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SEXUALIDADE M5

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SEXUALIDADE M5 | Giovana Martinez 
 
1 
 
SEXUALIDADE M5 (AIEDP) 
Semana 04 
SEXUALIDADE HUMANA E SUA RELAÇÃO COM O PROCESSO 
SAÚDE-DOENÇA 
1) Caso clínico: 
- Paciente (Marie) com crises epilépticas quando criança (dizia a frase “ele está vindo”). Quando cresceu 
teve diagnóstico de anorexia e RCU. Pai trocou de hospital, pois outro médico disse que era DC. Paciente 
morreu logo após a cirurgia. 
 
2) Sobre o tema dessa unidade: 
- Citação do Lacan: 
 
✓ Enigmático. 
✓ Há sintomas que não são passíveis de ser associados a exames de imagens e marcadores 
laboratoriais. 
✓ A medicina tem clareza em todos os seus diagnósticos? 
✓ A medicina baseada em evidências é interessante, porém não é suficiente. 
✓ O caso da Marie demonstra isso -> há várias possibilidades naquele caso. 
- O que Lacan denomina a última flor da medicina é a psicanálise, como a última prática da medicina que 
surge concomitante ao momento em que a medicina se torna científica. 
 
✓ Pulsão: energia sexual. Não é apenas a cópula, é uma energia vital para amar, trabalhar, 
construir projetos de vida, existir. 
✓ Inconsciente: é entendido como um aparelho de memória, aonde estão registrados traços 
mimêmicos que estruturam a linguagem (alguns podem ser lembrados, outros não). 
✓ Há sintomas que não tem sua etiologia necessariamento no corpo orgânico/biológico. 
✓ Que existem sintomas que decorrem do fato de que o ser humano é afligido pela linguagem. 
✓ Linguagem/ inconsciente. 
 SEXUALIDADE M5 | Giovana Martinez 
 
2 
 
- Fragmento do caso da Marie: 
 
✓ Era um enigma o que a menina falava. 
✓ Pai fez a aproximação em segredo? Ele que deu detalhes da história e falava algo semelhante. 
✓ O ser humano é afligido pela linguagem. É uma paciente presa inconscientemente e 
traumaticamente. 
- O incosciente surge no momento em que ocorre uma cisão no eu (momentos de crises), ocasionando 
uma separação entre: as inscrições, memórias, imagens, palavras e os afetos, energia/pulsão. 
- As representações (inscrições, memórias, imagens, palavras) são recalcadas, tornadas inconscientes. 
Inscrições podem ser portas sensoriais (cheiro, visão, paladar). 
- E os afetos passam a vagar procurando formas aceitas moralmente de serem representados no vínculo 
com o outro. 
- Pode pensar no complexo de Édipo: ele teve uma experiência de unidade amorosa com o objeto que 
cuidava dele (a mãe) e ele entra em um imaginário de que esse objeto é dele e é de amor (com certa 
expressão erótica). O tabu diz não. 
- Marie escutou sons da relação sexual dos pais. E aquilo ficou em seu inconsciente. 
- Os afetos não vinculados/ não recalcados, buscam formas aceitas para se fazerem representar. 
✓ Formas sublimadas: saber o que fazer com as memórias. 
✓ Formas sintomáticas: são as formas adoecidas. 
 
3) Mas o que seria um sintoma? 
- Uma carta de amor censurada e dirigida ao outro (inclusive ao médico). 
- Uma carta cheia de rasuras, palavras trocadas, mentiras, um texto borrado, mas a ser traduzido. 
- É aqui que se pode falar da relação entre sexualidade e saúde. 
✓ Ao considerarmos que existe uma dimensão, em boa parte dos sintomas, que carrega um enigma 
ligado à sexualidade e não unicamente alinhando ao corpo orgânico ou biológico. 
 
4) Um enigma referido a um romance familiar, um mito individual, marcado pela inscrição de uma 
interdição sobre um modo de gozo. 
- Marie esteve em uma intimidade dos pais, porém sempre ouviu dizer que não era um lugar para ela. 
- Mal encontro: investigação do caso e formulação do diagnóstico restritas ao campo biológico. 
- É certo que um sintoma orgânico é explicado de uma forma especificamente demonstrável, por 
marcadores, achados em exames laboratoriais, de imagem. 
- Mas o que explicaria o fato de que um afeto, uma energia de cunho erótico, um desejo sexual 
embaraçado no campo da linguagem, faça sintoma? 
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3 
 
 
 
 
- Há sintomas que são resolvidos pela escuta. 
- O paciente é tratado como indivíduo e não como sujeito. Sendo assim, todos são tratados da mesma 
forma. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 SEXUALIDADE M5 | Giovana Martinez 
 
4 
 
Semana 05 
A SEXUALIDADE A PARTIR DA PSICANÁLISE 
1) O que é a sexualidade para a psicanálise? 
- Considerar os dizeres de Freud sobre sexualidade -> ruptura/diferença entre o que era mencionado 
antes dele (disciplina apoiada na biologia -> sexologia). 
- O que é sexualidade para sexologia: relação estrita com a biologia e com função reprodutiva. Baseada 
na lógica e no instinto. 
- Freud vê um cenário de sexualidade sustentado pela trieb (pulsão - é a forma originária de querer – 
é aquilo que não tem dia e nem noite – é o que instiga). 
✓ O que diferencia a pulsão do instinto é o fato de que ela é constante. Já o instinto tem seus 
altos e baixos. 
- Sexualidade pulsional está presente nas crianças. 
✓ No olhar, na boca, nos gestos. 
✓ Trocas com o mundo. 
- Freud: “querem ver o que é sexualidade nos adultos, olhem para as crianças”. 
- Sexualidade da perversão: territórios dos desvios (práticas sexuais pervertidas – podem ser 
estranhas e bizarras, mas que têm muito a dizer sobre o que acontece conosco). 
- Sexualidade pulsional é um labirinto. Tenho que encontrar meu caminho. O alvo na certa não te espera 
-> o alvo não é capturável/sólido/domesticado. 
 
A INVENÇÃO DA SEXUALIDADE 
1) Introdução: 
- É importante lembrar que os discursos sobre a sexualidade aparecem em momentos sócio-históricos 
precisos como uma tentativa de normatizar as práticas sexuais de acordo com os padrões da época, 
pois o controle da via social e política só poderia ser alcançado pelo controle do corpo e da sexualidade. 
Ou seja, a sexualidade é uma construção, uma invenção, inseparável do discurso e do jogo de poder 
dentro dos quais ela é constituída e, ao mesmo tempo, se constitui. 
 
2) A ordem religiosa: 
- O médico pessoal do Imperador Adriano, Sarano de Éfaso, defendia que o ato sexual só era 
justificado para a procriação -> essa visão foi intensificada com o estoicismo. Esta corrente de 
pensamento transformou radicalmente a importância que os filósofos gregos reservavam à busca do 
prazer, fazendo com que a sexualidade fosse concentrada no casamento. Os grandes Padres da Igreja 
– Agostinho, Jerônimo e Tomás de Aquino – contribuíram muito para a manutenção do negativismo em 
relação ao prazer sexual característico da influência estóica. O sexo só se justificava para a 
reprodução, caso contrário traria o “estigma negativo do prazer”: vemos emergir uma moralidade que 
é, essencialmente, moralidade sexual. 
- No Antigo Testamento a origem do pecado é a desobediência: Eva come o fruto da árvore proibida -> 
Adão e Eva “abrem os olhos e percebem que estavam nus”. 
- Santo Agostinho: o homem é fruto do pecado -> o ser humano tornou-se fragilizado e culpabilizado 
pelo desejo, o que levou a uma exaltação sem precedentes da virgindade -> O casamento passou a ser 
tolerado, mas sob alta vigilância pois o que estava em jogo era a dimensão transcendente da salvação 
 SEXUALIDADE M5 | Giovana Martinez 
 
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da alma. Dos males, o casamento era o menor. o casamento é inferior à virgindade, e não sendo para a 
procriação, não há justificativa para o ato carnal. O melhor seria a continência absoluta. Não se podendo 
alcançá-la, aprisiona-se o desejo no casamento. 
- Século XII: A ideia é que existiria uma sexualidade normal, conforme as inclinações naturais das 
coisas, cujo desvio, a depravação (pravus), é definido como “contra a natureza”. Toda vez que a 
sexualidade desvia da finalidade primeira que a referência animal nos mostra – união de dois órgãos 
sexuais diferentes para a preservação da espécie –, estamos diante de um pecado contra naturam: 
pedofilia, necrofilia, masturbação, heterossexualidade separada da procriação, homossexualismo, 
sodomia. 
- A partir do século XII, a moral que recusa o desejo e o prazer começa a abrandar-secom a aceitação 
do casamento como espaço legítimo para o uso dos prazeres. Todavia, a concepção do sexo como um mal 
em si mesmo persiste, sob forma do controle sistemático dos prazeres da carne e com a inclusão de 
mais um pecado capital: a luxúria. Luxuriosos eram os que buscavam dentro do casamento 
principalmente o prazer e, fora dele, não observavam a castidade. 
 
3) A ordem médica: 
- A primeira grande ruptura nos mecanismos de controle e repressão da sexualidade começa a esboçar-
se no século XVII (FOUCAULT, 1985). A concepção de uma “pulsão sexual” inerente ao ser humano, 
cuja forma de satisfação poderia ser boa, sadia ou, ao contrário, errada ou ainda perversa, data do 
Iluminismo, ou seja, do final do século XVII, início do XVIII. 
- O passo seguinte foi a invenção da sexualidade, tal como a entendemos hoje: aquilo que marca o 
indivíduo em sua dimensão mais profunda. 
 
4) A subversão freudiana: 
- A concepção de “pulsão natural versus pulsão perversa” é abandonada, e o debate centra-se na 
diferença entre o objeto sexual e a finalidade sexual (entre o objeto desejado e a atividade sexual 
almejada com o objeto). Se a pulsão não tem objeto fixo, nada existe que seja biologicamente 
programado: toda forma de atividade sexual resulta de um percurso pulsional, de uma história individual 
e única. Ou seja, a sexualidade em cada ser humano, devido à singularidade da história de cada um, terá 
um destino particular: não há uma única maneira que se proponha certa e universal para as 
manifestações da sexualidade. A civilização comete uma grande injustiça ao “exigir de todos uma 
idêntica conduta sexual” . 
- Sem dúvida, a mudança de paradigma trazida por Freud foi de peso. Com Freud, a sexualidade, 
inclusive a perversa, torna-se humana, constituindo o núcleo mais profundo do sujeito: não há sentido 
falar de “bom ou de mau sexo”, de “sexo sadio ou doente”. Para Freud, finalmente, a sexualidade é 
dificilmente compatível com as exigências da civilização, constituindo-se mais como fonte de malestar 
do que de felicidade (FREUD, 1974). 
 
5) Reflexões finais: 
- A cada momento histórico a sexualidade foi apresentada como uma verdade, seja ela ditada pela 
Igreja, pelo Estado, ou pela medicina. O discurso ideológico, sustentado por este saber e atrelado aos 
interesses que sustentavam o poder e a ordem política, estabelecia o que deveria ser considerado 
“normal” e, por extensão, o patológico, em termos de desejos e práticas sexuais. 
- Foi no interior do discurso médico-psiquiátrico que a psicanálise surgiu. Por isso, a psicanálise, fruto 
da cultura ocidental, só pode ser entendida a partir da perspectiva histórica que a precedeu. Para que 
a psicanálise, que em um primeiro momento foi libertadora ao denunciar a existência de uma outra cena 
que determina nossas escolhas objetais, não se transforme em mais uma prática normativa é necessário 
que os psicanalistas façam constantes incursões em seus conceitos de base para confrontá-los com os 
movimentos sócio-históricos. Há de se levar em conta as mudanças sociais, sob pena de ficarmos 
arraigados a teses não mais sustentáveis na contemporaneidade. 
 
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OUSADIA NA ESCOLA: SEXUALIDADE COMO PERCURSOS 
INTERATIVOS 
1) Introdução: 
- A escola é um lugar de teoria, prática, anseios, dúvidas, certezas, inquietações e experimentações. A 
escola – como local de produção de saberes e informações, de expressão livre dos estudantes, dos 
encontros, dos amores, da descoberta e experimentação, da escuta, da orientação – é coautora da 
movimentação dos corpos e da sexualidade. 
- Pesquisa entre jovens de 13 a 17 anos -> interpretações sobre percursos de sexualidade. 
 
2) Pesquisando sexualidade: da teoria à prática: 
- A pesquisa foi realizada na disciplina Logística I, que não tem, a priori, conteúdos relacionados 
diretamente com educação sexual. 
- Dois grupos A e B, cada um com 8 pessoas -> desenvolveram trabalho de pesquisa e produção sobre 
preservativos. 
- As imagens, questões e depoimentos dos entrevistados eram acompanhadas de muitas dúvidas, 
demonstrando que as informações por vezes são ambíguas. 
- Conclusões do trabalho de preservativos: 
✓ Grandes equívocos a respeito das ISTs; 
✓ Desconhecimento da necessiade de ir frequentemente ao ginecologista; 
✓ Ideias sobre práticas sexuais ligadas a conceitos religiosos. 
✓ Atitudes discriminatórias a respeito da homossexualidade. 
✓ Desconhecimento sobre o ato da masturbação como uma prática natural ligada à descoberta 
do corpo. 
- Foram criadas categorias para tirar as dúvidas dos alunos: 
A. Contraceptivos, parto, prvenção de ISTs. 
B. Masturbações masculinas e femininas, vivências/práticas sobre relação sexual. 
C. Orientação sexual, idade e mídia. 
- Ao recolher as questões foi percebido o grau de dúvidas aliadas às formas estereotipadas com modos 
e visões que refletem o quanto é urgente o desenvolvimento de espaços e discussões da sexualidade na 
escola -> ausência de liberdade para ouvir e falar de fenômenos que estão presentes em sua tenra 
idade. 
- A “orientação” sobre sexualiade deve ser feita de maneira diferente da atual, com a participação dos 
pais em uma abordagem que não trate apena das questões da gravidez. 
- A escola coíbe a abordagem da sexualidade como conteúdo programático, deixando o assunto por 
conta da família. 
- As questões relacionadas ao gênero, orientação sexual, sexo e sexualidade estão mergulhaas em toda 
sorte de preconceitos e discriminações, e também a violência simbólica e física em diversos espaços 
sociais. 
- Falar em diversidade sexual é situar, antes de tudo, questões relativas ao gênero, orientação sexual 
e sexualidade no terreno da ética e dos direitos humanos, vistos a partir de uma perspectiva 
emancipadora. 
- A escola é e tem que ser entendida como espaço de construção de conhecimento e de desenvolvimento 
crítico, onde se formam sujeitos, corpos e identidades. A abordagem da sexualidade no campo escolar 
deveria, antes de tudo, situar questões relativas a gênero, orientação sexual, sexo, aliadas como 
princípios da saúde e bem-estar dos indivíduos no terreno da ética e dos direitos humanos, e não apenas 
vinculadas nos discursos de doenças ou conceitos ligados à biologia. 
- Sexualidade é um campo de atuação humana -> comporta o conjunto das interações sociais, reunindo 
múltiplos aspectos como a reprodução biológica e social, encontros sexuais, sociabilidades e um 
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conjunto de crenças, regras, interdições e rituais que durante todo o percurso de vida dos indivíduos 
modelam seu comportamento. 
- Mediante às políticas educacionais sobre sexualidade, é possível perceber a restrição de suas 
dimesões vinculadas aos direitos humanos, saúde sexual e reprodutiva e da própria diversidade sexual. 
Como também a ausência de um programa de formação teórica e continuada para professores de 
educação básica voltada para essa realidade, assim como a necessidade de uma política de reformulação 
dos currículos que distanciam a sexualidade de seus conteúdos. 
- Segundo Foucault: a sexualidade deve ser compreendida como “uma invenção social”. 
- A sexualidade emerge como uma construção muito mais sociocultural do que biológica, estando 
relacionada ao modo como as pessoas vivem e sentem seus desejos, trocam carinhos, afetos, prazeres, 
interligados com a identidade de cada indivíduo que se intercambia, se toca e se choca. Esta dinâmica 
está para além da genitalidade e se faz presente na vida do ser humano desde a primeira infância até 
a velhice. 
 
3) Considerações finais: 
- É na juventude que a relação com a família tende a se apresentar mais ou menos conflitiva, por conta 
dos questionamentos advindos das experiências exteriores ao grupo familiar e às experimentações 
típicas da faixa etária. Condutas de risco podem emergir nesta fase, demonstrando a importânciade 
uma educação para a sexualidade desenvolvida numa perspectiva de saúde, mas também de cidadania e 
de respeito aos gêneros. 
- As relações de intimidade e a percepção de corpo são dois aspectos relevantes para a pesquisa em 
curso, na medida em que se apresentam como categorias que nos ajuda a interpretar o que sei, o que 
não sei e o que gostaria de saber. 
- Sendo assim, as dúvidas e as curiosidades são entendidas na pesquisa como parte do processo 
pedagógico que visa construção educativa da intimidade. 
- De acordo com Cordeiro: “o desenvolvimento da intimidade envolve revelações únicas sobre 
pensamentos e valores de cada indivíduo e proporciona um espaço adequado à auto-revelação”; “torna-
se difícil a tarefa de desenvolvermos e expressarmos a nossa intimidade sem antes efetuarmos um 
exercício de auto-conhecimento, sem definirmos os nossos objetivos e valores durante a nossa vivência 
social”. 
- O encontro com os relatos dos adolescentes desenha um estado de fragmentação da escola e do seu 
corpo de profissionais, assim, possivelmente, como na família. 
- Diante do exposto, a escola e os seus agentes que a fazem existir continuam presos as amarras de 
um projeto de sociedade cuja educação é produzida para a disciplinarização de corpos e mentes. Vale 
lembrar que estes mesmos agentes foram desta forma educados, e como produto desta base, impedem 
que o processo educativo possa ampliar as suas nuances ligadas a diversidade, cultural, religiosa e da 
sexualidade, possibilitando a sua compreensão como potencial humano, que contempla sensibilidade, 
prazer, dor, afetividade e relacionamentos. 
 
O ESTUDO DA SEXUALIDADE NA FACULDADE DE MEDICINA 
- De acordo com Tiefer, há três níveis de crise para o estudo da sexualidade: o que está acontecendo 
com o sexo na cultura, nos meios acadêmicos e no nível das doenças. 
- Os cursos de graduação em medicina, historicamente, não cuidaram do ensino da sexualidade humana, 
atendo-se, no mais das vezes, a aspectos de anatomia e fisiologia dos aparelhos reprodutores masculino 
e feminino, gestação, aspectos clínicos-epidemiológicos das doenças sexualmente transmissíveis ou, se 
tanto, lembraram o “processo da cópula”, quando, então, o distanciamento entre professor e alunos 
tornava-se ainda maior, traduzindo a dificuldade de ambos em lidar com o assunto. Todavia, a 
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preparação dos futuros médicos requer a aquisição do conhecimento sobre o paciente e sua 
problemática, o acesso ao todo de seu sofrimento físico e mental, para que se possa atingir uma relação 
médico paciente satisfatória, horizontal e individualizada. 
- Em geral, as faculdade de medicina não preparam os seus alunos para o conhecimento técnico de 
questões concernentes à sexualidade humana – que, aliás, constituem queixas espontâneas bastante 
frequentes nos consultórios. Porém, os próprios estudantes e profissionais têm sexualidade, e, quando 
a conhecem e a exercem, podem, a um tempo, encontrar maior satisfação em suas vidas pessoais e 
reconhecer um “espaço interior” receptivo à investigação das dificuldades do paciente. 
- A educação sexual, desenvolvida em todos os níveis de instrução e ensino, parece constituie a forma 
mais eficaz de exercer uma medicina de caráter preventivo em sexualidade. 
- O estudo da sexualidade é fundamental em faculdades de medicina. 
- No Brasil, a formação dos estudantes de medicina para a assistência integral em saúde sexual é pouco 
conhecida. Há escassez de estudos empíricos sobre o ensino da sexualidade humana nos currículos 
médicos, com desconhecimento a respeito de como a sexualidade é ensinada, quais conteúdos são 
trabalhados e como são ofertados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Semana 06 
VÍDEO: ÉDIPO E CASTRAÇÃO 
- O complexo de Édipo não é a questão da criança sentir uma atração erótica pela mãe. É uma questão 
do vínculo com a mãe -> afeto -> experiência de carinho e segurança (elemento da alma) com o seio da 
mãe, que vai além da amamentação. 
- Momento decisivo/ Mundo das difenças (categoria): deixa de ter a relação fusionada com a mãe para 
uma separação. Rompimento da linguagem -> criança percebe um terceiro lugar. 
- A criança resiste à perda da relação dual -> momento doloroso. 
- Dois sentidos: procurar a separação (com a linguagem) e resistência de perder o colo. 
- Sensação de perder o colo -> quanto mais distante o colo, maior a progressão da passagem. 
- Marcas ficam para o resto da vida -> pode ter reedição. 
✓ Ex de reedição: quando o indivíduo se apaixona -> momento segundo que revive a possibilidade 
do reencontro. 
✓ Apaixonar: relação idealizada. “Nós dois somos um só” – “surto psicótico” que pode passar. O 
que mantém um casal é a afinidade e introsamento sexual -> passagem por esse momento é uma 
reedição do complexo de édipo. 
- Linguagem do psicótico = pré edipiana. Fala numa língua antes do rompimento da criança com a mãe. 
Linguagem muito regredida (primordial) 
- A mãe consegue discrimar os choros do bebê -> estabelece uma linguagem. O pai não consegue 
estabelecer essa linguagem dual. 
 
O ÉDIPO DO MENINO 
1) Introdução: 
- Até os 4 anos: os locais de prazer são a boca, o ânus e a atividade muscular (andar, correr e agir). 
- A partir dos 4 anos: o pênis torna-se a parte do corpo mais rica em sensações e impõe-se como a zona 
erógena dominante, uma vez que o prazer por ele proporcionado à criança torna-se a referência 
principal de todos os outros prazeres corporais. Em outras palavras, se um menino de quatro anos sente 
prazer em olhar o decote da mãe ou gosta de se mostrar nu em público, ou ainda, excitado pela 
brincadeira, morde a coxa da irmãzinha, diremos que todos esses prazeres sentidos pela excitação dos 
olhos, dos dentes ou do corpo inteiro são prazeres que repercutem no nível de seu pequeno sexo e já 
lhe fazem viver uma excitação genital. 
✓ Porém, aos quatro anos, o pênis não é apenas o órgão mais rico em sensações. É também o 
objeto mais amado e o que reclama todas as atenções -> objeto narcísico mais precioso, a coisa 
pela qual tem mais apego e orgulho de possuir. Assim, tal culto do pênis eleva o pequeno órgão 
ao nível de símbolo do poder absoluto e da força viril. 
✓ É também, e pelas mesmas razões, vivido como um órgão frágil, excessivamente exposto aos 
perigos e, por conseguinte, símbolo não apenas do poder, mas também da vulnerabilidade e da 
fraqueza. 
✓ “Falo”: o Falo não é o pênis enquanto órgão. O Falo é um pênis fantasiado, idealizado, símbolo 
da onipotência e de seu avesso, a vulnerabilidade. Freud chama essa fase em que a sexualidade 
infantil permanece polarizada no Falo de "fase fálica" -> Durante essa fase, as crianças, 
meninos ou meninas, acham que todas as criaturas do mundo são dotadas de um Falo, isto é, 
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que todas as criaturas são tão fortes quanto elas -> a idolatria da criança pelo Falo vai ser 
acompanhada pela angústia de perdê-lo no menino e pelo sofrimento de havê-lo perdido na 
menina. 
- Na idade edipiana uma criança é perfeitamente capaz de se representar a perda de um objeto que 
lhe era caro e temer que ela se repita. 
 
2) Os três desejos incestuosos: 
- Novidade do Édipo: o menino de quatro anos vê eclodir em si uma nova força, um impulso desconhecido: 
o desejo de ir em direção ao Outro, em direção a seus pais ou, mais exatamente, em direção ao corpo 
de seus pais para nele encontrar prazer, para nele descobrir o conjunto dos diferentes prazeres 
erógenos conhecidos antes dessa idade -> Em suma, a criança edipiana é arrastada por um impulso que 
a leva e pressiona a procurar prazer na troca sensual com os corpos daqueles a quem ama, de quem 
depende e que também são criaturas desejantes, criaturas que despertam e exercitam seu desejo. 
- O Édipoé a tentativa infantil de realizar um desejo incestuoso irrealizável -> é um desejo virtual, 
nunca saciado, cujo objeto é um dos pais e cujo objetivo seria alcançar não o prazer físico, mas o gozo 
(gozo prodigioso que proporcionaria uma relação sexual plena em que os dois parceiros, criança e adulto 
genitor, diluiriam em uma total e extática fusão). -> Isso NÃO é o abuso sexual. 
- O único valor desse desejo insensato de ir para a cama com a mãe e matar o pai é ser a alegoria do 
louco desejo de retorno ao estado original de beatitude intra-uterina -> O desejo incestuoso, portanto, 
não é senão uma figura mítica do absoluto, o nome assumido pelo desejo louco de um herói de penetrar 
sua mãe para encontrar seu ponto de origem nos confins do corpo materno. Para dizê-lo com uma 
imagem, o desejo incestuoso é o desejo de fusão com nossa terra nutriz. 
- Há três desejos fundamentais presentes em um menino e em todo ser humano em posição masculina, 
seja qual for sua ida de: o desejo de possuir sexualmente o corpo do Outro, em particular o da mãe; o 
desejo de ser possuído pelo corpo do Outro, em particular o do pai; e o desejo de suprimir o corpo do 
Outro, em particular o do pai. Desejo de possuir, desejo de ser possuído e desejo de suprimir, eis os 
três movimentos fundadores do desejo masculino. 
 
3) As três fantasias de prazer: 
- Sem atingir esses três objetivos incestuosos e impossíveis o menino cria fantasias que lhe dão prazer 
ou angústia, mas que, de toda forma, satisfazem imaginariamente seus loucos desejos. 
- Uma fantasia é uma cena imaginária que propicia consolo à criança, tome esse consolo a forma de um 
prazer ou, como veremos, de uma angústia. Assim, a fantasia tem como função substituir uma ação ideal 
que teria proporcionado um gozo não-humano por uma ação fantasiada que baixa a tensão do desejo e 
suscita prazer, angústia ou ainda outros sentimentos, às vezes penosos -> queda da tensão psíquica. 
- Observemos também que a cena fantasiada não é obrigatoriamente consciente e que ela com 
frequência se traduz na vida cotidiana da criança por um sentimento, um comporta mento ou uma fala. 
Ex: menino que tenta ver a mãe nua -> o desejo incestuoso de possuir a mãe, o desejo derivado de ver 
o corpo nu da mãe, a fantasia de imaginá-lo e, enfim, o gesto malicioso de olhar pelo buraco da 
fechadura, gesto que põe em ato a fantasia. 
- Conceitos: 
✓ Sensações: as sensações sentidas despertam o desejo de ir em direção ao corpo do adulto. 
✓ Desejo: é satisfeito com fantasias que proporcionam prazer à criança. 
✓ Fantasias: as fantasias de prazer raramente são visualizadas mentalmente pelo sujeito -> são 
deduzidas a partir da observação dos comportamentos infantis e, sobretudo, a partir da escuta 
de adultos analisados por psicanalistas. 
- Em suma, as sensações despertam o desejo, o desejo suscita a fantasia e a fantasia se atualiza através 
de um sentimento, um comportamento ou uma fala. 
- Cada desejo incestuoso corresponde uma fantasia de prazer específica. 
✓ A fantasia de possessão (possuir o outro): brincar "de papai e mamãe”, brincar “de médico”, 
bancar o palhaço, dizer palavrões sem conhecer sua significação ou mesmo macaquear posições 
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sexuais. O que exprime mais fielmente o desejo incestuoso de possuir o Outro é o desejo do 
menino de se apoderar da mãe e tê-la apenas para si. 
✓ A fantasia do prazer (de ser possuído pelo outro): a fantasia mais típica do desejo de ser 
possuído é uma cena em que o menino sente prazer em seduzir um adulto para se tornar seu 
objeto. A criança seduz para ser seduzida. 
✓ A fantasia do prazer (desejo de suprimir o outro): destruir o Outro provoca tanto prazer 
sexual quanto qualquer fantasia edipiana. Um dos comportamentos infantis que melhor traduz 
a fantasia de matar o pai rival é aquele, muito frequente, em que o menininho aproveita-se da 
ausência do pai, em viagem, para brincar de “chefe de família” e, por exemplo, querer partilhar 
o grande leito conjugal com a mãe. 
 
4) As três fantasias de angústia de castração: 
- Fantasia de “angústia de castração”: mutilação de seu Falo. Essa angústia de castração não é sentida 
pelo menino, ela é inconsciente. A angústia é o avesso do prazer. Angústia de castração é a medula 
espinhal do psiquismo do homem. 
- Não existe prazer edipiano sem a contraparte: a angústia de desejar e de ser punido por isso. Esse 
par de sentimentos antagônicos, prazer e medo de ser punido, está na base de toda neurose. Podemos 
desde já dizer que o próprio Édipo é uma neurose infantil, ou melhor, a primeira neurose de crescimento 
do ser humano -> a criança edipiana sofre, como um neurótico, com o doloroso conflito entre saborear 
o prazer de fantasiar e ter medo de ser punido caso persevere. 
- A angústia de castração é definitivamente confirmada quando o menino vê o corpo nu de uma menininha 
ou de sua própria mãe e constata, surpreso, que elas não têm pênis-Falo -> “Uma vez que existe um ser 
neste mundo que perdeu seu Falo, também corro o risco de ficar privado dele.” 
- Há três variantes da fantasia de angústia (avessos das três fantasias do prazer): 
✓ Como avesso da fantasia do prazer de possuir o outro, há a ameaça de um pai repressor. 
✓ Como avesso da fantasia da sedução de ser possuído pelo outro, há a angústia não é o medo de 
perder o pênis-Falo, mas de perder a virilidade tornando-se a mulher-objeto do pai. Há um 
agente sedutor no lugar do repressor. 
✓ Como avesso da fantasia do prazer, o agente da ameaça é o pai odiado que intimida a criança 
para deter seus impulsos parricidas. 
 
5) Resolução do Édipo do menino: a dessexualização dos pais. 
- A angústia de castração precipita o fim da crise edipiana. Angustiada, a criança esquiva-se dos pais 
tomados como objetos sexuais para salvar seu precioso pênis-Falo, isto é, para proteger seu corpo -> é 
o pênis que ele protege e é a mãe que ele abandona. 
- Ao renunciar à mãe, dessexualiza globalmente os dois pais e recalca desejos, fantasias e angústia. 
Aliviado, pode agora abrir-se a outros objetos desejáveis, mas dessa vez legítimos e adaptados às suas 
possibilidades reais. Somente assim, separada sexualmente dos pais, a criança pode doravante desejar 
outros parceiros escolhidos fora de sua família. 
 
6) Comparado à mulher, o homem é visceralmente um covarde. 
- Quanto mais o menino for amado pela mãe, mais se tornará um homem viril. E quanto mais orgulhoso 
for de sua potência, mais se preocupará em defendê-la, suscetível quanto à sua virilidade e 
ridiculamente sensível ao menor "dodói”. Comparado à mulher, o homem é visceralmente um covarde. 
- O homem é essencialmente um ser aflito com a perda do poder que julga possuir, ou, para dizê-lo em 
uma síntese caricatural, o homem é um covarde. 
- Em suma, para o homem, o sexo, a virilidade e a força são as coisas a serem defendidas a todo custo. 
- O complexo de Édipo masculino terá duas consequências decisivas na estruturação da personalidade 
futura do menino: por um lado o nascimento de uma nova instância psíquica, o supereu, por outro a 
confirmação de uma identidade sexual nascida por volta dos dois anos de idade e afirmada mais 
solidamente após a puberdade. 
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7) Resumo: 
 
 
 
 
 
O ÉDIPO DO MENINA 
1) Tempo pré-edipiano: a menina é como um menino: 
- Ao passo que em um menino de quatro anos coexistem três desejos incestuosos – possuir, ser possuído 
e suprimir o outro, na menina da mesma idade há apenas um desejo incestuoso no início: o de possuir a 
mãe, seguido mais tarde pelo de ser possuída pelo pai -> ela vive antes um pré-Édipo (pré-edipiana) 
considerado necessário para acessar o pai e entrar efetivamente no Édipo. 
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- A menina se neurotiza portanto mais facilmente a partir de sua relação com a mãe, e o homem se 
neurotiza mais facilmente a partirde sua relação com o pai. Assim, deveríamos dizer que a neurose 
masculina resulta de uma fixação do filho pelo pai e a feminina, de uma fixação da filha pela mãe. 
- A menina, por sua vez, entra no Édipo (isto é, sexualiza seu pai) após ter atravessado a fase pré-
edipiana durante a qual sexualiza, e depois rejeita, sua mãe, e abandona o Édipo quando deseja outro 
homem que não seu pai. 
- O menino, como vimos, dessexualiza simultaneamente seus dois genitores de maneira rápida e brutal, 
ao passo que a menina dessexualiza primeiro a mãe e só depois, mais tarde, muito lentamente, separa-
se sexualmente do pai. O menino sai do Édipo em um dia, a menina precisa de muitos anos -> o menino 
se torna homem de uma tacada só, ao passo que a menina torna-se mulher progressivamente. 
- Assim como um menino edipiano, a menina pré-edipiana julga deter um Falo e mostra, por seus 
comportamentos, ser guiada por fantasias de onipotência fálica e prazer nas quais desempenha um 
papel sexual ativo em relação à mãe -> exatamente como o menino, ela se sente feliz, forte e orgulhosa; 
é curiosa, às vezes voyeurista, exibicionista e agressiva. 
 
2) Tempo da solidão: a menina sente-se sozinha e humilhada. 
- Da mesma forma que o menino descobre, visualmente e angustiado, a ausência de pênis no corpo 
feminino, a menina constata a diferença de aspecto entre seu sexo e o do menino. A 
menina vê-se assim dolorosamente despossuída, pois o cetro da força não é mais encarnado por suas 
sensações erógenas, mas pelo órgão visível do menino. Agora o Falo está no outro e assume doravante 
a forma de um pênis -> “fantasia da dor de privação”. 
- Temendo perder o Falo venerado que julga deter, o menino é levado a preferir o pênis à mãe. Para a 
menina, é radicalmente diferente: ela não tem medo de perder, uma vez que acaba de constatar que 
não tem pênis e que nunca o terá -> ela sofre de dor por ter sido privada de um objeto inestimável que 
ela julgara possuir, mas sobretudo por ter sido enganada -> Alguém todo poderoso teria mentido para 
ela fazendo-a acreditar que ela detinha o Falo e que o conservaria eternamente. Mas quem é esse 
alguém senão sua própria mãe? Uma mãe ontem onipotente e que agora se revela impotente para lhe 
dar um Falo que ela própria não tem nem nunca teve. Sim, sua mãe também é tão desprovida quanto ela, 
merecendo apenas desprezo e recriminações -> a menina esquiva-se da mãe e fica furiosa por ter sido 
privada e enganada -> “dor da humilhação”. 
- Para a menina, o objeto narcísico por excelência não é uma parte de seu corpo, é seu amor-próprio, a 
imagem cativante de si mesma. O Falo, para a menina, não é o pênis, mas a imagem de si. Ora, a reação 
imediata ao amor-próprio ferido é reivindicar à mãe o que lhe é devido e se queixar do prejuízo que 
sofreu. Apenas mais tarde, quando a filha desejar o pai, chegará a época da reparação, da pacificação 
e da reconciliação com a mãe. Por ora, a menininha está só, pois não tem mais pais para quem se voltar: 
rejeitou a mãe e ainda não recorreu ao pai. É um período de negra solidão, em que a menina chora seu 
narcisismo ofendido. 
- Resumindo, se o menino sai do Édipo para proteger seu narcisismo, eu diria que a menina entra no 
Édipo, vai ao encontro do pai para pedir-lhe que faça um curativo em seu narcisismo ferido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Semana 07 
V 
- 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Semana 08 
CAPÍTULO 2: SEXUALIDADE, ENVELHECIMENTO E VIVÊNCIA 
SOCIAL 
1) Do ponto de vista qualitativo, o que muda do sexo na juventude para o sexo na velhice? 
- Os velhos de hoje são os jovens da contracultura dos anos 50, 60 e 70 do século XX e, por isso, eles 
têm como marca a transgressão dos estereótipos e a possibilidade de transformar a vivência da 
sexualidade após os 60 anos de vida. 
- Embora os jovens do século XXI acreditem que são liberados e que sabem tudo sobre sexo, isso é 
apenas uma fantasia. Quando um casal entende de sexualidade, de conversar sobre suas fantasias, de 
desenvolver um processo amoroso e criativo, daí o sexo na juventude fica muito bom. Mas sempre existe 
o medo da gravidez não planejada e das doenças sexualmente transmissíveis. Também, muitas vezes, 
os jovens não tiveram a oportunidade de conhecer seus corpos e de reconhecer seus desejos. Aí o sexo 
não se torna tão prazeroso. 
- Na velhice não há mais a preocupação com a gravidez o que, teoricamente, facilitaria a vida sexual. 
Mas temos que lembrar que os idosos de hoje foram os jovens de ontem que, apesar de todo o 
movimento cultural transformador, foram educados imersos a uma ética e uma moral conservadora. 
Muitas mulheres ainda estão presas a tabus e preconceitos como não se permitir ter libido ou mesmo 
não saber o que é um orgasmo. 
- Algumas senhoras heterossexuais não sabem que o ato sexual em si é um exercício não só aeróbico, 
mas também isométrico. Elas entendem que a pessoa ativa durante o coito é somente o parceiro e ficam 
praticamente estáticas a receber, muitas vezes, uma penetração sem nenhuma carícia anterior. 
- Outras mulheres com mais de 60 anos que, na juventude, viveram intensamente o sexo no sentido da 
genitalidade, podem, ao envelhecer, buscarem uma parceria amorosa e manterem-se em uma vivência 
sexual mais romantizada. O contrário também pode ocorrer. Senhoras que vivem intensamente suas 
experiências sexuais por que se sentem muito próximas ao fim de vida e querem usufruir tudo aquilo a 
que foram impedidas durante a juventude. Muitas outras situações podem se configurar dependendo 
das experiências vividas por cada mulher. 
- Algumas idosas, apesar de serem bastante independentes, se vestirem de forma moderna e se 
colocarem diante das pessoas como alguém de “mente aberta”, não costumam adquirir preservativos, 
levando-os em suas bolsas ou mantendo-os em seus aposentos e exigindo que os senhores os usem 
durante o coito. Tal postura, muitas vezes até mesmo entendida como necessária na prevenção de 
doenças sexualmente transmissíveis, incomodam e, de certa forma, intimidam estas velhas senhoras 
diante dos seus parceiros, pois, ainda se tem em mente que às mulheres não cabem exigências durante 
o coito. Os homens podem exigir, mas tradicionalmente, as mulheres devem se mostrar submissas o 
bastante para não questionar o desejo deles. Algumas velhas senhoras, especialmente as mais 
religiosas, nos dizem que exigir o uso de preservativo parece, ao companheiro, uma desconfiança e, 
afirmam com uma “certeza idealizada” que o parceiro jamais a trairia. Não é raro que algumas destas 
senhoras cheguem mesmo a terem medo de colocar em pauta a necessidade do uso de preservativos, 
certas de que a ira do homem possa violentá-las. 
- Outro comportamento que ainda intimida a mulher idosa, é assumir uma relação de cunho afetivo-
sexual com alguém, principalmente diante de filhos e netos. O “tabu” do sexo na velhice surge de 
maneira exponencial quando a mãe idosa ou, pior ainda a avó, diz à família que está saindo à noite para 
encontrar com o namorado e que não sabe se dormirá na casa dele ou se retornará mais tarde para sua 
residência. A situação fica mais constrangedora quando, a mulher na velhice assume uma 
homoafetividade e resolve apresentar a seus filhos e netos sua atual namorada. Outra questão é que, 
torna-se muitas vezes impossível a uma senhora que mora com filhos ou netos, levar à sua casa um 
namorado ou uma namorada e poder usufruir de uma noite de sexo com tranquilidade. 
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- É comum os filhos e netos se alvoroçarem diante das situações exemplificadas anteriormente e, 
muitas vezes, impedirem um romance e uma consequente e adequada busca de prazer através desses 
caminhos da pulsão. Tais senhorasimpedidas de amarem e serem amadas por outras pessoas que as 
desejem, podem desenvolver adoecimentos psicossomáticos e depressões ou, então, buscarem caminhos 
pulsionais satisfatórios como “participar de eventos na igreja para estarem próximas a um padre que 
lhes agrade”, manterem uma relação afetivo-sexual com alguém camuflada de amizade, fazerem aulas 
de dança de salão e irem aos bailes acompanhadas por dançarinos profissionais ou dedicarem-se a atos 
de caridade com outras pessoas. Algumas mulheres, de forma dominadora e sintomática, tornam-se 
extremas “cuidadoras” de seus filhos e netos, inclusive criando atritos familiares. Outras, entretanto, 
sublimam sua pulsão sexual através da criação nos mais variados veios da arte. 
- O filme brasileiro “O Outro Lado da Rua”, de 2004 sob a direção de Marcos Bernstein, mostra como 
uma sexagenária solitária busca o prazer através da observação contínua e curiosa da vizinhança. Esta 
posição especular não é outra coisa senão um caminho que a personagem encontra para trabalhar a 
pulsão sexual que vibra dentro de si de forma contínua. Algo que é da ordem da sexualidade infantil e 
que vem acudir a esta senhora que só tem por companheiro seu animal de estimação. Tal capacidade de 
olhar curiosamente para dentro dos apartamentos alheios, especialmente para os quartos de casais, 
lembra a criança edípica que busca visualizar, através do buraco da fechadura, o quarto de seus pais 
para descobrir o que eles fazem atrás da porta trancada. 
- É importante pensarmos que em qualquer idade, sejam os indivíduos jovens ou velhos, a atividade 
sexual de um casal é sempre uma parceria. Esta parceria afetivo-sexual transcorre entre duas pessoas 
que convocam seus perversos polimorfos e afrouxam os seus diques anímicos na perspectiva de 
alcançarem um prazer desejado. Quando o casal se mantém em desenvolvimento de sua sexualidade 
através de carinho, olhares, partilhas, sorrisos, beijos, abraços, cumplicidade, amorosidade no trato 
diário de um com o outro, as coisas caminham muito bem. Há um reconhecimento do outro enquanto 
pessoa desejante e, há uma disponibilidade afetiva para encontrar-se sexualmente. 
- Por fim, respondendo à pergunta inicial sobre a diferença qualitativa entre o sexo na juventude e 
sexo na velhice, penso que os casais que mantém a amorosidade, a sedução, o enamoramento, que criam 
situações de trocas afetivas, de intimidades, estes sim, podem ter uma atividade sexual tão ou mais 
prazerosa do que na juventude. A qualidade não depende da idade. A qualidade passa por outros 
caminhos. 
- Mais do que a qualidade do sexo na chamada “terceira idade”, vale pensarmos na sexualidade como um 
dos determinantes da qualidade de vida dos idosos. Estar com amigos, amados e amantes, brincar, rir, 
se divertir, dançar, cantar, tocar um instrumento, buscar o prazer dialogando com seus mais íntimos 
desejos, abrir-se para as novas experiências, disponibilizar-se para viver o ato sexual genital ou 
sublimar a pulsão sexual, são formas de viver eroticamente a última etapa da vida de forma a ser mais 
alegre e, sentir-se mais feliz até que chegue o momento de dizer definitivamente adeus aos que ficam 
lembrando da pulsão de vida do velhinho ou da velhinha que se foi. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Semana 09 
SEXUALIDADE HUMANA 
- Sexualidade humana: é perversa, polimorfa e infantil -> Freud disse que desde os primordios da vida 
tem a sexualidade que é formativa do sujeito. 
- Pulsão sexual é humana: 
✓ Fonte 
✓ Intensidade que depende do estímulo 
✓ Objeto não fixo que depende do acaso 
✓ Alvo que é a satisfação sexual -> faz com que cada um de nós tenhamos satisfação com a pulsão 
- As zonas eróticas mudam ao longo do tempo. 
- Perversão em duas direções: ao objeto (não é embasada apenas na genitalidade) e ao alvo. 
✓ É um traço que nos constitui. 
✓ É uma estrutura psíquica ao lado da neurose -> estão bem próximas, o que diferencia é o 
mecanismo de defesa. A neurose é o negativo da perversão. O que o neurótico fantasia, o 
perverso põe em prática. 
✓ O perverso não sofre de uma psicopatia. 
✓ Perverso pode usar de uma perversidade tal qual a psicopatia. 
✓ Mecanismo de defesa da recusa: édipo e ameaça de castração -> tudo aquilo que pode e não 
pode fazer para viver em comunidade. 
✓ A perversão entra no campo do simbólico -> lida com a lei -> cobre e recusa a lei/afirma o 
tempo inteiro. 
✓ O perverso não se angustia pelo fetiche que ele pode ter como modalidade de satisfação. É a 
cena perversa que o faz gozar. Se angustia com as relações com o outro -> pode ter sintoma 
patológico -> fica fixado em uma determinada cena -> precisa da cena/objeto para poder ter 
prazer -> ex: maltrata/machuca o outro para se excitar na relação sexual 
✓ O neurótico se angustia pela fantasia de fazer algo perverso. 
- Não podemos dar vazão a toda pulsão sexual. 
- Normal x anormal nas parafilias: 
✓ Determinadas parafilias não causam dano 
✓ Problema da pedofilia: é uma modalidade criminosa, porque o objeto sexual (criança) não tem 
capacidade de entendimento e não tem capacidade escolha (sem conscentimento) -> prática 
parafílica patológica -> tomar o outro como objeto -> não reconhecer a alteridade. 
- Masoquista também é um perverso -> práticas -> goza com a angústia que causa no outro a se submeter 
a tudo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Semana 10 
SEXO GLBTT: SEXUALIDADE DOS GAYS, LÉSBICAS. BISSEXUAIS, 
TRAVESTIS E TRANSGÊNEROS” DO LIVRO SEXUALIDADE: 
AUTOCONHECIMENTO E QUALIDADE DE VIDA. 
1) Introdução: 
- A ideia de que as vidas sexuais dos GLBTT sejam muito diferentes da dos heterossexuais é mito -> o 
que muda na sexualidade dos homossexuais e bissexuais é a orientação sexual, isto é, objeto de desejo. 
- A orientação sexual NÃO é uma opção, não pode ser influenciável ou modificada ao nosso bel-prazer. 
- O incentivo social não transforma ninguém em homossexual ou heterossexual. 
- Ser homossexual retrata somente a orientação sexual da pessoa e não todo o seu contexto socia, 
profissional, familiar. 
- Por que será que todos os homossexuais, antes de qualquer outra coisa, são avaliados pela sua 
sexualidade? Talvez porque as pessoas os sexualizem demais, esquecendo o ser humano que há por trás 
de sua sexualidade. 
- As pessoas se espantam frente ao incomum (esse é o termo correto e não “norma”, pois quem disse 
que ser homo ou bissexual é anormal?) e ao invés de buscar compreender e respeitar, adotam uma 
postura preconceituosa. 
- Diante de tanto preconceito social, é difícil admitir a homossexualidade para si mesmo, já que essa 
condição inferioriza e desqualifica o indivíduo frente aos outros. A primeira negação, geralmente, parte 
da própria pessoa, que nega seu desejo e foge de si mesma. Não é de se espantar que tantos 
homossexuais levem uma vida dupla ou utilizem o ataque como forma de defesa. 
 
2) Enganos arraigados a respeito dos homossexuais: 
- Muitas pessoas ainda acreditam que podem “justificar” qualquer orientação sexual que não seja hetero 
a partir de razões externas. Outras alimentam crenças sobre castigos, pecado e culpa -> o fato é que 
não passam de crenças limitantes, de rótulos que nos distanciam da essência das pessoas, que nos fazem 
perder a chance de conhecê-las como realmente são. 
- Crenças mais comuns: 
✓ Homossexualismo x homossexualidade: O termo homossexualismo é incorreto, pois -ismo 
refere-se à doença. O termo correto é homossexualidade, pois se refere à orientação sexual 
da pessoa -> forma de manifestar desejo afetivo e sexual espontaneamente. 
✓ O ambiente familiar , ou seja, a criação fez com que a pessoa “virasse” homossexual: o desejo 
é intrínseco e não pode ser influenciável. 
✓ Todo homossexual está fadado à solidão, já que não forma família. 
✓ Todo homossexual é um heterossexual reprimido:essa afirmação é mais utilizada para 
mulheres, como diz o ditado: “mulher lésbica é mulher mal cantada”. 
✓ Todo homossexual deveria transar com o sexo oposto para ter certeza de seu desejo. 
✓ Todo homem gay é efeminado e delicado; e toda mulher lésbica é masculinizada: a imagem ou 
papel sexual que a pessoa adota na vida não é prova de sua orientação ou desejo sexual. 
✓ Filhos adotivos de pais homossexuais serão desequilibrados e homossexuais também. 
✓ Todo gay queria ser mulher. 
✓ Se eu tiver um amigo homossexual posso me tornar um também ou serei julgado como tal pelas 
pessoas. 
✓ Todo homossexual é passivo, o ativo não é necessariamente gay: ser ativo ou passivo numa 
relação não quer dizer nada. 
✓ Homossexuais são seres solitários, rancorosos e críticos; vivem em guetos: a verdade é que 
muitas vezes eles são desprezados até pela família, e se afastar passa a ser uma solução. 
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✓ Todo gay é promíscuo e tem vários parceiros: promiscuidade independe da orientação sexual. 
✓ Uma pessoa só se torna homossexual quando efetivamente tem um relacionamento sexual -> 
Picazio defende que o homem ou a mulher não consegue mais fugir de sua homossexualidade 
quando se apaixona e percebe que seu objeto de desejo é do mesmo sexo. 
 
3) Bissexuais: 
- Bissexuais: trata-se do indivíduo que sente desejo tanto por homens quanto por mulheres, e isso não 
quer dizer que ele tenha que manter relacionamento com os dois sexos ao mesmo tempo. 
- O bissexual está 100% numa relação, mas esta pode ser hetero ou homossexual. O que atrai é o 
charme, o fascínio pela pessoa e não somente o seu sexo. 
- Muitos homossexuais, antes de se assumirem completamente, preferem declarar que são bissexuais, 
achando que podem amenizar o preconceito. 
- Obs: “bissexuais emocionais” somos todos nós, isto é, nos afeiçoamos por homens e mulheres, mas 
sem que esteja envolvido o desejo. Nos bissexuais, propriamente ditos, esse afeto se associa ao desejo 
sexual. 
 
4) Atitude sexual x orientação sexual: nem sempre o que parece realmente é: 
- Muitas vezes, a pessoa tem uma atitude sexual diferente da sua orientação sexual. Ex: em presídios, 
homens transam com outros homens, sem jamis se considerarem homossexuais. 
- O papel sexual, que nem sempre corresponde à orientação sexual, vai além do sexo. Por exemplo, uma 
menina que joga futebol, gosta de roupas folgadas, coturnos, cabelos curtos, necessáriamente é 
lésbica? Claro que não. 
 
5) Vaidade gay e erotismo: 
- O homem é muito mais ligado à estética do que a mulher -> o homem não “aceita” uma mulher 
“desleixada” -> o homem preza, muito mais do que a mulher, a beleza física -> esse conceito estético 
sendo compatível com a identidade do homem transfere-se também para os homossexuais que se cuidam 
para despertar a atenção dos outros homens -> como eles desejam o belo, julgam que para atrair outro 
homem devem estar bem cuidados. 
 
6) O que os pais devem fazer diante de um filho homossexual? 
- Três regrinhas básicas logo de cara: 
✓ Não tentar encontrar culpados (já que o desejo não é opcional). 
✓ Não querer ser consolados pelos filhos ( a barra já está pesada para o seu filho e ele ainda 
tem que consolar vocês? Isso é demais) 
✓ Procurar ajuda profissional para entender a homo ou bissexualidade antes de tirar conclusões 
ou ter atidades precipitadas. 
- Cabe aos pais darem apoio aos seus filhos para entender, enfrentar e superar o preconceito. 
 
7) Trangêneros: 
- Essas pessoas têm sua identidade de gênero diferente de seu sexo biológico. 
- Transexual: termo usado para designar pessoas que nascem com uma identidade sexual, mas acreditam 
e sentem ser e pertencer também à do sexo oposto -> eles se sentem desconfortáveis com a própria 
genitália, não se identificam com seu sexo biológico -> sentem-se mulheres (mentalmente), mas 
nasceram “aprisionadas” num corpo masculino (fisicamente) e vice-versa -> não podem ser considerados 
homossexuais porque, apesar do corpo físico, sentem-se do sexo oposto. 
- Hermafrodita: é o termo designado para classificar pessoas que, por uma alteração na combinação 
cromossômica, uma mutação no código genético, nascem com os dois sexos. 
- Intersexuais: são aqueles que possuem anomalias na formação dos órgãos genitais. 
- Travesti: são aqueles que gostam de vestir roupas do sexo oposto e se excitam somente dessa forma. 
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- Há também travestis que têm uma identidade dupla, isto é, se identificam como sendo homem e mulher 
ao mesmo tempo. Ex: travestis do sexo masculino que colocam próteses de silicone, tomam hormônios 
femininos, mas mantém seu pênis. 
- Transformistas: caracterizam-se como o sexo oposto por amor à arte; geralmente são artistas e sua 
orientação sexual independe de sua atuação no palco. 
- Drag queen: são homens que se “montam” como mulheres, brincam com o papel da mulher, geralmente 
com atuações exageradas, baseadas num estereótipo imaginário. 
- Drag King: é o mesmo que drag queen, mas são mulheres que brincam com papéis masculinos. 
- Cross-dressers: são os que se vestem como o sexo oposto, mas sem nenhum cunho sexual. Buscam a 
elegância e o mundo afetivo do sexo oposto. 
 
8) Importância do relacionamento: 
- Independentemente da orientação, uma coisa é fato: todos nós precisamos do outro, do vínculo, do 
afeto. A atração física está muito relacionada com vínculo emocional. 
- Estar com alguém envolve escolhas e concessões. 
 
RESERVA E INVISIBILIDADE: A CONSTRUÇÃO DA 
HOMOCONJUGALIDADE NUMA PERSPECTIVA MICROPOLÍTICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Semana 11 
A 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Semana 12 
DESFAZENDO MITOS PARA MINIMIZAR O PRECONCEITO SOBRE A 
SEXUALIDADE DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS 
1) Resumo: este texto aborda a presença de ideias preconceituosas sobre a sexualidade de pessoas 
com deficiência discorrendo, de modo critico e reflexivo, sobre diversos mitos, tais como: (1) pessoas 
com deficiência são assexuadas: não têm sentimentos, pensamentos e necessidades sexuais; (2) pessoas 
com deficiência são hiperssexuadas: seus desejos são incontroláveis e exacerbados; (3) pessoas com 
deficiência são pouco atraentes, indesejáveis e incapazes para manter um relacionamento amoroso e 
sexual; (4) pessoas com deficiência não conseguem usufruir o sexo normal e têm disfunções sexuais 
relacionadas ao desejo, à excitação e ao orgasmo; (5) a reprodução para pessoas com deficiência é 
sempre problemática porque são pessoas estéreis, geram filhos com deficiência ou não têm condições 
de cuidar deles. A crença nesses mitos revela um modo preconceituoso de compreender a sexualidade 
de pessoas com deficiência como sendo desviante a partir de padrões definidores de normalidade e 
isso se torna um obstáculo para a vida afetiva e sexual plena daqueles que são estigmatizados pela 
deficiência. Esclarecer esses mitos é um modo de superar a discriminação social e sexual que prejudica 
os ideais de uma sociedade inclusiva 
 
2) Introdução: 
- As expressões da sexualidade são múltiplas e varia das tanto para deficientes como para não-
deficientes. 
- O que prevalece nos discursos de leigos, familiares e da comunidade é a generalização de idéias 
preconceituosas a respeito da sexualidade de pessoas com deficiência como se essa fosse sempre 
atípica ou infeliz. 
- As políticas públicas mundiais têm lutado pelos direitos de acesso à educação, à saúde, e à vida social 
daqueles com deficiência, mas pouco se tem feito ou divulgado no sentido de incentivar a inserção 
afetiva e sexual dessas pessoas. 
 
3) Sexualidade, deficiências e os padrões de normalidade social: 
- A sexualidadehumana refere-se aos sentimentos, atitudes e percepções relacionadas à vida sexual e 
afetiva das pessoas; implica a expressão de valores, emoções, afeto, gênero e também práticas sexuais 
e é essencialmente histórica e social. Como um conjunto de concepções culturais, a sexualidade 
extrapola o conceito de genitalidade, pois abrange também as práticas sociais, os costumes diversos e 
as ideologias relacionadas a essas práticas. 
- A partir de regras nem sempre explícitas e claras, estabelecidas pela sociedade em diferentes 
culturas, as pessoas aprendem o que seria o desejável em relação à maneira que devem se comportar 
socialmente. Isso também ocorre em relação à sexualidade humana o que, além de colocar certas 
atitudes, sentimentos e ações no campo da normalidade em contraste com outros comportamentos 
considerados não-normais, ainda vinculam essa normalidade à promessa de felicidade idealizada. 
- A deficiência é um fenômeno socialmente construído na medida em que o julgamento sobre a diferença 
impregnada ao corpo do deficiente dependerá do momento histórico e cultural e, em geral, a avaliação 
social que se tem da deficiência é a de que ela explicita um corpo não funcional e imperfeito e daí impõe 
ao sujeito uma desvantagem social. Ao se estigmatizar a pessoa pela sua deficiência, corre-se o risco 
de estabelecer um relacionamento com o rótulo e não com o indivíduo e isso levaria a uma idealização 
do que seria a vida particular de pessoas com deficiência: a vida dos cegos, dos surdos, dos cadeirantes, 
etc., é explicada em função da deficiência, o que seria um modo simplista de compreender a questão. O 
próprio sujeito estigmatizado incorpora determinadas representações e se identifica com essas 
tipificações. 
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23 
 
 
4) Mitos e crenças equivocadas sobre a sexualidade de pessoas com deficiências: 
- A propensão a generalizar utilizando estereótipos sobre as possíveis problematizações, no caso da 
sexualidade de deficientes, é uma simplificação que “responde à demanda imediata do pensamento, 
valendo-se de conteúdos e juízos de valor incorporados, conforme a condição e posição hierárquica 
social”. 
- Conhecer e esclarecer os mitos e ideias errôneas sobre sexualidade de pessoas com deficiências é 
uma tarefa importante porque essas crenças podem afetar a todos, quando por meio delas se incentivam 
as relações de discriminação e de dominação que podem ocorrer entre não-deficientes sobre os 
deficientes, entre homens com deficiência sobre as mulheres com deficiência, entre pessoas com 
deficiências menos comprometedoras sobre as que têm maior comprometimento etc -> se essas crenças 
são assimiladas por pessoas deficientes isso poderá aumentar seus sentimentos negativos de desvalia 
e inibir a expressão de uma sexualidade favorável. Se elas são assimiladas por pessoas não-deficientes 
isso pode justificar o modo limitado como se julgam os deficientes: uma visão da vida sexual e afetiva 
assexuada, frágil e desinteressante. 
- A reprodução dos mitos tem a ver com o medo que as pessoas têm diante do estigma da deficiência a 
partir de um corpo marcado pela deficiência e fragmentado pela imperfeição que se desvia tanto dos 
padrões de normalidade vigentes e que colocam as pessoas na sua condição de vulnerabilidade e diante 
da inevitável fragilidade humana -> Muitas pessoas não 
deficientes acreditam que nunca serão deficientes e os deficientes são, portanto, vistos como 
essencialmente diferentes deles. Ao distanciar de si mesmos tudo que se relacione com deficiência 
explicita-se uma atitude de negação, um mecanismo subjetivo em relação ao outro porque aquele corpo 
remete ao medo de que o corpo normal, que é frágil e vulnerável, se identifique com o corpo deficiente, 
e porque essa é uma condição possível para todos. 
- O preconceito às pessoas com deficiência configura-se como um mecanismo de negação social, uma 
vez que suas diferenças são ressaltadas como uma falta, carência ou impossibilidade. A estrutura 
funcional da sociedade demanda pessoas fortes, que tenham um corpo ‘saudável’, que sejam eficientes 
para competir no mercado de trabalho. O corpo fora de ordem, a sensibilidade dos fracos, é um 
obstáculo à produção. Os considerados fortes sentem-se ameaçados pela lembrança da fragilidade, 
factível, conquanto se é humano. 
 
5) Mito 1: pessoas com deficiência são assexuadas: não têm sentimentos, pensamentos e necessidades 
sexuais. 
- Há uma ideia geral de que pessoas com deficiências são assexuadas e isso está diretamente 
relacionado com a crença de que essas pessoas são dependentes e infantis e, portanto, não seriam 
capazes de usufruir uma vida sexual adulta -> pode-se ter a idade avançada, aspectos cognitivos 
íntegros, sentimentos de desejo sexual, mas se for preciso ajuda para se alimentar ou se limpar, essa 
pessoa é considerado pelos outros como uma criança. 
- Geralmente, as funções e desejos eróticos estarão potencialmente preservados e não deveriam ser 
negados quando há algum tipo de limitação ou deficiência. Em nenhuma situação há alguém que não seja 
sexuado, a dessexualização do indivíduo é social e não fisiológica. 
- Ao considerar a pessoa com deficiência como alguém não dotado de sexualidade, negligenciam-se os 
cuidados contra situações de abuso e se omitem a essas pessoas o direito de acesso a 
orientação/educação sexual -> as pessoas com deficiências são mais facilmente vitimas de violência 
sexual do que aqueles que não vivem com deficiências. O poder abusivo de cuidadores, a falta de punição 
para os agressores e o silêncio nas instituições, são situações que podem agravar e aumentar a 
ocorrência de estupro ou de outras formas de violência nas instituições. 
- Não se estimulam os programas de orientação/educação sexual porque se entende que nem seria 
preciso falar sobre sexo àqueles que são assexuados. Por outro lado, há também uma crença de que se 
falar sobre sexo pode estimular a prática sexual, aumentariam as chances de ocorrerem relações 
sexuais e ou gravidezes e isso é temeroso para muitas famílias, cuidadores, etc., principalmente quando 
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há uma deficiência cognitiva associada -> a ignorância sexual acaba sendo um grande obstáculo para que 
as pessoas com deficiência possam evitar a violência e, portanto, programas de orientação/educação 
sexual poderiam ajudar essas pessoas a usufruir a sexualidade plena e saudável com responsabilidade. 
 
6) Mito 2: pessoas com deficiência são hiperssexuadas: seus desejos são incontroláveis e exacerbados. 
a expressão sexual explícita para quem tem deficiência é uma perversão. 
- Diante do fato de que recebem poucas informações sobre sexualidade e têm poucas oportunidades 
de socialização, a expressão considerada inadequada dos desejos sexuais nas pessoas com deficiência, 
refere-se à manifestação da sexualidade de um modo grosseiro que não correspondente às regras 
sociais e isso prejudica a imagem que as pessoas têm do deficiente que os colocam como dotados de 
uma sexualidade atípica. Desse modo o desejo, que é normal em todo ser humano, aparece como 
diferenciado e exagerado pela sua exteriorização inadequada. 
- Além disso, se o sexo funcional e normal está relacionado ao fato de ter um corpo perfeito e for 
capaz de reproduzir, qualquer outra expressão sexual que não seja sob esses padrões pode tornar a 
sexualidade desviante, patológica ou desnecessária. 
- Aqueles que têm deficiência e insistem em expressar seus desejos sexuais são tomados como 
pervertidos ou atípicos. 
- Pode-se dizer que entre os profissionais, professores, familiares e até mesmo na literatura científica 
não há alusão a deficientes que possam expressar livremente uma condição homossexual. A esse 
respeito, inclusive, é importante destacar que a heteronormatividade ocorre também em relação às 
pessoas com deficiência. Não se imagina uma pessoa com deficiênciasendo gay ou lésbica como parte 
de sua identidade pessoal. 
 
7) Mito 3: pessoas com deficiência são pouco atraentes, indesejáveis e incapazes de conquistar um 
parceiro amoroso e manter um vínculo estável de relacionamento amoroso e sexual. 
- Para muitas pessoas a deficiência se sobrepõe à questão sexual, como se o corpo deficiente 
aparecesse antes do corpo sexual e inviabilizasse a satisfação da sexualidade própria. 
- Se toda a sociedade alimenta um estigma de que alguém com deficiência é merecedor de piedade, a 
própria pessoa com deficiência é tentada a incorporar esse preconceito em si mesmo, o que aumenta 
seus sentimentos de desvalia -> Diante desses sentimentos de inadequação esquece-se que a pessoa é, 
antes de tudo, um ser humano e que a deficiência é incorporada a identidade pessoal. Não se ama a 
deficiência, mas o sujeito com a deficiência. 
- A família também tem representações sobre a sexualidade do deficiente e tanto pode facilitar os 
relacionamentos interpessoais incentivando a independência e a socialização do membro familiar 
deficiente, como também pode prejudicá-lo, superprotegendo-o, isolando-o e, portanto, negando e ele 
possibilidades de viver vínculos afetivos diversos, o que alimenta ainda mais os preconceitos sociais já 
existentes. 
 
8) Mito 4: pessoas com deficiência não conseguem usufruir o sexo normal que é espontâneo e envolve a 
penetração seguida de orgasmo, por isso, são pessoas que têm sempre disfunções sexuais relacionadas 
ao desejo, à excitação e ao orgasmo. 
- A deficiência pode até comprometer alguma fase da resposta sexual, mas isso não impede a pessoa 
de ter sexualidade e de vivê-la prazerosamente. 
- Para Kaufman, Silverberg e Odette (2003), a regra idealizada de um sexo funcional e normal pode 
ser compreendida a partir da observação de diversos filmes: mulheres e homens sempre disponíveis 
para o sexo, beijos e penetração de todos os tipos, diferentes posições e um orgasmo simultâneo. 
Shakespeare (2003) argumenta que a crença na sexualidade normal tem como foco a genitalidade e as 
funções sexuais. Além de nenhuma dificuldade aparecer na relação sexual normativa e idealizada, 
também se prioriza a penetração e o orgasmo. Baer (2003) comenta que na expressão do sexo normal 
e prazeroso há a necessidade de penetração vaginal e orgasmos. A prática sexual que não é completa 
com esses atributos é considerada menor, como o sexo oral ou a masturbação, por exemplo, mas, 
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segundo os autores, estudos mostram que pessoas de todo tipo se masturbam e se satisfazem com essa 
prática sexual. 
- No caso de pessoas com deficiência que, muitas vezes, para as relações sexuais, precisam realizar o 
planejamento e as adequações do ambiente e isso se torna um problema ainda maior porque nessas 
condições o sexo não será nunca espontâneo; isso, no entanto, não inviabiliza a possibilidade de 
sentimentos de prazer e satisfação sexual. 
- A própria sociedade dificulta a possibilidade de pessoas com deficiência de exercerem a sexualidade 
porque não disponibiliza igualmente para todas as oportunidades de privacidade que se torna uma 
barreira para muitas pessoas com deficiência para exercer uma sexualidade positiva, o que é ainda mais 
evidente em instituições onde o controle e a vigilância não permitem a privacidade e o fato dela não 
existir se soma à concepção de que o sexo vai ser inexistente, perigoso ou dificultoso para essas 
pessoas. 
 
9) Mito 5: a reprodução para pessoas com deficiência é sempre problemática porque são estéreis, 
geram filhos com deficiência e ou não têm condições de cuidar deles. 
- Em muitos casos, a deficiência pode prejudicar a vida reprodutiva, havendo redução da fertilidade ou 
problemas correlacionados, mas a infertilidade não torna nenhum ser humano assexuado e nem impede 
a possibilidade de manter vínculos afetivos e sexuais prazerosos e satisfatórios. 
- Em casos de pessoas com deficiência intelectual, a decisão de ter ou não filhos(as) pode ser mais 
difícil e envolve os pais e ou responsáveis. Mas até mesmo nesses casos, poderiam ser incentivadas a 
ter autonomia e responsabilidade podendo exercer uma vida sexual prevenindo-se de gravidez não 
programada e ou do contágio de doenças. Não é incomum, infelizmente, impor às pessoas com 
deficiência uma vida de abstinência ou submetê-las a procedimentos invasivos, como a esterilização. 
Tal procedimento é desnecessário. Aqueles que se julgam mais capazes do que as pessoas com 
deficiência deveriam se dedicar a processos educativos que ajudariam essas pessoas a usufruírem da 
vida sexual ativa e saudável, se elas assim o desejarem. 
 
10) Considerações finais: 
- O modo preconceituoso com que a sociedade lida com a sexualidade de pessoas com deficiência tem 
a ver com a maneira pela qual, em geral, se tratam das diferenças em relação aos padrões definidores 
de normalidade. 
- Os mitos, portanto, têm sido usados para justificar a segregação de pessoas com deficiências na 
sociedade. Esclarecer e refletir sobre questões do preconceito que se relacionam ao corpo com 
deficiência, sobre os limites subjetivos e objetivos para viver e expressar a afetividade e a 
sexualidade, a partir de uma leitura social e cultural da deficiência e da sexualidade, parece ser um 
caminho promissor para contribuir na superação da discriminação social e sexual que prejudica os ideais 
da sociedade inclusiva. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Semana 13 
CONFLITOS ÉTICOS NA ESTRUTURAÇÃO DO PROFISSIONAL – A 
SEXUALIDADE NA RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE 
1) Caso Clínico: paciente MSS denunciou o médico JJS por abuso sexual no CRM. 
- “Determinado dia, 6 meses após o término do tratamento, recebeu um convite do acusado para uma 
carona do trabalho até sua casa e aceitou. Nesse dia, referiu que o acusado declarou seus sentimentos 
de atração por ela, alimentando expectativas a respeito de um possível relacionamento amoroso. No 
mesmo dia, comentou que o profissional tentou fazer sexo com ela, que se recusou a deitar-se com o 
mesmo. Após o ocorrido, comentou que procurou o profissional por diversas vezes, não obtendo êxito e 
que, a partir de então, vem passando por dificuldades pessoais, necessitando de tratamento para 
depressão. Após 1,3 anos, em conversa com amigos, percebeu que poderia ter sido abusada e decidiu 
pela denúncia. Solicitado a se manifestar, o acusado mencionou ter procedido corretamente conforme 
as normas morais e éticas da profissão enquanto era médico de Maria Silva e Silva. Referiu ainda ter 
se sentido atraído pela paciente, mas que, em nenhum momento, revelou o fato durante consultas 
médicas. Referiu ainda um momento de fraqueza emocional, quando decidiu procurar pela paciente, fora 
do local de trabalho. Reiterou não ter realizado uma possível infração ética, complementando que a 
paciente o conhecia há anos e que também o seduziu. O acusado referiu estar permanentemente à 
disposição para qualquer esclarecimento”. 
 
2) Conceituação da questão ética: 
- Antes de adentrar nos ordenamentos morais previstos nos códigos de ética, é fundamental o 
entendimento de que o relacionamento sexual entre médico e paciente traz um conflito que diz respeito 
à função social esperada por ambos, e não somente aos interesses individuais. 
- O amor transferencial na relação médico-paciente não está somente atrelado ao aspecto genital da 
sexualidade. Esta última envolve aspectos da personalidade humana, tal como foi descrito pela 
psicanálise com a introdução do conceito de pulsão sexual, que difere do instinto sexual biológico, para 
fins de reprodução da espécie. 
 
3) Literatura: 
- O uso perverso da sexualidade entre médico e paciente é muito antigo, tendo sido proibido desde o 
Código Hipocrático. 
- Definição de amor no dicionário: “trata-se da emoção que predispõe alguém a desejar o bem de outra 
pessoaou coisa”. 
- Platão define dois tipos distintos de amor: o “amor autêntico”, de libertação do indivíduo e de seu 
sofrimento, e o “amor possessivo”, que tende a devorar o outro, persegui-lo. 
- Kant reitera que somente o altruísmo no amor, o “amor-ação”, desconsidera o interesse exclusivo no 
bem-estar do outro, sendo a forma verdadeiramente aceitável. Ao contrário, o “amor-paixão” leva em 
conta interesses individuais e, quase sempre, acompanha-se de desprezo pelo outro. Vê-se a distinção 
entre amor e paixão, sendo a segunda causadora de aprisionamentos e finda no momento em que os 
prazeres físico, sexuais são satisfeitos. Freud define o amor, Eros, intrinsecamente relacionado à 
sexualidade, sendo esta o motor propulsor no aparelho psíquico, ou seja, o que faz o indivíduo direcionar 
sua libido para um determinado objeto. 
- Conforme o dicionário, sexualidade pode ser definida como aquilo que possibilita a diferenciação entre 
os gêneros. Acrescenta-se a essa visão organicista e biológica uma complexidade de fatores: sociais, 
históricos, subjetivos, enfim. O convívio social faz com que o homem re-signifique a intenção puramente 
reprodutiva do sexo e crie regras para auxiliá-lo a tolerar a frustração de não poder satisfazer todos 
os seus desejos integralmente. Uma tentativa de convívio social harmonioso. 
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- Cohen reitera que o relacionamento sexual entre médico e paciente é similar, por analogia, ao 
relacionamento sexual intrafamiliar. O autor analisa a questão sob a perspectiva da função social. 
Assim, espera-se que, dentro de uma família, não haja relacionamento sexual, permitindo a 
diferenciação dos papéis, a partir da estruturação egoica. O relacionamento sexual entre profissional 
e seu cliente perverte a função social esperada de ambos. Essas características levaram o autor a 
denominar o fenômeno como incesto polimorfo, uma alusão a sexualidade infantil perverso-polimorfa, 
ou seja, devido ao narcisismo, incapaz de direcionar-se para algum objeto. 
- A principal dificuldade não é proibir, mas sim compreender e orientar a atitude. De acordo com Segre 
e Cohen, a eticidade está intrinsecamente relacionada com a sensibilidade emocional de mediar “o que 
o coração diz e a cabeça pensa”. Os autores consideram 3 princípios fundamentais da ética: a percepção 
dos conflitos, autonomia e coerência. O primeiro estaria ligado à consciência; o segundo, à eticidade, e 
o terceiro à tomada de atitude coerente, sempre respeitando a relação com o outro. 
 
4) Reflexão/conclusão: 
- Frente às instituições, a propósito da transferência envolvida, a American Psychiatric Association e 
a American Medicine Association classificam o relacionamento sexual com pacientes e ex-pacientes 
como antiético. A American Psychological Association classifica como antiético o relacionamento sexual 
com ex-pacientes até 2 anos após o término da relação terapêutica. No Brasil, o Código de Ética Médica 
também proíbe tal relação. 
- Na relação médico-paciente, há uma transferência e contratransferência de desejos inconscientes 
que se projetam na figura do médico, do paciente e da instituição de saúde, tornando possível reviver 
sentimentos infantis de ambos na relação atual estabelecida. 
- A relação sexual do profissional com o paciente extrapola os princípios da função da profissão. 
- Nesse tipo de relação sexual, o profissional que se utiliza do lugar de poder em relação àquele que lhe 
entregou sua intimidade com intuito de buscar ajuda, estará transgredindo o princípio da confiança e 
da responsabilidade impostos pelo regramento moral. Dentro desse contexto, considera-se antiético o 
relacionamento sexual do médico com o paciente mesmo quando há consentimento por parte do segundo. 
Deve-se entender que o paciente está em posição de vulnerabilidade e, portanto, podendo-se questionar 
sua autonomia em consentir. Com relação ao médico, questiona-se sua maturidade emocional e 
competência para decidir sobre sua conduta. 
- As relações humanas estão intrinsecamente relacionadas com a capacidade de o indivíduo perceber 
simbolicamente o outro e orientar sua atitude. Quando não existe a capacidade de refletir sobre esse 
conflito, não há autonomia para tomada de decisão. 
 
VIOLAÇÃO DE FRONTEIRAS: ENVOLVIMENTO SEXUAL MÉDICO-PACIENTE 
1) Introdução: 
- As primeiras proscrições no contato sexual com os pacientes datam do juramento Hipocrático: “... na 
casa onde eu for, entrarei apenas para o bem do doente, abstendo-me de qualquer mal voluntário, de 
toda sedução, e, sobretudo, dos prazeres do amor com mulheres e homens, sejam livres ou escravos...”. 
- Código da Moral Médica de 1929: o médico não deverá examinar a mulher casada sem a presença de 
seu marido ou de uma pessoa da família devidamente autorizada. 
- Código de Ética Médica de 1988: posicionava-se sobre o tema vedando ao médico aproveitar-se de 
situações decorrentes da relação médico-paciente para obter vantagem física, emocional, financeira 
ou política -> essa assertiva foi mantida no atual Código de Ética Médica. 
- Associação Médica Americana em 1989: proibiu o contato sexual entre médico, de qualquer 
especialidade, e paciente. Esta normativa foi ampliada em 1991, englobando a proibição, por um período 
 SEXUALIDADE M5 | Giovana Martinez 
 
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indefinido, de ligações sexuais entre médicos e pacientes “se o médico usa ou explora a confiança, 
conhecimento, emoções, ou influência derivada do relacionamento profissional prévio”. 
- A proposta deste estudo consistiu em analisar os aspectos psicológicos, as consequências e as medidas 
preventivas e de reabilitação no que se refere ao abuso da relação médico-paciente para seu 
favorecimento sexual. Buscaram compreender o que faz alguns médicos exporem-se ao risco de perder 
tudo o que conquistaram em sua vida profissional e pessoal e a irem contra o princípio mais arraigado 
na prática da medicina: o respeito aos pacientes. 
 
2) Conceitos éticos a propósito da conduta sexual na relação médico-paciente: 
- A relação profissional de saúde-paciente se constitui em uma “aliança terapêutica” necessária para 
promover a recuperação da saúde. Os laços de confiança e credibilidade que se estabelecem durante a 
interação entre quem cuida e o doente são fundamentais para o sucesso do tratamento. 
- O contato sexual médico-paciente inclui qualquer toque nas diversas partes do corpo “com a intenção 
de provocar ou de satisfazer o desejo sexual do paciente, do médico, ou de ambos” e é eticamente 
incorreto, independentemente de quem toma a iniciativa de sexualizar a relação terapêutica que deveria 
existir entre ambos. 
- No sentido de evitar o contato sexual médico-paciente, a Associação Médica Canadense refere que é 
responsabilidade do médico estabelecer e manter os limites de comportamento aceitáveis para si 
próprio e para seus pacientes. 
- Para que o consentimento seja considerado moralmente válido, deve haver uma autorização autônoma 
e intencional, baseada em um entendimento substancial das informações relevantes, dentro de um 
contexto livre de influências controladoras, tais como a coerção, o constrangimento e a fraude, 
conforme: 
I. Intencionalidade: O paciente, ao começar o tratamento, encontra-se em posição vulnerável e 
com a capacidade de decisão prejudicada, tornando-se inapto para decidir ter ou não relações 
sexuais com o médico. Isso o impossibilita de fazer uma escolha intencional quanto a iniciar um 
relacionamento sexual com o terapeuta. Este estado de vulnerabilidade pode fazer parte da 
desordem primária que o levou a buscar tratamento, ou pode ser consequência da 
transferência, que resultou na idealização e na erotização do terapeuta. 
II. Entendimento Substancial: Os pacientes não percebem que a relação sexualizada compromete 
a distância médico-paciente, necessária para que o terapeuta seja capaz de prover cuidados 
efetivos durante o tratamento.

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