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Mariana Freitas – 3º semestre Neurologia 1 O TCE é qualquer lesão decorrente de um trauma externo, que tenha como consequência alterações anatômicas do crânio, como fratura ou laceração do couro cabeludo, assim como comprometimento das meninges, encéfalo ou seus vasos, o que vai resultar em alterações cerebrais, momentâneas ou permanentes, de natureza cognitiva ou funcional, o que incapacita a função cerebral de seu pleno funcionamento. De acordo com a OMS, em 2030 o TCE será a maior causa de morte e incapacidade no mundo todo. O TCE atinge mais homens e em grande parte são jovens adultos com a idade entre 20-29 anos. Acidentes automobilísticos estão no topo com 50% dos casos, sendo que os maiores envolvidos são adolescentes e adultos Quedas que representa 30%, e a maioria dos seus envolvidos está idosos. Violência que representa 20% e os principais episódios ocorridos são de ferimentos por arma de fogo e arma branca. Outras causas, que são as que não se encaixam nas outras categorias, podendo ser acidentes que acontecem durante a prática de esportes, por exemplo. A fisiopatologia vai se dar por variados mecanismos, entre eles primeiramente tem- se a lesão primária, que ocorre no momento que o trauma se dá e é causada pelo impacto direto ao parênquima encefálico, assim, podem resultar de lesões abertas, que é quando há comunicação do conteúdo intracraniano com o meio externo; ou de lesões fechadas, que é quando não ocorre contato com o conteúdo intracraniano, sendo que isso se daria pela movimentação cerebral associada à energia cinética do acidente, pois ocorre influência da força de aceleração e desaceleração. Explicando isso de melhor forma, como o encéfalo e a caixa craniana possuem densidades diferentes, quando estão sob efeito de um mesmo movimento, respondem de formas diferentes, isso pode gerar rompimento de veias cerebrais e o impacto e laceração do parênquima. As lesões secundárias são processos patológicos que se iniciam após o momento do trauma com manifestações clínicas mais tardias pela interação de fatores intra e extra cerebrais, sendo estas: hipotensão arterial, hipoglicemia, hipóxia, distúrbios hidroelétricos são os principais, além disso, há ainda os distúrbios metabólicos e infecciosos sistêmicos. Em relação aos mecanismos de morte celular, há dois existentes: apoptose e necrose. Sendo que a apoptose é a morte Mariana Freitas – 3º semestre Neurologia 2 celular programada, que é um processo que provoca pouca reação inflamatória e que minimiza a lesão tecidual e no TCE pode-se encontrar esse processo ocorrendo tanto em sítios perilesionais como em estruturas distantes do trauma como o tálamo e o hipocampo. A necrose vai ser o principal mecanismo de morte celular no TCE, onde ocorre uma falência energética e a morte ocorre pela incapacidade da célula de manter sua homeostase, envolvendo uma resposta inflamatória. Isso pode se dar por meio de excitotoxicidade pelo glutamato e por estresse oxidativo. Para entender o processo de excitotoxicidade, é necessário saber que a energia cinética do TCE causa deformação morfológica dos axônios, o que leva a sua despolarização e liberação de neurotransmissores como o glutamato, que por sua vez começa a se aglomerar fora da célula e vai se ligar a receptores de sódio e cálcio, fazendo com que o sódio e cálcio entrem na célula e o que vai desencadear uma cascata de reações e promove a morte celular. Em relação ao estresse oxidativo, ele se dará por meio da ação dos radicais livres no tecido, que vão lesar a célula e também desencadear várias reações até ocorrer a morte celular. Lesões dos envoltórios cranianos: Escalpo (lesão cutânea de grande amplitude que pode levar a sangramento importante); Fraturas cranianas (podem ser lineares, cominutivas "múltiplas", diastásicas e associadas a afundamento e depressão). Lesões focais: Contusões cerebrais (resultam de trauma sobre os pequenos vasos ou diretamente sobre o parênquima cerebral com extravasamento de sangue e inchaço da área, necrose e isquemia); Hematoma extradural agudo (é acúmulo sangue entre a dura-máter e a tábua óssea, normalmente a pessoa apresenta rápida perda de consciência, seguida por um tempo lúcido e depois volta a ter perda de consciência); Hematoma subdural agudo (acúmulo de sangue no espaço subdural, que é entre as meninges dura-máter e aracnoide, ocorrendo por conta de rompimento de veias porte ou de vasos corticais, sendo que isso é mais comum em lesões que envolvem rápida movimentação da cabeça); Hematoma subdural crônico (são sangramentos repetidos que geram seu crescimento, a maioria dos pacientes desse tipo são idosos) Hematoma intracerebral (são associados a contusões lobares extensas e são causados pela ruptura de vasos intraparenquimatosos, principalmente nos lobos frontais e temporais). Lesões difusas: Mariana Freitas – 3º semestre Neurologia 3 Concussão (é a forma mais branda da lesão difusa e é causada devido à aceleração rotacional da cabeça, sendo que o paciente normalmente se apresenta com perda de consciência transitória); Lesão axonal difusa (resulta da aceleração rotacional ou angular mais importante da cabeça, assim, o mecanismo que dá origem a essa condição é o estiramento axonal devido ao movimento de rotação do encéfalo no momento do trauma, pode ser classificada em leve, moderada e grave. Nos casos leves ocorre coma pós-trauma entre 6 e 24h, no moderado ocorre coma por período maior que 24hrs sem sinal de comprometimento do tronco encefálico, e no caso grave ocorre coma por mais de 24hrs com sinal de comprometimento do tronco encefálico). A classificação do TCE é feita mediante a gravidade, com isso ele pode ser dividido em leve, moderado e grave, por meio da Escala de Coma de Glasgow, que é um método rápido e fácil para acessar e avaliar o nível de consciência, assim, a pontuação mínima é 3 e a máxima é 15. O TCE leve tem um escore de 14 a 15 na escala e pode ser dividido em baixo risco, moderado risco e grave risco de desenvolver lesões neurológicas. Em pacientes com TCE de baixo risco, podem ser totalmente assintomáticos com o exame físico normal e sem alterações neurológicas, no de moderado risco tem-se os pacientes que se envolvem em acidentes mais graves com histórias desconexas e são considerados de alto risco quando envolvem crianças espancadas, gestantes e pacientes com distúrbios de coagulação. No TCE moderado, tem-se a escala de coma de Glasgow entre 9-13, sendo que estes são aproximadamente 10% dos traumas cranianos Em casos de TCE grave o paciente possui ECG de 3-8, que são os pacientes que apresentam maior risco de mortalidade e de morbidade após o trauma. Em relação à sintomatologia, em pacientes com TCE com baixo risco normalmente são assintomáticos e podem sentir alguns sintomas leves com cefaleia, tontura e vertigem. Em TCE leve com moderado risco podem apresentar equimose órbito- palpebral, ou seja, um extravasamento sanguíneo para essa área, lesão de couro cabeludo, cefaleia progressiva, alterações neuropsicológicas como distúrbios de memória, sincope e em TCE com grave risco podem apresentar distúrbios de funções motoras superiores, lesões petequiais (manchinhas vermelhas), déficit de acuidade visual, múltiplos traumatismos. Em TCE moderado é comum a presença de confusão, sonolência, amnésia pós- traumática, nível de consciência rebaixado e crises epiléticas. No caso de TCE grave frequentemente apresentam hipotensão por conta do mecanismo do Mariana Freitas – 3º semestre Neurologia 4 trauma geralmente mais grave, além de apresentarem declínio progressivo do nível de consciência, sinais neurológicos focais e lesão craniana perfurante. Em relação à conduta clínica no diagnósticodo TCE, é necessário que seja feita como medida inicial a avaliação primária que vai avaliar as vias aéreas, a respiração, a circulação, o estado neurológico e os fatores que o paciente foi exposto, depois deve ser feita uma anamnese com coleta de informações chave (sendo estas, o mecanismo de trauma, as forças envolvidas, se houve alguma substância envolvida nisso como álcool ou drogas, uso de medicações, condições preexistentes), assim, é necessário a realização do exame físico e da avaliação neurológica mais detalhada. Depois de toda a avaliação geral, é necessário fazer a avaliação por imagem neurológica, onde pode ser realizado a radiografia de crânio, a TC e a RM e depois de todos esses passos, com os achados a partir de tudo isso vai ser realizada a monitorização dos sinais vitais e o tratamento do necessário, assim como a prevenção de qualquer desarranjo corporal pelas lesões secundárias. A radiografia de crânio não é amplamente utilizada em casos de TCE, somente em casos de TCE leve com Glasgow 15 e paciente assintomático. Ela não é muito utilizada porque não é capaz de excluir lesão intracraniana, além de ter índices falsos- negativos. A TC é o método de imagem mais adequado no atendimento inicial ao paciente vítima de TCE pois é mais disponível, tem ótima sensibilidade na detecção das principais lesões traumáticas intracranianas, o que permite a identificação de lesões potencialmente fatais e que necessitem tratamento cirúrgico imediato, assim, ela é mais informativa que a radiografia para a detecção de fraturas de crânio ou do pescoço e tem sensibilidade muito boa para detecção de sangue intracraniano. Os pacientes que estão aptos a fazerem a TC de crânio são pacientes com mais de 65 anos, com amnésia pós-trauma, perda de consciência por mais de 5 minutos, ECG menor que 15, crise convulsiva pós-trauma. A ressonância magnética tem uma sensibilidade muito superior à da TC, entretanto ela tem algumas restrições para sua utilização, dentre elas estão: seu alto custo, sua indisponibilidade, maior tempo de execução e elevado campo magnético que dificulta a realização em pacientes com corpos metálicos no corpo. Quando falamos do tratamento de TCE leve, se o paciente apresentar baixo risco ele deve passar por uma radiografia e se nela der alguma alteração, faz-se a TCE. Em pacientes de médio e alto risco faz-se a TC de crânio e mediante os resultados, medidas devem ser tomadas para o que ao paciente apresentar no exame. Se o paciente Mariana Freitas – 3º semestre Neurologia 5 estiver com ECG 15, assintomático, ele deve ficar em observação no hospital por 4hrs e se tudo ainda estiver bem, ele é mandado para caso com observação do acompanhante por no mínimo 24hrs, para se o paciente apresentar algum sintoma como cefaleia, náusea, vômito, tontura, vertigem, crise epiléptica, ele deve voltar imediatamente ao hospital. Em casos de TCE moderado e grave, a TC de crânio sempre é realizada e mediante o resultado do exame o paciente terá diferentes necessidades, por exemplo, se ele apresentar hematoma subdural, hematoma intraparenquimatoso ou contusão, provavelmente ele terá que passar por uma cirurgia, se ele apresentar edema, ou tumefação cerebral focal é necessário fazer a monitorização da PIC e se ele apresentar hematoma extradural provavelmente vai ter que passar pelos dois. Alguns manejos clínicos são necessários que sejam feitos mediante necessidade do paciente, por exemplo, a monitorização da Pressão Intracraniana e da Pressão de Perfusão Cerebral. De um modo geral, deve- se colocar monitor de PIC em todos os pacientes com TCE comatosos após a reanimação e a PPC normalmente é monitorada junto com a PIC, porque é um importante determinante do fluxo cerebral. O objetivo é manter a PIC abaixo de 20 e a PPC acima de 60 milímetros de mercúrio. Se o paciente estiver agitado, a sedação é uma escolha, pois ele vai ficar imóvel e tranquilo. Se a PPC estiver menor que 60 milímetros por mercúrio, os vasopressores podem produzir redução da PIC por diminuição da vasodilatação. O manitol só é usado quando todas essas opções não resolveram, ele reduz a PIC por meio de desidratação cerebral, a dose inicial de manitol a 20% é de 0,5 a 1 g/kg. No manejo de líquidos somente líquidos isotônicos como solução salina a 0,9% ou Plasma Lyte. A nutrição é feita por tubo nasogástrico. A febre de mais de 38 graus é comum após TCE e pode ser consequência de infecção ou de febre central, sendo que de qualquer forma ela deve ser controlada porque aumentos de temperatura podem piorar o caso. Mariana Freitas
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