafio para o desenvolvimento do trabalho remoto com os alunos público-alvo da Educação Especialapontado pelos docentes, a falta de interesse/participação dos alunos nas aulas remotas. Ao tratar sobre a escolarização de alunos com deficiência durante a pandemia da covid-19, Magalhães (2020) destaca que as desigualdades sociais acentuadas no Brasil pela pandemia vêm acompanhadas pela exclusão digital, penalizando os estudantes mais carentes, passando por dificuldades como a falta de acesso à equipamentos tecnológicos e internet, até a falta de 147 alimentação, gerando maiores riscos de perdas de aprendizagem e de evasão escolar. Segundo Nascimento, Sousa e Versolato (2020, p. 1), apandemia da covid-19 [...] evidenciou mais ainda as fragilidades da educação brasileira quando nos deparamos com a realidade de que o acesso ao ensino remoto não contempla a todos, revelando uma intrínseca insuficiência [...] Esta lacuna é ainda maior quando pensamos na perspectiva da Educação Inclusiva e na garantia do direito à educação das pessoas com deficiência. Os professores também apontaram algumas dificuldades na relação da família com a escola como um dos maiores desafios enfrentados, registrando problemas como a baixa adesão dos responsáveis pelos alunos no acompanhamento e suporte das atividades escolares. Inclusive, para alguns docentes, esse foi um dos problemas que mais se agravou durante a suspensão das aulas presenciais. Esses dados corroboram os encontrados em pesquisa desenvolvida pelo GESTRADO/UFMG, que registra as dificuldades das famílias em colaborar para garantir a execução das atividades remotas (GESTRADO, 2020). Outro desafio apontado pelos professores para a realização das aulas remotas está relacionadoa lacunas na sua formação para desenvolver o trabalho mediado pelas ferramentas digitais. A falta de conhecimento sobre o uso das tecnologias foi considerado um grande entrave para o desenvolvimento das aulas remotas. Ao que alguns acrescentaram a falta de equipamentos adequados ou de acesso à conexão de internet de boa qualidade. Em pesquisa realizada com mais de quinze mil professores de redes públicas, o GESTRADO (2020) destaca a ausência de formação específica para grande parte dos docentes. [...] Embora possuam recursos tecnológicos, mais da metade (53,6%) não possui preparo para ministrar aulas não presenciais. Caso precisassem realizar atividade de ensino à distância, apenas 3 a cada 10 professores(as) da Educação Básica possuem tanto recursos tecnológicos quanto preparo necessário à realização das atividades. (GESTRADO, 2020, p. 706). 148 Neste sentido, como a realização da pesquisa visava trazer subsídios para a proposição das ações de formação docente realizadas pelo Projeto INCLUBIO, a terceira e última parte do questionário abordou necessidades formativas para o desenvolvimento das atividades remotas com o público-alvo da Educação Especial. As temáticas sugeridas com maior frequência pelos docentes foram o uso de ferramentas digitais acessíveis/acessibilidade web, a adaptação de materiais para alunos com deficiência visual, discussões sobre a relação família-escola durante a pandemia, a inclusão de alunos com o transtorno do espectro autista (especialmente nas séries finais do ensino fundamental), a educação de surdos no contexto remoto, produção de vídeos em libras, audiodescrição de imagens ligadas à Biologia e o papel do intérpretede libras no ensino híbrido. Quanto aos formatos das atividades de formaçãoque seriam mais adequados para os docentes, as respostas foram as seguintes: seminários on- line (45,2%), palestras (43,5%), relatos de experiência (38,7%), oficinas (37,1%), exposição virtual de materiais didáticos inclusivos (35,5%), rodas de conversa (33,9%) e apresentação de vídeo-pôster (12, 9%). As respostas totalizaram mais de 100%, pois todos os sujeitos assinalaram mais de um tipo de atividade. Quanto ao tipo de transmissão, 58,5% preferiam a transmissão ao vivo pelo YouTube ou por vídeoconferência. A partir das respostas dos docentes ao questionário on-line, o Projeto INCLUBIO obteve dados para fundamentar a proposição de ações que dessem resposta a algumas necessidades formativas dos professores de Biologia/Ciências e da Educação Especial para o atendimento aos alunos com deficiência durante a suspensão das aulas presenciais e desenvolvimento das atividades remotas no contexto da pandemia da covid-19 em Pernambuco. Dentre as ações desenvolvidas em 2020, o projeto realizou um evento intitulado ―Semana de Educação Inclusiva no Ensino de Biologia‖ (SEIBIO) entre os dias 21 e 25 de setembro, com transmissão pela plataforma YouTube e oficinas on-line em plataformas de videoconferência, como o Google Meet, nos quais foram abordadas temáticas relacionadas aos desafios elencados pelos professores, como o papel das tecnologias assistivas na inclusão digital 149 das pessoas com deficiência visual, a adaptação de materiais para alunos com deficiência, discussões sobre a relação família-escola durante a pandemia, a inclusão de alunos com o transtorno do espectro autista (especialmente nas séries finais do ensino fundamental), a educação de surdos no contexto remoto (incluindo elaboração de glossários em libras) e a audiodescrição em contextos educacionais. Além disso, na SEIBIO foi reservado um espaço para que os professores socializassem experiências desenvolvidas remotamente. Esse compartilhamento de vivências possibilitou a troca de conhecimentos entre os docentes, sendo avaliado positivamente por eles. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os dados da pesquisa aqui socializados, em um âmbito mais restrito, possibilitaram à coordenação do Projeto INCLUBIO a elaboração de um diagnóstico inicial sobre os desafios enfrentados pelos docentes de Biologia/Ciências e da Educação Especial para a inclusão escolar de alunos com deficiência e as condições do atendimento desse público em escolas da Rede Estadual de Ensino de Pernambuco no contexto pandêmico, contribuindo, assim, para nortear as ações realizadas pelo projeto em 2020. Contudo, em uma perspectiva mais ampla, os resultados ora apresentados também podemtrazer subsídios para as discussões sobre os impactos da pandemia da covid-19 na Educação Especial, pois permitiram identificar as principais dificuldades enfrentadas pelos professores no atendimento aos alunos com deficiência em escolas pernambucanas, bem como o público atendido, as ferramentas utilizadas pelos docentes e as atividades realizadas de modo não presencial. Neste momento em que as escolas retornam gradualmente ao ensino presencial em todo o país, com o avanço da vacinação, mas também ainda em meio a altos números de contaminados com o novo coronavírus e com mais de 560 mil brasileiros mortos pela covid-19, além dos cuidados com os protocolos para a convivência segura no ambiente escolar, é preciso também um exame acurado sobre as condições pedagógicas, físicas e psicológicas de alunos e 150 professores para esse retorno, bem como da infraestrutura das escolas. Assim, é necessário fazer um balanço sobre tudo o que foi vivenciado nesse mais de um ano de escolas fechadas: os entraves que impediram o pleno desenvolvimento dos alunos público-alvo da Educação Especial no ensino remoto, os recursos disponíveis (ou não) a discentes e docentes, as lacunas na formação dos professores, as angústias enfrentadas, entre outros aspectos, para que possam ser enfrentados e para que um novo modo de viver a escola seja planejado para que nenhum aluno fique para trás no presente cenário que ainda é cercado de incertezas. REFERÊNCIAS BAUCH, Kátia B.; LÖHR, Suzane S. Recursos para a promoção da inclusão na escola. In: PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Os Desafios da Escola Pública Paranaense na Perspectiva do Professor PDE, 2014. Curitiba: SEED/PR., 2016. V.1. (Cadernos PDE). 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Acesso em 02 abr. 2020. https://www.fcc.org.br/inclusao-escolar-em-tempos-de-pandemia/ http://retratosdaescola.emnuvens.com.br/rde https://doi.org/10.12957/riae.2020.53647 http://periodicos.unesc.net/criaredu/article/view/6047 https://anped.org.br/news/o-impacto-da-pandemia-na-educacao-especial-na-perspectiva-da-educacao-inclusiva-um-balanco https://anped.org.br/news/o-impacto-da-pandemia-na-educacao-especial-na-perspectiva-da-educacao-inclusiva-um-balanco http://retratosdaescola.emnuvens.com.br/rde https://legis.alepe.pe.gov.br/texto.aspx?tiponorma=6&numero=48809&complemento=0&ano=2020&tipo=&url= https://legis.alepe.pe.gov.br/texto.aspx?tiponorma=6&numero=48809&complemento=0&ano=2020&tipo=&url= http://www.educacao.pe.gov.br/portal/?pag=1&cat=37&art=5590 152 SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E ESPORTES. Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco lança nova plataforma para estudos online. Publicado em 17 abr. 2020b. Disponível em: http://www.educacao.pe.gov.br/portal/?pag=&cat=37&art=5599.Acesso em 27 ago. 2020. TORRES, Josiane P.; BORGES, Adriana A. P. Educação especial e a Covid- 19:o exercício da docência via atividades remotas. Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 14, n. 30, p. 824-841, set./dez. 2020. Disponível em: <http://http://retratosdaescola.emnuvens.com.br/rde/article/view/1205>. Acesso em: 15 jul. 2021. UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura. A UNESCO reúne organizações internacionais, sociedade civil e parceiros do setor privado em uma ampla coalizão para garantir a #AprendizagemNuncaPara. Publicado em 26 mar. 2020 (2020a). Disponível em: https://pt.unesco.org/news/unesco-reune-organizacoes-internacionais- sociedade-civil-e-parceiros-do-setor-privado-em-uma. Acesso em: 31 jul. 2020. UNESCO. COVID-19 - Situação da Educação no Brasil (por região/estado). Publicado em 16 abr. 2020 (2020b). Disponível em: https://pt.unesco.org/fieldoffice/brasilia/expertise/covid-19. Acesso em: 31 jul. 2020. http://retratosdaescola.emnuvens.com.br/rde/article/view/1205 https://pt.unesco.org/news/unesco-reune-organizacoes-internacionais-sociedade-civil-e-parceiros-do-setor-privado-em-uma https://pt.unesco.org/news/unesco-reune-organizacoes-internacionais-sociedade-civil-e-parceiros-do-setor-privado-em-uma https://pt.unesco.org/fieldoffice/brasilia/expertise/covid-19 153 PSICOMOTRICIDADE NA PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA: NO AEE - ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO NA EDUCAÇÃO BÁSICA Maria Aparecida Dantas Bezerra¹; Willyam Ramon de Moura Raulinho² ¹ Doutora em Ciências da Educação – Universidade Francis Xavier- UNIXAVIER, Mestra em Ciências da Educação Multidisciplinaridade - Universidade Gama Filho-UGF, Pesquisadora e Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional, Educação Especial e Práticas Inclusivas- Faculdade Escritor Osman da Costa Lins – FACOL, Escrita Científica Avançada- ALPHA, AEE-Atendimento Educacional Especializado e Psicomotricidade-FAVENI. Graduada em Pedagogia Pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Curso De Aperfeiçoamento Em Educação Do Campo Para Professores De Escolas Multisseriadas e Quilombolas - Programa Escola da Terra – Universidade Federal De Pernambuco. Membro Fundadora da Associação Limoeirense de Letras e Arte (ALLA), onde ocupa a função de tesoureira. Sócia da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil- Coordenadoria Pernambuco. Professora Pública da Rede Municipal de Passira- Pernambuco/Brasil. Professora da Faculdade Luso- Brasileira-FALUB/Brasil no curso de Pedagogia. Coordenadora da Educação Inclusiva do Município de Passira-PE, Articuladora Territorial da Educação do Campo em Passira-Pe. Escritora, Orientadora e Avaliadora de trabalhos científicos. ² Ensino médio completo, atualmente está cursando o oitavo período da Graduação em Fisioterapia no Centro Universitário Brasileiro UNIBRA. Tem curso prático de Auriculopuntura, Acupuntura Clínica, Ventosaterapia e Liberação Miofascial. RESUMO O presente artigo tem como objetivo apresentar a psicomotricidade na prática docente do atendimento educacional especializado na psicogênese da língua escrita dos estudantes com deficiência na educação infantil e ensino fundamental I da educação básica. Neste contexto sabe-se, que o AEE é uma proposta de ensino que visa ofertar ao discente com deficiência a oportunidade no período inverso, recebendo o atendimento especializado em todas as etapas, níveis e modalidade, na qual seja feito no contra turno da rede regular de ensino. Diante da pesquisa observa-se que o sistema representativo da leitura e da escrita se inicia desde da educação infantil e do ensino fundamental I para as crianças e adolescente com deficiência, na qual, passou a ser interpretado de maneira diferenciada considerando a construção de seu próprio conhecimento. Tendo como referencial teórico Ana Teberosky (2015), Emília Ferreiro (2015), Magda Soares (2016) dentre outros. Palavras chave: Prática Docente; AEE; Psicogênese; Psicomotricidade. INTRODUÇÃO 154 A presente pesquisa respalda-se em analisar a psicomotricidade na psicogênese da língua escrita na prática docente do Atendimento Educacional Especializado (AEE) na educação básica, elencando os estudantes com deficiência da educação infantil e ensino fundamental I. Segundo Emília Ferreiro e Ana Teberosky relata que a Psicogênese da Língua Escrita tem insistido em dois pontos essenciais, para entendermos um código, mas, sim, se apropriar de um sistema notacional. Nota-se, que diante da reflexão para atender o propósito da psicogênese da língua escrita, no AEE na sala Multifuncional deve esta presenta um suporte teórico construtivista, no qual o conhecimento apareça como algo a ser produzido pelo indivíduo, que perpassa a ser visto como sujeito e não como objeto do processo de aprendizagem na construção da alfabetização das crianças com deficiência. Segundo Rosângela Pires dos Santos (2015) afirma, que a psicomotricidade é a relação entre o pensamento, envolvendo a emoção. Assim, analisa-se que o processo de aprendizagem dar-se-á diante das emoções e dos estímulos cognitivos dos estudantes. Diante dessa realidade, a escolha do tema da presente pesquisa ocorreu em função de acreditar que os estudantes com deficiência são capazes de aprender desde da educação infantil o processo da leitura e escrita perpassando os entraves que são mediados na construção da psicogênese referente a psicomotricidade na prática docente na concepção de alfabetização consideradas não-críticas. Assim, inicialmente irá ser realizada uma pesquisa de campo qualitativa de um estudo de caso com algumas reflexões sobre a psicogênese da língua escrita no AEE na sala multifuncional, em seguida socializar-se o caminho metodológico desenvolvido apresentando os resultados detectados. A PSICOMOTRICIDADE E AS HABILIDADES DA PSICOGÊNESEDA LÍNGUA ESCRITA NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL 155 Apresenta-se, que a psicomotricidade está relacionada a uma prática criada na década de 1970 pelo educador francês André Lapierre. Assim, observou-se que esta teoria perpassa na prática educativa com um valor preventivo e terapêutico, que permite aos estudantes expressar seus conflitos relacionais para superá-los por meio do brincar e de atividades lúdicas. Construindo maneira, para estimular ajustes positivos para os distúrbios comportamentais, cognitivos e sociais de todas as pessoas. Possibilita-se o incentivo do aprendizado despertando nas crianças o interesse em aprender, superar os seus medos e anseios, melhorando a produtividade, prevenir dificuldades de expressão, estimular a criatividade, promover a aceitação, conhecer novas pessoas, socializar com pessoas diferentes, aceitar as diferenças, elevar a autoestima e aceitar limites. Acrescenta-se, na psicomotricidade o relacionamento tornando-se uma ferramenta para promover a inclusão, por meio de jogos simbólicos, comunicação corporal e também para facilitar a educação inclusiva dentro da sala de aula. Com estratégia e dedicação, onde será possível fazer com que todos convivam em harmonia, não importa seus medos, limitações ou dificuldades dentro do contexto escolar e social. Deu-se, então a construção da política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva com os estudantes com deficiência para assim brincar, aprender e se divertir no mesmo ambiente que os estudantes ditos normais. Mantendo o contato com o próximo permitindo desenvolva melhor as suas habilidades e cresça que cada um tem dentro de suas limitações. Aponta-se que o professor nesta intervenção é o propulsor fundamental do conhecimento nessa trajetória, sendo o orientador que promove as atividades e conduz os estudantes para serem pessoas mais tolerantes e respeitosas. Contudo, sabe-se que ainda existem muitas dificuldades nesse caminho, por isso, investir é de extrema importância para que o professor possa aprimorar os seus conhecimentos para enfrentar as suas principais dificuldades dentro de sua sala de aula, criando para todos um ambiente prazeroso. 156 Segundo Brandão e Ferreira (2013), a filosofia da inclusão apela para uma escola que tenha em atenção a criança - todo, e não só a criança - aluno, respeitando os níveis de desenvolvimento essenciais (acadêmico, sócio emocional e pessoal) de forma a lhe proporcionar uma educação apropriada, orientada para a maximização do seu potencial. Revela-se, que é necessário todo o profissional que atua no desenvolvimento e na aprendizagem do estudante com deficiência que tenha um olhar multicultural sobre o contexto educacional, para poder proporcionar um ensino de qualidade para todos, com uma parceria articulada ao contexto educacional garantindo uma essência no aspecto de cada estudante com deficiência ou dito normal, despertando a psicogênese da língua escrita através da psicomotricidade. DESCOBRINDO A PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA NA PRÁTICA DOCENTE DO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO Pode-se dizer que a psicogênese da língua escrita vai sendo gradativamente desenvolvida desde dos primeiros dias de aula, transformando seu conhecimento de mundo em seu conhecimento cientifico, onde o professor da sala de aula regular e da sala multifuncional oferta em seu AEE uma sondagem inicial ou um diagnóstico da turma, na qual permite identificar quais hipóteses estão presentes na língua escrita, onde o professor irá adequar seu planejamento de acordo com as necessidades de aprendizagem referente aos estudantes com deficiência. Além disso, é notório a representação de um momento, no qual as crianças têm a oportunidade de refletir, com a ajuda do professor, sobre aquilo que escrevem diante da representação dos símbolos nas atividades lúdicas que são realizadas na sala multifuncional, com ênfase no alfabeto móvel, fichas com desenhos e nomes relacionados, o uso do computador para identificar as figuras, letras iniciais letras finas das palavras, rabiscos, garatujas dentre outros, utilizados no processo de alfabetização. Segundo Emília Ferreiro e Ana Teberosky observa-se, que na tentativa de compreender o funcionamento da escrita, as crianças elaboram verdadeiras 157 "teorias" explicativas que assim se desenvolvem as hipóteses da escrita pré- silábica, a silábica, a silábica-alfabética e a alfabética. Esta reflexão éimportante no ponto de vista da prática pedagógica, pois revelam que os pequenos já começaram a pensar sobre a escrita antes mesmo de ingressar na escola e que não dependem da autorização do professor para iniciar esse processo. Diante deste contexto percebe-se, que a psicogênese da língua escrita, foi criada para mudar os métodos tradicional para o construtivista desenvolvendo técnicas da diversidade de gêneros textual possibilitando o processo de aprendizagem em divergentes contexto na intervenção do professor e estudantes, assim é desenvolvido na Sala Multifuncional novas metodologias no AEE para construir o processo de ensino aprendizagem,dos discentes e docente onde poderão vencer mais esse desafio de superação no quesito de aprendizagem. ―Capacidade de focalizar os sons das palavras, dissociando-os de seu significado, e de segmentar as palavras nos sons que as constituem caracteriza a consciência fonológica‖. (SOARES, 2016, p.166) É marcante neste momento o processo fonológico onde os estudantes com deficiência vão se identificando com o processo da alfabetização passando ter a compreensão de que o que falamos pode ser escrito e pode ser discriminado e manipulado com os sons da fala. Figura 1. Listas de Compras com Embalagens Recicladas Fonte: Maria Aparecida Dantas Bezerra (2021) 158 Dentro desta perspectiva, é valido ressaltar que o professor da sala multifuncionais desenvolvem com as crianças com deficiência atividades que as façam identificar e compreender o que é uma ―palavra‖, quantas sílabas elas têm e quais são os fonemas que as formam, fazendo a correspondência entre os fonemas que são impronunciáveis, e as letras que os representam, onde observa-se que só assim é possível aprender a ler e escrever dentro das habilidades de cada um. PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL Passa-se, a entender que a escrita e a leiturano desenvolvimento da educação infantil sãoapresentadas por Magda Soares no processo da fase pré fonológica elencando a representação da escrita icônico na apresentação dos desenhos e garatujas por trações, deixando explicito que a psicogênese não é um método a ser seguido pelos professores, são trabalhos concomitantes a serem seguidos pelos professorese estudantes, apropriandoo processo de alfabetização diante da sua fase pré-silábica. Salienta-se, que o domínio da escrita e da leitura desde da educação infantil ao ensino fundamental serão construídos pela faixa etária das crianças sejam elas ditas normais ou com deficiência, dentro dos requisitos solicitados conforme a habilidade de todas nas contribuições oferecidas pela psicogênese descrevendo como as crianças se apropriam da cultura escrita, não prescrevi uma metodologia ou inventa práticas pedagógicas de alfabetização, forneci um instrumento ao professor para aferir os conhecimentos linguísticos das crianças com deficiência,passando a entender que a partir da escrita espontânea a criança pensa sobre as regras que constituem o sistema de escrita, se apropriando e internalizando o seu conhecimento. Enfatiza-se, que a criança com deficiência e dita normal começa a entender o processo de alfabetização diante da visão de mundo no seu contexto familiar, tendo como desenvolvimento o processo de aprendizagem, aprimorando seu conhecimento prévio adquirido.159 Sabe-se que a escola deve adaptar em sua prática social que o estudante com deficiência seja um sujeito cognoscente, modificando seus esquemas assimiladores nos desafios com erros construtivos, na qual, passa representar desenhos pela escrita, despertando o processo de letramento e alfabetização identificando algumas letras no seu despertar para escrita, ondeseu primeiro passo torna-se os desafios possível elaborando hipótese alfabética, diante dos conflitos cognitivos, nos erros e acertos, passando a associar o tamanho do objeto ao tamanho da palavra usando o realismo nominal. Figura 2. Estimulação Cognitiva no Processo de Alfabetização e Letramento Fonte: Maria Aparecida Dantas Bezerra (2021). Deve-se entender que aquilo que se vive na prática da pedagogia do alfabetizar letrando do professor da sala de Atendimento Educacional Especializado irá ser oportunizado nas relações e correlações, diante dos exercícios, observações, auto avaliações e aperfeiçoamento na execução das tarefas no processo de aprendizagem, diferenciando a qualidade da quantidade de coisas que se aprender no curso de nossas vidas em sala de aula. Vale ressaltar, que toda criança e adolescente com deficiência desde da educação infantil ao ensino fundamental tem uma das funções comprometidas, seja ela física, psicológica, cognitiva ou sensorial, mais isso não significa que ela é incapaz de aprender e desenvolver suas habilidades diante do processo de ensino e aprendizagem, quando o professor da sala multifuncional e da sala regular lhe possibilitam o acesso dentro de suas habilidades ao conhecimento da psicogênese da língua escrita, irá acontecer de forma construtiva o processo de ensino aprendizagem. 160 METODOLOGIA O referente estudo foi desenvolvido por meio de uma pesquisa de campo de cunho qualitativo e bibliográfico diante de um estudo de casocom estudantes e professores do Atendimento Educacional Especializado da sala multifuncional para a argumentação da pesquisa realizada. De acordo com Castilho, Borges e Pereira (2014, p. 20), a pesquisa de campo – busca gerar conhecimentos de acordo com o problema. Têm como base projetos de pesquisa para determinar as hipóteses, os ―objetivos e a metodologia utilizada para efetuar as observações controladas, as variáveis a serem observadas e analisadas, a amostragem, a técnica de coleta de dados, a preparação das informações e a análise estatística‖. Segundo Verztman (2013, p. 71), ―um estudo de caso é, portanto, um método naturalístico e é uma forma de estudo que visa a descrição e a compreensão do singular‖ acreditando que este possa contribuir para a compreensão de uma realidade maior. RESULTADOS E DISCUSSÃO Aponta-se no resultado da análise dos dados na prática docente de alfabetização e letramento do Atendimento Educacional Especializado diante da psicogênese da língua escrita dos estudantes com deficiência na educação infantil e ensino fundamental I da educação básica, a flexibilidade da estratégia relativamente do caso coletado, analisado e interpretado os dados, salientando sua versatilidade. Na estratégia por diferentes esferas de conhecimento, da atuação clínica na construção da pratica do ensino dos professores de AEE das salas multifuncionais, ressaltando seu papel na construção do conhecimento na área, portanto é necessário compreender a prática pedagógica como elemento de produção do conhecimento diante da psicomotricidade, com precisão do alfabetizar letrando na correspondência da psicomotricidade. 161 PROFESSORES LETRAMENTO ALFABETIZAÇÃO A, B, C, D, E, F De que forma o professor da sala multifuncional trabalhar a perspectiva do letramento no AEE? Quando a criança que está sendo atendida na sala de recurso está alfabetizada? A ―Ensinar os códigos linguísticos propostos diante da imagem e escrita espontânea.‖ ―Quando, começa a desperta que o uso do código da escrita está usado nas palavras.‖ B ―É ensinar apenas regras de leituracom gêneros textuais, músicas, fabulas, contos, poesia e poemas.‖ ―Quando o estudante identificar diante dos gêneros textuais, a leitura, escrita e interpretar.‖ C ―É ensinar aprender os tipos de letras e leitura com ditado mudo, com bingo de letras, com jogos usando material reciclado formando as palavras com tampas de garrafa pet e caixa de sapato.‖ ―Quandoidentifica os símbolos da comunicação nas palavras e frases simples.‖ D ―É ensinar o saber ler, escrever comtextos fatiados, com o alfabeto móvel.‖ ―Quando usa a reprodução das letras.‖ E ―É ensinar ler e escrever através de dramatização de textos desenvolvendo habilidades relacionado a escrita e leitura. ―Quando sabem chegar ao princípio de leitura, escrita e interpretação.‖ F ―É ensinar o reconhecimento das letras nas fichas de palavras com ojogo de letras e dado.‖ ―Quando sabem reconhecer que as palavras são escritas por letras e não por símbolos, desenhos e garatujas.‖ Fonte: Professores A, B, C, D, E, F da sala Multifuncional 2021 162 CONSIDERAÇÕES FINAIS Revela-se, que uma escola nova tem a perspectiva de uma escola inclusiva diante do fazer pedagógico da prática do contexto social do professor, tendo em vista esta concepção, foi notório neste estudo de caso que o professor da sala multifuncional tem trabalhado em sua pratica metodológica o processo de ensino aprendizagem despertando a psicogênese da língua escrita dos estudantes com deficiência conforme as suas habilidades desenvolvidas em sua psicomotricidade. Portanto, fica explicito que toda criança com deficiência desde da educação infantil ao ensino fundamental é capaz de aprender o processo de alfabetização e letramento dentro de suas possibilidades, principalmente quando o professor lhe oferta oportunidades que garantam a parceria do professor e do estudante desenvolvendo a sua criatividade, responsabilidade e comprometimento para conseguir êxito, transformando seu conhecimento de mundo social em cientifico diante das conquistas nas atividades psicomotoras trabalhadas no contexto escolar. REFERÊNCIAS CASTILHO, Auriluce Pereira; BORGES, Nara Rúbia Martins; PEREIRA, Vânia Tanús. (Org.). Manual de metodologia científica do ILES Itumbiara: ILES/ULBRA, 2014. FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. 24. ed. São Paulo: Cortez, 2001 (Coleção Questões da Nossa Época; v. 14). FERREIRO, Emília; Teberosky, Ana. A Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999. 304 p. VERZTMAN, J. S. (2013). Estudo psicanalítico de casos clínicos múltiplos. In A. M. Nicolaci-da-Costa, & D. R. Romão-Dias (Orgs.). Qualidade faz diferença: métodos qualitativos para a pesquisa em psicologia e áreas afins (pp. 67-92). Rio de Janeiro, RJ: Loyola. SOARES, Magda As muitas Facetas da Alfabetização. Cadernos de pesquisa, 2016. 163 A IMPORTÂCIA DA INCLUSÃO ESCOLAR NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DO INDIVÍDUO SURDO Mayara Vieira dos Santos Serrano1 ¹ Graduada em Pedagogia e Especialista em Educação Especial pela Faculdade Joaquim Nabuco. Professora AEE da Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes RESUMO A Educação Inclusiva é o pontapé inicial para que o processo de alfabetização do indivíduo surdo aconteça de maneira natural e eficiente. Desta maneira, o questionamento foi como ocorre de fato a relação entre a inclusão escolar e a alfabetização do surdo? O objetivo central da pesquisa foi entender o contexto histórico da problemática e pautar a forma como interagem, proporcionando uma melhor assimilação para os envolvidos. Para a realização do artigo, foi escolhida a pesquisa descritiva, onde foram analisados os estudos de teóricos que abordam o assunto, leis e intervenções governamentais criadas para legitimar o direito das pessoascom deficiência ao acesso e permanência na escola. A pesquisa demonstrou que a ligação entre os temas é quase simbiótica se analisarmos que a inclusão escolar precisa de fato acontecer, envolvendo e dando recursos formativos para que os professores possam ofertar uma mediação efetiva, fazendo com que o processo de Alfabetização do aluno surdo ocorra de modo fluido, natural e positivo. Palavras-Chave: Educação Inclusiva; Alfabetização; Inclusão Escolar; Professor. INTRODUÇÃO A trajetória de luta visando a garantia ao acesso à educação de qualidade para as pessoas com deficiência auditiva é marcada por eventos históricos oscilantes, mas que foram de suma importância para a compreensão e aderência da LIBRAS2 como ferramenta fundamental no processo de desenvolvimento linguístico do indivíduo e para a percepção que a inclusão escolar não está pautada apenas em permitir o acesso do aluno a escola, mas 2 LIBRAS: Língua Brasileira de Sinais 164 em oferecer oportunidades dignas de aprendizagem e iniciativas que vão desde a oferta de interpretes de LIBRAS, formação continuada para professores, entre outras coisas. A inclusão escolar para as pessoas com deficiência auditiva é fundamental para amparar legalmente o direito de todos a educação, mas é preciso unir para incluir, pois manter a pessoa com deficiência dentro do ambiente educacional sem buscar ferramentas e adequações que facilitem e possibilitem a educação efetiva é segregar o que está incluso, pois incluir, (TUNES; BARTHOLO, 2006, p. 147) ―[...] não significa apenas colocar no próprio ninho o estranho que vem de fora, sequestrando-o de sua vida plena; ao contrário, requer um sair de si e ir ao seu encontro, ofertando-lhe aquilo de que efetivamente, necessita‖. A Educação Especial3 ligada a perspectiva de inclusão aponta o reconhecimento e valorização do diferente, princípio que impulsiona as instituições educacionais a garantir o acesso e a permanência dos estudantes em um espaço comum de aprendizagem. Tais iniciativas são percebidas quando podemos acompanhar o aumento das matrículas de alunos com deficiência, em especial o ingresso de surdos, no ensino regular. Avaliando a importância de receber e manter o aluno na escola com iniciativas atrativas, este artigo traz a vinculação da educação inclusiva com o processo de alfabetização do discente, apresentando como acontece o processo de aquisição da linguagem e as possibilidades para a aprendizagem da LIBRAS, sem desconsiderar que o ambiente acolhedor e em que o aluno consiga se sentir parte atuante facilita a compreensão dos objetivos esperados. A proposta de entender como de fato a inclusão escolar está diretamente ligada com o processo de alfabetização do indivíduo surdo está embasado em estudos propostos por diversos teóricos, levando em consideração que a linguagem é a porta de entrada para a aprendizagem da leitura e escrita. Nesse sentido,é possível compreender Vygotsky (2006) que enfatiza que a linguagem é o carro chefe das interações pessoais e sociais, 3 Ramo da educação voltado para o atendimento e educação de pessoas com alguma deficiência. 165 trazendo a associação do significado das palavras como resposta as questões que relacionam pensamento e fala. As reflexões propostas acima, acrescida de outras, serão discutidas nos tópicos a seguir. Apresentando inicialmente a relação histórica da educação inclusiva e educação dos surdos, apresentando leis e intervenções governamentais e a simbiose que existe entre a inclusão e o processo de alfabetização do aluno com deficiência auditiva. EDUCAÇÃO INCLUSIVA E EDUCAÇÃO DOS SURDOS A luta pela educação inclusiva e pela educação dos surdos são esforços que seguem unidas ao logo da história por sua obstinação em conquistar direitos iguais e de qualidade para aqueles que por tanto tempo ficaram a margem da educação por serem diferentes. Graças a políticas públicas criadas com o objetivo de tornar mais justa a educação, como a Lei de Diretrizes de Base da Educação Nacional – LDB nº9394/96, Diretrizes nacionais para Educação Especial, política Nacional de Educação Especial (2001), na perspectiva da Educação Inclusiva (2008) e, mais recentemente, A Lei Brasileira de Inclusão (2015), entre outras, as pessoas com deficiência auditiva puderam enxergar a oportunidade de ser incluída no sistema educacional em busca de formação eficiente e qualificada para a construção do conhecimento e pela possibilidade de um futuro mais justo e digno, no entanto, muito aconteceu durante esse processo, tornando a caminhada oscilante. Como se não bastasse toda a história que cerca as pessoas com deficiência auditiva, por muito tempo era possível encontrar ambientes educacionais que dificultavam a inclusão e buscavam a padronização de um modelo considerado ―normal‖, onde o que fugisse desse contexto, esbarrava em barreiras atitudinais que minimizavam as conquistas obtidas. Em um cenário tão perturbador, devemos considerar as intervenções dos que se colocaram a favor da causa das pessoas com deficiência e criaram com muito empenho, intervenções governamentais para derrubar tais barreiras, 166 como por exemplo, a Declaração de Salamanca4, que visa a melhoria do acesso à educação para todos e a urgência da garantiade educação para as crianças, jovens e adultos com necessidades educacionais especiais dentro do sistema regular de ensino e, em território nacional, a Constituição de 1988, que garante a educação como direito de todos e deverdo Estado e família com plena participação da sociedade. Existem indícios da Idade Moderna que a educação dos surdos teve início no século XVI e seus primeiros professores foram o monge Frances Ponce de León (1520-1584), que viveu em um mosteiro beneditino na Espanha. Embora ele tenha servido de exemplo para muitos professores de surdos, não existem muitos documentos que possam mostrar como era a sua metodologia, pois naquela época os trabalhos educacionais para esse público eram mantidos em sigilo. Nesse mesmo período, muito se falou do padre Juan Pablo Bonet, que criou o alfabeto manual. Por mais que os indícios apontem que a educação dos surdos tenha começado no século XVI, foi o século XVIII que ficou conhecido por ser um tempo oportuno para os não ouvintes, pois com a língua de sinais mais elaborada que no século de sua criação, os surdos puderam exercer várias funções e dominar diversos assuntos, o que embasa a exemplificação de VYGOTSKI (2011, p.868) quando traz que, ―a fala não está obrigatoriamente ligada ao aparelho fonador; ela pode ser realizada em outro sistema de signos, assim como a escrita pode ser transferida do caminho visual para o tátil‖, ou seja, a limitação relacionada a ausência de fala no surdo não impede que este possa desenvolver meios alternativos de comunicação. Porém, na idade Contemporânea, a língua de sinais foi considerada, como insuficiente e em 1880, no Congresso de Milão5, foi definida a abolição dos sinais e a introdução de uma educação baseada na leitura labial e o método oral puro na tentativa de ―normalizar o indivíduo surdo‖. A regra era curar, 4 Documento elaborado em 1994 na Conferência Mundial sobre Educação Especial na cidade de Salamanca na Espanha. Considerada um dos principais documentos mundiais que visam a inclusão social e é resultado de uma tendência mundial que consolidou a educação inclusiva como direito de todos com necessidades especiais. 5 Primeira Conferência Internacional de Educadores de Surdos, onde especialista, em sua grande maioria ouvintes, se reuniram para discutir os rumos da educação das pessoas surdas, chegando à conclusão que a língua de sinais era um retrocessona evolução da linguagem, abolindo-a e adotando a oralização como ferramenta principal. 167 normalizar o indivíduo surdo, introduzindo a ele a linguagem oral, para que dessa forma o processo de alfabetização fosse similar ao dos ouvintes. Após 100 anos de reinvindicações, foi provado que esse método de ensino não era relevante e prejudicava os surdos, constatando o fracasso da metodologiafazendo com que o mesmo congresso voltasse atrás e concordasse em trazer de volta os sinais para a educação dos deficientes auditivos. Atualmente o método mais usado é o bilinguismo, que aqui no Brasil é organizado tendo a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS como língua materna e Língua Portuguesa Escrita, como a segunda língua. Nesse sentido, MARIA GÓES (1996) afirma que ―a introdução da língua de sinais é necessária para que sejam oferecidas condições mais propícias à expansão das relações interpessoais‖. Entendendo as palavras de JOSÉ PIRES (2006 p. 47), percebe-se que cabe também a escola, enquanto escola inclusiva, criar meios e estratégias para garantir a educação de todos os discentes da instituição, sendo ele deficiente ou não. Além das adaptações na estrutura escolar para facilitar o acesso e revisão do currículo escolar, é de extrema importância que seja garantido ao aluno a oportunidade de ser disponibilizado a oportunidade de conhecer, aprender e utilizar o método que mais o auxilie no processo educacional, que no caso dos alunos com deficiência auditiva é a participação do interprete de Libras desde o início de sua vida escolar, passando pelo período de alfabetização e assim até o fim de sua carreira escolar/acadêmica, visando o bem estar do aluno e disponibilizando a eles uma educação de qualidade num ambiente bom e acolhedor. EDUCAÇÃO INCLUSIVA E A ALFABETIZAÇÃO DO INDIVÍDUO SURDO O processo de alfabetização do indivíduo surdo necessita de recursos internos e externos para acontecer de maneira efetiva, sendo a disponibilização de recursos aos discentes e professores, a garantia de sucesso no processo. Inclui-se ainda como ferramenta fundamental a formação de professores 168 voltadas a compreensão do que será abordado e estratégias de ensino que possibilitem a inclusão. Apresentando os caminhos que o processo de alfabetização expõe, é importante que antes do indivíduo iniciaro processo ele seja acompanhado, estimulado e valorizado os estágios referentes a aquisição da linguagem da pessoa com deficiência auditiva, momento esse que ocorre ainda na primeira infância. QUADROS (1997 p. 70) após estudos, propõe que a aquisição da linguagem no indivíduo surdo é um processo dividido em quatro períodos: a. ESTÁGIO PRÉ-LINGUÍSTICO Após estudos realizados com bebês ouvintes e surdos sobre o balbucio (ocorre do nascimento até aproximadamente o 12º ou 14º meses de vida da criança) foi possível detectar que esse fenômeno acontece com todos de forma gestual e oral. Nessa época, os balbucios são expressões sem sentido, tanto de forma oral, quanto gestual. No caso das crianças surdas, ainda que balbuciem oralmente, é recomendado que os pais já façam a introdução de alguns sinais na sua rotina como, comer, banho, dormir etc. para que seja assimilado pela criança de forma natural para que ela esteja familiarizada com os gestos quando avançar para a próxima fase dos estágios para a aquisição da linguagem. b. ESTÁGIO DE UM SINAL O estágio de um sinal inicia por volta dos 12 meses na criança surda e vai até os dois anos de idade, porém, percebe-se que em bebês surdos, filhos de pais surdos, esse processo ocorre por volta dos seis meses de idade. Nesse estágio, a criança começa a perceber que os objetos que gesticulam e apontam têm um sentido fixo e que dessa forma ela pode ser compreendida por aqueles que a rodeiam. Então, a gesticulação e a ―apontação‖ por reflexo e sem sentido, que é uma característica do estágio pré-linguístico, é substituída 169 pelas primeiras produções como, por exemplo, as palavras água, mamãe, fome, dor etc. c. ESTÁGIO DAS PRIMEIRAS COMBINAÇÕES Por volta dos dois anos da criança surda, surgem as primeiras combinações de sinais que darão mais sentido ao que a criança está querendo comunicar. Também é nesse estágio que as crianças começam a usar o sistema pronominal ainda que inconscientemente e cometendo alguns erros de reversão quando usam os pronomes EU e TU/ VOCÊ, ou seja, as crianças usam a ―apontação‖ ao outro para se referir a elas mesmas. Também é nesse estágio que as crianças nomeiam os objetos que se fazem presentes em um contexto, mas excluem pronomes óbvios pertencente aos mesmos. d. ESTÁGIO DE MÚLTIPLAS COMBINAÇÕES Nesse estágio acontece a explosão de vocabulário e ocorre por volta dos dois anos e meio e três anos da criança surda. É também nesse momento que a criança começa a criar formas diferentes para se referir a nomes e verbos, como por exemplo, as palavras ―cadeira‖ e ―sentar‖, ―copo‖ e ―beber‖, etc. Esse período é acentuado pela generalização, que é a forma como a criança flexiona alguns verbos de maneira errônea, o que vale na linguagem oral para as palavras ―gosti‖, ―fazi‖, ―trazi‖, etc. Até os 4 anos, a criança ainda não consegue flexionar os verbos de maneira correta, isso acontece por volta dos 5 ou 6 anos. Após a aquisição da linguagem, quando a criança já tem domínio sobre a língua de sinais e consegue entender e se comunicar com o meio, ela está apta para iniciar o processo de alfabetização. As autoras FERREIRO e TEBEROSKY (1985) afirmam que as crianças não chegam à escola vazias e que o processo de alfabetização da mesma passa por quatro etapas: a pré- silábica, silábica, silábica-alfabética e alfabética. Da mesma forma acontece 170 com as crianças surdas, elas trazem consigo uma bagagem de saberes adquiridos ao longo de suas vidas. Segundo GÓES (1996, p. 35): A deficiência não torna a criança um ser que tem possibilidades a menos, ela tem possibilidades diferentes. A deficiência não pode ser concebida como falta ou fraqueza, já que o indivíduo pode encontrar, a partir das relações sociais, outras formas de desenvolvimento com base em recursos distintos daqueles tipicamente acessíveis na cultura. Para ensinar um surdo a ler e escrever deve-se primeiramente entender que esse processo para um ouvinte é dado de forma mais acessível, já que é possível fazer a associação das palavras com seus sons (grafema- fonema) e que por várias vezes acontece de maneira mecânica, o que impossibilita o surdo de fazer uma ponte do que está sendo escrito ao que ele é capaz de compreender, pois, para o surdo, essa combinação de letra e som não é possível, uma vez que as palavras dispostas em um texto, não passam de meros símbolos abstratos. A língua escrita para eles é dada de forma visual, então, a partir da ligação do símbolo com a palavra, a aquisição da leitura pode acontecer. O professor como mediador e levando em consideração que a inclusão escolar depende principalmente dele, deve valorizar e respeitar o desenvolvimento linguístico cognitivo do surdo, desprezando, no primeiro momento, a introdução das regras da Língua Portuguesa, como a morfologia e a semântica, e passando a buscar os conhecimentos do vocabulário e as experiências que os alunos adquirem desde o seu nascimento. O teórico CHOMSKY (apud ALÁRIO 2009) propõe uma metáfora chamada ―a metáfora da fechadura‖, onde defende que todos nascem podendo adquirir uma linguagem, sendo deficiente ou não, assim cada criança nasce com uma fechadura pronta para receber uma chave, cada chave acionaria a aquisição de uma língua diferente, daí, todas nascem com a mesma capacidade. Até pouco tempo, o ensino da leitura para o surdo ficou preso ao estudo da língua como código e da escrita como representação da oralidade. 171 As palavras eram escolhidas peloprofessor de acordo com a sequência silábica que o discente iria trabalhar. No entanto, a Proposta Curricular para Deficientes Auditivo (apud PEREIRA, 2009) sugere que antes do aluno ser exposto ao vocábulo ele deve passar por experiências que o leve a utilizar os seus sentidos para só depois a criança ser apresentada a figuras que relacionem o significante ao significado. Depois que o aluno adquirir esse vocabulário será possível o trabalho com textos simples, contendo pelo menos três frases que seguem a sequência de início, meio e fim. Para melhor compreensão do surdo é importante o expor a uma explosão de vocabulário através dos mais diferentes tipos de textos, tanto na sua estrutura quanto na composição, como histórias, contos, poemas, etc. ainda na educação infantil de forma que o professor faça a leitura dos exemplos citados, não palavra por palavra, mas do texto como um todo, selecionando palavras chaves a serem trabalhadas, expandindo o seu vocabulário, uma vez que um dos grandes problemas encontrados pelos surdos e professores no processo de aquisição da leitura é a falta de um vocabulário extenso e satisfatório. O que muitas vezes ocorre pelo fato de fazerem parte de famílias de ouvintes e não serem introduzidas nos diálogos diários nem a informações escritas seja por negligência ou por falta de conhecimento dos pais. Trabalhando com a ideia de ensino da escrita para surdos, percebe-se que o processo, embora não seja igual ao de uma criança ouvinte, assemelha- se muito com o dos ouvintes, levando em consideração que eles não contam com o auxílio da associação do som com as letras ou sílabas, porém, volta-se a um recurso usado tanto na aquisição da linguagem como no da escrita, o uso da LIBRAS. A LIBRAS é a forma mais eficaz de ensinar uma pessoa surda a ler e escrever, levando em consideração que é um direito garantido do indivíduo, pois é a partir dela que a língua da maioria das pessoas evolui. Considerando a inclusão escolar na perspectiva da interação comunitária no contexto escolar, Vygotski (1997) valoriza e estimula a vida social do indivíduo por ser de extrema importância para o desenvolvimento dela, afinal, entende que grande parte dos problemas enfrentados pelas pessoas com deficiência 172 está ligada ao meio social e não ao indivíduo. Em uma amostra, que inicialmente tinha cunho para fins de pesquisa, MOLLICA (2007, p. 12) constatou que segundo o imaginário coletivo, a escola é o meio mais almejado para promover inclusão escolar. Desse modo, é possível perceber a importância de dar ferramentas para professores através do conhecimento absorvido através de formações efetivas com o intuito de promover a inclusão escolar. Entendendo que só é possível conviver de forma natural e saudável com aquilo que conhecemos, a formação de professores voltada para a educação inclusiva torna-se uma ferramenta chave para a inclusão escolar das pessoas com deficiência auditiva, tendo como objetivo, preparar o professor continuamente a entender e conhecer as possibilidades que o cercam no manejo de trabalho com o aluno com deficiência, garantindo educação de qualidade e condições favoráveis de trabalho ao educador. Além de uma determinação legal, a inclusão é um ato de amor, então ofertar ferramentas para que os mediadores atuem de forma eficiente e amparados por saberes, agrega valor a sua trajetória e marca os discentes com seu compromisso, pois passa a informação que estão preparados para oferecer o que tem de melhor não só no que diz respeito aos saberes cognitivos, mas principalmente o afetivo. Quando envolto em um ambiente em que o aluno percebe que realmente está integrado, seu rendimento aumenta, fazendo com que o processo que envolve a educação escolar se torne fluido e natural, pois parafraseando Henri Wallon, o indivíduo é social não como circunstância externa, mas em virtude de uma necessidade interna. CONSIDERAÇÕES FINAIS A discussão a respeito da ligação entre a educação inclusiva e o processo de alfabetização do indivíduo surdo é pertinente, pois promove a reflexão do que realmente significa a inclusão e seu impacto sobre a vida de pessoas com deficiência e sobre aquelas que lutam para garantir o direito a dignidade educacional. 173 É possível perceber que muito já foi feito, mas considerando que a chamada Educação Especial é recente no Brasil, somando pouco mais 50 anos no território nacional, é notório que ainda estamos dando os primeiros passos para a ascensão da inclusão, por isso, cada esforço, trabalho, pesquisa e ação contam muito para o sucesso da igualdade educacional. A alfabetização, no entanto, não deve ser considerada apenas como o domínio da leitura e compreensão textual, mas como uma arma fundamental que garante um futuro cheio de possibilidades com a certeza de que todos são capazes de chegar aonde desejam, desde que tenham recursos e amparo par isso. Contudo, o reconhecimento da LIBRAS como primeira língua e objeto principal para o desenvolvimento e aperfeiçoamento da comunicação deve ser encarado como primeiro passo no processo de alfabetização do aluno surdo, respeitando suas características particulares e seu tempo de desenvolvimento. Destaca-se também como prioridade a oferta de condições para que não só as pessoas com deficiência auditiva possam aprender, mas um cenário que possibilite aos professores condições formativas para atender ao público que necessita de intervenções diretas e objetivas, sendo a formação de professores a ferramenta crucial para o manejo, já que esta deve estar articulada à prática de ensino desenvolvida no contexto educacional. REFERÊNCIAS AGUIRRE, C. Aquisição da leitura por alunos surdos. Disponível em: <http://www.uva.br/mestrado/dissertacoes fonoaudiologia/cristina aguirre.pdf.> acesso em 8 de abril de 2014. ALÁRIO, R. Aquisição da linguagem. Disponível em: <http://projetophronesis.com/2009/03/09/aquisicao-da-linguagem> Acesso em 15 de maio de 2014. BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988 (artigos 205, 206 e 208). BRASIL. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Brasília, DF: MEC/SEESP, 2001. Disponível em http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/diretrizes.pdf http://www.uva.br/mestrado/dissertacoes%20fonoaudiologia/cristina%20aguirre.pdf http://projetophronesis.com/2009/03/09/aquisicao-da-linguagem http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/diretrizes.pdf 174 BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. São Paulo: Cortez, 1990. CARVALHO, Paulo Vaz de. História dos Surdos no Mundo, editora Surd'Universo. (ISBN 978-989-95254-1-2). Lisboa 2007. DECLARAÇÃO DE SALAMANCA: Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais, UNESCO, 1994, Salamanca- Espanha. FERREIRO, E. TEBEROSKY, A. 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Obras escogidas V- fundamentos de Defectologia. Madrid: Visor, 1997. http://pt.wikipedia.org/wiki/Especial:Fontes_de_livros/9789899525412 175 A RELEVÂNCIA DA INSERÇÃO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS (LIBRAS) COMO DISCIPLINA DESDE OS ANOS INICIAIS NO ENSINO FUNDAMENTAL Dijaci Rosa Ferreira¹; Valquíria Maria da Silva² 1 Pós-graduada lato sensuem Educação Especial e Práticas Inclusivas, Graduada em Licenciatura em Pedagogia, Pós-graduanda em Docência na Educação Profissional e Tecnológica pela Universidade Federal da Paraíba e graduanda na Licenciaturaem Geografia pelo Instituto Federal de Educação,Ciências e Tecnologia, Professora regente efetiva dos anos iniciais e educação infantil da rede municipal de Limoeiro-PE. 2 Pós-graduada lato sensu em Docência e Organização Escolar pela Faculdade Ciências da Educação de Pernambuco e Graduada em Licenciatura em Pedagogia pela Faculdade de Ensino Superior de Timbaúba; Professora regente dos anos iniciais e educação infantil no quadro efetivo das redes municipais de Carpina e Buenos Aires-PE. E-mail: dijacigeografia@gmail.com E-mail: valquiria.silva7@hotmail.com RESUMO O objetivo deste artigo é indicar os benefícios da Língua Brasileira de Sinais Libras para um ensino que promova aequidade na educação básica. No sentido de criar e melhorar condições no processo de mediação de ensino aprendizagem, nas escolas regulares (que recebem alunos ouvintes e surdos) de acordo com a Lei nº 10.436, de 2002 e o Decreto nº 5.626, de 2005, que tratam da Língua de Sinais e da educação da pessoa surda. A Libras é a língua de constituição do sujeito surdo, e quando assumida no espaço educacional regular, favorece a interação de todos envolvidos no ambiente, sendo indissociável de ser trabalhada apenas com a pessoa surda, mas, devendo ser desenvolvida também como sujeito ouvinte. Assim a efetiva interação acontece, quando se inclui uma pessoa surda em um espaço escolar onde os demais indivíduos também vivenciem a mesma oportunidade de aprendizagem. A proposta emerge na direção inclusiva da Língua Brasileira de Sinais como componente curricular obrigatório desde a educação básica não apenas para o aluno surdo, mas sim a todos envolvidos no ensino regular, como conseguinte é necessário a formação específica dos profissionais para atender com coerência essa demanda. Palavras-Chave: Libras; Educação Básica; Inclusão. mailto:dijacigeografia@gmail.com 176 INTRODUÇÃO A história da educação no Brasil foi marcada a partir da chegada dos jesuítas, e durante muitos anos foram praticamente eles os únicos educadores no Brasil. Tratava-se de um início educacional marcado por rigidez na maneira de pensar, e consequentemente de interpretar a realidade, em ênfase a prática utilizada era a preparação do professor que só estava apto a atuar após os seus trinta anos. Décadas se passaram, transformações valiosas aconteceram no campo educacional em nível nacional e mundial, a exemplo disso, temos a Declaração Universal dos Direitos Humanos, Leis de Diretrizes de Base (LDB), a conquista de escolas públicas na perspectiva de atender os indivíduos na sua totalidade e diversidade. Mesmo assim continuam na buscar de profissionais habilitados, em desenvolver sujeitos sociais críticos e ativos no meio social e cultural. Não com a mesma rigidez jesuíta, mas com a finalidade de emergir a equidade, atuar com qualidade e coerência profissional. Nessa conjuntura educacional o número de alunos surdos que são inseridos nas escolas cresce cada vez mais, sendo importante e necessária a construção de propostas pedagógicas que contemplem as necessidades desse público. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) divulgados no último senso, mais de 10 milhões de pessoas apresentam alguma deficiência relacionada ao sistema auditivo, ou seja, 5% da população é surda. Entre essas pessoas, 2,7 milhões não ouvem nada. Ainda segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que até 2050, pelo menos 900 milhões de pessoas no mundo venham a desenvolver a surdez. Pensando nesta projeção educacional surge à necessidade de elucidar as contribuições que a Língua Brasileira de Sinais pode oferecer estando dentre as diferentes disciplinas estipuladas na Lei de Diretrizes e Base (LDB). Visto a existência da obrigatoriedade de disciplinas específicas para inclusão, assim como a Língua Brasileira de Sinais. Como na redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008 art 26 da LDB que especifica: ―Nos estabelecimentos de 177 ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena‖. Partindo dessa premissa é oportuno considerar que o surdo é um cidadão de direitos que participa ativamente da sociedade, sendo para tanto necessário que a interação entre os sujeitos esteja alicerçada em equidade de comunicação. Desse modo qual conhecimento básico o ouvinte possui para iniciar uma conversa com um surdo? Como realizar uma pergunta simples? Será que sempre acontecerá um diálogo de mímica do ouvinte que não conhece a língua primária da população surda? Os ouvintes também se sentem limitados por não saberem, ao menos, conhecimentos básicos da Língua Brasileira de Sinais para interagir com indivíduo surdo, o que deixa ouvintes a mercê de situações inusitadas limitadas a um entendimento embaraçoso. Vale salientar que, para chegar a uma resposta que direcione tal indagação, foram definidos objetivos específicos: mencionar a relevância da Língua Brasileira de Sinais Libras como disciplina obrigatória na educação básica; pontuar benefícios da Língua Brasileira de Sinais como componente curricular para os envolvidos no processo de ensino aprendizagem; elucidar a formação continuada entre os profissionais da educação para a praticabilidade no ensino. Para desenvolver esse processo, adotamos como metodologia a pesquisa bibliográfica com abordagem qualitativa e exploratória, que por meio de leituras busca-se compor reflexão a cerca da necessidade de agregar a Língua Brasileira de Sinais Libras entre as disciplinas curriculares, na perspectiva de atender todos os envolvidos no processo de ensino aprendizagem. Também foram expostas leis que dão embasamentos para referida reflexão, na intenção de certificar que não se trata de um fator desnecessário de investigação. DESENVOLVIMENTO 1- BREVE HISTÓRICO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS- LIBRAS 178 Na Idade Média criaram uma forma rudimentar de se comunicar por gestos e mímicas, afinal os mosteiros faziam voto de silêncio e necessitavam de comunicar-se entre si. Diante da forma de comunicação que acontecia dentro dos mosteiros, Pedro Ponce de León decidiu usar com as pessoas surdas que moravam nos castelos dos senhores feudais. Surge sucintamente a trajetória da Língua Brasileira de Sinais Libras como língua que sofreu opressão e necessita ganhar reconhecimento na sociedade atual. Mesmo após muitas proibições, a Língua Brasileira de Sinais hoje é considerada a língua natural e materna das pessoas surdas. Embora que nos antepassados existia a concepção dos gregos e romanos de que, os “Surdos não eram seres humanos”, pela falta da fala acreditavam que surdos não tinham pensamento, além de tantas outras privações como, escolarização, casamento, heranças, Aristóteles filósofos da Grécia Antiga século XII, dizia “A linguagem é que dá ao individuo a condição de humano”. A surdez considerada como anormalidade, fazia com que os indivíduos vivessem as margens da sociedade, sendo o médico Gerolando Cardoso o primeiro a interessa-se no século XVI com a saúde dos surdos, defendia que surdez não era motivo para impedir os surdos de receberem instruções. A partir daí surgiram outros posicionamentosde estudiosos, alguns deles acreditavam no oralismo e na leitura labial. Mas só a partir de 1760 que Clarles-Michel de L Epée, o conhecido “Pai dos Surdos” criou a primeira instituição educacional pública para Surdos. No entanto as gestões que dirigiam a instituição educacional para surdos não defendiam a língua de sinais e resistiam ao trabalho com esse método de comunicação. E torturavam os alunos surdos para que oralisassem, na busca por estudos que pudessem explicar causas, motivos, ou cura da surdez. Ocorreu em 1880, na cidade de Milão na Itália o II congresso Mundial de Surdos-Mudos, com a participação de 54 países, dentre os participantes apenas um era surdo. E sua limitação foi à causa que impediu seu direito ao voto; sobre qual seria a melhor maneira de educar os surdos, se pela forma oral ou pela forma da língua de sinais. 179 Mediante situação um tanto contraditória, porque se tratava justamente dos direitos próprios do surdo, e mais uma vez, a opressão contra a surdez prevaleceu. O congresso determinou que: A fala é superior aos sinais, e o método oral deve prevalecer ao método visual-motor. Iniciava assim um momento obscuro na história dos surdos, pois se eles tentassem insistir em comunicar-se através de sinais, eram amarrados com as suas mãos para trás, e cruelmente açoitados pela palmatória. A proibição dos sinais durou uns cem anos e gerou um grande insucesso na educação dos surdos daquela época, que não conseguiram carreiras profissionais e viveram a mercê da sociedade sendo considerados de retardados. A autora Silva (2016) expõe a contradição diante dessa caminhada na conquista de direitos dos surdos: Vivemos em uma constante montanha russa, partimos da extrema ignorância onde se acreditava que era impossível domesticar um ser homossapiens que tem total poder de raciocinar e de viver em comunidade, uma criança que possuía apenas uma deficiência auditiva, assim como qualquer ser humano tem suas dificuldades no dia a dia. Tempos depois foram criados métodos específicos para que essas crianças se desenvolvessem, hoje sabemos mesmo ainda existindo preconceito quando o assunto é deficiência ou dificuldade elevada sabemos que existem leis estruturadas que garantam os direitos e amparam qualquer que seja a deficiência, cor e religião. ( SILVA, 2016 p. 26-27). A partir de 1970, o respeito a pessoa surda lentamente foi ganhando avanços na sociedade e a Língua de Sinais passou a ser utilizada livremente. No Brasil em 1857 foi fundado o Instituto de Surdos Mudos do Rio de Janeiro, hoje o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). O primeiro professor francês fazia uso do alfabeto manual de Língua de Sinais Francesa onde se originou a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), atualmente legalizada a língua de Surdos do Brasil. A língua natural dos surdos está embasada na Lei nº 10.436 de 24 de Abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais Libras e dá outras providências. Art. 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Líbras e outros recursos de expressão a ela associados. http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/99492/lei-n-10-436-de-24-de-abril-de-2002 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/99492/lei-n-10-436-de-24-de-abril-de-2002 180 Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Líbras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. Destarte a Língua Brasileira de Sinais equipara-se a língua oral, tamanha é sua complexidade e expressividade. Apesar de ser uma língua com uma modalidade diferente, não oral-auditiva como nas línguas orais, e sim visor motor por se tratar de uma língua feita no espaço através do movimento das mãos e percebida através da visão. 1.1-INCLUSÃO SOCIAL Exercer a cidadania vincula-se a atitudes de respeito, pluralidade, solidariedade, responsabilidade e justiça, etc. Dialogando entre as mais diferentes situações o indivíduo compromete-se com o que acontece na vida coletiva da comunidade e do país, aos cidadãos compete vivenciar interação social e ética. Tais valores e atitudes demandam estrutura de comportamentos introduzidos desde o ambiente familiar e consequentemente na socialização na comunidade escolar desde os anos iniciais. Educação em valores se configura em temáticas significativas do ponto de vista ético, propiciando condições para que os estudantes desenvolvam competência dialógica, tomem consciência de seus próprios sentimentos e emoções. Na busca de perspectivas positivas diante das decisões em situações conflitantes do cotidiano D‘antino e Mazzotta, defende que: Situações inclusivas, voltadas para a Cultura, a Educação, o Lazer e demais setores sociais, contemplando a diversidade da condição humana, são construídas no dia a dia das relações interpessoais, sociais e políticas e tendem a reduzir os perversos efeitos das situações discriminatórias, preconceituosas, excludentes a que qualquer pessoa, com deficiência ou não, está exposta na vida social. (D'ANTINO, MAZZOTTA, 2011, p. 387). É papel da escola em qualquer nível ofertado oferecer oportunidades iguais de aprendizagem aos seus estudantes, na finalidade de desenvolvê-los integralmente para que possam ter uma vida produtiva na sociedade em que 181 vivemos. O convívio escolar é um elemento chave na formação social e ética dos estudantes e, ao mesmo tempo, é instrumento poderoso que a escola tem para conseguir cumprir sua tarefa educativa. Existe a carência da construção de ambientes de democracia efetiva, que propiciem aos estudantes métodos de interação totalizando as particularidades encontradas no meio social. O acolhimento dos estudantes em suas diferenças, potencialidades e dificuldades é o papel primordial das instituições. Visando o cuidado e a atenção com suas questões e problemáticas de vida. Caso contrário, não estaremos oferecendo razões efetivas para que os discentesse apropriem e exerçam os conhecimentos adquiridos na vida escolar. Esse panorama está posto na lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Art. 27: A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem. (BRASIL- 2015 Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência). Elencar conteúdos atribui preocupações constantes e consideração aos temas transversais, que perpassam do universo dos conteúdos trabalhados nas escolas, de forma que seus princípios estejam presentes nas ações cotidianas levadas das salas de aulas aos demais espaços sociais. Na lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Art. 28 inciso III incumbe ao poder público assegurar: Projeto pedagógico que institucionalize o atendimento educacional especializado, assim como os demais serviços e adaptações razoáveis, para atender às características dos estudantes com deficiência e garantir o seu pleno acesso ao currículo em condições de igualdade, promovendo a conquista e o exercício de sua autonomia. (BRASIL- 2015 Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência). A realidade histórica do contexto escolar corresponde a um processo de lutas e avanços contínuos que aprimoram gradativamente suas características. Possui atualmente, a expectativa de facilitar o desenvolvimento integral do http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2013.146-2015?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2013.146-2015?OpenDocumenthttp://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2013.146-2015?OpenDocument 182 indivíduo. Consequentemente deva ser entendida como uma instituição voltada para a realização da prática pessoal e social, contextualizada nas dimensões espaciais e temporais, revestida de caráter contraditório e complexo, é preciso privilegiar sua abordagem como processo, não produto acabado. É explícito que o desenvolvimento integral proporcionado desde os anos iniciais de formação das crianças fornece entendimento das diferenças, o respeito e o apoio mútuo em ambientes educacionais que promovem melhores condições para a sociedade e celebrem a diversidade humana. Segundo Araujo 2006: A construção de sociedades e escolas inclusivas, abertas às diferenças e à igualdade de oportunidades para todas as pessoas, é um objetivo prioritário da educação nos dias atuais. Nesse sentido, o trabalho com as diversas formas de deficiências e uma ampla discussão sobre as exclusões geradas pelas diferenças social, econômica, psíquica, física, cultural e ideológica, devem ser foco de ação das escolas. Buscar estratégias que se traduzam em melhores condições de vida para a população, na igualdade de oportunidades para todos os seres humanos e na construção de valores éticos socialmente desejáveis por parte dos membros das comunidades escolares é uma maneira de enfrentar essa situação e um bom caminho para um trabalho que visa à democracia e à cidadania. (ARAUJO, 2006, p. 8). A experiência que a criança constrói com os profissionais desde a educação infantil será fator preponderante para a formação da sua autonomia e o bom desempenho em seu convívio social. De acordo com Vygotsky (2003), a aprendizagem está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento sócio cognitivo, sobre o qual ele afirma que a criança, desde o nascimento, possui potencial para aprender e se desenvolver, sobretudo através das interações. 2- AGREGAR LIBRAS AOS COMPONENTES CURRICULARES DESDE EDUCAÇÃO BÁSICA A base curricular que devemos seguir no sistema de ensino, está formulada de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), no entanto cada Estado da federação define o seu currículo tendo-a como 183 instrumento norteador e segue aos municípios que constroem sua proposta em uma sequência de obediência as propostas anteriores. Embora seja de suma importância considerar os elementos norteadores, os municípios têm autonomia para agregar critérios específicos de sua realidade, desta forma os documentos que norteiam a educação, nos levam a pensar no currículo enquanto a espinha dorsal da escola, a sua linha mestra. Onde se faz refletir sobre o quê, o educando tem como teor indispensável de conhecimento. Estudos e reflexões vêm sendo feitos na atualidade sobre a temática da inclusão. O ministério da Educação MEC, por exemplo, tem deflagrado grandes frentes de trabalho sobre isto, colocando nas mãos do sistema educacional o atendimento de pessoas com deficiência. E apresenta um esquema de atendimento ainda pequeno comparado a demanda. Diante do exposto a autora Mecanto (2021) levanta uma reflexão: ...como será esse ensino de inglês obrigatório para alunos surdos, se a base curricular não orienta nem o trabalho com a LIBRAS que é a língua natural dos surdos brasileiros. Fundamentado-se sobre as leis que asseguram direitos e garantias sociais e educacionais de sujeitos surdos como: a Lei de nº 10.436 de 2002 e o Decreto nº 5.626 de 2005.(MECANTO, 2021, p. 26). A Língua Brasileira de Sinais possui complexidades específicas, como: semântica, sintaxe, morfologia e estrutura e gramática específica. Porém não podemos classificá-la como ciência exata, mas sim ciência humana, pois os sinais são relativos e correlacionados aos dialetos regionais. A língua materna do surdo possui um código de comunicação, que pode expressar os mesmos conceitos da Língua Portuguesa, no entanto contém cada uma com suas particularidades. Almeida (2012) define: ...como característica para compor a libras a expressão fácil/corporal que será usado no processo do traço semântico do referente ―significado‖, para passar ideia de negação, afirmação, questionar, opinar, desconfiar e entre outros. Também temos como característica a configuração de mão (CM), ponto de articulação (PA), movimento (M) e orientação (O), que compõe os aspectos estrutural da libras. (ALMEIDA, 2012, p. 318). 184 A Libras diverge da Língua Portuguesa e a tradução não deve ser literal, embora ambas transmitam a mensagem. Para conversar em Libras, não basta apenas conhecer os sinais de forma isolada, é necessário conhecer a sua estrutura gramatical combinando-as em frases, fazendo movimentos no ar com as mãos, acompanhado de expressão facial e corporal, gestuais, visuais baseados nos usos das mãos, dos olhos, da boca, do corpo no geral. Na concepção de Junioret al (2021, p. 208) a Libras encontra-se como recusa na Base Nacional Comum Curricular: Para tanto, faz-se necessário questionar a exclusão do ensino da Libras na atual BNCC de 2018, haja vista que, mesmo a Libras sendo uma língua oficial reconhecida através da Lei 10.436/2002 e regulamentada pelo decreto 5.626/2005, dentro da BNCC, não lhe é dado o devido lugar e valorização. A palavra Libras aparece apenas sete vezes em todo o documento, e sua presença se dá de modo marginalizado, pois não se vê sua incorporação nas práticas do currículo. Não é possível se ter uma educação para todos, se quase 10 milhões de pessoas surdas, segundo o IBGE de 2020, se encontram desprovidas de sua língua materna. (JUNIOR et.al, 2021). Para realizar uma ação educacional que atenda as necessidades de estudantes e que fortaleça conquistas a cada dia, sem distinguir aluno ouvinte de aluno surdo, se faz oportuno buscar por temas como identidade, diferença, diversidade, cultura, interculturalidade, direitos humanos, sem perder a conexão com o movimento global que se assiste no mundo atual. ...quando a BNCC não contempla a LIBRAS como componente curricular, além de tornar ainda mais inviável a inclusão dos Surdos no sistema público de ensino por falta de recursos, não norteia a prática pedagógica do professor, o qual pode ter alunos surdos sem fluência na LIBRAS e consequentemente não formaram uma identidade surda.( MENCATO, p. 31, 2021). Sem esquecer que para essa perspectiva de currículo, a subjetividade, as emoções, os sentimentos constituem elementos imprescindíveis quando queremos desenvolver o homem pleno: razão-emoção, corpo-alma, pensamento-sentimento. Moreira (2002) situa o conhecimento como “meio de emancipação e solidariedade, para que se possa elevar o outro às condições de sujeito e possa ter igualdade de condições”, proposta que coincide claramente com os 185 propósitos que temos de construir uma escola pública municipal alicerçada na cidadania, na democracia e na participação, tripé que fortalece a conquista da autonomia relativa entre sujeitos, instituições e sistema de ensino. Isso se torna imprescindível quando sabemos que o fundamento de uma sociedade democrática é o reconhecimento de sujeitos de direitos; do direito a ter direitos. De fato, a educação que devemos ofertar aos estudantes deve está comprometida com uma Educação em Direitos Humanos, pautada, portanto, na dignidade da pessoa humana, na igualdade de direitos e na corresponsabilidade por oferta de uma escola pública como direito subjetivo. Santos (2001) menciona que: Inclusão e participação são essenciais à dignidade humana e ao gozo e exercício dos direitos humanos. No campo da educação, tal se reflete no desenvolvimento de estratégias que procuram proporcionar uma equalização genuína de oportunidades. A experiência em muitos países demonstra que a interação de crianças e jovens com necessidades educacionais especiais é mais eficazmente alcançadaem escolas inclusivas que servem a todas as crianças de uma comunidade (SANTOS, 2001, p. 63). Uma escola que, seja, de fato e de direito, espaço de socialização de conhecimento historicamente construídos, mas que, ao mesmo tempo, abordem temáticas contemporâneas, conferindo significação, relevância social e política aos conteúdos trabalhados. Noutras palavras, uma escola aberta a novos temas, novas didáticas, com base nos princípios da flexibilidade e da contextualização. No entanto, verdade que estamos longe da efetiva inclusão, não apenas os surdos, mas os ouvintes também não têm a possibilidade de compreender e saber interagir com a necessidade da pessoa surda, desde os anos iniciais e também na sociedade. Porque não está para ele ouvinte, disponível o ensino da língua de sinais, pedagogicamente falando, ainda não esta acontecendo de fato um ambiente de respeito ao sujeito de direito, nem tão pouco um atendimento igualitário que forneça ao aluno um desenvolvimento democrático com habilidades de interação interpessoal e convívio social. 186 Partindo dessa carência que observamos no decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, no capítulo II, Da Inclusão Da Libras Como Disciplina Curricular que a obrigatoriedade da Libras resume se em: Art. 3º A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. § 1º Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes áreas do conhecimento, o curso normal de nível médio, o curso normal superior, o curso de Pedagogia e o curso de Educação Especial são considerados cursos de formação de professores e profissionais da educação para o exercício do magistério. § 2º A Libras constituir-se-á em disciplina curricular optativa nos demais cursos de educação superior e na educação profissional, a partir de um ano da publicação deste Decreto. Deste modo, deixar de promover nos anos iniciais a inclusão da Língua Brasileira de Sinais como componente curricular tão pertinente na atualidade, condiz em falhas no sistema educacional. Assim dificultando a plena participação do educando no processo de ensino, desrespeitando o direito a acessibilidade, a igualdade de oportunidades que tendem a garantir a equidade do indivíduo em sua plenitudenas instituições de ensino nos anos iniciais. 3- A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO PARA A PRATICABILIDADE NO ENSINO Os docentes obtêm o papel de agente primordial que logram como transformadores nasociedade, e tem como atribuição compartilhar saberes, além de aprender e compreender como a sociedade vem se moldando com as gerações na contemporaneidade. A autora Mencato (2021, p. 23) comunga da atuação do professor dentro da proposta na BNCC, na medida de buscar abrangência profissional. O professor deve atuar como mediador sem diferenciar conteúdos, pesquisando, construindo e adaptando recursos e metodologias para que seus alunos se tornem participantes de todo o processo de construção de conhecimento. Contanto, para isso, o docente precisa se aperfeiçoar e estar preparado para mudanças no seu fazer 187 pedagógico, quebrando as suas próprias barreiras atitudinais para que, a partir daí, busque as formas de mediar as dificuldades de seus alunos partindo das potencialidades de cada um. (MENCATO, 2021). A partir da legislação que institui a introdução dos alunos com deficiência nas escolas do ensino regular. Emerge a necessidade das instituições de ensino, para uma nova preparação metodológica que venha atender a proposta inclusiva, favorecer a aprendizagem da pessoa com deficiência dentro do contexto escolar. Como podemos averiguar na regulamentação da Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 no Art. 28 Inciso X: ―adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos programas de formação inicial e continuada de professores e oferta de formação continuada para o atendimento educacional especializado‖. Ao tratar especificamente da capacitação do profissional da educação ao atendimento a pessoa com deficiência, o regimento legal impõe formação para os envolvidos, vista na Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 no Art. 28 Inciso XI ―formação e disponibilização de professores para o atendimento educacional especializado, de tradutores e intérpretes da Libras, de guias intérpretes e de profissionais de apoio‖. A essa conjuntura, surge a inquietação da segregação na equipe docente no que refere-se ao atendimento igualitário. Segundo Monteiro et al. ( 2013, p. 127): Os professores ainda não possuem formação adequada para o trabalho pedagógico que atenda as diferenças na escola e, especificamente o aluno com deficiência auditiva/surdez; não conhecem e nãofazem usoda LIBRAS em seu cotidiano na sala de aula, oque pode indicar fatores que favorecem o desencadeamento de um processo de fracasso escolar desses alunos ou evasão do sistema regular de ensino. Portanto, um dos desafios imediatos que precisam ser enfrentados para minimizar esse quadro num futuro próximo é garantir o cumprimento do Decreto Lei 5.626/2005 para que os cursos de licenciatura preparem, ainda que com repertório mínimo, osfuturos professores de modo a possibilitar um ensino de melhor qualidade para todos aqueles incluídos nas redes regulares de ensino básico e superior. (MONTEIRO et.al. 2013). O MEC oferece um Programa Nacional De Capacitação De Recursos Humanos através da secretaria de educação especial, em formato EAD, promovendo atendimento gradual aos municípios brasileiros, com vista, a 188 capacitar os profissionais que atuam no ensino regular, conhecimentos que possibilitem atender aos alunos com necessidades educacionais especiais. (BRASIL, 2008) As instituições de ensino se equivalem ao potencial do corpo docente e consequentemente ao empenho desses ao exercer sua aptidão profissional. Considerando-se como parte relevante para contribuição na comunidade escolar e ao beneficio social na construção da cidadania. Ou seja, o professor comprometido com sua atuação, ponderado ao alcance de suas contribuições na prática docente, será o sujeito em constante busca de aprendizagem significativa que concede ao discente conexão ao saberes. Nessa real circunstância mostra-se lacunas em efetivas práticas inclusivas. As quais não se limitam ao processo de atender a pessoa deficiente na escola regular, porém compreender a necessidade de igualdade para todos os indivíduos no contexto educacional. A autora Monteiro et. al. (2013) cita a contradição na educação básica ao atendimento inclusivo a pessoa com deficiência: ―a educação para as pessoas com deficiência auditiva/surdez apresenta muitas fragilidades, principalmente no que diz respeito ao aspecto legal, onde se vê que o discurso algumas vezes contradiz a realidade.‖ Portanto, sem a efetiva utilização da Língua Brasileira de Sinais-Libras no processo de educação básica que possibilitem professores, alunos e demais envolvidos na educação, à inclusão do aluno surdo torna-se muito difícil. A praticabilidade no ensino e desenvolvimento progressivo depende da intervenção de docentes preparados. A comunicação humana é um meio essencial de aprendizagem, o professor que não adquirir o conhecimento da Língua Brasileira de Sinais-Libras não contribui, nem estará incluso na prática pedagógica de caráter inclusivo. Caso contrário, se o professor ouvinte conhecer Libras pode está dando oportunidade de quebrar as barreiras na relação e na comunicação do Surdo. Podendo melhor entender seu universo, consequentemente abrangerá outras áreas do conhecimento. Partindo dessa conjuntura o surdo que não domina sua língua materna dificilmente estarádesenvolvendo as demais, ―os alunos 189 surdos precisam tornar-se leitores na língua de sinais para se tornarem leitores na língua portuguesa.‖ (QUADROS, 2006, p. 26). CONSIDERAÇÕES FINAIS A boa educação eleva o nível de inclusão social e desenvolvimento econômico de cada país. Do processo educacional derivam temas diversos e está sempre associado às soluções para problemas cotidianos, crônicos ou emergentes. Mas a educação sozinha não resolverá certamente todos os problemas da humanidade, embora que, fora dela, obviamente torna-se ainda mais difícil. Mediante o panorama das mudanças presentes na nova sociedade escolar e da inclusão social, a educação é convocada a assumir um papel fundamental na produção de conhecimentos com novas perspectivas de ensino e aprendizagem. Sendo de responsabilidade das políticas públicas desencadearem mecanismos, que integrem as propostas educativas e promovam a inclusão em escalas flexíveis ao projeto pedagógico, dada a complexidade da profissionalização e acessibilidade. É possível colocar em evidência que a atual política nacional de inclusão escolar tem deixado de refletir e aprofundar as ações relativas às especificidades do ambiente educacional inclusivo onde o alunado-alvo não seja exclusivamente a pessoa surda, dissociando o aluno-ouvinte do aluno surdo, em salas regulares. É necessário pensar numa inclusão incondicional que não aconteça em parcelas ou especificando um caso dentro do contexto. Ao analisar a legislação dos profissionais, emerge a necessidade de promover formação continuada e de modo geral ampliar as possibilidades de um atendimento de qualidade com compromisso e com uma perspectiva educacional bilíngue em um espaço de fato inclusivo. Conhecer melhor essa proposta pode orientar novas políticas públicas a escolha de uma educação plural, entendendo que não basta à pessoa surda saber a Libras, ela tem o direito de ser entendida e dialogar com o ouvinte que também é sujeito de direito da inclusão. 190 Os desafios à inclusão, ainda são muitos, por isso há um longo caminho a ser percorrido para que os direitos dos estudantes sejam resguardados, portanto trazer esse olhar para o currículo é uma forma de almejarmos uma educação que considere e valorize as potencialidades, as especificidades e que acima de tudo respeitem as diferenças em contextos linguísticos, políticos e sociais que integram a nação brasileira, para que verdadeiramente se efetive o direito da pessoa surda, não só como educando, mas como cidadão, que participa da sociedade como protagonista de sua própria história. REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. P. de; ALMEIDA. M. E. História de libras: característica e sua estrutura. 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Tal contexto se apresenta a partir de inquietações vividas desde muitos anos por estudantes surdos, mesmo com a consolidação da Lei de Libras nº 10.436/ 2002 que dá ao sujeito surdo condições para aporte linguístico, mas que ainda se encontra em barreiras comunicacionais, atitudinais, entreoutras, que potencializam o conflito na aprendizagem de sua língua natural e por conseguinte à escrita da Língua Portuguesa como segunda língua. O presente trabalho é também uma pesquisa bibliográfica e tem por objetivo analisar a escrita da criança surda e suas implicações na Educação Infantil e de como desenvolver estratégias junto aos docentes que facilitem este aprendizado para a inclusão, de fato, destes discentes na escola. Palavras-Chave: Escrita; Criança Surda; Escola; Docente. INTRODUÇÃO Os estudos acerca da escrita da criança surda no Brasil são pautados de muitos questionamentos e reflexões sobre o tema, o desafio de lidar com a linguagem escrita desses estudantes dentro da sala de aula é bastante desafiadora, tanto no processo avaliativo quanto na interação e no dia a dia desses discentes. É sabido que a Lei nº 10.436/ 2002, Língua Brasileira de Sinais (Libras) em seu parágrafo único, diz que a modalidade escrita da Língua Portuguesa deve ser utilizada e que a Libras não poderá substituir a modalidade escrita. A 194 Lei Brasileira de Inclusão (LBI) de nº 13.146/ 2015, também comunga da mesma defesa, em seu artigo 28 inciso IV, mesmo assim, ainda é provocador aos docentes ensinarem a modalidade escrita como segunda língua para os estudantes surdos, visto que há muitas perdas destes discentes na sala de aula, pois quando adentar a escola, partes desses alunos não adquiriram ainda sua língua natural (a Libras) e muitos professores não a dominam. Essa questão da linguagem escrita ainda apresenta compreensão, ainda que, limitada a respeito da sua importância e esta vem sendo bastante discutida entre profissionais da educação, saúde, fonoaudiólogos, linguistas, psicólogos, entre outros, estima-se que no Brasil há cerca de mais de 10. 000 surdos, segundo Censo do IBGE de 2010. O objetivo deste artigo é I- Analisar sobre como a criança surda articula a escrita, usando a Língua portuguesa como segunda língua, II- Observar como discentes se debruçam no ensino da escrita da Língua Portuguesa aos discentes surdos, III- Explorar ações em sala de aula que facilitem nas estratégias de ensino e aprendizagem das crianças surdas, IV- Verificar estudantes surdos que adquiriram a escrita como forma de se expressar a partir das metodologias usadas pelos docentes. É importante que os professores tenham a preocupação da utilização das metodologias a serem usadas nessas aprendizagens da linguagem escrita, é preciso saber da singularidade deste indivíduo, como também lembrar que o surdo vai precisar ter uma vida além dos muros da escola e para isso a autonomia deve ser sempre precursora nesta caminhada, fazendo com que a interface da comunicação por intermédio da escrita não seja caminho impeditivo para essas pessoas, ao contrário, possam dar funcionalidade e interação para a vida cotidiana como também precisa- se considerar que o surdo aprende a sua língua natural (Libras) e escreve na segunda língua (Língua Portuguesa). Para a escrita da Língua Portuguesa como segunda língua, Perlin (2010, p. 57), diz que: É tão difícil escrever. Para fazê-lo, meu esforço tem de ser num clima de despender energias o suficiente demasiada. Escrevo numa língua 195 que não é minha. Na escola fiz todo esforço para entender o significado das palavras usando o dicionário. São palavras soltas elas continuam soltas. Quando se trata de pô-las no papel, de escrever meus pensamentos, elas são marcadas por um silêncio profundo. Eu preciso decodificar o meu pensamento visual com palavras em português que têm signos falados. Muito há que é difícil ser traduzido, pode ser apenas uma síntese aproximada. Tudo parece um silêncio quando se trata da escrita em português, uma tarefa difícil, dificílima. . Diante do exposto é fundamental que não seja colocado com ações pedagógicas que reforcem a sua ―deficiência‖ e sim organizar ações que possibilitem à escrita do sujeito surdo a construção do significado, do aprendizado levando em consideração a relação do indivíduo com o outro e dele com o mundo. A EDUCAÇÃO INFANTIL INCLUSIVA UM AMBIENTE DE CARINHO A entrada de crianças surdas na Educação Básica é uma demanda que exige das instituições educacionais uma educação inclusiva seja pensada e pautada nas singularidades desses sujeitos rapidamente construídas. Essa rapidez exige acolhimento que é um processo decorrente de descobertas natural de cada criança, dos profissionais envolvidos e das famílias acolhidas. Como já exposto aqui a escrita é uma das fases, tendo em vista que essas crianças atingem a idade escolar e gradativamente começam a procurar a Educação Infantil. A etapa seguinte pretende fortalecer discussões sobre o espaço educacional acolhedor para as famílias refletindo sobre a Educação Infantil Inclusiva. A trajetória da Educação Infantil traz à luz da Constituição Federal de 1988, ainda chamada de pré-escola que atendia crianças de 0 a 6 anos com atendimento gratuito da necessidade de mão de obra trabalhadora e consequentemente um viés assistencialista terceirizando os cuidados maternos. Segundo Marafon (sd, p. 4/5), do atendimento as crianças: O atendimento às crianças de 0 a 6 anos apareceu no Brasil no final do século XIX, pois antes deste período, o atendimento de crianças pequenas longe da mãe em instituições como creches praticamente 196 não existiam. Na zona rural, onde vivia a maior parte da população, as famílias de fazendeiros assumiam o cuidado das crianças abandonadas, geralmente fruto da exploração sexual da mulher negra e índia, pelo senhor branco. Na área urbana, bebês abandonados, por vezes filhos de moças pertencentes a famílias de prestígio social, eram recolhidos na roda dos expostos. A Constituição Brasileira teve papel importante nos direitos desses infantes, legitimando esses direitos, a posteriori esta idade mudou de 0 a 5 anos, o Estatuto da criança e do Adolescente (1990), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996) e outros documentos existentes no país, ampliam esse atendimento à primeira infância que vai além de um olhar meramente assistencialista e de cuidados, mas também de eventos básicos ensinados na escola como: aprender com os outros, rotina diária, cuidados básicos de higiene, compreensão, o brincar, entre outros, como também a diminuição da faixa etária dos 5 para 4 anos de idade, a família deve ser responsável por matricular seus filhos na escola e consequentemente, a escola ser responsável por esses estudantes a partir desta idade da Educação Infantil. Na perspectiva docente, o profissional da Educação Infantil deve possibilitar estratégias lúdicas e uma rotina cotidiana que desmistifique a ideia de substituir a família, fazendo com que a escola assuma seu papel de ensinar e aprender e o da família de cuidar e proteger. Moyles (2006, p. 62) ressalta que ―os professores têm papel fundamental em estimular as crianças no brincar‖. O SURDO NA ESCOLA E A FAMÍLIA OUVINTE Desde o ventre da mãe o feto já recebe estímulos para a audição, é na barriga antes do nascimento que conforme pesquisas em neurociência, psicologia e outras áreas, afirmam que os fetos a partir da vigésima semana já demonstram reações aos estímulos sonoros, ele desenvolve capacidade de ouvir e memorizar os sons intrauterinos, mas e quando o bebê nasce surdo e a família só percebe com o passar do tempo do nascimento da criança? Segundo Zaeyen (2003 p. 131), sobre a audição do feto, a autora afirma que: 197 Sabe-se que o recém-nascido já escuta. De fato, o feto de mais ou menos 25 semanas de gestação já pode escutar. Seu ambiente acústico é constituído por ruídos externos e internos (a respiração, os batimentos cardíacos, os movimentos musculares e intestinais maternos). Como esse feto já está recebendo informações, e muito provavelmente registrando-as, é importante saber