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Diagnóstico de Radiologia Veterinária /Donald E. Thrall; - 6 ed. - Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. Resumo capítulos 35, 36, 37, 43, 44, 45 Princípios da Interpretação Radiográfica do Abdome A avaliação abdominal é um dos exames radiográficos mais comuns na clínica de pequenos animais. A radiografia abdominal raramente é realizada em cavalos adultos, exceto na avaliação dos aspectos cranioventral e/ou ventral do abdome para a detecção de acúmulos de areia ou enterólitos. Nos potros e cavalos miniatura, o abdome inteiro pode ser radiografado com sucesso, embora os órgãos abdominais sejam menos evidentes do que em cães ou gatos em decorrência da quantidade relativamente reduzida de gordura peritoneal, e pelo fato de grande parte do volume abdominal do equino ser ocupado pelo trato gastrointestinal. No cão e no gato, a não ser que se esteja procurando especificamente por massas abdominais pequenas, mineralizações pequenas como cálculo uretral, ou alterações do peritônio; ou (2) preparando o paciente para algum estudo abdominal com contraste, como trânsito gastrointestinal ou urografia excretora, não são necessárias preparações especiais tais como jejum ou aplicação de enemas antes das radiografias abdominais. Caso se suspeite de uma obstrução intestinal, a aplicação de enema é contraindicada, já que pode alterar o padrão original dos gases e líquidos intestinais. Esse padrão original dos gases e líquidos intestinais é essencial para o diagnóstico de obstrução intestinal, e não deve ser alterado pela utilização de enema. Posicionamento — cão e gato É importante que toda a cavidade abdominal seja incluída na imagem. O campo da projeção deve se estender desde a porção cranial do diafragma até alguns poucos centímetros caudais às articulações coxofemorais. Nas projeções laterais, os membros pélvicos não devem ser tracionados caudalmente, devendo permanecer perpendiculares à coluna vertebral. Isto relaxa a região caudoventral da parede abdominal e reduz a compressão. Da mesma maneira, na projeção VD, deve- se utilizar a posição denominada frog leg em vez de tracionar os membros pélvicos caudalmente. Se os membros pélvicos são tracionados caudalmente para a realização da projeção VD, a compressão aumentará e pregas na pele surgirão na lateral da coxa e/ou na região abdominal caudal. Estas pregas de pele criam sobreposições com evidente opacidade, interferindo na avaliação do aspecto caudal do abdome. Projeção Lateral A diferença máxima nessa aparência observada entre a projeção lateral esquerda e a projeção lateral direita ocorre quando o estômago está moderadamente distendido e contém tanto gás quanto líquido. É de fundamental importância saber reconhecer que, na projeção lateral direita, especialmente nos cães, o piloro pode assumir a aparência de uma massa ou de um corpo estranho devido ao acúmulo de líquido. Projeções Ventrodorsal e Dorsoventral Como mostrado anteriormente, a projeção DV do abdome é apenas raramente obtida. Ocasionalmente, uma radiografia abdominal DV pode ser útil quando a radiografia VD não pode ser realizado. O fato da posição do gás depender da gravidade é um aspecto útil nas radiografias DV. Porém, outras diferenças específicas das radiografias VD comparando-se com as radiografias DV não serão discutidas devido à infrequente necessidade de se avaliar radiografias abdominais DV. Posicionamento — cavalo Os órgãos abdominais do cavalo são menos evidentes do que os do cão ou do gato devido ao grande volume do trato gastrointestinal e da quantidade relativamente reduzida de gordura peritoneal. Sendo assim, as radiografias VD raramente são úteis, ou mesmo possíveis de se obter, e a maioria das questões relativas ao exame radiográfico podem ser respondidas pelas projeções laterais. Estas questões frequentemente dizem respeito à presença de material gastrointestinal estranho, como um enterólito ou areia, ou à presença de obstruções intestinais mecânicas, que comumente estão acompanhadas de um aumento no diâmetro intestinal, bem como aumento na quantidade de gás e líquido intraluminal. O aumento de gás no intestino, devido à sua radiolucência, pode ser detectado com facilidade, mesmo na impossibilidade de reconhecer os órgãos abdominais ou a parede do intestino. O detalhe radiográfico do abdome é melhor em potros ou cavalos miniatura do que em cavalos adultos comuns embora, às vezes, informações relevantes sobre o conteúdo intestinal possam ser obtidas até mesmo em cavalos adultos. Espaço Peritoneal O peritônio, uma membrana serosa fina, é dividido em camadas parietal, visceral e conectiva, todas contínuas. O peritônio parietal recobre a superfície interna da cavidade abdominal e adere-se intimamente à musculatura abdominal; separa os espaços extraperitoneal e intraperitoneal. O peritônio visceral envolve, completa ou parcialmente, os órgãos da cavidade abdominal. O peritônio conectivo inclui mesentério, omento e ligamentos intra-abdominais. O espaço peritoneal, entre o peritônio parietal e visceral, normalmente contém somente uma pequena quantidade de líquido para lubrificação. O espaço entre a margem dorsal do peritônio parietal e a parede abdominal é o espaço retroperitoneal. O espaço retroperitoneal está fora da cavidade peritoneal e contém as glândulas adrenais, rins, ureteres, grandes vasos sanguíneos e linfonodos. O espaço retroperitoneal comunica-se cranialmente com o mediastino por meio do hiato aórtico e caudalmente com o canal pélvico. Tipicamente, há gordura por todo o abdome, principalmente no ligamento falciforme, no omento maior, no mesentério e no espaço retroperitoneal. A presença de gordura intra-abdominal é importante para a visualização do órgão visceral em radiografias porque a gordura fornece uma opacidade interposta entre as vísceras. Perda de Contraste Provocada por Opacidade Líquida Aumentada A quantidade e o caráter da gordura intra- abdominal dependem da idade do animal e da condição corporal. Em pacientes muito magros, o abdome é normalmente estreito, o que pode ser visualizado nas radiografias; entretanto, a possibilidade de líquido peritoneal coexistente ou peritonite não pode ser excluída. Cães e gatos normais com menos que alguns meses de idade não têm gordura suficiente para fornecer contraste intra-abdominal; portanto, o abdome parece ter uma opacidade de tecido mole relativamente uniforme. Outro fator é que os pacientes jovens têm uma proporção relativamente maior de gordura marrom (multilocular) que os adultos. A gordura marrom tem uma opacidade semelhante à de tecidos moles devido a seu alto volume de água. Com a maturidade, o teor de água da gordura marrom diminui. Com a substituição da gordura marrom por gordura branca, o contraste entre os tecidos moles intra-abdominais aumenta. Líquido entre as vísceras abdominais causa a obliteração da borda visceral, perda de contraste intra- abdominal e também aumenta a opacidade como um todo. A classificação da efusão abdominal é ampla e inclui transudatos, exsudatos, sangue, urina, bile e quilo. Na prática, todos os líquidos abdominais são de opacidade do tecido mole, comparável aos órgãos viscerais. Em muitos casos, o líquido limita se ao espaço peritoneal, e o contraste entre os rins e a gordura retroperitoneal adjacente é preservado. Aumento de Contraste Provocado por Aumento da Opacidade de Gás As duas causas mais comuns de gás livre intraperitoneal são penetração da parede abdominal, seja por cirurgia ou por feridas penetrantes, e perfuração do intestino. Entretanto, nem todas as perfurações intestinais levam ao gás abdominal livre. Um pequeno volume de gás abdominal livre pode ser difícil de reconhecer em radiografiasconvencionais feitas com um feixe de raios X vertical porque as bolhas de gás são pequenas e irregulares em formato e podem ser mal interpretadas como gás intestinal a não ser que se localizem em uma região onde o intestino não seja normalmente encontrado. Anormalidades da Parede Abdominal A mineralização pode ser visualizada ocasionalmente nos tecidos moles ao redor do abdome. Por exemplo, a calcinose cutânea associada à síndrome de Cushing pode produzir calcificação nodular ou linear dos tecidos moles, mais frequentemente dorsalmente e na parede abdominal ventral. Gás de diversas causas pode ser visto nos tecidos moles ao redor do abdome. Escoriações acompanhadas de lacerações comumente produzem um padrão gasoso irregular e heterogêneo. Bolhas de gás tubulares ou redondas podem estar contidas dentro de alças intestinais herniadas. Fígado e baço Radiologia do fígado O fígado é o maior órgão sólido do abdome. Alterações no tamanho, formato, localização e opacidade hepática são usadas para avaliar o fígado para possíveis anormalidades O fígado está localizado no aspecto cranial do abdome, entre o diafragma, que delimita sua borda cranial, e o estômago, rim direito e a porção cranial do duodeno, que definem o limite caudal. O fígado está quase totalmente dentro do arco costal, com a borda ventral caudal, composta pelo lobo lateral esquerdo no cão, estendendo-se um pouco além do arco costal. Em cães com uma cavidade torácica profunda, o fígado está quase completamente dentro do arco costal, enquanto uma maior extensão hepática caudal está presente em cães com conformação torácica larga e rasa. Gordura falciforme abundante, especialmente em gatos, pode resultar no deslocamento dorsal do aspecto ventral do fígado em projeções laterais. Em projeções ventrodorsais, o fígado está distribuído de forma quase simétrica em cães, mas uma maior porção está frequentemente à direita em gatos. A vesícula biliar está localizada imediatamente à direita da linha média, na porção cranioventral do fígado, mas não é normalmente visível devido à sobreposição do tecido mole do fígado. Em alguns gatos, entretanto, a vesícula pode ser vista em radiografias abdominais laterais como uma estrutura curva saliente da margem ventral do fígado. Hepatomegalia O aumento hepático pode ser detectado radiograficamente, embora leves alterações de tamanho não possam ser avaliadas com precisão. Os sinais radiográficos clássicos de hepatomegalia generalizada são o arredondamento das margens caudoventrais do fígado, juntamente com a extensão além do arco costal, e deslocamento caudal, e talvez medial, dos eixos gástricos. Rádio-opacidade Hepática Um fígado normal tem opacidade de tecido mole. As opacidades minerais podem ocorrer no parênquima hepático ou no sistema biliar. Colelitíase deve ser considerada quando opacidades minerais focais estão visíveis na área da vesícula biliar. Imagens lineares de opacidades mineralizadas estendendo-se perifericamente são indicativas de cálculos biliares. Cálculos biliares são incomuns em cães e gatos, mas são visíveis radiograficamente se contiverem cálcio suficiente. Esses são achados incidentais comuns, mas os cálculos biliares podem causar obstrução biliar. A mineralização da parede da vesícula biliar foi associada a carcinoma de vesícula, além de colecistite ou hiperplasia mucinosa cística. Radiologia do baço O baço é um órgão dinâmico cujo tamanho e localização variam amplamente, especialmente em cães. Há inúmeras variações no aspecto radiográfico do baço normal. O baço é tipicamente dividido em uma extremidade proximal, chamada de cabeça do baço; um corpo e uma extremidade distal, chamada de cauda do baço. A extremidade proximal é relativamente fixa no aspecto craniodorsal esquerdo do abdome devido ao ligamento gastroesplênico. A extremidade distal não é fixa, e sua posição pode variar de forma considerável. Em projeções ventrodorsais do abdome canino, a extremidade proximal do baço é tipicamente observada como uma opacidade de tecido mole triangular caudolateral ao fundo gástrico e craniolateral ao rim esquerdo. O baço remanescente pode estender-se caudalmente, adjacente a parede abdominal lateral esquerda, ou mais medialmente ao longo da linha média. Quando o baço se estende medialmente, seu comprimento total não é completamente visualizado na projeção ventrodorsal. Tamanho Esplênico A avaliação radiográfica do tamanho do baço é muito subjetiva, pois seu tamanho normal varia muito. A esplenomegalia generalizada resulta em margens espessas, arredondadas e abauladas, e o deslocamento dorsal e caudal do jejuno em projeções laterais. O deslocamento de órgãos na projeção ventrodorsal como resultado do aumento do baço depende da porção do baço que está aumentada e o grau de aumento. O jejuno pode estar deslocado para a direita ou esquerda, enquanto uma extremidade proximal aumentada resulta no deslocamento cranial do estômago. A opacidade normal esplênica é a de tecido mole. A mineralização do baço pode ser o resultado da calcificação distrófica de abscessos, hematomas, granulomas fúngicos ou massas neoplásicas. Gás no baço pode resultar de torção esplênica. Entretanto, assim como no fígado, o gás pode ascender para a circulação portal e afetar o baço. Estômago Achados radiográficos normais O estômago é facilmente identificado pela sua localização e seu formato, além do conteúdo gasoso, presença de ingesta, ou ambos. O estômago pode não ser inteiramente visibilizado em radiografias simples caso esteja vazio ou, se preenchido por conteúdo líquido, esteja acolado ao fígado ou a outras estruturas abdominais. Como regra geral, na projeção lateral, o eixo do estômago que se estende a partir do fundo por meio do corpo e piloro costuma se apresentar perpendicularmente à coluna e paralelamente às costelas, ou em alguma posição entre estes ângulos. Na projeção lateral, o piloro pode apresentar-se sobreposto ou discretamente cranial ao corpo do estômago. Em cães, na projeção ventrodorsal, observa-se a cárdia, o fundo e o corpo do estômago, os quais estão localizados à esquerda da linha média e também as porções pilóricas localizadas à direita da linha média. O esfíncter pilórico geralmente está localizado no quadrante abdominal cranial direito, aproximadamente no nível da décima ou décima primeira costela, estando geralmente cranial ao canal pilórico. Em cães filhotes, o piloro pode localizar-se mais próximo à linha média do que em adultos. Achados ultrassonográficos e radiográficos anormais -Deslocamento O posicionamento do estômago é um indicador útil no reconhecimento de algumas anormalidades extragástricas na porção cranial do abdome. Algumas alterações hepáticas, esplênicas, pancreáticas ou diafragmáticas podem afetar o estômago. A relação entre o estômago e uma determinada anormalidade extragástrica pode auxiliar na definição dos principais órgãos envolvidos ou da natureza da lesão primária. -Corpos Estranhos Gástricos A presença de material radiopaco dentro da cavidade gástrica é facilmente visibilizada, comumente presente em exames radiográficos simples. Tais opacidades são frequentemente resultado do alimento ingerido ou de fragmento de ossos, o que geralmente não tem significado clínico. Corpos estranhos clinicamente significantes, como anzóis e agulhas, também são prontamente visibilizados e não apresentam nenhuma dificuldade em seu diagnóstico. Corpos estranhos metálicos discoides são importantes, uma vez que algumas moedas contendo zinco (centavos americanos cunhados depois de 1982 e os centavos europeus) podem induzir a hemólise intravascular. Por esta razão, radiografias do abdome sãoindicadas na avaliação de pacientes com hemólise intravascular. Outros tipos de objetos metálicos também podem conter zinco. A identificação do tipo de moeda pode ser possível radiograficamente. Se visibilizadas de frente, o diâmetro pode ser medido e, corrigindo o fator de ampliação, pode ser comparado ao diâmetro conhecido das moedas. Às vezes, a imagem da moeda apresentará detalhes que permitem a sua identificação. -Dilatação Gástrica Aguda e Vólvulo A dilatação gástrica aguda e o vólvulo produzem uma distensão gasosa do estômago. Embora tanto fluidos quanto gás estejam presentes no estômago, a distensão gasosa é a anormalidade predominante encontrada nestas condições. A distensão gasosa aguda do estômago pode ser atribuída a uma variedade de causas, entre estas, a aerofagia decorrente de grave dispneia ou dor. Nestes casos, a distensão gástrica é geralmente de menor gravidade e outros achados podem estar presentes contribuindo para o diagnóstico diferencial. Na dilatação gástrica aguda, o estômago se encontra aumentado de tamanho e preenchido principalmente por gás, porém mantém sua posição e relações anatômicas normais. O principal achado radiográfico de vólvulo gástrico é a distensão gasosa e líquida do estômago, mais gasosa do que líquida. Além disso, o piloro geralmente se encontra deslocado dorsalmente e para a esquerda. Assim, a determinação radiográfica da localização do piloro é uma característica fundamental na diferenciação entre a dilatação gástrica aguda e o vólvulo. -Obstrução Pilórica Crônica A obstrução do fluxo pilórico pode ser aguda ou crônica. As causas de obstrução aguda incluem o vólvulo gástrico e a presença de corpos estranhos. A obstrução crônica do piloro geralmente resulta de um estreitamento do orifício pilórico causado por alterações que afetam a parede ou bloqueiam o orifício, como a estenose hipertrófica pilórica, o espasmo do piloro, processos inflamatórios ou fibrosos, neoplasias e hipertrofia da mucosa antral. Estas condições geralmente causam obstrução parcial no piloro, levando à retenção crônica do conteúdo gástrico. A obstrução crônica parcial do piloro frequentemente pode ser visibilizada em exames radiográficos simples como uma distensão gástrica repleta de fluidos em contraposição à distensão gasosa aguda do vólvulo gástrico. -Úlceras Gástricas Úlceras gástricas são dificilmente identificadas em exames radiográficos simples. As úlceras são mais evidentes em exames contrastados, nos quais podem ser visibilizadas como crateras na parede do estômago, que aparecem como invaginações do contraste na superfície da parede voltada para o lúmen. O aspecto radiográfico da úlcera gástrica pode variar dependendo se esta está projetada de perfil, facial ou oblíqua, e ainda pode estar alterado pelo peristaltismo gástrico. A manipulação do paciente durante a fluoroscopia permite uma avaliação mais completa e contínua das margens e contornos do estômago. O exame radiográfico com duplo contraste também pode ser útil uma vez que úlceras projetadas facialmente podem ser visibilizadas neste exame, mas sua imagem fica obscurecida em radiografias com contraste positivo. -Neoplasia gástrica A aparência radiográfica de uma neoplasia gástrica pode variar e depender principalmente do tamanho, forma e localização do tumor. A principal característica radiográfica pode ser a identificação de uma massa projetada para dentro do lúmen gástrico, gerando uma falha de preenchimento do meio de contraste. Quanto mais nodular e pedunculada for a lesão, mais fácil será para reconhecê-la como uma massa distinta. Massas pequenas podem ser completamente encobertas por um volume relativamente grande de bário. Projeções oblíquas, variações na conformação do estômago e contrações peristálticas podem contribuir para ocultar algumas lesões em massa no órgão. -Alterações Difusas do Estômago O estômago pode estar envolvido de forma difusa em uma variedade de enfermidades que provocam inflamação, hipertrofia, atrofia ou mineralização. A gastrite aguda pode ter causas variadas e raramente apresenta alterações radiográficas. A gastrite crônica é infrequentemente diagnosticada clinicamente e também pode ter várias causas, que incluem doenças como a gastrite atrófica crônica, gastrite hipertrófica crônica, gastrite eosinofílica, pitiose e zigomicose. A escassez de pregas, pregas aumentadas, a presença de nódulos ou o espessamento da parede gástrica podem estar associados a estas doenças. A avaliação do espessamento da parede do estômago por meio do exame radiográfico simples deve ser cautelosa. Os fluidos do lúmen gástrico podem dificultar o delineamento das margens da parede do órgão, gerando falsa impressão de espessamento parietal. Intestino delgado Intestino delgado normal O intestino delgado normal é reconhecido em radiografias simples como estruturas tubulares regulares e contínuas, encurvadas, ou como círculos sólidos ou anéis. Estes formatos são produzidos pela contração da musculatura lisa. As contrações segmentares originam formatos esféricos, enquanto as contrações peristálticas produzem formatos tubulares alongados. Intestino delgado anormal -Doença Causadora de Dilatação Intestinal De modo geral, a aparência do intestino mecanicamente obstruído é diferente daquela do órgão funcionalmente obstruído pelos seguintes parâmetros: (1) o diâmetro do intestino mecanicamente obstruído tende a ser maior do que o do órgão funcionalmente obstruído; (2) costumam ser encontrados gás e fluido no lúmen do intestino mecanicamente obstruído, enquanto o órgão funcionalmente obstruído tende a conter mais gás ou estar completamente repleto por gás; (3)os pacientes com obstrução mecânica geralmente apresentam alguns segmentos intestinais de diâmetro normal, enquanto em indivíduos com obstrução funcional o órgão pode estar acometido de forma generalizada. Estes parâmetros, porém, têm caráter apenas orientador, e há alguma sobreposição entre os íleos mecânico e funcional, impossibilitando a distinção radiográfica destas doenças em alguns pacientes. -Obstrução Mecânica O lúmen do intestino delgado pode ser ocluído por objetos estranhos, intussuscepção, massa originária da parede do órgão ou lesões extrínsecas. As características radiográficas da obstrução dependem de sua plenitude, da localização no trato gastrointestinal e da duração. O sinal radiográfico mais condizente com a obstrução mecânica é o grau variável de dilatação intestinal localizada oralmente ao ponto de obstrução. -Íleo Funcional Quando as contrações peristálticas do intestino são interrompidas em decorrência de anormalidades vasculares e neuromusculares na parede intestinal, o lúmen se dilata permanecendo patente. Muitos pacientes não apresentam alterações radiográficas específicas que diferenciem a dilatação intestinal causada pelo íleo funcional daquela provocada pelo íleo mecânico. -Doença Intestinal Infiltrativa Na doença intestinal infiltrativa, há infiltração generalizada ou segmentar da parede intestinal como resultado de inflamação não séptica, infecção ou neoplasia. As imagens diagnósticas devem identificar a presença de doença infiltrativa e diferenciar as causas subjacentes. Com infiltração celular nas camadas da parede, os efeitos esperados são mudanças na espessura da parede e alterações nas características teciduais das camadas individuais. Secundariamente, a motilidade intestinal pode estar alterada, resultando em mudança no diâmetro intestinal. A espessura da parede intestinal não pode ser determinada de forma confiável a partir de radiografias simples, mas pode ser avaliada por meio de exames contrastados com sulfato debário e da ultrassonografia, sendo esta última mais sensível na detecção do espessamento. Intestino Grosso Anatomia radiográfica normal O intestino grosso de cães e gatos é constituído pelo ceco, cólon, reto e canal anal. O ceco, um divertículo do cólon proximal, possui anatomia e aparência radiográfica diferentes em cães e gatos. O ceco canino é semicircular, compartimentalizado e, normalmente, contém algum gás luminal. O ceco une-se inteiramente ao cólon na junção cecocólica. O gás luminal e o formato característico possibilitam o reconhecimento do ceco na porção média direita do abdome na maioria das radiografias simples. O ceco felino, geralmente, não é visível em radiografias simples. Trata-se de um divertículo do cólon curto e com formato de cone sem junção cecocólica distinta e sem compartimentalização, raramente contendo gás ou fezes. Técnicas radiográficas da avaliação do intestino grosso -Radiografia Simples Pelo fato de fezes e gás produzirem opacidades radiográficas contrastantes e, normalmente, estarem presentes no intestino grosso, uma parte ou a totalidade do órgão é identificado em radiografias simples do abdome. O conteúdo normal do intestino grosso, habitualmente, apresenta padrão característico de bolhas de gás delicadas e uniformemente distribuídas, as quais auxiliam na diferenciação do cólon das alças do intestino delgado e das condições anormais do intestino grosso. Quando presentes, corpos estranhos, opacos minerais ou metálicos, são facilmente reconhecidos. Nem a espessura da parede, muito menos o padrão da mucosa, podem ser avaliados por meio de radiografias simples. -Radiografia Compressiva A radiografia compressiva do abdome é uma técnica simples que pode ajudar a esclarecer a presença de lesões. Quando o abdome é comprimido por uma colher ou pá de madeira ou plástico; vísceras ou massas adjacentes ao intestino grosso são deslocadas ou comprimidas, o que aumenta o detalhamento radiográfico. A avaliação radiográfica definitiva do intestino grosso geralmente requer exames contrastados com suspensão de sulfato de bário (enema de bário), com ar (pneumocólon), ou com a combinação da suspensão de sulfato de bário e ar (estudo de duplo contraste). Há um risco de rompimento de massas ou vísceras ocas com esta técnica e deve-se usá-la com cautela. Enema de Bário Os achados de enema de bário na doença do intestino grosso incluem: (1) irregularidade da interface bário/mucosa, (2) espasmos do lúmen intestinal, (3) oclusão parcial ou completa do lúmen intestinal, (4) saculações da parede intestinal em hérnias ou divertículos, (5) deslocamento do intestino e (6) perfuração com peritonite. Infelizmente, os achados do enema de bário são frequentemente inespecíficos. Embora espasmos e irregularidades na mucosa sejam comumente associados a grave inflamação local, outras causas incluem toxicidade, mecanismos reflexos e fatores idiopáticos. A inflamação do intestino pode ocorrer com espessamentos generalizados ou focais da parede intestinal resultantes de edemas e pequenas ulcerações. Os estágios agudos de inflamação intestinal frequentemente não apresentam achados radiográficos anormais. Achados radiográficos nas doenças do intestino grosso As doenças que envolvem o intestino grosso podem produzir alterações no tamanho, formato, localização e radiopacidade do cólon. Embora a função não possa ser avaliada radiograficamente, a quantidade e a localização das fezes podem sugerir motilidade prejudicada. Um cólon preenchido com fluido homogêneo sem o padrão de gás delicadamente distribuído, típico de fezes formadas, é sugestivo de diarreia. Uma massa de tecidos moles ou uma intussuscepção também aparecem com radiopacidade homogênea de tecidos moles. Uma interface gás/tecido mole curvilínea com opacidade homogênea de tecido mole luminal no intestino grosso pode, ocasionalmente, ser vista na borda da intussuscepção e, por vezes, é referida como sinal do menisco. A maioria dos achados radiográficos nas doenças do intestino grosso não é patognomônica. Muitas doenças diferentes possuem achados radiográficos semelhantes e qualquer doença específica pode ter um espectro de aspectos diferentes. Além disso, as causas parasitárias, dietéticas e inflamatórias de enfermidades do intestino grosso frequentemente não apresentam anormalidades radiográficas detectáveis. O diâmetro do cólon normal varia de acordo com a quantidade de fezes e hábitos individuais de defecação. A impactação colônica é caracterizada radiograficamente pelo acúmulo de fezes que são mais radiopacas que o normal em consequência da absorção contínua de água do conteúdo do cólon. A impactação crônica também pode ocasionar aumento generalizado do cólon. A dilatação localizada do cólon normalmente está relacionada à impactação ou a alterações localizadas como obstruções mecânicas, estreitamentos do canal pélvico, doenças murais ou tumores extramurais. A dilatação generalizada do cólon é geralmente referida como megacólon. O megacólon pode ser causado por obstrução mecânica ou funcional e é caracterizado por dilatação colônica difusa, com motilidade ineficiente. Pode ser idiopático ou estar associado a causas subjacentes como: (1) obstipação e constipação crônicas decorrentes de causas nutricionais, metabólicas ou mecânicas; (2) anormalidades vertebrais, como síndrome da cauda equina ou agenesia sacrococcígea em gatos Manx; (3) desordens neuromusculares como disautonia, aganglionose ou doença de Hirschsprung(4) desordens metabólicos como hipocalemia ou hipotireoidismo; (5) fístulas ureterocólicas e (6) anomalias anorretais congênitas. As causas mecânicas de obstrução do cólon incluem estreitamentos do canal pélvico decorrentes de fraturas pélvicas mal consolidadas, prostatomegalias, linfadenopatias, massas colônicas e corpos estranho.
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