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17-DireitosHumanos - Direito Descomplicado

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AN02FREV001/REV 4.0 
1 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO 
SOBRE DIREITOS HUMANOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO 
SOBRE DIREITOS HUMANOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição 
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido 
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
3 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS 
1.2 CONCEITO, CARACTERIZAÇÃO E FINALIDADE DE DIREITOS HUMANOS 
1.2.1 Conceito 
1.2.2 Caracterização 
1.2.3 Finalidade 
1.3 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
1.3.1 Pessoa Humana como Sujeito Principal do Desenvolvimento 
1.3.2 A Liberdade e os Valores da Igualdade 
1.4 DIREITOS HUMANOS: CIDADANIA E EDUCAÇÃO 
1.4.1 Relação entre Cidadania e Educação 
1.4.2 Direitos e Deveres da Cidadania 
1.5 DIREITOS HUMANOS NO BRASIL 
1.6 DIREITOS HUMANOS: DEMOCRACIA E DESENVOLVIMENTO 
1.6.1 Estado Democrático de Direito 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
4 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
A origem dos direitos individuais do homem pode ser apontada no antigo 
Egito e Mesopotâmia, no terceiro milênio a. C., onde já eram previstos alguns 
mecanismos para a proteção individual em relação ao Estado. Os direitos humanos, 
considerados como direitos humanos fundamentais, resultaram das lutas sociais 
contra os poderes constituídos, a estrutura feudal e o absolutismo político. Assim, 
surgem como uma reação ao absolutismo, visando delimitar o poder de controle do 
Estado. 
A historicidade dos direitos humanos configura-se a partir do seu nascimento 
e evolução em determinadas circunstâncias históricas, caracterizadas pelas lutas 
por novos direitos e liberdades contra os velhos poderes. Como dizia Norberto 
Bobbio: 
 
Os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos 
históricos, ou seja, nascidos em certas circunstâncias, caracterizadas por 
lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de 
modo gradual, não de uma vez e nem de vez por todas. (BOBBIO, 1992, p. 
32). 
 
Por exemplo, a liberdade religiosa é um feito das guerras de religião. As 
liberdades civis, das lutas dos parlamentares contra os soberanos absolutos. A 
liberdade política e as liberdades sociais, do nascimento, crescimento e 
amadurecimento do movimento dos trabalhadores associados, dos camponeses 
com pouca ou nenhuma terra, dos pobres que exigem dos poderes públicos não só 
o reconhecimento da liberdade pessoal, assim como a proteção do trabalho contra o 
desemprego. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
5 
1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS 
 
 
Portanto, ao longo da história da humanidade a concepção de direitos 
humanos tem sofrido variações, de acordo com o modo de organização da vida 
social e política de cada país. Podemos dizer que há três grandes fundamentações 
teóricas em torno dos direitos humanos: 
A primeira concepção metafísica e abstrata identifica os direitos humanos a 
partir de valores transcendentais, que se manifestam por meio da vontade divina, 
visão que predominou durante o período feudal, ou da razão natural humana, ideia 
defendida pelos autores jusnaturalistas, no século XVII. A concepção metafísica 
defende a ideia de que os direitos humanos são inerentes ao homem, 
independentemente do seu reconhecimento pelo estado. 
A segunda concepção, positivista, defende que os direitos humanos só 
podem ser considerados fundamentais e essenciais quando reconhecidos por 
ordenamento jurídico. Assim, os direitos não seriam inerentes ao homem, mas o 
resultado de lutas e conquistas e conquistas políticas e sociais. 
A terceira concepção, materialista-histórica, que teve como grande teórico 
Karl Marx, surge no século XIX como uma crítica ao pensamento liberal. Essa 
concepção considera que os direitos humanos, enunciados na Declaração dos 
Direitos do Homem de 1789, são expressão das lutas sociais da época que 
culminaram com a ascensão da burguesia ao poder, derrotando o Antigo Regime. 
O materialismo histórico traz à teoria dos direitos humanos a distinção entre 
as liberdades formais, usufruídas apenas pela burguesia e as liberdades reais, que 
não atingiam a maioria dos homens. Portanto, o pensamento marxista forneceu 
elementos de análise essenciais à compreensão dos direitos humanos na sociedade 
contemporânea. 
Assim, podemos observar que, segundo as diferentes concepções, uns 
entendem que os direitos humanos, também chamados de direitos dos homens e 
fundamentais, são inerentes à natureza humana, já para outros, os direitos humanos 
são a expressão de conquistas sociais que ocorrem por intermédio das políticas. 
Portanto, na primeira geração dos direitos humanos, a luta pela conquista dos 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
6 
direitos individuais ou de liberdade desenvolveu-se nos séculos XVII e XVIII. Os 
documentos mais famosos produzidos nesse período e que refletem o modo como a 
sociedade estava pensando os direitos humanos são a Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão da Revolução de 1789 e a Declaração dos Direitos do Estado 
da Virgínia na Independência Americana, em 1776. 
Esses dois documentos exprimem o desejo do povo de lutar contra a 
opressão que sofria por parte de seus governantes. Os direitos dos homens deixam 
de ser vistos apenas como vontade divina. As ideias centrais nessas duas 
declarações são a liberdade e a igualdade entre os homens, expressas no lema da 
Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Já a segunda geração 
dos direitos humanos foi formulada nos primeiros 70 anos do século XIX, quando 
ocorre o desenvolvimento de uma economia industrial e proletariado, uma classe de 
trabalhadores explorados e espoliados de sua força de trabalho pela burguesia. 
Diante da pobreza e da expropriação que era imposta a esses 
trabalhadores, aqueles ideais de igualdade de direitos e de liberdade para todos 
passaram a ser questionados. Na realidade, havia uma distância muito grande entre 
os direitos humanos formalizados no papel e aqueles que eram vividos na realidade. 
Havia uma diferença muito grande entre os direitos formais e os direitos reais. Nessa 
segunda geração de direitos humanos foram considerados como direitos 
fundamentais “os direitos sociais, econômicos e culturais”. Entre eles, podemos citar: 
 À vida 
 À educação 
 À moradia 
 À educação gratuita 
 À remuneração digna 
 À greve 
 Aos serviços públicos 
 À segurança 
 À moradia 
 À proteção da infância 
 Ao lazer 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
7 
Finalmente, a terceira geração dos direitos humanos foi marcada por uma 
ampliação da noção de direitos humanos. Ela se desenvolveu no período após a 
Segunda Guerra Mundial, quando todo mundo pedia o fim dos crimes contra a 
humanidade. Foram incorporados, nessa geração, os direitos à paz, à 
autodeterminação dos povos e a um meio ambiente saudável e ecologicamente 
equilibrado. 
Cada vez mais se amplia o entendimento de que essas três gerações de 
direitos são complementares umas às outras. Sendo assim, as gerações de direitos 
não podem ser hierarquizadas, nem a compreensão sobre o que são os direitos 
humanos pode ser fragmentada. Assim, os direitos nascem quando devem ou 
podem nascer. Nascem quando há um aumento do poder do homem pelo homem, 
ou cria novas ameaças à liberdade do indivíduo. 
Como vimos, o elenco dos direitos dos homens se modificou comas 
mudanças das condições históricas, o que é fundamental em uma época histórica e 
em uma determinada civilização, não fundamental em outras épocas e em outras 
culturas, etc. Historicamente, podemos dizer que os direitos humanos podem estar 
dispostos cronologicamente em diversas fases ou gerações. Os direitos humanos, 
ao surgirem, fazem uso do novo conceito jurídico elaborado pela modernidade. 
A evolução dos direitos humanos não se deu de uma forma tão harmoniosa. 
Inseridos na dinâmica histórica, em contextos determinados, esses não foram 
conquistados sem luta e sem conflitos de interesses, quer entre indivíduos, classes e 
países. Os avanços que vêm se processando nessas últimas décadas, 
manifestaram-se por meio de novas conquistas e pela ampliação do conceito de 
direitos humanos, abrangendo novas aspirações coerentes com o mundo moderno. 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
8 
1.2 CONCEITO, CARACTERIZAÇÃO E FINALIDADE DE DIREITOS HUMANOS 
 
 
1.2.1 Conceito 
 
 
Direitos Humanos é a parte mais importante do Direito, é a revelação de que 
todos os seres humanos, apesar das inúmeras diferenças biológicas e culturais, 
merecem igual respeito, como únicos entes no mundo capazes de amar, descobrir a 
verdade e criar a beleza. A expressão Direitos Humanos já diz, claramente, o que 
este significa. Direitos Humanos são os direitos do homem. São direitos que visam 
resguardar os valores mais preciosos da pessoa humana, ou seja, direitos que 
tendem proteger a solidariedade, a igualdade, a fraternidade, a liberdade, a 
dignidade da pessoa humana. Sendo assim, direitos humanos são os direitos 
fundamentais da pessoa humana. 
Portanto, no regime democrático, toda pessoa deve ter a sua dignidade 
respeitada e a sua integridade protegida, independentemente da origem, raça, etnia, 
gênero, idade, condição econômica e social, orientação ou identidade sexual, credo 
religioso ou convicção política. Toda pessoa deve ter garantidos seus direitos civis 
(como à vida, segurança, justiça, liberdade e igualdade), políticos (como o direito à 
participação nas decisões políticas), econômicos (como o direito ao trabalho), 
sociais (como o direito à educação, saúde e bem-estar), culturais (como o direito à 
participação na vida cultural) e ambientais (como o direito a um meio ambiente 
saudável). 
Direitos Humanos são as ressalvas e restrições ao poder político ou as 
imposições a este, expressas em declarações, dispositivos legais e mecanismos 
privados e públicos, destinados a fazer respeitar e concretizar as condições de vida 
que possibilitem a todo o ser humano manter e desenvolver suas qualidades 
peculiares de inteligência, dignidade e consciência, e permitir a satisfação de suas 
necessidades materiais e espirituais. 
Esses direitos colocam-se como uma das previsões absolutamente 
necessárias a todas as Constituições, no sentido de consagrar o respeito à 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
9 
dignidade humana, garantir a limitação de poder e visar o pleno desenvolvimento da 
personalidade humana. Os Direitos Humanos devem ser reconhecidos em qualquer 
Estado, grande ou pequeno, pobre ou rico, independentemente do sistema social e 
econômico que essa nação adota. Vejamos quais os conceitos elaborados pelos 
estudiosos da área sobre direitos humanos: 
João Baptista Herkenhoff, define Direitos Humanos: 
 
Por direitos humanos ou direitos do homem são, modernamente, entendidos 
aqueles direitos fundamentais que o homem possui pelo fato de ser homem, 
por sua própria natureza humana, pela dignidade que a ela é inerente. São 
direitos que não resultam de uma concessão da sociedade política. Pelo 
contrário, são direitos que a sociedade política tem o dever de consagrar e 
garantir. Para ele, direitos humanos são as ressalvas e restrições ao poder 
político ou as imposições a este, expressas em declarações, dispositivos 
legais e mecanismos privados e públicos, destinados a fazer respeitar e 
concretizar as condições de vida que possibilitem a todo o ser humano 
manter e desenvolver suas qualidades peculiares de inteligência, dignidade 
e consciência, e permitir a satisfação de suas necessidades materiais e 
espirituais. (HERKENHOFF, 1994, p. 72). 
 
Alexandre de Moraes, em uma perspectiva mais constitucionalista e 
preferindo a expressão “Direitos Humanos Fundamentais” considera-os como sendo: 
 
O conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem 
por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de sua proteção 
contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas 
de vida e desenvolvimento da personalidade humana. (MORAES, 2002, p. 
39). 
 
Norberto Bobbio, diz: 
 
Que estes nascem como direitos naturais universais, desenvolvem-se como 
direitos positivos particulares (quando cada Constituição incorpora 
Declarações de Direitos), para finalmente encontrarem sua plena realização 
como direitos positivos universais. (BOBBIO, 1992, p. 17). 
 
Assim, segundo Bobbio, o problema fundamental em relação aos direitos do 
homem, hoje, não é tanto de justificá-los, mas de protegê-los. Trata-se de um 
problema não filosófico, mas político. Este problema irá surgir na história, 
principalmente quando do surgimento dos direitos sociais, que por sua própria 
característica exigem a intervenção efetiva do Estado, por meio de políticas públicas. 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
10 
Para a realização dos direitos humanos são necessárias condições objetivas, 
principalmente em se tratando de direitos sociais, que dependem da intervenção do 
Estado. 
Portanto, a expressão “Direitos Humanos” designa os direitos fundamentais. 
Assim, na verdade, os Direitos Humanos não são um ramo a mais do Direito, como 
o Direito Penal, o Direito Comercial, etc. Os Direitos Humanos são a raiz de todos os 
direitos. Sendo assim, o que distingue os Direitos Humanos ou Direitos 
Fundamentais de outras formas de ordenamento jurídico é que, sendo o Direito 
fundamentado nos direitos intrínsecos do homem, este só pode ter como fonte a 
liberdade, estando o ser humano sujeito apenas à lei e a não à prepotência de um 
chefe ou de quem quer que seja. 
 
 
1.2.2 Caracterização 
 
 
Os direitos humanos são, pois, entendidos como direitos subjetivos, sendo 
seu sujeito a humanidade. São um tipo especial de direitos, distinto dos direitos 
constitucionais e dos da cidadania democrática e de outros tipos de direitos mais 
concretos, pois sua função principal é especificar limites à soberania dos povos e às 
instituições internas de cada país e desta forma seu respeito é a condição 
necessária da legitimidade de um regime político e da decência de sua ordem legal. 
Os direitos humanos estão ligados ao valor da pessoa, sua dignidade e liberdade. 
Ricardo Lobo Torres (1995), em sua obra caracteriza os direitos humanos 
como sendo: “Direitos preexistentes à ordem positiva, imprescritíveis, inalienáveis, 
dotados de eficácia erga omnes, absolutos e autoaplicáveis”. Assim, imprescritíveis, 
inalienáveis, irrenunciáveis e universais são traços apontados pela doutrina aos 
direitos humanos. 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
11 
Desta forma, os direitos humanos fundamentais são imprescritíveis porque 
não se perdem pelo decurso do prazo; são inalienáveis porque não há possibilidade 
de transferência dos direitos humanos, seja a título gratuito, seja a título oneroso e 
são universais, pois a abrangência desses direitos engloba todos os indivíduos, 
independente de sua nacionalidade, sexo, raça, credo ou convicção político-
filosófica. 
 
 
1.2.3 Finalidade 
 
 
Os direitos humanos fundamentais compreendem um rol mínimo de direitos 
do ser humano, derivados da soberania da vontade popular e são importantes na 
medida em que sua finalidade compreende duas funções. Têm sua importância na 
relação que estabelece entre o homem e seus governantes. Explica-se: uma das 
funções dos direitos humanos é limitar a atuaçãoe os abusos de poder por parte 
dos governantes, quando estes devem obedecer, por exemplo, a dignidade da 
pessoa humana e a liberdade da pessoa humana. A isso chamam muitos 
doutrinadores de competência negativa do Estado. 
Tem, ainda, importância o tema em função da liberdade positiva que 
expressam esses direitos, isto é, são direitos fundamentais que o ser humano pode 
exercer e exigir respeito (tutela), por versarem sobre a dignidade do indivíduo em 
sentido amplo. 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
12 
1.3 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
 
 
1.3.1 Pessoa Humana como Sujeito Principal do Desenvolvimento 
 
 
Os Direitos Humanos são direitos fundamentais da pessoa humana. Esses 
direitos são considerados fundamentais porque, sem eles, a pessoa não é capaz de 
se desenvolver e de participar plenamente da vida. Respeitar os Direitos Humanos é 
promover a vida em sociedade, sem discriminação de classe social, de cultura, de 
religião, de raça, de etnia, de orientação sexual. Para que exista a igualdade de 
direitos, é preciso respeito às diferenças. A igualdade racial e entre homens e 
mulheres são fundamentais para o desenvolvimento da humanidade e para tornar 
real, os Direitos Humanos. 
 
 
1.3.2 A Liberdade e os Valores da Igualdade 
 
 
A dignidade humana é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se 
manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria 
vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas. 
Constituindo-se em um mínimo invulnerável que todo estatuto deve assegurar, de 
modo que apenas excepcionalmente possam ser feitas limitações ao exercício dos 
direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que 
merecem todas as pessoas enquanto seres humanos. 
O dever que se configura pela exigência de o indivíduo respeitar a dignidade 
de seu semelhante tal qual a CF exige que lhe respeitem a própria. A concepção 
dessa noção de dever fundamental apresenta-se em dupla concepção. 
Primeiramente, prevê um direito individual de proteção, seja em relação ao próprio 
Estado, seja em relação aos demais indivíduos. Em segundo lugar, estabelece 
verdadeiro dever fundamental de tratamento igualitário dos próprios semelhantes. 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
13 
Dignidade significa que o homem não pode ser tratado como um animal 
qualquer, pois ele tem a sua individualidade. Tem uma essência, que é própria dele. 
Cada indivíduo é totalmente diferente de outro e o que nos identifica é essa essência 
de ser pessoa. O inciso III do art. 5° da Constituição dispõe que “ninguém será 
submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante”. Tal proteção, por 
vezes identificada como o princípio da dignidade da pessoa humana, volta-se não 
apenas contra o sofrimento físico, mas também à coerção moral (nesse sentido 
também o inciso XLIX do art. 5° da CF/1988). 
Assim, dignidade da pessoa humana significa que todos terão direito a 
serem tratados de forma digna, respeitosa e honrosa. Tal princípio traz uma série de 
reflexos, como a proibição de tortura, de penas perpétuas, de penas de morte, etc., 
pois a única coisa capaz de garantir a dignidade da pessoa humana é a justiça! A 
dignidade é um valor supremo. O homem é digno, pelo simples fato de ser racional, 
o que o diferencia dos outros animais. 
O conceito da dignidade da pessoa humana obriga a uma densificação 
valorativa que tenha em conta o seu amplo sentido normativo constitucional e não 
qualquer ideia de valoração do homem. Não se pode reduzi-lo a meros direitos 
tradicionais, esquecendo-as nos casos de direitos pessoais ou invocá-lo para 
construir uma teoria do núcleo da personalidade humana. 
Daí decorre que a ordem econômica há de ter por fim assegurar a todos 
existência digna, previsto no art. 170, da CF; a ordem social visará à realização da 
justiça social, previsto no art. 193 da CF; a educação o desenvolvimento da pessoa 
e seu preparo para o exercício da cidadania previsto no art. 205 da CF, etc., não 
como meros enunciados formais, mas como indicadores do conteúdo normativo 
eficaz da dignidade da pessoa humana. 
Ao analisar os dispositivos constitucionais, podemos deduzir o quanto foi 
acentuada a preocupação do legislador em garantir a dignidade, o respeito e o bem-
estar da pessoa humana, de modo a se alcançar a paz e a justiça social. A 
dignidade da pessoa humana apresenta-se em uma dupla concepção. 
Primeiramente, prevê um direito individual protetivo, seja em relação ao próprio 
Estado ou em relação aos demais indivíduos. 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
14 
Em segundo lugar, estabelece verdadeiro dever fundamental de tratamento 
igualitário dos próprios semelhantes. Esse dever configura-se pela exigência do 
indivíduo respeitar a dignidade de seu semelhante tal qual a Constituição Federal 
exige que lhe respeitem a própria. Como vimos, a dignidade é, portanto, um valor 
fundamental. 
A Constituição em seu artigo 5o caput diz que “todos são iguais perante a lei” 
e no mesmo artigo inciso I diz que “homens e mulheres são iguais em direitos e 
obrigações, nos termos desta Constituição”. Assim, a CF estabelece que os iguais 
devam ser tratados de forma igual e os desiguais de forma desigual na medida em 
que se desigualam. A igualdade se configura como uma eficácia transcendente, de 
modo que toda situação de desigualdade persistente à entrada em vigor da norma 
constitucional deve ser considerada não recepcionada, se não demonstrar 
compatibilidade com os valores que a Constituição, como norma suprema, proclama. 
A desigualdade na lei se produz quando a norma distingue de forma 
razoável ou arbitrária um tratamento específico a pessoas diversas. Para que as 
diferenciações normativas possam ser consideradas não discriminatórias, torna-se 
indispensável que exista uma justificativa objetiva e razoável, de acordo com 
critérios e juízos valorativos genericamente aceitos, cuja exigência deve aplicar-se 
em relação à finalidade e efeitos da medida considerada, devendo estar presente 
por isso uma razoável relação de proporcionalidade entre os meios empregados e a 
finalidade perseguida, sempre em conformidade com os direitos e garantias 
constitucionalmente protegidos. 
Desta forma, o conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser 
humano que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de sua 
proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições 
mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana pode ser definido 
como direitos humanos fundamentais. Assim, os direitos humanos são 
compreendidos como um conjunto de faculdades e instituições que, em cada 
momento histórico, concretizam as exigências da dignidade, liberdade e igualdade 
humanas, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos 
jurídicos em nível nacional e internacional. Os valores referidos podem ser 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
15 
considerados como os três eixos fundamentais em torno dos quais se há centrado 
sempre a reivindicação de direitos humanos. 
 
 
1.4 DIREITOS HUMANOS: CIDADANIA E EDUCAÇÃO 
 
 
1.4.1 Relação entre Cidadania e Educação 
 
 
A cidadania é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, de 
acordo com o que preceitua o inciso II, do artigo 1º da Constituição da República. É 
um processo em constante construção, que teve origem, historicamente, com o 
surgimento dos direitos civis, no decorrer do século XVIII. 
Cidadão é um indivíduo que tem consciência de seus direitos e deveres e 
participa ativamente de todas as questões da sociedade. Segundo os brasileiros a 
cidadania é entendida apenas como direito ao voto e à participação política. A 
cidadania não pode ser entendida somente como direito ao voto. Porque neste caso, 
estaríamos apenas diante do mecanismo da representação. A cidadania pertence a 
uma comunidade disposta e capaz de lutarpelos direitos de seus integrantes, como 
o direito de ter direitos. 
Perante a Constituição Federal brasileira fica certo que o direito à educação, 
juridicamente, faz parte dos direitos humanos do cidadão, é classificado como um 
direito social. É direito de todos e dever do Estado e da família. Diante disso, o 
direito à educação visa ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o 
exercício da cidadania e sua qualificação no trabalho. 
A educação, como todo processo socializador atende às necessidades em 
geral da sociedade, ou seja, tem uma função de ajustamento social. Podemos dizer 
que desenvolvimento nenhum se fará sem o fator educação. Ela deve, para 
promover o desenvolvimento, caminhar paralelamente com outros fatores, como por 
exemplo: o fortalecimento das instituições democráticas, o princípio de 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
16 
autodeterminação, programas sanitários e higiênicos, reformas nas leis, 
redistribuição de renda nacional, etc. 
Desta forma, a educação é um fator importante para o desenvolvimento dos 
povos, ou seja, um elemento fundamental para a constituição da sociabilidade. É um 
importante instrumento que contribui para o desenvolvimento moral do indivíduo. A 
sociedade vive em constante transformação, desta forma, a cidadania depende cada 
vez mais da educação, seja moral ou ética, pois a educação é um meio de 
construção e reconstrução de valores e normas que dignificam as pessoas e as 
tornam mais humanas. Assim, a educação seria a base fundamental para se tornar 
um cidadão exemplar. 
 
 
1.4.2 Direitos e Deveres da Cidadania 
 
 
Ser cidadão é ter direitos e deveres. Desta forma, o cidadão é sujeito de 
direitos e deveres, é estatuído por normas jurídicas que convergem ao indivíduo 
para regular a sua conduta. Tanto o reconhecimento quanto o cumprimento destes 
direitos e deveres não devem se restringir à esfera política, isto é, ao direito e ao 
dever de votar e ser votado. Cidadania significa, além do reconhecimento dos 
direitos e deveres dos cidadãos, o cumprimento dos mesmos por parte da 
sociedade. 
Se o indivíduo não tem uma definição do que seja a cidadania, obviamente 
não poderá exercê-la de forma plena. Para o pleno exercício da cidadania, é preciso 
a garantia do conjunto dos Direitos Humanos. Cada cidadão deve ter garantido 
todos os Direitos Humanos, nenhum deve ser esquecido. Portanto, educar para a 
cidadania é adotar uma postura, é fazer escolhas. É despertar para as consciências 
dos direitos e deveres, é lutar pela justiça e não servir a interesses próprios. 
Exercer a cidadania plena é ter direitos civis, políticos e sociais, pois 
somente os direitos civis e políticos não asseguram a democracia sem os direitos 
sociais, pois esses direitos garantem a participação do indivíduo na riqueza coletiva, 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
17 
como o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde e a uma velhice 
mais tranquila, etc. 
 
 
1.5 DIREITOS HUMANOS NO BRASIL 
 
 
No Brasil os direitos humanos estão vinculados com a história das 
constituições brasileiras. Portanto, veremos a importância que essas Constituições 
deram aos Direitos Humanos. Na Constituição Imperial Brasileira de 1824, a 
inviolabilidade dos direitos civis e políticos baseavam-se na liberdade, na segurança 
individual e na propriedade. 
A Constituição de 1891 instituiu o sufrágio direto para a eleição dos 
deputados, senadores, presidente e vice-presidente da República, no entanto, 
determinava, também, que os mendigos, os analfabetos, os religiosos, não poderiam 
exercer tais direitos políticos. O sufrágio direto estabelecido por esta Constituição 
não modificou as regras de distribuição do poder, já que a prioridade da força 
econômica nas mãos dos fazendeiros e o estabelecimento do voto contribuíram para 
que estes pudessem manipular os mais fracos economicamente, de acordo com 
seus interesses políticos. 
Mas, apesar disso, podemos afirmar que a primeira Constituição republicana 
ampliou os Direitos Humanos, além de manter os direitos já consagrados pela 
Constituição Imperial. A reforma constitucional de 1926 procurou, em primeiro lugar, 
remediar os abusos praticados pela União em razão das intervenções federais nos 
Estados, no entanto, não atendeu, de forma plena, a exigência daqueles que 
entendiam que a Constituição de 1891 não se mostrava adequada à real instauração 
de um regime republicano no Brasil. 
Na Revolução de 1930 foi provocado um total desrespeito aos Direitos 
Humanos, como por exemplo: a magistratura perdeu suas garantias, suspenderam-
se as franquias constitucionais e o habeas corpus ficou restrito a réus ou acusados 
em processos de crimes comuns. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
18 
Na revolução constitucionalista de 1932 surgiu uma comissão para elaborar 
um projeto de Constituição, comissão esta que recebeu o nome de “Comissão do 
Itamarati”. Nesta época, a participação popular ficou bem reduzida em razão da 
censura à imprensa. Mas, apesar desta censura, a Constituição de 1934 
estabeleceu algumas franquias liberais, como por exemplo: determinou que a lei não 
poderia prejudicar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; vedou 
a pena de caráter perpétuo; proibiu a prisão por dívidas, multas ou custas; criou a 
assistência judiciária para os necessitados; instituiu a obrigatoriedade de 
comunicação imediata de qualquer prisão ou detenção ao juiz competente para que 
a relaxasse, além de várias outras franquias estabelecidas. 
Já a Constituição de 1934 inovou ao estatuir normas de proteção social ao 
trabalhador, proibindo a diferença de salário para um mesmo trabalho, em razão de 
idade, sexo, nacionalidade ou estado civil; proibindo o trabalho para menores de 14 
anos de idade, o trabalho noturno para os menores de 16 anos e o trabalho 
insalubre para menores de 18 anos e para mulheres; determinando a estipulação de 
um salário mínimo capaz de satisfazer às necessidades normais do trabalhador, o 
repouso semanal remunerado e a limitação de trabalho a oito horas diárias que só 
poderão ser prorrogadas nos casos legalmente previstos, além de inúmeras outras 
garantias sociais do trabalhador. 
Essa Constituição respeitou os Direitos Humanos e vigorou durante mais de 
três anos, até a introdução do chamado “Estado Novo”, em 10 de novembro de 
1937, que introduziu o autoritarismo no Brasil. Os Direitos Humanos praticamente 
não existiram durante os quase oito anos em que vigorou o Estado Novo. Nesta 
época, foi declarado estado de emergência no país, ficaram suspensas quase todas 
as liberdades a que o ser humano tem direito, dentre elas: 
- a liberdade de ir e vir, o sigilo de correspondência, uma vez que as 
mesmas eram violadas e censuradas, e de todos os outros meios de comunicação, 
sejam orais ou escritos, a liberdade de reunião, etc. Com a Constituição de 1946 o 
país foi “redemocratizado”, já que essa Constituição restaurou os direitos e garantias 
individuais, sendo estes até mesmo ampliados, do mesmo modo que os direitos 
sociais. Foi proibido o trabalho noturno a menores de 18 anos, estabeleceu-se o 
direito de greve, foi estipulado o salário-mínimo capaz de atender as necessidades 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
19 
do trabalhador e de sua família, dentre outros demais direitos previstos; como 
também os direitos culturais foram ampliados e vigorou até o surgimento da 
Constituição de 1967. No entanto, sofreu várias emendas e teve a vigência de 
inúmeros artigos suspensa por muitas vezes por força dos Atos Institucionais de 9 
de Abril de 1964 (AI-1) e de 27 de outubro de 1965 (AI-2), no golpe, 
autodenominado “Revolução de 31 de março de 1964”. 
Apesar de tudo isso, podemos afirmar que, durante os quase 18 anos de 
duração, a Constituição de 1946 garantiu os Direitos Humanos. Mas a Constituição 
de 1967 trouxe inúmeros retrocessos, suprimindo a liberdade de publicação, 
tornando restritoo direito de reunião, estabelecendo foro militar para os civis, 
mantendo todas as punições e arbitrariedades decretadas pelos Atos Institucionais. 
Sabíamos que a Constituição de 1967 determinava o respeito à integridade física e 
moral do detento e do presidiário, no entanto, a realidade era bem outra, tal preceito 
não existia. 
Além disso, reduziram a idade mínima de permissão para o trabalho para 12 
anos; restringiu o direito de greve; acabou com a proibição de diferença de salários, 
por motivos de idade e de nacionalidade; restringiu a liberdade de opinião e de 
expressão; recuou no campo dos chamados direitos sociais, etc. Essa Constituição 
vigorou, formalmente, até 17 de outubro de 1969, porém, na prática, a constituição 
de 67 vigorou apenas até 13 de dezembro de 1968 quando foi baixado o mais 
terrível Ato Institucional, o que mais desrespeitou os Direitos Humanos no País, 
provocando a revolta e o medo de toda a população, acarretando a ruína da 
Constituição de 1967, o AI-5. 
O AI-5 trouxe de volta todos os poderes discricionários do presidente, 
estabelecidos pelo AI-2, além de ampliar tais arbitrariedades, dando ao governo a 
prerrogativa de confiscar bens, suspendendo, inclusive, o habeas corpus nos casos 
de crimes políticos contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a 
economia popular. 
A tortura e os assassinatos políticos foram praticados de forma bárbara, com 
a garantia do silêncio da imprensa, que se encontrava praticamente amordaçada e 
as determinações e “proteções legais” do AI-5. Foi um longo período de 
arbitrariedades e corrupções. Com as medidas autoritárias dos Atos Institucionais. 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
20 
Não foram respeitados os Direitos Humanos. Em 1979 foi conquistada a anistia, que 
representou uma grande conquista do povo. Mesmo não acontecendo da forma que 
era esperada, já que anistiou, em nome do regime, até mesmo os criminosos e 
torturadores. Para João Baptista Herkenhoff (1994): “A luta pela anistia representou 
‘uma das páginas de maior grandeza moral escrita na História contemporânea do 
Brasil’, juntamente com a convocação e o funcionamento da Constituinte”. 
Com a Constituição de 1988 houve uma espécie de “redefinição do Estado 
brasileiro”, bem como de seus direitos fundamentais. Essa Constituição veio para 
proteger, talvez tardiamente, os direitos do homem. Quando digo tardiamente, 
porque isso poderia ter se efetivado na Constituição de 1946, que foi uma bela 
Constituição, mas que logo em seguida foi derrubada com a ditadura. 
Mas, apesar da Constituição de 88 ter aberto espaço para os movimentos de 
defesa dos direitos humanos, as organizações enfrentaram inúmeros problemas, 
como por exemplo: o não reconhecimento de sua atuação por parte da população 
carente, exatamente aquela que mais sofre o efeito da violência promovida por 
agentes do Estado. 
Essa população não percebe os direitos humanos como seus próprios 
direitos e não se sente defendida por tais organizações, ao contrário, para essa 
população os movimentos de direitos humanos são seus inimigos, pois defendem 
marginais e criminosos. Essa adesão ao arbítrio só pode se explicada investigando-
se a mentalidade predominante na sociedade civil, pois na percepção da 
criminalidade e nas soluções preconizadas para o seu enfretamento há uma 
compatibilidade entre os métodos dos aparelhos repressivos e as expectativas. 
Além disso, a repressão policial não é percebida como tal, pois foi 
disseminada a informação de que essa violência está associada a um passado que 
não existe, ou melhor, que deve ser esquecido por todos. A igualdade citada no 
texto da Declaração Universal dos Direitos do Homem não ocorre no cotidiano 
brasileiro, pois no pensamento do brasileiro os direitos humanos foram rapidamente 
transformados em “Direitos de Bandidos”. Os direitos humanos foram transformados, 
no contexto de discussões sobre a criminalidade, em privilégios de bandidos a 
serem combatidos pelos homens de bem. 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
21 
A ampliação da defesa dos direitos humanos para todos os cidadãos 
constitui-se, então, em um grande desafio para os movimentos de direitos humanos. 
Houve uma campanha em prol e contra os direitos humanos, articulou-se em um 
momento de aumento da criminalidade no Brasil. Essa campanha aproveitou-se do 
clima de crise de insegurança que se instalava na sociedade, e assim, afirmavam 
que as organizações de direitos humanos eram verdadeiros empecilhos no combate 
à criminalidade e pediam maior vigor no controle da violência. 
 
 
1.6 DIREITOS HUMANOS: DEMOCRACIA E DESENVOLVIMENTO 
 
 
1.6.1 Estado Democrático de Direito 
 
 
Quando falamos em direitos humanos, é importante enfatizar a discussão 
sobre a democracia como condição essencial para a realização e satisfação efetiva 
das necessidades básicas da existência humana em todos os aspectos da vida. A 
palavra democracia, de demos (povo), etimologicamente significa o governo do 
povo. Antigamente, o vocábulo “democracia” revestia-se de mau renome, como por 
exemplo: governo da plebe, incapaz de discernimento, volúvel e inconsiderado. 
Segundo Bobbio: 
 
A democracia não se refere só à ordem do poder público do Estado, mas 
devem existir em todas as relações sociais, econômicas, políticas e 
culturais. Começa na relação interindividual, passa pela família, a escola e 
culmina no Estado. Uma sociedade democrática é aquela que vai 
conseguindo democratizar todas as suas instituições e práticas. (BOBBIO, 
2002, p. 36). 
 
Democracia é o governo do povo para o povo. Do povo, isto é, considerado 
o povo como sujeito, portador do poder político, juiz de seus próprios interesses, e 
para o povo, como forma de governo destinada precipuamente à realização do bem 
comum, não apenas da maioria, ou de uma classe. Assim, a palavra democracia 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
22 
assume, ainda, um significado ideal, com uma pluralidade de sentidos: liberalismo, 
socialismo, justiça, paz universal. Sendo assim, a democracia no Estado moderno 
assenta suas raízes no ideal cristão de fraternidade, liberdade e igualdade. Uma 
democracia não apenas formal, mas substancial, isto é, social, que proporcione a 
realização do bem comum. 
Para efetiva prática da democracia requer certos requisitos, previstos em 
seu próprio conceito, como veremos a seguir: 
 
 A democracia supõe, primeiramente, certos graus de cultura geral e cívica, 
certo conhecimento, por parte dos cidadãos, dos problemas do governo, ao 
menos em suas linhas gerais. 
 
 Exige-se a existência de uma opinião pública organizada e esclarecida, o que 
se concretiza por meio dos partidos políticos. Isto é, essa opinião pública 
necessita discutir problemas, tais como: exigir a existência de certas 
liberdades: liberdade de pensamento, de imprensa, de reunião, de 
associação, dentre outros. Liberdades essas que devem ser efetivamente 
asseguradas por meio das garantias legais e de aparelhamento estatal 
adequado, pois o fato de constar dos textos das constituições modernas tais 
direitos, estas de nada adiantam se não houver aparelhamento e garantias 
legais para sua eficiência. 
 
Assim, uma das grandes tarefas de todos os governos, nas imperfeitas 
democracias modernas, é a de proporcionar essas condições, entre elas, 
especialmente, a educação, isto é, a elevação intelectual, cívica e moral do povo, 
constituindo o aspecto político-formal. Complementando os requisitos para a 
efetivação da democracia, pelo aspecto substancial, ou seja, sob o prisma da 
realização concreta do bem comum, temos como pressupostos um grau 
verdadeiramente religioso de virtude, desprendimento, espírito de fraternidade, de 
solidariedade e justiça. 
Portanto, a primeira consequência do princípio democrático será, realmente, 
a necessidade de tornar, tanto quanto possível, efetiva, real, essa identificação entre 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
23 
governantese governados, ou seja, tornar mais ampla possível a participação do 
povo no governo. Diante disso, a consagração de um Estado Democrático pretendia 
afastar a tendência humana ao autoritarismo e concentração de poder. Sendo 
assim, o Estado Democrático de Direito significa a exigência de reger-se por normas 
democráticas, com eleições livres, periódicas e pelo povo, bem como o respeito das 
autoridades públicas aos direitos e garantias fundamentais. 
Com o término do último período autoritário no Brasil de 1964 a 1985, o 
controle do uso da violência pelo Estado tornou-se o principal problema a ser 
enfrentado na ordem democrática que se reconstruía. No Brasil, assim como em 
outros países da América Latina, as agências policiais desempenharam importante 
papel de sustentação dos regimes autoritários. A suspensão dos direitos civis, no 
período de exceção, permitiu que o Estado desrespeitasse os direitos do cidadão 
sem que houvesse qualquer risco de punição para os responsáveis. 
Entretanto, o desrespeito aos direitos humanos, não cessou com o fim 
desses regimes, ao contrário, continuava existindo a despeito da ordem 
constitucional vigente nesses países. Em sociedades cuja democracia estava 
consolidada, os direitos humanos funcionavam como um conjunto de princípios 
reguladores do poder coercitivo do Estado. Já, naquelas em que a democracia 
estava em construção, as tentativas de submeter à violência estatal a regras de 
controle que garantiam o direito da população constituiu o objetivo dos movimentos 
de direitos humanos. 
Desta forma, com o processo de democratização, iniciado em 1985, é que o 
Estado Brasileiro passa a ratificar os principais tratados de proteção dos direitos 
humanos. Impulsionado pela Constituição de 1988 que consagra os princípios da 
prevalência dos direitos humanos e da dignidade humana o Brasil passa a se inserir 
no cenário de proteção internacional dos direitos humanos. Como por exemplo, 
temos: 
 
 A Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, em 20 de julho 
de 1989. 
 A Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou 
Degradantes, em 28 de setembro de 1989. 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
24 
 A Convenção sobre os Direitos da Criança, em 24 de setembro de 1990. 
 O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, em 24 de janeiro de 
1992. 
 O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, em 24 de 
janeiro de 1992. 
 A Convenção Americana de Direitos Humanos, em 25 de setembro de 1992. 
 A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência 
contra a Mulher, em 27 de novembro de 1995, dentre outros. 
 
Assim, com a transição para a democracia, os direitos políticos foram 
garantidos, mas, essa conquista não se traduzia na efetiva implementação do 
Estado de Direito. Foi nesse contexto que a temática dos direitos humanos tornou-se 
importante, pois as organizações de direitos humanos, que tiveram um papel 
fundamental no período de resistência democrática, denunciando as arbitrariedades 
cometidas pelas polícias contra os presos políticos, passando a lutar pelo 
estabelecimento de um Estado que respeitasse e promovesse os direitos de todos 
os cidadãos, sem privilégios. 
Assim, não se pode falar em direitos humanos de forma fragmentária: os 
direitos dos pobres, os direitos dos negros ou os direitos dos presos, etc. O Princípio 
Democrático exprime fundamentalmente a exigência da integral participação de 
todos e de cada uma das pessoas na vida política do país, a fim de garantir-se o 
respeito à soberania popular. A participação popular é um importante instrumento 
para o aprofundamento da democracia que, a partir da descentralização, faz com 
que haja maior dinâmica na participação, principalmente no âmbito local. 
Como o Estado Brasileiro é caracterizado por ser um Estado Democrático de 
Direito, é imprescindível que haja a efetiva participação popular para que se dê 
legitimidade às suas normas. A Constituição de 1988 foi um referencial histórico, 
pois marcou o fim do período de transição, inaugurando o período de consolidação 
da democracia na sociedade brasileira. Foi um avanço em relação aos direitos e 
garantias individuais e sociais para sociedade brasileira. 
Segundo a Constituição, são objetivos fundamentais da República: 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
25 
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
II - garantir o desenvolvimento nacional; 
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades 
sociais e regionais; 
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, 
idade e quaisquer outras formas de discriminação. (CF/88, art. 3°, inc. I). 
 
Mesmo a Constituição de 1988 apresentando várias conquistas, por tudo o 
que se tem acompanhado no dia a dia, só isso não basta e para que a democracia 
esteja consolidada, na prática, ainda há muito para ser feito, pois ainda vivemos no 
Brasil com uma herança do chamado período autoritário, a corrupção e os jogos de 
poder que emergem a todo instante no cenário político do país não são expressão 
de democracia, assim como não o é o processo de acirramento das desigualdades 
sociais e econômicas que se iniciaram décadas atrás e ainda não foi revertido, está 
cada vez mais acentuado. 
Pensando no papel das instituições em um regime democrático, vemos que 
o ideal da igualdade de todos perante as leis ainda há deficiências que precisam ser 
corrigidas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
-----------------------FIM DO MÓDULO------------------------- 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
26 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
ALVES, J. A. Lindgren. Os Direitos Humanos como tema global. São Paulo: 
Perspectiva, 1994. 
 
 
BOBBIO, Norberto. A era dos Direitos. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de 
Janeiro: Campus, 1996. 
 
 
COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. São 
Paulo: Saraiva, 2001. 
 
 
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direitos Humanos Fundamentais. São 
Paulo: Saraiva, 2000. 
 
 
HERKENHOFF, João Baptista. Curso de Direitos Humanos. São Paulo: 
Acadêmica, 1994. 
 
 
MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais: teoria geral. São 
Paulo: Atlas, 2002. 
 
 
MORANGE, Jean. Direitos Humanos e Liberdades Públicas. São Paulo: Manole, 
2004. 
 
 
PEDROSO, Regina Célia. Violência e cidadania no Brasil. São Paulo: Ática, 2002. 
 
 
SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. Porto Alegre: 
Livraria do Advogado, 2005. 
 
 
TORRES, Ricardo Lobo. Os Direitos Humanos e a Tributação. Rio de janeiro: 
Renovar, 1995. 
 
 
 
 
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CURSO DE 
DOCUMENTOS: INTERNACIONAL E 
NACIONAL DE JUSTIÇA DOS 
DIREITOS HUMANOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
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CURSO DE 
DOCUMENTOS: INTERNACIONAL E 
NACIONAL DE JUSTIÇA DOS 
DIREITOS HUMANOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
1.1 DOCUMENTOS IMPORTANTES A RESPEITO DOS DIREITOS HUMANOS 
1.1.1 A Magna Carta (1215) 
1.1.2 A Petição de Direitos (1628) e Act of Habeas Corpus (1679) 
1.1.3 Declaração de Direitos - Bill of Rights (1689) 
1.1.4 Declaração de Direitos de Virgínia e a Declaração do Homem e do Cidadão 
da Assembleia Nacional Francesa (1779 e 1789) 
1.1.5 A Constituição Francesa (1848) e a Convenção de Genebra (1864) 
1.1.6 Ato Geral da Conferênciade Bruxelas (1890) e Constituição Mexicana 
(1917) 
1.2 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM (1948) 
1.2.1 Histórico 
1.2.2 O Sistema de Três Etapas Gerado pelos Autores da Declaração Universal 
1.2.3 Declaração Universal dos Direitos Humanos na Íntegra 
1.3 DESENVOLVIMENTO INTERNACIONAL DA DECLARAÇÃO 
1.4 DIREITOS HUMANOS INTERNACIONAIS E DIREITOS FUNDAMENTAIS 
NACIONAIS 
1.4.1 Desenvolvimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos 
1.4.2 Relação entre Direitos Humanos Internacionais e Direitos Fundamentais 
Nacionais 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
4 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
1.1 DOCUMENTOS IMPORTANTES A RESPEITO DOS DIREITOS HUMANOS 
 
 
Existem documentos importantes que vieram a intensificar o 
desenvolvimento da consagração dos direitos humanos, como veremos a seguir. 
 
 
1.1.1 A Magna Carta (1215) 
 
 
Outorgada pelo Rei João Sem Terra, em Runnymede, perto de Windsor, no 
ano de 1215, é considerado o documento de justiça dos direitos humanos mais 
antigo, que submetia o governante a um conjunto de normas, que ressaltava a 
inexistência de arbitrariedades na cobrança de impostos. A execução de uma multa 
ou um aprisionamento ficava submetida à imperiosa necessidade de um julgamento 
justo. 
 
 
1.1.2 A Petição de Direitos (1628) e Act of Habeas Corpus (1679) 
 
 
O Rei Carlos I foi rei da Grã-Bretanha entre 1625 e 1649. Convocou três 
parlamentos e os dissolveu, à medida que seus membros se negavam a acatar suas 
exigências. Tal atitude provocou duas guerras civis. Finalmente, o Parlamento 
condenou por traição e ele foi decapitado. Por todas estas razões, os lordes 
espirituais e temporais e os comuns humildemente imploram a Vossa Majestade 
que, a partir de agora, ninguém seja obrigado a contribuir com qualquer dádiva, 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
5 
empréstimo ou a pagar qualquer taxa ou imposto, sem o consentimento de todos, 
manifestado por ato do Parlamento; e que ninguém seja chamado a responder ou 
prestar juramento, ou a executar algum serviço, encarcerado ou de uma forma ou de 
outra, molestada ou inquietado, por causa destes tributos ou da recusa em nos 
pagar, e que nenhum homem livre fique sob prisão ou detido por qualquer das 
formas acima indicadas; e que Vossa Majestade haja por bem retirar os soldados e 
marinheiros, e que, para o futuro, o nosso povo não volte a ser sobrecarregado; e 
que as comissões para aplicação da lei marcial sejam revogadas e anuladas e que, 
doravante, ninguém jamais possa ser incumbido de outras comissões semelhantes, 
a fim de nenhum súdito de Vossa Majestade padeça, ou seja morto, contrariamente 
às leis e franquias do país. 
Assim, como o Rei Carlos I não estava obedecendo aos ditames do velho 
documento, o que levou os barões a convocá-lo formalmente a ratificar a Carta. 
Essa ratificação, todavia, foi seguida da elaboração de outro documento, conhecido 
como Petição de Direitos. Em relação ao Habeas Corpus, já existia na Inglaterra 
desde vários séculos, como mandado judicial (writ), em caso de prisão arbitrária. 
Contudo, sua eficácia como remédio jurídico era muito reduzida, em razão da 
inexistência de adequadas regras processuais. 
O Habeas Corpus era voltado para melhor especificar o cabimento e a forma 
a ser obedecida quando da existência de situação que requisitasse o remédio 
heroico. Elaborado pelo Parlamento e sancionado pelo rei, ninguém poderia ser 
mantido preso, sem que fosse logo conduzido à presença de um tribunal. Mesmo 
após a elaboração da Petition of Rights, que visava aumentar as ainda tímidas 
garantias, os monarcas não atendiam aos pedidos de Habeas Corpus, tornando letra 
morta as leis existentes e que cuidavam desse instituto. 
Assim, a Lei de 1679, cuja denominação oficial foi “uma lei para melhor 
garantir a liberdade do súdito e para prevenção das prisões de ultramar”, veio 
corrigir esse defeito e confirmar no povo inglês a verdade do brocardo: “são as 
garantias processuais que criam os direitos e não o contrário”. 
 
 
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6 
1.1.3 Declaração de Direitos - Bill of Rights (1689) 
 
 
Em 13/02/1689 foi escrito o Bill of Rights na Inglaterra, que, na verdade, não 
constitui uma declaração de direitos individuais, na exata concepção do termo. 
Tratava-se, na época, de um conjunto de imposições ainda sem forma definida e 
que, no sentido estrito da expressão, trazia apenas três direitos individuais 
caracterizados: liberdade, defesa da propriedade e segurança individual. 
A Declaração de Direitos (Bill of Rights) foi promulgada um século antes da 
Revolução Francesa. Essa Declaração de Direitos pôs fim, pela primeira vez, desde 
o seu surgimento na Europa renascentista, ao regime de monarquia absolutista, no 
qual todo poder emana do rei e em seu nome é exercido. Assim, a partir de 1689, na 
Inglaterra, os poderes de legislar e criar tributos já não são prerrogativas do 
monarca, mas entram na esfera de competência reservada do Parlamento. 
Apesar disso, era um pacto que visava atacar os abusos cometidos por 
Jaime II, declarando-os ilegais e, por conta desses temas, determinava que o rei 
estava proibido de violar as leis votadas pelo Parlamento, aprovava a fixação dos 
vencimentos reais e de sua tropa, além de, por fim, ratificar expressamente os 
documentos que lhe antecederam (a Magna Carta, a Petição de Direitos e o Ato de 
Habeas Corpus). E considerado, por isso, a parte final dos documentos ingleses que 
formaram as bases de um longo movimento chamado constitucionalismo. Sendo 
assim, a Bill of Rights veio para assegurar a supremacia do Parlamento sobre a 
vontade do rei. 
 
 
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7 
1.1.4 Declaração de Direitos de Virgínia e a Declaração do Homem e do Cidadão 
da Assembleia Nacional Francesa (1779 e 1789) 
 
 
Dentre os textos que marcaram a consagração de um conjunto denominado 
“Direitos do Homem”, devem mencionar-se as primeiras Declarações do século 
XVIII, fruto de inspiração jusnaturalista. Assim, teve início a positivação dos Direitos 
do Homem com a Declaração de Direitos do Estado de Virgínia, que declara: 
 
Todos os homens são, por natureza, igualmente livres e independentes e 
têm certos direitos inatos de que, quando entram no estado de sociedade, 
não podem, por nenhuma forma, privar ou despojar de sua posteridade, 
nomeadamente o gozo da vida e da liberdade, com os meios de adquirir e 
possuir propriedade e procurar e obter felicidade e segurança. Assegura, 
também, todo poder ao povo e o devido processo legal (julgamento justo 
para todos). (DECLARAÇÃO DE DIREITOS DO ESTADO DE VIRGÍNIA, 
1779). 
 
Diante disso, podemos dizer que todos os homens são igualmente guiados, 
pela sua própria natureza, ao aperfeiçoamento constante de si mesmos. Assim, a 
busca da felicidade é a razão de ser desses direitos inerentes à própria condição 
humana. Muito embora a Inglaterra tenha dado o impulso inicial, e não obstante 
situar-se na França o polo mais ativo da erradicação de ideias, foi na América do 
Norte, na ainda colônia de Virgínia, que surgiu a primeira declaração de direitos –
Declaração de Virgínia (1779). 
Todavia, foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da 
Assembleia Nacional Francesa (1789), quando da Revolução Francesa que, 
incontestavelmente, teve muito maior repercussão que as precedentes, sendo seu 
sucesso proveniente do caráter universal, cujos autores souberam enunciar direitos 
individuais aplicáveis a toda sociedade política, instaurando um estado de Direito. 
Trata-se de uma consagração francesa dos direitos do homem com 17 artigos. 
Materializando, assim, os direitos civis e políticos, também chamados de 
direitos individuais de 1ª geração, atribuídos a uma pretensa condição natural do 
indivíduo, como se vê no trecho abaixo que se segue: 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
8 
Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos. Essesdireitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à 
opressão. (Art. 1° e 2° da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 
da Revolução Francesa). 
 
Assim, previu diversos direitos fundamentais, dentre os quais, destacando-
se: princípio da igualdade, liberdade, propriedade, segurança, resistência à 
opressão, associação política, princípio da legalidade, da reserva legal e 
anterioridade em matéria penal, presunção de inocência etc. A Declaração dos 
Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 caracterizou-se como primeiro elemento 
constitucional do novo regime político. Sendo assim, essa Declaração de 1789 
tornou-se uma fonte obrigatória e permanente para as proclamações de direitos que 
surgiram posteriormente, tanto na França, como no restante da Europa e no 
continente americano. 
 
 
1.1.5 A Constituição Francesa (1848) e a Convenção de Genebra (1864) 
 
 
Esta Constituição traz duas disposições importantes sobre direitos 
fundamentais. Pela primeira vez, na história constitucional, a pena de morte é 
abolida em matéria política, bem como se proibiu a escravidão em todas as terras 
francesas. Apesar desses avanços no campo dos direitos humanos, a Constituição 
de 1848 foi, no entanto, responsável por um dos piores abusos cometidos pela 
França no campo das relações internacionais, ao declarar que o território da Argélia 
e das colônias é território francês, contrariando seu preâmbulo. 
A internacionalização dos Direitos do Homem teve início na segunda metade 
do século XIX, tendo-se manifestado no campo do Direito Humanitário, na luta 
contra a escravidão e na regulação dos direitos do trabalhador assalariado. Nesse 
sentido, o primeiro documento normativo de caráter internacional foi a Convenção de 
Genebra, de 1864, a partir da qual foi fundada a Comissão Internacional da Cruz 
Vermelha, em 1880. 
Desta forma, a Convenção de Genebra inaugurou o Direito Humanitário, em 
matéria internacional, ou seja, o conjunto das leis e costumes da guerra, visando 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
9 
minorar o sofrimento de soltados doentes e feridos, bem como populações civis 
atingidas por um conflito bélico. 
 
 
1.1.6 Ato Geral da Conferência de Bruxelas (1890) e Constituição Mexicana 
(1917) 
 
 
A conferência de Bruxelas versa sobre a repressão ao tráfico de escravos 
africanos. A Carta Política mexicana foi a primeira a atribuir aos direitos dos 
trabalhistas a qualidade de direitos fundamentais, juntamente com as liberdades 
individuais e os direitos políticos. 
 
 
1.2 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM (1948) 
 
 
1.2.1 Histórico 
 
 
A Declaração Universal dos Direitos do Homem da ONU, de dezembro de 
1948, trata-se do primeiro documento texto jurídico internacional que apresenta um 
catálogo completo dos direitos humanos. Ela foi aprovada por 48 países, membros 
das Nações Unidas, tendo oito abstenções, duas ausências, com a inexistência de 
votos contrários. 
Até o século XX, a doutrina internacionalista considerava que apenas 
poderiam ser objeto do Direito Internacional os direitos e deveres dos Estados. Esse 
documento modificou o sistema das relações internacionais, que tinha como atores 
exclusivos os Estados soberanos, conferindo à pessoa física a qualidade de sujeito 
do direito além das jurisdições domésticas. Lançaram os alicerces de uma nova 
disciplina jurídica, o Direito Internacional dos Direitos Humanos. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
10 
Assim, conforme a Declaração Universal dos Direitos do Homem: 
 
Todos os direitos humanos e todas as liberdades fundamentais são 
indivisíveis e interdependentes: a realização, a promoção e a proteção dos 
direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais devem se beneficiar 
de uma atenção igual a ser encaradas com uma urgência igual. 
 
A Declaração já surge, pois, consoante os critérios de indivisibilidade e 
interdependência de todos os direitos humanos. Ou seja, esse artigo da Declaração 
Universal dos Direitos do Homem confirma a indivisibilidade dos direitos humanos, 
reconhecendo que os direitos civis e políticos, juntamente com os direitos 
econômicos, sociais e culturais são essenciais para a manutenção da dignidade, da 
liberdade e do bem-estar dos homens. 
O princípio de indivisibilidade, em conjunto com o de universalidade, é o eixo 
do sistema protetor dos direitos humanos. Assim, a Declaração Universal forneceu 
aos direitos seu caráter universal, que se fundamenta nas premissas de igualdade 
em dignidade e valor, contrariando, portanto, as ideologias que se fundam na 
superioridade de raça, crença ou sexo. 
“Todos os direitos para todos”, esta é, sem dúvida, a maior expressão da 
Declaração Universal dos Direitos do Homem. Infelizmente, a garantia desses 
direitos ainda está longe de ser alcançada em sua totalidade. A defesa dos direitos 
humanos é uma tarefa interminável, porque a cada dia o respeito aos direitos 
humanos é algo que se constrói. 
 
 
1.2.2 O Sistema de Três Etapas Gerado pelos Autores da Declaração Universal 
 
 
A Declaração, como Resolução da Assembleia Geral, não possui força para 
obrigar, mas contaria com força moral. Deveria ser, contudo, apenas a primeira fase 
do desenvolvimento de uma verdadeira proteção internacional dos direitos humanos. 
A segunda fase consistiria na elaboração de um instrumento jurídico internacional 
que fosse efetivamente vinculante, que desenvolvesse a Declaração. 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
11 
Em uma terceira fase implementar-se-iam (fase de execução) os direitos por 
meio de mecanismos específicos. Esses mecanismos de implementação poderiam ir 
desde comissões específicas até a ampliação das competências do Tribunal 
Internacional de Justiça, passando pela criação de um tribunal internacional de 
direito humano específico. 
 
 
1.2.3 Declaração Universal dos Direitos Humanos na Íntegra 
 
 
A Declaração Universal dos Direitos do Homem foi adotada e proclamada 
pela resolução 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de 
dezembro de 1948. Quanto ao conteúdo da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, compõe-se de um preâmbulo e de trinta artigos, como veremos a seguir: 
 
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os 
membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o 
fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, 
 
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos 
resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e 
que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de 
palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da 
necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum, 
 
Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo 
Estado de Direito, para que o homem não seja compelido, como último 
recurso, à rebelião contra tirania e a opressão, 
 
Considerando essencial promover o desenvolvimento de relações 
amistosas entre as nações, 
 
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua 
fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa 
humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que 
decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em 
uma liberdade mais ampla, 
 
Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a desenvolver, 
em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos 
humanos e liberdades fundamentais e a observância desses direitos e 
liberdades, 
 
Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é 
da mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso, 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
12 
A Assembleia Geral Proclama: 
 
A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal 
comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo 
de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade,tendo sempre em mente 
esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por 
promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de 
medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o 
seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre 
os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos 
territórios sob sua jurisdição. 
 
Artigo I 
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São 
dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras 
com espírito de fraternidade. 
Artigo II 
Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades 
estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de 
raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem 
nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. 
Artigo III 
Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. 
Artigo IV 
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico 
de escravos serão proibidos em todas as suas formas. 
Artigo V 
Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, 
desumano ou degradante. 
Artigo VI 
Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como 
pessoa perante a lei. 
Artigo VII 
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual 
proteção da lei. Todos têm direito à igual proteção contra qualquer 
discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer 
incitamento a tal discriminação. 
Artigo VIII 
Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais competentes 
remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe 
sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei. 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
13 
Artigo IX 
Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado. 
Artigo X 
Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e 
pública por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de 
seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal 
contra ele. 
Artigo XI 
Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida 
inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada, de acordo, com a 
lei em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as 
garantias necessárias à sua defesa. Ninguém poderá ser culpado por 
qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante 
o direito nacional ou internacional. Tampouco será imposta pena mais forte 
do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso. 
Artigo XII 
Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no 
seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. 
Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou 
ataques. 
Artigo XIII 
Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das 
fronteiras de cada Estado. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer 
país, inclusive o próprio, e a este regressar. 
Artigo XIV 
Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar 
asilo em outros países. Este direito não pode ser invocado em caso de 
perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por 
atos contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas. 
Artigo XV 
Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. Ninguém será 
arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de 
nacionalidade. 
Artigo XVI 
Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, 
nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma 
família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
14 
sua dissolução. O casamento não será válido senão com o livre e pleno 
consentimento dos nubentes. 
Artigo XVII 
Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros. 
Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade. 
Artigo XVIII 
Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; 
este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade 
de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e 
pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular. 
Artigo XIX 
Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito 
inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e 
transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente 
de fronteiras. 
Artigo XX 
Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas. 
Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. 
Artigo XXI 
Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu país, 
diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. 
Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país. 
A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade 
será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por 
voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto. 
Artigo XXII 
Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e 
à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de 
acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos 
econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre 
desenvolvimento da sua personalidade. 
Artigo XXIII 
Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a 
condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o 
desemprego. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual 
remuneração por igual trabalho. Toda pessoa que trabalhe tem direito a 
uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua 
família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
15 
acrescentará se necessário, outros meios de proteção social. 
Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e neles ingressar para 
proteção de seus interesses. 
Artigo XXIV 
Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável 
das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas. 
Artigo XXV 
Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a 
sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, 
cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à 
segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou 
outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle. 
A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. 
Todas as crianças nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da 
mesma proteção social. 
Artigo XXVI 
Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos 
nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será 
obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem 
como a instrução superior, esta baseada no mérito. A instrução será 
orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e 
do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades 
fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a 
amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará 
as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. Os pais 
têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será 
ministrada aos seus filhos. 
Artigo XXVII 
Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da 
comunidade, de fruir as artes e de participar do processo científico e de 
seus benefícios. Toda pessoa tem direito à proteção dosinteresses morais 
e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística 
da qual seja autor. 
Artigo XVIII 
Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional, em que os 
direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser 
plenamente realizados. 
Artigo XXIV 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
16 
Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o livre e pleno 
desenvolvimento de sua personalidade é possível. No exercício de seus 
direitos e liberdades, toda pessoa estará sujeita apenas às limitações 
determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido 
reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de 
satisfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar 
de uma sociedade democrática. Esses direitos e liberdades não podem, em 
hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos propósitos e princípios 
das Nações Unidas. 
Artigo XXX 
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o 
reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer 
qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de 
quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos. 
 
Desta forma, podemos então dizer que a Declaração acima trouxe um ideal 
de liberdade, de igualdade e fraternidade, que serviu de parâmetro para diversos 
povos. Além da Declaração Universal, outros instrumentos representam as lutas 
travadas pelos povos para livrarem-se da opressão, do preconceito, da violência, 
etc. Entre esses instrumentos estão: 
 
 A Declaração de Tunis, reunião regional para a África (1992) 
 A Declaração de San José, reunião regional para a América Latina e o Caribe 
(1993) 
 A Declaração de Bangcoc, reunião regional para a Ásia (1993) 
 
Todas reafirmando seu compromisso com os princípios definidos na 
Declaração Universal de 1948; e a Declaração do Cairo sobre direitos humanos no 
Islã de 1990, que adota os direitos humanos como expressão da vontade divina, 
declarando que a violação a qualquer direito fundamental constitui um pecado 
abominável no Preâmbulo. 
Essas declarações serviram como documentos preparatórios para a 
Conferência Mundial de Direitos Humanos, em Viena, no ano de 1993, em que foi 
acrescentada a seguinte proclamação: “A comunidade internacional deve tratar os 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
17 
direitos humanos de forma global e de maneira justa e equitativa e conferindo a 
todos o mesmo peso”. 
A Conferência de Viena, como foi conhecida, recordou aos signatários da 
Declaração Universal que cada Estado tem o dever de garantir os direitos 
econômicos, sociais e culturais na mesma medida em que os direitos civis e 
políticos, dado o descuido da maioria dos países signatários em relação ao primeiro 
grupo de direitos. 
A Declaração de 1948 atendeu a um clamor mundial pelo fim das guerras. 
Mais tarde, o documento serviu como um importante instrumento para acabar com 
os governos totalitários e com as ditaduras militares, instauradas no período da 
guerra fria. Serviu também como uma arma para limitar e frear abusos dos governos 
nascidos de democracias formais. 
Ela constitui-se como um marco da ampliação da noção de direitos humanos 
nos últimos 50 anos. Caracterizou-se pela combinação de um discurso de cunho 
liberal com outro de caráter social, de forma a tentar harmonizar a garantia das 
liberdades fundamentais com a busca da igualdade. Com sua linguagem solene, 
tenta dar um novo sentido à relação entre as pessoas e o Estado. 
 
 
1.3 DESENVOLVIMENTO INTERNACIONAL DA DECLARAÇÃO 
 
 
Imediatamente após a Declaração, passou-se a elaborar uma Convenção. 
Em 1952, a Assembleia havia decidido que seria necessário elaborar duas 
convenções, uma sobre direitos civis e políticos e outra com os direitos econômicos, 
sociais e culturais. Essa proposta originou-se da Índia, que na Constituição de 1949 
havia adotado internamente uma distinção rigorosa entre direitos da liberdade e 
direitos sociais. Os primeiros, judicialmente exigíveis, e os segundos estariam 
condicionais pela lei, ademais, pela capacidade econômica do Estado. 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos é uma resolução. 
Juridicamente, ela só tem uma força moral. Para dar uma forma jurídica obrigatória 
em 1976, ela foi completada por dois Pactos Internacionais: 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
18 
 O Pacto Internacional relativo aos Direitos Econômicos e Culturais 
 O Pacto Internacional relativo aos Direitos Civis e Políticos 
 
Os Pactos impõem aos Estados partes a obrigação imediata de respeitar e 
assegurar os direitos humanos fundamentais. Reconhecendo que, em conformidade 
com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o ideal do ser humano livre, no 
gozo das liberdades civis e políticas e liberto do temor e da miséria, não se pode ser 
realizado, a menos que se criem as condições que permitam a cada um gozar de 
seus direitos civis e políticos, assim como de seus direitos econômicos, sociais e 
culturais. 
Diante disso, todos os povos têm direito à autodeterminação. Em virtude 
desse direito, determinam livremente seu estatuto político e asseguram livremente 
seu desenvolvimento econômico, social e cultural. O Pacto Internacional referente 
aos Direitos Civis e Políticos, embora aprovado em 1966 pela Assembleia Geral das 
Nações Unidas, somente entrou em vigor em 1976. 
Esse pacto pretende atribuir diretamente ao indivíduo, direitos subjetivos 
exercitáveis contra o Estado, ou seja, compromisso do Estado de avançar até 
determinado estágio, contemplado no pacto. Com isso, o indivíduo, por ter deveres 
com seus semelhantes e para com a coletividade a que pertence, tem obrigação de 
lutar pela promoção e observância dos direitos reconhecidos no presente pacto. 
Com relação ao Pacto Internacional relativo aos Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais, reconhecendo que esses direitos decorrem da dignidade 
inerente à pessoa humana, assim, no presente pacto não se admitirá qualquer 
restrição ou suspensão dos direitos humanos fundamentais reconhecidos ou 
vigentes em qualquer país em virtude de leis, convenções, regulamentos ou 
costumes, sob pretexto de que o presente pacto não os reconheça em menor grau. 
O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional 
dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, assim como as demais Convenções 
Internacionais de Direitos Humanos, como, por exemplo: 
 
 A Convenção para a prevenção e a repressão do crime. 
 
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19 
 A Convenção Internacional sobre a eliminação de todas as formas de 
discriminação racial. 
 A Convenção sobre os direitos políticos da mulher, etc., possuem comitês que 
exercem um monitoramento dos Estados partes. 
 
Esses comitês não têm sanções no sentido estritamente jurídico. Eles 
examinam petições individuais sobre violação de direitos humanos. Aceitam 
denúncia feita por terceiros, dando, desta forma, um papel muito ativo às chamadas 
organizações não governamentais (ONGs) no monitoramento dos direitos humanos 
em todo o mundo. 
Desta forma, tal como o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, o 
maior objetivo dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, foi incorporar os 
dispositivos da Declaração Universal sob a forma de preceitos juridicamente 
obrigatórios e vinculantes. Não obstante a elaboração de dois pactos diversos, a 
indivisibilidade e a unidade dos direitos humanos são reafirmadas pela ONU, sob a 
fundamentação de que sem os direitos sociais, econômicos e culturais, os direitos 
civis e políticos só poderiam existir no plano nominal, e, por sua vez, sem direitos 
civis e políticos, os direitos sociais, econômicos e culturais também apenas 
existiriam no plano formal. 
A partir da declaração, por meio de várias conferências, pactos, protocolos 
internacionais a quantidade de direitos de desenvolveu a partir

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