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AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO SOBRE DIREITOS HUMANOS Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 CURSO DE DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO SOBRE DIREITOS HUMANOS Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS 1.2 CONCEITO, CARACTERIZAÇÃO E FINALIDADE DE DIREITOS HUMANOS 1.2.1 Conceito 1.2.2 Caracterização 1.2.3 Finalidade 1.3 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 1.3.1 Pessoa Humana como Sujeito Principal do Desenvolvimento 1.3.2 A Liberdade e os Valores da Igualdade 1.4 DIREITOS HUMANOS: CIDADANIA E EDUCAÇÃO 1.4.1 Relação entre Cidadania e Educação 1.4.2 Direitos e Deveres da Cidadania 1.5 DIREITOS HUMANOS NO BRASIL 1.6 DIREITOS HUMANOS: DEMOCRACIA E DESENVOLVIMENTO 1.6.1 Estado Democrático de Direito REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/REV 4.0 4 1 INTRODUÇÃO A origem dos direitos individuais do homem pode ser apontada no antigo Egito e Mesopotâmia, no terceiro milênio a. C., onde já eram previstos alguns mecanismos para a proteção individual em relação ao Estado. Os direitos humanos, considerados como direitos humanos fundamentais, resultaram das lutas sociais contra os poderes constituídos, a estrutura feudal e o absolutismo político. Assim, surgem como uma reação ao absolutismo, visando delimitar o poder de controle do Estado. A historicidade dos direitos humanos configura-se a partir do seu nascimento e evolução em determinadas circunstâncias históricas, caracterizadas pelas lutas por novos direitos e liberdades contra os velhos poderes. Como dizia Norberto Bobbio: Os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos, ou seja, nascidos em certas circunstâncias, caracterizadas por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não de uma vez e nem de vez por todas. (BOBBIO, 1992, p. 32). Por exemplo, a liberdade religiosa é um feito das guerras de religião. As liberdades civis, das lutas dos parlamentares contra os soberanos absolutos. A liberdade política e as liberdades sociais, do nascimento, crescimento e amadurecimento do movimento dos trabalhadores associados, dos camponeses com pouca ou nenhuma terra, dos pobres que exigem dos poderes públicos não só o reconhecimento da liberdade pessoal, assim como a proteção do trabalho contra o desemprego. AN02FREV001/REV 4.0 5 1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS Portanto, ao longo da história da humanidade a concepção de direitos humanos tem sofrido variações, de acordo com o modo de organização da vida social e política de cada país. Podemos dizer que há três grandes fundamentações teóricas em torno dos direitos humanos: A primeira concepção metafísica e abstrata identifica os direitos humanos a partir de valores transcendentais, que se manifestam por meio da vontade divina, visão que predominou durante o período feudal, ou da razão natural humana, ideia defendida pelos autores jusnaturalistas, no século XVII. A concepção metafísica defende a ideia de que os direitos humanos são inerentes ao homem, independentemente do seu reconhecimento pelo estado. A segunda concepção, positivista, defende que os direitos humanos só podem ser considerados fundamentais e essenciais quando reconhecidos por ordenamento jurídico. Assim, os direitos não seriam inerentes ao homem, mas o resultado de lutas e conquistas e conquistas políticas e sociais. A terceira concepção, materialista-histórica, que teve como grande teórico Karl Marx, surge no século XIX como uma crítica ao pensamento liberal. Essa concepção considera que os direitos humanos, enunciados na Declaração dos Direitos do Homem de 1789, são expressão das lutas sociais da época que culminaram com a ascensão da burguesia ao poder, derrotando o Antigo Regime. O materialismo histórico traz à teoria dos direitos humanos a distinção entre as liberdades formais, usufruídas apenas pela burguesia e as liberdades reais, que não atingiam a maioria dos homens. Portanto, o pensamento marxista forneceu elementos de análise essenciais à compreensão dos direitos humanos na sociedade contemporânea. Assim, podemos observar que, segundo as diferentes concepções, uns entendem que os direitos humanos, também chamados de direitos dos homens e fundamentais, são inerentes à natureza humana, já para outros, os direitos humanos são a expressão de conquistas sociais que ocorrem por intermédio das políticas. Portanto, na primeira geração dos direitos humanos, a luta pela conquista dos AN02FREV001/REV 4.0 6 direitos individuais ou de liberdade desenvolveu-se nos séculos XVII e XVIII. Os documentos mais famosos produzidos nesse período e que refletem o modo como a sociedade estava pensando os direitos humanos são a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da Revolução de 1789 e a Declaração dos Direitos do Estado da Virgínia na Independência Americana, em 1776. Esses dois documentos exprimem o desejo do povo de lutar contra a opressão que sofria por parte de seus governantes. Os direitos dos homens deixam de ser vistos apenas como vontade divina. As ideias centrais nessas duas declarações são a liberdade e a igualdade entre os homens, expressas no lema da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Já a segunda geração dos direitos humanos foi formulada nos primeiros 70 anos do século XIX, quando ocorre o desenvolvimento de uma economia industrial e proletariado, uma classe de trabalhadores explorados e espoliados de sua força de trabalho pela burguesia. Diante da pobreza e da expropriação que era imposta a esses trabalhadores, aqueles ideais de igualdade de direitos e de liberdade para todos passaram a ser questionados. Na realidade, havia uma distância muito grande entre os direitos humanos formalizados no papel e aqueles que eram vividos na realidade. Havia uma diferença muito grande entre os direitos formais e os direitos reais. Nessa segunda geração de direitos humanos foram considerados como direitos fundamentais “os direitos sociais, econômicos e culturais”. Entre eles, podemos citar: À vida À educação À moradia À educação gratuita À remuneração digna À greve Aos serviços públicos À segurança À moradia À proteção da infância Ao lazer AN02FREV001/REV 4.0 7 Finalmente, a terceira geração dos direitos humanos foi marcada por uma ampliação da noção de direitos humanos. Ela se desenvolveu no período após a Segunda Guerra Mundial, quando todo mundo pedia o fim dos crimes contra a humanidade. Foram incorporados, nessa geração, os direitos à paz, à autodeterminação dos povos e a um meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado. Cada vez mais se amplia o entendimento de que essas três gerações de direitos são complementares umas às outras. Sendo assim, as gerações de direitos não podem ser hierarquizadas, nem a compreensão sobre o que são os direitos humanos pode ser fragmentada. Assim, os direitos nascem quando devem ou podem nascer. Nascem quando há um aumento do poder do homem pelo homem, ou cria novas ameaças à liberdade do indivíduo. Como vimos, o elenco dos direitos dos homens se modificou comas mudanças das condições históricas, o que é fundamental em uma época histórica e em uma determinada civilização, não fundamental em outras épocas e em outras culturas, etc. Historicamente, podemos dizer que os direitos humanos podem estar dispostos cronologicamente em diversas fases ou gerações. Os direitos humanos, ao surgirem, fazem uso do novo conceito jurídico elaborado pela modernidade. A evolução dos direitos humanos não se deu de uma forma tão harmoniosa. Inseridos na dinâmica histórica, em contextos determinados, esses não foram conquistados sem luta e sem conflitos de interesses, quer entre indivíduos, classes e países. Os avanços que vêm se processando nessas últimas décadas, manifestaram-se por meio de novas conquistas e pela ampliação do conceito de direitos humanos, abrangendo novas aspirações coerentes com o mundo moderno. AN02FREV001/REV 4.0 8 1.2 CONCEITO, CARACTERIZAÇÃO E FINALIDADE DE DIREITOS HUMANOS 1.2.1 Conceito Direitos Humanos é a parte mais importante do Direito, é a revelação de que todos os seres humanos, apesar das inúmeras diferenças biológicas e culturais, merecem igual respeito, como únicos entes no mundo capazes de amar, descobrir a verdade e criar a beleza. A expressão Direitos Humanos já diz, claramente, o que este significa. Direitos Humanos são os direitos do homem. São direitos que visam resguardar os valores mais preciosos da pessoa humana, ou seja, direitos que tendem proteger a solidariedade, a igualdade, a fraternidade, a liberdade, a dignidade da pessoa humana. Sendo assim, direitos humanos são os direitos fundamentais da pessoa humana. Portanto, no regime democrático, toda pessoa deve ter a sua dignidade respeitada e a sua integridade protegida, independentemente da origem, raça, etnia, gênero, idade, condição econômica e social, orientação ou identidade sexual, credo religioso ou convicção política. Toda pessoa deve ter garantidos seus direitos civis (como à vida, segurança, justiça, liberdade e igualdade), políticos (como o direito à participação nas decisões políticas), econômicos (como o direito ao trabalho), sociais (como o direito à educação, saúde e bem-estar), culturais (como o direito à participação na vida cultural) e ambientais (como o direito a um meio ambiente saudável). Direitos Humanos são as ressalvas e restrições ao poder político ou as imposições a este, expressas em declarações, dispositivos legais e mecanismos privados e públicos, destinados a fazer respeitar e concretizar as condições de vida que possibilitem a todo o ser humano manter e desenvolver suas qualidades peculiares de inteligência, dignidade e consciência, e permitir a satisfação de suas necessidades materiais e espirituais. Esses direitos colocam-se como uma das previsões absolutamente necessárias a todas as Constituições, no sentido de consagrar o respeito à AN02FREV001/REV 4.0 9 dignidade humana, garantir a limitação de poder e visar o pleno desenvolvimento da personalidade humana. Os Direitos Humanos devem ser reconhecidos em qualquer Estado, grande ou pequeno, pobre ou rico, independentemente do sistema social e econômico que essa nação adota. Vejamos quais os conceitos elaborados pelos estudiosos da área sobre direitos humanos: João Baptista Herkenhoff, define Direitos Humanos: Por direitos humanos ou direitos do homem são, modernamente, entendidos aqueles direitos fundamentais que o homem possui pelo fato de ser homem, por sua própria natureza humana, pela dignidade que a ela é inerente. São direitos que não resultam de uma concessão da sociedade política. Pelo contrário, são direitos que a sociedade política tem o dever de consagrar e garantir. Para ele, direitos humanos são as ressalvas e restrições ao poder político ou as imposições a este, expressas em declarações, dispositivos legais e mecanismos privados e públicos, destinados a fazer respeitar e concretizar as condições de vida que possibilitem a todo o ser humano manter e desenvolver suas qualidades peculiares de inteligência, dignidade e consciência, e permitir a satisfação de suas necessidades materiais e espirituais. (HERKENHOFF, 1994, p. 72). Alexandre de Moraes, em uma perspectiva mais constitucionalista e preferindo a expressão “Direitos Humanos Fundamentais” considera-os como sendo: O conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana. (MORAES, 2002, p. 39). Norberto Bobbio, diz: Que estes nascem como direitos naturais universais, desenvolvem-se como direitos positivos particulares (quando cada Constituição incorpora Declarações de Direitos), para finalmente encontrarem sua plena realização como direitos positivos universais. (BOBBIO, 1992, p. 17). Assim, segundo Bobbio, o problema fundamental em relação aos direitos do homem, hoje, não é tanto de justificá-los, mas de protegê-los. Trata-se de um problema não filosófico, mas político. Este problema irá surgir na história, principalmente quando do surgimento dos direitos sociais, que por sua própria característica exigem a intervenção efetiva do Estado, por meio de políticas públicas. AN02FREV001/REV 4.0 10 Para a realização dos direitos humanos são necessárias condições objetivas, principalmente em se tratando de direitos sociais, que dependem da intervenção do Estado. Portanto, a expressão “Direitos Humanos” designa os direitos fundamentais. Assim, na verdade, os Direitos Humanos não são um ramo a mais do Direito, como o Direito Penal, o Direito Comercial, etc. Os Direitos Humanos são a raiz de todos os direitos. Sendo assim, o que distingue os Direitos Humanos ou Direitos Fundamentais de outras formas de ordenamento jurídico é que, sendo o Direito fundamentado nos direitos intrínsecos do homem, este só pode ter como fonte a liberdade, estando o ser humano sujeito apenas à lei e a não à prepotência de um chefe ou de quem quer que seja. 1.2.2 Caracterização Os direitos humanos são, pois, entendidos como direitos subjetivos, sendo seu sujeito a humanidade. São um tipo especial de direitos, distinto dos direitos constitucionais e dos da cidadania democrática e de outros tipos de direitos mais concretos, pois sua função principal é especificar limites à soberania dos povos e às instituições internas de cada país e desta forma seu respeito é a condição necessária da legitimidade de um regime político e da decência de sua ordem legal. Os direitos humanos estão ligados ao valor da pessoa, sua dignidade e liberdade. Ricardo Lobo Torres (1995), em sua obra caracteriza os direitos humanos como sendo: “Direitos preexistentes à ordem positiva, imprescritíveis, inalienáveis, dotados de eficácia erga omnes, absolutos e autoaplicáveis”. Assim, imprescritíveis, inalienáveis, irrenunciáveis e universais são traços apontados pela doutrina aos direitos humanos. AN02FREV001/REV 4.0 11 Desta forma, os direitos humanos fundamentais são imprescritíveis porque não se perdem pelo decurso do prazo; são inalienáveis porque não há possibilidade de transferência dos direitos humanos, seja a título gratuito, seja a título oneroso e são universais, pois a abrangência desses direitos engloba todos os indivíduos, independente de sua nacionalidade, sexo, raça, credo ou convicção político- filosófica. 1.2.3 Finalidade Os direitos humanos fundamentais compreendem um rol mínimo de direitos do ser humano, derivados da soberania da vontade popular e são importantes na medida em que sua finalidade compreende duas funções. Têm sua importância na relação que estabelece entre o homem e seus governantes. Explica-se: uma das funções dos direitos humanos é limitar a atuaçãoe os abusos de poder por parte dos governantes, quando estes devem obedecer, por exemplo, a dignidade da pessoa humana e a liberdade da pessoa humana. A isso chamam muitos doutrinadores de competência negativa do Estado. Tem, ainda, importância o tema em função da liberdade positiva que expressam esses direitos, isto é, são direitos fundamentais que o ser humano pode exercer e exigir respeito (tutela), por versarem sobre a dignidade do indivíduo em sentido amplo. AN02FREV001/REV 4.0 12 1.3 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 1.3.1 Pessoa Humana como Sujeito Principal do Desenvolvimento Os Direitos Humanos são direitos fundamentais da pessoa humana. Esses direitos são considerados fundamentais porque, sem eles, a pessoa não é capaz de se desenvolver e de participar plenamente da vida. Respeitar os Direitos Humanos é promover a vida em sociedade, sem discriminação de classe social, de cultura, de religião, de raça, de etnia, de orientação sexual. Para que exista a igualdade de direitos, é preciso respeito às diferenças. A igualdade racial e entre homens e mulheres são fundamentais para o desenvolvimento da humanidade e para tornar real, os Direitos Humanos. 1.3.2 A Liberdade e os Valores da Igualdade A dignidade humana é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas. Constituindo-se em um mínimo invulnerável que todo estatuto deve assegurar, de modo que apenas excepcionalmente possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos. O dever que se configura pela exigência de o indivíduo respeitar a dignidade de seu semelhante tal qual a CF exige que lhe respeitem a própria. A concepção dessa noção de dever fundamental apresenta-se em dupla concepção. Primeiramente, prevê um direito individual de proteção, seja em relação ao próprio Estado, seja em relação aos demais indivíduos. Em segundo lugar, estabelece verdadeiro dever fundamental de tratamento igualitário dos próprios semelhantes. AN02FREV001/REV 4.0 13 Dignidade significa que o homem não pode ser tratado como um animal qualquer, pois ele tem a sua individualidade. Tem uma essência, que é própria dele. Cada indivíduo é totalmente diferente de outro e o que nos identifica é essa essência de ser pessoa. O inciso III do art. 5° da Constituição dispõe que “ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante”. Tal proteção, por vezes identificada como o princípio da dignidade da pessoa humana, volta-se não apenas contra o sofrimento físico, mas também à coerção moral (nesse sentido também o inciso XLIX do art. 5° da CF/1988). Assim, dignidade da pessoa humana significa que todos terão direito a serem tratados de forma digna, respeitosa e honrosa. Tal princípio traz uma série de reflexos, como a proibição de tortura, de penas perpétuas, de penas de morte, etc., pois a única coisa capaz de garantir a dignidade da pessoa humana é a justiça! A dignidade é um valor supremo. O homem é digno, pelo simples fato de ser racional, o que o diferencia dos outros animais. O conceito da dignidade da pessoa humana obriga a uma densificação valorativa que tenha em conta o seu amplo sentido normativo constitucional e não qualquer ideia de valoração do homem. Não se pode reduzi-lo a meros direitos tradicionais, esquecendo-as nos casos de direitos pessoais ou invocá-lo para construir uma teoria do núcleo da personalidade humana. Daí decorre que a ordem econômica há de ter por fim assegurar a todos existência digna, previsto no art. 170, da CF; a ordem social visará à realização da justiça social, previsto no art. 193 da CF; a educação o desenvolvimento da pessoa e seu preparo para o exercício da cidadania previsto no art. 205 da CF, etc., não como meros enunciados formais, mas como indicadores do conteúdo normativo eficaz da dignidade da pessoa humana. Ao analisar os dispositivos constitucionais, podemos deduzir o quanto foi acentuada a preocupação do legislador em garantir a dignidade, o respeito e o bem- estar da pessoa humana, de modo a se alcançar a paz e a justiça social. A dignidade da pessoa humana apresenta-se em uma dupla concepção. Primeiramente, prevê um direito individual protetivo, seja em relação ao próprio Estado ou em relação aos demais indivíduos. AN02FREV001/REV 4.0 14 Em segundo lugar, estabelece verdadeiro dever fundamental de tratamento igualitário dos próprios semelhantes. Esse dever configura-se pela exigência do indivíduo respeitar a dignidade de seu semelhante tal qual a Constituição Federal exige que lhe respeitem a própria. Como vimos, a dignidade é, portanto, um valor fundamental. A Constituição em seu artigo 5o caput diz que “todos são iguais perante a lei” e no mesmo artigo inciso I diz que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”. Assim, a CF estabelece que os iguais devam ser tratados de forma igual e os desiguais de forma desigual na medida em que se desigualam. A igualdade se configura como uma eficácia transcendente, de modo que toda situação de desigualdade persistente à entrada em vigor da norma constitucional deve ser considerada não recepcionada, se não demonstrar compatibilidade com os valores que a Constituição, como norma suprema, proclama. A desigualdade na lei se produz quando a norma distingue de forma razoável ou arbitrária um tratamento específico a pessoas diversas. Para que as diferenciações normativas possam ser consideradas não discriminatórias, torna-se indispensável que exista uma justificativa objetiva e razoável, de acordo com critérios e juízos valorativos genericamente aceitos, cuja exigência deve aplicar-se em relação à finalidade e efeitos da medida considerada, devendo estar presente por isso uma razoável relação de proporcionalidade entre os meios empregados e a finalidade perseguida, sempre em conformidade com os direitos e garantias constitucionalmente protegidos. Desta forma, o conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana pode ser definido como direitos humanos fundamentais. Assim, os direitos humanos são compreendidos como um conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, concretizam as exigências da dignidade, liberdade e igualdade humanas, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional. Os valores referidos podem ser AN02FREV001/REV 4.0 15 considerados como os três eixos fundamentais em torno dos quais se há centrado sempre a reivindicação de direitos humanos. 1.4 DIREITOS HUMANOS: CIDADANIA E EDUCAÇÃO 1.4.1 Relação entre Cidadania e Educação A cidadania é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, de acordo com o que preceitua o inciso II, do artigo 1º da Constituição da República. É um processo em constante construção, que teve origem, historicamente, com o surgimento dos direitos civis, no decorrer do século XVIII. Cidadão é um indivíduo que tem consciência de seus direitos e deveres e participa ativamente de todas as questões da sociedade. Segundo os brasileiros a cidadania é entendida apenas como direito ao voto e à participação política. A cidadania não pode ser entendida somente como direito ao voto. Porque neste caso, estaríamos apenas diante do mecanismo da representação. A cidadania pertence a uma comunidade disposta e capaz de lutarpelos direitos de seus integrantes, como o direito de ter direitos. Perante a Constituição Federal brasileira fica certo que o direito à educação, juridicamente, faz parte dos direitos humanos do cidadão, é classificado como um direito social. É direito de todos e dever do Estado e da família. Diante disso, o direito à educação visa ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação no trabalho. A educação, como todo processo socializador atende às necessidades em geral da sociedade, ou seja, tem uma função de ajustamento social. Podemos dizer que desenvolvimento nenhum se fará sem o fator educação. Ela deve, para promover o desenvolvimento, caminhar paralelamente com outros fatores, como por exemplo: o fortalecimento das instituições democráticas, o princípio de AN02FREV001/REV 4.0 16 autodeterminação, programas sanitários e higiênicos, reformas nas leis, redistribuição de renda nacional, etc. Desta forma, a educação é um fator importante para o desenvolvimento dos povos, ou seja, um elemento fundamental para a constituição da sociabilidade. É um importante instrumento que contribui para o desenvolvimento moral do indivíduo. A sociedade vive em constante transformação, desta forma, a cidadania depende cada vez mais da educação, seja moral ou ética, pois a educação é um meio de construção e reconstrução de valores e normas que dignificam as pessoas e as tornam mais humanas. Assim, a educação seria a base fundamental para se tornar um cidadão exemplar. 1.4.2 Direitos e Deveres da Cidadania Ser cidadão é ter direitos e deveres. Desta forma, o cidadão é sujeito de direitos e deveres, é estatuído por normas jurídicas que convergem ao indivíduo para regular a sua conduta. Tanto o reconhecimento quanto o cumprimento destes direitos e deveres não devem se restringir à esfera política, isto é, ao direito e ao dever de votar e ser votado. Cidadania significa, além do reconhecimento dos direitos e deveres dos cidadãos, o cumprimento dos mesmos por parte da sociedade. Se o indivíduo não tem uma definição do que seja a cidadania, obviamente não poderá exercê-la de forma plena. Para o pleno exercício da cidadania, é preciso a garantia do conjunto dos Direitos Humanos. Cada cidadão deve ter garantido todos os Direitos Humanos, nenhum deve ser esquecido. Portanto, educar para a cidadania é adotar uma postura, é fazer escolhas. É despertar para as consciências dos direitos e deveres, é lutar pela justiça e não servir a interesses próprios. Exercer a cidadania plena é ter direitos civis, políticos e sociais, pois somente os direitos civis e políticos não asseguram a democracia sem os direitos sociais, pois esses direitos garantem a participação do indivíduo na riqueza coletiva, AN02FREV001/REV 4.0 17 como o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde e a uma velhice mais tranquila, etc. 1.5 DIREITOS HUMANOS NO BRASIL No Brasil os direitos humanos estão vinculados com a história das constituições brasileiras. Portanto, veremos a importância que essas Constituições deram aos Direitos Humanos. Na Constituição Imperial Brasileira de 1824, a inviolabilidade dos direitos civis e políticos baseavam-se na liberdade, na segurança individual e na propriedade. A Constituição de 1891 instituiu o sufrágio direto para a eleição dos deputados, senadores, presidente e vice-presidente da República, no entanto, determinava, também, que os mendigos, os analfabetos, os religiosos, não poderiam exercer tais direitos políticos. O sufrágio direto estabelecido por esta Constituição não modificou as regras de distribuição do poder, já que a prioridade da força econômica nas mãos dos fazendeiros e o estabelecimento do voto contribuíram para que estes pudessem manipular os mais fracos economicamente, de acordo com seus interesses políticos. Mas, apesar disso, podemos afirmar que a primeira Constituição republicana ampliou os Direitos Humanos, além de manter os direitos já consagrados pela Constituição Imperial. A reforma constitucional de 1926 procurou, em primeiro lugar, remediar os abusos praticados pela União em razão das intervenções federais nos Estados, no entanto, não atendeu, de forma plena, a exigência daqueles que entendiam que a Constituição de 1891 não se mostrava adequada à real instauração de um regime republicano no Brasil. Na Revolução de 1930 foi provocado um total desrespeito aos Direitos Humanos, como por exemplo: a magistratura perdeu suas garantias, suspenderam- se as franquias constitucionais e o habeas corpus ficou restrito a réus ou acusados em processos de crimes comuns. AN02FREV001/REV 4.0 18 Na revolução constitucionalista de 1932 surgiu uma comissão para elaborar um projeto de Constituição, comissão esta que recebeu o nome de “Comissão do Itamarati”. Nesta época, a participação popular ficou bem reduzida em razão da censura à imprensa. Mas, apesar desta censura, a Constituição de 1934 estabeleceu algumas franquias liberais, como por exemplo: determinou que a lei não poderia prejudicar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; vedou a pena de caráter perpétuo; proibiu a prisão por dívidas, multas ou custas; criou a assistência judiciária para os necessitados; instituiu a obrigatoriedade de comunicação imediata de qualquer prisão ou detenção ao juiz competente para que a relaxasse, além de várias outras franquias estabelecidas. Já a Constituição de 1934 inovou ao estatuir normas de proteção social ao trabalhador, proibindo a diferença de salário para um mesmo trabalho, em razão de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil; proibindo o trabalho para menores de 14 anos de idade, o trabalho noturno para os menores de 16 anos e o trabalho insalubre para menores de 18 anos e para mulheres; determinando a estipulação de um salário mínimo capaz de satisfazer às necessidades normais do trabalhador, o repouso semanal remunerado e a limitação de trabalho a oito horas diárias que só poderão ser prorrogadas nos casos legalmente previstos, além de inúmeras outras garantias sociais do trabalhador. Essa Constituição respeitou os Direitos Humanos e vigorou durante mais de três anos, até a introdução do chamado “Estado Novo”, em 10 de novembro de 1937, que introduziu o autoritarismo no Brasil. Os Direitos Humanos praticamente não existiram durante os quase oito anos em que vigorou o Estado Novo. Nesta época, foi declarado estado de emergência no país, ficaram suspensas quase todas as liberdades a que o ser humano tem direito, dentre elas: - a liberdade de ir e vir, o sigilo de correspondência, uma vez que as mesmas eram violadas e censuradas, e de todos os outros meios de comunicação, sejam orais ou escritos, a liberdade de reunião, etc. Com a Constituição de 1946 o país foi “redemocratizado”, já que essa Constituição restaurou os direitos e garantias individuais, sendo estes até mesmo ampliados, do mesmo modo que os direitos sociais. Foi proibido o trabalho noturno a menores de 18 anos, estabeleceu-se o direito de greve, foi estipulado o salário-mínimo capaz de atender as necessidades AN02FREV001/REV 4.0 19 do trabalhador e de sua família, dentre outros demais direitos previstos; como também os direitos culturais foram ampliados e vigorou até o surgimento da Constituição de 1967. No entanto, sofreu várias emendas e teve a vigência de inúmeros artigos suspensa por muitas vezes por força dos Atos Institucionais de 9 de Abril de 1964 (AI-1) e de 27 de outubro de 1965 (AI-2), no golpe, autodenominado “Revolução de 31 de março de 1964”. Apesar de tudo isso, podemos afirmar que, durante os quase 18 anos de duração, a Constituição de 1946 garantiu os Direitos Humanos. Mas a Constituição de 1967 trouxe inúmeros retrocessos, suprimindo a liberdade de publicação, tornando restritoo direito de reunião, estabelecendo foro militar para os civis, mantendo todas as punições e arbitrariedades decretadas pelos Atos Institucionais. Sabíamos que a Constituição de 1967 determinava o respeito à integridade física e moral do detento e do presidiário, no entanto, a realidade era bem outra, tal preceito não existia. Além disso, reduziram a idade mínima de permissão para o trabalho para 12 anos; restringiu o direito de greve; acabou com a proibição de diferença de salários, por motivos de idade e de nacionalidade; restringiu a liberdade de opinião e de expressão; recuou no campo dos chamados direitos sociais, etc. Essa Constituição vigorou, formalmente, até 17 de outubro de 1969, porém, na prática, a constituição de 67 vigorou apenas até 13 de dezembro de 1968 quando foi baixado o mais terrível Ato Institucional, o que mais desrespeitou os Direitos Humanos no País, provocando a revolta e o medo de toda a população, acarretando a ruína da Constituição de 1967, o AI-5. O AI-5 trouxe de volta todos os poderes discricionários do presidente, estabelecidos pelo AI-2, além de ampliar tais arbitrariedades, dando ao governo a prerrogativa de confiscar bens, suspendendo, inclusive, o habeas corpus nos casos de crimes políticos contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular. A tortura e os assassinatos políticos foram praticados de forma bárbara, com a garantia do silêncio da imprensa, que se encontrava praticamente amordaçada e as determinações e “proteções legais” do AI-5. Foi um longo período de arbitrariedades e corrupções. Com as medidas autoritárias dos Atos Institucionais. AN02FREV001/REV 4.0 20 Não foram respeitados os Direitos Humanos. Em 1979 foi conquistada a anistia, que representou uma grande conquista do povo. Mesmo não acontecendo da forma que era esperada, já que anistiou, em nome do regime, até mesmo os criminosos e torturadores. Para João Baptista Herkenhoff (1994): “A luta pela anistia representou ‘uma das páginas de maior grandeza moral escrita na História contemporânea do Brasil’, juntamente com a convocação e o funcionamento da Constituinte”. Com a Constituição de 1988 houve uma espécie de “redefinição do Estado brasileiro”, bem como de seus direitos fundamentais. Essa Constituição veio para proteger, talvez tardiamente, os direitos do homem. Quando digo tardiamente, porque isso poderia ter se efetivado na Constituição de 1946, que foi uma bela Constituição, mas que logo em seguida foi derrubada com a ditadura. Mas, apesar da Constituição de 88 ter aberto espaço para os movimentos de defesa dos direitos humanos, as organizações enfrentaram inúmeros problemas, como por exemplo: o não reconhecimento de sua atuação por parte da população carente, exatamente aquela que mais sofre o efeito da violência promovida por agentes do Estado. Essa população não percebe os direitos humanos como seus próprios direitos e não se sente defendida por tais organizações, ao contrário, para essa população os movimentos de direitos humanos são seus inimigos, pois defendem marginais e criminosos. Essa adesão ao arbítrio só pode se explicada investigando- se a mentalidade predominante na sociedade civil, pois na percepção da criminalidade e nas soluções preconizadas para o seu enfretamento há uma compatibilidade entre os métodos dos aparelhos repressivos e as expectativas. Além disso, a repressão policial não é percebida como tal, pois foi disseminada a informação de que essa violência está associada a um passado que não existe, ou melhor, que deve ser esquecido por todos. A igualdade citada no texto da Declaração Universal dos Direitos do Homem não ocorre no cotidiano brasileiro, pois no pensamento do brasileiro os direitos humanos foram rapidamente transformados em “Direitos de Bandidos”. Os direitos humanos foram transformados, no contexto de discussões sobre a criminalidade, em privilégios de bandidos a serem combatidos pelos homens de bem. AN02FREV001/REV 4.0 21 A ampliação da defesa dos direitos humanos para todos os cidadãos constitui-se, então, em um grande desafio para os movimentos de direitos humanos. Houve uma campanha em prol e contra os direitos humanos, articulou-se em um momento de aumento da criminalidade no Brasil. Essa campanha aproveitou-se do clima de crise de insegurança que se instalava na sociedade, e assim, afirmavam que as organizações de direitos humanos eram verdadeiros empecilhos no combate à criminalidade e pediam maior vigor no controle da violência. 1.6 DIREITOS HUMANOS: DEMOCRACIA E DESENVOLVIMENTO 1.6.1 Estado Democrático de Direito Quando falamos em direitos humanos, é importante enfatizar a discussão sobre a democracia como condição essencial para a realização e satisfação efetiva das necessidades básicas da existência humana em todos os aspectos da vida. A palavra democracia, de demos (povo), etimologicamente significa o governo do povo. Antigamente, o vocábulo “democracia” revestia-se de mau renome, como por exemplo: governo da plebe, incapaz de discernimento, volúvel e inconsiderado. Segundo Bobbio: A democracia não se refere só à ordem do poder público do Estado, mas devem existir em todas as relações sociais, econômicas, políticas e culturais. Começa na relação interindividual, passa pela família, a escola e culmina no Estado. Uma sociedade democrática é aquela que vai conseguindo democratizar todas as suas instituições e práticas. (BOBBIO, 2002, p. 36). Democracia é o governo do povo para o povo. Do povo, isto é, considerado o povo como sujeito, portador do poder político, juiz de seus próprios interesses, e para o povo, como forma de governo destinada precipuamente à realização do bem comum, não apenas da maioria, ou de uma classe. Assim, a palavra democracia AN02FREV001/REV 4.0 22 assume, ainda, um significado ideal, com uma pluralidade de sentidos: liberalismo, socialismo, justiça, paz universal. Sendo assim, a democracia no Estado moderno assenta suas raízes no ideal cristão de fraternidade, liberdade e igualdade. Uma democracia não apenas formal, mas substancial, isto é, social, que proporcione a realização do bem comum. Para efetiva prática da democracia requer certos requisitos, previstos em seu próprio conceito, como veremos a seguir: A democracia supõe, primeiramente, certos graus de cultura geral e cívica, certo conhecimento, por parte dos cidadãos, dos problemas do governo, ao menos em suas linhas gerais. Exige-se a existência de uma opinião pública organizada e esclarecida, o que se concretiza por meio dos partidos políticos. Isto é, essa opinião pública necessita discutir problemas, tais como: exigir a existência de certas liberdades: liberdade de pensamento, de imprensa, de reunião, de associação, dentre outros. Liberdades essas que devem ser efetivamente asseguradas por meio das garantias legais e de aparelhamento estatal adequado, pois o fato de constar dos textos das constituições modernas tais direitos, estas de nada adiantam se não houver aparelhamento e garantias legais para sua eficiência. Assim, uma das grandes tarefas de todos os governos, nas imperfeitas democracias modernas, é a de proporcionar essas condições, entre elas, especialmente, a educação, isto é, a elevação intelectual, cívica e moral do povo, constituindo o aspecto político-formal. Complementando os requisitos para a efetivação da democracia, pelo aspecto substancial, ou seja, sob o prisma da realização concreta do bem comum, temos como pressupostos um grau verdadeiramente religioso de virtude, desprendimento, espírito de fraternidade, de solidariedade e justiça. Portanto, a primeira consequência do princípio democrático será, realmente, a necessidade de tornar, tanto quanto possível, efetiva, real, essa identificação entre AN02FREV001/REV 4.0 23 governantese governados, ou seja, tornar mais ampla possível a participação do povo no governo. Diante disso, a consagração de um Estado Democrático pretendia afastar a tendência humana ao autoritarismo e concentração de poder. Sendo assim, o Estado Democrático de Direito significa a exigência de reger-se por normas democráticas, com eleições livres, periódicas e pelo povo, bem como o respeito das autoridades públicas aos direitos e garantias fundamentais. Com o término do último período autoritário no Brasil de 1964 a 1985, o controle do uso da violência pelo Estado tornou-se o principal problema a ser enfrentado na ordem democrática que se reconstruía. No Brasil, assim como em outros países da América Latina, as agências policiais desempenharam importante papel de sustentação dos regimes autoritários. A suspensão dos direitos civis, no período de exceção, permitiu que o Estado desrespeitasse os direitos do cidadão sem que houvesse qualquer risco de punição para os responsáveis. Entretanto, o desrespeito aos direitos humanos, não cessou com o fim desses regimes, ao contrário, continuava existindo a despeito da ordem constitucional vigente nesses países. Em sociedades cuja democracia estava consolidada, os direitos humanos funcionavam como um conjunto de princípios reguladores do poder coercitivo do Estado. Já, naquelas em que a democracia estava em construção, as tentativas de submeter à violência estatal a regras de controle que garantiam o direito da população constituiu o objetivo dos movimentos de direitos humanos. Desta forma, com o processo de democratização, iniciado em 1985, é que o Estado Brasileiro passa a ratificar os principais tratados de proteção dos direitos humanos. Impulsionado pela Constituição de 1988 que consagra os princípios da prevalência dos direitos humanos e da dignidade humana o Brasil passa a se inserir no cenário de proteção internacional dos direitos humanos. Como por exemplo, temos: A Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, em 20 de julho de 1989. A Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, em 28 de setembro de 1989. AN02FREV001/REV 4.0 24 A Convenção sobre os Direitos da Criança, em 24 de setembro de 1990. O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, em 24 de janeiro de 1992. O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, em 24 de janeiro de 1992. A Convenção Americana de Direitos Humanos, em 25 de setembro de 1992. A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, em 27 de novembro de 1995, dentre outros. Assim, com a transição para a democracia, os direitos políticos foram garantidos, mas, essa conquista não se traduzia na efetiva implementação do Estado de Direito. Foi nesse contexto que a temática dos direitos humanos tornou-se importante, pois as organizações de direitos humanos, que tiveram um papel fundamental no período de resistência democrática, denunciando as arbitrariedades cometidas pelas polícias contra os presos políticos, passando a lutar pelo estabelecimento de um Estado que respeitasse e promovesse os direitos de todos os cidadãos, sem privilégios. Assim, não se pode falar em direitos humanos de forma fragmentária: os direitos dos pobres, os direitos dos negros ou os direitos dos presos, etc. O Princípio Democrático exprime fundamentalmente a exigência da integral participação de todos e de cada uma das pessoas na vida política do país, a fim de garantir-se o respeito à soberania popular. A participação popular é um importante instrumento para o aprofundamento da democracia que, a partir da descentralização, faz com que haja maior dinâmica na participação, principalmente no âmbito local. Como o Estado Brasileiro é caracterizado por ser um Estado Democrático de Direito, é imprescindível que haja a efetiva participação popular para que se dê legitimidade às suas normas. A Constituição de 1988 foi um referencial histórico, pois marcou o fim do período de transição, inaugurando o período de consolidação da democracia na sociedade brasileira. Foi um avanço em relação aos direitos e garantias individuais e sociais para sociedade brasileira. Segundo a Constituição, são objetivos fundamentais da República: AN02FREV001/REV 4.0 25 I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. (CF/88, art. 3°, inc. I). Mesmo a Constituição de 1988 apresentando várias conquistas, por tudo o que se tem acompanhado no dia a dia, só isso não basta e para que a democracia esteja consolidada, na prática, ainda há muito para ser feito, pois ainda vivemos no Brasil com uma herança do chamado período autoritário, a corrupção e os jogos de poder que emergem a todo instante no cenário político do país não são expressão de democracia, assim como não o é o processo de acirramento das desigualdades sociais e econômicas que se iniciaram décadas atrás e ainda não foi revertido, está cada vez mais acentuado. Pensando no papel das instituições em um regime democrático, vemos que o ideal da igualdade de todos perante as leis ainda há deficiências que precisam ser corrigidas. -----------------------FIM DO MÓDULO------------------------- AN02FREV001/REV 4.0 26 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, J. A. Lindgren. Os Direitos Humanos como tema global. São Paulo: Perspectiva, 1994. BOBBIO, Norberto. A era dos Direitos. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campus, 1996. COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2001. FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direitos Humanos Fundamentais. São Paulo: Saraiva, 2000. HERKENHOFF, João Baptista. Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Acadêmica, 1994. MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais: teoria geral. São Paulo: Atlas, 2002. MORANGE, Jean. Direitos Humanos e Liberdades Públicas. São Paulo: Manole, 2004. PEDROSO, Regina Célia. Violência e cidadania no Brasil. São Paulo: Ática, 2002. SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. TORRES, Ricardo Lobo. Os Direitos Humanos e a Tributação. Rio de janeiro: Renovar, 1995. AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE DOCUMENTOS: INTERNACIONAL E NACIONAL DE JUSTIÇA DOS DIREITOS HUMANOS Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 CURSO DE DOCUMENTOS: INTERNACIONAL E NACIONAL DE JUSTIÇA DOS DIREITOS HUMANOS Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 1.1 DOCUMENTOS IMPORTANTES A RESPEITO DOS DIREITOS HUMANOS 1.1.1 A Magna Carta (1215) 1.1.2 A Petição de Direitos (1628) e Act of Habeas Corpus (1679) 1.1.3 Declaração de Direitos - Bill of Rights (1689) 1.1.4 Declaração de Direitos de Virgínia e a Declaração do Homem e do Cidadão da Assembleia Nacional Francesa (1779 e 1789) 1.1.5 A Constituição Francesa (1848) e a Convenção de Genebra (1864) 1.1.6 Ato Geral da Conferênciade Bruxelas (1890) e Constituição Mexicana (1917) 1.2 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM (1948) 1.2.1 Histórico 1.2.2 O Sistema de Três Etapas Gerado pelos Autores da Declaração Universal 1.2.3 Declaração Universal dos Direitos Humanos na Íntegra 1.3 DESENVOLVIMENTO INTERNACIONAL DA DECLARAÇÃO 1.4 DIREITOS HUMANOS INTERNACIONAIS E DIREITOS FUNDAMENTAIS NACIONAIS 1.4.1 Desenvolvimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos 1.4.2 Relação entre Direitos Humanos Internacionais e Direitos Fundamentais Nacionais REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/REV 4.0 4 1 INTRODUÇÃO 1.1 DOCUMENTOS IMPORTANTES A RESPEITO DOS DIREITOS HUMANOS Existem documentos importantes que vieram a intensificar o desenvolvimento da consagração dos direitos humanos, como veremos a seguir. 1.1.1 A Magna Carta (1215) Outorgada pelo Rei João Sem Terra, em Runnymede, perto de Windsor, no ano de 1215, é considerado o documento de justiça dos direitos humanos mais antigo, que submetia o governante a um conjunto de normas, que ressaltava a inexistência de arbitrariedades na cobrança de impostos. A execução de uma multa ou um aprisionamento ficava submetida à imperiosa necessidade de um julgamento justo. 1.1.2 A Petição de Direitos (1628) e Act of Habeas Corpus (1679) O Rei Carlos I foi rei da Grã-Bretanha entre 1625 e 1649. Convocou três parlamentos e os dissolveu, à medida que seus membros se negavam a acatar suas exigências. Tal atitude provocou duas guerras civis. Finalmente, o Parlamento condenou por traição e ele foi decapitado. Por todas estas razões, os lordes espirituais e temporais e os comuns humildemente imploram a Vossa Majestade que, a partir de agora, ninguém seja obrigado a contribuir com qualquer dádiva, AN02FREV001/REV 4.0 5 empréstimo ou a pagar qualquer taxa ou imposto, sem o consentimento de todos, manifestado por ato do Parlamento; e que ninguém seja chamado a responder ou prestar juramento, ou a executar algum serviço, encarcerado ou de uma forma ou de outra, molestada ou inquietado, por causa destes tributos ou da recusa em nos pagar, e que nenhum homem livre fique sob prisão ou detido por qualquer das formas acima indicadas; e que Vossa Majestade haja por bem retirar os soldados e marinheiros, e que, para o futuro, o nosso povo não volte a ser sobrecarregado; e que as comissões para aplicação da lei marcial sejam revogadas e anuladas e que, doravante, ninguém jamais possa ser incumbido de outras comissões semelhantes, a fim de nenhum súdito de Vossa Majestade padeça, ou seja morto, contrariamente às leis e franquias do país. Assim, como o Rei Carlos I não estava obedecendo aos ditames do velho documento, o que levou os barões a convocá-lo formalmente a ratificar a Carta. Essa ratificação, todavia, foi seguida da elaboração de outro documento, conhecido como Petição de Direitos. Em relação ao Habeas Corpus, já existia na Inglaterra desde vários séculos, como mandado judicial (writ), em caso de prisão arbitrária. Contudo, sua eficácia como remédio jurídico era muito reduzida, em razão da inexistência de adequadas regras processuais. O Habeas Corpus era voltado para melhor especificar o cabimento e a forma a ser obedecida quando da existência de situação que requisitasse o remédio heroico. Elaborado pelo Parlamento e sancionado pelo rei, ninguém poderia ser mantido preso, sem que fosse logo conduzido à presença de um tribunal. Mesmo após a elaboração da Petition of Rights, que visava aumentar as ainda tímidas garantias, os monarcas não atendiam aos pedidos de Habeas Corpus, tornando letra morta as leis existentes e que cuidavam desse instituto. Assim, a Lei de 1679, cuja denominação oficial foi “uma lei para melhor garantir a liberdade do súdito e para prevenção das prisões de ultramar”, veio corrigir esse defeito e confirmar no povo inglês a verdade do brocardo: “são as garantias processuais que criam os direitos e não o contrário”. AN02FREV001/REV 4.0 6 1.1.3 Declaração de Direitos - Bill of Rights (1689) Em 13/02/1689 foi escrito o Bill of Rights na Inglaterra, que, na verdade, não constitui uma declaração de direitos individuais, na exata concepção do termo. Tratava-se, na época, de um conjunto de imposições ainda sem forma definida e que, no sentido estrito da expressão, trazia apenas três direitos individuais caracterizados: liberdade, defesa da propriedade e segurança individual. A Declaração de Direitos (Bill of Rights) foi promulgada um século antes da Revolução Francesa. Essa Declaração de Direitos pôs fim, pela primeira vez, desde o seu surgimento na Europa renascentista, ao regime de monarquia absolutista, no qual todo poder emana do rei e em seu nome é exercido. Assim, a partir de 1689, na Inglaterra, os poderes de legislar e criar tributos já não são prerrogativas do monarca, mas entram na esfera de competência reservada do Parlamento. Apesar disso, era um pacto que visava atacar os abusos cometidos por Jaime II, declarando-os ilegais e, por conta desses temas, determinava que o rei estava proibido de violar as leis votadas pelo Parlamento, aprovava a fixação dos vencimentos reais e de sua tropa, além de, por fim, ratificar expressamente os documentos que lhe antecederam (a Magna Carta, a Petição de Direitos e o Ato de Habeas Corpus). E considerado, por isso, a parte final dos documentos ingleses que formaram as bases de um longo movimento chamado constitucionalismo. Sendo assim, a Bill of Rights veio para assegurar a supremacia do Parlamento sobre a vontade do rei. AN02FREV001/REV 4.0 7 1.1.4 Declaração de Direitos de Virgínia e a Declaração do Homem e do Cidadão da Assembleia Nacional Francesa (1779 e 1789) Dentre os textos que marcaram a consagração de um conjunto denominado “Direitos do Homem”, devem mencionar-se as primeiras Declarações do século XVIII, fruto de inspiração jusnaturalista. Assim, teve início a positivação dos Direitos do Homem com a Declaração de Direitos do Estado de Virgínia, que declara: Todos os homens são, por natureza, igualmente livres e independentes e têm certos direitos inatos de que, quando entram no estado de sociedade, não podem, por nenhuma forma, privar ou despojar de sua posteridade, nomeadamente o gozo da vida e da liberdade, com os meios de adquirir e possuir propriedade e procurar e obter felicidade e segurança. Assegura, também, todo poder ao povo e o devido processo legal (julgamento justo para todos). (DECLARAÇÃO DE DIREITOS DO ESTADO DE VIRGÍNIA, 1779). Diante disso, podemos dizer que todos os homens são igualmente guiados, pela sua própria natureza, ao aperfeiçoamento constante de si mesmos. Assim, a busca da felicidade é a razão de ser desses direitos inerentes à própria condição humana. Muito embora a Inglaterra tenha dado o impulso inicial, e não obstante situar-se na França o polo mais ativo da erradicação de ideias, foi na América do Norte, na ainda colônia de Virgínia, que surgiu a primeira declaração de direitos – Declaração de Virgínia (1779). Todavia, foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da Assembleia Nacional Francesa (1789), quando da Revolução Francesa que, incontestavelmente, teve muito maior repercussão que as precedentes, sendo seu sucesso proveniente do caráter universal, cujos autores souberam enunciar direitos individuais aplicáveis a toda sociedade política, instaurando um estado de Direito. Trata-se de uma consagração francesa dos direitos do homem com 17 artigos. Materializando, assim, os direitos civis e políticos, também chamados de direitos individuais de 1ª geração, atribuídos a uma pretensa condição natural do indivíduo, como se vê no trecho abaixo que se segue: AN02FREV001/REV 4.0 8 Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos. Essesdireitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão. (Art. 1° e 2° da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da Revolução Francesa). Assim, previu diversos direitos fundamentais, dentre os quais, destacando- se: princípio da igualdade, liberdade, propriedade, segurança, resistência à opressão, associação política, princípio da legalidade, da reserva legal e anterioridade em matéria penal, presunção de inocência etc. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 caracterizou-se como primeiro elemento constitucional do novo regime político. Sendo assim, essa Declaração de 1789 tornou-se uma fonte obrigatória e permanente para as proclamações de direitos que surgiram posteriormente, tanto na França, como no restante da Europa e no continente americano. 1.1.5 A Constituição Francesa (1848) e a Convenção de Genebra (1864) Esta Constituição traz duas disposições importantes sobre direitos fundamentais. Pela primeira vez, na história constitucional, a pena de morte é abolida em matéria política, bem como se proibiu a escravidão em todas as terras francesas. Apesar desses avanços no campo dos direitos humanos, a Constituição de 1848 foi, no entanto, responsável por um dos piores abusos cometidos pela França no campo das relações internacionais, ao declarar que o território da Argélia e das colônias é território francês, contrariando seu preâmbulo. A internacionalização dos Direitos do Homem teve início na segunda metade do século XIX, tendo-se manifestado no campo do Direito Humanitário, na luta contra a escravidão e na regulação dos direitos do trabalhador assalariado. Nesse sentido, o primeiro documento normativo de caráter internacional foi a Convenção de Genebra, de 1864, a partir da qual foi fundada a Comissão Internacional da Cruz Vermelha, em 1880. Desta forma, a Convenção de Genebra inaugurou o Direito Humanitário, em matéria internacional, ou seja, o conjunto das leis e costumes da guerra, visando AN02FREV001/REV 4.0 9 minorar o sofrimento de soltados doentes e feridos, bem como populações civis atingidas por um conflito bélico. 1.1.6 Ato Geral da Conferência de Bruxelas (1890) e Constituição Mexicana (1917) A conferência de Bruxelas versa sobre a repressão ao tráfico de escravos africanos. A Carta Política mexicana foi a primeira a atribuir aos direitos dos trabalhistas a qualidade de direitos fundamentais, juntamente com as liberdades individuais e os direitos políticos. 1.2 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM (1948) 1.2.1 Histórico A Declaração Universal dos Direitos do Homem da ONU, de dezembro de 1948, trata-se do primeiro documento texto jurídico internacional que apresenta um catálogo completo dos direitos humanos. Ela foi aprovada por 48 países, membros das Nações Unidas, tendo oito abstenções, duas ausências, com a inexistência de votos contrários. Até o século XX, a doutrina internacionalista considerava que apenas poderiam ser objeto do Direito Internacional os direitos e deveres dos Estados. Esse documento modificou o sistema das relações internacionais, que tinha como atores exclusivos os Estados soberanos, conferindo à pessoa física a qualidade de sujeito do direito além das jurisdições domésticas. Lançaram os alicerces de uma nova disciplina jurídica, o Direito Internacional dos Direitos Humanos. AN02FREV001/REV 4.0 10 Assim, conforme a Declaração Universal dos Direitos do Homem: Todos os direitos humanos e todas as liberdades fundamentais são indivisíveis e interdependentes: a realização, a promoção e a proteção dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais devem se beneficiar de uma atenção igual a ser encaradas com uma urgência igual. A Declaração já surge, pois, consoante os critérios de indivisibilidade e interdependência de todos os direitos humanos. Ou seja, esse artigo da Declaração Universal dos Direitos do Homem confirma a indivisibilidade dos direitos humanos, reconhecendo que os direitos civis e políticos, juntamente com os direitos econômicos, sociais e culturais são essenciais para a manutenção da dignidade, da liberdade e do bem-estar dos homens. O princípio de indivisibilidade, em conjunto com o de universalidade, é o eixo do sistema protetor dos direitos humanos. Assim, a Declaração Universal forneceu aos direitos seu caráter universal, que se fundamenta nas premissas de igualdade em dignidade e valor, contrariando, portanto, as ideologias que se fundam na superioridade de raça, crença ou sexo. “Todos os direitos para todos”, esta é, sem dúvida, a maior expressão da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Infelizmente, a garantia desses direitos ainda está longe de ser alcançada em sua totalidade. A defesa dos direitos humanos é uma tarefa interminável, porque a cada dia o respeito aos direitos humanos é algo que se constrói. 1.2.2 O Sistema de Três Etapas Gerado pelos Autores da Declaração Universal A Declaração, como Resolução da Assembleia Geral, não possui força para obrigar, mas contaria com força moral. Deveria ser, contudo, apenas a primeira fase do desenvolvimento de uma verdadeira proteção internacional dos direitos humanos. A segunda fase consistiria na elaboração de um instrumento jurídico internacional que fosse efetivamente vinculante, que desenvolvesse a Declaração. AN02FREV001/REV 4.0 11 Em uma terceira fase implementar-se-iam (fase de execução) os direitos por meio de mecanismos específicos. Esses mecanismos de implementação poderiam ir desde comissões específicas até a ampliação das competências do Tribunal Internacional de Justiça, passando pela criação de um tribunal internacional de direito humano específico. 1.2.3 Declaração Universal dos Direitos Humanos na Íntegra A Declaração Universal dos Direitos do Homem foi adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948. Quanto ao conteúdo da Declaração Universal dos Direitos Humanos, compõe-se de um preâmbulo e de trinta artigos, como veremos a seguir: Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum, Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra tirania e a opressão, Considerando essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações, Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla, Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a desenvolver, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e a observância desses direitos e liberdades, Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso, AN02FREV001/REV 4.0 12 A Assembleia Geral Proclama: A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade,tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição. Artigo I Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade. Artigo II Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. Artigo III Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo IV Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas. Artigo V Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. Artigo VI Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei. Artigo VII Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito à igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Artigo VIII Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei. AN02FREV001/REV 4.0 13 Artigo IX Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo X Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e pública por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele. Artigo XI Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada, de acordo, com a lei em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Tampouco será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso. Artigo XII Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques. Artigo XIII Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar. Artigo XIV Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas. Artigo XV Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade. Artigo XVI Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e AN02FREV001/REV 4.0 14 sua dissolução. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes. Artigo XVII Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade. Artigo XVIII Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular. Artigo XIX Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras. Artigo XX Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. Artigo XXI Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto. Artigo XXII Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade. Artigo XXIII Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se AN02FREV001/REV 4.0 15 acrescentará se necessário, outros meios de proteção social. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e neles ingressar para proteção de seus interesses. Artigo XXIV Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas. Artigo XXV Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma proteção social. Artigo XXVI Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada aos seus filhos. Artigo XXVII Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do processo científico e de seus benefícios. Toda pessoa tem direito à proteção dosinteresses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor. Artigo XVIII Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional, em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados. Artigo XXIV AN02FREV001/REV 4.0 16 Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa estará sujeita apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos propósitos e princípios das Nações Unidas. Artigo XXX Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos. Desta forma, podemos então dizer que a Declaração acima trouxe um ideal de liberdade, de igualdade e fraternidade, que serviu de parâmetro para diversos povos. Além da Declaração Universal, outros instrumentos representam as lutas travadas pelos povos para livrarem-se da opressão, do preconceito, da violência, etc. Entre esses instrumentos estão: A Declaração de Tunis, reunião regional para a África (1992) A Declaração de San José, reunião regional para a América Latina e o Caribe (1993) A Declaração de Bangcoc, reunião regional para a Ásia (1993) Todas reafirmando seu compromisso com os princípios definidos na Declaração Universal de 1948; e a Declaração do Cairo sobre direitos humanos no Islã de 1990, que adota os direitos humanos como expressão da vontade divina, declarando que a violação a qualquer direito fundamental constitui um pecado abominável no Preâmbulo. Essas declarações serviram como documentos preparatórios para a Conferência Mundial de Direitos Humanos, em Viena, no ano de 1993, em que foi acrescentada a seguinte proclamação: “A comunidade internacional deve tratar os AN02FREV001/REV 4.0 17 direitos humanos de forma global e de maneira justa e equitativa e conferindo a todos o mesmo peso”. A Conferência de Viena, como foi conhecida, recordou aos signatários da Declaração Universal que cada Estado tem o dever de garantir os direitos econômicos, sociais e culturais na mesma medida em que os direitos civis e políticos, dado o descuido da maioria dos países signatários em relação ao primeiro grupo de direitos. A Declaração de 1948 atendeu a um clamor mundial pelo fim das guerras. Mais tarde, o documento serviu como um importante instrumento para acabar com os governos totalitários e com as ditaduras militares, instauradas no período da guerra fria. Serviu também como uma arma para limitar e frear abusos dos governos nascidos de democracias formais. Ela constitui-se como um marco da ampliação da noção de direitos humanos nos últimos 50 anos. Caracterizou-se pela combinação de um discurso de cunho liberal com outro de caráter social, de forma a tentar harmonizar a garantia das liberdades fundamentais com a busca da igualdade. Com sua linguagem solene, tenta dar um novo sentido à relação entre as pessoas e o Estado. 1.3 DESENVOLVIMENTO INTERNACIONAL DA DECLARAÇÃO Imediatamente após a Declaração, passou-se a elaborar uma Convenção. Em 1952, a Assembleia havia decidido que seria necessário elaborar duas convenções, uma sobre direitos civis e políticos e outra com os direitos econômicos, sociais e culturais. Essa proposta originou-se da Índia, que na Constituição de 1949 havia adotado internamente uma distinção rigorosa entre direitos da liberdade e direitos sociais. Os primeiros, judicialmente exigíveis, e os segundos estariam condicionais pela lei, ademais, pela capacidade econômica do Estado. A Declaração Universal dos Direitos Humanos é uma resolução. Juridicamente, ela só tem uma força moral. Para dar uma forma jurídica obrigatória em 1976, ela foi completada por dois Pactos Internacionais: AN02FREV001/REV 4.0 18 O Pacto Internacional relativo aos Direitos Econômicos e Culturais O Pacto Internacional relativo aos Direitos Civis e Políticos Os Pactos impõem aos Estados partes a obrigação imediata de respeitar e assegurar os direitos humanos fundamentais. Reconhecendo que, em conformidade com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o ideal do ser humano livre, no gozo das liberdades civis e políticas e liberto do temor e da miséria, não se pode ser realizado, a menos que se criem as condições que permitam a cada um gozar de seus direitos civis e políticos, assim como de seus direitos econômicos, sociais e culturais. Diante disso, todos os povos têm direito à autodeterminação. Em virtude desse direito, determinam livremente seu estatuto político e asseguram livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultural. O Pacto Internacional referente aos Direitos Civis e Políticos, embora aprovado em 1966 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, somente entrou em vigor em 1976. Esse pacto pretende atribuir diretamente ao indivíduo, direitos subjetivos exercitáveis contra o Estado, ou seja, compromisso do Estado de avançar até determinado estágio, contemplado no pacto. Com isso, o indivíduo, por ter deveres com seus semelhantes e para com a coletividade a que pertence, tem obrigação de lutar pela promoção e observância dos direitos reconhecidos no presente pacto. Com relação ao Pacto Internacional relativo aos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, reconhecendo que esses direitos decorrem da dignidade inerente à pessoa humana, assim, no presente pacto não se admitirá qualquer restrição ou suspensão dos direitos humanos fundamentais reconhecidos ou vigentes em qualquer país em virtude de leis, convenções, regulamentos ou costumes, sob pretexto de que o presente pacto não os reconheça em menor grau. O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, assim como as demais Convenções Internacionais de Direitos Humanos, como, por exemplo: A Convenção para a prevenção e a repressão do crime. AN02FREV001/REV 4.0 19 A Convenção Internacional sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial. A Convenção sobre os direitos políticos da mulher, etc., possuem comitês que exercem um monitoramento dos Estados partes. Esses comitês não têm sanções no sentido estritamente jurídico. Eles examinam petições individuais sobre violação de direitos humanos. Aceitam denúncia feita por terceiros, dando, desta forma, um papel muito ativo às chamadas organizações não governamentais (ONGs) no monitoramento dos direitos humanos em todo o mundo. Desta forma, tal como o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, o maior objetivo dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, foi incorporar os dispositivos da Declaração Universal sob a forma de preceitos juridicamente obrigatórios e vinculantes. Não obstante a elaboração de dois pactos diversos, a indivisibilidade e a unidade dos direitos humanos são reafirmadas pela ONU, sob a fundamentação de que sem os direitos sociais, econômicos e culturais, os direitos civis e políticos só poderiam existir no plano nominal, e, por sua vez, sem direitos civis e políticos, os direitos sociais, econômicos e culturais também apenas existiriam no plano formal. A partir da declaração, por meio de várias conferências, pactos, protocolos internacionais a quantidade de direitos de desenvolveu a partir
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